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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DO SUL DE MINAS GERAIS


CAMPUS POÇOS DE CALDAS

Curso de Licenciatura em Geografia

RENE BORGES

CRESCIMENTO URBANO E DESIGUALDADES


SOCIOESPACIAIS EM SÃO JOÃO DA BOA VISTA (SP)

Poços de Caldas - MG
2019
RENE BORGES

CRESCIMENTO URBANO E DESIGUALDADES


SOCIOESPACIAIS EM SÃO JOÃO DA BOA VISTA (SP)

Trabalho apresentado como requisito da


disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, do
Curso de Licenciatura em Geografia do
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus
Poços de Caldas, sob a orientação do Prof. Dr.
Alexandre Carvalho de Andrade.

POÇOS DE CALDAS - MG
2019

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe, Maria


Aparecida, que sempre esteve ao meu lado e
sempre me incentivando.

Rene Borges

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me dar força, para alcançar sempre meus
objetivos.
Aos meus pais Maria Aparecida (Nina) e Ricardo Borges, que sempre esteve
presente em minha vida.
Aos meus irmãos: Roger Borges, por sempre pegar no meu pé na questão dos
estudos, e me incentivando, Ricardo Borges Jr., que sempre esteve comigo, e o
Ruan Borges.
Ao meu amigo João Paulo Ferraz, que sempre esteve me incentivando nas
atividades acadêmicas, congressos, simpósios, mesa redonda e proporcionando a
meio a essas atividades acadêmicas, viagens inesquecíveis.
Às minhas amigas da faculdade: Mariana Medeiros, que sempre esteve fazendo
meus dias mais felizes; Larissa Lorien com a sua inocência, Giovanna Moraes, Lara
Vieira, Luisa Albergoni e Laura Sangiorato com seus papos cabeça, e claro que não
poderia deixar de agradecer a lindissimas da Nathalia Costa e Viviane Nassif, que no
ano de 2018 alegravam os meus fins de tarde, entre muitas outras, amizades que fiz
na faculdade.
Os amigos da faculdade: Fabricio Gonçalves que sempre estava com suas piadas e
brincadeiras prontas a qualquer momento e situação, Bruno Lofrano que mesmo
conhecendo no último ano da graduação me fez viver grandes aventuras como o
Guaranese-se.
À Profa Dra. Melina Mara - IFSULDEMINAS- Câmpus Poços de Caldas, que desde o
início foi uma pessoa que sempre esteve presente.
Ao Prof. Dr. Alexandre Carvalho de Andrade - IFSULDEMINAS- Câmpus Poços de
Caldas, que foi meu orientador e que não mediu esforços para orientar.
A todos os professores do Curso de Licenciatura em Geografia do IFSULDEMINAS-
Câmpus Poços de Caldas que fizeram parte da minha formação acadêmica, pela
contribuição para a construção do meu conhecimento.
E não poderia de deixar de agradecer principalmente as importantes professoras
que sempre acreditaram em mim, a Profa Solange Ferreira, Profa Ana Maria Loyolla
(Danda), Profa Ana Lucia dos Santos agradeço por tudo que fizeram durante o

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ensino fundamental e ensino médio, pelo incentivo recebido em seguir a mesma
carreira- em ser professor.
À minha Diretora Marta Oliveira, da escola onde lecionei nos anos de 2018/2019,
que nunca mediu esforços para me liberar para atividades acadêmicas.

Rene

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Si o senhor não está lembrado
Da licença de conta
Que aqui onde agora está
Esse adifício alto
Era uma casa velha um palacete assobradado

Foi aqui seu moço


Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímos nossa maloca
Mais um dia nem quero lembrar
Veio os homens com as ferramentas
o dono mando derruba

Peguemo todas nossas coisas


E fumos pro meio da rua
Apreciar a demolição
Que tristeza que eu sentia
Cada táuba que caia
Doía no coração

Mato Grosso quis grita


Mas em cima eu falei
Os homes está 'cá razão
Nós arranja outro lugar

Só se conformemos quando o Joca falou


"Deus dá o frio conforme o cobertor"
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim

E pra esquecê nóis cantemos assim


Saudosa maloca, maloca querida
Que dim donde nóis passemos dias feliz de nossa vida

Saudosa maloca, maloca querida


Que dim donde nóis passemos dias feliz de nossa vida

Saudosa maloca, maloca querida


Que dim donde nóis passemos dias feliz de nossa vida

Saudosa Maloca - João Rubinato (Adoniran Barbosa)

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RESUMO

Esta pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso - TCC objetiva conhecer, analisar


e discutir questões sobre a segregação socioespacial no município de São João da
Boa Vista no interior do estado de São Paulo, que faz parte da mesorregião de
Campinas e é centro da microrregião de São João da Boa Vista, uma cidade média
segundo a classificação de Corrêa (2007), que possui uma população de 83.661
habitantes (IBGE, 2010). Através de pesquisa bibliográfica, foi realizado um
levantamento sobre segregação socioespacial. A metodologia empregada foi de
natureza qualitativa e descreveu, a partir da reflexão das referências como Corrêa
(1999; 2007; 2010) Lefebvre (2008), Marcuse (2004), Maricato (1996; 2000; 2003) e
Sposito (2018), uma compreensão do conceito Segregação Socioespacial, e a sua
importância para analisar a forma como a cidade esta distribuída e quais políticas
públicas contribuem para a segregação do espaço e ocupação do solo. Por fim, este
trabalho traz a reflexão sobre as formas das periferias e suas diferenças, bem como
um entendimento de como é dado o processo de urbanização.

Palavras-chave: Segregação socioespacial, Cidade média, São João da Boa Vista,


Crescimento urbano​.

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ABSTRACT

This Course Conclusion Paper aims to know, to analyze, and to discuss issues
related to socio-spatial segregation in the city of Sáo João da Boa Vista in São Paulo
State (Brazil), which is part of the mesoregion of Campinas, besides being the center
of the microregion of São João da Boa Vista. Such a city is considered as an average
size city in according to Corrêa’s classification (2007), and it has a population of
83.639 habitants (IBGE, 2010). Through reviewing research, it was surveyed the
socio-spatial segregation. The research was carried out employing a qualitative
approach, which was based on the reflections of outstanding researchers like Corrêa
(1999; 2007; 2010) Lefebvre (2008), Marcuse (2004), Maricato (1996; 2000; 2003)
Sposito (2019). Then, it was described the understanding of socio-spatial segregation
and its importance for the analysis of how the city is currently distributed. Also, it was
defined what public politics have contributed to the segregation in the geographical
space and land occupation. Finally, this work brings valuable reflections about the
distinct forms of periphery and their differences, as well as an understanding of how
occurs the urbanization processes in the studied city.

Key-words: ​Socio-spatial segregation, average size city, São João da Boa Vista,
Urban growth.

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1: Localização de São João da Boa Vista no Estado de SP 2​1

Imagem 2: São João da Boa Vista em escalas no Estado de SP. 2​2

Imagem 3: São João da Boa Vista em 1903 e 1940 2​5

Imagem 4: Evolução da área urbana de São João da Boa Vista (1903 - 2014) 2​7

Imagem 5: Mapa do Perímetro urbano Plano diretor 29

Imagem 6: Imagem de satélite do município de São João da Boa Vista – SP 30

Imagem 7: Mapa Plano Diretor Zona Oeste 3​1

Imagem 8: Imagem de Satélite da Zona Oeste 32

Imagem 9: Mapa Setores Censitários Urbanos por Renda Domiciliar 32

Imagem 10: Bairro da zona oeste, Recanto do Jaguari 33

Imagem 11: Mapa Plano Diretor, Zona Sul 34

Imagem 12: Imagem de Satélite da Zona Sul 35

Imagem 13: Bairros da Zona Sul 36

Imagem 14: Bairro da zona sul, Jardim Parque Resedás I 37

Imagem 15: Mapa Plano Diretor, Zona Leste 38

Imagem 16: Imagem de Satélite da Zona Leste 38

Imagem 17: Bairro da Zona leste, Jardim Parque das Nações 39

Imagem 18: Bairro da Zona leste, Condomínio Morro Azul I 39

Imagem 19: Mapa Plano Diretor Zona Norte 41

Imagem 20: Imagem de Satélite da Zona Norte 42

Imagem 21: Bairro da Zona leste, Recanto dos Pássaros 42

Imagem 22: Mapa Plano Diretor Centro 43

Imagem 23: Imagem de Satélite da Zona central 44

Imagem 24: Verticalização da área central da cidade, Praça Cel. Joaquim José 45

Imagem 25: Av. Dona Gertrudes 46

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I 13

CONTEXTUALIZAÇÃO CONCEITUAL DA SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL 13

CAPÍTULO II 20

A LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA-SP 20


2.1 História do município de São João da Boa Vista 23
2.2 Evolução da malha urbana 24

CAPÍTULO III 2​8

PERIFERIAS E SUAS DESIGUALDADES 28

CONSIDERAÇÕES FINAIS 4​7

REFERÊNCIAS 50

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INTRODUÇÃO

A área da geografia como parte da área das Ciências Humanas, tem muito a
desenvolver na pesquisa científica, inclusive na área da segregação espacial. Por
esse motivo, o tema desta pesquisa, a segregação socioespacial, é apenas uma
reflexão: que aproximar-se do infinito mundo que é a geografia . O motivo que nos
levou a fazer esta pesquisa sobre segregação socioespacial foi que após algumas
discussões sobre segregação, em sala de aula durante o curso, ficaram algumas
indagações, de como a cidade São João da Boa Vista (SP) estaria organizada,
então a vontade de pesquisar sobre.
Para que o trabalho fosse consolidado, foi necessária pesquisa bibliográfica,
passando por leis e autores referência do campo da segregação Socioespacial.
O primeiro capítulo apresenta os conceitos e as formas em que a segregação
socioespacial ocorre através de visão teórica histórica e conceitual. Retratará, a
partir da reflexão sobre como a sociedade está dividida no espaço. Nesse primeiro
momento, esses assuntos foram discutidos através dos autores Corrêa (1999; 2007;
2010) e Maricato (1996; 2000; 2003).
No segundo capítulo, embasando-se nos dados da Prefeitura Municipal de
São Joãos da Boa Vista e dados do ​Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
IBGE​, estaremos retratando a localização do município que propusemos analisar a
história da formação da cidade, e a evolução da malha urbana.
O terceiro capítulo é resultado do trabalho de campo nas regiões da cidade de
São João da Boa Vista (SJBV) para análise em loco das formas de segregação
socioespacial e coleta de imagens para a pesquisa, e é composto pelo cruzamento
dos mapas da região do Plano Diretor de São João da Boa Vista, e das imagens de
satélite, assim podendo observar como a cidade está zoneada e uma melhor
compreensão de como a cidade está segregada.
Foi utilizado para a análise o Plano Diretor de 2006, uma vez que o Plano
Diretor São João 2050, ainda não está em vigor, e se encontra em debate como
projeto de lei. Entretanto nas considerações finais foram ressaltadas questões atuais

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da cidade, levantada nesta pesquisa, e abordados os principais projetos que contem
no Plano Diretor São João 2050 para a melhoria do uso do solo da cidade.
Através deste trabalho, foi possível saber como podemos compreender a
segregação socioespacial no município de São João da Boa Vista e como esta é
dada, retratando desde o momento histórico que são a implantação dos primeiros
loteamentos de interesse social, e deixando claro que o maior produtor do espaço
urbano é o estado com o interesse da classe dominante.
Por isso a importância de se estudar essa temática, uma vez que os espaços
vêm sendo produzidos, majoritariamente, por interesses da classe dominante e
deixando às margens todos os interesses das outras classes que não tem o poder
de decisão sobre a produção dos espaços.
Fazer o levantamento sobre as periferias da cidade de São João da Boa Vista
é de nosso interesse, para entender como tem se dado o surgimento das periferias
socioespaciais do município, sabendo que a cidade nos últimos 20 anos tem dois
principais eixos de desenvolvimento para a geração dessas diferentes periferias.
Assim fazendo com que a cidade tenha cada vez mais uma desigualdade quando se
restringe que certa área vai estar destinada uma certa classe social. Com essa
pesquisa buscamos responder quais agentes e processos são responsáveis pela
produção da segregação socioespacial na cidade.
Esse trabalho tem como objetivo, portanto, demonstrar as diferenças
socioespaciais existentes em São João da Boa Vista, e como isto interfere na
organização do espaço urbano local.
Os procedimentos metodológicos que foram aplicados neste trabalho se
iniciaram com revisão bibliográfica, por meio da consulta de livros, artigos e teses
referentes ao tema, fornecendo uma base concreta para a interpretação e análise do
espaço intraurbano, por meio de autores como Amorim Filho & Sena Filho (2007),
Corrêa (1999; 2007; 2010) Lefebvre (2008), Marcuse (2004), Maricato (1996; 2000;
2003) e Sposito (2019), e documentos oficiais da prefeitura disponível no site oficial
e no Plano Diretor (2006).
Também foram feitos Trabalhos de Campo pelos setores da cidade, para
reconhecimento da área analisada e também para a produção de imagens.

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Levantamento cartográfico, para mostrar a expansão urbana, entre os anos
de 1903 e 2014, assim como fatores como as desigualdades socioespaciais, e o uso
e ocupação do solo de acordo com setores da cidades(fotointerpretação).
Levantamento e análise de dados secundários para mensurar o crescimento
populacional, entre 1900 a 2010.

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CAPÍTULO I

Neste capítulo em que será apresentado o levantamento teórico sobre a


organização espacial, onde se encontra a segregação socioespacial, trazendo os
pensamentos e teorias que autores reconhecidos da área dizem a respeito da
temática que propusemos abordar neste trabalho.

CONTEXTUALIZAÇÃO CONCEITUAL DA SEGREGAÇÃO


SOCIOESPACIAL

Quando se pensa na organização espacial, surgem os mais diversos


problemas, como pobreza, miséria, violência, transporte ineficiente, degradação
ambiental e social, desemprego, falta de moradia, exclusão, periferização,
segregação. Problemáticas de ordem social, econômica e política ideológica, sendo
que a problemática que iremos abordar neste trabalho é a questão da segregação
dos espaços.
As ciências humanas e sociais nos dias atuais têm tido como um de seus
objetos de estudos o espaço urbano. Todas as complexibilidade da atual questão da
face da habitação leva-nos a pensar e compreender o atual uso e a separação das
cidades entre classes sociais. Separações essas que não vão estar ligada somente
na questão da separação espacial, mas também a separação social, como Negri
(2008) faz a reflexão que a separação espacial vai estar atrelada a renda, tipo de
ocupação e nível educacional, componentes que geram a segregação dos espaços.
A segregação espacial é chamada por Negri (2008) de segregação
residencial da sociedade, principalmente por meio da diferenciação econômica. A
segregação social visa, a reprodução das forças de trabalho, sendo estes processos
sempre interligados e articulados com a estrutura social. Assim, a cidade torna-se
expressão materializada da atuação da sociedade no espaço geográfico, através de
um ambiente físico construído.

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O espaço urbano vai ser produzido com suas divisões devido a como a
camada de mais alta renda, que consome o espaço e valorizando, o que produz a
segregação socioespacial. Negri (2008 p.130) diz, “É preciso ressaltar que é a
existência da segregação socioespacial que permite à classe dominante continuar a
dominar o espaço produzido, segundo seus interesses.”
É a classe alta que vai se apropriar da separação das classes sociais e tomar
como instrumento de poder sobre o espaço dominado. A segregação urbana é algo
que tem uma longa tradição na história da sociedade, pois desde a antiguidade, a
sociedade já conhecia formas urbanas de segregação socioespacia,l como cidades
gregas, romanas e chinesas, que possuíam divisões definidas social, política ou
economicamente.
Sposito (2018) vai retratar a questão da segregação como algo que faz parte
da cidade, trazendo o entendimento que a partir do momento que se constitui a
cidade surge juntamente a segregação socioespacial, e isso sempre esteve presente
desde os primórdios da urbanização. Não há cidades sem divisão social do trabalho,
o que pressupõe sempre uma visão territorial do trabalho. Essa visão estabelece-se
diferentemente, no decorrer do longo processo de urbanização.
De acordo com Marcuse (2004) historicamente existe um padrão geral de
segregação das classes sociais, que podemos dividir da seguinte maneira; a divisão
Cultural – realiza-se através da língua, da religião, das características étnicas, estilo
arquitetônico, por país ou nacionalidade; a divisão Funcional – é resultado da lógica
econômica, resultando na divisão entre bairros residenciais e comerciais, áreas
rurais e indústrias. A autora pressupõe a divisão do espaço pela função exercida
para cada atividade; divisão por Diferença no Status Hierárquico – reflete e reproduz
as relações de poder na cidade, que pode ser representada, por exemplo, por um
enclave (condomínio fechado) ou pela distribuição dos serviços públicos pelo
Estado.
Maricato (1996) diz que o processo de urbanização é segregador
Especialmente a partir da segunda metade do século XX, que traz o aumento de
loteamentos irregulares, favelas e de cortiços, que são características de uma
sociedade patrimonialista do Brasil pré-republicano.

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Então aqui temos uma necessidade de entender o porque a aquisição da
terra, do processo de urbanização e da industrialização é tão importante, para se
entender a organização do território. E enxergar como esses elementos foram
fundamentais para a configuração do país periférico como o Brasil, do padrão de
lógica que se aplica na urbanização caracterizada pela segregação socioespacial
que ocorreu nas cidades brasileiras.
E com o aumento do processo de urbanização atrelado à transformação do
meio natural para o meio técnico científico informacional, traz a modernização do
modo de vida. Maricato faz a seguinte reflexão “sem deixar, entretanto de reproduzir
seu lado arcaico. Isto é, a modernização é para alguns: a cidadania, idem”
(MARICATO, 2003, p. 79).
Seguindo essa linha de raciocínio, Villaça (1998) evidencia a precarização
das relações sociais de produção inserida no espaço urbano por meio da
organização espacial das moradias das diversas classes sociais. Quando se pensa
na segregação socioespacial podemos trazer questões históricas para a reflexão.
Desde quando os camponeses foram “expulsos” do campo, durante a Revolução
Industrial, na Europa dos séculos XVIII e XIX, esses conseguiram acesso à
habitação apenas em moradias precárias, nas cidades pouco preparadas para
recebê-los. A terra, transformada em mercadoria, teve seu valor agregado à
infraestrutura que a cerca. E esse valor impôs à população de baixa renda um
elevado preço ao acesso à terra urbanizada.(VILLAÇA, 1998)
O que ocorre no Brasil para o surgimento de loteamentos irregulares e as
favelas é resultado da única alternativa de moradia para a população de baixa renda
e “(...) continuarão a se reproduzir enquanto o mercado privado e os governos não
apresentarem alternativas habitacionais”​ (​ MARICATO, 2003, p. 82).
Para Pegoretti e Sanches (2004) a partir da segunda metade do século XX,
as cidades brasileiras se caracterizam pela segregação socioespacial através da
dificuldade da aquisição da terra urbanizada, envolvendo outros fatores, como a
auto-segregação da população de alta renda, e a locação espacial diferenciada dos
investimentos em infraestrutura.
Nos espaços urbanos dos países ocidentais, a partir da Revolução Industrial,
os principais tipos de segregação encontrados são por classe ou por etnia. Mas só

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no século XIX que os estudos começaram a ser realizados. De acordo com as
formulações de Corrêa (1999), o primeiro modelo de segregação foi formulado pelo
geógrafo alemão J. G. Kohl, em 1841. Segundo este modelo, a cidade se
caracterizava por estar dividida em anéis, onde a classe alta habitava o centro
enquanto que na periferia viviam os pobres.
Modelo esse que já não se aplica a atual divisão da segregação, pois na
atualidade sabemos que muitas das vezes os centros são locais que não possuem o
mesmo valor agregado como no passado, espaço esse que na verdade vem sendo
desvalorizado no quesito moradia, o que muito acontece hoje que a classe mais alta
da sociedade tem buscado viver nos enclaves (condomínios fechados) que ocorrem
com frequência longe da centralidade das cidades, implantados algumas vezes no
limite da área urbanizada, espaço esse que são supervalorizados por diversos
fatores, como segurança, padrão de moradia, que vão se tornar áreas de alto valor,
criando assim uma segregação do espaço.
Um exemplo clássico de segregação socioespacial que muitos já conhecem e
que as duas classes, a alta e baixa, vão estar muito próximas, é quando se retrata a
questão da área favelizada de Paraisópolis e o bairro de classe alta o Jardim
Morumbi, na capital paulista. No intramuros vão estar os condomínios de alto padrão
e do outro lado dos muros as casas de autoconstrução (barracos de alvenaria).
Caldeira (1997) diz que a proliferação de enclaves fortificados vem criando
um novo modelo de segregação espacial e transformando a qualidade da vida
pública em muitas cidades ao redor do mundo, e para melhor entendimento ela traz
uma definição de enclave fortificado:
Enclaves fortificados são espaços privatizados, fechados e
monitorados para residência, consumo, lazer ou trabalho. Esses
espaços encontram no medo da violência uma de suas principais
justificativas e vêm atraindo cada vez mais aqueles que preferem
abandonar a tradicional esfera pública das ruas para os pobres, os
"marginais" e os sem-teto. Enclaves fortificados geram cidades
fragmentadas em que é difícil manter os princípios básicos de livre
circulação e abertura dos espaços públicos que serviram de
fundamento para a estruturação das cidades modernas.
Consequentemente, nessas cidades o caráter do espaço público e da
participação dos cidadãos na vida pública vem sendo drasticamente
modificado. (CALDEIRA, 1997, p.155.)

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Se por um lado são formados os enclaves fortificados, Moura (2008) diz que
no Brasil as áreas periféricas foram formadas a partir de ocupação pela classe de
menor renda, mas posteriormente atraiu o interesse do mercado imobiliário, com o
intuito de implantação de condomínios residenciais voltados às classes sociais de
maior poder aquisitivo ou para implantação de shopping centers.
Mostrando que quando uma área menos valorizada ou até mesmo
desvalorizada depois que a classe social mais baixa se instala nessas áreas, e que
após a promoção de uma certa infraestrutura como água encanada, esgoto, energia
e vias de transportes, pode se valorizar. Com todo esse aparato agora essas áreas
começam a ser visadas pelo mercado imobiliário, as exceções são as as favelas em
áreas de risco, como as que estão instaladas nas encostas, mas por outro lado
conseguimos ver o quanto esses espaços são segregados da sociedade como um
todo, pois muitas das vezes essas áreas nunca têm nenhum tipo de assistência da
administração pública, sendo assim, sofrem com a falta de qualquer infraestrutura de
saneamento básico ou até mesmo de acesso.
Mas quando se pensa em áreas mais centrais podemos citar um exemplo de
outra forma de segregação socioespacial, como ocorreu no início do século XX,
como citado por Tanagino (2013), que, do início do século XX até 1950, em São
Paulo, Rio de Janeiro, Recife começaram a ser implementado efetivamente o
planejamento urbano, um dos principais processos de renovação urbana e
higienização. Processos esses marcados por ações de remoção da população mais
pobre dos perímetros centrais, buscando a refuncionalização dos mesmos. Através
da racionalização e da rigidez tecnocrática buscava se implementar com êxito o
projeto da sociedade moderna, ações embasadas em leis de planejamento sob
plano de fundo a “modernização”. Estas ações acabaram promovendo e viabilizando
a atuação do capital imobiliário. O quadro resultante foi, somado ao êxodo rural, o
aumento dos processos de favelização das maiores cidades. (TANAGINO, 2013)
E sobre essas questões levantadas Maricato destaca que:
No Brasil, onde jamais o salário foi regulado pelo preço da moradia,
mesmo no período desenvolvimentista, a favela ou o lote ilegal
combinado à autoconstrução foram partes integrantes do crescimento
urbano sob a égide da industrialização (MARICATO, 2000, p. 155).

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Segundo Souza e Rodrigues (2004) esse período é caracterizado com a
“reforma de Pereira Passos”, que se caracterizou por diversas reformas na área
central da cidade do Rio de Janeiro, entre 1902 e 1906, que tinha como objetivos:
econômico/funcional; ideológico/simbólico e político/segregacionista. “A reforma foi
levada a cabo de modo bastante autoritário, e uma de suas consequências foi o
estímulo à favelização e à suburbanização” (SOUZA; RODRIGUES, 2004, p.37).
Lefebvre reflete sobre essa forma de organização do espaço, e afirma que:
Nesse processo, uma certa “racionalidade” segregadora, invocada
para ordenar o espaço, acaba ratificando a expulsão dos
considerados incômodos, inconvenientes, ou mesmo ameaçadores,
enfim, os esbulhados de sempre para as periferias desurbanizadas
(LEFEBVRE, 2008, p. 10).

O planejamento urbano tem a sua dimensão e complexidade, e para lidar com


a organização do espaço urbano pensando no tempo presente e futuro. A partir
desse ponto que ressaltamos a importância e o papel fundamental do Estado para a
definição de políticas e programas públicos orçamentários de habitação, saúde,
educação, transporte, etc.
Corrêa diz que o Estado, com a centralidade do poder e como o principal
agente de produção de espaço urbano, passa a possuir um conjunto de
instrumentos, e elenca os instrumentos como:
[...] (a) direito de desapropriação e precedência na compra de terras;
(b) regulamentação do uso do solo; (c) controle e limitação dos preços
de terras; (d) limitação da superfície de que cada um pode se
apropriar; (e) impostos fundiários e imobiliários que podem variar
segundo a dimensão do imóvel, uso da terra e localização; (f) taxação
de terrenos livres, levando a uma utilização mais completa do espaço
urbano; (g) mobilização das reservas fundiárias públicas, afetando o
preço da terra e orientando espacialmente a ocupação do espaço; (h)
investimento público na produção do espaço, através de obras de
drenagem, desmontes, aterros e implantação da infra-estrutura; (i)
organização de mecanismos de crédito à habitação; e (j) pesquisas,
operações-teste sobre materiais e procedimentos de construção, bem
como o controle de produção e do mercado deste material (CORRÊA,
1999, p. 25).

O Estado atua diretamente no espaço urbano como proprietário fundiário,


regulador do uso do solo, consumidor de espaços e de localização específicas. Por

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excelência o Estado é o promotor do planejamento urbano, uma vez que seu cargo é
criação e fiscalização das leis e programas. O Estado na sociedade capitalista, tem a
função de organizar a mediação dos interesses distintos dos diferente agentes e
classes sociais, repercutindo diretamente no planejamento urbano, fazendo “[...]
política por excelência, uma vez que envolvem relações de poder, conflitos e
interesses de grupos, classes, instituições, empresas etc. “(SOUZA; RODRIGUES,
2004, p.24).
Nesse jogo de interesses o posicionamento do Estado não se realiza de
maneira neutra, suas ações geralmente são voltadas para o interesse de
determinadas classes. Onde o Estado tende a ser controlado pela classe dominante.

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CAPÍTULO II
Neste capítulo será realizada a caracterização do município desde a sua
fundação, questões históricas referentes a criação do município. E, em seguida, será
apontado como se deu a expansão da malha urbana do município retratando com
mapas de 1903 até os dias atuais.

A L​OCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA-SP

O município de São João da Boa Vista está localizado no interior do estado


de São Paulo, e possui população de 83.639 habitantes (IBGE, 2010), Pelo seu
contingente demográfico e pela sua importância na rede urbana na qual se insere
pode ser considerada como uma cidade média (CORREA, 2007). Para um melhor
entendimento de como são classificadas as cidade médias, Amorim e Serra (2007,
p.9) elegem alguns atributos comuns a estes locais, tais como:
•interações constantes e duradouras tanto com seu espaço regional
subordinado quanto com aglomerações urbanas de hierarquia
superior;
•tamanho demográfico e funcional suficiente para que possam oferecer
um leque bastante largo de bens e serviços ao espaço microrregional
a elas ligado; suficientes, sob outro ponto, para desempenharem o
papel de centros de crescimento econômico regional e engendrarem
economias urbanas necessárias ao desempenho eficiente de
atividades produtivas;
•capacidade de receber e fixar os migrantes de cidades menores ou da
zona rural, por meio do oferecimento de oportunidades de trabalho,
funcionando, assim, como pontos de interrupção do movimento
migratório na direção das grandes cidades, já saturadas;
•condições necessárias ao estabelecimento de relações de
dinamização com o espaço rural microrregional que o envolve; e
•diferenciação do espaço intra-urbano, com um centro funcional já bem
individualizado e uma periferia dinâmica, evoluindo segundo um
modelo bem parecido com o das grandes cidades, isto é, por
intermédio da multiplicação de novos núcleos habitacionais periféricos.

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Corrêa (2007) ao definir cidade média aponta três pontos principais devem
ser analisados de forma conjunta: tamanho demográfico, funções urbanas e
organização de seu espaço intraurbano. Quanto maior for o contingente demográfico
maior será a dimensão do espaço urbano, mas o tamanho demográfico para o autor
não é o fator determinante, a partir de que proporcione a existência de atividades e
funções que cumpra as necessidades regionais. Às funções urbanas, Corrêa (2007)
diz que se forem comparados ao fator demográfico determinam o grau de articulação
da cidade, o que vai de encontro direto na organização e complexidade do espaço
intraurbano.
O próximo mapa é referente a localização do município de São João da Boa
Vista no estado de São Paulo.

Imagem 1: Localização de São João da Boa Vista no Estado de SP

Produção Rene Borges, 2019

21
Imagem 2: São João da Boa Vista em escalas no Estado de SP.

Fonte: Prefeitura Municipal de São João da Boa Vista, 2014.

Na imagem 2, observando o quadrante da escala 4 da microrregião é possível


observar os municípios limítrofes de São João da Boa Vista que a Leste está Aguas
da Prata, Sudoeste Aguaí, Sudeste Andradas (MG), a Sul Espírito Santo do Pinhal e
Santo Antônio do Jardim, Norte e Noroeste Vargem Grande Do Sul.

22
2.1 História do município de São João da Boa Vista

A história do município relata que a sua formação foi inicialmente ocupada em


24 de junho de 1821, por Antônio Machado de Oliveira e Inácio e Francisco Cândido,
vindos de Itajubá, em Minas Gerais. Antes disso, o atual município fazia parte da
área ocupada pelos índios caiapós, que foram extintos, a partir do século XVIII, pelo
tráfego dos tropeiros que faziam o caminho das minas (PMSJBV, 2014).
O proprietário de parte das terras que deram origem a São João da Boa Vista,
o Cônego João Ramalho doou parcela importante de terras para a Igreja em 1824,
estimulando a formação de um assentamento humano. Seu interesse era valorizar a
região para a exploração de atividades agropecuárias, industriais e rurais (monjolos,
moinhos, engenhos de serra e cana de açúcar). Com o início de tais atividades,
deu-se origem ao comércio local, onde se vendia os produtos produzidos nas
lavouras, sobretudo o café, cana de açúcar, fumo e cereais (PMSJBV, 2014).
Em 28 de fevereiro de 1838, o então povoado foi elevado a freguesia e em 24
de março de 1859, a vila. Em 1880, São João da Boa Vista alcança emancipação
política e é elevada à Município. Naquele momento, o município compreendia, além
de São João da Boa Vista, as vilas de Cascavel (atual Aguaí), Vargem Grande do
Sul e Águas da Prata, que mais tarde conquistaram autonomia (PMSJBV, 2014).
A ferrovia Mogiana chega ao município devido a necessidade de escoamento
do café, no final do século XIX, e anunciava-se como grande novidade para a
economia paulista (em 1875, inaugura-se o primeiro trecho da estrada de ferro da
Companhia Mogiana, ligando Campinas a Mogi Mirim, e em 1878, inaugura-se
trecho entre Mogi Mirim a Casa Branca), dinamizando o escoamento da produção
cafeeira e permitindo que os fazendeiros, pela facilidade de locomoção, tivessem
como moradia principal as cidades. A própria capital paulista, assim como as
pequenas cidades que dependiam diretamente da economia cafeeira, observaram
um surto de urbanização decorrente da mais-valia do comércio cafeeiro e da
consolidação da vida urbana, anteriormente secundária ao papel de entreposto
comercial que muitas delas exerciam (PMSJBV, 2014).

23
A lavoura sempre foi um setor de grande êxito no município, devido
principalmente à fertilidade do solo e às condições climáticas, além da abundância
de água na região, o que permitiu que São João da Boa Vista se desenvolvesse
como centro de atividades da região. Tal riqueza e importância na produção agrícola
regional verificam-se, atualmente, na presença de boa quantidade de ricas
residências urbanas de fazendeiros do café das duas primeiras décadas do século
XX em São João da Boa Vista. Outros fatores que modificaram profundamente a
paisagem humana e econômica foi a abolição da escravatura, em 1888, e a
consequente vinda maciça de imigrantes estrangeiros para trabalhar nas lavouras de
café. Enquanto os negros alforriados passaram a ocupar subempregos e trabalhos
informais nas cidades, promovendo a ocupação irregular e aumento das manchas
urbanas com subabitações, a inadequação dos imigrantes ao regime produtivo das
lavouras fez com que muitos saíssem do campo e iniciassem pequenos comércios
nas cidades (PMSJBV, 2014).
A crise internacional de 1929 teve dois efeitos fundamentais para a
compreensão da dicotomia do desenvolvimento econômico e produtivo que se
processou no Estado de São Paulo. Por um lado, a queda do comércio internacional
fez com que o café perdesse o posto de principal produto exportado na balança
comercial, o que pôs em cheque toda a cadeia a ele relacionado – especialmente a
vasta malha ferroviária que permitiu o avanço da urbanização no noroeste paulista (a
semente da atual ‘Dorsal Paulista’). Por outro lado, o capital acumulado com o café,
somado à falta de produtos para importação devido à crise mundial e à presença de
imigrantes com alguma capacidade e experiência industrial, permitiu o avanço da
industrialização no Estado.

2.2 Evolução da malha urbana


Como não há registro da malha urbana de São João da Boa Vista antes de
1903, o PMSJBV (2014), faz uma suposição de como seria a configuração da área
urbana no município. O traçado sugere uma urbanização realizada em três
momentos distintos no século XIX, mostrando uma pequena parcela ao norte que,

24
provavelmente, foi o primeiro povoado situado estrategicamente no entroncamento
dos rios, no alto de uma colina. Posteriormente cortado pela linha férrea, isolando
algumas poucas construções ao norte, esse primeiro tecido foi estancado em
detrimento de um crescimento para o sul, cujo traçado sugere o típico loteamento de
chácaras do final do século XIX.
Nos mapas seguintes (IMAGEM 3) podemos observar a expansão da área
urbanizada no período entre o ano de 1903 e o ano de 1940.

Imagem 3: São João da Boa Vista em 1903 e 1940

Segundo PMSJBV (2014) o crescimento manteve-se relativamente contido


entre esses dois núcleos até a década de 1940 (com exceção para a vila operária
para oeste da linha férrea), ganhando força nos anos seguintes o vetor sudoeste até
os anos 1970. A partir de então, um relevante espraiamento, com ênfase nos vetores
leste e sul, configuram a área urbana atual. A ferrovia e os rios da Prata e Jaguari
Mirim representaram um elemento de inibição da ocupação oeste e norte, enquanto
que a rodovia SP-342, apesar de pouco transponível, não parece ter exercido o

25
mesmo papel. Outro núcleo recente, divorciado da estrutura viária do restante da
cidade, é o distrito industrial, a sudoeste. Na confluência das rodovias SP-342 e
SP-344 e próximo ao aeroporto, configura um tecido funcionalmente independente e
pouco integrado, o que chama atenção pelo fato de ser um local de atração de
trabalhadores.
Na tabela a seguir vamos conseguir observar a evolução da população nos
anos de 1900, o mais próximo da primeira representação cartográfica da área
urbana, 1940 que vai estar exatamente no mesmo ano que a segunda
representação cartográfica, 1970 e o ano de 2010 podem ser comparado no mapa a
seguir (Imagem 4) da evolução da área urbanizada do município de São João da
Boa Vista.

​Tabela 1: População de São João da Boa Vista

População total de São João da Boa Vista - SP

Ano 1900 1940 1970 2010

População Total 20.166 39.455 44.471 83.639


Fonte: IBGE, 2019

Através da tabela 1 conseguimos observar que do ano de 1900 até 1940 o


crescimento populacional foi expressivo, a população cresce em 19.289 habitantes.
Já no período de 1940 a 1970, foi onde se teve o menor crescimento somente
5.016 habitantes a mais no município. E entre os anos de 1970 a 2010 houve um
significativo crescimento populacional, sendo o número exato de 39.168 habitantes,
que faz com que a população municipal quase dobre. E isto se reflete na expansão
da área urbana (imagem 4). Importante mencionar que 96% dos habitantes de São
João da Boa Vista habitavam no espaço urbano (IBGE, 2010).

26
Imagem 4: Evolução da área urbana de São João da Boa Vista (1903 - 2014)

Fonte: PMSJBV, 2014, Modificado pelo autor.

Quando observado o mapa da evolução da área urbana junto com a tabela 1,


é possível ver o quanto a mancha urbana toma uma maior dimensão posterior a
1970. Após esse período até 2010, São João da Boa Vista tem um aumento
significativo na população, que vai demandar novas áreas de moradia, fazendo com
que a área urbana tenha um espraiamento mais significativo para sul e leste.

27
CAPÍTULO III

PERIFERIAS E SUAS DESIGUALDADES


As periferias de cidades médias podem ser um prolongamento contínuo das
áreas centrais e pericentrais, ou formada por loteamentos polinucleares, unidades
organizadas (AMORIM FILHO & SENA FILHO, 2007). É de maneira polinuclear que
se encontram as periferias são-joaneses, todas formadas por loteamentos
organizados, sejam implantados pelos órgãos públicos ou pela iniciativa privada.
Importante mencionar que São João da Boa Vista não possui favelas.
Para um melhor entendimento da situação das periferias urbanas e
socioespaciais, vamos cruzar as informações cartográficas do Plano Diretor, com as
imagens de satélite, para uma melhor visualização e facilitar o entendimento das
regiões analisadas. E para que essa análise ocorra de maneira mais detalhada
utilizaremos das imagens coletadas em campo.
Devido ao mapa do Plano Diretor e imagens do satélite conterem muitas
informações, se usado em uma escala em que se consiga visualizar toda a mancha
urbana, impossibilita uma melhor visualização da área com os seus detalhamentos.
Para que a análise das regiões seja feita de maneira mais detalhada vamos dividir o
mapa do plano diretor junto com imagem de satélite em cinco partes.
Com as imagens, cada uma referente a uma zona da cidade sendo, zona
norte, oeste, sul, leste e centro da cidade são-joanense. As periferias urbanas no
Brasil, segundo Moura (2008), têm sua formação dada a partir de ocupações pela
classe de menor renda, e o mercado imobiliário posteriormente teve o interesse na
área, com o intuito de implantação de condomínios residenciais voltados às classes
sociais de maior poder aquisitivo.
Nas imagens a seguir vamos ter a visão total da mancha urbana, tanto por
meio do mapa do Plano Diretor quanto por Imagens de Satélite. Vale ressaltar que
esse recurso de imagens tem o objetivo de ajudar a visualização do leitor, como
afirma Borges (2003), que o uso de imagens produz mundos, oferece ao leitor
imagens visuais cujo o poder de persuasão pode ser superior e mais eficiente do
que o relato escrito.

28
No primeiro mapa se trata do zoneamento do perímetro urbano do município,
mapa que foi retirado do Plano Diretor que está em vigor, que é do ano de 2006.

Imagem 5: Mapa do Perímetro Urbano - Plano diretor (2006)

Fonte: Mapa do Plano Diretor, 2006 - Modificado pelo autor

Na segunda imagem é a visão aérea da cidade, imagem essa de satélite, em


que é possível observar a forma como a cidade está se formando, e observar
também os dois grande eixos de ocupação de solo que estão se desenvolvendo, a
zona sul e leste.

29
Imagem 6: Imagem de satélite do município de São João da Boa Vista – SP

Fonte: <https://www.google.com.br/maps> Acesso em maio,2019.

Saindo dessa escala macro e indo para uma escala micro, ficará mais fácil
observar qual tipo de zoneamento cada região tem pelo Plano Diretor e como é
composta a formatação das ocupações de cada zona. A primeira área a ser
analisada é a zona oeste da cidade.

30
Imagem 7: Mapa Plano Diretor - Zona Oeste

Fonte: Mapa do Plano Diretor, 2006 - Modificado pelo autor

No mapa acima do Plano Diretor, a zona oeste do município observa se


grande parte do zoneamento demarcado como área de interesse social, as áreas em
laranja, que coincidem com os conjuntos habitacionais, tendo a primeira implantação
de um conjunto habitacional na década de 1970, o bairro Primeiro de Maio, que vai
estar próximo ao centro, porém depois da linha férrea e depois do principal rio do
município.
As zonas de interesse social coincidem com os conjuntos habitacionais,
porém na zona oeste se tem uma região que é dada somente como área de uso
misto, porém se trata de um conjunto habitacional, que seria o Jardim Europa. Na
imagem a seguir (Imagem 8) vai está claro que se trata de um bairro de conjunto
habitacional, esse estando a margem de uma rodovia, sendo um dos seus dois
acesso ao bairro.

31
Imagem 8: Imagem de Satélite da Zona Oeste

Fonte: <https://www.google.com.br/maps> Acesso em maio,2019.

Na imagem acima (Imagem 8) é possível ver como a aglomeração nessa área


é grande, o próprio Bairro Primeiro de Maio, que já foi citado, e que está demarcado
um bairro em que se encontra às margens da cidade, sendo uma periferia
socioeconômica.
Para uma melhor visualização de como está distribuída a renda na cidade de
São João da Boa Vista, a imagem 9 demonstra o mapa de renda média domiciliar.

Imagem 9: Mapa Setores Censitários Urbanos por Renda Domiciliar

Disponivel em < ​http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?view=000980002​>.


Acessado em 09 de dezembro de 2019.

32
No mapa de renda domiciliar é possível observar que as zonas oeste e sul da
cidade de São João da Boa Vista são áreas em que predominam os moradores de
menor renda. Por outro lado, nas zonas central e leste concentram os domicílios
com moradores de maior renda.
Facilmente de se ver em que as casas são todas construídas em pequenos
terrenos e a próprias construções sendo pequenas, caso em que a política pública
acaba realizando a segregação, deixando sempre a sociedade que tem menor poder
aquisitivo as margens da cidade. Vamos conseguir observar que isso acontece com
todas as implantação de conjunto habitacional da cidade, na imagem a seguir
(Imagem 10) estará retratando uma paisagem do bairro Recanto do Jaguari, essa
periferia também está após a linha de trem e o principal rio que corta a cidade o rio
Jaguari Mirim.
Imagem 10: Bairro da zona oeste, Recanto do Jaguari

Rene Borges,2019

Na leitura de imagem, ao fundo é possível ver que o bairro é próximo ao


centro, porém como já citado, se tem duas barreiras, uma delas sendo possível
visualizar na imagem, que é a mata ciliar do rio, a faixa de mata verde no centro da
imagem, que faz a divisão da região central da periferia, e a segunda barreira é a

33
linha de trem. Se pode observar que as casas que fazem as ocupações do solo são
simples, em terrenos pequenos e as construções pouco sofreram modificações. Na
parte inferior observa se que as casas permanece com a sua forma original, pela
suas igualdades na forma do telhado.
Partindo para a zona sul vamos retratar um dos maiores eixos de crescimento
da cidade. Esta expansão ocorreu devido a implantação de conjuntos habitacionais,
sendo o maior agrupamento destes na cidade. Milhares de casas foram construídas
em menos de 5 anos, segundo publicado no site oficial da prefeitura municipal, em
especial na zona sul, que constitui a maior periferia socioeconômica, a que a
população tem menores rendimentos (imagem 9), e maiores problemas sociais.

Imagem 11: Mapa Plano Diretor, Zona Sul

Fonte: Mapa do Plano Diretor, 2006 - Modificado pelo autor

Na imagem 11, que é do Plano Diretor, é possível notar que os novos bairros
de conjuntos habitacionais, que estão localizados mais a sul do mapa, são
considerados como zona mista.

34
A zona de interesse social demarcada pelo plano diretor é somente o bairro
Jardim dos Ipês, sendo esse bairro o primeiro bairro de conjunto habitacional
implantado nesta área.
Com a próxima imagem 12, iremos visualizar a zona sul pela imagem de
satélite, e podemos fazer as seguinte pontuações: que próximo aos novos bairros
conseguimos observar um novo loteamento, algo recorrente quando o mercado
imobiliário se aproveita das infraestruturas levadas pelo sistema público para se criar
novos loteamentos próximos.

Imagem 12: Imagem de Satélite da Zona Sul

Fonte: <https://www.google.com.br/maps> Acesso em maio,2019.

Tendo como parâmetro a imagem 12, no extremo sul observa-se o grande


eixo de crescimento da cidade, fomentado pelas políticas públicas de habitação,
essas nos últimos 5 anos, segundo site oficial do Governo Municipal (2014),
somaram mais de 2.500 casas construídas pelos programa Minha Casa Minha Vida,
Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano–CDHU, que incluem os
bairros Jardim Parque Resedás I, II e III, Jardim das Rosas, Jardim dos Jacarandás

35
e Jardim Hortênsias, o aglomerado das periferias mais uma vez é visto nas imagens
de satélite. As formas de implantações desses bairros tem como objetivo o público
famílias de baixa renda, em algumas informações no site da prefeitura é possível
verificar que muitas casas foram direcionadas às famílias em que tem como renda
menos de um salário mínimo.
Essa implantação desses conjuntos habitacionais ocorreu sem muitas
políticas públicas de apoio para as questões sociais, como segurança, escola e
saúde, e o reflexo é em problemas sociais, transformado o espaço que era para
solucionar os problemas de famílias de baixa renda que não tinham a possibilidade
de casa própria, porém os reflexos são de mais uma problemática social.
Apesar de localizados nas extremidades da cidade, conseguimos visualizar
(imagem 13) a questão de empreendimentos privados se interessar por áreas onde
se instalam anteriormente as periferias. Um novo loteamento foi feito ao lado do
Jardim Parque Resedás III, que é voltado a uma classe de maior poder aquisitivo.
A ocupação do solo por conjuntos habitacionais na zona sul é vista de longe,
pelo seu grande número de casas populares, o conjunto ganha destaque na
paisagem como mostra a imagem 13.

Imagem 13: Bairros da Zona Sul

Arquivo Rene Borges, 2019

Na imagem a seguir (Imagem 14) a paisagem que se tem é das casas


entregues no ano de 2014, retratando a atual situação das moradias. Por se tratar de

36
uma comunidade em que sua situação financeira é mais baixa, as dificuldades em
pelo menos murar as casas ficam claras, sendo que essa área abriga populações de
classes menos favorecida financeiramente da cidade (imagem 9).

Imagem 14: Bairro da zona sul, Jardim Parque Resedás I

Arquivo Rene Borges, 2019.

Porém, quando se olha para o outro lado da cidade, que também está em
crescimento, o eixo leste de crescimento urbano, vamos ter o contraste de
realidades na cidade. A zona sul com boa parte da população mais desfavorecida de
capital, e na zona leste uma sociedade onde vive em alto padrão de vida, em
condomínios fechados ou em bairros em que a política de loteamento e o mercado
imobiliário direciona para a sociedade de classe mais elevada (imagem 9).
No Plano diretor vamos observar que se tem uma grande faixa que vai da
região mais próxima do centro até o extremo leste como zona direcionada somente
para moradia, a área demarcada pela cor azul.

37
Imagem 15: Mapa Plano Diretor, Zona Leste

Fonte: Mapa do Plano Diretor, 2006 - Modificado pelo autor​.

A zona estritamente de moradia vai tem um grande contraste no Plano


Diretor, deixando claro que a mancha dessa zona se trata de moradias de uma
sociedade de classe mais elevada. As imagens de satélite vão demonstrar como é a
ocupação nessa região, casas pouco aglomeradas, grandes construções, e
construções de alto padrão.

Imagem 16: Imagem de Satélite da Zona Leste

Fonte: <https://www.google.com.br/maps> Acesso em maio,2019.

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Nas imagens aéreas, a forma de ocupação do solo já demonstra uma
diferenciação entre as demais ocupações do solo pela cidade já citadas. Nesse
grande eixo do crescimento da cidade em direção leste, que no seu final se tem os
grandes condomínios fechados, sendo que o primeiro a ser implantado ocorreu no
ano de 2006, segundo a empreendedora do condomínio, na atual situação no ano de
2019, se tem cinco grandes condomínios já construídos e um em fase de
construção.

Imagem 17: Bairro da Zona leste, Jardim Parque das Nações

​Arquivo Rene Borges, 2019.

Imagem 18: Bairro da Zona leste, Condomínio Morro Azul I

Arquivo Rene Borges, 2019.

39
Nas imagens que foram produzidas no trabalho de campo na Zona leste, a
primeira (Imagem 17) trata de uma área mais próxima do centro e a imagem 18 da
área dos condomínios fechados.
Na primeira imagem (imagem 17) acima foi retirada em uma rua do Jardim
Parque das Nações, que se tem grandes construções, fácil acesso ao centro de
serviços, deixando claro que se trata de uma periferia urbana e não socioeconômica.
A segunda imagem (Imagem 18) acima se trata da rua em que está entre os cinco
grandes condomínios, a paisagem é composta por grandes muros, grandes
construções no interior dos muros, com segurança particular. Espaços esses que
promovem a auto-segregação, pois uma mesma pessoa que mora na zona sul ou
oeste dificilmente vai ter o poder aquisitivo para morar no intramuros ou em algum
bairro da zona leste e dificilmente recorrerá a essas áreas para serviços.
Nas próprias imagens de satélite (Imagem 15) é possível observar a
desigualdade socioeconômica que se tem da zona leste com as demais, nas
imagem é possível ver que muitas construções da zona leste tem como parte da
construção imobiliária piscinas, lazer que nas outras regiões já citadas não são
encontradas com facilidade principalmente nas áreas que cruzam com as zonas de
interesse social.
Quando se trata da zona Norte o padrão de ocupação do solo não muda
muito da zona leste, porém boa parte também é voltada a uso restrito do solo para
moradia, na imagem a seguir vamos observar o mapa do Plano diretor que vai
mostrar como a zona norte está zoneada.

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Imagem 19: Mapa Plano Diretor Zona Norte

Fonte: Mapa do Plano Diretor, 2006 - Modificado pelo autor​.

A zona norte é composta por diversa zonas, de acordo com o Plano Diretor,
porém a de uso exclusivamente para moradia representa boa parte da área. A região
norte, como a região leste, não conta com nenhum conjunto habitacional, mais uma
vez demonstrando que as políticas públicas acaba segregando a cidade e nem zona
de interesse social aparece com grande proporção nessas zonas da cidade.
A imagem de satélite (Imagem 19) ilustrando como são as ocupações de solo,
demonstrando pela forma das ocupações que se trata de uma área voltada para um
público de uma classe socioeconômica mais elevada.

41
Imagem 20: Imagem de Satélite da Zona Norte

Fonte: <https://www.google.com.br/maps> Acesso em maio,2019.

Na imagem a seguir (Imagem 21), teremos uma paisagem retratando como é


a ocupação do solo nesta região.

Imagem 21: Bairro da Zona leste, Recanto dos Pássaros

Arquivo Rene Borges, 2019.

42
A imagem 21 expõem os tipos de construções em uma determinada área da
zona norte, e esse padrão de casa de um classe média estão por boa parte da zona
norte, as construções são grandes, mas não tão grande como as residências da
zona leste. A zona norte por mais que seja uma área um tanto quanto distante do
centro, ela tem sua valorização pelo mercado imobiliário, essa periferia urbana vem
crescendo e é voltada a um público de poder aquisitivo maior (imagem 9).
Finalmente chegamos a última região analisada, a região central, que é uma
área em que ela tem sua função tanto comercial como residencial. Neste espaço que
se encontra as principais avenidas e ruas de comércio da cidade, porém voltadas
para públicos diferentes, na Av. Dona Gertrudes, boutiques e lojas voltada ao público
de classe média e classe alta, com exceção de algumas lojas que vão estar voltada
a todos os públicos, comércio que pertence a redes de lojas, já na Rua Ademar de
Barros seu comércio já é voltado a classe de menor poder aquisitivo.

Imagem 22: Mapa Plano Diretor Centro

Fonte: Mapa do Plano Diretor, 2006 - Modificado pelo autor​.

43
No mapa anterior (imagem 22) podemos observar o que é colocado pelo
plano diretor como zona central, área que está destacada de amarelo no mapa.
Na imagem de satélite da zona central é possível observar que é uma área
bem adensada, que concentra boa parte dos comércios e serviços da cidade. Devido
a isso possui imóveis voltados às atividades do setor terciário, ou com dupla função,
comércio/serviço no andar térreo e nos andares superiores as residências.

Imagem 23: Imagem de Satélite da Zona central

Fonte: <https://www.google.com.br/maps> Acesso em maio,2019​.

Quando se retrata a questão da moradia, é o espaço em que se encontra a


maior verticalização da cidade. No entorno da Praça Coronel Joaquim José se tem o
maior número de condomínios verticais da cidade, todos os prédios que estão nesta
região da área central são de alto padrão, como podemos observar na imagem a
seguir.

44
Imagem 24: Verticalização da área central da cidade, Praça Cel. Joaquim José.

Arquivo Rene Borges, 2019.

As casas, por sua vez, também vão ser de alto padrão porém não são
encontrada nas principais avenidas, devido o centro ter a sua função centralizadora
do comércio, As casas começam aparecer com mais frequência atrás da prefeitura,
e nas duas ruas que vão estar entre a Avenida Dona Gertrudes e a Rua Ademar de
Barros, as casas em ambas as regiões são de alto padrão, e são voltadas a classe
média e classe alta, mostrando que o centro é uma área historicamente de alto
status​ social.
Estão na área central, também, boa parte dos comércios, serviços e
entretenimentos voltados às populações de maior renda, tanto de São João da Boa
Vista, como dos municípios de sua área de influência. E, neste contexto, como se
observa na imagem 25, há um destaque para a avenida Dona Gertrudes.

45
Imagem 25: Av. Dona Gertrudes

Arquivo Rene Borges, 2019.

Na foto (Imagem 25) da Av. Dona Gertrudes, onde podemos observar o


comércio nos dois lados da avenida, e nessa mesma foto é retratado também no
lado direito imóveis de três ou quatro andares com dupla função (comércio/serviços
no térreo e residências nos andares superiores).
E, apesar de ser na área central onde habitantes da cidade se encontram,
devido às suas diversas funções (comércio, serviços públicos e privados,
entretenimento…), mas quando se leva em consideração a questão moradia, esta
área se torna um tanto segregadora, onde somente as classes média e alta podem
consumir esse espaço para fins de moradia.

46
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao desenvolver esse trabalho foi possível fazer o levantamento de como é


tratada a questão da segregação socioespacial, trazer as visões e apontamento dos
teóricos que discutem a temática, assim podendo entender melhor quem são os
agentes da produção do espaço, que por sua vez o poder público sendo o maior
produtor, porém sempre com o interesse da classe social dominante.
Podemos observar que vários teóricos vão retratar que a segregação
socioespacial sempre fez parte das cidades, mesmo na antiguidade, com os suas
diferentes divisões.
Quando se observa a forma de expansão da mancha urbana de São João da
Boa Vista, juntamente com o crescimento populacional, que da década de 1970 a
2010 foi o período com o maior número de crescimento da população, momento em
que começam a surgir os conjuntos habitacionais, que boa parte vai estar localizado
depois da principal rodovia que corta a cidade, na zona sul.
Durante os trabalhos de campo junto a análise das imagens e com o apoio
das revisões bibliográficas, verificou-se que a cidade de São João da Boa Vista, que
segundo a maneira de classificação de Corrêa (2007) é uma cidade média, com isso
as desigualdades nas periferias socioeconômica começam a ser mais expostas, às
política públicas de habitação muitas vezes tem mais reflexos negativos do que
positivos.
Fica claro que no município existe a auto-segregação, só comparar as formas
de ocupação da zona oeste e sul com a zona leste da cidade. Essa segregação do
espaço urbano pode ser observada por vários pontos, desde valores exorbitantes
impostos pelo mercado imobiliário, para que uma grande parte da camada da
sociedade não possa adquirir, e assim segregando o espaço, deixando aquisição de
terrenos em bairros periféricos como pouca infraestrutura para o restante da
sociedade de uma classe mais baixa.
Podemos dizer que a especulação imobiliária, sendo participante da classe
dominante, fez com que o poder público dividisse a cidade conforme os interesse
dessa classe, que fez com que as classe média e alta ficassem alocadas na zona

47
leste, norte e central, já as classe de menor poder aquisitivo na zona oeste e sul,
sendo as áreas que são colocadas como de interesse social.
Como citado na introdução, aqui nas considerações vão ser citados os
projetos do Plano Diretor São João 2050, uma vez que ainda não é uma lei
sancionada, do Projeto de Lei para o novo Plano Diretor. Dentre estes destacamos o
“projeto cidade compacta”, “centro atraente” e “cinturão verde”.
Os três projetos estão interligados uns aos outros, a cidade compacta
segundo o Plano Diretor 2050 (2015) é a transformação de São João da Boa Vista
em uma cidade compacta, e implica a identificação das unidades de vizinhança
constituídas por centralidades existentes, que devem conter atividades diversificadas
adequadas ao atendimento cotidiano da população residente nas imediações. À
medida em que essas áreas sejam adensadas a partir de uma nova política de uso e
ocupação do solo, essas centralidades devem ser coerentemente requalificadas e
dotadas de equipamentos públicos e atividades diversificadas e especializadas. Da
mesma forma, cumpre identificar centralidades que devem ser criadas ou induzidas
para complementação de uma rede compatível com a densidade populacional
estimada para cada região da cidade em 2050. (PDM, 2015)
A cidade compacta prevê que seja feito o plano de mobilidade, reconectar a
cidade com a ferrovia, ocupação dos vazios urbanos promovendo o adensamento
demográfico, estimular desenvolvimento econômico das áreas periféricas.
Centro atraente é posto pelo Plano Diretor 2050 (2015), que objetiva tornar o
centro mais atraente, e para isso deve-se promover a recuperação e valorização dos
edifícios de valor histórico e cultural por meio de novos usos, ampliando a agenda
cultural da cidade e deve-se, igualmente, estimular a diversificação das atividades
comerciais e de prestação de serviços, priorizando a instalação de infraestrutura de
tecnologia e informação, fortalecendo dessa forma o polo econômico. E, finalmente,
identificar áreas de intervenção urbana, em especial aquelas com ocupação
inadequada ou sujeitas a riscos de alagamento, nas proximidades do córrego São
João, que poderão passar por projeto de desenho urbano, que recupere e valoriza
as margens do córrego São João, ampliando as áreas de preservação permanente e
mais adequadas ao convívio da população. (PDM, 2015)

48
O centro atraente tem como objetivos induzir a diversidade de uso e
ocupação do solo, garantir mistura de usos da área central, identificar pontos
notáveis e referências da paisagem urbana, recuperar as Áreas de Preservação
Permanentes sujeitas a inundações e assegurar a qualidade ambiental dos espaços
urbanos.
No Plano Diretor São João 2050, é prevista a criação de um cinturão verde na
cidade, que é criar um grande parque ao longo do rio Jaguari-Mirim ao norte da
mancha urbana, incluindo o rio da Prata e integrando o leito ferroviário, que poderá
ser convertido futuramente em transporte de passageiros. O parque teria
continuidade a oeste ao longo do Rio Jaguari-Mirim, interligando-se à via-parque à
leste e, assim, constituindo um grande cinturão verde que terá como função a
contenção da expansão urbana, a preservação do meio ambiente e da paisagem e
criando um elemento singular na identidade e na estrutura espacial de São João da
Boa Vista. (PDM, 2015)
Com o cinturão verde pretende reconectar a cidade com a ferrovia, assegurar
a qualidade ambiental dos espaços urbanos, preservar a mata ciliar dos rios e
córregos do parque e manter a qualidade das águas dos rios e córregos do parque.
As ações previstas no novo plano diretor da cidade tem como intuito de
melhor definir as ações e traçar novos rumos para a urbanização da cidade,
buscando fazer o uso do solo de maneira mais eficiente e de maneira consciente
para que os meios naturais não sejam tão prejudicados devido a urbanização.

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