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Relatório sobre minas existentes na Sesmaria da Câmara Municipal de

Ouro Preto

Transcrito por Helenice Afonso de Oliveira

Ilustríssimo e Excelentíssimo Doutor. Agente Executivo


[1] O que me tem vindo ao ouvido depois do poder que e4screvi acerca da
propriedade particular encravada na sesmaria da Câmara induz-me a explanar um ponto
em que apenas havia tocado, não me detendo sobre ele, por que iam os respectivos
papeis passar as mãos competentes de abalizados juristas, a cujo lado vê também hoje o
município um dos mais notáveis, ao qual em boa hora tem a fortuna de conferir o
primeiro lugar entre os seus ilustrados representantes.
Refiro-me a origem legal dessa propriedade, que a meu ver, não passa de uma ruidosa
quimera.
Como Vossa Excelência melhor o sabe, a Carta Régia de confirmação de
Sesmaria Municipal, dando amplos poderes para concessões de aforamento restringiu-
os em dois pontos: - Ressalvando o direito dos que nela se achassem já estabelecidos e
proibidos e proibindo aforar para serviços de mineração. A este segundo dei cabal
desenvolvimento no parecer, ao primeiro dá-lo-ei agora nestas toscas linhas.
De que ao tempo da expedição da mencionada Carta, no remoto meado do século
XVIII, já existissem posses particulares nos terrenos por ela depois doados, não há
memória registrada nos arquivos municipais.
Os únicos vestígios que o atestam são as ruínas de alguns serviços que ali ou
acolá ainda hoje se manifestarão aos olhos do observador.
As gerações, porém, a que tais serviços pertenceram, muito há que totalmente se
extinguir e, pois, a propriedade que deles ficou, excetuando pela Carta, só poderia
provar-se por títulos de legitima sucessão e este, à Vossa Excelência o asseguro,
absolutamente não existem, ninguém é capaz de os exibir .
Único meio de prova, sim; por que a propriedade foreira usa no próprio foro sem
a prova plena da origem legal de que procede.
Tomam-se nas mãos, como em minhas, livros, os mais velhos e juntos dos
papeis que se exibiram; nenhum insere palavra atamento [sic] á prova primitiva dos
terrenos, à sua ocupação antes da Carta.
Da cova rasa dos primitivos projeta-se uma escuridão que, transpondo o século
em que viverão, invade o nosso até ao ponto em que lá se vê surgi um herdeiro não
diretamente deles, mas de qualquer finado, a seu termo transmitindo também, por
sucessão ou por venda, terrenos auríferos nus ou beneficiados dentro dos limites da
sesmaria, sem notícia alguma de como houve a primeira transmissão.
Ao encerrar o exame dos papeis que me vieram, desde logo compreendi que a
Câmara pouco ou nada interessava averiguar –se os existentes eram ou não bens
adquirentes; pois o que só importa para os fins que Lena ela em mira é resolver esta
preliminar :
- Os pretendidos pontos de propriedade particular representam posses minerais
estabelecidas antes da Carta? Onde há prova.
- E quando esta se apresentasse (impossível) prova cabal.

Lavras e minas na Sesmaria Municipal


[2] Com o cidadão Alcides Catão da Rocha Medrado, em data de 23 de março de
1897, celebrou a Câmara Municipal de Ouro Preto um contrato para por si ou empresa
que organiza, proceder à exploração de lavras, minas e terras auríferas na Sesmaria
municipal; a ele incumbindo, de conformidade com a 1ª (letra) das estipulações
ajustadas, o levantamento da carta topográfica dos terrenos a explorar. A este fim, pois,
e para resguardar alheios direitos; repetidas vezes, como se vê do “Jornal Mineiro” e do
o “Minas Gerias”, afixou a Agencia Executiva o seu edital de 11 de junho último
chamando todos os que tivessem títulos de propriedade auríferas na sesmaria a exibi-los
perante a Câmara no prefixo prazo de 30 dias, prorrogado depois, com a mesma
publicidade, até ao dia 4 do corrente, em que terminou; afim de que, si reconhecidos
fossem legítimos e validos, na planta se discriminassem e anotassem as propriedades
que se referissem.
E para fazer aquele reconhecimento, nomeou ainda a Agencia Executiva uma
comissão, composta dos cidadãos, desembargador José Antonio Alves de Brito, Dr.
Diogo Luis de Almeida Pereira de Vasconcelos, Dr. Lucio José dos Santos e o
individuo que essas linhas escreve e assina.
Não se tratando de serviços, para ser feito em comum, nem cabendo espaçá-lo
quando a benemérita Administração Municipal tão patrioticamente se desvela em
restaurar pelos meios possíveis s forças[3] vitais da cidade, notavelmente atenuados pela
transferência da sede do governo; de posse dos respectivos papeis, ocorreu-me examiná-
los e oferecer a Agencia Executiva a incorreta exposição que vai segui-se , cujo único
préstimo será o de os classificar e coordenar , para que devolvidos assim à Secretaria,
possam ir ter às mãos dos ilustrados membros da comissão, dos quais tem a Câmara o
direito de esperar um parecer digno deles e dela.

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A concessão de sesmaria do senado da Câmara de Vila Rica pelo Governador


Capitão General da Capitania de São Paulo e Minas, Antonio de Albuquerque Coelho
de Carvalho, é de 23 de setembro de 1711, sendo depois confirmada por Carta Régia
em 17 de janeiro de 1736. E, constituindo uma verdadeira doação, a esta se impuseram
clausulas, que nunca foram alteradas por disposição alguma pertencia, nem da
Metrópole, nem do Império, nem da Província, nem do atual Estado de Minas. Em
pleno vigor tem sempre subsistido e são ainda as seguintes.
a) a concessão ficou sendo de uma légua em quadra com centro no antigo
pelourinho(ao largo São Francisco de Assis, em frente local em que se acha o mercado),
correndo por todos os pontos na extensão de meia-légua ;
b) só as casas que já então pagaram e das que viessem a ser edificadas se
cobrariam foros, não se os impondo jamais as terras de minerais, em que existissem ou
pudessem existir lavras, minerais ou buracos de que se extraísse ouro.
Este tão explicito, tão positivo e terminantemente preceito tem [4] estado em
estreita observância em todo largo decurso de 162anos dando disso perene testemunho e
modo por que sempre se tem havido a Câmara em matéria de aforamento, restringindo –
as ao fim único de – edificar-, como bem se vê da forma por ela dada aos respectivos
títulos, alguns dos quais foram agora exibidos e a esta exposição acompanham.
Neles invariavelmente se lê que o concessionário aceita o aforamento com a
medição e demarcação feitas, obrigando – se ao foro e a começar e concluir a obra de
edificação no prazo prefixo, sob pena de caducidade.
Ora se pela própria Carta Régia, de que ficam feitas os extratos precedentes, à
Câmara faleceu o direito de dar aforamento para mineração, se só para edificar se
concede e esta clausula é expressa em todos os títulos que dela emanam como é que,
munido de qualquer desses mesmos títulos, pode perante ela vir algum alegar que é
foreiro de terreno aurífero?
Tal não há, nem por haver.
Em prefixo prazo deviam ficar acabadas as edificações para que foram
concedidos os aforamentos; se assim não aconteceu, irremediavelmente caíram estes em
comisso; se foram feitas e concluídas, se existem, mas de algum modo podem
embaraçar ou impedir a execução do contrato de 23 de março de 1897 ou de qualquer
outro que venha a celebrar-se nos mesmos intuitos de utilidade geral que caracteriza
aquele, neste caso, se não quiserem os foreiros chegar a acordo razoável [5 ] e justo, terá
a Câmara o recurso do art. 37, § 5º, da Lei nº2 de 14 de setembro de 1891; convindo a
este propósito deixar desde já consignado que tal hipótese o único objeto de avaliação
judicial serão as obras de edificação, nunca as de mineração, que se as haver, estarão
inteiramente fora dos aforamentos, constituindo uma excrescência, que a Câmara pode e
deve fazer demolir, sem ônus algum de indenização.
Postas estas premissas, passarei em revista os títulos apresentados, desde já
notando que muitos deles, a maior parte salve, não vieram a propósito do edital de 11 de
junho, pois que referem-se uns aforamentos nas condições indicadas, outros a aquisição
de casas de vivenda; com o que nada tem que ver a carta a levantar-se, sendo – lhe
relativos somente os que tratam dos terrenos auríferos, pelos quais vou começar:

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Nos documentos que, com certa expressa e positiva referência, se exibem, há um
ponto obscuro e creio que de impossível esclarecimento. Todos eles tratam-se de
herança diretamente havidas pelo que os apresentam-se de compras feitas a herdeiros,
sem que uns e outros remontem ao ponto de partida – isto é – à origem da propriedade
particular, que só se podia constituir em tempo anterior à cessão da sesmaria.
Isso, porém, não sendo já para nossos dias averiguar-se, forçoso é ceder à
condição de que, se tais propriedades ai têm restado sempre manifestas, sem construção
alguma das inumeráveis autoridades municipais em continua sucessão por largas
dezenas de anos, qualquer impugnação, nunca havida e hoje oposta, viria suscitar gerais
clamores, de que o menor efeito seria o estado indefinido do que com tanta utilidade
publica trata-se de por em ação.
Conseqüentemente, se preocupar-me de modo porque em tempo, tão remoto se
operou a aquisição dessas propriedades, passe a referi-las em seguimento aos nomes dos
reclamantes, que são os senhores:
1) Major Francisco de Paula Santos- Minas das Lages . Documentos
apresentados, o único de valor jurídico mostra apenas que o alferes
José Dias Monteiro em 1847 comprou por 24$000 uma parte de
mina. O exibente [sic], porém, declarando-se herdeiro do mesmo
alferes, nenhuma prova dá de ser assim, sem direito algum de
representação, outro despacho não pode ser senão – prove o direito
hereditário que alega - .
2) Casimiro Ribeiro Luis. Lavra do Veloso - Prova haver comprado por
6.550$000 as partes que nele tinham vários herdeiros da família
Figueiredo.
3) Henriqueta Ferreira Teixeira, Claudina Augusta Ferreira, Delfina
Augusta Ferreira e seus irmãos ausentes Nicolao José Ferreira,
Generosa Ferreira Guimarães e Antônio Basílio Ferreira. Lavra no
Padre Faria, dividindo pelos altos com o caminho de Antônio
Pereira e em grande parte com o de Mariana, avaliada em 6:000$000
no inventário [6] de seus pais e a eles partilhada.
4) Major Antônio Alves Pereira da Silva - Lavra do Ouro Podre ,
dividindo a um lado com terras do finado Padre Lourenço Dias de
Almeida e de outro com a estrada que segue para a capela de São
Sebastião, compreendendo uma pequena pequena casa coberta de
telhas, terras e águas minerais, tanques, mundéus e mais pertenças;
tendo comprado do herdeiros por 300$000.
5) José Joaquim Gonçalves Simões. Lavra da Pedra Grande,
começando no córrego do Tassara e seguindo até a Chácara do
Taquaral, limitando pelo lado direito na margem do rio de algumas
casas ali existentes e depois com a estrada de Mariana. Lá se trata da
décima parte, sem preço determinado, porque em julho próximo foi
comprada por 6:000$000 ao Sr. Ovídio Ferreira da Costa e sua
senhora, mas do envolta com outras propriedades, sem descriminação
de valores . Lavra dos Tassaras, confinando a um lado com capela
da Piedade e a estrada de Antônio Pereira; parte adquirida pelos
mesmos compradores ao preço de 1:000$000.
6) Dr. Agostinho Maximo Nogueira Penido. Mina no Morro de
Sant’Ana, e uma sorte de terras auríferas, que começam da subida do
morro em frete à capela de São João e compreende toda essa área,
onde há e segue a mina, em que o vendedor (e que se nãos se era
solteiro, casado ou viúvo), Joaquim dos Santos Godinho, tinha
minerado sem interrupção, e mais os terrenos a ela contíguos tanto
pela parte de baixo como pela de [7] cima do morro e lado direito e
esquerdo, cujas divisas melhor constam de títulos antigos(não
apresentados); propriedade essas que houve por herança de seus pais
(de que nem se quer declara o nome) De sorte que todo o título de
domínio, que habilitou – o a olhar, cifra-se nessa curta frase por ele
próprio declarada ao escrivão ! É caso idêntico ao que já ficou notado
em n 1, relativamente ao Major Francisco de Paula Santos: - faltou a
prova do direito hereditário.
7) Netos e herdeiros de Joaquim Mariano Augusto Menezes. Mina do
Padre Viegas no Morro de Sant’Ana, ao lado esquerdo do caminho
de Antônio Pereira, com uma casa e serviços de mineração. Eram do
Padre José Joaquim Viegas de Menezes, de quem ficou único
herdeiro o mencionado J. Mariano, de quem igualmente são únicos
representantes e herdeiros seus netos Joaquim Mariano Augusto
Menezes; dona Maria José de Menezes casada com José Ribeiro de
Freitas; de Carolina Augusta de Morais Menezes, casada com
Eduardo Machado de Castro; dona Idalina Augusta de Menezes,
casada com Francisco Antônio Vieira; dona Josefina da Conceição de
Menezes, casada com Jorge Augusto Ribeiro de Magalhães. Este
último, por ajuste de contas com a Ordem do Carmo, ausentando-se,
deixou à mesa uma procuração, uma certidão do testamento com que
faleceu em 1841 o padre Viegas e todo o processo administrativo que
em 1889 como perante o governo a propósito da aquisição que
realizou, de todos os mananciais dessa mina para abastecimento de
reservatórios da cidade;[8] sendo ainda de notar que no mesmo
processo ficou provado que também a Ordem das Dores concorria a
essa venda, como proprietária da mina que ali se designa sob n. 2,
dando-se o n 1 à dos herdeiros do padre Viegas. Do Estado
receberam estes a indenização de 6:000$000 e a Ordem das Dores a
de 4:000$000; 10:000$000 ao todo e assim ficaram ambas as minas
sem gota d’água , delas restaram apenas os terrenos secos.
8) Reverendo Vigário Tobais José da Silva. Mina no Palácio Velho.
Alega que foi ela doada à sua mãe, dona Brígida Cândida de Jesus,
pelo proprietário João Venceslau de Jesus, e requer que esta
declaração, feita dentro do prazo, fique tomada até que ele extraia os
respectivos documentos.

Terras auríferas

9) Doutor Agostinho Maximo Nogueira Penido. No Passa Dez,


Saramenha, Veloso, nos Morros de São Sebastião, São João e
Sant’Ana. A quatro diferentes meios de aquisição se referem os
documentos apresentados cabendo, por tanto, considerá-los em cada
uma delas espécies:
Compras. Uma escritura de 19 de janeiro último, assinada pelo Coronel Antônio
José Neto e sua Senhora, transmitindo, por 300$000 reis, o domínio de uma casa sita no
lugar denominado Passa Dez de baixo - , forrada e assoalhada, com um terreno que lhe
compreende e divide pela frente com rua do Passa Dez de Cima, pelo lado direito com
terrenos da viúva de João Ângelo, pelo esquerdo com os de Antônio Pereira azedo e
pelos fundos com os de Adolfo Passos e Pereira Azedo. Em todos os títulos de
translação de domínio sobre casas, a designação de terreno, como neste se vê, é, por
assim dizer, uma formula habitual, de uso geral, determinando a área que, em relação
às casas, mesmo nos centros mais populosos da cidade, onde são elas contiguas, se
destina á criação de aves domesticas e a hortaliças, ou, em linguagem mais comum, a
pastos, terreiros e hortas. Entretanto, em um dos lados do translado do título de que se
trata do seu próprio punho, escreveu o ilustre adquirente estas palavras – “NB – Casa
com minas exploradas pelo Dr. Penido e onde encontra-se pepita de ouro de mais de
duas oitavas, em poder do Penido”. Certamente não se pretenderá que a construção
dessa casa seja mais velha do que a sesmaria e com idade maior que 162 anos. É muito
posterior e não podia ser feita senão em terreno aforado. Ora, até a sociedade, está
demonstrado que a Câmara nunca aforou, não afora, nem pode aforar para exploração
aurífera. Por tanto, a casa com o seu terreno para usos domésticos não pode figurar na
carta topográfica a que se refere o edital.
No mesmo caso se acha a publica forma de um papel assinado por Francisco da
Silva Manso(sem declaração de estado) vendendo por 100$000 uma casa no Passa dez
de cima, com um terreno de 10 braças em frente para a estrada e com os fundos até ao
rio até o rio Passa dez de baixo, dividindo com terrenos dos coronéis Passos e Junqueira
[10] e cidadão Carlos Conegundes Alvim do que já ficou notado sobre o título
procedente, neste nem declaro o signatário a origem da propriedade que vende, nem
consta o pagamento do imposto de transmissão (sisa), vicio que o afeta de nulidade.
Aforamentos: Então no epigrafe geral que vai geral que vai seguir-se .
Datas e lote: A 7 de maio de 1890 foram requeridas à guardamoria três datas
minerais no morro de Sant’Ana, terrenos contíguos à mina do Godinho( a mesma já
descrita sob n 6) e nos morros de São Sebastião, Veloso e São João – “não mineradas
desde mais de 30 anos-“ O guarda-mor despachou “Concede as datas requeridas salvo
=prejuízo de terceiros” E a 17 de junho seguinte, precedida a formalidade de um edital,
expedido provisão, declarando a caducidade alegada, concedendo as datas “sujeitando o
concessionário ao que dispões o decreto n3350 A de 29 de novembro de 1864e mais leis
em vigor sobre a matéria.”.
Em sua simplicidade singela e nudez, eis o caso como o caso faz e como o
vamos agora aprecia sob os pontos de vista da validade ou invalidade,começando pela
hipótese mais favorável reclamante.
Validade – Suponha-se que tudo isso se passou mais regularmente. O necessário,
logo a 20 do imediato mês de julho – a para prova a todo tempo que atacou o serviços
das minas, começando pela do Godinho, de sua propriedade, e em direção dos morros
de São Sebastião, Sant’Ana, Veloso e São João, e bem assim que proceder as
respectivas medições e demarcações, requere que tudo isso certificasse o 1[11] escrivão
ad hoc que de fato certificou. Nesta faina, porem, não reparou no trambolho que, patente
e medonho, há ficou na provisão e era – o dispostos no dia acima citado – cujo teor aqui
damos.
Art. 1º Fica marcado o prazo de dois anos para os atuais concessionários de
minas começarem os trabalhos da lavra das mesmas minas, sob pena de caducidade da
concessão.
Art. 2º Uma vez começados os trabalhos da mineração, não poderão debaixo da
mesma pena do artigo antecedente, ser suspenso por mais de trinta dias durante cada

1
Todos os grifos são do autor
ano civil, sem que os concessionários provem perante os presidentes das províncias
onde estiverem situadas as minas ou perante o ministério da agricultura, comercio e
obras publicas, que a interrupção dos trabalhos é o examinado por qualquer caso de
força maior devendo em tal hipótese submeter-se os prazos que lhe será marcado para
recomeçarem os mesmos trabalhos.
Art. 3º As disposições dos artigos anteriores vigorarão também para os futuros
concessionários de minas, em cujos atos de concessão e não marcarem prazos para
começar a interrupção dos trabalhos. Conseqüentemente ainda quando valida fosse a
concessão, sujeito a esta as disposições transcritas, para que o concessionário a pudesse
agora alegar, seria de rigor fazer a prova de que, pela sua parte, durante os 8 anos
decorridos, foram regiamente cumprida as daquele artigo 2º caso em que, senhor de
quase todas as terras auríferas da sesmaria municipal, com sua ativa, ininterrupta e
laboriosa exploração teria abarrotado d’ouro em pó,[12] pelo menos, toda a validação
do território mineiro, não deixando então notória para o contrato de 23 de março de
1897, unicamente feito por conveniência absoluta de tudo isso.
Invalidade. É porem, de todo o ponto insubsistente essa concessão de datas, por
que o guardamos que a fez meter a foice em seara alheia - . Nas cartas de sesmaria, a
única intenção feita ao pleníssimo direito da Câmara é a de não prejudicar todos aqueles
que nela já se achassem estabelecidos. E, pois, á proporção que estes direitos privados
se fossem extinguidos por caducidade, comisso ou qualquer outra circunstância
suprimida, a plenitude do direito da Câmara se ira preenchendo com a incorporação dos
terrenos que assim se desocupassem. E o ilustrado jurista, a quem nos estamos
referindo, que naqueles bons tempos de governo provisório e absoluto era aqui
intendente por nomeação do mesmo governo, serviço de súbito valor teria prestado a
municipalidade se, não para sua responsável pessoa, como o fez, mas para ela, única
legitima propriedade, tivesse isso promovido com o fundamento do abando
trintanario[sic] alegado em sua petição ao guarda - mor , que alias nada tinha que ver no
assunto, por que o único guarda – mor da sesmaria é o governo municipal.
No mesmo caso se acha o lote n 13, que o engenheiro do 2º distrito, em
Caratinga, a 24 de novembro de 1895, no falso pressuposto de terreno devoluto no
Saramenha, concedeu o Severiano Ribeiro de Campos e por este vendido, ainda com
uma pequena casa ali edificada, ao mesmo reclamante, sendo pelo preço de 50$000.
[13] Em conclusão: - por títulos validos, nem no Passa-dez de cima ou de baixo, nem no
Saramenha, nem no Veloso, nem nos morros de São Sebastião e São João, tem o
reclamante terreno algum aurífero, e mesmo o da lavra do Godinho, no morro de
Sant’Ana, é um título incompleto, contendo as omissões apontadas sob nº6.
10) Antônio Francisco de Assis Pinto e seus irmãos. Terras minerais no
Morro do Ramos. Exibem um título assinado por Manoel Dias
Pelúcia e sua mulher a 14 de setembro de 1843, vendendo por
50$000 a Julião Pinto a parte que dizem ser herança paterna de José
Dias Pelúcia sem prova de filiação, nem da herança, nem das
dimensões do terreno. E os reclamantes limitam-se a dizer agora à
Câmara: Somos todos filhos da finada Maria Gonçalves Pinto, filha
que foi de Paulo Pinto e sobrinha de Julião Pinto; as divisas do
terreno são as que nós descrevemos no protesto que estampamos no
periódico – A Província de Minas - , n 388 de 25 de setembro de
1886, de que apresentamos a tira que vai junta”(!!!)
11) Honestamente José Fagundes diz que é filho único da finada dona
Maria Catarina de Almeida, e como tal tem direito a terrenos
auríferos no lugar denominado Ouro Podre no morro São Sebastião;
mas não possui os respectivos títulos, que presume estarem no Rio de
Janeiro; concluindo por pedir prorrogação do prazo para apresentá-
los. Prorrogado até 5 de agosto próximo.

[14] Aforamentos
(Só para Construir)
a) Dr. Agostinho Maximo Nogueira Penido; no Passa Dez de cima; títulos de 2 e 8
de fevereiro e 16 de abril de 1898.
b) Dr. Claudino Pereira da Fonseca; na estrada de Antônio Pereira; título de 3 de
julho de 1885.
c) Capitão Antônio Bento de Souza; no Caminho das Lajes; Título de 15 de
setembro de 1864, 5 de setembro de 1865 e 18 de fevereiro de 1887. No morro
da Encardideira; título de 28 de novembro de 1885. Na rua do Maciel; título de
25 de abril de 1885. Na estrada de Mariana; título de 27 de janeiro de 1886. na
de Antônio Pereira; título de 5 de março de 1894.
d) Capitão Antônio Pereira de Faria. No lugar denominado Três Cruzes; título de
26 de setembro de 1889.
Esta Matéria é regulada pelos artigos 13 e seguintes do Estatuto Municipal em
face das quais talvez já estejam em caducidade muitos dos aforamentos mencionados.
Ao encerrar esta epigrafe, devo rapidamente notar que os seus papeis junto ainda
o senhor Capitão Antônio Bento de Souza seus títulos de antigos aforamentos
concedidos a seu finado sogro, João Rodrigues Ferreira, dois no Caminho das Lages e
outro na Encardideira; aforamentos esses desde muito em comisso e por tanto, sem
mais valor algum.
Varias aquisições
[15]Restam ainda documentos, não só de alguns dos mesmos exigentes [sic] já
mencionados, como também dos Senhores Coronel Manoel Silviano, José Coelho Neto,
João Augusto Moura e capitão Pedro Coelho de Magalhães Gomes, comprador este de
uma mina d’água potável no alto da Cruz, a preço de 200$000.
Visando, porem, todos sobre propriedades alheias a serviços de mineração e não
sendo o trabalho de que ora se trata o de inventariar inteiro o imobiliário da cidade;
deixou-os de lado para não retarda a restituição dos papeis à Secretaria, que nesta
mesma data recebe-os tão exemplos como d’ela me tinham vindo.
Conclusão
Por parte da minha nulidade, feita está à vista dos títulos atraídos pelo edital de
11 de junho ultimo. E o resultado que dela ofereço, ainda desalinhados tosco como o
reconheço, justifica os seguintes corolários:
Primeiro. Que os terrenos auríferos da sesmaria não se acham encravados de
modo porque o passa fantasiar a imaginação noveleira de ociosos. A propriedade
particular, ai apenas representado por poucos reclamantes dentre os que compareceram
cuidadosamente assinalei os minguados preços porque a adquiriram, afim de tornar bem
manifesto o tênue valor deles e a conseqüente felicidade que haverá em chegar-se com
os donos um acordo e quantitativo razoável.
Segundo: Que, por tanto, o governo local, tão dignamente personificado na
Câmara que preside a este movimento examinador da [15] cidade, disposto, como em
tudo, a não descer com ápice da elevada posição que lhe compete, infalivelmente há de
ser sob seus pés, sem que dali possa subir, a poeira de todas as balelas, mexeriqueis e
maledicências, inseparáveis de qualquer empreendimento como o de que se trata e
sopradas por apoticos [sic] e egoístas, para os quais melhor é que os tesouros da
natureza permanecerão sumidos no subsolo do que venham à superfície e deixem cair
alguma miolos na algibeira dos que só conseguem extraí-las inundando de seus
senhores a profundeza sãs entranhas da terra.
Ouro Preto, 25 de Agosto de 1898.
Joaquim Cipriano Ribeiro.

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