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Introdução

Mapas para um outro


tempo do mundo:
modos de usar
Rafael Saldanha
“Queremos algo diferente agora, um outro tipo de tristeza, uma
tristeza mais interessante.”
Andrei Platonov, Djan

É normal se perguntar sobre a relevância de publicar o material de


um evento que foi realizado sete anos atrás. Mesmo que o tema do
colapso climático seja dos mais urgentes, é de se esperar que nesse
período alguma defasagem tenha se produzido. Encontramos dois
tipos de defasagem entre o que vivíamos no ano em que teve lugar o
evento Os Mil Nomes de Gaia: do Antropoceno à Idade da Terra e o que
vivemos atualmente. A primeira defasagem se deu no próprio tema
do colóquio. Se em 2014 as perspectivas eram tenebrosas, os últimos
anos têm mostrado de modo inequívoco que a crise ecológica não
é apenas a projeção de um cenário, mas uma realidade com cujos
efeitos já convivemos. Isso se mostra sobretudo na multiplicação de
eventos climáticos extremos, como enchentes, furacões, ondas de
calor e secas prolongadas, que podem ser observados pelo mundo.
Também é possível dizer que há uma defasagem no que diz respeito
ao trabalho dos palestrantes. Seguindo o curso natural da produção
acadêmica e da pesquisa, as reflexões que foram então apresentadas
foram posteriormente ampliadas e mesmo modificadas na obra de
seus autores. Expor as razões de nossa decisão de publicar os textos
originais do colóquio Os Mil Nomes de Gaia: do Antropoceno à Idade

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da Terra, assim, nos permitirá oferecer um guia do que se pode espe-
rar da leitura deste livro.
Primeiramente, precisamos refletir sobre o que podemos tirar
dos dias do evento ocorrido na Casa de Rui Barbosa, entre 15 e 19 de
setembro de 2014. Não se pode dizer que a discussão sobre a ques-
tão climática estivesse dormente no Brasil. Dois anos antes havia
ocorrido a Rio + 20, conferência da ONU sobre desenvolvimento
sustentável, e a Cúpula dos povos, evento paralelo, organizado por
entidades da sociedade civil para a discussão do tema. Ora, uma
das atividades da Cúpula dos povos foi o encontro terraterra, também
realizado na Casa de Rui Barbosa, que contou com a presença de
alguns participantes do nosso colóquio e pode ser visto como um
de seus precursores. Também não é possível dizer que o tema estava
completamente ausente das nossas universidades. Como destacado
por Eduardo Viveiros de Castro no prólogo a este volume, apesar
de o tema receber menos atenção nas ciências humanas, era possí-
vel observar na comunidade das ciências da Terra um engajamento
consistente.
Ainda assim, mesmo que o tema dissesse e diga respeito a cada
um de nós e a tudo que está por vir, as questões sobre a crise climá-
tica não tinham tração e continuidade na vida pública nacional.
Pareciam ainda pertencer a uma espécie de nicho, uma especialida-
de acadêmica sem relação com ninguém em particular fora aqueles
cientistas que trabalham diretamente com esses objetos. Mesmo no
âmbito político, parecia que falar de aquecimento global era apenas
assumir uma pauta entre outras. A nos concentrarmos no aspecto
discursivo (ou seja, no que se fala e se conversa sobre o assunto), a
impressão que tínhamos (mesmo com um evento do porte da Rio +
20), era que o problema do clima ou estava restrito a um pequeno
grupo de interessados (pesquisadores nas universidades e os ecolo-
gistas), ou era abordado apenas como mais um evento no calendário.
E uma vez finalizado o evento da ONU, as atenções seriam voltadas
para outra grande questão do momento.
Hoje podemos afirmar que a situação no Brasil não é mais a
mesma. A questão climática deixou de ser um assunto para inicia-

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dos e se tornou um problema para qualquer pessoa interessada em
entender ou transformar o país e o mundo em que (por ora) vivemos.
Mas esse interesse não surgiu do nada. Em que pese o acirramento
da crise climática, e embora o problema chamasse atenção aqui e ali,
sua circulação geral, como dissemos, ainda era limitada. De modo
que para aqueles que não estivessem engajados diretamente com
o problema, nem sempre era claro como se aproximar da questão.
Se isso mudou, parte do mérito deve ser atribuído ao evento Os Mil
Nomes de Gaia, que conseguiu furar as fronteiras disciplinares (e até
universitárias) e ajudar na construção de um público que entendes-
se o que estava em jogo.
Além da originalidade nas contribuições (como o leitor poderá
confirmar na leitura do livro), o evento deve ser reconhecido pelo
esforço coletivo em produzir um espaço que pudesse fazer um outro
tipo de discurso circular. Isso se deveu aos esforços de Cecília Cava-
lieri, Alyne Costa, Déborah Danowski, Juliana Fausto, Felipe Süsse-
kind e Eduardo Viveiros de Castro. Esses organizadores, todos
acadêmicos e acostumados à insular vida universitária (intensifi-
cada quando pensamos no lugar do Brasil na produção mundial de
conhecimento), se engajaram na construção de um colóquio que não
reproduzisse a elitização e a inacessibilidade do debate tão comuns
em eventos desse tipo. Podemos destacar três ações da própria orga-
nização que colaboraram para tal.
A primeira delas, e a mais óbvia, é a decisão pelo tema. Escolheu-
-se um tema que não apenas era relevante, como também aparecia
como um problema. Algo que precisa ser levado a sério por todos, já
que suas consequências ameaçam todos os humanos e boa parte dos
viventes não humanos. Não se visava realizar mais um colóquio sobre
o tema x, mas tratar em conjunto de um problema concreto que não
temos o luxo de deixar de lado.
Apesar de ser tão tangível, o problema do colapso climático tem
uma natureza elusiva, de difícil acesso. Essa dificuldade é mencio-
nada no position paper com a chamada do colóquio. A dificuldade se
deve à forma plural de um acontecimento que se transforma obje-
tivamente conforme o ponto de vista de quem fala e os interesses

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e valores mobilizados no discurso. Assim, cada fala do colóquio
pode ser lida também como um testemunho que visa contribuir
para combater uma situação que ameaça nosso futuro (e presente).
No lugar de uma síntese, o objetivo foi permitir a equivocação do
problema (o que não deixa de apontar para seus desafios práticos).
A natureza da questão, como se pode observar ao longo do livro,
faz que seja impossível delimitar de maneira definitiva o que está
em jogo. Mas, é importante salientar, talvez não seja desejável uma
síntese, já que se poderia recair no ímpeto homogeneizante que
caracteriza a dinâmica do capitalismo moderno que produziu essa
mesma crise.
O colapso climático também trazia problemas teóricos em outra
escala na hora de discuti-lo. O tema, como se sabe, não respeita algu-
mas distinções a que estamos acostumados. Por exemplo, ao tratar-
mos do assunto, categorias como natureza e cultura se confundem,
assim como também os espaços de disciplinas tradicionais, como
climatologia e antropologia. Ou seja, a própria referência do proble-
ma exigia que se conjuguassem diferentes saberes. E assim o coló-
quio (e o livro que o leitor tem em mãos) traz análises que partem
dos mais diversos pontos de vista. São falas e textos de filósofos,
cientistas, artistas e ativistas que estiveram presentes no encontro.
Além de contribuir para a compreensão das diferentes facetas
do problema, a interdisciplinaridade do colóquio também fez com
que os participantes construíssem suas falas de outra forma. Ali,
não estavam se endereçando a um corpo de especialistas do seu
campo, mas se comunicando com outros colegas com quem parti-
lhavam ao menos uma referência em comum: a preocupação com o
colapso climático. Ainda que pareça um pequeno detalhe, os pales-
trantes não podiam se apoiar em conceitos ou ideias compartilha-
das apenas entre seus pares. Sem poder presumir sobre seus inter-
locutores, assim, eles buscaram muitas vezes encontrar uma outra
linguagem para aquilo que pretendiam transmitir. Dessa forma,
a tentativa de superação das divisões acadêmicas se deu também
entre público e conferencistas. Isso não significa que tudo se orga-
nizou de modo harmônico e sem qualquer discordância. É eviden-

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te que as diferenças existiram, mas apenas no que diz respeito às
formas de compreensão e reflexão do problema em comum e não
a qualquer hierarquia entre os saberes. Também não significa que
todas as falas foram transparentes a todos os presentes. Mas essa
outra linguagem mobilizada é menos um jargão homogêneo e mais
uma disposição em conjugar os diferentes registros. Certamente
a escuta, durante dias, de tantas diferentes vozes ali presentes no
colóquio foi parte da formação (evidentemente sem fim) de um tipo
de público que estaria apto a compreender a dimensão plural do
problema em questão.
Daí o cuidado em tornar o evento acessível a um público mais
amplo. Os problemas do Antropoceno, de Gaia e da crise ecológica,
que moviam o colóquio, se dirigiam a qualquer um que estivesse
interessado e não somente aos acadêmicos. Assim, vale ressaltar o
esforço dos organizadores em transmitirem o evento online simul-
taneamente, algo que ainda não era tão comum, e mais ainda, com
tradução simultânea para várias línguas. O interesse na acessibili-
dade do conteúdo do evento pode ser compreendido como um gesto
fundamental na disseminação da preocupação que moveu Os Mil
Nomes de Gaia. Além do público interessado ter podido acompanhar
o evento simultaneamente desde dispositivos com acesso à internet,
todas as falas foram preservadas e podem ainda ser acessadas no
Youtube e no blog do evento. Isso permitiu que o gesto de forma-
ção do público se ampliasse no espaço e no tempo. Mesmo aqueles
que assistiram às palestras no local da sua realização puderam se
beneficiar do registro, retornando às falas de maneira mais detida.
Certamente seria um absurdo afirmar que tudo que hoje se discute
no país sobre o tema só foi possível em virtude desse evento. Mas
não parece exagero afirmar que o acesso à reflexão sobre o maior
perigo de nosso tempo ajudou mais pessoas a se conectarem a essas
questões e a se conscientizar sobre a gravidade da situação.
Em suma, o que aconteceu naqueles dias na Casa de Rui Barbo-
sa foi muito mais do que um mero conjunto de falas. Muito embo-
ra esse texto parte de uma nostalgia do evento, é fato que aquela
reunião de vozes dissonantes reunidas em torno de uma questão em

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comum ajudou a construir uma forma de lidar com o problema que
temos em conta.

Se pararmos o texto aqui, poderíamos dar a impressão de que


o único valor da presente publicação seria transmitir o espírito
do colóquio em uma espécie de cápsula do tempo que permitiria
outras pessoas retomarem o mesmo gesto em outros termos (diante
de formas mais atualizadas do mesmo problema). Ainda que isso
não seja pouca coisa, se o objetivo fosse apenas esse, bastaria uma
reconstrução mais extensa e sofisticada dessa breve introdução. A
decisão pela publicação dos textos do colóquio responde, também,
ao valor inerente não apenas de cada uma das contribuições, mas do
próprio conjunto das falas.
Como foi comentado acima, apesar de sua magnitude, o colap-
so climático não se mostra de maneira clara e distinta. Um de seus
maiores desafios é o fato desse acontecimento exceder qualquer
perspectiva que procure apreendê-lo. Isso não deixa de ser um efeito
da maneira bem peculiar como ele abala as relações entre tempo e
espaço.
O Antropoceno é uma nova época geológica que estamos vivendo,
uma época diferente das anteriores. Mas essa diferença não signifi-
ca simplesmente o começo de um novo tempo, e sim a inauguração
de um outro tempo do mundo. No lugar de mais um marco na periodi-
zação da história natural, estamos diante do comprometimento da
própria noção de tempo, já que uma de suas características princi-
pais se encontra em perigo: a expectativa de futuro.
Mesmo que a extinção dos humanos esteja no horizonte, não
é disso que tratamos aqui. A ação humana, sobretudo aquela rela-
cionada ao capitalismo moderno, conseguiu desfazer o equilíbrio
do sistema terra ao interferir nas condições para o surgimento e o
desenvolvimento dos seres vivos tais como eles existem no presente.
Percebemos tardiamente que nossa relação com o tempo — e com os
futuros que procuramos construir — sempre foi mediada por uma
regularidade natural. Assim, o que parece ter evaporado junto com

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o equilíbrio do sistema terra é a capacidade de projetarmos um hori-
zonte que nos permita confiar que nossas vidas terão uma sequên-
cia. Não podemos ter certeza do tipo de mundo que teremos pela
frente. O problema se torna ainda mais intenso porque o caráter
global da crise não aparece facilmente na vida concreta. Os eventos
extremos são (ainda) localizados demais (uma enchente aqui, uma
seca ali) ou abstratos demais, tornando necessária a mobilização de
discursos científicos que procuram apresentar a estrutura global
do fenômeno. Daí resulta também a dificuldade de se transmitir a
urgência do problema de forma que este se torne uma prioridade
política.

Não é exagero dizer que uma das grandes perguntas que assombram
o presente é: o que fazer diante dessa catástrofe de proporções inédi-
tas que nos tira completamente do eixo e nos deixa sem referências?
A falta de referências nos obriga a encontrar outras formas de nave-
gar nessa realidade. É esta situação que torna relevante o presente
livro. Em lugar de ser lido como um mero conjunto de textos sobre
o colapso climático, é muito mais rico tomá-lo como uma série de
pontos de vista que, juntos, formam mapas desse outro tempo que
vivemos.
Mas o que significa tentar se localizar em uma realidade sem
referências estáveis? Podemos pensar no problema partindo da
ideia do que é navegar: a condução, rumo a um objetivo, guiada por
pontos dispersos que nos permitem mensurar e transpor a distân-
cia até esse objetivo. No caso de um novo destino, não sabemos os
caminhos de antemão, e qualquer forma de orientação depende de
projeções e elaborações imaginárias sobre essa região desconheci-
da, a partir das informações que temos dos nossos desejos (a meta
ou destino) e das partes do mundo que conhecemos. Esses elemen-
tos nos fornecem marcadores que produzem em nós algum senso de
direção quanto ao caminho que podemos percorrer. Dessa forma, a
própria navegação também é parcialmente responsável pela manei-
ra como encaramos o território que pretendemos explorar — na

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medida em que certos “marcadores” que servem como pontos de
orientação são extrapolados a partir do que conhecemos.
A situação em que nos encontramos, porém, é um pouco mais
complicada. A perda de referências produzidas pela crise climática
nos obriga a mapear esse novo tempo que vivemos. A questão se
agrava se o que queremos figurar tem uma dimensão planetária,
como é o caso do Antropoceno. O mapa desse espaço abarca uma
série de diferenças internas que impede uma totalização simples.
Há inúmeras dimensões (dos infindáveis recortes locais até as
múltiplas formas de pensar o que seria o global), campos (saberes
científicos, políticos, filosóficos, artísticos) e registros (cada ponto
de vista não deixa de implicar variações na perspectiva sobre o
mundo). Tantas facetas que excedem nossas capacidades de proces-
samento como indivíduos.
As dificuldades desse mapeamento se redobram quando nos
damos conta que nem mesmo é possível estabelecer com clareza o
que se deseja fazer diante dessa situação. Por certo não interessa
aos humanos o seu próprio extermínio, mas o que isso significa, o
quanto se está disposto a sacrificar ou não e qual é a saída almeja-
da nem sempre é objeto de consenso. Assim, além dos diferentes
mapas que não parecem convergir, o mundo que se almeja construir
a partir deles também varia conforme os diferentes pontos de vista.
Isso significa que cada forma de mapear já contém em si um possí-
vel destino. Assim, ao longo deste livro, podemos projetar, de cada
mapa, um mundo que, se não possível, ao menos é desejado.
Ver-se diante de tantas perspectivas e respostas para um proble-
ma não é algo fácil. Ficamos atordoados, sem saber direito como
conciliar caminhos conflitantes ou qual estratégia privilegiar em
que momento. O efeito, podemos dizer, é que a navegação no mundo
se transforma em uma tentativa de orientação entre os diversos
mapas disponíveis.
É possível navegar por essa pluralidade de diferenças sem preci-
sar reduzir o mundo a apenas uma perspectiva? É possível especu-
lar uma lida com essa multidimensionalidade do planeta que não
apague as especificidades de cada ponto de vista? Ao apresentar

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uma série de pontos de vista que nem sempre entram em acordo,
este livro tem a possibilidade de começar a responder à questão a
respeito da catástrofe climática. Como já foi dito aqui (e também
como se verá nos textos que se seguem), o problema que nos concer-
ne não possui qualquer tipo de transparência inteligibilizadora. O
caminho possível é ser fiel às diferenças irredutíveis que compõem a
crise. O problema não se resolve, mas ao menos começamos a tornar
sensíveis as diferenças que existem no interior do colapso climático.

Assim, não se recomenda ler o conjunto de textos aqui presentes


buscando uma solução para as questões climáticas. Mas sim, ler
cada texto como a elaboração de uma perspectiva que nem sempre
é compatível com as que a antecedem ou as que a sucedem. É certo
que alguns pontos de vista vão revelar certas afinidades com outros
pontos de vista presentes ao longo do percurso. Da mesma maneira
que em outros momentos haverão distâncias, incompatibilidades.
Problemas levantados em um determinado texto parecem ecoar
em outros, mas não terão espaço (ou serão combatidos) em outros
ainda.
Recomenda-se, portanto, que a leitora ou o leitor freie o desejo
de “decidir” entre as posições em conflito e tente apreciar as zonas
de contato. Escolher entre um dos pontos de vista vai no máximo
produzir uma paz interior temporária na mente do leitor. Mas não
temos diante de nós um enigma da esfinge que aguarda apenas a
fórmula mágica que o desfizesse. Aliás, pode-se dizer que a impres-
são de ter obtido uma “resposta certa” apenas pode nos faria crer,
erroneamente, que não há mais o que refletir no assunto. A busca
pela resposta certa antes atrapalha que ajuda. O que se sugere é que
se procure absorver os conflitos próprios ao debate para que se torne
visível toda a complexidade da situação.
No lugar de resolver qualquer questão teórica ou gerar qual-
quer tipo de consenso, a pluralidade de posições deste livro fornece
mapeamento das tensões inerentes ao Antropoceno, para aqueles
interessados em persistir. Dessa forma, não se determina aqui quais

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caminhos serão tomados ou quais estratégias serão adotadas. O
primeiro movimento talvez seja simplesmente compreender que
ampliar os pontos de vista que hoje nos atravessam aumenta nossa
capacidade de agir, multiplicando os destinos possíveis, por mais
tortuosa que seja a via e por mais que a chegada não esteja garantida.

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