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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DO JUIZADO

ESPECIAL DA COMARCA DE JEQUIE- BAHIA

ANA CARLA ALMEIDA XAVIER, brasileira, casada, enfermeira, filha de Rubens


Souza Xavier e Jeiza Verônica Almeida Xavier, CPF 047.082.865-03, RG
11.650149-98 SSP-BA, carliinhaxavier@hotmail.com, residente e domiciliado na
Rua Pacaembu, 49, Mandacaru, Jequié-Ba, CEP: 45210-136, Telefone: (73) 99199-
5293, neste ato representada por sua advogada (mandato incluso), com endereço
profissional na Rua C, n 217, Bairro Constância, Ipiaú-Ba, CEP 45570-000, Telefone:
(73) 99997-8450, onde recebe intimações e notificações, vem, respeitosamente,
perante Vossa Excelência, propor;

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER CUMULADA COM PEDIDO


DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

Em face da TIM CELULAR S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no


CNPJ/MF sob o n.º 04.206.050/0001-80, com sede na Avenida Giovanni Gronchoi,
nº 7143, São Paulo/SP, CEP: 05724-005, o que faz sob a égide dos fatos e das
razões de direito a seguir elencadas:

I. DA JUSTIÇA GRATUITA

Inicialmente, requer sejam concedidos os benefícios da Justiça Gratuita, na


medida em que a Requerente se afigura carente de recursos financeiros, não
podendo arcar com custas processuais e honorários advocatícios, nos termos do art.
98 e 99 do Código de Ritos de 2015.

Em razão da insuficiência financeira da postulante, verifica-se que ela não


pode sequer arcar com o adiantamento das despesas processuais, nem mesmo de
forma parcelada ou diferida.

II. DOS FATOS

A Autora adquiriu junto à empresa requerida o plano Tim/Ligações/Internet,


referente ao terminal (73) 99199-5293, em novembro de 2018, tendo o custo mensal
de R$ 44,99 (quarenta e quatro reais e noventa e nove centavos) sempre cumprindo
ordinariamente a obrigação pactuada todo dia 10 (dez) de cada mês, com todas as
faturas adimplidas, conforme extrato bancário de débito em conta anexo.

Ademais, em Setembro/2019, o valor do plano foi majorado para R$ 54,99


(cinquenta e quatro reais e noventa e nove centavos), sem anuência da
Requerente muito menos aviso prévio, só tendo ciência após ter sido realizado o
débito em sua conta. Desse modo foi tentado o primeiro contato com a Ré, a fim
de verificar o motivo do aumento da parcela, ocasião que foi esclarecido à autora
que o aumento era referente ao fim da carência, sendo exposto naquela
oportunidade pela mesma, a sua insatisfação em relação a falta de comunicação da
Requerida com seus clientes, entretanto optou por permanecer com seu plano.

Imperioso mencionar que há época da contratação se deu por necessidade,


tendo em vista que a Autora exerce a função de enfermeira na emergência do
Hospital Prado Valadares nesta Cidade, onde só tem apenas um PABX1 o que
dificulta as ligações de emergência, e, a fim de otimizar o seu trabalho contratou os
serviços da requerida, inclusive para utilizar a internet para o acesso as suas aulas
de pós-graduação online, sendo notório a necessidade da continuação do serviço.

Outrossim, no inicio do mês Dezembro/2019, a Postulante através de contato


telefônico com Ré por meio da Central de Atendimento ao Cliente, solicitou a
alteração da data do pagamento de suas faturas, do dia 10 (dez) para o dia 15
(quinze) de cada mês, e assim foi feito, sendo informado que ainda em
dezembro seria debitado no dia 10, mas que a partir de Janeiro/2020, seriam
todo dia 15 de cada mês.

Assim sendo, em 15/01/2020, foi debitada o valor referente a fatura do


referido mês, consoante documento em anexo. Contudo, após o pagamento citado,
surgiu uma nova fatura também afeta ao mês de Janeiro datada do dia 02/01/2020,
oportunidade que a Demandante entrou em contato com a Requerido e relatou o
quanto exposto, sendo informada que a conta em aberto seria cancelada.

Não obstante as informações descritas acima, em Fevereiro/2020, sem


consentimento ou aviso prévio, mais uma vez a empresa Ré aumentou o valor da
fatura para R$ 64,99 (sessenta e quatro reais e noventa e nove centavos), além
de reduzir a franquia de internet, momento que, a Autora entrou em contato
novamente com a Ré, sendo informado pela atendente da Central de
Atendimento ao Cliente que os valores que vinham sendo pagos, qual seja R$
54,99 (cinquenta e quatro reais e noventa e nove centavos), eram atinentes aos
clientes que possuíam débito em conta, sendo essa a justificativa para a
majoração, ou seja o que já era o caso da Autora desde novembro/2018,

1
é um centro de distribuição telefônica pertencente a uma empresa que não inclua como sua atividade
o fornecimento de serviços telefônicos ao público em geral. https://pt.wikipedia.org/wiki/PBX
ficando evidente a falta de organização e informação da Requerida, recaindo o
prejuízo sobre o cliente.

Ainda, nesta mesma oportunidade foi questionado mais uma vez sobre a
fatura que estava em aberto do mês de Janeiro/2020, datada do dia 02/01/2020 bem
como, a devolução do valor pago a maior no mês de Fevereiro/2020, sendo
esclarecido pela Ré que a fatura seria cancelada e os valores devolvidos à Autora
mediante credito em linha.

A par disso, no dia 23/02/2020 ocorreu um bloqueio parcial na linha


telefônica da Requerente para efetuar ligações e utilização do pacote de
internet, situação que só percebeu após necessitar fazer uma ligação de
emergência em seu trabalho. Logo, foi NOVAMENTE mantido contato com a
Requerida, onde foi informada que o bloqueio aconteceu por INADIMPLÊNCIA,
uma vez que a fatura de Janeiro/2020 que estava pendente era decorrente da
alterações das datas de pagamento, sendo a Autora obrigada a pagar o
referido débito.

Em linhas gerais, nota-se um total descaso e desrespeito da Demandada


com o cliente, tendo em vista que nas ligações realizadas anteriormente, em
NENHUM MOMENTO, foi suscitado a hipótese da obrigação de pagar, inclusive por
ser oneroso e abusivo pagar pela solicitação da alteração das datas de vencimento
das faturas.

Ressalta-se que a linha da Autora permaneceu bloqueada, mesmo sendo


relatado toda situação, e diante da necessidade que tinha em utilizá-la a mesma
realizou um “desbloqueio em confiança” através do *222#, recurso permitido pela Ré,
a fim de fossem retomados os serviços do seu plano, sobreduto por estar em dias
com seus pagamentos.

Por seu turno, em 03/03/2020, a linha telefônica da requerente foi MAIS


UMA VEZ BLOQUEADA, sendo solicitado novamente o “desbloqueio em
confiança”, pois precisava dos benefícios de internet para assistir a aula da
pós-graduação online.

Esclarece que em 04/03/2020, motivada pelo desejo de resolver sua


demanda de forma breve e amigável como de todas as outras vezes, a Autora
TENTOU NOVAMENTE contanto com a Ré informando todo o ocorrido até a
presente data, sendo ratificado pela quinta vez que a fatura de Janeiro/2020 seria
cancelada, de modo que, seu plano voltaria ao normal.

Destarte as alegações expendidas, em 12/03/2020 houve novo bloqueio na


linha telefônica da Autora, sendo necessário novo “desbloqueio em confiança” para
utilização dos benefícios. Após esse episódio, em 13/03/2020 a Requerida entrou
em contato com a Postulante para tratar sobre o débito de janeiro/2020 que estava
em aberto, demonstrando mais uma vez a desorganização e falta de informações
entre os seus funcionários, ocasião que, foi relatado todo o ocorrido nos últimos três
meses, das inúmeras tentativas de acordo, da necessidade em usufruir o plano
contratado, especialmente por depender dele para trabalhar e estudar, momento que
foi solicitado pela Requerida, que a Autora enviasse através do WhatsApp da Tim os
prints do aplicativo e conta bancária onde restava demonstrado o pagamento
realizado e a cobrança indevida, inclusive sobre o mês de fevereiro que a fatura veio
com valor a maior, com fito de confirmar as alegações e estornar os valores, nos
termos das cópias das conversas em anexo, contudo sem resposta até a presente
data, tendo apenas a resposta automática do próprio WhatsApp que não havia
entendido a solicitação.

Registre-se que em 15/03/2020, foi debitado normalmente o valor mensal


decorrente da fatura afeta a Março, entretanto o problema persistia, sendo tentado
no dia 17/03/2020 outro contato com a Ré para resolução, porém sem sucesso,
ocorrendo novos bloqueios na referida linha telefônica, sendo necessário a
realização nos dias 31/03/2020, 01/04/2020 e 10/04/2020 dos “desbloqueios em
confiança” para utilização dos beneficios.

Nesse diapasão, em consulta ao aplicativo da Tim, a requerente notou que


não havia sido debitado a parcela referente ao mês de Abril/2020, bem como, o
pacote de dados e ligações não tinham sido renovados. Em ato conseguinte, no dia
20/04/2020 foi feito novo bloqueio na linha, e novamente requisitado pela Autora
outro “desbloqueio em confiança”, fato este que se repetiu no dia 26/04/2020, porém
desta vez a Requerente não conseguiu efetuar o desbloqueio, e ao ligar para
empresa Ré, a ligação não completava, ouvia apenas a mensagem automática que
os serviços haviam sido suspensos por inadimplência, situação que se perdurou,
por dias.

Desta forma, apenas em 08/05/2020, a empresa Ré ligou para a Requerente,


onde foi relatado TUDO NOVAMENTE, oportunidade que a atendente do dia
solicitou que a demandante que ligasse para o número 1056 e informasse pela
enésima vez o ocorrido, e que após, daria encaminhamento na situação para
reativação da linha. Logo, conforme orientado a Autora tentou fazer a ligação, mas a
chamada não completava, permanecendo com sua linha totalmente bloqueada.

Salienta que, em 21/05/2020 a Requerente recebeu uma mensagem de


texto informando que o PLANO HAVIA SIDO DESATIVADO DEVIDO A NÃO
ELEGIBILIDADE DA OFERTA, consoante documento acostado. Nesse passo,
em 27/05/2020 a Postulante tentou novamente contato com a empresa Ré,
ocasião que a atendente não reconhecia seu número, perguntou ainda se
tratava-se de um número novo que precisava ser cadastrado, sendo explicado
todo o ocorrido pela a Autora, oportunidade que foi informado pela Ré que a
linha havia sido DESATIVADA oriundo do CANCELAMENTO DO PLANO, que
como pode notar, se deu unilateralmente pela Demandada.

Cumpre mencionar que a Requerente não possui acesso ao seu perfil


no site e/ou aplicativo, razão pela qual ficou impossibilitada de ter acesso aos
protocolos das ligações, ainda, foi solicitado as gravações das ligações,
contudo, o arquivo disponibilizado pela Ré está vazio.

Por fim, a Autora foi obrigada a mudar de operadora, tendo que fazer
portabilidade, ficando dias sem poder fazer ou receber ligações além de não ter
acesso a internet, passando por uma série de dificuldades para desenvolver seu
trabalho, além de vários contratempos para manter as suas aulas de pós-graduação
em dias, sem contar, todo o desgaste nas varias tentativas de acordo e todas sem
sucesso, sendo ludibriada diversas vezes pelos funcionários da Ré, uma vez que,
nunca sabiam as informações e nem do que se tratava.

A vista do até aqui exposto, estando claro e notório o abalo moral sofrido por
conta da desídia da empresa Requerida, eis que privado de efetuar ligações e
acesso à internet, mesmo com todas as faturas adimplidas e sem prévia notificação
quanto a possibilidade de suspensão, à Autora vem perante o Poder Judiciário
requerer indenização pelo dano moral suportado, além do cancelamento da fatura
que encontra-se em aberto.

III. DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

No caso em comento, a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor é


cristalina.

Para concretização da aplicação do Código de Defesa do Consumidor, mister


se faz a existência de um “consumidor” (art. 2º do CDC), que é quem adquire ou
utiliza produto ou serviço como destinatário final, e um “fornecedor” (art. 3º do CDC),
que é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira,
bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição
ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Pois bem, o Autor se enquadra objetivamente na posição de consumidor, vez


que utilizou dos serviços prestados pela empresa, na qualidade de destinatário final.

A empresa Requerida, por sua vez, encaixa lidimamente na qualidade de


fornecedor, vez que presta serviços de telefonia.

Desta forma, límpida é a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor


no presente caso, vez que se trata da matéria, em virtude tanto do enquadramento
das partes, quanto à demanda avençada.

IV. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


Diante da hipossuficiência do consumidor (Lei n. 8.078/1990), ao elaborar o
texto do código consumerista, o legislador antecipou, no art. 6º, inciso VIII, a
facilitação ao acesso da justiça, garantido, dentre outros direitos, a inversão do ônus
da prova.

Segundo voto do Des. Ronaldo Moritz da Silva, “entende-se que a


hipossuficiência de que cuida o mencionado dispositivo não é de ordem
econômica, referindo-se às condições ou aos meios disponíveis para a
obtenção de determinada prova” (TJSC, Apelação Cível n. 2013.012385-8, da
Capital, rel. Des. Ronaldo Moritz Martins da Silva, j. 16-05-2013).

Assim, é aplicável, na espécie, a disposição do Código de Defesa do


Consumidor relativa à inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII), pela qual, requer,
desde já, seja deferida de plano por Vossa Excelência, determinando que a parte
demandada acoste ao feito as gravações concernentes ao atendimento protocolado
sob nº 20201012708629, bem como prove que não suspendeu a linha telefônica do
Autor no período de 04/05/2020 à 06/05/2020, e que o notificou quanto a suspensão
ocorrida.

V. DANO MORAL

A Resolução nº 426 de 09/12/2005 da Agência Nacional de Telecomunicações -


ANATEL, em seu Capítulo VI, prevê as possibilidades da interrupção do terminal
telefonico do consumidor:

Capítulo VI
DA INTERRUPÇÃO DO SERVIÇO
Art. 29. São interrupções excepcionais do serviço as decorrentes de situação
de emergência, as motivadas por razões de ordem técnica ou por razões de
segurança das instalações, conforme a seguir:
I - situação de emergência: situação imprevisível decorrente de força maior
ou caso fortuito, que acarrete a interrupção da prestação do serviço, sem que
se possa prevenir sua ocorrência;
II - razões de ordem técnica: aquelas que, embora previsíveis, acarretem
obrigatoriamente a interrupção do serviço como condição para a reparação,
modificação, modernização ou manutenção dos equipamentos, meios e
redes de telecomunicações; e
III - razões de segurança das instalações: as que, previsíveis ou não, exijam
a interrupção dos serviços, entre outras providências, visando impedir danos
ou prejuízos aos meios, equipamentos e redes de telecomunicações da
prestadora ou de terceiros.
Art. 30. É vedado à prestadora interromper a prestação do serviço ao público
em geral alegando o inadimplemento de qualquer obrigação por parte da
Agência ou da União.
Art. 31. Ocorrida a interrupção do STFC, por qualquer razão, a prestadora
deve notificar os usuários da localidade afetada mediante aviso público,
comunicando-lhes os motivos, as providências adotadas para o
restabelecimento dos serviços e a existência de meios alternativos para
minimizar as conseqüências advindas da interrupção.
§ 1º O previsto no caput se aplica na ocorrência de falhas de rede de
telecomunicações, de qualquer tipo, que venham a interromper o STFC em
mais de 10% do total de acessos em serviço ou mais de 50 mil acessos em
serviço da localidade, o que for menor.
§ 2º Nos casos previsíveis, a interrupção deve ser comunicada aos
assinantes afetados, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias úteis.
Art. 32. Havendo interrupção do acesso ao STFC na modalidade local, a
prestadora deve conceder crédito ao assinante prejudicado.
§ 1º Não é devido crédito se a interrupção for causada pelo próprio assinante.
§ 2º O crédito deve ser proporcional ao valor da tarifa ou preço de assinatura
considerando-se todo o período de interrupção.
§ 3º O crédito relativo à interrupção superior a 30 (trinta) minutos a cada
período de 24 (vinte e quatro) horas deve corresponder, no mínimo, a 1/30
(um trinta avos) do valor da tarifa ou preço de assinatura.
§ 4º O crédito a assinante na forma de pagamento pós-pago deve ser
efetuado no próximo documento de cobrança de prestação de serviço, que
deve especificar os motivos de sua concessão e apresentar a fórmula de
cálculo.
§ 5º O crédito a assinante de terminal a que está vinculado crédito pré-pago
deve ser ativado e comunicado ao assinante em até 5 (cinco) dias úteis,
contados do restabelecimento do serviço.
§ 6º O recebimento do crédito, pelo assinante, não o impede de buscar o
ressarcimento que ainda entenda devido, pelas vias próprias.
§ 7º A concessão do crédito não exime a prestadora das sanções previstas
no PGMQ-STFC, no contrato de concessão ou de permissão, ou no termo de
autorização.
Art. 33. A prestadora pode tornar indisponível o STFC, quando as instalações
ou a rede interna do assinante não forem compatíveis com a especificação
técnica estabelecida no contrato de prestação de serviço ou ainda quando
ocorrer o previsto nos incisos X e XI do art. 10 deste Regulamento.
Parágrafo único. A interrupção neste caso dar-se-á após decorrido o prazo,
não inferior a 5 (cinco) dias úteis, constante de notificação prévia ao
assinante, para que corrija suas instalações, dispensada a notificação prévia
no caso de iminente dano à rede externa, devidamente comprovado pela
prestadora.

Conforme se infere do rol taxativo acima exposto, em nenhuma das


possibilidades da interrupção é assegurado a suspensão da linha telefônica por
conta da mudança da data do vencimento da fatura. Sendo assim, a conduta da
empresa Requerida é ilegal e ilícita.

Segundo prevê o artigo 186 do Código Civil, “aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”, e
incorrendo nisto, fica obrigado a reparar o dano causado, conforme define
artigo 927 do mesmo codex.

No entendimento da Corte Catarinense, "o dano simplesmente moral, sem


percussão no patrimônio, não há como ser provado. Ele existe tão somente
pela ofensa, e dela é presumido, sendo bastante para justificar a indenização".
(Apelação Cível n. 39.466, da Capital, Des. João José Schaefer)

Na lição de Yussef Said Cahali:

[...] tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-lhe


gravemente os valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou
reconhecidos pela sociedade em que está integrado, qualifica-se, em
linha de princípio, como dano moral; não há como enumerá-los
exaustivamente, evidenciando-se na dor, na angústia, no sofrimento, na
tristeza pela ausência de um ente querido falecido; no desprestígio, na
desconsideração social, no descrédito à reputação, na humilhação
pública, no devassamento da privacidade; no desequilíbrio da
normalidade psíquica, nos traumatismos emocionais, na depressão ou
no desgaste psicológico, nas situações de constrangimento moral. (in
Dano Moral. 2. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. P. 20-21).

Portanto, é incontestável a ocorrência de ato ilícito por parte da empresa


Requerida, em virtude do dano moral no qual incorreu – e ainda incorre – a Autora.

Sendo assim, são três os requisitos indispensáveis ao dever de indenizar: (a)


ofensa ao direito da parte demandante; (b) prejuízo, consubstanciado nos
danos morais sofridos; e, (c) nexo de causalidade entre o ilícito praticado pelo
demandado e o prejuízo sofrido pelo suplicante.

À ofensa ao direito do reclamante resta na própria suspensão das ligações


originarias, sendo que seu prejuízo encontra-se em estorvos nas suas atividades
cotidianas e pelo pagamento do serviço que não está usufruindo, sendo o nexo de
causalidade decorrente da conduta ilícita e ilegal da empresa demandada em
“cortar” o telefone do consumidor mesmo com este em dia com todas as faturas,
nem mesmo a notificando previamente quanto a possibilidade do desligamento.

Da grande lavra de julgados nesse sentido, destaca-se:

CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.


PAGAMENTO DE FATURA EFETUADO COM ATRASO. SUSPENSÃO
DOS SERVIÇOS EM PERÍODO POSTERIOR AO DÉBITO JÁ QUITADO.
DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO. O autor efetuou o pagamento
da sua fatura telefônica em 19/04/2010 (com vencimento em 14/03/2010),
em razão de problemas de saúde. Ocorre que mesmo após o
pagamento, permaneceu a linha telefônica bloqueada, mesmo tendo o
autor postulado o restabelecimento da linha diversas vezes, conforme
os protocolos de atendimentos informados na inicial. Diante da
inversão do ônus da prova, a ré não logrou êxito em comprovar que não
suspendeu a linha telefônica, cingindo-se a aduzir que não houve a
suspensão, com a juntada de cópia de "tela sistêmica" a qual indica a
normalidade da prestação de serviço na atualidade, porém, não
impugnou as alegações de solicitação de restabelecimento do serviço,
tampouco juntou as gravações das ligações telefônicas, ônus que lhe
incumbia, evidenciando-se, então, que a suspensão se deu em período
posterior ao adimplemento. Danos morais caracterizados em razão dos
infortúnios decorrentes da privação de serviço essencial. Quantum
indenizatório que merece ser majorado para o montante de R$ 1.500,00
em nome do princípio da razoabilidade e proporcionalidade. RECURSO
DA RÉ IMPROVIDO. RECURSO DO AUTOR PROVIDO. (Recurso Cível Nº
71002958791, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Leandro Raul Klippel, Julgado em 28/01/2011)

Sendo o serviço telefônico, hoje, essencial à vida de relação da pessoa,


a sua falta, abrupta, indevida e sem aviso prévio, tende a causar sério
aborrecimento e desconforto psíquico à pessoa, o que é bastante para se
inferir a ocorrência do dano moral. Ademais, o usuário, consumidor, que paga
corretamente pelo serviço, não pode ter os seus direitos postergados,
impunemente, por empresa prestadora de serviço público. (TJSC, AC n.
01.024420-9, rel. Des. Wilson Augusto do Nascimento)

Ademais, "o bloqueio indevido de telefone celular configura dano moral,


independentemente de comprovação dos prejuízos sofridos pelo proprietário
do aparelho" (TJSC, AC n. 2006.027681-0, rel. Des. Luiz Carlos Freyesleben, j.: 18-
03-2008).
Não fosse isso, a empresa demandada nem mesmo efetuou a prévia
notificação do consumidor quanto a suspensão que viria, sendo esta
surpreendida por tal medida arbitrária, descumprindo a previsão do 3º, VIII, da Lei n.
9.472/97 e do item 12, IX da Resolução nº 85/98, cometendo, portanto, ato ilegal e
ilícito.

Nesses casos, a jurisprudência tem entendido que o dano moral é ocorrente:

DANO MORAL - TELEFONE - INADIMPLÊNCIA CONFESSADA -


BLOQUEIO DA LINHA SEM PRÉVIA NOTIFICAÇÃO - ATO ILÍCITO -
INDENIZAÇÃO DEVIDA - SENTENÇA MANTIDA. "Antes de simplesmente
desligar a linha telefônica, deve a empresa comunicar o cliente,
previamente, da possível suspensão do serviço, nos termos do art. 3º,
VIII, da Lei n. 9.472/97 e do item 12, IX da Resolução n. 85/98. Logo, não
havendo tal notificação, cabível a indenização por danos morais diante
dos transtornos ocasionados. (Recurso Cível n. 1.855, de Joinville (JE).
Relator: Juiz Alexandre Morais da Rosa)

Desta forma, conforme razões acima apontadas, requer seja determinada a


empresa demandada a ressarcir os prejuízos morais em que o Autor incorreu,
decorrentes do ato ilícito praticado.

Dentro desse contexto, entendemos como justa e adequada a condenação


da empresa Ré, pelos graves danos morais experimentados pela Autora, na quantia
de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a ser atualizada monetariamente pelo IGP-M e
acrescida de juros legais de mora de 1% ao mês, ambos a contar da data do inicio
do evento danoso (17/03/2014), com fulcro na Súmula 54 do STJ.

VI. PEDIDOS

Diante do exposto, requer:

a) a inversão do ônus da prova em face da demandada, com fulcro no art. 6º, VIII,
do Código de Defesa do Consumidor, determinando que a parte Requerida acoste
ao feito as gravações concernentes aos atendimentos nas datas descritas;

b) a intimação da parte ré para que compareça à audiência de conciliação de que


trata o art. 334 do Código de Processo Civil, bem como seja citada para que,
querendo, apresente sua resposta no prazo legal, com início naquele ato, sob pena
de sujeitar-se às penas da revelia;

c) seja a empresa demandada condenada a ressarcir os danos morais causados em


favor da Autora, em virtude de seu ato arbitrário, ilícito e danoso ao consumidor em
suspender seu Plano Telefônico, ante a ausência de atraso de qualquer fatura e sem
prévia comunicação, no montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais);
d) O cancelamento da fatura referente ao dia 02/01/2020 no valor de R$ 54,99
(cinquenta e quatro reais e noventa e nove centavos), a fim de evitar a inclusão
do CPF da Requerente nos Órgão de Proteção ao Crédito.

e) seja o valor fixado a título indenizatório atualizado monetariamente pelo IGP-M e


acrescido de juros legais de mora de 1% ao mês, ambos a contar da data do inicio
do evento danoso (23/02/2020), com fulcro na Súmula 54 do STJ;

Provará o que for necessário usando de todos os meios de prova em direito


admitidos, em especial pela juntada de documentos, depoimento pessoal do
representante da Requerida, oitiva de testemunhas, e outras mais que se fizerem
necessárias e que desde já ficam requeridas.

Nos termos do art. 319, inciso VII, do Código de Processo Civil, registra a
parte autora seu interesse na designação de audiência de conciliatória.

Atribui-se à causa o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Termos em que,

pede deferimento.

Jequié-Ba, 09 de junho de 2020.

MÔNICA GUIMARÃES LUZ

OAB-BA 56348.

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