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Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais

PJe - Processo Judicial Eletrônico

21/07/2022

Número: 5061050-61.2022.8.13.0024
Classe: [CÍVEL] PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: 3ª Unidade Jurisdicional Cível - 7º JD da Comarca de Belo Horizonte
Última distribuição : 04/04/2022
Valor da causa: R$ 15.000,00
Assuntos: Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano Moral
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
PAULO SERGIO DE OLIVEIRA (AUTOR)
ISABELA RIBEIRO DA COSTA (ADVOGADO)
AZUL LINHAS AEREAS BRASILEIRAS S.A. (RÉU/RÉ)
FABIANO COUTINHO BARROS DA SILVA (ADVOGADO)

Documentos
Id. Data da Assinatura Documento Tipo
9554986566 20/07/2022 18:29 Sentença Sentença
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Justiça de Primeira Instância

Comarca de BELO HORIZONTE / 3ª Unidade Jurisdicional Cível - 7º JD da Comarca de


Belo Horizonte

PROCESSO Nº: 5061050-61.2022.8.13.0024

CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436)

ASSUNTO: [Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano Moral]

AUTOR: PAULO SERGIO DE OLIVEIRA

RÉU/RÉ: AZUL LINHAS AEREAS BRASILEIRAS S.A.

SENTENÇA

Vistos, etc.

Dispensado o relatório, nos termos do art. 38 da Lei 9.099/95.

O autor PAULO SERGIO DE OLIVEIRA narra que adquiriu passagens aéreas


junto à ré AZUL LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS S.A , para o trecho Belo
Horizonte/MG x Fortaleza/CE. Alega que minutos antes do embarque de retorno, a ré
informou o cancelamento do voo, que estava previsto para às 02:05 horas, sob o argumento de
que seria necessária a “Regulamentação de Tripulantes”. Sustenta que, ao exigir uma solução
da ré, foi realocado para um voo que sairia somente às 15:25 horas, culminando na
necessidade de acomodar-se em um hotel e alugar uma van, por conta própria, tendo em vista

Número do documento: 22072018294755500009551078235


https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22072018294755500009551078235
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o alto número de bagagens que carregava consigo. Relata que não lhe foi fornecida
alimentação. Aduz, ainda, que o voo de realocação decolou somente 30 minutos após o
previsto, ensejando um atraso total de 13 horas e 45 minutos, comparado à previsão fornecida
no momento da contratação do transporte. Alega que, por conseguinte, devido ao atraso
exorbitante, não pôde passar o natal com sua família. Pede, assim, indenização por danos
morais.

Em contestação, a ré ofereceu, como proposta de acordo, a disponibilização de 2


vouchers para o autor. No mérito, defende que, antes da decolagem do voo contratado pelo
autor, foi necessário realizar uma manutenção urgente na aeronave, devido à falha de um de
seus componentes. Alega que, consequentemente, devido à complexidade do reparo, houve a
necessidade de cancelamento do voo. Sustenta que o autor foi imediatamente reacomodado no
próximo voo disponível, não havendo que se falar em falta de assistência. Aduz a ausência de
danos morais, visto a inexistência de ato ilícito, pois há motivo de força maior que exclui sua
responsabilidade. Requer, assim, total improcedência dos pedidos iniciais.

A contestação foi impugnada no ID 9553872619.

Audiência de conciliação realizada, sendo frustrada a composição. As partes


dispensaram a produção de outras provas.

Decido.

De início, não há dúvida de que o transporte de passageiros se evidencia como


relação de consumo, pois o consumidor, como destinatário final e mediante remuneração,
utiliza-se dos serviços prestados pela fornecedora – in casu, a companhia aérea ré – consoante
estabelecido nos arts. 2º e 3º, da Lei nº 8.078/90.

O autor adquiriu passagem aérea, junto à ré, para o trecho Fortaleza/CE x Belo
Horizonte/MG, conforme se infere do ID 9274888073.

É incontroverso que o voo em questão, previsto para às 02:05h, foi cancelado (IDs
9274888083 e 9274888082), pouco tempo antes do embarque, sendo o autor reacomodado
para voo posterior, previsto para às 15:25h (ID 9274888076). Tais fatos foram ratificados pela

Número do documento: 22072018294755500009551078235


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ré na contestação.

Além disso, observando os fatos narrados e analisando os documentos acostados


aos autos, é induvidoso que a chegada a Belo Horizonte estava prevista, no momento da
contratação, para às 04:45 horas do dia 24/12/2021 e, segundo a narrativa inicial, foi próxima
às 18:25h do mesmo dia, fato este não contestado pela ré. Sendo assim, o atraso totalizou
quase 14 horas, comparado à previsão contratual inicial.

Pois bem. Embora a ré sustente que o cancelamento do voo ocorreu por


necessidade de manutenção na aeronave, entendo que a circunstância não passa de fortuito
interno, uma vez inerente ao risco de sua atividade, ainda que provocada por motivo alheio à
vontade do fornecedor, consoante art. 14 do CDC. Ademais, além de não produzir prova
segura neste sentido, entendo que a situação não caracteriza causa excludente de
responsabilidade civil.

Depreende-se, ainda, nos termos do art. 21 da Resolução 400/2016 da ANAC, que


somente o atraso inferior a quatro horas mostra-se tolerável para aviação civil, o que não
configura o caso dos autos. Logo, reconheço que houve falha na prestação do serviço
contratado, devendo a ré indenizar o autor por eventuais transtornos causados.

Sobre o dano moral, é evidente sua configuração, porquanto o descumprimento


contratual narrado nos autos, que culminou no cancelamento do voo e atraso de muitas horas
do horário previsto contratualmente para a chegada ao destino, ultrapassam mero
constrangimento ou desconforto.

A jurisprudência é nesse sentido:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.


TRANSPORTE AÉREO. EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE.
FORÇA MAIOR. AUSÊNCIADE PROVA. FORTUITO INTERNO.
DANOS MORAIS COMPROVADOS. DEVER DE INDENIZAR.
QUANTUM. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. TERMO
INICIAL. JUROS DE MORA. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA.

Número do documento: 22072018294755500009551078235


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ALTERAÇÃO DE OFÍCIO. - O cancelamento de voo, cuja origem em
suposta força maior não foi provada, que ensejou longo tempo de espera
e perda de diárias em hospedagem, enseja a responsabilidade civil
objetiva de indenizar da companhia aérea, pelos danos moral e material
sofridos pelos passageiros. - A reparação por dano moral deve ser
arbitrada com atenção para as circunstâncias do fato, condições pessoais
das partes e seguindo os princípios da razoabilidade, proporcionalidade e
adequação. […] (Súmula 54 do STJ). (TJMG – Apelação Cível
1.0000.20.448606-2/001, Relator(a): Des.(a) Luiz Artur Hilário, 9ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 18/08/2020, publicação da súmula em
24/08/2020).

Para arbitramento do valor indenizatório por tais danos, ante a ausência de


definição de critérios objetivos para sua fixação, entendimento este pacífico na jurisprudência,
necessária a conjugação dos fatores de que a indenização deva servir de caráter inibitório, para
que o fato não venha a ser repetir, e compensatório, de forma a ressarcir a moral, que não tem
preço, de maneira não enriquecedora e nem irrisória, mas satisfatória.

Assim, entendo suficiente para servir de caráter inibitório à requerida, e


satisfatório ao requerente, indenização no valor R$4.000,00 (quatro mil reais), posto que este
valor não se afigura demasiadamente alto para caracterizar enriquecimento indevido, nem
tampouco ínfima que não coíba a requerida a novamente agir da forma dos autos.

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos iniciais para condenar a


ré a pagar ao autor a importância de R$4.000,00 (quatro mil reais), por danos morais,
acrescidos de correção monetária conforme índices constantes em tabela publicada pela
Corregedoria de Justiça do Estado de Minas Gerais, e juros de 1% (um por cento) ao mês a
partir desta decisão.

Deixo de apreciar eventual pedido de gratuidade de justiça, por ser desnecessário


em primeiro grau nos Juizados e diante de possibilidade de mesmo pedido na seara recursal,
conforme art. 99 do CPC.

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Sem custas e honorários advocatícios, nos termos dos artigos 54 e 55 da Lei
9.099/95.

Intimem-se.

BELO HORIZONTE, data da assinatura eletrônica.

FLAVIO CATAPANI

Juiz de Direito

Avenida Francisco Sales, 1446, Santa Efigênia, BELO HORIZONTE - MG - CEP: 30150-224

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