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4 A variação linguística:

segunda instância

A avaliação de variáveis sociolinguísticas:


o informante

No capítulo anterior a avaliação de variáveis socio-


linguísticas foi tratada do ponto de vista do pesquisador.
Ao montar grupos de fatores que potencialmente cor-
os
relacionam o uso das variantes a parâmetros externos
(classe socioeconômica, sexo, etnia, faixa etária etc.), o
pesquisador intui, através de seu profundo conhecimento
da comunidade adquirido durante o processo de coleta do
material, o papel atribuído às variantes pela comunidade
de falantes. O tratamento estatístico dos dados indicará
que certos grupos de fatores são, na realidade, responsá-
veis pela implementação de uma variante e
que outros, ao
Contrário, não demonstram qualquer efetividade na aplica-
ção da regra variável. Resta, no entanto, saber qual o
devido valor dado às variantes
pelos falantes do grupo.
Voce chega assim àquela etapa da análise em
que
uma outra dimensão
se faz necessária: de que armas sOcio-
linguísticas dispõe cada variante? Vejamos um exemplo
essa
dimensao na análise. F
Em seu estudo
atingir
de como
dos ditongos em Martha.
sobre a
centralizaç o

capítulo I
deste volume)
Labov entrevist Vineyard
(ver
classificados segundo
distribuicão inforna
istribuição geográfica
mantes,
ilha (parte superior, zona rural, vs. inferior zona urbana),
ocupação (pescadores, agricultores etc.) e faixa etária
46 a 60, 31 a 4S, abaixo de 30) Os resul
(acima de 60,
tados da análise demonstraram que a zona rural, os Desea.

dares e a faixa etária de 31 a 45 tavorecem a central


forma n o padrão. Dac
zação do ditongo, ou seja, a Das áreas
compreendidas na zona rural- Oak Bluffs, N. isbury,
West Tisbury, Chilmark e Gay Head-, Chilmark alcan-
çou os indices mais altos de centralização. Coincidente
mente, Chilmark é a única parte da ilha cuja economia é
basicamente a pesca. Além disso, a faixa etária de 31 a
45 representa uma parte da população que, tendo crescido
com um processo de recessão econômica na ilha, ainda
assim decidiu permanecer na área.
Esses três resultados parecem estar relacionados entre
si. Algum motivo ulterior, mais
potente, porém, deve reger
tais resultados. Tornou-se
claro, durante as entrevistas,
que o significado mais imediato do traço fonético de cen-
tralização é uma marca "vineyardense". Os dados obtidos
também confirmam essa
Sao os nativos da
primeira intuição do pesquisador
ilha, da zona rural, pescadores, e a laind
ctaria jovem os que mais ardentemente reagem a
dos veranistas através de invaduA
Tim de
uma demarcação linguisu
reforçar esses resultados, então
nciuir uma terceira dimensão
o
pesquisador dev spe
co, uma
na análise:
ante. nesse
avaliação do meio social da ilha pelo falan
Em outras
palavras,
OCorrer, o fato de a
julgar os
que
contextos em

os falantes
centralizarem ditongos
ditongo
aye/aw/ parece revelar
sitivo em
um sentimento P
Cadd
relação à
ilha.

2ona rural, pescadores e


nados aponta para estes grupos:
faixa etária
de 31 a 45 anos. Resta saber se o sentimento
ulterior e unica, responsável pelos
nositivo é a tal força
índices de centralização. Se
isso for confirmado, será
altos
consequentemente demonstrada a interdependencia entre os

três fatores.
trilhar neste momento é uma classifi
O caminho a

cação dos informantes segundo avaliação


a por eles dada
neutra ou negativa? Explicitando0:
ao meio social: positiva,
sentimentos positivos em rela-
avaliação positiva significará
ao meio social; e negativa,
ção à ilha; neutra, indiferença
falantes entrevista-
desejo de viver no continente. Dos 65
em relação à ilha;
dos, 40 se expressaram positivamente
19 assumiram uma atitude neutra; e 6 afirmaram que pre-

feririam não residir ilha. Fazendo-se uma média dos


na
índices de centralização de cada falante, Labov chegou
Tabela 1.
aos seguintes resultados, apresentados na

TABELA 1 -Centralização e sentimento


em relação a Martha's Vineyard

Falantes Avaliação /ay/ /aw/


40 Positiva 63 62

19 Neutra 32 42

09 08
6 Negativa

(LABOV, 1972a, p. 39)

Em suma, os falantes que se expressam positivamente


mais (63 e 62); os
em relação meio
ao social centralizam
de atitude neutra o fazem de uma forma intermediária
(32
norma local
e42); e os de sentimento negativo rejeitam a
(09 e 08).
Vejamos agora um outro
exemplo que envolvee uma
avaliação socioestilística da variável pelos
informantestes.
A situação de teste: estilo e classe social
Na exposição
da metodologia feita no
capítulo 2 foi
dada muita ênfase à coleta do vernáculo:
situações natu-
rais de comunicação. Foram apresentadas
estratégias que
possibilitem ao pesquisador minimizar o efeito negativo
causado por sua participação direta na interação com o
informante. Apesar dessas estratégias e de todo o esforço
do pesquisador por conseguir que o informante se con-
centre em o que fala (e não no como), marcaro pre
sença em seu material partes do corpus que não represen-
tam o vernáculo. Como então deverá proceder o pesqui-
sador?
Uma tentativa será contrastar o vernáculo
primeira
no desem-
com e s e outro material e observar a diferença
o nome
penho dos falantes. A parte do vernáculo daremos
estilo de
de estilo espontâneo; ao material não vernáculo,
entrevista. Se a escolha entre variantes for da
natureza

estigmatizada ou de prestígio, o estilo entrevista bloqueará


a variante supostamente estigmatizada. Vejamos alguns
resultados sobre o uso da relativa com pronome-lembrete
(isto é, o uso "indevido'" de uma forma pronominal cor
referencial ao SN núcleo da relativa), uma séria candi-
a se-
data à estigmatização sociolinguística, exemplificada
guir:
casa".
Tem uma minha que ela adora ficar em
amiga de
Essa variante será contrastada com a relativa-padrão,
Ob-
prestigio, em que o pronome-lembrete não aparece.
serve os resultados expostos na Tabela 2.
TABELA 2 - Efeito estilistico sobre o uso de
relativas com pronome-lembrete

Espontâneo Entrevista Total


+Pronome-lembrete

(Estigmatizada) 156 6 162


(10,6%) (2.6%)
- Pronome-lembrete

(De prestígio) 1316 222 1 358

Total 1 472 228 1 700


(TARALLo, 1983, p. 134)

Fica claro, portanto, que a relativa não padrão com pro-


nome-lembrete é, de certa forma, evitada no estilo entre-
vista. O próximo passo que você deverá tomar é verificar
se essa diferença estilística é obedecida
pelos grupos socio-
econômicos incluídos em sua amostra. O mesmo
estudo
sobre relativas no português falado de São Paulo
para as seguintes percentagens de uso de
aponta
brete ao se cruzarem, no pronome-lem-
campo de batalha, estilo e classe
social:

TABELA 3 - Percentagem de uso


de
de acordo com estilo e pronome-lembrete
classe social
Espontâneo Entrevista
Classe baixa
12,2%
Classe média
8,9%
2,0%
Classe alta 7,6 %
3,1%
1,6%
(TARALLo, 1983, p. 134)
Ou seja, quando lida
uso Social da
variante:
verticalmente, tabela reflete oo
essa
favorece o uso decrescentemente,
da relativa a classe
baixa
nente, a tabela não
padro; lida horizontal-
padrão;
mantém nos três demonstra horizontal-
que a diferença estilística se
grupos sociais
estilistico sobre o uso de
2 - Efeito
TABELArelativas com pronome-lembrete

Espontaneo Entrevista Total

162
P r o n o m e - l e m b r e t e

156 6
(Estigmatizada)

(10.6%) (2.6%)
- Pronome-lembrete

1 316 222 1358


(De prestigio)
1 472 228 1 700
Total
(TARALL0, 1983, p. 134)

Fica claro, portanto, que a relativa não padrão com pro


nome-lembrete é, de certa forma, evitada no estilo entre-
vista. O próximo passo que você deverá tomar é verificar
se essa diferença estilística é obedecida pelos grupos socio-
economicos incluídos em sua amostra. O mesmo estudo
sobre relativas no português falado de São Paulo aponta
para as seguintes percentagens de uso de pronome-lem-
brete ao se cruzarem, no campo de batalha, estilo e classe
social:

TABELA 3 - Percentagem de uso de


pronome-lembrete
de acordo com estilo e classe social

Espontâneo Entrevista
Classe baixa 12,2%
Classe média 2,0%
8,9% 3,1%
Classe alta
7.6% 1,6%
(TARALLO, 1983, p. 134)
Ou
Ou seja, q
seja, quando lida verticalmente, essa tabela
usO SOcial da variante: reflete o
favorece o uso da decrescentemente, a classe baixa
relativa
mente, a tabela não padrão; lida horizontal-
mantém nos três demonstra
prungr
que a diferença estilística se
TABELA 2 - Efeito estilistico sobre o uso de
relativas com pronome-lembrete

Espontáneo Entrevista Total


+Pronome-lembrete

(Estigmatizada) 156 6 162


(10,6%) (2.6%)
- Pronome-lembrete
(De prestigio) 1316 222 1358

Total 1 472 228 1700


(TARALLo, 1983, p. 134)

Fica claro, portanto, que a relativa não padrão com pro-


nome-lembrete é, de certa forma, evitada no estilo entre-
vista. O próximo passo que voc deverá tomar é verificar
se essa diferença estilística é obedecida pelos grupos socio-
econômicos incluidos em sua amostra. O mesmo estudo
sobre relativas no portugues falado de São Paulo aponta
para as seguintes percentagens de uso de pronome-lem-
brete ao se cruzarem, no campo de batalha, estilo e classe
social

TABELA 3 - Percentagem de uso de


pronome-lembrete
de acordo com estilo e classe social

Espontâneo Entrevista
Classe baixa 12,2%_ 2.0%
Classe média 8,9 % 3.1%
Classe alta 7,6 % 1.6%
(TARALLo, 1983, p. 134)
Ou seja,
quando lida verticalmente, essa tabela reflete o
uso social da variante: decrescentemente, a classe baixa
favorece o uso da relativa não
padrão; lida horizontal-
nente, a tabela demonstra que a diferença estilistica se
mantém nos três aru
Além desses dois parämetros
nodem
estilisticos, outros

ser levados em consideraçao.Voce poderá, por exemplo,


seus informantes
a situação experimentol
uma
submeter
os testes sociolinguísticos. Isto é, ao seu estudo, tal como
vocé estará acres
concebido e elaborado até o momento,
centando a terceira dimensão: a avaliação da variante
pelos informantes. A situação de testes Ihe propiciará um
estilo ainda mais elaborado, mais refletido. Resumindo,
seu projeto de pesquisa é tridimensional: 1. seu conheci-
mento da comunidade e seu contato com os informantes o
levará, ainda intuitivamente, ao estabelecimento das célu-
las externas, dos fatores condicionadores não linguísticos
2. a partir da análise de seu material, do contraste entre
vernáculo e não vernáculo gravado em suas fitas, você che-
gará à segunda dimensäo: a primeira projeção sociolin-
guística das variantes estudadas; 3. ao submeter seus infor
mantes a testes, você estará definitivamente embutindo as
variantes no meio social em que elas coexistem.
Os testes diferirão segundo a natureza da variável.
Para os estudos de variável
testes de
fonológica você poderá
montar
leitura, de pares
mínimos, ou mesmo de preenchi
mento de lacunas. Por
dos ditongos exemplo, se você estudar a reduçao
/ey/ e /ow/ em
mente denominado português (fenômeno usual-
monotongação),
informantes para lerem uma lista de
poderá pedir
pedir aa seus
seus
tem "ameixa",
"besteira", palavras em que cons
derá estabelecer "couro", "estouro" etc.; ou
pares mínimos, como "coro" e po
por exemplo, ou ainda criar um texto "couro",
preenchidas por palavras que com
dada. Independentemente da contenham alacunas a serem
variável estu-
forma dos
pensar em
montá-los com um testes, você deverá
os testes serão ou
de duplo objetivo
recepção ou de em
mente
o que distingue um do outro! produção. Vejamos
Além desses dois parâmetros estilísticos, outro
utros podem
ser levados em consideração. Você poderá, por
submeter seus informantes a uma situação experimenta exemplo,
os testes sociolinguisticos. Isto e, ao seu estudo, tal cam
concebido e elaborado até o momento, você estará acre
centando a terceira dimensão: a avaliação da variante
pelos informantes. A situação de testes Ihe propiciará um
estilo ainda mais elaborado, mais refletido. Resumindo,
seu projeto de pesquisa é tridimensional: 1. seu conheci-
mento da comunidade e seu contato com os informantes o
levará, ainda intuitivamente, ao estabelecimento das célu-
las externas, dos fatores condicionadores não linguísticos
2. a partir da análise de seu material, do contraste entre
vernáculo e não vernáculo gravado em suas fitas, você che-
gará à segunda dimensão: a primeira projeção sociolin-
guística das variantes estudadas; 3. ao submeter seus infor
mantes a testes, você estará definitivamente embutindo as
variantes no meio social em que elas coexistem.
Os testes diferiro
segundo a natureza da variável.
Para estudos de variável fonológica você
os
testes de leitura, de
poderá montar
pares mínimos, ou mesmo de preenchi-
mento de lacunas. Por
dos
exemplo, se você aestudar reduçao
ditongos /ey/ e /ow/
português (fenômeno usual
em
mente denominado
monotongação), poderá pedir a seus
informantes para lerem uma lista de
tem "ameixa", palavras em que cons
"besteira", "couro", "estouro"
derá estabelecer pares etc.; ou po
mínimos, como "coro" e
por exemplo, ou ainda criar
um texto
"couro,
com lacunas a
preenchidas por palavras que contenham a variável
serem
dada.
Independentemente da forma dos
testes, você
estu-
Densar em montá-los com um duplo deveráá
os testes serão ou de recepçao ou de objetivo em mente:
o que distingue um do outro! produção. Vejamos
Testes de percepçao versus
testes de produção

Como o próprio nome indica, no teste de percepção


você solicitará a seu informante que se manifeste em rela-
cão à aceitabilidade ou não de certas variantes.
figuemos esse teste com as relativas! Com base no enve-
Exempli-
lope de variação vOce criara uma bateria de relativas-pa-
drão e não padrão. Ao listar estas sentenças, não siga
qualquer ordem: evite queo informante reconheça aorga-
nização do teste. Misture as variantes entre si! No teste,
portanto, você incluirá:

Relativas-padrão
Eu tenho uma amiga que é ótima.
Eu tenho uma amiga que você conhece.
Eu tenho uma amiga com quem ele se encontrou
no Rio.
Eu tenho uma amiga cujo marido se mudou para
o Rio.

Relativas não padrão


1. Pronome-lembrete
Eu tenho uma amiga que ela é ótima.
Eu tenho uma amiga que você conhece ela.
Eu tenho uma amiga que ele se encontrou com

ela no Rio.
marido dela se mu-
Eu tenho uma amiga que o

dou para o Rio.

2. Cortadora
encontrou no
Eu tenho uma amiga que ele se

Rio.
Eu tenho uma amiga que o marido
se mudou
para o Rio.

Para cada tipo de relativa e para cada função sint

tica desempenhada, vocë


tera exemplo em sua
mais de um
bateria. A ordem de apresentaçao dessas sentenças deve
ser a mais variada possivel. Ate este momento da análise
voce já terá contrastado estilo espontäneo com entrevista.
Os resultados demonstraram que a classe média levemente
favorece o uso de pronomes-lembretes. Na situação de
teste você deverá esperar que a classe alta aceite relativas
não padrão menos do que a classe média. E os dados
apontam exatamente para a direção prevista. De 58 rela-
tivas-padrão a classe média avalia como aceitáveis 46, isto
é, 79,3%, enquanto a classe alta aceita 54 (93,1%). Con-
sequentemente, a classe média deverá avaliar relativas não
padrão positivamente em maior número do que a classe
alta. De 82 relativas não padrão incluídas no teste, a
classe média aceita 39 (47,6%), e a classe alta somente
24, isto é, 29,3%.
A partir desses resultados brutos você poderá ainda
refinar sua análise, comparando, por exemplo, qual das
duas variantes não padrão é a mais
estigmatizada. Ou
ainda, você poderá avaliar a força que a função sintática
tem em relação à
estigmatização ou não das variantes.
No caso específico das
relativas, é possível que a relativa
com cujo seja uma forma de
evitada pelos informantes. Mas
pedantismo, conscientemente
passemos agora ao teste
de produção!
O teste de produção consiste em mecanismos
levem o informante a construir a variável. que
Na tentativa
de produçãoda variável ele optará
por uma ou outra
variante. É essa escolha de variante que você
deverá com-
parar com os resultados obtidos na análise anterior: a
fase
ae denominamos segunda dimensäo. No caso de relatiuns
você poderá propor ao informante a
seguinte situação
Com as duas sentenças abaixo formule somente uma.
fazendo as devidas alterações:
menina é bonita.
Aquela Aquela menina é de São
Paulo."
Dessa situação de duas sentenças, o informante terá duas
opções: "Aquela menina que é de São Paulo é bonita"
vs. "Aquela menina que ela é de São Paulo é
bonita".
Ou seja, ou o informante usará a forma-padrão ou a não
padrão com pronome-lembrete. Para cada função sintá-
tica você influirá duas sentenças. De 36 diferentes
situa-
ções sugeridas nesse teste, a classe média construiu 27 rela-
tivas-padrão (75,0%) e a classe alta optou pela forma-
-padrão 34 vezes, isto é, 94,4%, o que confirma nova-
mente os resultados obtidos na
segunda fase da análise e
nos testes de percepção.
Uma vez estabelecidos os
parâmetros de situações
naturais de comunicação vs. situações experimentais, você
poderia ainda avaliar qual o tipo de valor atribuído a
essas variantes fora dematerial de análise. Como esse
seu
esquema de variação é normalizado dentro da comunidade
e até que ponto a estandardização ocorre? Que forças a
protegem? Você poderá acrescentar uma quarta dimensão
a sua análise.
Vamos a ela!

A variação e a normalização linguisticas


Dois pontos principais devem ter se firmado em voce
ate agora: 1. a língua falada é heterogênea e variável; 2.
a variabilidade da fala é passível de sistematização. A

ingua falada é, portanto, um sistema variável de regras.


Obviamente, a esse sistema de variação devem correspon
der tentativas de regularização, de
normaliz: ão. Como
grande estandarte dessa regularizaç: surge a
tal qual ensinada nas escolas. A
lingua lingua escrita
culada na escola e, em principio,
-padrão do portugués.
portuguesa
um reflexo
a ve
ma-
A implantação da norma-padrão traz
quencia imediata a unidade da lingua nacional.como
Nnse
conse-
tido, voce poderá investigar fontes de dados Nesse
t
sen-
por objetivo unificação
a da lingua nacional, que tenham
por exemp
0s meios de comunicação de massa: a
Ao ouvir um
linguagem da mod
programa de rádio, ao assistir a
um
grama de televisã0, ou ao ler um jornal, você pro-
observar
que, apesar de todos os trës procurarem refletir a
-padrão, a presença de traços variaveis da fala se faz
norma.
A quarta dimenso em sua analise sentir
consistirá, portanto, em
verificar até que ponto certos textos de media
a infiltração de variantes não permitem
padrão.
Como material básico de análise tome a
dos jornais: texto escrito. Selecione linguagem
a
seguir textos de
televisão, como documentários e
mesas-redondas, caracte-
rizados pela formalidade do discurso.
Ainda da televisão,
colete textos mais informais
missões de eventos simplificados, como trans-
e

esportivos,
novelas. Apesar da diversidade programa
de auditório e
do material, há elementos
que os
distinguem binariamente. Por exemplo, o texto de
jornal e o texto de
renciam por ter sido
documentários e noticiários se dite
o primeiro
segundo, escrito para ser falado.escrito para ser lido, e
A informalidade do
discurso esportivo
deve-se, principalmente, à
de
existente entre o
acontecimento
simultaneida
da narração. narrado e o monmeu ento

Com esse
tipo de
preocupação
rla
observar o
em mente,
voCe
po
comportamento
ção dentro desse de seu envelope de varia
material So
de regularização, de
regularização normalização.
der tentativas
C
grande
estandarte dessa surge a lingua Como
tal qual ensinada
nas escolas. A escrita
língua portuguesa
culada na escola e,
em principio, um
da
veve
reflexo
-padrão do portugues. norma-
A implantação da norma-padrão traz como
conse
imediata a unidade da lingua nacional. Necco
guencia sen-
tido, voc poderá investigar fontes de dados que
tenham
por objetivo a unificação da lingua nacional, por exemnin
0s meios de comunicação de massa: a linguagem da media.
Ao ouvir um programa de rádio, ao assistir a um pro-
grama de televisäo, ou ao ler um jornal, você observará
que, apesar de todos os trës procurarem
refletir a norma-
padrão, a presença de traços variáveis da fala se faz sentir.

A quarta dimensão em sua análise consistirá, portanto, em


verificar até que ponto certos textos de media permitem
a infiltração de variantes não padrão.
Como material básico de análise tome a linguagem
escrito. Selecione a seguir textos de
dos jornais: texto
televisão, como documentários e mesas-redondas, caracte
formalidade do discurso. Ainda da televisao,
rizados pela
como trans
colete textos mais informais e simplificados,
e
missoes de eventos esportivos, programa de auditoro
novelas. Apesar da diversidade do material, há elementos
o texto de
que os distinguem binariamente. Por exemplo,
Jornal e o texto de documentários e noticiários S
lido.
enciam por ter sido o primeiro escrito para .". do
informalidade
segundo, escrito para ser falado. A s i m u l t a n e i d a

aiscurso esportivo deve-se, principalmente, à e o


m o m e n t o

de existente entre o acontecimento narrado


da narração.
voce poa
Com esse tipo de preocupação em m
a observar o comportamento de seu envelop. da
inicia
ao dentro desse fases
material. Se nas tres
variante tiver demonstrado sua
carga estigma
análise uma
no texto de media (veiculado pela levi-
tizad. também
D e l o rádio ou pelo jornal), a tendencia maior será
l a , No caso das orações relativas, a variante comn
evitá-la.
aronome-lembrete provou Ser a forma estigmatizada pela
comunidade. A variante cortadora, por outro lado, de-
monstrou gozar do prestigio sociolinguístico da comunida-
O estudo quantitativo do uso das variantes nos diver-
de.
sOs textos Ihe dará o indice de infiltração permitido e
tolerado pelos órgäos normalizadores da fala. A Tabela
4, a seguir, coloca a percentagem de uso de três variantes
relativas (uma padrãoe duas no padräão) de acordo com
o tipo de texto de media.
A tabela 4 aponta, entre outros resultados, que
que
a lingua escrita dos jornais é o texto mais intolerante à
infiltração de formas não padrão, típicas da língua falada.
Os textos de documentário e mesa-redonda, apesar de re-
forçarem a variante-padrão, admitem, ainda que em escala
reduzida, a entrada de variantes não padrão, uma vez que
a situação de enunciado é de
veiculação oral. Mas são
exatamente os textos típicos de discurso mais informal
(izante) que permitem a infiltração das variantes não
padrão: a transmissão de acontecimentos esportivos, os
programas de auditório e as novelas.
Um resultado ainda mais
importante:
das duas for-
mas não padrão, a segunda e a terceira fase da análise
haviam revelado a
estigmatização da relativa com prono-
me-lembrete. Dessas duas variantes, natural será
que a
relativa cortadora
seja mais tolerada pelos órgãos regula-
dores. Observe na Tabela 4
que, mesmo nos textos mais
permissivos, a frequência de infiltração da relativa corta-
dora é mais alta. Na figura 2 você
encontrará
mesmas
as
percentagens da Tabela 4 contrastadas com o uso da-
quelas variantes na
língua falada.
relativas em textos de media

Jornal Documentário Mesa-redonda Esporte Auditório Novela


Padrão 135 218 126 95 77
(100,0%) (98,2%) 315
(97,7%) (91,3%) (84,6%) (84,7%)
Lembrete 3 3 5 21
(2,3%) (2,9%) (5,5%)
Cortadora (5,6%)
4
6 9
(1,8%) 36
(5,8%) (9,9%) (9,7%)
(TARALLO, 1983, p. 151)
FIGURA 2 - Gráfico do uso de três variantes
relativas em textos de media
Padrio
100 Pronome-lembrete
90 sCortadora
80

70

60

Olo 50
40

30

20

10

Mesa Esporte Auditório Novela Lingua


Jornal Documen redonda falada
tário
(TARALLo, 1983, p. 152)

Gramática e estilo

Fica, portanto, demonstrado neste capítulo que


a

estrutura da língua pode ser correlacionada ao seu


uso e

que os padrões do último podem ser objetivamente


me-

didos, levando à diferenciação entre as escolhas que


o
Por
falante efetivamente faz e as que ele poderia fazer.
deveriam incluir a
conseguinte, os modelos de gramática
comunidade de
noçao de uso linguístico e caracterizar a
socioestilísticos.
Tala através de seus traços referenciais e
Tal conceito amplificado de gramática abrange tanto
a

forma (estrutura) quanto a substância (uso). A lingua-


um outro
gem de media, por exemplo, é simplesmente
como
canal linguístico: substância com total autonomia
62

veiculo de linguagem. A gramatica com esse novo sentido


e caracterização se encontra totalmente à disposição do
do
Nesse caso, o estilo é parte integrante da
falante! da ga
mática
Assim também é a classe social, a etnia, o sexo,
a
faixa etária do falante. E somente através da correlacao
entre fatores linguisticos e nao linguisticos que voc ch
gará a um melhor conhecimento de como a lingua é usada
che
e de que é constituída. Cada comunidade de fala é única
cada falante é um caso individual. A partir do estudo de
várias comunidades, no entanto, vocë chegará a um ma-
crossistema de variação: os resultados de vários estudos
começarão a lhe dar pistas para estudos posteriores. Essas
pistas serão suas armas para outros combates maiores. O
fato de a classe média baixa hipercorrigir em direção à
classe alta é um dado já devidamente demonstrado em
vários estudos. A colocação da mulher como
propulsora
de variantes conservadoras também
já encontra eco em
muitos estudos. Também a classificação
de variantes em
estereótipos, marcadores e indicadores linguísticos já foi
demonstrada em várias comunidades de fala.
Dos dois
exemplos de variação apresentados neste
capitulo a centralização dos ditongos em Martha's Vine-
yard é um exemplo de indicador
do linguístico; as relat1vas
portugus falado de São Paulo são, por outro lado, um
caso de marcador linguístico. As duas
variantes não se
manifestam a nível de
rença entre
consciência na comunidade; ala
asduas está no fato de
variação estilística. Como marcadores permn
uma variante exemplo de estereótipo, procu
publico. Em estigmatizada (ou não) que seja a omií
Estado de Sãosuma, pense no /r/ caipira do interiord a0
Paulo.
E
agora, para o
variantes lutando no próximo capítulo! Você presenciou
passado e o momento sincrônic
onico. Resta invest
ar o

possível futuro dessas atalha!


adversárias d

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