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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Instituto de Relações Internacionais e Defesa


Bacharelado em Defesa e Gestão Estratégica Internacional
VICTÓRIA ROMANO - DRE 122030250

Disciplina: Interpretações de Brasil – IRD369


Professor: CLEYTON HENRIQUE GERHARDT

Fichamento do livro:
RAÍZES DO BRASIL
SÉRGIO BUARQUE HOLANDA
CAPÍTULO IV
A habitação em cidades é “antinatural” à medida que a colonização
portuguesa se preocupou mais em acentuar os aspectos da vida rural, buscando
uma forma fácil de explorar riquezas. Entretanto, a fundação de cidades é
fundamental como instrumento de dominação.
A colonização espanhola fez amplo uso da urbanização como meio de
dominação. A construção da cidade sempre se iniciava pela “praça maior”, sempre
na região mais importante do povoamento. A praça era a base para a construção
das ruas da cidade. Predomina a ideia de que o homem pode intervir no curso das
coisas e até mesmo controlar a história. Na colonização portuguesa, por sua vez, o
empreendimento era tímido, muito mais focado na exploração da terra do que no
povoamento dela.
Os grandes centros urbanos que os espanhóis construíram se encontram
nas latitudes onde o clima não era muito diferente da Europa, enquanto os lusitanos
preferiram se concentrar no litoral. Os portugueses dificultaram a exploração do
interior da terra, temendo que a marinha ficasse despovoada. Apesar disso, os
paulistas expandiram a linha do Tratado de Tordesilhas por conta própria.
A exploração realizada pelas bandeiras paulistas era frequentemente
independente da Coroa portuguesa e muitas vezes contra as ordens dela.
Raramente realizavam ação de assentamento.
Com o descobrimento do ouro no terceiro século de colonização portuguesa,
há um fluxo maior de emigrantes para o interior da colônia. Estrangeiros estavam
excluídos das emigrações, salvo holandeses e ingleses, naturais das nações
amigas. Em 1720, fez-se a proibição de passagens para o Brasil, onde somente
funcionários públicos poderiam embarcar para a colônia.
É somente a partir de então que Portugal passa a intervir com maior afinco
nos negócios da colônia, mas utiliza uma força repressiva, policial, e não
necessariamente preocupada em construir povoamentos. É o que se verifica na
Demarcação Diamantina, onde o fluxo de pessoas e a habitação de moradores eram
duramente controlados.
Para os espanhóis, o mar não passava de um obstáculo a ser superado para
alcançarem as terras mais temperadas do interior das colônias. Os portugueses, no
entanto, somente acessavam o interior por meio dos rios. Os lusitanos também
obtiveram grande vantagem por entrarem em contato com o povo Tupi-guarani que,
por meio de guerras tribais, já havia expulsado outras tribos da região do litoral.
Até mesmo nos momentos mais marcados da colonização, a atuação de
Portugal sobre o Brasil tem um caráter muito mais explorador do que de
povoamento. Os portugueses preferiam agir de forma sucessiva e com ações que
não necessariamente se interligavam. As cidades brasileiras, por exemplo, eram
muito desordenadas em comparação com as cidades espanholas.
Os portugueses também são marcados por seu realismo, um povo que se
recusou a transformar seus feitos do descobrimento em narrativas épicas, assim
como fez a Espanha. A ascensão social em Portugal era um fator muito possível, ao
contrário de países com forte tradição feudal. Assim, a burguesia procurava
enriquecer para aderir à nobreza. Quando atingiam tal objetivo, passavam a ver o
trabalho como algo inferior.
A necessidade de controle que tinham os espanhóis é oriunda do fato de
que a própria Espanha é fragmentada em partes. Portugal, por sua vez, tem unidade
política desde o século XIII.
CAPÍTULO IV
O Estado não é descendente direto da estrutura familiar. Os dois configuram
instituições diametralmente opostas, de forma que somente a partir da ruptura da
estrutura familiar é que surge o Estado.
As instituições baseadas nas relações abstratas tendem a substituir aquelas
baseadas em afeto e sangue. Um exemplo importante deste fato é encontra-se na
transição dos trabalhos nas oficinas medievais pelo sistema industrial de produção,
onde o empregado sequer sabia quem era seu chefe.
No Brasil, a família patriarcal é regra desde tempos muito remotos. Isso,
somado a urbanização e o êxodo rural criou um desequilíbrio social, cujos efeitos
são sentidos até hoje.
Para os funcionários públicos, criados dentro das famílias patriarcais e
rurais, era difícil diferenciar as esferas pública e privada. Faltava-lhe imparcialidade.
Deste modo, a grande contribuição brasileira para a civilização é a cordialidade. O
homem cordial, hospitaleiro e generoso mostra a influência do ruralismo e do
patriarcalismo
Essa cultura, no entanto, não se baseia em etiqueta ou boas maneiras, que
são consideradas ritos, uma noção distante para o povo brasileiro. O brasileiro
procura estabelecer intimidade com seus superiores assim que possível. Isso se
verifica com a linguística: a utilização de diminutivos é uma maneira de nos
familiarizarmos com o mundo, lhes dando peso emotivo. Na esfera social, a
intimidade se mostra na nossa tradição de tratar as pessoas pelo primeiro nome, ao
invés do nome da família. O brasileiro não conhece outra forma de convívio a não
ser aquela promovida pela emotividade.
A religião católica colabora para esse processo, permitindo aos devotos
tratarem seus santos com maior intimidade. A religiosidade que vigora no Brasil é
superficial. Antes da fé, dos cultos e das cerimônias, vêm as festas e o colorido.

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