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OSTENSIVO CAAML - 703

ANEXO A

APRESENTAÇÃO MARINHEIRA

1 - GENERALIDADES
Os homens do mar, há muitos séculos, vêm criando nomes para identificar as diversas
partes dos navios e suas ações, que pela repetição, tornaram-se costumes. Naturalmente,
muitas particularidades e expressões da tradição naval lembram, às vezes, aspectos da
vida doméstica ou de atividades em terra firme.
Pertencemos, todos nós que abraçamos a carreira do mar, a uma fraterna classe de
costumes e tradições comuns. Ao marinheiro, não passará despercebido que a vida nas
Marinhas do mundo inteiro é parecida. Encontramos semelhanças no uniforme, nos
costumes, nas palavras, nos gestos e no modo de agir. É que os homens do mar, por
enfrentarem o mesmo tipo de vida e por se ajudarem mutuamente, passaram a constituir
uma classe de espírito muito forte.
As exigências quanto à apresentação marinheira dos navios, e também de seus homens,
não estão ligadas apenas a razões estéticas, mas, principalmente, a razões de ordem
prática. O bom aspecto interno e externo de nossos navios constitui uma das mais nobres
das tradições navais, que sempre distinguiu a Marinha do Brasil em relação às demais
instituições nacionais e às Marinhas estrangeiras.

Figura 1 - Inspeção de licenciados a bordo do NE Benjamim Constant - 1914.


Tal tradição extrapola ao próprio navio, pois, como diziam ilustres Chefes Navais do
passado, as embarcações miúdas são o espelho da unidade a que pertencem, servindo
como cartão de visita aos que as vêem navegando ou atracadas. Hoje, tal tradição também

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deve ser estendida às viaturas, que também levam longe a imagem da OM a que
pertencem.
De maneira geral, despende-se muito tempo a bordo corrigindo falhas relacionadas com a
apresentação do navio, as quais se manifestam de maneira repetitiva.
É comum que ocorram as “viradas” às vésperas de eventos importantes, sacrificando-se,
desnecessariamente, a tripulação.
Além disso, observa-se que, muitas vezes, exige-se do subordinado coisa que ele não sabe
ser sua obrigação realizar, ou que não tem conhecimento suficiente para fazê-la
corretamente; e que há padrões diferentes de aceitabilidade quanto ao nível de limpeza e
apresentação.
Principalmente nos navios com comissões freqüentes, a degradação da apresentação
mostra-se quase como inevitável. Assim, há necessidade de educar-se a tripulação para
que as metas almejadas quanto à boa apresentação marinheira sejam alcançadas com
eficiência, por meio de um engajamento de todos a bordo.
Recomenda-se, portanto, que o programa de adestramento interno inclua o assunto
“apresentação marinheira”.

2 - ORIENTAÇÕES BÁSICAS
Entre outros aspectos, devem ser consideradas as seguintes orientações:
a) No porto, durante o expediente, os Encarregados de Divisão, o Mestre e o Sargento-
Polícia inspecionarão freqüentemente o navio, verificando a limpeza, arrumação dos
compartimentos e aspecto marinheiro. Após o expediente, o Oficial de Serviço e o
Sargento-Polícia inspecionarão o navio, empregando o quarto de serviço para mantê-lo
limpo e com boa apresentação marinheira;
b) Em viagem o Mestre, o Contramestre de Quarto e o Sargento-Polícia exercerão, no
que couber essas atribuições, empregando o Grupo de Limpeza e Fainas Marinheiras a
manutenção da limpeza e aspecto marinheiro do navio;
c) Os sinais de rotina, como os de rancho, de uniforme etc., entre a alvorada e o silêncio
deverão ser executados por apito, com correção e os quartos marcados pelo sino de
bordo;
d) Não se admite que um tripulante suje o navio ou não colabore com a manutenção de
sua limpeza. Não é demérito para nenhum militar de bordo, qualquer que seja a sua
antigüidade, abaixar-se para recolher um trapo, um resto de cigarro ou outro detrito
que algum descuidado deixou cair no piso e levá-lo à lixeira; e

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e) Nem mesmo o fato de o navio encontrar-se em PMG justifica a degradação na sua
apresentação a um nível indesejável.
O sumário a seguir exprime o resultado de observações sobre falhas freqüentes no
aspecto marinheiro, as quais depõem desfavoravelmente quanto à apresentação de
qualquer unidade naval. Tais observações, longe de representarem apenas o respeito às
tradições, estão associadas à segurança, à manutenção de um grau de prontidão
elevado, à preservação da saúde da tripulação etc. Mesmo se em um ou outro caso
identificarmos apenas razões estéticas ou tradicionais, lembremos que o navio é um
lugar em que passamos uma boa parte de nossas vidas, que merece ser esteticamente
agradável e que o apego às tradições constitui um fator agregador.

3 - FALHAS MAIS COMUNS QUANTO À APRESENTAÇÃO MARINHEIRA


a) Serviço de pintura descuidado, deixando as marcações, vidros, partes envernizadas,
borrachas de portas, vigias e cabos elétricos borrados pela tinta das anteparas;
b) Amarelos limpos, porém com a pintura adjacente borrada, devido ao extravasamento
do preparado de limpeza (kaol ou similar);
c) Graxa em excesso nas graxeiras e outros locais, sujando a pintura;
d) Parafusos, porcas, grampos, orelhas de portas, válvulas e vigias de combate
emperrados pela tinta indevidamente aplicada;
e) Cabos jogados em desalinho pelo navio ou pelas bordas, fiéis de toldos dependurados,
chicotes de cabos sem falcaça ou esfiapados. Boças e cabos descochados,
desengaiados ou desforrados. Capas e sanefas sujas ou maltratadas;
f) Talhas, aparelhos de laborar e acessórios semelhantes dependurados em vez de estarem
colhidos ou guardados nos lugares apropriados,
g) Defensas esquecidas dependuradas no costado;
h) Tampas de tomadas (quando estas não estão em uso) fora do lugar ou dependuradas;
fiéis de tomadas, contrapinos e outros acessórios inexistentes;
i) Cosedura das uniões de seções de toldos, do toldo aos vergueiros da borda, e sanefas
feitas incorretamente. Os amarilhos do toldo devem ser passados pelo redondo do
vergueiro e virem dar meias-voltas de fiel junto aos ilhoses de pano, ficando a
cosedura pelo redondo. A cosedura parecendo espinha de peixe é imprópria e de mau
aspecto marinheiro;
j) Amarração dobrada deficientemente, de modo que a tração não se distribui
igualmente pelas pernadas. Amarração folgada (nos casos extremos, até mesmo

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tocando na água). Deve-se recorrer a amarração e colher o brando nas variações de
maré significativas, de modo a evitar o mau aspecto;
k) Folga nos trincafios das espias e rateiras abertas por causa das variações de mares;
l) Lágrimas de ferrugem escorrendo pelos escovéns, anteparas e costado, Lavar o
cinzento logo que as âncoras estiverem em cima e aboçadas; em simples chumaço na
borda interna dos escovéns impedirá que as águas do convés causem tão mau aspecto
m) Pintura do costado manchada pela água de baldeação ou da chuva (em alguns navios,
uma causa freqüente deste mau aspecto é esquecer os bicos de pato rebatidos); ou por
detritos líquidos e sólidos lançados pela borda. A água das poças, ao secar, também
pode manchar a pintura do convés. Por este motivo, as poças devem ser eliminadas
imediatamente após as baldeações ou chuva;
n) Costado com a linha d’água marcada por uma camada de limo. Limpar diariamente o
costado é o suficiente para desaparecer essa prova de pouco cuidado;
o) Costado com pintura avariada, revelando o lançamento de restos de comida pela
borda;
p) Partes altas do navio desarrumadas; bem como roupas, trapos e outros objetos
estendidos nas bordas e lugares semelhantes;
q) Bandeira Nacional, do Cruzeiro, Pavilhões e Flâmula de Comando não-atopetados ou
enroscados nos respectivos mastros e adriças. O rondar do vento ou o rabeio do navio
não isentam o Oficial de Serviço, o Contramestre e o Sinaleiro, da responsabilidade
pelo mau aspecto;
r) As bandeiras e galhardetes são colocados nas adriças para serem içados e retirados tão
logo arriados. Não se admite a colocação da Bandeira Nacional e a do Cruzeiro
amarfanhadas na base de seus mastros, aguardando o içamento; a manutenção do
galhardete “Prep” e das “substitutas” panejando presos às adriças, após cessado o
motivo de sua utilização; ou, por ocasião do Cerimonial, a Bandeira Nacional tocar o
convés, ou ser portada amarfanhada ou nos ombros do militar responsável por seu
içamento. Recomenda-se indicar um militar para participar do Cerimonial de 08001,
içando o Pavilhão Nacional, que será portado pelo Ronda;
s) Galhardetes e Bandeiras-Insígnias enrascadas em adriças, quando içadas,
comprometem o aspecto marinheiro da Organização Militar. Quando se trata do
Pavilhão Nacional, isto passa a ser inaceitável;

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Sugere-se designar o Cabo-Auxiliar do quarto de 00-04 para este fim.
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t) As bandeiras, se atopetadas, devem sê-lo, rigorosamente, até “beijar”. Durante seu
hastear, é necessário a devida atenção à direção do vento, para que não fiquem
enrascadas;
u) Torneiras e chuveiros pingando e mangueiras e tomadas de recebimento de água
vazando demonstram desleixo e desperdício dos recursos da Marinha. A bordo, além
disso, os vazamentos podem causar limitações operativas ao navio em viagem;
v) Cabos elétricos e afins passados sem cuidado, não respeitando as rotas. A passagem de
cabos, por ocasião do acréscimo de novos equipamentos e de adaptações, deve
observar o mesmo padrão de construção do navio, seguindo as rotas adequadas. Não
se deve admitir cabos coloridos ou passados fora do alinhamento das rotas. As
instalações provisórias, como iluminação de festa, cabo telefônico de conexão à
tomada em terra, cabo de energia de terra etc, também merecem cuidado quanto ao
aspecto marinheiro;
w) Serviços que sujam ou machucam o convés, como faina de óleo, recebimento de
gêneros, preparo de tinta e outros, devem ser feitos em cima de plásticos, lonas, papel,
ou outra proteção. O convés deve ser protegido por tábuas ou folhas de compensado
quando por ele for transitar material pesado. Não se deve admitir a realização de tais
fainas sem a precaução de se defender o convés;
x) Do mesmo modo, o costado deve ser protegido quando da atracação de batelão, chatas
e outras embarcações que utilizam pneus como defensas e que, conseqüentemente,
sujarão a pintura. É oportuno lembrar que as defensas de bordo deverão ser ajustadas
à altura da embarcação que irá atracar, bem como poderá haver necessidade de ajustá-
las ao longo da faina de carga ou descarga, em função de variação do calado da
embarcação atracada;
y) Trapos utilizados como tapetes improvisados causam má impressão. Se determinado
local precisa freqüentemente ser protegido para evitar que as pessoas sujem o piso,
devido aos conveses externos estarem molhados pelo orvalho ou pela chuva, ou por
ser trajeto entre o banheiro e a coberta, deve ser providenciada uma andaina de
passadeiras ou tapetes apropriados;
z) Etiquetas ou marcações de equipamentos, material das incumbências e placas de
advertência (ligado, desligado, perigo, área isolada para limpeza, etc...)
confeccionadas com desleixo. Os recursos disponíveis atualmente permitem que
mesmo os avisos improvisados sejam confeccionados com capricho;
aa) Embarcações miúdas:

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I) As falhas mais freqüentes são capas sujas e mal arrumadas; paineiros sujos e
maltratados; croques e demais palamentas sujos; suportes para a palamenta faltando
ou com a fixação folgada, guarnição displicente ou mal apresentada;
II) Embarcações não devem ser mantidas atracadas ao portaló dos navios ou às
escadas do cais; devem ficar ao largo ou amarradas ao surriola, atracando somente
quando preciso e pelo tempo necessário;
III) Embarcações em serviço, afastadas do navio, e quando junto ao cais ou a outro
navio, deverão ter a guarnição completa a bordo; o patrão não pode ausentar-se da
embarcação;
IV) Toldos de escaler depois de regular tempo de uso aumentam suas dimensões
primitivas; devem, por isso, ser reajustados a fim de que, postos no lugar, fiquem
bem armados e em posição horizontal;
V) Os toldos devem ser primeiramente tesados para depois então serem arriados.
Entretanto, ordinariamente, vê-se tal operação executada de maneira inversa;
VI) O auxílio da lancha ao navio na faina de amarrar à boia, via de regra, se faz de
modo que está ausente o espírito marinheiro. É conveniente que se embarque um
contramestre na lancha. É preciso que o contramestre e o patrão saibam claramente
o que vão fazer, saibam como abordar o navio, como receber a espia ou retinida,
como colher seio da espia na lancha, como abordar a boia, etc.; e
VII) Os escaleres, terminado o serviço diário, como compras, exercício, conduções,
etc. , devem ser logo içados, baldeados e convenientemente limpos. A chalana não
é embarcação que possa permanecer a noite arriada, deve ser içada todas as tardes.
ab) Pessoal:
I) Continência aos navios ou às embarcações que passam deve ser feita com correção,
ao apito respectivo;
II) A continência é feita por todos que estejam cobertas acima, corretamente, e por
tempos. No caso da guarnição estar em formatura, só o mais antigo faz a
continência individual; os demais ficam em “sentido”. Quando está sendo efetuado
o cumprimento pelo outro navio, apenas o militar mais antigo presente responde à
continência;
III) O Oficial de Serviço, contramestre, sinaleiro, ou vigia do mar devem estar atentos
à aproximação de embarcações miúdas com autoridades embarcadas, para as quais
as honras de passagem são devidas;

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IV) A apresentação da guarnição da lancha deve ser impecável, qualquer que seja o
uniforme. Atenção para limpeza dos coletes salva-vidas, dos tênis brancos e
caxangás;
V) Nas mudanças de posição no cais, pessoal guarnecendo Detalhe Especial para o
Mar (DEM) na proa/popa com uniformes diferentes (macacões, ou de ginástica ou
com uniforme do dia); e
VI) Militares debruçados nas balaustradas e/ou sentados nos acessórios do convés.
ac) O não cumprimento, por ocasião do quarto d’alva / pôr-do-sol do regime de luzes;
ad) Nas mudanças de posição no cais, pessoal guarnecendo DEM na proa/popa com
uniformes diferentes (macacões, ou de ginástica ou com o uniforme do dia);
ae) Vergueiros da balaustradas solecados;
af) Pontos e lágrimas de ferrugem nas proximidades dos amarelos devido a utilização de
palhas de aço (bombril) na aplicação de líquidos para polimento de metais,
principalmente nos “olhos de boi” das portas estanques. A palha de aço decompõe-se
em partes imperceptíveis a olho nu, que oxidam-se com a ação do tempo.
ag) Toldos sujos, mal envergados, com excesso de água, denotam desleixo por parte do
pessoal, além de perderem resistência, podem furar e adquirir elasticidade excessiva.
ah) Navios com banda e trim.
ai) Cais defronte ao navio limpo e arrumado. Quaisquer objetos posicionados no cais
devem ser arrumados.
aj) O portaló é o “cartão de visita” do navio, e como tal, tem que estar rigorosamente
limpo e arrumado, sem concentração de pessoal não afeto ao serviço nas proximidades
da prancha / escada de portaló, e guarnecido por militares de serviço impecavelmente
uniformizados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
a) EMA 136 Normas a respeito das tradições navais, do comportamento pessoal e dos
cuidados marinheiros. Brasília, 2007. Revisão 1 e Mod. 1.
b) Memorando nº 2/2015, do Comando da Força de Superfície.

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