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Antidepressivos
Versão original publicada na obra Cordás TA, Moreno RA. Condutas em psiquiatria. Consulta rápida.
Porto Alegre: Artmed; 2008.
A depressão é considerada uma doença de bom prognóstico, apesar da propensão à recorrência e à
cronicidade. Entretanto, de 25 a 45% dos pacientes tratados com medicação antidepressiva não
conseguem atingir remissão.1 Um terço dos pacientes apresentam-se cronicamente sintomáticos2 e 50%,
com depressão maior, necessitando de tratamento adicional.3
Os antidepressivos foram descobertos casualmente. No início da década de 1950, investigadores notaram
que pacientes com tuberculose apresentavam elevação prolongada do humor quando tratados com
iproniazida, um inibidor da monoaminoxidase (IMAO) prescrito como tuberculostático. A iproniazida
mostrouse ineficaz no tratamento da tuberculose, mas seu impacto no humor levou a alguns dos primeiros
estudos duplo-cegos em psicofarmacologia, demonstrando que os IMAOs eram eficazes na depressão. As
observações biológica e farmacológica de que os IMAOs eram antidepressivos e de que a
monoaminoxidase degradava a noradrenalina e a serotonina tornaram-se a pedra angular da teoria
monoaminérgica da depressão.4
Também foi ao acaso a descoberta posterior de que a imipramina, investigada inicialmente como
tratamento para esquizofrenia, elevava o humor, apesar de não ter ação antipsicótica. A descoberta dos
antidepressivos e sua utilização na prática clínica trouxeram um avanço importante no tratamento e no
entendimento de possíveis mecanismos subjacentes aos transtornos depressivos,1,4 o que tornou a
depressão um problema médico passível de tratamento, semelhante a outras doenças, como o diabete e a
hipertensão arterial.
Até a década de 1980, havia duas classes de antidepressivos: os tricíclicos (ADTs) e os inibidores de
monoaminoxidase (IMAOs). Embora muito eficazes, essas drogas apresentavam efeitos colaterais
indesejáveis, causados pela inespecificidade de sua ação farmacológica, e eram potencialmente letais em
casos de superdosagem. Nas últimas duas décadas, surgiram novas classes de antidepressivos a partir da
pesquisa de moléculas desprovidas dos efeitos colaterais dos heterocíclicos. Os novos antidepressivos
diferem dos clássicos ADTs e IMAOs, irreversíveis pela seletividade farmacológica, modificando e
atenuando os efeitos colaterais.4 Além disso, apresentam um perfil reduzido de interações
medicamentosas, constituindo importantes opções no tratamento de episódios depressivos.
O objetivo do tratamento antidepressivo é a remissão dos sintomas, o que diminui o risco de recorrência,
melhora a qualidade de vida, melhora a capacidade funcional e indica um bom prognóstico.5,6
Princípios gerais do tratamento antidepressivo
O tratamento da depressão é dividido em três fases (Fig. 5.1)7: aguda, de continuação e de manutenção. A
fase aguda visa à remissão dos sintomas (ausência de sintomas ou sinais para preencher o diagnóstico de
transtorno) e ao início da recuperação do funcionamento psicossocial. Sua duração varia de 6 a 12
semanas, e o paciente assintomático por seis meses é considerado como recuperado do episódio atual. A
fase de continuação visa à prevenção de recaídas (retorno dos sintomas do episódio índice). Sua duração
varia de 4 a 9 meses. O tratamento de manutenção está indicado para aos pacientes com grande risco de
recorrência ao longo da vida: depressões crônicas (duração acima de dois anos), episódios graves (com
tentativas de suicídio ou com sintomas psicóticos), depressões resistentes a tratamento (mais de dois
episódios em dois anos), depressões recorrentes (três ou mais episódios ao longo da vida) e depressão na
velhice (acima dos 65 anos).8 Deve-se estender o tratamento por um ou mais anos e, em alguns casos, este
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Figura 5.1
As fases do tratamento da depressão. (Adaptada de Kupfer7)
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Tabela 5.1
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Quadro 5.1
Manejo da depressão resistente a tratamento (DRT)
Em casos de DRT, recomenda-se a reavaliação psiquiátrica e médica, com objetivo de
identificar comorbidades clínicas e/ou psiquiátricas (Quadro 5.2).8,9 A avaliação psiquiátrica deve incluir a
cronologia dos sintomas, sua duração e a resposta aos tratamentos anteriores. O erro diagnóstico entre
depressão unipolar e bipolar contribui para resposta pobre ao tratamento. Exames clínicos como
hemograma, avaliação hepática e renal, ECG, teste de gravidez (quando for o caso) e exames de eletrólitos
e de hormônios tireoidianos são necessários. Muitas vezes, o paciente abandona o tratamento na fase
aguda, e é importante lembrá-lo de riscos e de benefícios da medicação, bem como do curso da doença
depressiva, visando a aumentar a adesão ao tratamento.
Algumas estratégias podem ser utilizadas para aumentar a eficácia antidepressiva em pacientes com
resposta parcial. Uma delas é aumentar a dose do antidepressivo em uso (algumas vezes em níveis
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superiores aos sugeridos na posologia, conforme tolerabilidade e eficácia). Para atingir nível plasmático
adequado em metabolizadores rápidos, é imperativa a prescrição de doses adequadas. Doses baixas
podem produzir efeito serotoninérgico específico, enquanto doses altas promovem ação dual, como se
observa com a venlafaxina. O aumento gradual da dose inclui titulação de 50 a 100% da dose a cada 3 a 7
dias, dependendo da resposta e dos efeitos adversos. Recomenda-se aguardar, no mínimo, quatro semanas
para avaliar a eficácia da substância. Em caso de não resposta ou de resposta insatisfatória, recomenda-
se trocar o medicamento por outro antidepressivo de outra classe farmacológica. Outras estratégias
incluem a adição de um antidepressivo de outra classe ou a potencialização do efeito antidepressivo na
fase aguda do tratamento de pacientes que não responderam satisfatoriamente à monoterapia. As
substâncias mais estudadas na potencialização são o lítio e a triiodotironina (T3). Os antipsicóticos atípicos
também têm se mostrado eficazes na potencialização, com diminuição da ansiedade e da agitação.3,9,21,22
Quadro 5.2
Classificação
Os antidepressivos podem ser classificados de acordo com sua estrutura química ou com suas
propriedades farmacológicas. A estrutura cíclica (anéis benzênicos) caracteriza os antidepressivos
heterocíclicos (tricíclicos e tetracíclicos). Os tricíclicos (ADTs) se dividem em dois grandes grupos: as aminas
terciárias (imipramina, amitriptilina, trimipramina e doxepina) e as aminas secundárias
(desmetilimipramina, nortriptilina e protriptilina). Maprotilina e amoxapina são antidepressivos
tetracíclicos. As características farmacológicas da maprotilina se assemelham às dos ADTs, e essa droga
será abordada dentro dessa classe de antidepressivos. Atualmente, os antidepressivos são classificados,
preferencialmente, em função da ação farmacológica, classificação mais útil na prática clínica, porque os
antidepressivos de nova geração não compartilham estruturas comuns. Podemos dividi-los de acordo com
o mecanismo de ação proposto, aumentando a eficiência sináptica da transmissão monoaminérgica
(particularmente de neurônios noradrenégicos e/ou serotoninérgicos) (Fig. 5.2).13,23,24 Medicamentos
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Figura 5.2
Seletividade de inibição da recaptação in vitro de antidepressivos. (Adaptada de Bezchlibnyk-
Butler; Jeffries25; Feighner26; Kaplan; Sadock24.)
Mecanismo de ação
O mecanismo de ação dos IMAOs foi pouco estudado e ainda não está totalmente esclarecido.28 Sabe-
se que a atividade da enzima monoaminoxidase (MAO) está inibida. Os subtipos da MAO, A e B, estão
envolvidos no metabolismo de serotonina, noradrenalina e dopamina. Isocarboxazida, fenelzina e
tranilcipromina são IMAOs não seletivos que se ligam de forma irreversível às MAOs. A redução na
atividade da MAO resulta em aumento na concentração desses neurotransmissores nos locais de
armazenamento no sistema nervoso central (SNC) e no sistema nervoso simpático. O incremento na
disponibilidade de um ou mais neurotransmissor tem sido relacionado à ação antidepressiva dos IMAOs. A
inibição não seletiva dos IMAOs fenelzina, isocarboxazida e tranilcipromina resulta em subsensibilização de
receptores a-2 ou ß-adrenérgicos e de serotonina. Possivelmente, as mudanças nas características dos
receptores produzidas pela administração crônica de IMAOs correlacionam-se melhor com a atividade
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Tabela 5.2
Síndrome serotoninérgica
Pode ocorrer na associação com outros antidepressivos (amitriptilina, clomipramina, doxepina,
imipramina, ISRSs ou trazodona). Essa síndrome também pode ocorrer na substituição entre substâncias,
quando não se observa período de wash-out adequado para a total eliminação da substância. Foram
descritas alterações da cognição e do comportamento (confusão, hipomania, agitação), do sistema nervoso
autônomo (diarreia, febre, diaforese, efeitos na pressão arterial, náuseas e vômitos) e do sistema
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Tabela 5.3
Crise hipertensiva
Os sintomas da crise hipertensiva decorrentes da interação de IMAOs com substâncias ricas em tiramina
ou em aminas biogênicas são cefaleia intensa, palpitações, dor torácica intensa, dilatação das pupilas,
taquicardia ou bradicardia e aumento da fotossensibilidade. Pode haver aumento da sudorese, febre ou
sensação de frio, pele viscosa, náusea ou vômitos e rigidez da nuca. Existem relatos de hemorragia
intracraniana (algumas vezes fatal) em consequência das crises hipertensivas. Palpitação ou cefaleia
frequente constituem sintomas prodrômicos da reação hipertensiva.9,30
Interações medicamentosas
Na Tabela 5.4 estão descritas as principais interações entre IMAOs e outros medicamentos.
Tabela 5.4
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Antidepressivos tricíclicos (ADTs)
Farmacocinética
Os ADTs são bem absorvidos pelo trato gastrintestinal e metabolizados em grande parte (55 a 80%) pelo
efeito de primeira passagem no fígado. O pico plasmático é atingido mais rapidamente (1 a 3 horas) por
aminas terciárias (como a amitriptilina) do que por aminas secundárias (desipramina e nortriptilina), que
levam de 4 a 8 horas para atingi-lo. São altamente lipofílicos, concentrando-se principalmente no
miocárdio e nos tecidos cerebrais, e ligam-se a proteínas plasmáticas. Muitos ADTs apresentam
farmacocinética linear, isto é, mudanças na dose levam a alteração proporcional no nível plasmático. A vida
média de eliminação varia (p. ex., imipramina de 4 a 34 horas, amitriptilina de 10 a 46 horas, clomipramina
de 17 a 37 horas e nortriptilina de 13 a 88 horas), e o estado de equilíbrio é atingido em cerca de 5 dias. A
farmacocinética pode variar entre os sexos, e a concentração pode diminuir antes da menstruação.18,25
Mecanismo de ação
O mecanismo de ação comum aos antidepressivos tricíclicos em nível pré-sináptico é o bloqueio da
recaptação de monoaminas, principalmente norepinefrina (NE) e serotonina (5-HT) e, em menor
proporção, dopamina (DA). Aminas terciárias inibem preferencialmente a recaptação de 5-HT, e aminas
secundárias, a de NE (Tab. 5.1). Atualmente, considera-se não haver diferenças significativas quanto à
seletividade do bloqueio da recaptação pré-sináptico. A atividade pós-sináptica varia de acordo com o
sistema neurotransmissor envolvido e, geralmente, é responsável pelos efeitos colaterais. Os ADTs
bloqueiam receptores muscarínicos (colinérgicos), histaminérgicos de tipo 1, a-2 e ß-
adrenérgicos, serotoninérgicos diversos e, mais raramente, dopaminérgicos. Essas ações não se
correlacionam necessariamente com efeito antidepressivo, mas com efeitos colaterais (Tab. 5.5).9,18,19 O
bloqueio do receptor 5-HT1 contribuiria para o efeito terapêutico. Contudo, essa ação aguda dos
antidepressivos no sistema de transmissão monoaminérgica, por si só, não explicava a demora para o início
da ação antidepressiva, observável clinicamente após duas semanas de uso. Estudos recentes das vias
receptoras pós-sinápticas e de mensageiros secundários, assim como da expressão genética, podem
desempenhar papel importante na elucidação das mudanças que ocorrem a longo prazo no
funcionamento cerebral resultante da utilização crônica de antidepressivos. Embora o mecanismo de ação
exato não tenha sido totalmente elucidado, sabe-se que os ADTs promovem, agudamente, aumento na
eficiência da transmissão monoaminérgica (e, possivelmente, GABAérgica), envolvendo os sistemas
noradrenérgico e serotoninérgico, por meio do aumento da concentração sináptica de norepinefrina e de
serotonina por bloqueio da recaptação. Cronicamente, os ADTs dessensibilizam
receptores ß-1 adrenérgicos, serotoninérgicos 5-HT2 e, provavelmente, 5-HT1A no sistema nervoso central.
Sistemas mensageiros secundários estão envolvidos nessas mudanças.31 AMP cíclico, cálcio, diacilglicerol e
fosfolípides estimulam a fosforilação de quinases proteicas, possivelmente envolvidas na síntese de
catecolaminas, e podem aumentar a ligação de proteína G a receptores subsequentemente
dessensibilizados, exercendo ação reguladora no receptor. Os hormônios (como estradiol e progesterona)
são substâncias também envolvidas na alteração da sensibilidade ou no número de receptores pelos ADTs,
interferindo na capacidade de ligação da imipramina ao hipotálamo. A ação antienurética do hidrocloridro
de imipramina não está estabelecida. Acredita-se que esteja associada com o efeito anticolinérgico da
imipramina. O efeito antiobsessivo da clomipramina talvez se correlacione com a inibição da recaptação de
serotonina e com a consequente subsensiblização compensatória dos subtipos de receptores
serotoninérgicos. No transtorno do pânico, os estudos sugerem prejuízo no funcionamento do sistema
nervoso autônomo, o que causa liberação excessiva de norepinefrina do locus ceruleus. Pensa-se que os
ADTs diminuam a taxa de disparo do locus ceruleus por regulação na função de receptores a-2 e ß-
adrenérgicos e no turnover de noradrenalina. A ação antinevrálgica dos ADTs não está necessariamente
relacionada à melhora da depressão. A analgesia pode ser mediada por mudanças na concentração central
de monoaminas, particularmente serotonina, e também pelo efeito direto ou indireto dos ADTs nos
sistemas opioides endógenos. Na úlcera péptica, os ADTs são eficazes na melhora da dor. Eles ajudam na
cicatrização completa pela sua capacidade de bloquear receptores H2 nas células parietais e pelo seu
efeito sedativo e anticolinérgico. Na bulimia nervosa, parece haver efeito independente da melhora da
depressão. O mecanismo de ação envolvido na incontinência urinária pode incluir atividade anticolinérgica,
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Tabela 5.5
Síndrome de descontinuação
Em um pequeno grupo de pacientes, a interrupção abrupta de ADTs, principalmente após tratamento
prolongado, é acompanhada de uma síndrome de descontinuação que ocorre nas primeiras 48 horas após
a suspensão do antidepressivo. Os sintomas podem estar relacionados a um efeito rebote de
hiperatividade colinérgica. Clinicamente, a síndrome se caracteriza por sintomas de mal-estar geral,
alterações gastrintestinais (náuseas, vômitos, diarreia), ansiedade, irritabilidade, insônia, sonhos vívidos,
movimentos parkinsonianos ou acatisia. Podem ocorrer ataques de pânico, arritmias cardíacas, delirium e,
menos frequentemente, agitação. Recomenda-se a diminuição gradativa da medicação ao longo de
algumas semanas. O esquema seguido no GRUDA consiste na retirada imediata de 50% da dose e de 25%
do restante a cada dois dias.20
Intoxicação (superdosagem)
Caracterizada por confusão, convulsões, alterações de concentração, sonolência grave, alargamento de
pupilas, alteração da frequência cardíaca, febre, alucinações, inquietação ou agitação, respiração curta ou
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Ø Quinidina: a associação com desipramina pode aumentar os níveis séricos e o risco de toxicidade.
Ø Reserpina: a reserpina depleta agudamente monoaminas intraneuronais. A associação pode levar a
efeitos colaterais como diarreia, vasodilatação cutânea ou mesmo sintomas maniformes. Recomenda-
se cuidado nesta combinação.
Ø Aminas simpatomiméticas: a administração de noradrenalina ou outras aminas simpatomiméticas em
pacientes recebendo ADTs pode levar a efeito sinérgico, aumentando o tônus simpático.
Antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs)
Os ISRSs (citalopram, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina e escitalopram) são o resultado de
pesquisa racional para encontrar medicamentos tão eficazes quanto os ADTs, mas com poucos problemas
de tolerabilidade e de segurança. Os ISRSs inibem de forma potente e seletiva a recaptação de serotonina,
resultando em potencialização da neurotransmissão serotoninérgica. Embora compartilhem o principal
mecanismo de ação, os ISRSs são estruturalmente distintos, com marcadas diferenças nos perfis
farmacodinâmico e farmacocinético. A potência da inibição da recaptação da serotonina é variada (Fig.
5.2), assim como a seletividade por noradrenalina e dopamina. Sertralina e paroxetina são os mais
potentes inibidores da recaptação. A potência relativa da sertralina em inibir a recaptação de dopamina a
diferencia farmacologicamente dos outros ISRSs. A afinidade por neurorreceptores, tais como sigma,
muscarínicos e 5-HT2c, também difere muito. Mais ainda, a inibição da sintetase óxido-nítrica pela
paroxetina, e possivelmente por outros ISRSs, pode ter efeitos farmacodinâmicos significativos. Citalopram
e fluoxetina são misturas racêmicas de diferentes formas quirais, que possuem perfil farmacodinâmico e
farmacocinético variados. Fluoxetina possui metabólito de ação prolongada e farmacologicamente ativo.
Os ISRSs também apresentam perfil farmacocinético variado, que inclui meia-vida, farmacocinética linear
versus não linear, efeito da idade no clearance e no seu potencial de inibir isoenzimas metabolizadoras de
medicamentos do citocromo P450 (CYP). Essas diferenças farmacológicas e farmacocinéticas sustentam as
diferenças clínicas cada vez mais importantes entre os ISRSs.5,28
Farmacocinética
Embora todos os ISRSs apresentem o mesmo mecanismo de ação, as diferenças entre as estruturas
moleculares fazem com que os diferentes compostos apresentem perfis farmacocinéticos diversos. Todos
os ISRSs apresentam alta ligação proteica (fluvoxamina e citalopram em menor grau). A fluoxetina é a única
que apresenta metabólito com atividade clínica significativa (inibição da recaptação de serotonina e de
isoenzimas do citocromo P450), a norfluoxetina. A meia-vida prolongada da fluoxetina e da norfluoxetina e
o tempo necessário para se atingir o estado de equilíbrio apresentam significado clínico, como a maior
latência para o início da ação antidepressiva. As concentrações plasmáticas de sertralina e de citalopram
são proporcionais às doses administradas (farmacocinética linear), o que não ocorre com fluoxetina,
paroxetina e fluvoxamina, cuja farmacocinética não é linear. Esses ISRSs diminuem seu metabolismo por
ação inibitória dosedependente das isoenzimas do citocromo P450, o que significa que aumentos na dose
administrada de fluoxetina, paroxetina e fluvoxamina levam a aumentos desproporcionais nos níveis
plasmáticos e nas meias-vidas e, possivelmente, levam a efeitos colaterais.20,22,28,30
Os ISRSs são rapidamente absorvidos, sofrem menos efeito do metabolismo de primeira passagem e ligam-
se fortemente a proteínas plasmáticas. Todos (em menor proporção, a fluvoxamina) deslocam outras
drogas da ligação proteica, aumentando seu nível plasmático. Metabolizados primariamente pelo fígado,
todos os ISRSs afetam as enzimas metabolizadoras do citocromo P450 (em menor proporção, a sertralina)
e podem comprometer o metabolismo de outras drogas metabolizadas por esse sistema. Tem-
se demonstrado que fluoxetina e paroxetina diminuem seu metabolismo com o tempo. O pico plasmático
da sertralina aumenta 30% quando o medicamento é ingerido com alimentos, pela diminuição do
metabolismo de primeira passagem.
Efeitos colaterais
Em função de sua ação seletiva, os ISRSs apresentam perfil mais tolerável de efeitos colaterais, que são
diferentes entre os diversos medicamentos. De forma geral, os efeitos colaterais mais frequentemente
relatados são de trato gastrintestinal, de ativação do sistema nervoso central (agitação, ansiedade, insônia,
ciclagem para mania, nervosismo), de alterações do sono, de fadiga, de ordem neurológica (tremores,
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Tabela 5.6
Síndrome serotoninérgica
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Tabela 5.7
Antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de
serotonina e noradrenalina (ISRSNs)
Farmacocinética
Venlafaxina: É rapidamente absorvida, sua biodisponibinidade é de 45%, e a ingestão com alimentos
retarda, mas não compromete sua absorção. A liberação da venlafaxina da formulação de liberação
prolongada (XR) é controlada pela membrana celular e independe do pH. Embora a absorção da
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Milnaciprano: Os efeitos colaterais mais comumente observados são disúria, palpitações, hipotensão,
taquicardia, efeitos gastrintestinais (constipação, náusea, vômitos), boca seca, cefaléia, tremor, sudorese,
tonteira e nervosismo. A disúria é mais frequente com milnaciprano do que com ADTs. Recomenda-se
redução da dose em idosos e em pacientes com insuficiência renal, mas não em hepatopatas. Em
pacientes com disfunção renal, o medicamento se concentra devido à redução significativa do seu
clearance renal.
Duloxetina: Seus efeitos são constipação intestinal, boca seca, náusea, cefaleia, diarreia, vômito,
diminuição do apetite, perda de peso, cansaço, tontura e sonolência. Ocorrem também tremores,
sudorese, ondas de calor, visão borrada, anorgasmia, insônia, diminuição da libido, dificuldade de ereção e
de ejaculação. Há relatos de dificuldade em urinar (apenas no sexo masculino), de diminuição do apetite,
de fraqueza, de taquicardia, de tontura, de dilatação da pupila e de alterações visuais. Além desses, foram
registrados efeitos de eructação, gastrenterite, estomatite, calafrios, sensação de calor e/ou frio, mal-
estar, sede, aumento de peso, aumento da pressão sanguínea, alterações laboratoriais relacionadas à
função hepática, desidratação, rigidez e contração musculares, alteração do paladar, ansiedade, distúrbio
do sono, agitação, bruxismo, desorientação, além de aumento da frequência urinária noturna, bocejo,
suores noturnos, reação de sensibilidade à luz, rubor facial e extremidades frias.
Populações especiais e precauções
Venlafaxina18,19: Não há estudos controlados em gestantes. Estudos com ratos e coelhos, empregando
doses superiores às terapêuticas em até 12 vezes, não evidenciaram efeitos teratogênicos. Não se sabe se
a venlafaxina é excretada no leite materno, porém não foram relatados problemas a esse respeito. O uso
em pacientes com doenças cardiovasculares e hipertensão deve ser bem avaliado, uma vez que a indução
de elevação nos níveis da pressão arterial ou a hipotensão postural podem agravar condições pré-
existentes. O metabolismo da venlafaxina está alterado em pacientes com comprometimento hepático,
e deve-se considerar redução nas doses em até 50% no caso de comprometimento hepático grave ou
moderado. A excreção da venlafaxina pode ser alterada em pacientes com comprometimento renal.
Pacientes com comprometimento leve ou moderado devem receber 25 a 50% da dose. Pacientes em
hemodiálise devem receber 50% da dose, que deve ser administrada após a sessão de diálise.
Milnaciprano18,19: É conhecida a hipersensibilidade ao milnaciprano ou a outros componentes da
formulação. É contraindicado em pacientes com menos de 15 anos. Também é desaconselhado seu uso, na
falta de dados clínicos, em associação com inibidores não seletivos da MAO (IMAOs), com inibidores
seletivos da MAOB, digitálicos e agonistas 5HT1D (sumatriptano). Seu uso é contraindicado em casos de
hipertrofia prostática e outras disfunções geniturinárias. Embora a interação com álcool não tenha sido
evidenciada, recomenda-se evitar a ingestão de álcool, como com qualquer medicamento psicotrópico.
Um aumento maior da medicação pode ocorrer em idosos e em pacientes com insuficiência renal.
O milnaciprano deve ser prescrito com prudência nos seguintes casos:
Ø pacientes com insuficiência renal: a posologia deve ser reduzida, em razão do prolongamento da meia-
vida de eliminação;
Ø pacientes com história de dificuldade para a passagem da urina, notadamente em pacientes com
hipertrofia prostática e outros distúrbios geniturinários: devido ao componente noradrenérgico do
mecanismo de ação do milnaciprano, é necessária a monitoração de doenças miccionais;
Ø pacientes hipertensos ou cardiopatas: recomenda-se reforçar a vigilância clínica, uma vez que o
milnaciprano pode aumentar, discretamente, a frequência cardíaca em alguns pacientes;
Ø pacientes com glaucoma de ângulo estreito;
Ø pacientes com epilepsia ou história de epilepsia:esse medicamento deve ser usado com cuidado e
descontinuado em todos os casos em que ocorrerem convulsões.
Existem relatos de casos de hiponatremia em pacientes recebendo inibidores da recaptação de serotonina,
possivelmente devido a uma síndrome de secreção inadequada do hormônio antidiurético. Cuidados
especiais são recomendados com idosos, com pacientes em uso de diuréticos, ou outros medicamentos
que possam induzir hiponatremia, e com pacientes cirróticos ou desnutridos.
Com relação à gravidez e à lactação, por medida de precaução, é preferível não usar o milnaciprano
durante a gravidez, pois não existem informações suficientes sobre seus efeitos sobre o feto; como o
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Tabela 5.8
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Tabela 5.9
Inibidores seletivos da recaptação de noradrenalina (ISRNs)
Reboxetina8,20,31,33
A reboxetina foi o primeiro composto de uma nova classe de antidepressivos (inibidores da recaptação de
noradrenalina – ISRNs), estruturalmente semelhantes à viloxazina, a ser comercializado. Apresenta
atividade seletiva sobre a recaptação de noradrenalina, com atividade antagonista a-2. Não possui efeitos
significativos sobre receptores colinérgicos, histamínicos e a-1-adrenérgicos, ou na inibição da
monoaminoxidase, e seu efeito antidepressivo foi descrito inicialmente na década de 1980.
Farmacocinética. A reboxetina é absorvida pelo trato gastrintestinal e apresenta alta ligação à
glicoproteína a-1 plasmática. Atinge pico plasmático em 1,5 a 2,5 horas. Sofre metabolização hepática por
hidroxilação e por oxidação, principalmente. Não interage com isoenzimas do sistema citocromo P450.
Sua meia-vida é de 12 a 13 horas, e sua eliminação se dá pela urina (76% na forma inalterada e em
metabólitos) e pelas fezes (7 a 16%).33
Populações especiais e precauções. Quanto ao uso na gestação e na lactação, ainda não há dados. Em
pacientes com doenças cardiovasculares, a reboxetina pode levar a aumento de frequência cardíaca e a um
leve decréscimo na pressão arterial. Nesse caso, o medicamento deve ser usado com precaução. Em
pacientes idosos, não há estudos. Entretanto, pacientes com hipertrofia prostática podem sentir-se
especialmente incomodados pela retenção urinária. A meia-vida prolongada requer ajuste de doses, ainda
sem diretrizes definidas. A extensa metabolização hepática sofrida pela reboxetina sugere a necessidade
de ajustes de doses em pacientes hepatopatas, porém nesse caso também não há condutas definidas.20
Efeitos colaterais. Os efeitos colaterais mais significativos da reboxetina são taquicardia, impotência,
hesitação ou retenção urinária, insônia, sudorese excessiva, obstipação intestinal e boca seca. Em geral,
esses efeitos têm intensidade moderada, mesmo em doses acima de 8 mg/dia.20,31,33,37
Interações medicamentosas. A ausência de interação com as enzimas do citocromo P450 e a seletividade
da ação conferem à reboxetina baixo potencial de interações medicamentosas. Embora ainda não existam
estudos definitivos sobre o assunto, os já realizados demonstraram que a reboxetina não apresenta
interação farmacocinética com o lorazepam em indivíduos saudáveis, e também não se observou interação
farmacodinâmica (desempenho psicomotor ou cognitivo) com o álcool em estudo duplo-cego, que incluiu
número reduzido de pacientes.
Inibidores seletivos da recaptação de dopamina (ISRDs)
Bupropiona18,19,25,31
A bupropiona é um antidepressivo unicíclico, que teve sua comercialização retardada devido a pendências
acerca do risco de induzir convulsão, mas foi liberada quando ficou claro que esse risco é dose-
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dependente e tende a ocorrer em populações específicas. Em 1998, foi comercializada a formulação SR, de
liberação sustentada, podendo ser administrada duas vezes ao dia e com menor risco de convulsão. Já em
2003, a formulação XL aparece para ser administrada uma vez ao dia.
Farmacocinética. A bupropiona é rapidamente absorvida pelo trato intestinal, porém o metabolismo pré-
sistêmico elevado diminui sua biodisponibilidade. Esse medicamento e a hidroxibupropiona apresentam
alta ligação proteica (84 e 77%, respectivamente). A bupropiona cruza rapidamente a barreira
hematoencefálica e a placenta, sendo distribuída no leite materno. É extensivamente metabolizada
(inclusive com metabolização pré-sistêmica), e três de seus metabólitos apresentam alguma atividade,
segundo estudos em animais: a hidroxibupropiona (formada principalmente pelo citocromo P450 2B6),
com potência equivalente à bupropiona, a treoidrobupropiona e a eritroidrobupropiona, que são formadas
por hidroxilação e/ou redução e apresentam de um décimo à metade da potência da bupropiona.
Suameia-vida de distribuição é de cerca de 3 a 4 horas, e a meiavida de eliminação após dose única é de 14
horas; no estado de equilíbrio, a meia-vida é de 21 horas (podendo variar entre 12 e 30 horas). A meia-
vida de eliminação da hidroxibupropiona é de cerca de 20 horas. Os picos plasmáticos da bupropiona e da
hidroxibupropiona são de 1,5 e 3 horas, respectivamente, passando para o dobro quando em uso da
formulação de liberação prolongada. A eliminação renal é de 1% na forma inalterada; como metabólitos,
acima de 60% em 24 horas e acima de 80% em 96 horas. A eliminação fecal é de 10%, principalmente na
forma de metabólitos.31
Mecanismo de ação. Embora não seja completamente conhecido, o mecanismo de ação da bupropiona se
dá por meio de suas atividades noradrenérgica e dopaminérgica. A bupropiona aumenta a liberação de
noradrenalina corpórea, e é um fraco inibidor in vitro da captação neuronal de noradrenalina e de
dopamina, porém de relevância farmacológica. Sua ação inibitória da recaptação de dopamina é menor do
que a observada com sertralina. Entretanto, sua ação dopaminérgica é importante devido ao fato de os
níveis de ácido homovanílico, o metabólito primário da dopamina, diminuírem em pacientes que
respondem à bupropiona, mas não naqueles que não respondem. Nos últimos anos, sua ação
noradrenérgica ficou mais evidente. A hidroxibupropiona é seu metabólito ativo. A bupropiona não inibe a
monoaminoxidase e tem pouca afinidade pelo sistema serotoninérgico. Também não interage com
receptores histamínicos e colinérgicos, permitindo maior tolerabilidade.26,35
Populações especiais e precauções. Estudos adequados e bem controlados em humanos ainda não foram
realizados, porém sabe-se que a bupropiona passa rapidamente à placenta. Seu uso na gestação não é
recomendado.24 A bupropiona é distribuída para o leite materno, oferecendo risco potencial, como
convulsões, para o lactente. Em pacientes geriátricos acima de 60 anos, não há limitações ao uso de
bupropiona. No entanto, alterações metabólicas relacionadas à idade podem causar intolerância aos
efeitos colaterais, e alterações renais e hepáticas podem exigir redução nas doses prescritas. Em pacientes
com história de traumatismo craniano, tumores cerebrais, quadros cerebrais orgânicos ou alterações
eletroencefalográficas, o uso da bupropiona não é recomendado, em função do risco de convulsões. Em
doentes renais ou hepatopatas, a metabolização e a excreção da bupropiona podem ficar
alteradas. Sugere-se iniciar o tratamento com baixas doses e monitorar intensivamente o paciente. Na
anorexia e na bulimia, não é recomendado o uso dessa droga, pelo maior risco de convulsões.31
Efeitos colaterais. A bupropiona apresenta boa tolerabilidade. Entre os antidepressivos de nova geração,
apresenta o menor potencial de indução de efeitos colaterais e a menor incidência de descontinuação do
tratamento por intolerância.
Os efeitos colaterais mais frequentemente observados são agitação, ansiedade, rash cutâneo, diminuição
do apetite, boca seca e obstipação intestinal. Entretanto, o risco de indução de convulsões é maior do que
o de outros antidepressivos, e mais frequente com doses elevadas. A incidência de convulsões com a
forma de liberação prolongada é de 0,1% com doses de até 300 mg/dia e de 0,4% com doses acima de 400
mg/dia. Com o uso da forma de liberação imediata, o risco passa para 0,4% com doses entre 300 e 450
mg/dia, podendo aumentar até 10 vezes em doses entre 450 e 600 mg/dia.38 Para minimizar o risco de
convulsões, recomenda-se que cada dose do composto de liberação imediata não exceda 150 mg, e que do
composto de liberação prolongada a dose não exceda 200 mg. Deve-se observar intervalo de quatro horas
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entre as doses do composto de liberação imediata, e de oito horas entre as tomadas do composto de
liberação prolongada.
Intoxicação. Os efeitos clínicos da ingestão de doses elevadas de bupropiona são alucinações, diminuição
do nível de consciência, náuseas, vômitos, convulsões (em um terço dos casos) e taquicardia, que pode
evoluir para bradicardia e assistolia. O tratamento da intoxicação inclui medidas para diminuição da
absorção. Pacientes estuporosos ou comatosos devem ser entubados. Em seguida, deve-se realizar
lavagem gástrica e administrar carvão ativado a cada seis horas, se a ingestão ocorreu nas 12 horas
anteriores. Não se recomenda o xarope de ipeca para induzir vômitos pelo risco de convulsões. No caso de
convulsões, deve-se administrar benzodiazepínicos por via endovenosa. É fundamental monitorar o
eletrocardiograma e o eletroencefalograma por pelo menos 48 horas, bem como o equilíbrio eletrolítico
e ácido-básico em pacientes com estado de mal epiléptico. Medidas gerais de suporte, como diurese
forçada, diálise ou hemoperfusão, não são indicadas, pois a bupropiona e seus metabólitos apresentam
lenta difusão dos tecidos para o plasma.
Interações medicamentosas. As interações medicamentosas significativas estão descritas na Tabela 5.10.
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Tabela 5.10
Antidepressivo noradrenérgico e específico serotoninérgico
(NaSSA ou antagonista de a-2-adrenoreceptores)
Mirtazapina8,17,18,20
A mirtazapina é clinicamente relacionada com a mianserina, um medicamento largamente utilizado
durante anos na Europa. Embora tenha sido aprovada para o tratamento da depressão, possui outras
indicações.
Mecanismo de ação. A ação da mirtazapina se dá pelo aumento das atividades noradrenérgica e
serotoninérgica centrais. A mirtazapina é um antagonista de auto e heterorreceptores a-
2 adrenérgicos pré-sinápticose antagonista 5-HT2 e 5-HT3 pós-sináptico. Apresenta fraca afinidade pelos
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Tabela 5.11
Antidepressivo agonista de receptores melatoninérgicos
mt1 e mt2 e antagonista de 5ht2C
Agomelatina39,40
Flutuações circadianas na temperatura corporal, secreções endócrinas e outros parâmetros biológicos,
desorganização dos ritmos internos afetando fase, período ou amplitude têm sido efeitos comumente
descritos nos pacientes com depressão.
Isso sugeria que novos tratamentos direcionados a tais alterações teriam um potencial valor no manejo da
depressão. Devido ao fato de a melatonina ser conhecida como uma chave neuro-hormonal para a
sincronização de ritmos biológicos, possíveis alterações em sua secreção foram investigadas em pacientes
depressivos. Troca de período e mudanças na amplitude do ritmo da secreção de melatonina foram
associadas à depressão. Consequentemente, levantou-se a interessante possibilidade de que um
medicamento capaz de mimetizar os efeitos da melatonina e que facilmente atravessasse a barreira
hematoencefálica seria benéfico para ressincronizar os ritmos alterados e para exercer efeito
antidepressivo no caso de haver relação entre tais alterações e depressão. Essa hipótese levou à síntese da
agomelatina, um agonista com alta afinidade pelos receptores clonados MT1 e MT2 de melatonina
humana e que também demonstra propriedades antagonistas nos receptores 5-HT2c.39,40
A agomelatina demonstrou ter um perfil favorável de efeitos adversos. Os mais comuns foram cefaleia,
náusea e fadiga (Tab. 5.12).
Considerações finais
O avanço da pesquisa em psicofarmacologia de antidepressivos vem oferecendo aos pacientes substâncias
com perfis farmacocinéticos, com tolerância e com interações com outras drogas bastante diferentes entre
si. Apesar disso, os mecanismos de ação propostos para cada uma delas permanecem vinculados às teorias
de monoaminérgicos, de aumento da oferta de neurotransmissores na fenda sináptica e de
subsensibilização de receptores pós-sinápticos. A seletividade de ação não constitui fator único para a ação
dos antidepressivos, porque, a partir da ligação da substância com o receptor, várias vias intracelulares
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podem ser seguidas, o que desfaz sua “ação seletiva”. Tratamentos com antidepressivos, além de
aumentarem os níveis sinápticos de noradrenalina e serotonina, promovem a ativação de cascatas de
sinais de transdução intracelulares, uma das quais é a cascata do monofosfato de adenosina cíclico –
transcription factor cAMP response element binding protein (AMPc-CREB), que tem como gene alvo o
brain derived neurotrophic factor (BDNF), fator conhecido por exercer uma forte influência no
desenvolvimento, na sobrevivência, na manutenção e na plasticidade neuronal dentro do sistema nervoso,
tanto imaturo quanto adulto.41,42 A partir dessas evidências, postula-se a possível ação neurotrófica dos
antidepressivos em pacientes deprimidos. Em adição ao papel da ação neurotrófica na sobrevivência
celular, é possível que os antidepressivos também regulem outros processos, como a neurogênese.
Estudos sustentam essa hipótese e demonstram que o tratamento crônico aumenta a neurogênese, por
exemplo, nas células do giro denteado.29
Comparando os novos antidepressivos aos clássicos ADTs e IMAOs, verificase um esforço no sentido de
aperfeiçoar cada vez mais a ação em sítios receptores determinantes da eficácia clínica, evitando aqueles
responsáveis pelos efeitos colaterais. Do amplo espectro de ação dos antidepressivos clássicos, passou-
se aos ISRSs, mais bem tolerados e mais seguros na superdosagem, cuja ação é praticamente restrita à
inibição da recaptação da serotonina. Apesar de os estudos existentes igualarem sua eficácia à dos ADTs,
permanecem dúvidas em relação à resposta terapêutica em deprimidos graves. Diferenças em sua
farmacocinética e no seu potencial de interações medicamentosas tornam o grupo heterogêneo, passível
de indicações em diferentes situações clínicas.
Os novos antidepressivos buscaram aliar o amplo espectro de ação dos antidepressivos clássicos à
tolerabilidade e à segurança dos ISRSs. Assim, surgiram moclobemida, trazodona, nefazodona, bupropiona,
reboxetina, mirtazapina, venlafaxina, duloxetina, entre outros. Também diferem nos aspectos
farmacocinéticos e no potencial de interação com outras substâncias, tornando-os úteis clinicamente em
diversos grupos de pacientes. Para vários antidepressivos novos, a segurança em gestantes e em lactantes
ainda não foi estabelecida.
Afirmar que a amplitude do espectro de ação neuroquímica corresponde a um real ganho em termos de
eficácia clínica requer testes mais consistentes. As Tabelas 5.13, 5.14 e 5.15 apresentam resumidamente os
principais efeitos dos antidepressivos atualmente disponíveis na neurotransmissão, a ação nos diferentes
receptores, bem como as apresentações e as faixas terapêuticas preconizadas, respectivamente.
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Tabela 5.12
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Tabela 5.13
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Tabela 5.14
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Tabela 5.15
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