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Prezados,
A Guerra do Paraguai, que ocorreu de 1864 a 1870, foi vencida pela Tríplice
Aliança, formada por Brasil, Argentina e Uruguai, mas trouxe graves
consequências para o governo de Dom Pedro II. Os militares que retornaram após a
guerra estavam mais conscientes da sua importância na sociedade por causa da
vitória e desejavam participar ativamente dos destinos do Brasil. O segundo
imperador brasileiro estava cada vez mais ausente do país para tratamento de
questões de saúde, o que enfraquecia a monarquia e fortalecia o discurso do
movimento republicano de que Dom Pedro II não tinha mais condições de ser o
governante do Império.
Os republicanos utilizaram a imprensa para divulgar seus discursos e atacar o
imperador. Os jornais republicanos eram lidos pela elite, e os temas neles trazidos
provocavam discussões no Clube Militar e em praça pública. O
pensamento positivista estava em destaque na Europa, e o militar Benjamim
Constant foi o responsável por trazer as ideias de Augusto Comte para as Forças
Armadas. As ideias de que a ciências e o progresso poderiam desenvolver o Brasil
ganharam força entre os militares adeptos ao republicanismo.
As crises que o Império atravessava só reforçavam os discursos republicanos
da necessidade de se encerrar o Segundo Reinado e iniciar um novo governo no
Brasil que possibilitasse o desenvolvimento em todas as áreas da sociedade
brasileira.
Os fatores que levam à Proclamação da República estão ligados à crise do
Segundo Reinado. O movimento republicano se apresentou como a solução para
essa crise, angariando apoio da elite brasileira. Apesar do apoio popular à pessoa do
imperador, seu governo já não era mais efetivo, já não conseguia conter a crise do
final do século XIX. A historiografia tem por tradição denominar as causas da
proclamação da república como questões.
A Questão Militar foi o atrito entre Dom Pedro II e os militares. Aproveitando
a força da vitória na Guerra do Paraguai, os militares quiseram participar
efetivamente da política brasileira, mas Dom Pedro II, utilizando o Poder
Moderador, impediu essa participação. O Exército, em especial, mostrava-se como
“salvador da pátria”, como se fosse o único detentor da solução para a crise
enfrentada pelo Império.
A união entre Império e Igreja também foi motivo de atritos entre Dom Pedro
II e religiosos católicos. Procurando seguir as normas vindas do Vaticano no final do
século XIX de combate à maçonaria, vários bispos proibiram a participação de
maçons em qualquer ordem religiosa. Ao mandar prender os bispos que decidiram
cumprir à risca tal medida, a questão religiosa provocou o rompimento entre o
imperador e o catolicismo.
Outra questão determinante para o fim do Império e a consequente
Proclamação da República foi o fim da escravidão em 13 de maio de 1888.
A abolição aconteceu sem nenhum pagamento de indenização. Com isso, os
fazendeiros romperam com Dom Pedro II e se aproximaram do movimento
republicano. Na época, esses fazendeiros foram chamados de “republicanos de
última hora”.
O primeiro golpe na escravatura foi a abolição do tráfico negreiro, ocorrido
depois de 40 anos de pressões britânicas, através da lei Eusébio de Queirós, de
1850. Para os escravocratas, isso criou o problema de manter o trabalho
compulsório sem o constante fluxo de mão-de-obra proveniente da África, devido à
alta taxa de mortalidade entre os cativos causada pelas longas jornadas de trabalho,
epidemias, castigos corporais e péssimas condições de alimentação e habitação.
Entre 1850 e 1885, cerca de 150 mil a 200 mil escravos foram vendidos pelas
províncias nordestinas para o sul cafeeiro. O comércio interprovincial aumentou
devido à demanda sulista, mas também devido à crise da lavoura açucareira
nordestina e os efeitos da seca de 1877-1879, que obrigou a venda de escravos em
larga escala, acabando por se transformar em uma fonte de renda alternativa para a
debilitada economia da região.
Na guerra do Paraguai, que se estendeu de 1864 a 1870, milhares de escravos
foram libertados para combater no lugar de seus proprietários. Além disso, houve a
guerra civil americana, entre 1861 e 1865, que terminou com a vitória dos nortistas,
favoráveis ao fim da escravatura. Houve a extinção da servidão na Rússia em 1861 e
o fim da escravidão nos impérios francês e português. Tudo isso impulsionou o
movimento emancipacionista.
É um equívoco associar os cafeicultores ao abolicionismo. Até as vésperas da
abolição, o braço negro constituiu a base principal do trabalho nas fazendas de café.
A introdução dos imigrantes europeus funcionou como uma fonte alternativa no
fornecimento de força de trabalho ocupou as brechas não preenchidas pelo
trabalho escravo, que se tornava escasso e caro. A grande produtividade das terras
da região do Oeste Paulista permitiu aos fazendeiros paulistas adaptar-se mais
rapidamente ao fim da escravidão, mas isso só ocorreu quando já não havia
alternativa a não ser o trabalho livre.
O republicanismo teve pouca influência entre 1870 e 1885. A adesão de dom
Pedro II à causa abolicionista abriu as portas à propaganda republicana, que
começou a contar com o apoio dos conservadores. A relação entre os escravocratas
descontentes com o apoio da coroa ao abolicionismo e o movimento republicano foi
ficando cada vez mais estreita. A ideia republicana passa a simbolizar para os
fazendeiros a possibilidade de manter seus privilégios de classe ameaçados pelo
reformismo dos abolicionistas monárquicos, como Joaquim Nabuco e André
Rebouças.
Certamente, a grande figura do movimento abolicionista, seu maior tribuno,
foi Joaquim Nabuco. De 1878 a 1888 foi o principal representante parlamentar dos
abolicionistas. Excelente orador e polemista, escreveu vários libelos antiescravistas e
buscou apoio na Europa para o movimento, transformando-se num de seus
símbolos e no alvo predileto do ódio dos escravocratas.
Os abolicionistas eram gente de várias classes sociais, inclusive das elites
políticas, como Nabuco, gente que pretendia reformar a monarquia, ou intelectuais
brancos, como o teatrólogo Artur Azevedo e o poeta Castro Alves, ou negros como o
advogado Luís Gama ou o engenheiro André Rebouças, ou mestiços como o
jornalista José do Patrocínio. O próprio exército, que se formou na guerra do
Paraguai e que contou com colaboração dos escravos. Além disso, as classes médias
urbanas que começavam a ter significado na sociedade brasileira, os estudantes
universitários, que vão desenvolver inúmeras atividades em prol da abolição.
Em São Paulo, por exemplo, a Sociedade dos “Caifazes”, um movimento
abolicionista radical, liderado pelo advogado Antônio Bento de Sousa e Castro
especializou-se em incentivar e organizar fugas de cativos. Utilizaram-se das
ferrovias que, ironicamente, foram construídas para racionalizar o transporte do
café, ou seja, a economia escravista, transformando-as em instrumentos que
acabaram com a organização do trabalho. Do Oeste paulista, os escravos eram
levados para São Paulo e daí para Santos, onde organizaram um grande quilombo, o
Jabaquara, com cerca de dez mil habitantes.
A abolição transformou-se num caminho sem retorno, quando o exército, em
outubro de 1887, manifestou-se em petição à princesa Isabel, solicitando dispensa
de perseguir os escravos fugidos. No final de 1887, a maioria dos fazendeiros acabou
por se converter ao abolicionismo, ou melhor, por se resignar a ele. Em 13 de maio
de 1888, depois de tramitar na Câmara e no Senado, a lei que abolia a escravidão foi
levada à sanção da Princesa Isabel, que então exercia a Regência no lugar do pai.
Não se deve ignorar a importância da Lei Áurea, que libertou cerca de 700 mil
escravos que ainda havia no país. Além disso, criou mais ressentimentos contra a
monarquia, abrindo caminho para a República.
A monarquia brasileira foi sabiamente aconselhada a pagar uma indenização
aos proprietários de escravos, mas não levou em conta o bom conselho. Resultado:
perdeu sua base de apoio. Até a fração mais "moderna" dos cafeicultores do Oeste
Paulista passou a temer que o império realizasse reformas para obter apoio político
da massa negra recém libertada. A necessidade de impedir qualquer alteração no
status quo afastou os cafeicultores da monarquia e os jogou nos braços dos
republicanos.
O enfraquecimento de Dom Pedro II e o agravamento do seu estado de
saúde deixaram o Segundo Reinado sem um comando, sem uma liderança, o que
favoreceu o movimento das tropas do marechal Deodoro da Fonseca, em 15 de
novembro de 1889, a decretar o fim do Império e instalar a república no Brasil.
Os republicanos já desejavam instalar a república logo após a proclamação
da Independência em 1822. Várias revoltas provinciais no período imperial tinham a
república como principal objetivo. Esse tipo de governo daria maior autonomia às
províncias, reduzindo o poder central. Porém, a forte repressão do governo imperial
reduziu as chances de se instalar uma república no Brasil antes de 1889.
Os militares inspirados nos ideais positivistas colocaram-se perante
a sociedade como “salvadores da pátria”, um novo Poder Moderador, aqueles que
poderiam desenvolver o país com ordem e progresso, tendo a ciência como grande
fiadora de suas ações. Esses ideais ganharam força entre os miliares e foram
discutidos no Clube Militar. Os fazendeiros que não foram indenizados após a
abolição da escravidão em 1888 mudaram de lado, aguardando apoio econômico do
novo governo.
Apesar de ser aliado de Dom Pedro II, o marechal Deodoro da
Fonseca aproximou-se dos grupos militares alinhados com o positivismo. Ele
assumiu a liderança dos republicanos no Exército e, em 15 de novembro de 1889,
comandou as tropas que depuseram Dom Pedro II:
Ao longo dessa década de 1880, as manifestações públicas começaram a se
tornar comuns, e críticas ao imperador cresciam. Um atentado contra o carro do
imperador em julho de 1889 motivou o Império a proibir manifestações públicas
em defesa da república, mas o Brasil estava em um caminho sem volta, pois o grupo
de insatisfeitos era muito grande.
Em novembro de 1889, a conspiração estava em curso e contava com nomes
como Aristides Lobo, Benjamin Constant, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa, Sólon
Ribeiro , entre outros. O que faltava para os conspiradores era a adesão do
marechal Deodoro da Fonseca, um militar influente e primeiro presidente do Clube
Militar.
Em 10 de novembro, os defensores do golpe contra a monarquia se reuniram
com Deodoro para convencê-lo a tomar participação no movimento. Nos dias
seguintes, os boatos de que uma conspiração estava em curso começaram a ganhar
força e, no dia 14, informações falsas sobre a monarquia começaram a ser
anunciadas em público com o objetivo de arregimentar apoiadores.
O golpe contra a monarquia seguiu no dia 15, quando o marechal Deodoro da
Fonseca e tropas foram até o quartel-general localizado no Campo do Santana. Foi
exigida a demissão do Visconde de Ouro Preto da presidência do gabinete
ministerial. O visconde se demitiu e foi preso por ordem de Deodoro da Fonseca.
Entretanto, o marechal estava à espera que o imperador fosse organizar um
novo gabinete e, por isso, deu vivas a D. Pedro II e então retornou para seu
domicílio. A derrubada do gabinete não colocou fim aos acontecimentos do dia 15, e
as negociações políticas seguiram. Republicanos decidiram realizar uma sessão
extraordinária na Câmara Municipal do Rio de Janeiro para que fosse realizada uma
solenidade de Proclamação da República.
A Proclamação da República aconteceu na Câmara Municipal,
sendo anunciada pelo vereador José do Patrocínio. Houve celebração nas ruas do
Rio de Janeiro, com os envolvidos na proclamação puxando vivas à república e
cantando A Marselhesa (canção revolucionária produzida durante a Revolução
Francesa) nas ruas da capital.
Durante essa sucessão de acontecimentos, foi organizada uma tentativa de
resistência sob a liderança de André Rebouças e Conde d’Eu, marido da Princesa
Isabel, mas essa resistência fracassou. O imperador D. Pedro II permaneceu crente
de que a situação seria facilmente resolvida, mas não foi assim que aconteceu.
Um governo provisório foi formado, o marechal Deodoro da Fonseca foi
nomeado como presidente do Brasil (o primeiro de nossa história) e outros
envolvidos com o golpe assumiram pastas importantes no governo. A família real foi
expulsa no dia 16 de novembro e, no dia seguinte, embarcaram com seus bens para
a cidade de Lisboa, em Portugal.
Com Deodoro, chegavam ao poder os militares, que dominaram a política
brasileira nos primeiros anos da república. O marechal tornou-se o primeiro
presidente do Brasil. Seu governo e o do seu sucessor, o marechal Floriano Peixoto,
são chamados pela historiografia de República da Espada (1889-1894).
Como consequências da proclamação da República, temos:
chegada dos militares ao poder e sua influência nos primeiros governos
republicanos (conhecido como República da Espada);
fim do Segundo Reinado com a implantação da República;
extinção do Poder Moderador;
separação entre Estado e Igreja, garantindo liberdade religiosa (o chamado
Estado laico);
garantia maior autonomia para as províncias, que, depois do 15 de novembro
de 1889, transformaram-se em estados (federalismo);
estabelecimento do sufrágio universal masculino e fim do voto censitário;
estabelecimento do presidencialismo.
"República Velha é a denominação dada ao período
histórico brasileiro que se estendeu da Proclamação da
República em 15 de novembro de 1889 até a Revolução de 1930,
governada por Getúlio Vargas. A República Velha é a primeira
fase da República brasileira, por isso é também chamada de
Primeira República.".
1) http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-
artigos/reportagens/16806-proclama%C3%A7%C3%A3o-da-
rep%C3%BAblica-os-militares-e-o-fim-do-imp%C3%A9rio
2) https://super.abril.com.br/blog/contaoutra/uma-mentira-e-
uma-rixa-amorosa-levaram-a-proclamacao-da-republica/
"A partir de hoje, 15 de novembro de 1889, o Brasil entra em nova fase, pois pode-se considerar
finda a Monarquia, passando a regime francamente democrático com todas as consequências da
Liberdade. Foi o exército quem operou esta magna transformação; assim como a de 7 de abril de 31 ele
firmou a Monarquia constitucional acabando com o despotismo do Primeiro Imperador, hoje proclamou,
no meio da maior tranquilidade e com solenidade realmente imponente, que queria outra forma de
governo. Assim desaparece a única Monarquia que existia na América e, fazendo votos para que o novo
regime encaminhe a nossa pátria a seus grandes destinos, esperamos que os vencedores saberão
legitimar a posse do poder com o selo da moderação, benignidade e justiça, impedindo qualquer
violência contra os vencidos e mostrando que a força bem se concilia com a moderação. Viva o Brasil!
Viva a Democracia! Viva a Liberdade!"
2ª) Seria o redator da notícia um monarquista ou um republicano? Justifique sua resposta identificando a
parte do texto que comprova sua opinião.
6ª) O que era esperado desse novo regime se efetivou em nosso país? Justifique sua resposta.
B) “Um dos documentos mais curiosos para a história da grande data de 15 de novembro consiste,
a nosso ver, no aspecto inalterável da rua do Ouvidor, nos dias 15, 16 e 17, onde, a não ser a
passagem das forças e a maior animação das pessoas, dir-se-ia nada ter acontecido. Tão
preparado estava o nosso país para a República, tão geral foi o consenso do povo a essa reforma,
tão unânimes as adesões que ela obteve, que a rua do Ouvidor, onde toda a nossa vida, todas as
nossas perturbações se refletem com intensidade, não perdeu absolutamente o seu caráter de
ponto de reunião da moda.”
(Adaptado de THOME,J. "Crônica do chic". 1889. Apud PRIORE,M.D.et alli.
Documentos de História do Brasil de Cabral aos anos 90. São Paulo: Scipione, 1997.)
"Em frase que se tornou famosa, Aristides Lobo, o propagandista da República, manifestou
seu desapontamento com a maneira pela qual foi proclamado o novo regime. Segundo ele, o
povo, que pelo ideário republicano deveria ter sido protagonista dos acontecimentos, assistira a
tudo bestializado, sem compreender o que se passava, julgando ver uma parada militar."
(CARVALHO, J.M. "Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que
não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.)
Como acabou se encaminhando essa questão no Brasil e qual sua relação com a queda da
Monarquia?
Mãos a obra!