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Volume 5 – Edição 1 - 2021

ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES:


BREVE RETROSPECTO TEÓRICO

Karina Brasil Rodrigues dos Santos1; Rosimeire Neves Correia2; Daniela Emilena Santiago Dias de
Oliveira3

1
Assistente Social graduada pela UNIP, Pós-Graduanda em Violência Doméstica contra Crianças e
Adolescentes na UNIP, E-mail: kaka_rodrigues_brasil@hotmail.com
2
Assistente Social graduada pela UNIP, E-mail: rosi.psf@gmail.com
3
Docente dos cursos de Psicologia e Pedagogia da UNIP de Assis, Mestre em Psicologia e Mestre em História
pela Unesp de Assis. Doutoranda em História pela Unesp de Assis. E-mail: santiago.dani@yahoo.com.br

Resumo: Os acolhimentos institucionais figuram como dispositivos de intervenção junto à


crianças e adolescentes que tiveram o poder famíliar destituído, aos que foram vítimas de
abandono ou mesmo àqueles que devido as situações da vida precisaram ser recebidos nesses
espaços. Atualmente são percebidos como instituições provisórias de acolhimento de crianças
e adolescentes uma vez que a política relacionada à esse segmento no Brasil pressupõe,
essencialmente, a preservação da vivência familiar e comunitária dos atendidos. No entanto,
essas instituições não apresentaram sempre essa delimitação e passaram por um longo percurso
histórico e social de desenvolvimento, transmutadas de instituições sem organização e com
práticas calcadas na agressão à instituições de proteção e promoção dos direitos sociais de
crianças e adolescentes. Nesse texto, por meio do aporte à livros e artigos, realizamos a
recuperação dessa história das instituições de acolhimento onde observamos que as mutações
são extremamente importante para garantir o desenvolvimento sadio e harmonioso de crianças
e adolescentes e que demandam por esse tipo de intervenção.

Palavras-chave: Acolhimento Institucional. Crianças. Adolescentes.

Área de conhecimento: Humanas.

Tipo de Trabalho: Estudo teórico.

Abstract: Institutional care appears as intervention devices with children and adolescents who
had their family power deprived, those who were victims of abandonment or even those who,
due to life situations, needed to be received in these spaces. Currently, they are perceived as
provisional institutions for the reception of children and adolescents, since the policy related to
this segment in Brazil presupposes, essentially, the preservation of the family and community
experience of those served. However, these institutions did not always present this delimitation
and went through a long historical and social development path, transformed from institutions
without organization and with practices based on the aggression to institutions for the protection
and promotion of the social rights of children and adolescents. In this text, through the
contribution of books and articles, we recovered this history of the host institutions where we
observed that mutations are extremely important to ensure the healthy and harmonious
development of children and adolescents and who demand this type of intervention.
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Keywords: Institutional Reception. Kids. Teens.

INTRODUÇÃO

As políticas públicas que versam sobre a infância e a juventude atravessaram um longo


trajeto até as discussões atuais. No que se refere ao contexto de acolhimento, observa-se que
está em plena modificação e reordenamento, tanto na esfera das políticas macrossociais quanto
nas práticas desenvolvidas pelas equipes de técnicos das secretarias municipais, instituições
de acolhimento, e Poder Judiciário. Contudo há que se considerar, que mudar uma cultura de
acolhimento que foi bastante pautada na institucionalização, e criar medidas de proteção
diferenciadas, não é um processo simples muito menos rápido, pois existem tensões que
permeiam a adoção de um novo discurso social.
É necessário estruturar uma melhor discussão no que tange o assunto sobre
acolhimento institucional de crianças e adolescentes, tendo em vista que as formas de
assistência a esse segmento tiveram início de maneira caritativa e filantrópica, passando por
um período de correção e repressão, tendo estes, como menores em¨situação irregular¨.

Com a promulgação do Constituição Federal de 1988 tem se assegurado com absoluta


prioridade os direitos da criança e adolescente, consolidando políticas sociais com
responsabilização do Estado, possibilitando a criação e aprovação de conjuntos de normas para
atendimentos deste seguimento, dentre eles, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
sendo esse documento de extrema importância com objetivo da proteção de crianças e
adolescentes em risco social, assegurando condições mínimas de desenvolvimento físico,
mental moral e social de acordo com princípios de dignidade e liberdade como preparação
para a vida adulta.
Concomitante a promulgação do ECA ocorria discussões acaloradas em torno das
questões que envolviam a infância e família como um todo¨ .Neste sentido em 1993 surge a
Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) dentre seus objetivos visa à proteção da família,
maternidade, a infância e juventude. Posteriormente em 2004 é promulgada a PNAS, expressa
o conteúdo da Assistência Social no sistema de proteção social brasileiro, dando continuidade
em 2005 a Norma de Operacional Básicas do SUAS, e na sequência em 2006 a Norm
Operacional Básica de Recursos Humanos SUAS, seguida da Tipificação Nacional dos
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Serviços Socioassistenciais (2009).


Em 2006 temos o Plano Nacional de Promoção, Proteção e defesa do direito de criança
e adolescente, esse plano fortalece o direito do vínculo familiar e comunitário assegurado pelo
ECA, rompendo com a cultura de institucionalização de crianças e adolescentes, um grande
marco na políticas públicas do Brasil onde o Governo Federal prioriza a formulação de
políticas públicas que assegure de forma integrada e articulada com demais programas do
governo os direitos da criança e do adolescente . No entanto mesmo com avanços na legislação
é sabido que muitas crianças e adolescentes se encontram afastados do convívio familiar e
comunitário.
O interesse em desenvolver o referido trabalho surgiu em decorrência do contato com
algumas instituições de acolhimento através de visitas realizadas às mesmas no decorrer do
curso de Serviço Social. Nesse sentido, o estudo sobre o acolhimento institucional e a
reinserção familiar pode apontar pistas importantes para prática eficaz em garantir o convívio
familiar, uma temática relevante, tanto do ponto de vista acadêmico, quanto social por
contribuir para a qualidade de atendimento à criança e adolescente institucionalizada ou que
necessitarem do serviço de acolhimento.
Para a composição do presente texto recorremos ao estudo teórico, por meio da leitura
de livros e artigos que abordam o tema em questão. Para a elaboração do artigo, entretanto,
delimitamos por compor dois tópicos, sendo esses: o tópico A Trajetória da Criança e do
Adolescente: algumas aproximações em que apresentamos as mudanças que ocorreram, no
Brasil, no entendimento desse segmento e também no que concerne aos serviços que foram
sendo constituídos para atender tal público ao longo dos anos. No item subsequente, e,
intitulado: “O Estatuto da Criança e do Adolescente e o Novo Olhar para as Instituições de
Acolhimento no Brasil” apresentamos a alteração legal contida no Estatuto da Criança e do
Adolescente e que deflagra, a nosso ver, uma nova forma de tratamento em relação às
instituições de acolhimento intitucional para crianças e adolescentes.
Consideramos que esse texto possa ser de grande valia para todos aqueles que atuam
com crianças e adolescentes, e, em especial para os profissionais que atualmente estão
inseridos nas instituições de acolhimento ou aqueles que por ventura tenham uma ação
relacionada às instituições de acolhimento em questão. E, almeijamos ainda que esse texto
possa servir para uma reflexão da relevância e da importância das mudanças ocorridas em tais
instituições que, possuem (ou ao menos deveriam) como foco o desenvolvimento sadio e a
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preservação de crianças e adolescentes.

1. A TRAJETÓRIA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: ALGUMAS


APROXIMAÇÕES.

No Brasil, crianças e adolescentes têm suas trajetórias marcadas por enfrentamentos


em diversas problemáticas sociais, clínicas e psíquicas, que podem ser causadas por desmazelo
das instituições públicas, da própria família e, ainda, da sociedade.

A trajetória da criança e adolescente no Brasil é marcada por diversas privações e


dificuldades. Ao estudá-la evidenciam-se diversos problemas enfrentados por elas,
tais como, maus tratos, abusos sexuais, mortalidade infantil, miséria, fome, crianças
sem teto, sem família, escrava do trabalho, isso tudo sendo causado por negligência
do Estado, da família e da sociedade em geral. (HENICK; FARIA, 2015, p.5).

Essas dificuldades enfrentadas por crianças e adolescentes, não são vivenciadas apenas
na atualidade, elas estão enraizadas no processo de formação do indivíduo desde os tempos
primórdios.
Conforme entendido por Henick e Faria (2015), no século XII, as crianças não eram
vistas como seres necessitados de qualquer carinho, e não viam a necessidade da inserção dela
na sociedade. Os pais colocavam os filhos para realizar os trabalhos e assim trazer o sustento
para família, não experimentavam o período da infância, não brincavam, não havia a
preocupação com a educação pedagógica, consequentemente, o período da juventude também
era anulado.
Somente por volta do século XV é que se tem a percepção de que a criança precisa de
cuidados diferenciados. Corrobora Henick e Faria (2015), que os primeiros modelos de
crianças foram trazidos pelos Jesuítas, estes acreditavam que as crianças deveriam receber
¨luz¨ e criaram um projeto pedagógico jesuíta com o objetivo de catequizar os nativos, em uma
espécie de modulação. As crianças que resistiam a esse projeto eram taxadas como ¨tentação
demoníaca”.
Ainda de acordo com Henick e Faria (2015), ao analisar as crianças que se opunham
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ao projeto, percebeu-se que não conseguiam enquadrar crianças órfãs, abandonados, rejeitados
e emigrantes em seu projeto. Paganini (2011, p.5) aponta que: “[...] quanto mais pobres, mais
delinquentes, quanto mais delinquentes mais se recolhiam tais crianças, quanto mais se
recolhia, mais se fazia elas trabalharem, quanto mais se trabalhasse, mais se enriquecia o país”.
Conforme demonstrado acima, essa era a forma de ver as crianças e que se perdurou
por muito tempo, não assegurando qualquer direito e prerrogativas a elas. Diante da demanda
apresentada e a necessidade em ofertar um serviço de amparo para determinadas crianças e
adolescentes, surgem no Brasil a primeiras instituições de acolhimento, conforme veremos a
seguir.
Algumas instituições e formas de acolhimento eram adotadas antes da consolidação da
Constituição Federal, onde a partir daí houve mudanças significativas que caminharam para
elaboração e aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, documento que reconhece a
criança e o adolescente como sujeitos de direitos.

As primeiras instituições de acolhimento no Brasil tiveram origem na colonização


portuguesa, onde os padres separavam as crianças de suas famílias com a missão de
educá-las. As instituições eram ocupadas por meninos indígenas e por órfãos vindos
de Portugal, dando origem às primeiras instituições de acolhimento(FONSECA,
2016, p.4).

Durante a época colonial e perdurando para o império, foi instalada no Brasil a


chamada roda dos expostos, uma espécie de caixa dupla de formato cilíndrico colocada em
muros de instituições caridosas. Nessa roda eram colocadas crianças que por algum motivo
seus pais não puderam criar.
Esta roda era uma espécie de dispositivos onde eram colocados os bebês abandonados
por quem desejasse fazê-lo. Apresentava uma forma cilíndrica, dividida ao meio,
sendo fixada no muro ou na janela da instituição. O bebê era colocado numa das
partes desse mecanismo que tinha uma abertura externa. Depois, a roda era girada
para o outro lado do muro ou da janela, possibilitando a entrada da criança para dentro
da instituição. Prosseguindo o ritual, era puxada uma cordinha com uma sineta, pela
pessoa que havia trazido a criança, a fim de avisar o vigilante ou rodeira dessa
chegada, e imediatamente a mesma se retirava do local. (PASSETI, s/a, p. 9 apud
HENICK; FARIA,2015, p. 7)

Essa forma de rejeitar os bebês, que se estendeu por anos, tinha motivos variados, como
a falta de recursos financeiros, filhos fora do casamento, entre outros. Essa pratica, além de
oferecer anonimato a quem deixasse a criança na roda, também se evitava o abandonado em
qualquer lugar que pudesse lhe oferecer risco de vida. A criança acolhida era criada por uma
“ama de leite” que, em sua maioria, eram mulheres pobres e sem instruções, que recebiam um
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pagamento pelos serviços prestados. Por falta de recursos, as instituições logo empregavam os
órfãos, os meninos como aprendizes e as meninas como domésticas.
Segundo Rizzini e Rizzini (2004), grande parte dos atendidos morriam, pois não havia
cuidados necessários com a saúde. Outro fator preocupante era que, além das crianças
atendidas, também eram acolhidos bêbados e loucos, e não havia um serviço especializado
para estes. Por volta do século XIX, essas instituições, por não atenderem os interesses do
Estado, e após críticas de médicos higienistas, começam a ser fechadas. (PASSETI, s/a, p. 11
apud HENICK; FARIA, 2015, p.7).
Posteriormente, novas instituições de acolhimento surgem para atender a demanda de
crianças abandonadas. Neste sentido, são criados os seminários e educandários em São Paulo
no ano de 1825, bem como em Salvador e no Rio de Janeiro (FONSECA; KELLY, 2016, p.6)
Em 1922, foi realizado o primeiro Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, onde
dentre os assuntos abordados, foi tratado a respeito dos asilos que acolhiam as crianças
abandonadas. Devido a grande problemática da criança e do adolescente serem vistos como
marginais e estarem largadas nas ruas, através do Decreto 16.272 de 1923, fica estabelecido
uma política de proteção e assistência à criança, onde foi criado o primeiro juízo de menores
no Brasil, e em 1927 o código de menores.
José Cândido de Albuquerque Mello Matos foi o primeiro juiz de menores do Rio de
Janeiro, conhecido também como “Apóstolo da Infância Abandonada”, assume uma visão
crítica e propositiva ao apresentar através do Código de Menores de 1927 uma importante
iniciativa que se destaca pela assistência aos menores de 18 anos, no entanto, ainda não vendo
a criança e adolescente como sujeito de direitos.
Promulgado em 1927, o Código de Menores, documento que propunha ações e
intervenções em caráter extremamente punitivo junto à criança e adolescente, na época tratada
como delinquentes. Essa lei estabelecia a proteção e vigilância sobre menores de dezoito anos
de idade ¨em situação irregular¨, termo utilizado na época para definir a criança e adolescente
que se encontrava em abandonado material, vítima de maus-tratos, com desvio de conduta.
O Estado queria ampliar e explicar sobre suas intervenções, ficando responsável pela
tutela legal da criança órfã e abandonada, essas enquanto desamparadas ficam
institucionalizadas e recebem orientações e oportunidade para trabalhar (SILVERA 1984, p.
57 apud PAES 2013, p.2).
Pressupunha que essa era a legislação com uma estrutura para com a proteção a
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menores. Dentre as várias atuações, o Código de Mello Matos apresenta, pela primeira vez,
uma perspectiva de integração com o propósito de evitar o abandono pela mãe, através de
conselho e, ao mesmo tempo sigilo no processo de recolhimento.

A doutrina subjacente ao Código Mello Mattos (CMM) era a de manter a ordem


social. As crianças com família não eram objeto do Direito; já as crianças pobres,
abandonadas ou delinqüentes, em situação irregular – e apenas aquelas que
estivessem em situação irregular-, passariam a sê-lo. Estariam em situação irregular
aqueles menores de idade (18 anos) que estivessem expostos (art.14 e 18e, CMM);
abandonados (art.26, CMM); ou fossem 18delinquentes18 (art.69 e 18e, CMM).
(AZEVEDO, 2007, p.6)

Pode-se apontar o Código de Mello Matos como importante precursor no que se refere
à legislação direcionada à criança e ao adolescente em situação de abandono, colocando o
Brasil como pioneiro dentre os países latino americanos no que se refere ao enfrentamento
desta problemática.

Embora se tivesse essa preocupação com o problema do jovem em conflito com a lei
ou em situação de abandono, percebe-se que nada era proposto para a inserção desses jovens,
mas sim que fosse realizada a retirada deles do meio social. Por décadas, estas instituições
atenderam crianças e adolescentes sem nenhuma política de retorno à convivência familiar, os
referidos espaços ofereciam abrigamento até que as mesmas completassem 18 anos.
Ainda sobre uma legislação voltada para criança e adolescente houve em 1979 um novo
Código de Menores que trazia um dispositivo de intervenção do Estado sobre a assistência,
proteção e vigilância a menores de até dezoito anos de idade em situação irregular, logo após
o Código de Menores de 1967 adotou um fundamento expressamente assistencialista e não de
jurisdicização de direitos fundamentais (ZAPETER, 2018).
Com o passar dos anos, após os códigos se tornarem insuficientes frente a demanda
apresentada, é instituído o Serviço de Assistência ao Menor (SAM). O Serviço de Assistência
ao Menor (SAM) instituído em 1941 na era Vargas, foi criado para atender adolescentes com
problemas que os levariam a cometer algo que contrariasse os valores da sociedade e também
crianças e adolescentes pobres ou desvalidos, que, no entendimento da época seriam capazes
de cometer algo ilícito. Era uma prática assistencial com a possibilidade de moldar as pessoas
de acordo com a ordem social. (RIZZINI; RIZZINI, 2004). Essa prática recebia e atendia tanto
crianças e adolescentes que cometiam ato infracional, quanto os que eram pertencentes a
famílias pobres, havia uma penalização severa pautada na agressão para os atendidos nesse
sistema.
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Ainda segundo Rizzini e Rizzini (2004) pais e mães achavam que seria melhor deixar
os filhos nessas instituições. O Serviço de Assistência ao Menor acabou sendo um depósito de
crianças e adolescentes já que tanto quem cometia atos infracionais quanto os que eram pobres,
eram atendidos nesses espaços, esse serviço não tinha qualquer metodologia de ação, os
atendidos eram deixados ao cuidado do SAM.
Somente a partir de 1960 começam acontecer mudanças na criação de assistência para
crianças e adolescentes, com a promulgação da Constituição de 1969 o Estado brasileiro
voltou a pensar sobre a Assistência Social, daí tem se determinado que o Estado preste
assistência à maternidade, à infância, à adolescência e à pessoa com deficiência, porém mesmo
com esses avanços não tivemos ações que colocassem em prática o que estava na Constituição.
Dando sequência no ano de 1964, teve a criação da Fundação Nacional do Bem – Estar do
Menor (FUNABEM), para os que estivessem em situação de vulnerabilidade social.
Neto afirma que:

No ano de 1964, o governo militar introduziu, mediante a Lei 4.513 de 1º de


dezembro de 1964, a Política Nacional do Bem – Estar Social do Menor, cabendo a
Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) sua execução. Seus
objetivos eram cuidar do menor carente, abandonado e delinquente, cujos desajustes
sociais se atribuíam aos desafetos familiares. (NETO, 2000, p. 111 apud HENICK;
FARIA, p.8)

Nesse sentido nota-se uma preocupação para se pensar e executar uma política para
melhoria no que tange a assistência à criança e adolescente no Brasil. De acordo com Rizzini
e Rizzini (2004) a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor veio substituir o SAM, apenas
5% dos atendidos tinham cometido atos infracionais, e a grande demanda decorria de
moradores de rua e de famílias pobres. À FUNABEM coube a tarefa de implementar a Política
Nacional do Bem- Estar do Menor (PNBM), que deveria por fim ao emprego de métodos
repressivos e primitivos nas instituições para “menores” e, através da ação conjunta com a
“comunidade”, desenvolver outras estratégias de atendimento que não priorizassem mais a
internação ou a institucionalização da criança.
Tendo em vista que uma grande demanda era atendida pela Coordenadoria dos
Estabelecimentos Sociais do Estado (CESE), foi criada Paulista de Promoção Social do Menor
(Pró-Menor), onde foram agrupados os atendimentos aos jovens e crianças, logo após houve
em vários estados de federação a instituição da FEBEM (Fundação Estadual para o Bem Estar
do Menor).
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Em 1968, outra resolução fixou a estrutura da Secretaria da Promoção Social, sendo


criada também a Coordenadoria dos Estabelecimentos Sociais do Estado – CESE.
Além do atendimento ao jovem e à criança, a CESE também atendia famílias
carentes, mendigos, migrantes e alcoólatras, entre outros, o que levou, em 1973, à
criação da Fundação Paulista de Promoção Social do Menor (Pró-Menor). Em 1976,
a Pró-Menor se transformou em FEBEM, dirigindo seu foco de atendimento ao
“menor infrator”, hoje chamado adolescente em conflito com a lei, e não mais ao
“menor abandonado”. (PARENTE,2016, p.13)

No entanto a criação da FEBEM trás no que tange a separação da criança e adolescente


carentes ou abandonados dos que tivessem cometido ato infracional.

Entende a referida autora Figueiredo (1987, p.14) que o objetivo do atendimento na


FEBEM era definido:

[...]instrumentar o menor marginalizado (compreendidos aqui os carentes,


abandonados e infratores) para a compreensão crítica de sua.condição e das
circunstâncias que a geram, bem como propiciar-lhe os conhecimentos, habilidades
e capacidades que lhe abram as oportunidades de enfrentar, objetivamente, os
desafios que lhe são colocados no convívio social.

A FEBEM operacionalizava o atendimento no modelo articulado pela FUNABEM,


onde recepcionavam faziam a triagem e separação dos carentes e os e de conduta antissocial,
eram consideradas verdadeiras penitenciárias de crianças e adolescentes (BARROS, 2008,
p.18).
No início de 1990, por conta do advento do Estatuto da Criança e do Adolescente a
FEBEM, nome pelo qual a instituição ficou mais conhecida, deixou de atender adolescentes
carentes ficando a cargo dela os atendimentos de adolescentes infratores, logo em seguida seu
nome foi substituído por Fundação Casa. A seguir faremos uma contextualização sobre o
Estatuto da Criança e do Adolescente.

2. O
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E O NOVO OLHAR PARA AS
INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO NO BRASIL

Nas instituições de acolhimento antes da promulgação da Constituição Federal de 1988


e consequentemente com a elaboração e aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente e
documentos afins, não havia uma política específica que visasse garantir o direito integral
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desse segmento e sua ressocialização, não levando também em consideração suas


particularidades.
Conforme anteriormente abordado, o Código de Menores tratava de crianças e
adolescentes que se encontravam em situação irregular. Dois grupos atuavam na organização
do ECA, sendo eles os menoristas que defendiam o código de menores e os estatutistas que
defendiam uma mudança no código, instituindo novos e amplos direitos à criança e ao
adolescente, sendo este o grupo que prevaleceu. O Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) é um documento de normas com objetivo de assegurar os direitos das crianças e
adolescentes de maneira integral, e reconhecê-los como sujeitos de direitos.
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A efetivação desse conjunto de direitos requer a conjugação de esforços entre o poder


público e a sociedade civil, na implantação de políticas públicas articuladas e
integradas, que visem à inclusão social. É nesse sentido que o ECA determina, ainda,
que a política de atendimento deve ser realizada por meio de um conjunto articulado
e intersetorial de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios. (BRASIL,2018, p.6)

Com a promulgação e aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, os serviços


de acolhimento têm suas formulações respaldadas nas medidas de proteção asseguradas nesse
documento.
Visando minimizar os possíveis prejuízos do acolhimento, o ECA direciona para
princípios como a reintegração familiar, a promoção da reintegração familiar, atendimento
personalizado em pequenos grupos, o não desmembramento de grupos de irmãos, evitar
sempre que possível a transferência de crianças e adolescentes abrigados para outras entidades,
preparação gradativa para o desligamento, participação de pessoas da comunidade no processo
educativo (JACOBINA,2018).
Portanto o Estatuto da Criança e do Adolescente é de suma importância para
direcionamento e criação de normas no atendimento de crianças e adolescentes em situação
de acolhimento institucional.
Passado alguns anos da publicação do ECA, temos em 1993 a Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS), que considera a criança, o adolescente e a família em
vulnerabilidade prioridade de intervenções. As discussões tendo como tema uma política de
acolhimento para crianças e adolescentes, levaram a outro marco importante, a criação da
política de Assistência Social.
A aprovação da Política Nacional de Assistência Social, que coloca a família como
eixo de suas ações corroborando com o surgimento do Plano Nacional da Convivência
Familiar e Comunitária, em 2006, documento que coloca um novo desafio em termos de
política pública, de trabalho com a criança e adolescente institucionalizado, priorizando assim
o investimento na preservação dos vínculos familiares e comunitários entendendo da família
como eixo do desenvolvimento integral. (PALATTO, 2012)
Outro documento de extrema importância é Orientações Técnicas de Serviço de
Acolhimento, onde abrange toda temática sobre acolhimento.
Segundo a autora Santos (2013, p. 4):
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O mérito do ECA foi o de criar um sistema de justiça para a infância e a juventude,


tendo por suporte a "absoluta prioridade" das ações, mediante a criação dos
Conselhos Municipal e Tutelar, das Curadorias da Infância e da Juventude, da
redefinição da atuação dos Juízes de Direito, Juízes da Infância e da Juventude,
cabendo, ao Conselho Municipal, definir as políticas de atendimentos, ao Conselho
Tutelar, a sua execução.

É notório que o ECA abriu caminhos para elaboração de documentos importantes que
venham nortear e garantir o direito e dignidade de crianças e adolescentes, em especial como
é foco deste trabalho, as que necessitam serem acolhidas em instituições. Ao longo da história
foram ocorrendo mudanças, transformações significantes em instituições acolhedoras,
mudanças para que essas instituições pudessem apropriar um lugar adequado que
proporcionasse um desenvolvimento saudável para essas crianças e adolescentes.
Arpini (2003) e Siqueira (2006) relatam que, pesquisas e estudos realizados
demonstravam situações desumanas e espaços produtores de violência, em instituições de
acolhimento. Portanto é considerável e notável o avanço na legislação que, de certa forma,
vem abrindo caminho para melhoria desse trabalho ofertado a crianças e adolescentes em
situação de risco ou abandono.
O acolhimento institucional, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
é considerado uma medida protetiva e tem caráter excepcional, nesse sentido, antes de tomar
essa providência, todos os recursos para manter a criança e adolescente em seio familiar devem
ser esgotados, e não deve ser motivado apenas pela carência de recursos socioeconômicos.
Devem ser realizados encaminhamentos para programas de apoio e demais medidas
previstas no artigo 101 do ECA, preservando assim seu convívio familiar. Da mesma forma o
documento se atenta para crianças ou membro da família com alguma deficiência ou doença
infecto-contagiosa, transtorno mental ou outros agravos não deve por si só ser afastado do
convívio familiar e sim encaminhados a serviços da rede para preservar o convívio familiar.
Quando para garantir a proteção da criança e/ou adolescente o afastamento do convívio
familiar for à medida a ser tomada, devem-se viabilizar esforços para que em menor tempo
possível seja feito o retorno a família de origem ou excepcionalmente em família substituta.

Todos os esforços devem ser empreendidos para que, em um período inferior a dois
anos, seja viabilizada a reintegração familiar – para família nuclear ou extensa, em
seus diversos arranjos – ou, na sua impossibilidade, o encaminhamento para família
substituta. A permanência de crianças e adolescentes em serviço de acolhimento por
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período superior a dois anos deverá ter caráter extremamente excepcional, e estar
fundamentada em uma avaliação criteriosa acerca de sua necessidade pelos diversos
órgãos que acompanham o caso. (BRASIL, 2008, p.19)
Nota-se que a prioridade é que a criança retorne e permaneça em sua família de origem,
podendo até mesmo ser sua família extensa, mas quando não for possível, depois de uma
criteriosa avaliação e acompanhamento é que ela deve ser colocada em família substituta, se
atentando que o acolhimento não pode exceder a dois anos a não ser em casos excepcionais, e
nesses casos relatórios devem ser enviados para a Justiça da Infância e Juventude e assim
através de uma avaliação seja tomada a melhor decisão.
Segundo as orientações técnicas destaca-se que, em conformidade com o Art. 23 do
ECA, a falta de recursos materiais por si só não constitui motivo suficiente para afastar a
criança ou o adolescente do convívio familiar. Durante muito tempo perdurou-se que crianças
de origem pobre, onde suas famílias não tinham condições de criá-las deviam ser acolhidas ou
até entregues pelos seus responsáveis às instituições de acolhimento.
De acordo com Santos (2013, p. 4-5)

O ECA instituiu novas concepções sobre a infância e a adolescência,


compreendendo que crianças e adolescentes devem ter o direito de conviver e serem
protegidos em suas famílias de origem, independentemente da situação financeira
destas, pois a pobreza não pode acarretar na perda ou suspensão do poder familiar.
Ao Estado compete proteger e assistir aqueles que necessitarem.

Tem-se sistematizado e regulamentado na lei Orgânica da Assistência Social um dos


três componentes da seguridade social a Assistência Social, onde sua descrição e diretrizes
básicas estão contidas na Constituição Federal em seus artigos 203 e 204, têm caráter não
contributivo, sendo disponibilizada a quem dela precisar. “Art. 1º A assistência social, direito
do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os
mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e
da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas (BRASIL, 1993)”.
Também seu artigo 2º a LOAS estabelece seus objetivos dentre eles a proteção da
infância, família, maternidade, adolescência, com foco no inciso III parágrafo único: “Para o
enfrentamento da pobreza, a assistência social realiza-se de forma integrada às políticas
setoriais, garantindo mínimos sociais e provimento de condições para atender contingências
sociais e promovendo a universalização dos direitos sociais (BRASIL, 1993)”.
Portanto a falta de recursos materiais não é fator excepcional para a retirada da criança
ou adolescente do convívio familiar tendo meios garantidos por lei para assegurar às famílias
o mínimo para sobrevivência, articulando a promoção destes para a inserção no mercado de
trabalho. Sendo assim tentar sanar essa problemática. Os fortalecimentos de vínculos
familiares e comunitários devem sem dúvidas serem preservados, o documento de orientações
técnicas se atenta para esses fortalecimentos, afirmando que esses vínculos são fundamentais
para o desenvolvimento da criança e do adolescente, que é importante que isso aconteça no
cotidiano dos serviços de acolhimentos, através de visitas encontros com a família e com
pessoas de referências da comunidade da criança e do adolescente, que não deve haver
separação deles quando forem acolhidos a não ser que isso venha lhe trazer riscos (BRASIL,
2009).

Temos elencado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) as medidas de


proteção, com objetivo de garantir a criança e adolescente atendimento qualificado analisando
cada caso e melhor providência a ser adotada. Em seu artigo 101 medidas de proteção á
crianças e adolescentes são aplicadas sempre que seus direitos forem violados conforme
previstos no artigo 98 incisos I, II e III da mesma lei.

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental;
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio
e promoção da família, da criança e do adolescente;
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime
hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e
tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - acolhimento institucional;
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;
IX - colocação em família substituta. (BRASIL, 1990)

Atualmente têm determinado no artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente,


que sejam aplicadas medidas de proteção às crianças que cometem ato infracional. Conforme
entendido pela autora Neri (2012, p.33): “As punições impostas para as crianças e os
adolescentes infratores passam a ter o caráter educacional e de proteção dos mesmos, sendo
dividas entre medidas protetivas e medidas socioeducativas. As medidas protetivas se
destinam às crianças de até 12 anos de idade e são expostas no artigo 101 do ECA”.

Dessa forma compreende que existe uma separação por faixa etária para aplicação
dessas medidas, levando em consideração o desenvolvimento e as necessidades das crianças,
onde ela jamais será acolhida em instituição por ter cometido tal ato, como era objetivado
antes da promulgação da Constituição Federal de 1988.

Entretanto ainda nos dias atuais o adolescente e criança que tenham sido autor de
ato infracional ou que tem certa dificuldade em cumprir regras sendo taxado como
indisciplinados são vistos como fora do padrão e que devem ser corrigidos e até acolhidos.
Rizini e Rizini (2004, p. 49) afirmam que:

Quanto à questão do atendimento em instituições, cabe destacar que um processo de


diagnóstico e avaliação da situação atual apenas se inicia. Provavelmente por isso, o
tema tem sido tratado com uma certa confusão e perplexidade diante das denúncias
de maus-tratos e formas hediondas de violação dos direitos da criança e do
adolescente em instituições por todo o país. Algumas tendências na área de
segurança pública, que se agravaram na década de 1990, como o aumento da
violência e da criminalidade, têm trazido consigo uma maior pressão para que as
crianças e jovens sejam recolhidos e confinados em estabelecimentos. As pressões
para a redução da idade penal e o aumento do número de crianças cooptadas para
atividades criminosas por grupos de traficantes têm se avolumado nos últimos anos,
acirrando os ânimos e as discussões.

Dessa forma entende-se que ainda há muito a trabalhar no sentido de informar e


conscientizar tanto a sociedade civil quanto os responsáveis, que o tratamento a essas crianças
e adolescentes precisa ser ordenado e cumprido como determina a legislação. Nos dias atuais
adolescentes que tenham sido autores de ato infracional podem ter determinados pelo Juiz,
Promotor, o cumprimento de medidas, dentre elas:

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá


aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional; VII
- qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de
cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de
trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão
tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições
(BRASIL,1990)

Portanto é notório que precisa ser avaliada pela autoridade competente qual a medida
mais adequada para cada tipo de infração, cometida, garantindo aos adolescentes a proteção
integral. Analisando o artigo 112, inciso V do ECA, constatamos que fica estabelecido
inserção em regime de semi-liberdade, e no inciso VI a internação em estabelecimento
educacional.

O regime de semi-liberdade segundo Matos (2011, p. 31)

É uma medida de transição para o adolescente infrator da internação para o meio


aberto ou também utilizado como regime inicial. A transição consiste em o
adolescente executar atividades externas como, trabalhar e estudar durante o dia, e,
no período noturno recolher – se – a em uma entidade especializada, para orientação
e auxílio. Ensino e profissionalização não são verificados como possibilidades e sim
como obrigação, determinação do §1° do art.120 do Estatuto, já que são institutos
base para a aplicação da medida socioeducativa, sem eles aplicação da medida não
teria qualquer sentido.

Nota-se que essa medida não priva o adolescente de total liberdade, portanto obriga
que ele se profissionalize e estude, essa medida pode ser determinada desde inicio pelo Juiz,
ou conquistada pelo adolescente que esteja em medida de internação, no caso como uma
progressão do regime.
Também na respectiva lei tem se determinado Internação em estabelecimento
educacional, devendo esta ser determinada em último caso, portanto as demais medidas
conforme citadas anteriormente no respectivo trabalho devem ser criteriosamente analisadas
de forma a evitar injustiça. “A internação deve ser criteriosamente analisada, e aplicada em
último caso, normalmente é imposta quando do cometimento de atos infracionais que
provenham de violência ou grave ameaça a pessoa da vítima, devido à reincidência, ou
proveniente de descumprimento de outra medida anteriormente imposta. (MATOS, 2011, p.
32-33). Dessa forma compreende que deve ser levado em consideração o caráter da infração,
ou seja, a gravidade do ato cometido pelo adolescente, sua reincidência ou descumprimento,
garantindo a ele todo direito estabelecido na legislação.
Segundo a autora Nascimento (2017, p. 38-39): “Após a apuração de autoria e
materialidade, o magistrado, ao proferir sentença que determina o acolhimento institucional do
adolescente, deverá observa se este possui condições físicas e psicológicas de se manter
internado institucionalmente”. Portanto deve ser levada em consideração a capacidade de o
adolescente permanecer internado mesmo que em curto prazo, haja vista que esses progressos
na legislação no que diz o acolhimento de adolescentes infratores sofrem alterações e avanços
importantes no que tange as políticas públicas eficazes para o atendimento deles.

A Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo do Adolescente (Fundação Casa)


é criada pelo governo do Estado de São Paulo e vem substituir a anteriormente chamada
FEBEM, modelo de acolhimento a adolescentes infratores até os dias atuais.

No final do ano de 2006, o nome Fundação do Bem Estar do Menor foi alterado para
Fundação CASA. O governador Cláudio Lembo, sancionou a lei nº 12.469/2006 que
altera o nome da Fundação para CASA – Centro de Atendimento Socioeducativo ao
Adolescente. Esta lei alterou também a política de atendimento do Estado de São
Paulo, a crianças e adolescentes em conflito com a lei. (OLIVEIRA, 2010, p.27-28)

O atendimento na Fundação Casa é prestado à adolescentes com menos de 18 anos de


idade autores de atos infracionais, podendo cumprir pena até os vinte um ano de idade,
conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente. Esse tipo de acolhimento visa a
ressocialização do adolescente e sua reinserção social. O (SINASE) Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo criado em 2006, regulamenta a execução das medidas destinadas
a adolescentes que pratiquem ato infracional, é uma promoção articulada com União, Estados
e Municípios. Constitui como uma política pública de implementação do atendimento às
medidas socioeducativas previstas no ECA para situações de envolvimento de crianças e
adolescentes com atos infracionais. (JÚNIOR, 2015, p.76)
Conforme anteriormente abordado as leis voltadas para criança e adolescente não
mostrava real preocupação com elas, não se importavam com a participação dos mesmos, a
Constituição de 1988 foi um grande marco na história do país que traz um novo olhar sobre a
criança e adolescente, em seu artigo 227 diz:

È dever da família, da sociedade e do Estado assegurar á criança, ao adolescente e


ao jovem, com absoluta prioridade, o direito á vida, á saúde, á alimentação, á
educação, ao lazer, a profissionalização, á cultura, a dignidade, ao respeito, á
liberdade e á convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Notadamente, a inquietação, está em assegurar a melhor forma de garantir o direito da


criança e do adolescente, buscando resguardá-los e restringir a violação destes. A nova
Constituição institui os direitos da criança e adolescente com máxima prioridade,
estabelecendo a grande responsabilidade de atuar na defesa da criança

como cidadã e sujeito de direitos, abrindo assim caminho para instituição do Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA).
Ainda sobre proteções para pessoas em situações de vulnerabilidade social temos o
Plano Nacional de Assistência Social, abrangendo nesses atendimentos não somente as
crianças e adolescentes bem como suas famílias.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo mostrou-se extremamente importante e socialmente necessário ao


passo que abordou um dos aspectos que são basais para a efetivação dos direitos de crianças e
adolescentes e que refere-se às instituições de acolhimento institucional. Consideramos que o
objetivo primordial das ações ligadas à infância e a adolescência seja orientado sempre a
manutenção dos vínculos familiares por meio da alocação dos atendidos em família de origem
(quando isso é possível) ou então na família extensa. Além disso, temos a adoção como uma
alternativa em que a criança ou o adolescente passa a compor outra família. Fato é que as
instituições são provisórias, mas, durante o período de acolhimento buscam a efetivação dos
direitos sociais dos atendidos. Por conseguinte, trata-se da defesa de uma ação qualificada
desenvolvida por essas instituições.
Para além disso o texto mostra-se relevante no aspecto social e acadêmico ao passo que
aponta e deflagra a mudança de paradigma em relação a infância e no que diz respeito às
mudanças processadas nas ações empreendidas pelo Estado em prol desse segmento. Isso nos
mostrou a relevância do Estatuto da Criança e do Adolescente na proteção desse segmento na
qualificação das práticas desenvolvidas por todas as instituições de atendimento à crianças e
adolescentes, incluindo, nesse sentido as instituições de acolhimento e que foram objeto de
nossa discussão no presente texto. E, consideramos ainda que pesquisas desse porte são basais
para que possamos compreender e conhecer ainda mais os direitos de crianças e adolescentes,
buscando sempre a sua efetivação.

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