Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ouro Preto
____________________
_________________
Nos documentos que, com certa expressa e positiva referência, se exibem, há um
ponto obscuro e creio que de impossível esclarecimento. Todos eles tratam-se de
herança diretamente havidas pelo que os apresentam-se de compras feitas a herdeiros,
sem que uns e outros remontem ao ponto de partida – isto é – à origem da propriedade
particular, que só se podia constituir em tempo anterior à cessão da sesmaria.
Isso, porém, não sendo já para nossos dias averiguar-se, forçoso é ceder à
condição de que, se tais propriedades ai têm restado sempre manifestas, sem construção
alguma das inumeráveis autoridades municipais em continua sucessão por largas
dezenas de anos, qualquer impugnação, nunca havida e hoje oposta, viria suscitar gerais
clamores, de que o menor efeito seria o estado indefinido do que com tanta utilidade
publica trata-se de por em ação.
Conseqüentemente, se preocupar-me de modo porque em tempo, tão remoto se
operou a aquisição dessas propriedades, passe a referi-las em seguimento aos nomes dos
reclamantes, que são os senhores:
1) Major Francisco de Paula Santos- Minas das Lages . Documentos
apresentados, o único de valor jurídico mostra apenas que o alferes
José Dias Monteiro em 1847 comprou por 24$000 uma parte de
mina. O exibente [sic], porém, declarando-se herdeiro do mesmo
alferes, nenhuma prova dá de ser assim, sem direito algum de
representação, outro despacho não pode ser senão – prove o direito
hereditário que alega - .
2) Casimiro Ribeiro Luis. Lavra do Veloso - Prova haver comprado por
6.550$000 as partes que nele tinham vários herdeiros da família
Figueiredo.
3) Henriqueta Ferreira Teixeira, Claudina Augusta Ferreira, Delfina
Augusta Ferreira e seus irmãos ausentes Nicolao José Ferreira,
Generosa Ferreira Guimarães e Antônio Basílio Ferreira. Lavra no
Padre Faria, dividindo pelos altos com o caminho de Antônio
Pereira e em grande parte com o de Mariana, avaliada em 6:000$000
no inventário [6] de seus pais e a eles partilhada.
4) Major Antônio Alves Pereira da Silva - Lavra do Ouro Podre ,
dividindo a um lado com terras do finado Padre Lourenço Dias de
Almeida e de outro com a estrada que segue para a capela de São
Sebastião, compreendendo uma pequena pequena casa coberta de
telhas, terras e águas minerais, tanques, mundéus e mais pertenças;
tendo comprado do herdeiros por 300$000.
5) José Joaquim Gonçalves Simões. Lavra da Pedra Grande,
começando no córrego do Tassara e seguindo até a Chácara do
Taquaral, limitando pelo lado direito na margem do rio de algumas
casas ali existentes e depois com a estrada de Mariana. Lá se trata da
décima parte, sem preço determinado, porque em julho próximo foi
comprada por 6:000$000 ao Sr. Ovídio Ferreira da Costa e sua
senhora, mas do envolta com outras propriedades, sem descriminação
de valores . Lavra dos Tassaras, confinando a um lado com capela
da Piedade e a estrada de Antônio Pereira; parte adquirida pelos
mesmos compradores ao preço de 1:000$000.
6) Dr. Agostinho Maximo Nogueira Penido. Mina no Morro de
Sant’Ana, e uma sorte de terras auríferas, que começam da subida do
morro em frete à capela de São João e compreende toda essa área,
onde há e segue a mina, em que o vendedor (e que se nãos se era
solteiro, casado ou viúvo), Joaquim dos Santos Godinho, tinha
minerado sem interrupção, e mais os terrenos a ela contíguos tanto
pela parte de baixo como pela de [7] cima do morro e lado direito e
esquerdo, cujas divisas melhor constam de títulos antigos(não
apresentados); propriedade essas que houve por herança de seus pais
(de que nem se quer declara o nome) De sorte que todo o título de
domínio, que habilitou – o a olhar, cifra-se nessa curta frase por ele
próprio declarada ao escrivão ! É caso idêntico ao que já ficou notado
em n 1, relativamente ao Major Francisco de Paula Santos: - faltou a
prova do direito hereditário.
7) Netos e herdeiros de Joaquim Mariano Augusto Menezes. Mina do
Padre Viegas no Morro de Sant’Ana, ao lado esquerdo do caminho
de Antônio Pereira, com uma casa e serviços de mineração. Eram do
Padre José Joaquim Viegas de Menezes, de quem ficou único
herdeiro o mencionado J. Mariano, de quem igualmente são únicos
representantes e herdeiros seus netos Joaquim Mariano Augusto
Menezes; dona Maria José de Menezes casada com José Ribeiro de
Freitas; de Carolina Augusta de Morais Menezes, casada com
Eduardo Machado de Castro; dona Idalina Augusta de Menezes,
casada com Francisco Antônio Vieira; dona Josefina da Conceição de
Menezes, casada com Jorge Augusto Ribeiro de Magalhães. Este
último, por ajuste de contas com a Ordem do Carmo, ausentando-se,
deixou à mesa uma procuração, uma certidão do testamento com que
faleceu em 1841 o padre Viegas e todo o processo administrativo que
em 1889 como perante o governo a propósito da aquisição que
realizou, de todos os mananciais dessa mina para abastecimento de
reservatórios da cidade;[8] sendo ainda de notar que no mesmo
processo ficou provado que também a Ordem das Dores concorria a
essa venda, como proprietária da mina que ali se designa sob n. 2,
dando-se o n 1 à dos herdeiros do padre Viegas. Do Estado
receberam estes a indenização de 6:000$000 e a Ordem das Dores a
de 4:000$000; 10:000$000 ao todo e assim ficaram ambas as minas
sem gota d’água , delas restaram apenas os terrenos secos.
8) Reverendo Vigário Tobais José da Silva. Mina no Palácio Velho.
Alega que foi ela doada à sua mãe, dona Brígida Cândida de Jesus,
pelo proprietário João Venceslau de Jesus, e requer que esta
declaração, feita dentro do prazo, fique tomada até que ele extraia os
respectivos documentos.
Terras auríferas
1
Todos os grifos são do autor
ano civil, sem que os concessionários provem perante os presidentes das províncias
onde estiverem situadas as minas ou perante o ministério da agricultura, comercio e
obras publicas, que a interrupção dos trabalhos é o examinado por qualquer caso de
força maior devendo em tal hipótese submeter-se os prazos que lhe será marcado para
recomeçarem os mesmos trabalhos.
Art. 3º As disposições dos artigos anteriores vigorarão também para os futuros
concessionários de minas, em cujos atos de concessão e não marcarem prazos para
começar a interrupção dos trabalhos. Conseqüentemente ainda quando valida fosse a
concessão, sujeito a esta as disposições transcritas, para que o concessionário a pudesse
agora alegar, seria de rigor fazer a prova de que, pela sua parte, durante os 8 anos
decorridos, foram regiamente cumprida as daquele artigo 2º caso em que, senhor de
quase todas as terras auríferas da sesmaria municipal, com sua ativa, ininterrupta e
laboriosa exploração teria abarrotado d’ouro em pó,[12] pelo menos, toda a validação
do território mineiro, não deixando então notória para o contrato de 23 de março de
1897, unicamente feito por conveniência absoluta de tudo isso.
Invalidade. É porem, de todo o ponto insubsistente essa concessão de datas, por
que o guardamos que a fez meter a foice em seara alheia - . Nas cartas de sesmaria, a
única intenção feita ao pleníssimo direito da Câmara é a de não prejudicar todos aqueles
que nela já se achassem estabelecidos. E, pois, á proporção que estes direitos privados
se fossem extinguidos por caducidade, comisso ou qualquer outra circunstância
suprimida, a plenitude do direito da Câmara se ira preenchendo com a incorporação dos
terrenos que assim se desocupassem. E o ilustrado jurista, a quem nos estamos
referindo, que naqueles bons tempos de governo provisório e absoluto era aqui
intendente por nomeação do mesmo governo, serviço de súbito valor teria prestado a
municipalidade se, não para sua responsável pessoa, como o fez, mas para ela, única
legitima propriedade, tivesse isso promovido com o fundamento do abando
trintanario[sic] alegado em sua petição ao guarda - mor , que alias nada tinha que ver no
assunto, por que o único guarda – mor da sesmaria é o governo municipal.
No mesmo caso se acha o lote n 13, que o engenheiro do 2º distrito, em
Caratinga, a 24 de novembro de 1895, no falso pressuposto de terreno devoluto no
Saramenha, concedeu o Severiano Ribeiro de Campos e por este vendido, ainda com
uma pequena casa ali edificada, ao mesmo reclamante, sendo pelo preço de 50$000.
[13] Em conclusão: - por títulos validos, nem no Passa-dez de cima ou de baixo, nem no
Saramenha, nem no Veloso, nem nos morros de São Sebastião e São João, tem o
reclamante terreno algum aurífero, e mesmo o da lavra do Godinho, no morro de
Sant’Ana, é um título incompleto, contendo as omissões apontadas sob nº6.
10) Antônio Francisco de Assis Pinto e seus irmãos. Terras minerais no
Morro do Ramos. Exibem um título assinado por Manoel Dias
Pelúcia e sua mulher a 14 de setembro de 1843, vendendo por
50$000 a Julião Pinto a parte que dizem ser herança paterna de José
Dias Pelúcia sem prova de filiação, nem da herança, nem das
dimensões do terreno. E os reclamantes limitam-se a dizer agora à
Câmara: Somos todos filhos da finada Maria Gonçalves Pinto, filha
que foi de Paulo Pinto e sobrinha de Julião Pinto; as divisas do
terreno são as que nós descrevemos no protesto que estampamos no
periódico – A Província de Minas - , n 388 de 25 de setembro de
1886, de que apresentamos a tira que vai junta”(!!!)
11) Honestamente José Fagundes diz que é filho único da finada dona
Maria Catarina de Almeida, e como tal tem direito a terrenos
auríferos no lugar denominado Ouro Podre no morro São Sebastião;
mas não possui os respectivos títulos, que presume estarem no Rio de
Janeiro; concluindo por pedir prorrogação do prazo para apresentá-
los. Prorrogado até 5 de agosto próximo.
[14] Aforamentos
(Só para Construir)
a) Dr. Agostinho Maximo Nogueira Penido; no Passa Dez de cima; títulos de 2 e 8
de fevereiro e 16 de abril de 1898.
b) Dr. Claudino Pereira da Fonseca; na estrada de Antônio Pereira; título de 3 de
julho de 1885.
c) Capitão Antônio Bento de Souza; no Caminho das Lajes; Título de 15 de
setembro de 1864, 5 de setembro de 1865 e 18 de fevereiro de 1887. No morro
da Encardideira; título de 28 de novembro de 1885. Na rua do Maciel; título de
25 de abril de 1885. Na estrada de Mariana; título de 27 de janeiro de 1886. na
de Antônio Pereira; título de 5 de março de 1894.
d) Capitão Antônio Pereira de Faria. No lugar denominado Três Cruzes; título de
26 de setembro de 1889.
Esta Matéria é regulada pelos artigos 13 e seguintes do Estatuto Municipal em
face das quais talvez já estejam em caducidade muitos dos aforamentos mencionados.
Ao encerrar esta epigrafe, devo rapidamente notar que os seus papeis junto ainda
o senhor Capitão Antônio Bento de Souza seus títulos de antigos aforamentos
concedidos a seu finado sogro, João Rodrigues Ferreira, dois no Caminho das Lages e
outro na Encardideira; aforamentos esses desde muito em comisso e por tanto, sem
mais valor algum.
Varias aquisições
[15]Restam ainda documentos, não só de alguns dos mesmos exigentes [sic] já
mencionados, como também dos Senhores Coronel Manoel Silviano, José Coelho Neto,
João Augusto Moura e capitão Pedro Coelho de Magalhães Gomes, comprador este de
uma mina d’água potável no alto da Cruz, a preço de 200$000.
Visando, porem, todos sobre propriedades alheias a serviços de mineração e não
sendo o trabalho de que ora se trata o de inventariar inteiro o imobiliário da cidade;
deixou-os de lado para não retarda a restituição dos papeis à Secretaria, que nesta
mesma data recebe-os tão exemplos como d’ela me tinham vindo.
Conclusão
Por parte da minha nulidade, feita está à vista dos títulos atraídos pelo edital de
11 de junho ultimo. E o resultado que dela ofereço, ainda desalinhados tosco como o
reconheço, justifica os seguintes corolários:
Primeiro. Que os terrenos auríferos da sesmaria não se acham encravados de
modo porque o passa fantasiar a imaginação noveleira de ociosos. A propriedade
particular, ai apenas representado por poucos reclamantes dentre os que compareceram
cuidadosamente assinalei os minguados preços porque a adquiriram, afim de tornar bem
manifesto o tênue valor deles e a conseqüente felicidade que haverá em chegar-se com
os donos um acordo e quantitativo razoável.
Segundo: Que, por tanto, o governo local, tão dignamente personificado na
Câmara que preside a este movimento examinador da [15] cidade, disposto, como em
tudo, a não descer com ápice da elevada posição que lhe compete, infalivelmente há de
ser sob seus pés, sem que dali possa subir, a poeira de todas as balelas, mexeriqueis e
maledicências, inseparáveis de qualquer empreendimento como o de que se trata e
sopradas por apoticos [sic] e egoístas, para os quais melhor é que os tesouros da
natureza permanecerão sumidos no subsolo do que venham à superfície e deixem cair
alguma miolos na algibeira dos que só conseguem extraí-las inundando de seus
senhores a profundeza sãs entranhas da terra.
Ouro Preto, 25 de Agosto de 1898.
Joaquim Cipriano Ribeiro.