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https://novaescola.org.br/conteudo/20630/especial-metodologias-ativas-o-que-sao-
as-metodologias-ativas-e-como-funcionam-na-pratica
No entanto, já faz muito tempo que educadores do Brasil e do mundo fazem esse tipo de
questionamento. “O próprio Paulo Freire já discutia essa questão, por exemplo, quando colocou o
paradigma da educação bancária, fazendo a reflexão de que, na sala de aula com carteiras enfileiradas,
os alunos ficavam ali, sentados, recebendo passivamente a Educação”, aponta Adolfo Tanzi Neto,
doutor em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, e especialista em metodologias ativas para o
contexto escolar.
A partir de reflexões críticas como essa, estudiosos e professores passaram a desenvolver pesquisas e
a buscar práticas que permitissem trazer inovação para a sala de aula e, principalmente, colocar o
aluno como protagonista do processo de construção do conhecimento. Como explica Débora Garofalo,
professora e coordenadora de tecnologia e inovação da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
(Seduc-SP), “a pandemia apenas tornou mais latente a necessidade do estudante ser visto em sua
individualidade, numa busca por um ensino cada vez mais personalizado e ativo”.
É por isso que, ao longo do mês de setembro, NOVA ESCOLA publica uma série de reportagens sobre o
tema metodologias ativas. Mais do que apenas compreender no que consistem, a ideia é ouvir de
especialistas e professores de escolas públicas exemplos concretos de como colocar esses métodos em
prática, em busca de uma Educação cada vez mais alinhada às demandas e necessidades reais de
alunos e docentes.
ACESSE OS
CURSOS
Na mesma concepção, conforme indica Débora, “trata-se de abordagens que visam tirar o estudante
da passividade e trazê-lo para o centro do processo de aprendizagem. Para consolidar essa dinâmica,
existem diversas possibilidades”. Com isso, e a partir das explicações de Adolfo e Débora, listamos a
seguir algumas dessas modalidades.
1. Sala de aula invertida: nessa prática, o professor inicialmente propõe aos alunos realizar uma tarefa
específica ou pesquisar sobre determinado conteúdo antes de uma aula. Assim, durante a aula, o docente
utiliza o que foi feito pelos alunos e, se necessário, complementa com mais explicações, momentos tira-
dúvidas e com atividades e debates sobre o tema. Essa estratégia é um dos modelos de ensino híbrido.
2. Rotação por estações: consiste em organizar a sala de aula em pequenos grupos, nas chamadas estações,
e, em cada uma delas, realiza-se uma tarefa diferente, embora todas estejam conectadas a um mesmo tema.
A ideia é que os alunos façam um circuito por essas estações, passando por todas as atividades. O uso de
um recurso digital em uma das estações pode ser útil para coletar dados sobre a aprendizagem dos alunos.
Essa estratégia é outro modelo de ensino híbrido.
3. Laboratório rotacional: segue dinâmica semelhante à da rotação, mas envolve outros espaços da escola.
Aqui são formados dois grupos, sendo que um ficará no espaço com o professor (que não precisa ser a sala
de aula) e o outro irá utilizar um recurso digital em outro local, como o laboratório de informática, a biblioteca
ou outro espaço que cumpra a função. Novamente, as ferramentas digitais podem auxiliar a coleta de dados
sobre a aprendizagem, possibilitando a personalização do ensino. Assim como as anteriores, trata-se de um
modelo de ensino híbrido
4. Aprendizagem baseada em projetos: possui várias definições, sendo um conceito bem amplo que busca
ensinar os conceitos curriculares aos alunos integrando várias disciplinas. É ideal que os projetos se baseiem
em situações-problema reais do contexto escolar e dos alunos, buscando uma solução em forma de produto,
o que vai envolver hipóteses, investigação, construção de um plano para a solução, e muito trabalho coletivo
e colaborativo. Ao final, os estudantes podem compartilhar as soluções construídas com a turma toda, sendo
mediados pelo professor.
5. Aprendizagem baseada em problemas: como o nome indica, utiliza problemas para a construção dos
conceitos desejados pelo professor. É interessante que os problemas sejam baseados na realidade dos
alunos, que podem resolvê-los de diversas formas – ou seja, são abertos e as respostas não podem ser
obtidas por resoluções simples como a mera aplicação de uma fórmula. O processo de resolução dos
problemas, inclusive, pode ser mais importante do que a própria solução, já que o docente pode analisar a
compreensão dos alunos pelo modo como o resolveram. O trabalho em grupo ganha força com essa
abordagem.
Como indicado, três desses modelos são estratégias de ensino híbrido, que é uma das metodologias
ativas a ganhar destaque nos últimos anos [leia mais sobre ensino híbrido aqui]. No entanto, mais do
que conhecer essas definições, é preciso ter em mente alguns pontos comuns que unem essas e outras
possibilidades. “O mais importante é destacar as ações que compõem o trabalho com metodologias
ativas”, aponta Adolfo. Assim, práticas como as citadas acima sempre buscarão desenvolver a
autonomia dos alunos, a promoção de diferentes formas de interação (como em pares ou grupos),
trabalhos em grupo e produções criadas de maneira individual ou coletiva pelos próprios alunos, além
de descentralizar o papel do professor. Essas características estão presentes em praticamente todos os
modelos de aula que chamamos de ativos.
Repensar o papel do professor é uma das questões centrais quando se fala dessas metodologias, como
afirma Flavia Moura, educadora da rede municipal do Rio de Janeiro (RJ) que, desde o final de 2020,
atua na formação de professores. “Começar um trabalho como esse exige, em primeiro lugar, uma
mudança interna do próprio professor”, reforça. “Tudo porque ele precisa planejar sua aula de modo
diferente do expositivo, indo além do que o livro didático pode oferecer. Ele assume agora uma
postura mais flexível e o papel de mediador, daquele que vai intervir para criar diferentes situações de
ensino e aprendizagem”.
A professora Débora Garofalo também ressalta essa mudança na função do docente. “Ao atuar como
mediador desse conhecimento, o professor passa a desafiar seus estudantes, potencializando ações e
sendo um verdadeiro parceiro para que esse aluno seja protagonista da sua própria história”. Flavia
complementa: “Quando o professor repensa o seu papel, automaticamente o aluno repensa o dele”.
“A escola em que eu trabalho oferece formação contínua e, desde que eu tive a minha primeira
formação em metodologias ativas, não consigo mais trabalhar de outro jeito”, comenta a educadora.
Ela lembra como foi o começo da sua atuação com essas abordagens. “Eu realmente fui
experimentando. Algumas coisas deram certo, e outras fui corrigindo ao longo do percurso”.
CONFIRA OS
CONTEÚDOS
Kalina conta que utilizava a rotação por estações, no período anterior à pandemia, com as aulas 100%
presenciais. “Tínhamos primeiro uma pré-aula, e eu indicava o conceito a ser trabalhado, por exemplo,
grandezas e medidas”, descreve. “Depois, eu dividia a turma em pequenos grupos e indicava o que
cada um ia estudar, como capacidade, temperatura e assim por diante. Nesse momento inicial, eu já
fazia várias intervenções, orientando os grupos”.
Depois de uma semana, os alunos retornavam com o material pesquisado, e Kalina dava início à ação.
“Os grupos organizavam materiais consolidando as pesquisas e, em seguida, os alunos começavam a
rodar pelas diferentes estações, mas um dos integrantes do grupo, o anfitrião, permanecia fixo em sua
estação. Então, eu era a mediadora e, juntos, eles iam discutindo, conversando e produzindo
conhecimento em cada espaço. Encerrado o rodízio, tínhamos o momento final, com todos os alunos
que rodaram expondo de forma coletiva para os anfitriões o que aprenderam em cada uma das
paradas, e também usávamos essa etapa para sistematizar as descobertas”.
Hoje atuando como formadora, a professora Flavia Moura lembra que ainda em 2014, quando
participou de uma primeira formação em ensino híbrido, também teve a oportunidade de desenvolver
um trabalho com metodologias ativas com uma turma de 7º ano do Ensino Fundamental, na Escola
Municipal Rio de Janeiro, onde lecionava à época. Ela relembra o quanto a prática deu autonomia e
protagonismo aos seus estudantes.
“A sala era separada em cinco estações, e os alunos iam trocando de atividade. Mas alguns deles
terminavam rápido. Então, já que era um trabalho com estações, criamos uma estação extra, com
revistinhas”, recorda Flavia. Ela diz que, além das revistas, esse aluno ganhava um crachá de monitor.
Então, quem chegava a essa sexta estação tinha a opção de pegar o crachá e ir ajudar os colegas. “99%
deles faziam isso, o que, além de trabalhar a autoestima e reforçar a aprendizagem, também
contagiava: todo mundo queria finalizar a atividade a tempo para auxiliar os demais”.
CONHEÇA OS
CURSOS
Tecnologia e engajamento
Metodologias ativas costumam ser associadas à tecnologia, um dos principais fatores para fazer com
que os alunos assumam um papel mais central no processo de aprendizagem. A importância das
ferramentas tecnológicas nessas propostas é grande, dependendo de qual metodologia ativa está
sendo considerada, mas como enfatiza a professora e coordenadora de tecnologia e inovação da rede
paulista, Débora Garofalo, “a tecnologia, por si só, não tem poder de transformar a realidade dos
estudantes. O que vai fazer essa diferença é realizar ações nas quais os alunos possam se envolver e se
engajar”.
Assim, ainda no exemplo da rotação por estações, de fato é interessante que uma das estações inclua
tecnologia digital, mas não se trata de algo mandatório. “Hoje, na minha escola, eu tenho essa
oportunidade de ter acesso à tecnologia em sala de aula. Mas quando eu comecei a trabalhar com
metodologias ativas, eu fazia a rotação com cartolina e livro didático mesmo. Aos poucos, fui
incorporando os elementos digitais”, comenta a professora Kalina.
O especialista Adolfo Tanzi Neto também sublinha que o ideal é que ferramentas digitais sejam
incorporadas a essas práticas, mas elas precisam ir em busca de um estudante mais autônomo e ativo.
“A mera transposição da sala de aula tradicional para a digital não funciona. Muito se ouviu de
professores que ‘câmeras e microfones estavam fechados’ nas aulas síncronas. Mas será que as
‘câmeras e microfones’ já não estavam fechados no presencial?”, questiona. “Essa discussão está um
passo antes de se pensar em recursos tecnológicos. Temos que pensar em sair do expositivo,
promover interações e hibridizar métodos de trabalho”.
A professora Kalina conta que em 2020, no período 100% remoto, precisou de fato aliar metodologias
ativas às tecnologias, para que as atividades continuassem de modo efetivo. Naquele momento, optou
por buscar inspirações na sala de aula invertida como uma de suas estratégias.
“Remotamente, eu fazia uma proposta de tema para pesquisa e dividia a turma em duplas ou grupos.
Eles se encontravam pelo WhatsApp ou pelo Google Meet e, depois, no nosso encontro síncrono pelo
Meet na semana seguinte, eles me apresentavam as descobertas que tinham feito”, diz. Atualmente,
com a escola desde julho atuando de forma presencial, com rodízio de alunos em dia sim e dia não, ela
opta por propor pesquisas no dia que estão em casa e consolidar a aprendizagem no dia seguinte, por
meio de estratégias como jogos presenciais. Essa forma de ensinar traz elementos e inspirações da
sala de aula invertida, pois oferece algo para os alunos se prepararem antes da aula e trabalha o que
foi estudado em sala de aula, e do laboratório rotacional, pois divide a turma em dois grupos, estando
um por vez em sala de aula com ela.
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ESCOLA
Essa mesma perspectiva é destacada pela formadora e professora Flavia Moura. “Discutir metodologias
ativas e ensino híbrido é falar sobre dar protagonismo aos estudantes, antes de falar de tecnologia”,
diz. “Desde que tive a minha primeira formação nesses temas, percebi que eu não precisava de uma
escola mega equipada. O que eu precisava era planejar a aula de modo diferente. Planejar é a palavra-
chave para o trabalho com metodologias ativas”.