Você está na página 1de 27

UNIVERSIDADE DE COIMBRA

FACULDADE DE LETRAS
TURISMO, LAZER E PATRIMÓNIO
SEMINÁRIO/PROJECTO II 2012/2013

O Tabu do Turismo Sexual


na Sociedade Contemporânea

Docente:
João Luís Fernandes
Discente:
Angélica Araújo
UC: 2010125714 | afg.araujo@gmail.com

Coimbra, Junho de 2013


Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

Resumo
O turismo sexual afigura-se como um tópico de discussão bastante
polémico entre autores e investigadores, sendo negado como modalidade
turística por variados trabalhos académicos existentes. A maioria da
literatura existente foca-se na natureza indesejável do turismo sexual,
ignorando o sexo consensual não comercial, e cinge-se quase
exclusivamente ao estudo das relações entre turistas e residentes dos
destinos turísticos, ignorando as práticas sexuais efectuadas entre turistas e
não residentes. Tal provém, em parte, do conceito de turismo sexual da
Organização Mundial do Turismo, que define este fenómeno como viagens
organizadas dentro do sector turístico com a intenção primária de
estabelecer contactos sexuais com os residentes do destino (1995). A
sensibilidade da temática da exploração sexual, consequência nefasta deste
tipo de turismo, apresenta-se, igualmente, como um catalizador de
perspectivas negativas.
O presente estudo pretende explorar as dimensões positiva e negativa do
turismo sexual e abordar o tabu existente na sociedade contemporânea
perante este fenómeno. Para tal, a metodologia utilizada na elaboração da
componente teórica envolveu consulta bibliográfica e escrita monográfica.
A componente prática foi redigida com base num questionário realizado
online com o intuito de recolher a opinião leiga relativa à temática do
turismo sexual. Foi apurado que, num universo amostral de noventa e um
indivíduos entre dezoito e quarenta e nove anos, 33% dos inquiridos não
detém conhecimento da definição de turismo sexual, 97% nunca praticou
este tipo de turismo e 15% deseja praticá-lo.
De acordo com os resultados obtidos na componente prática e tendo
como base a elevada conotação negativa do turismo sexual retratada na
literatura existente, é seguro afirmar que este tipo de turismo é amplamente
evitado e moralmente reprovado.

Palavras-chave: turismo; sexo; satisfação sexual; hedonismo; tabu;


sexcation.

2
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

Abstract
Sex tourism is a controversial discussion topic among authors and
researchers, being denied as a tourism type by many existent academic
studies. Most of the existent literature focuses on its undesirable nature,
ignoring noncommercial consensual sex, and confines almost exclusively to
the study of relationships between tourists and residents, ignoring the
sexual practices between tourists and non-residents. Such comes from the
definition of sex tourism provided by the World Tourism Organization,
which defines this phenomenon as organized trips within the tourism sector
with the primary intention to establish sexual contact with the residents of a
touristic destination (1995). The delicacy of the sexual exploitation issue,
harmful consequence of this type of tourism, presents as a catalyst for
negative prospects.
This study aims to explore the positive and negative dimensions of sex
tourism and to address the taboo that exists in contemporary society. For
this purpose, the methodology used in the preparation of the theoretical
component involved bibliographic and monographic writing. The practical
component was written based on an online questionnaire conducted in order
to collect a lay opinion on the issue of sex tourism. It was found that, in a
sample universe of ninety-one individuals between eighteen and forty-nine
years, 33% of the respondents do not have knowledge of the definition of
sex tourism, 97% never practiced this type of tourism and 15% want to
practice it.
According to the results obtained in the practical component and based
on the negative connotation of sex tourism portrayed in the literature, it is
safe to say that this type of tourism is largely avoided and morally
disapproved.

Keywords: tourism; sex; sexual satisfaction; hedonism; taboo;


sexcation.

3
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

Considerações Introdutórias

A sexualidade pode ser compreendida como uma parte da vida social dos indivíduos (Rathus,
Nevid e Fichner-Rathus, 2007), em que as práticas sexuais se afiguram como uma componente de
lazer. Franklin (2003) afirma que a prática da sexualidade é uma das formas mais importantes em
que um indivíduo se expressa, perdendo-se em “ecstatic moments during sex just as much as the
surfer or the skydiver can through their physical experience”1. Sendo o turismo um dos modos de
obter prazer, assiste-se à ocorrência de uma relação entre sexo e turismo, retratada em estudos
desde o ano de 1990. O turismo como mediador de encontros sexuais pode desempenhar um papel
directo, através do providenciamento de infra-estruturas, parceiros e serviços, e um papel indirecto,
através da sua própria natureza de ruptura com o quotidiano (Sung Chon, Bauer, & Mckercher,
2012). No entanto, a literatura existente relativa a esta temática revela-se quantitativamente
insuficiente para uma correcta avaliação do fenómeno. Em termos qualitativos, ocorre uma
focalização na natureza indesejável do turismo sexual, ignorando o sexo consensual não comercial
(Bauer e MacKercher, 2003), e um restringimento às relações entre turistas e residentes do destino
turístico, ignorando a interacção entre turistas e não residentes.

Perante a actual conotação negativa do turismo sexual na literatura, o presente estudo pretende
explanar o modo como este fenómeno é percepcionado pela sociedade contemporânea e quais os
factores que incentivam esta percepção. A atitude global face ao turismo sexual relaciona-se,
principalmente, com o “medo ou proibição de origem religiosa, social ou cultural” – o tabu. O tabu
que o sexo representa deriva das moralidades religiosa e social dado que, na primeira, este é
definido como uma actividade com fins unicamente reprodutores, e na segunda, a sua prática como
actividade de lazer encontra-se associada à conotação negativa de promiscuidade. O livre uso do
corpo para práticas hedonísticas é visto como imoral e indecente 2; assim, as deslocações com o
intuito primário de usufruir de relações sexuais são influenciadas pelo tabu social e,
consequentemente, desaprovadas.

O presente estudo encontra-se divido em duas componentes – a teórica e a prática. Na primeira,


o fenómeno do turismo sexual é conceptualizado e são abordadas temáticas como ‘o corpo
feminino como um geossímbolo’, o turismo sexual masculino e feminino, os principais destinos
turísticos desta modalidade e as consequências nefastas geradas relacionadas com a exploração
sexual e a imagem negativa dos destinos. Na componente prática, explanar-se-á qual a visão que a
sociedade contemporânea possui relativamente a este fenómeno através da análise de um
questionário online realizado a um universo amostral de noventa e um indivíduos.

1
“momentos de extâse durante o sexo tal como o surfista ou o paraquedista experienciam fisicamente”
2
“A vontade de Deus é que vocês sejam santificados: abstenham-se da imoralidade sexual. Cada um saiba
controlar o seu próprio corpo de maneira santa e honrosa, não dominado pela paixão de desejos desenfreados,
como os pagãos que desconhecem a Deus” (in Bíblia, I Tessalonicenses 4, 3-5).

4
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

Capítulo I: O Fenómeno do Turismo Sexual

O turismo sexual é, cada vez mais, focado pelas preocupações políticas e pela investigação
académica. No entanto, este é um conceito difícel de explanar e a definição providenciada pela
literatura não é unânime, variando de acordo com a perspectiva que o autor ou organização possui
em relação a este fenómeno. Truong (1990), pioneiro no estudo das relações entre sexo e turismo,
conceitua que o turismo sexual envolve uma ligação entre indivíduos de países desenvolvidos e
indivíduos de países em desenvolvimento, estando associado à prostituição resultante de relações
sociais desiguais e à deslocação de turistas sexuais do ‘Primeiro Mundo’ para os países de
‘Terceiro Mundo’ (Piscitelli, 2004). Michel (2009) encontra-se na mesma linha de pensamento,
afirmando que “o turismo sexual prospera sobre as ruínas das desilusões do «desenvolvimento» e
do «progresso» e assemelha-se frequentemente a uma invasão do Sul pelo Norte”. De acordo com
a Organização Mundial do Turismo, este fenómeno traduz-se em viagens com o propósito principal
de facilitar aos turistas a prática de relações sexuais comerciais com residentes do lugar de destino
(1995). Hall e Ryan (2001) adoptam a mesma perspectiva da OMT, ditando que as deslocações dos
turistas sexuais são realizadas com o intuito de se envolverem em relações sexuais, normalmente de
natureza comercial. Piscitelli (2004) afirma que o turismo sexual envolve, também, contactos entre
turistas e residentes dos destinos turísticos nos quais surgem relações duradouras de carácter
sentimental, que não excluem, porém, um interesse ecómico não necessariamente ligado a um
pagamento financeiro directo. A autora considera ainda que “the furnishing of sexual services by
the local population in exchange for monetary and non-monetary reward is a crucial element for
the success of the trip”3. No entanto, Barretto (2005) explana que o turismo sexual não se encontra
relacionado com retribuição pecuniária e que “constitui apenas o exercício da liberdade sexual” e
Oppermann (1999) dita que o turista sexual não é unicamente motivado pela consumação de
relações sexuais comerciais.

Após uma análise da literatura existente e um cruzamento de referências, propõe-se a atribuição


ao fenómeno da seguinte definição:

Deslocação de indivíduos para fora da sua área de residência, num período superior a 24
horas e inferior a um ano, com o objectivo primário de obter relações sexuais com
residentes ou não residentes do destino turístico, sejam estas de carácter comercial ou não-
comercial.

3
“O fornecimento de serviços sexuais da população local em troca de recompensas monetárias ou não
monetárias é um elemento crucial para o sucesso da viagem.”

5
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

Oppermann (1999) clama ainda que o conceito de turismo sexual encontrar-se-ia limitado se
envolvesse unicamente relações sexuais com penetração vaginal e se ignorasse actividades como o
sexo oral, o sexo anal e a masturbação. Enquanto Rao (1999) afirma que o turismo sexual é um
“physical encounter in which the partner is no more than an animated object”4, outros
investigadores sugerem que eventos dotados de sexualidade, actividades voyeurísticas e certos
festivais (como o Gay Mardi Gras de Sydney ou o desfile PRIDE de São Francisco) também devem
ser considerados como parte do turismo sexual (Bauer & MacKercher, 2003).

Antecedentes Históricos

Desde os primórdios da humanidade que o sexo representa uma actividade fulcral na vida dos
indivíduos, não só com fins reprodutores mas também com o intuito de obter prazer e praticar, de
certo modo, o hedonismo. Fruto de tabus, o sexo era anteriormente visto como uma acção
depravada, que deveria ser confinada ao quarto e realizada unicamente dentro do matrimónio.
Actualmente, com a crescente evolução da mentalidade social e cultural, a sexualidade é vista
como algo natural e saudável no Ocidente, utilizada como obtenção de prazer e actividade de lazer.
O usufruto do sexo como actividade hedonística originou uma panóplia de serviços. A prostituição,
popularmente apelidada como a ‘profissão mais antiga do mundo’, sempre foi desfrutada pelos
indivíduos e julga-se remontar ao século XVIII a.C.. Uma das primeiras formas de prostituição
surge numa cidade-estado da antiga Mesopotâmia, Babylon, onde cada mulher teria de se deslocar,
uma vez na sua vida, ao santuário de Militta para se envolver sexualmente com um estrangeiro por
um preço simbólico como sinal de hospitalidade. Na primeira metade do século XIX surgiram as
‘lady-guides’, mulheres ao serviço de agências de viagens que acompanhavam os clientes na visita
turística e em compras ou negócios.

Aquando a Segunda Guerra Mundial, a prostituição no sudeste asiático sofreu um crescimento


devido à existência de bases militares norte-americanas e japonesas. Após a partida das tropas, esta
região assistiu à chegada de turistas sexuais atraídos pela fama de exotismo e erotismo que as
mulheres haviam ganho.

A década de 1960 é marcada pelo triunfo do lazer mercantilizado através da substituição


progressiva dos ‘três D’ (délassement, divertissement, développement de la personnalité5) pelos
‘quatro S’ – sea, sun, sand, sex6 – de um turista hedonista (Vandewalle & Borzakian, 2009).

4
“encontro físico no qual o parceiro não é nada mais que um objecto animado”
5
desejo de relaxamento, de entretenimento e de desenvolvimento pessoal
6
Mar, sol, areia, sexo

6
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

O Corpo Feminino como Geossímbolo

Os geossímbolos são “elementos aos quais se atribuíram valores de representação (...) de cada
lugar” (Fernandes, 2009), os quais podem ser naturais ou humanos, materiais ou imateriais e
móveis ou fixos. Estes símbolos possuem filiação a um lugar, sendo centrais em estratégias de
afirmação e marketing territorial, e possuem um grau de permanência flutuável, revelando, desde
modo, relações assimétricas de poder. Os indivíduos podem, também, tornar-se geossímbolos de
um determinado local. Ao mencionar a Torre Eiffel, evoca-se imediatamente o pensamento de
Paris e, do mesmo modo, aludir gueixas evoca o Japão e referir mulheres dotadas de corpos
curvilíneos evoca o Brasil.

Segundo Michel (2009), “turisticamente falando, um país vende-se melhor quando vende bem
as suas mulheres, facto que deriva de um sistema de valores consumista, no qual “tudo é negócio e
onde os bens a consumir são seres humanos”. Na Tailândia, o marketing da mulher moderna está a
originar uma maior mercantilização do corpo feminino, conjugando a venda de produtos
comerciais com a venda dos serviços sexuais existentes no país. Suspeita-se que os concursos de
beleza tailandeses se afiguram como ferramentas de recrutamento para serviços de acompanhantes
de luxo. No ano de 1964, foi dado à Miss Tailândia o título de embaixadora da cultura e do
turismo, o que não evitou que a sua imagem fosse utilizada para promover serviços sexuais,
deixando uma impressão dos concursos de beleza como parte do “mercado de carne”. O turismo
sexual tailandês é publicitado como destinos turísticos e serviços que alimentarão as fantasias dos
turistas, utilizando referências sexuais implícitas na hospitalidade tailandesa, como o sorriso da
mulher tailandesa, que se tornou uma sugestão de submissão, carinho e tentação sexual. Como os
estrangeiros ocidentais são o segmento dominante de clientes, as agências de viagem internacionais
promovem o exótico da cultura tailandesa, a abundância de serviços sexuais e a submissão
feminina, provocando as fantasias dos clientes masculinos com imagens de mulheres dispostas a
satisfazer todas as suas necessidades (Truong, 1990). É importante que os promotores conheçam
os seus clientes dado que as preferências divergem entre culturas. Os clientes do este da Ásia,
particularmente os japoneses, preferem tailandesas de pele clara, enquanto os ocidentais preferem
as mulheres bronzeadas (Askew, 1999).

De modo a incrementar o rendimento per capita e o crescimento económico através do turismo,


o governo tailandês promove a atractividade física e o fascínio sexual das mulheres tailandesas
(Truong, 1990). A companhia aérea Thai Airways International é conhecida pela acentuação da
beleza das suas hospedeiras de bordo de modo a atrair clientes, sendo estas campanhas publicitárias
degradantes, por vezes, para as mulheres: “Smooth as silk is a beautifully prepared meal served by

7
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

a delicious hostess”7, “Some say it’s our beautiful wide-bodied DC-10s that cause so many heads
to turn at airports throughout the world. We think our beautiful slim-bodied hostesses have a lot to
do with it”8 (Truong 1990). A promoção do sexo em campanhas publicitárias é bastante utilizada
em destinos exóticos retratados como fantasias eróticas, podendo dividir-se em três categorias:
fotografias corporais, posturas sugestivas e insinuações sexuais no discurso (Oppermann &
McKinley, 1997).

No Brasil, o grande impulso para o turismo sexual surgiu nas décadas de 70 e 80. O Embratur –
Instituto Brasileiro de Turismo, procedeu à realização de campanhas promocionais que enalteciam
as belezas naturais e a sexualidade da mulher brasileira, colocando este país na rota do turismo
sexual. Nestas, “a participação da mulata e negra brasileira era presença certa, sempre vestindo
trajes sumários, (...) divulgando a promiscuidade do povo brasileiro” (Feijó & Calazans, 2002).
Esta imagem de erotismo e liberdade sexual era projectada, de igual modo, através da literatura, do
cinema, das novelas televisivas e da divulgação de eventos e festivais, como o Carnaval. Nesta
festividade, a principal atracção são os desfiles das escolas de samba, repletos de mulheres que se
projectam como “símbolos sexuais e musas” (Feijó & Calazans, 2002).

Turismo Sexual Masculino e Feminino

O turismo sexual feminino ocorre quando um indivíduo do sexo feminino se desloca para fora
da sua área de residência, num período superior a 24 horas e inferior a um ano, com o objectivo
primário de obter relações sexuais com residentes ou não residentes do destino turístico, sejam
estas de carácter comercial ou não-comercial. Opperman (1999) narra que este tipo de turismo não
se concentra unicamente no aspecto estritamente físico do turismo sexual, divergindo para
diferentes aspectos relacionais como o romance e a intimidade entre a turista e o(s) seu(s)
parceiro(s).

O turista sexual é frequentemente estereotipado como um indivíduo do sexo masculino,


residente em países desenvolvidos do Ocidente, que se desloca para os países em desenvolvimento
com o intuito de frequentar casas de alterne e obter relações sexuais com prostitutas. Escritoras
feministas radicais tendem a afirmar que o turismo sexual se traduz unicamente nas deslocações
internacionais realizadas por homens com o intuito de praticar relações sexuais comerciais com
mulheres ou crianças e Jeffreys (1997), uma feminista lésbica, clama que o turismo sexual é mais
precisamente chamado ‘turismo de prostituição’. Esta acrescenta que este tipo de turismo surge

7
“Suave como a seda é uma refeição bem preparada servida por uma deliciosa hospedeira”
8
“Alguns dizem que os nossos enormes aviões McDonnell Douglas DC-10 são a razão para tantas cabeças se
virarem nos aeroportos de todo o mundo. Nós pensamos que as nossas belíssimas e magras hospedeiras têm
muito a ver com isso”

8
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

devido às culturas abastadas de ocidente e de leste ensinarem aos indivíduos do sexo masculino que
o uso sexual de mulheres e crianças, independentemente do prazer destas, é um direito natural da
sua masculinidade, produzindo, deste modo, turistas sexuais e usuários abusivos da prostituição.
Segundo Taylor (2001), estes investigadores traduzem o turismo sexual como uma expressão do
poder patriacal masculino e da impotência feminina, impedindo a possibilidade da existência de
turismo sexual feminino. No entanto, este fenómeno existe, e em resposta a tal ocorrência certos
investigadores clamam que o termo ‘prostituição’ não se adequa às narrativas de romance e
cortesia. Dahles & Bras (1999) afirmam que “prostitution is not the right concept to characterize
these relationships, love is not the right concept either”9 e retratam o turismo sexual feminino
como ‘turismo de romance’.

A distinção conceptual entre turismo sexual masculino e feminino é problemática pois reflecte
uma incompreensão do turismo sexual masculino. Os turistas sexuais masculinos também se
envolvem em diferentes tipos de relações sexuais e económicas, onde os(as) parceiros(as) se
identificam como ‘namorados(as)’ que lhes oferecem afecto, dançam com eles, massajam-nos,
entre outras actividades, aceitando presentes dos seus ‘namorados’, como roupa, refeições ou
dinheiro (Taylor, 2001). Os próprios turistas não se veêm como compradores de serviços sexuais.
Adicionalmente, as turistas sexuais femininas podem também proceder de modo predatório, tal
como os turistas sexuais masculinos são vistos. Uma minoria das turistas sexuais femininas possui
uma abordagem impessoal e encontra-se disposta a usufruir de relações sexuais explicitamente
comerciais, chegando a pagar a terceiros para procurar indivíduos do sexo masculino com uma
determinada idade, tamanho peniano, tom de pele ou tipo corporal. Outra problemática desta
distinção conceptual assenta nas compreensões essencialistas da sexualidade masculina e feminina,
em que é assumido que a turista sexual feminina se encontra a ser explorada de algum modo
simplesmente por dar acesso sexual ao seu corpo a um homem (Taylor, 2001).

As noções tradicionais de identidade de géneros provocam uma visão da turista sexual feminina
como uma inocente passiva, usada pelos homens do destino turístico que procuram dinheiro, amor
ou sexo. Esta é descrita como uma ‘mulher solitária’ cuja possibilidade económica e social de
viajar sozinha é explorada pelo turismo caribenho e pelos ‘beach boys’que oferecem a
possibilidade de romance de férias ou de assédio sexual (Momsen, 1994, citado por Taylor, 2001).

Actualmente, não existem estudos de grande escala focados unicamente no comportamento


sexual de turistas do sexo feminino pois este fenómeno não é tão retratado pela pesquisa académica
como é o turismo sexual masculino. No entanto, um estudo realizado por Taylor (2001) na
República Dominicana e na Jamaica concluiu que cerca de um terço da amostra de setenta e cinco

9
“prostituição não é o conceito correcto para caracterizar estas relações, e amor também não é o conceito
correcto”

9
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

mulheres tinham praticado relações sexuais com nativos durante a sua viagem. Este grupo
apresentava mulheres com idades compreendidas entre a adolescência tardia e os sessenta anos,
mas as mulheres entre trinta a quarenta anos de idade eram mais propensas à prática sexual com
residentes. A maioria das mulheres que se envolveram em relações de carácter sexual durante a sua
viagem indicaram que tinham formado uma única relação deste género, e parte destas eram
visitantes que regressavam e continuavam uma ‘amizade’ estabelecida numa viagem anterior –
‘turistas sexuais femininas veteranas’, de acordo com a categorização de Albuquerque (1998).

Os serviços de prostituição de que as turistas sexuais femininas usufruem são pagos de variadas
formas, incluíndo transacção directa de dinheiro, oferta de presentes ou pagamento de serviços de
que o parceiro desfruta. Nos países em desenvolvimento, em que os residentes possuem um
diminuto nível económico, as turistas sexuais não compreendem que o simples facto de lhes pagar
refeições ou bebidas ou de estes parceiros tomarem um duche quente num quarto de hotel já
representa um benefício material (Taylor, 2001). Os próprios residentes, por vezes, não se
categorizam como gigolos, pensando que se encontram unicamente a tirar proveito de uma relação
de carácter sexual ou amoroso. Porém, nem todas as práticas sexuais realizadas pelas turistas
sexuais femininas se inserem na categoria de trocas comerciais. Yuval-Davis (1997) relata que as
turistas ocidentais procuram aventuras sexuais e novas experiências nos destinos turísticos,
enquando os residentes do destino usufruem de sexo não comercial que não lhes é disponibilizado
pelas mulheres locais, as quais se encontram sob um estrito controlo social.

Principais Destinos

“O mercado amplia-se e diversifica-se: uma internacionalização da oferta, com corpos cada


vez mais jovens, inteiramente disponíveis, nos quatro cantos do globo” (Michel, 2009).

Os destinos turísticos primados pelos turistas sexuais variam ao longo do tempo. Piscitelli
(2005) considera que nas décadas de 1950 e 1960 o sudeste asiático e a Ásia oriental eram regiões
orientadas para o consumo de sexo, representando o ideal de mercadoria erótica e de
promiscuidade. O declínio na sua procura ter-se-á devido a uma saturação dos destinos turísticos,
como a Tailândia ou as Filipinas, provocada pelo número crescente de viajantes. O cenário sexual
ter-se-á tornado menos autêntico e menos desejável. No entanto, estas regiões continuam a
afigurar-se como áreas priviligiadas para este tipo de turismo. Nas décadas de 1980, 1990 e 2000 o
turismo sexual focou-se na América do Sul, região com indivíduos exóticos e eróticos. Desde o
início da década de 90 ocorreu uma intensificação do turismo internacional no nordeste brasileiro,
tornando visíveis os níveis de prostituição orientados para os turistas internacionais e revelando que
esta região havia integrado o circuito mundial de turismo sexual (Piscitelli, 2004).

10
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

Na World Wide Web são variadas as opiniões relativamente aos destinos preferidos pelos
turistas sexuais. O website GuyLife possui uma lista dos cinco melhores destinos sexuais que,
segundo este, são conhecidos pela sua “libertinagem sexual e disponibilidade imediata a coisas
com as quais qualquer homem sonha”: Tailândia, Costa Rica, Quénia, Japão e Amesterdão.
Pesquisas em fóruns como o ‘World Sex Guide’ ou o ‘6traveler’ revelam que vários turistas
sexuais possuem preferência pelo sudeste asiático, pela América Central e pela América do Sul.

De acordo com Feijó & Calazans (2002), os principais países emissores de turistas sexuais são a
Alemanha, a Holanda, a Suécia, os Estados Unidos, a Itália, a Grã-Bretanha, a Dinamarca, a
Áustria, a Espanha e a Suíça, configurando os países ‘ricos’ como emissores e, consequentemente,
os países ‘pobres’ e subdesenvolvidos como receptores, relacionando o poder financeiro com a
globalização do turismo sexual. Num artigo datado de 6 de Junho de 2013, o jornal inglês The
Telegraph publicou que a ECPAT (End Child Prostitution, Pornography and Trafficking) dita que a
Itália possui o maior número de turistas sexuais internacionais no mundo, estimando que cerca de
oitenta mil italianos se deslocam ao estrangeiro para obter relações sexuais. No mesmo artigo,
Marco Scarpati, presidente da sucursal italiana do ECPAT, afirma que a Alemanha, o Japão, a
França, os Estados Unidos, o Reino Unido e a China encontram-se entre os principais países
emissores.

Consequências Nefastas do Turismo Sexual

Todos os sectores económicos providenciam benefícios e malefícios ao nível económico, social


e cultural e o turismo, sendo um sector de rápido crescimento, encontra-se entre os sectores com
mais externalidades positivas e negativas. Tal como outras modalidades turísticas, o turismo sexual
acarreta consequências negativas. No entanto, devido à natureza deste fenómeno, estas revelam-se
bastante piores. A prostituição, o tráfico sexual, a propagação de doenças sexualmente
transmissíveis, a escravização, o tráfico de drogas e a perda de competitividade dos destinos
turísticos são algumas das consequências provocadas pela globalização deste fenómeno que,
segundo Feijó & Calazans (2002) é “um mal a ser combatido e condenado tanto no plano ético
quanto no aspecto jurídico”.

Exploração sexual: prostituição, pedofilia e tráfico sexual

A miséria, a ignorância e a fome fortalecem o crescimento da exploração sexual, a qual se


apresenta como uma tentativa de saída para as crises financeiras dos países do Terceiro Mundo.
Como é um negócio cada vez mais rentável, o poder político apoia-o em certos momentos, tal
como é comprovado pelo depoimento de um Secretário de Turismo, publicado pela revista Veja em

11
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

1993: “Não importa se o turista gasta seus dólares com prostitutas, nos hotéis de luxo ou num
shopping center. O que interessa é que eles deixem seus dólares aqui (...). Afinal, existem
prostitutas em qualquer lugar do mundo”. No ano de 1976, o director da Autoridade do Turismo da
Tailândia declarou que “it might be partly true [that tourism encourages prostitution], but
prostitution exists mainly because of the state of our economy, because everyone needs to earn
their income. If we create jobs, we can promote per capita income and do away with prostitution”10
(Truong, 1990). Em 1980, um antigo vice-primeiro ministro da Tailândia afirmou “within the next
two years we need money. Therefore, I ask all governors to consider the natural scenery in your
provinces, together with some forms of entertainment that some of you might consider disgusting
and shameful because we have to consider the jobs that will be created”11 (Truong, 1990). O
objectivo do governo tailandês para estimular o crescimento de emprego era promover o turismo a
qualquer custo. Actualmente, o sexo representa um mercado de vinte biliões de dólares neste país,
o que equivale a dois terços do PIB. Este valor é conseguido devido aos lucros de quinze biliões de
dólares ganhos com o tráfico de tailandesas para o exterior e aos cinco biliões de doláres gerados
pelo turismo sexual (Banckok Post, 05-04-96, citado por Feijó & Calazans, 2002).

Feijó & Calazans (2002) ditam que o termo adequado para o fenómeno sob estudo não é
‘turismo sexual’ mas sim ‘prostiturismo’. Segundo estes, o êxito do turismo brasileiro sempre se
interligou com a sexualidade feminina e o turista sexual masculino injecta muito capital neste país
através do usufruto da prostituição. Assim, surge o dilema de como cortornar o limiar entre tratar
bem o turista e, ao mesmo tempo, combater o ‘sexotour’, o qual ajuda ao crescimento económico
do país. Os autores citam ainda a edição de 31 de Outubro de 2000 da Revista Época, que clama
que, no Brasil, “a putaria virou um business e acabou o romantismo”.

A prostituição é praticada voluntaria ou involuntariamente. Na reportagem ‘Toda a Verdade –


Prostituição, os supermercados do sexo’ do canal português SIC Notícias, Belinda, uma prostituta
de vinte e cinco anos, testemunha: “Não quero fazer outra coisa porque gosto muito deste contexto,
de dar prazer, de ser um negócio, a lei da oferta e da procura, de sermos independentes e termos
horários flexíveis”. Na Tailândia, a imagem moderna da mulher ‘thansamay’ leva jovens
tailandesas a deslocarem-se para os centros urbanos, como Banguecoque. Quando não conseguem
um emprego que sustente a família que deixaram para trás e as comodidades associadas ao estilo
‘thansamay’, veêm-se forçadas a aderir à prostituição, uma opção rápida e lucrativa (Mills, 1999).

10
“talvez seja parcialmente verdade [que o turismo encoraja a prostituição], mas a prostituição existe
essencialmente devido ao estado da nossa economia, porque todos precisam de obter rendimentos. Se
criarmos trabalhos, poderemos aumentar o rendimento per capita e acabar com a prostituição”
11
“dentro dos próximos dois anos precisaremos de dinheiro. Assim, peço a todos os governadores para
considerarem o cenário natural nas nossas províncias, juntamente com certas formas de entretenimento que
alguns de vós podem considerar repugnantes e vergonhosas, porque temos de considerar os empregos que
serão criados”

12
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

No entanto, a prostituição não é a única consequência associada ao turismo sexual no Brasil.


Estudos realizados pela Federação Internacional de Helsínquia para os Direitos Humanos,
extinguida em 2007, indicam que este país é o maior exportador de escravas sexuais da América do
Sul (Feijó & Calazans, 2002). As baixas condições de vida, como a fome, as poucas oportunidades
de trabalho e a falta de educação e cultura, motivam as mulheres a envolver-se na prostituição ou a
procurar emprego no estrangeiro. Os exploradores montam empresas falsas de representação ou
falsas agências de modelos propondo empregos de elevada remuneração, induzindo mulheres e
adolescentes a ser enganadas e forçadas a prostituirem-se, vivendo sob ameaça. Os principais
países receptores são a Espanha, Portugal, a Itália, a Holanda e a Alemanha (Feijó & Calazans,
2002). Adicionalmente, a prostituição pode relacionar-se com redes criminosas de lavagem de
dinheiro ou de circulação de drogas. Alan, antigo dono de uma casa de alterne refere à SIC Notícias
que “como é sempre preciso ter mais raparigas, as redes mafiosas infiltram-se nestas enormes
casas de alterne” e que “nos clubes, é certo que a maioria das raparigas tem um chulo”. Ao ser
questionado de o dono do estabelecimento possui conhecimento destas situações, replica que “se
sabe (...), não vai entrar em detalhes. Se há cento e cinquenta raparigas, não vai investigar cento
e cinquenta casos. Não vai ligar. Tem mais que fazer (...)”.

Para além do tráfico de mulheres, crianças são vendidas para fins sexuais. Durante o I
Congresso Mundial Contra a Exploração Sexual de Crianças, realizado em Estocolmo em 1996, foi
revelado que o continente asiático é o mais atingido pelas redes de exploração sexual infantil, com
cerca de seiscentas mil crianças prostituídas nas Filipinas, trezentas mil na Índia, duzentas e
cinquenta mil na Tailândia, duzentas mil na China e trinta mil no Sri Lanka e no Nepal. No
continente americano, o Brasil conta com quinhentas mil crianças prostituídas e os Estados Unidos
com trezentas mil (Feijó & Calazans, 2002).

O jornal inglês The Telegraph publicou, a 6 de Junho de 2013, que muitos turistas sexuais não
são pedófilos patológicos (estes representam cinco por cento do total), mas sim indivíduos à
procura de uma experiência emocionante no estrangeiro. Estes turistas podem ser abusadores
preferenciais – preferem crianças por pensarem que o risco de obter uma doença, como o vírus da
imunodeficiência humana (VIH), é inferior – ou abusadores situacionais – não procuram
activamente por menores mas o acto em si é oportuno ou não têm a preocupação de verificar a
idade de um gigolo ou uma prostituta antes de se envolverem na prática sexual.

A ECPAT (End Child Prostitution, Pornography and Trafficking) estima que um milhão (ou
cerca de um terço) dos turistas sexuais procura sexo com adolescentes e crianças e informa que os
italianos se deslocam ao Quénia, a Santo Domingo, à Colômbia e ao Brasil para obter relações
sexuais com crianças de doze a quatorze anos. Esta procura por relações sexuais com menores de
idade traduz-se no fenómeno do turismo sexual infantil: viagens relacionadas com o intuito de se

13
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

envolver com crianças ou adolescentes prostituídos, um abuso sexual infantil facilitado


comercialmente (State Department of the United States, 2008) onde os menores são
frequentemente raptados para a escravidão sexual (Barri Flowers, 2001). A maioria das crianças
exploradas possui menos de doze anos de idade (Bacon, 2007). O jornal hondurenho La Prensa
noticiou, a 29 de Maio de 2013, declarações da Reportadora Especial Najat M'jid Maalla:
aproximadamente dois milhões de crianças são exportados todos os anos no mundo.

Imagem Negativa dos Locais Turísticos

O turismo sexual é o bastardo do marketing turístico (Feijó & Calazans, 2002) pois possui
implicações directas na perda de competitividade de um destino turístico. A Tailândia, um dos
destinos sexuais mais procurados, é estereotipadamente vista como uma enorme casa de alterne e o
seu governo vê-se dividido entre as tentativas para fortalecer o turismo como propulsor do
crescimento económico e os esforços para diminuir ou eliminar a imagem negativa que o país e as
suas mulheres possuem no estrangeiro. Este preocupa-se com a honra nacional e com o facto de tal
imagem negativa poder desencorajar o investimento estrangeiro (Boonchalaksi & Guest, 1994). No
entanto, a imagem que a Tailândia possui, apesar de influenciar a visão ocidental sobre este país,
incrementa a procura no sector do turismo sexual. Assim, apesar dos esforços para mudar esta
imagem, a indústria do sexo é encorajada a promover-se mais devido aos benefícios económicos –
é um ciclo vicioso (Vanaspong, 2002).

14
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

Capítulo II – Componente Prática

Para responder à questão-chave “Qual a percepção da sociedade perante o turismo sexual?”


associada a esta componente prática foi realizado um breve questionário online com o intuito de
recolher a opinião leiga relativa à temática do turismo sexual.

Os inquiridos representam um universo amostral de noventa e um indíviduos de idade


compreendida entre os dezoito e os quarenta e nove anos. A faixa etária dos dezoito aos vinte e
cinco anos representa 84,4% das respostas obtidas, enquanto as dos vinte e seis aos trinta e três
anos, dos trinta e quatro aos quarenta e um anos e dos quarenta e dois aos quarenta e nove anos
representam, respectivamente, 11,1%, 3,3% e 1,1%. 70,8% das respostas provém de indivíduos do
sexo feminino e 29,2% do sexo masculino.

Na primeira fase do questionário foram colocadas duas questões de modo a verificar que visão
possuem os inquiridos relativamente ao fenómeno sob estudo. A primeira questão, “Na sua opinião,
como definiria turismo sexual?”, foi colocada com o intuito de analisar qual a percepção que os
inquiridos possuem acerca do conceito de turismo sexual. As hipóteses de resposta seguem abaixo.

a) Deslocação de indivíduos com o objectivo primário de estabelecer contactos sexuais com os


residentes do destino.
b) Deslocação com o intuito de se envolver em relações sexuais, normalmente de natureza
comercial (prostituição).
c) Deslocações nacionais ou internacionais com o objectivo primário de praticar relações
sexuais com residentes ou não-residentes do destino turístico.
d) Ocorrência de práticas sexuais durante viagens de lazer ou de negócios.

a) 16,5%

b) 13,2%

c) 67%

d) 3,3%

Figura 1: Percentagem de respostas à questão “Na sua opinião, como definiria turismo sexual?”

15
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

16,5% dos indivíduos inquiridos assume que o turismo sexual se traduz em viagens realizadas
com o propósito de estabelecer contactos sexuais com residentes do destino turístico, enquanto
13,2% associa estes contactos sexuais à prostituição e 3,3% dita que a ocorrência de práticas
sexuais durante uma viagem de lazer ou negócios é considerado turismo sexual. A maioria dos
inquiridos (67%) vê o turismo sexual como viagens nacionais ou internacionais com o objectivo de
obter relações sexuais com residentes ou não-residentes do destino, interpretando-se assim que
mais de metade da amostra inquirida concorda com a definição de turismo sexual proposta pelo
presente estudo, resultado do cruzamento de definições providenciadas pela literatura existente
relativa ao fenómeno.

Para apurar que actividades os inquiridos associam ao turismo sexual, efectuou-se uma segunda
questão, “Dos seguintes cenários, qual(is) atribui a práticas de turismo sexual?”. As hipóteses
providenciadas eram:

a) Deslocação de um indivíduo de nacionalidade portuguesa ao Algarve com o intuito de


estabelecer contactos de natureza sexual com turistas estrangeiros.
b) Deslocação de um indivíduo a uma cidade vizinha para usufruir de serviços de prostituição.
c) Ocorrência de um acto sexual durante uma viagem de lazer.
d) Realização de uma viagem com o intuito de praticar relações sexuais.
e) Deslocação de um casal a um destino turístico com o intuito de usufruir de práticas sexuais
entre si e com terceiros.

a) 16,7%
b) 5,8%
c) 1,9%
d) 46,8%
e) 28,8%

Figura 2: Percentagem de respostas à pergunta “Dos seguintes cenários,


qual(is) atribui a práticas de turismo sexual?”

16,7% dos inquiridos categoriza viagens nacionais com o intuito de praticar relações sexuais
com turistas estrangeiros como integrantes do turismo sexual, enquanto para 5,8% a deslocação não
turística para usufruir de serviços de prostituição se insere no contexto deste fenómeno e 1,9%

16
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

caracterizam a ocorrência não planeada de um acto sexual durante uma viagem como turismo
sexual. 46,8% inserem viagens realizadas com o intuito de praticar relações sexuais no âmbito do
turismo sexual e 28,8% consideram que a deslocação de um casal com o intuito de usufruir de actos
sexuais entre si e com terceiros é um dos modos de praticar este tipo de turismo. Através da análise
destes dados conclui-se que a maioria dos inquiridos se encontra ciente de que actividades são
realizadas pelos turistas sexuais, enquanto 7,7% atribui actividades sexuais não relacionadas ao
fenómeno.

Na segunda fase, foi providenciada aos inquiridos a definição sugerida pelo presente estudo: “O
turismo sexual traduz-se na deslocação de indivíduos para fora da sua área de residência, num
período superior a 24 horas e inferior a um ano, com o objectivo primário de obter relações sexuais
com residentes ou não residentes do destino turístico”. De seguida foi questionado se já haviam
praticado turismo sexual e se tencionavam fazê-lo. 2,2% dos inquiridos respondeu positivamente a
ambas as questões, enquanto 81,3% deu uma resposta negativa. 1,1% disse que já havia praticado
mas não tencionava praticar, 12,1% nunca tinha praticado mas tencionava fazê-lo, 1.1% não referiu
se já havia praticado mas não tencionava praticar e 2,2% não praticou e não mencionou se
tencionava fazê-lo. A percentagem de respostas negativas a ambas as questões poderá estar
relacionada com o tabu que o turismo sexual representa e com a imagem negativa que este possui
ou poderá dever-se ao facto de a maioria dos turistas sexuais serem indivíduos do sexo masculino
entre os trinta e cinco e sessenta anos (Feijó & Calazans, 2002) e 84,4% do universo amostral ser
maioritariamente feminino e possuir de dezoito a vinte e cinco anos de idade.

Finalmente, foi inquirido “Na sua opinião, qual(is) das seguintes opções se adequa(m) às
práticas de Turismo Sexual?” com o objectivo de analisar a perspectiva moral dos indivíduos
inquiridos perante o fenómeno do turismo sexual. As possíveis hipóteses encontram-se abaixo.

a) Modalidade de lazer vulgar.


b) Imoralidade.
c) Associação à prostituição e ao tráfico sexual.
d) Procura de lazeres exóticos e/ou diferentes.
e) Conotação negativa dos destinos turísticos.
f) Outros.

17
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

a) 11,7%
b) 2,2%
c) 15,3%
d) 57,7
e) 12,4
f) 0,7%

Figura 3: Percentagem de respostas à pergunta “Na sua opinião, qual(is)


das seguintes opções se adequa(m) às práticas de Turismo Sexual?”

Enquanto 2,2% dos inquiridos associa o turismo sexual à imoralidade, outros consideram-no
uma modalidade de lazer vulgar (11,7%) onde se procuram lazeres exóticos e diferentes (57,7%).
15,3% associam-no à prostituição e ao tráfico sexual e 12,4% a uma conotação negativa dos
destinos turísticos. Um dos indíviduos inquiridos, representando 0,7% do universo amostral, sugere
que o turismo negro e o mote ‘sexo, drogas e rock&roll’ se enquadram no turismo sexual, apesar de
tais conceitos não se encontrarem relacionados com o fenómeno. Apesar da elevada percentagem
de respostas negativas obtidas nas perguntas “Já praticou Turismo Sexual?” e “Tenciona praticar
Turismo Sexual?”, apenas uma minoria da amostra considera este tipo de turismo imoral.

18
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

Considerações Finais

O turismo é um sector em crescente desenvolvimento, fomentando o crescimento económico


dos destinos turísticos através da injecção directa ou indirecta de capital. No entanto é cada vez
mais complicado regulá-lo e fazer com que a legislação seja cumprida devido à sua dimensão. O
turismo sexual acarreta várias consequências nefastas devido a esta impossibilidade de
regulamento, como prostituição, pedofilia, tráfico sexual e escravização. De modo a suprimir estas
externalidades, será necessário melhorar o controlo regulamentar nos principais focos de crimes
sexuais e criar novas ou melhorar as entidades regulatórias existentes. Alguns países emissores de
turistas sexuais já se encontram a realizar campanhas de sensibilização, como a empresa de
televisão e rádio estatal italiana, RAI:

“Um turista asiático é abordado em pleno centro de Roma por um italiano que lhe oferece uma
jovem por 100 dólares dizendo: «Pode fazer o que quiser dela, excepto matá-la» (...) Quando fores
ao estrangeiro, pensa nisto. Uma criança será sempre uma criança, não importa onde no mundo.”

No entanto, tal como outras modalidades turísticas, o turismo sexual providencia benefícios
económicos e sociais, embora não directamente. Com as deslocações de turistas sexuais é injectado
capital nas economias, são criadas novas infra-estruturas e estabelecimentos comerciais, como
unidades hoteleiras e estabelecimentos de restauração, é criado emprego, o número de instalações
comunitárias no âmbito do entretenimento e dos transportes é aumentado, e ocorre um alargamento
de perspectivas e uma adopção ou adaptação de diferentes visões devido ao contacto com
diferentes culturas e estilos de vida.

Recomenda-se que o número de estudos realizados neste âmbito seja incrementado de modo a
expandir a percepção deste fenómeno e que se aposte na interdisciplinaridade devido à escala
multidimensional (Opperman, 1999) do turismo sexual, incluíndo vertentes como a psicologia da
sexualidade, a antropologia do sexo, a sociologia e as ciências comportamentais.

19
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

Bibliografia

The Facts About Child Sex Tourism. (2008). Fact Sheet. State Department of the United States,
Office to Monitor and Combat Trafficking in Persons.

Unos 2 millones de niños son explotados cada año en el mundo, según la ONU. (2013, Maio 29).
Retrieved Junho 10, 2013, from La Prensa: www.laprensa.hn

Albuquerque, K. (1998). Sex, Beach Boys and Female Tourists in the Caribbean. In B. Dank,
Sexuality & Culture (Vol. 2, pp. 87–111). New Brunswick, N.J.: Transaction.

Askew, M. (1999). Labor, Love, and Entanglement: Bangkok Bar Workers and the Negotiation of
Selfhood. Crossroads: An Interdisciplinary Journal of Southeast Asian Studies, 13, 1-28.

Bacon, B. (2007, Julho 17). Stolen Innocence: Inside the Shady World of Child Sex Tourism.
Retrieved Junho 10, 2013, from ABC News: www.abcnews.go.com

Barretto, M. (2005). Prefácio. In A. Soares do Bem, A Dialética do Turismo Sexual. Campinas:


Papirus.

Barri Flowers, R. (2001). The Sex Trade Industry's Worldwide Exploitation of Children. The ANNALS
of the American Academy of Political and Social Science, 575 (1), 147–157.

Bauer, T., & MacKercher, B. (2003). Sex and Tourism: journeys of romance, love, and lust. New
York: The Haworth Hospitality Press.

Boonchalaksi, W., & Guest, P. (1994). Prostitution in Thailand. Salaya: Institute for Population and
Social Research, Mahidol University.

Dahles, H., & Bras, B. (1999). Entrepreneurs in Romance: Tourism in Indonesia. Annals of Tourism
Research, 26, 267–93.

Feijó, F., & Calazans, F. (2002). A Imagem Internacional do Turismo Sexual no Brasil: o
prostituris o o arketi g turísti o. XXV Congresso Brasileiro de Ciência da
Comunicação em Salvador/Publicidade, Propaganda e Marketing. Intercom.

Fernandes, J. (2009). Cityscapes - Símbolos, Dinâmicas e Apropriações da Paisagem Cultural


Urbana. Máthesis, 18, 195-214.

Franklin, A. (2003). Tourism: An Introduction. Thousand Oaks, California: SAGE.

20
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

Hall, M., & Ryan, C. (2001). Sex Tourism: Marginal People and Liminalities. London: Taylor &
Francis.

Jeffreys, S. (1997). The Idea of Prostitution. North Melbourne: Spinifex.

McKenna, J. (2013, Junho 06). Italy tops international sex tourism list. Retrieved Junho 10, 2013,
from The Telegraph: www.telegraph.co.uk

Michel, F. (2009). Planeta Sexo: Turismos sexuais, mercantilização e desumanização dos corpos.
Campo das Letras.

Mills, M. (1999). Thai Women in the Global Labor Force: Consuming Desires, Contested Selves.
New Jersey: Rutgers University Press.

Opperman, M. (1999). Sex Tourism. Annals of Tourism Research, 26 (2), 251-266.

Oppermann, M. (1999). Predicting Destinations Choice – a discussion of destination loyalty.


Journal of Vacation Marketing, 5 (1), 51-65.

Oppermann, M., & McKinley, S. (1997). Sexual Imagery in the Marketing of Pacific Tourism
Destinations. In M. (. Opperman, Pacific Rim Tourism (pp. 116-127). Wellingford: CAB
International.

Pis itelli, A. 4 .O gri gos a d ati es : ge der a d se ualit i the o text of


international sex tourism in Fortaleza, Brazil. Virtual Brazilian Anthropology, 1.

Piscitelli, A. (2005). Viagens e Sexo Online: a internet na geografia do turismo sexual. Cadernos
Pagu, pp. 281-326.

Rao, N. (1999). Sex Tourism in South Asia. International Journal of Contemporary Hospitality
Management, 11(2/3), 96-99.

Rathus, A., Nevid, J., & Fichner-Rathus, L. (2007). Human Sexuality in a World of Diversity. Boston:
Pearson/Allyn & Bacon.

Sung Chon, K., Bauer, T., & Mckercher, B. (2012). Sex and Tourism: Journeys of Romance, Love,
and Lust. London: Routledge.

Ta lor, J. . Dollars Are a Girl’s Best Frie d? Fe ale Tourists’ “e ual Beha iour i the
Caribbean. Sociology, Vol. 35, No. 3, 749–764.

21
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

Truong, T. D. (1990). Sex, Money and Morality: Prostitution and Tourism in Southeast Asia.
London: Zed Books.

Vanaspong, C. (2002). A Portrait of the Lady: The Portrayal of Thailand and its Prostitutes in the
International Media. In S. Thorbek, & B. Pattanaik, Transnational Prostitution: Changing
Patterns in a Global Context (pp. 139-155). London: Zed Books Ltd.

Va de alle, I., & Borzakia , M. 9 . Le Touris e Dura le a L’etra ger ou la Possi ilite d'u
Autre Voyage. Cahier de Recherche, 269.

Yuval-Davis, N. (1997). Gender and Nation. In Politics and Culture Series (Vol. 49). New York: SAGE.

22
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

Índice Geral

Considerações Introdutórias ...........................................................................................................4

Capítulo I: O Fenómeno do Turismo Sexual ...................................................................................5

Antecedentes Históricos .............................................................................................................6

O Corpo Feminino como Geossímbolo .......................................................................................7

Turismo Sexual Masculino e Feminino .......................................................................................8

Principais Destinos ................................................................................................................... 10

Consequências Nefastas do Turismo Sexual ............................................................................. 11

Exploração sexual: prostituição, pedofilia e tráfico sexual .................................................... 11

Imagem Negativa dos Locais Turísticos................................................................................ 14

Capítulo II – Componente Prática ................................................................................................ 15

Considerações Finais ................................................................................................................... 19

Bibliografia.................................................................................................................................. 20

Anexos ........................................................................................................................................ 25

23
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

Índice de Figuras

Figura 1: Percentagem de respostas à questão “Na sua opinião, como definiria turismo sexual?”..15

Figura 2: Percentagem de respostas à pergunta “Dos seguintes cenários, qual(is) atribui a práticas
de turismo sexual?”.................................................................................................................16

Figura 3: Percentagem de respostas à pergunta “Na sua opinião, qual(is) das seguintes opções se
adequa(m) às práticas de Turismo Sexual?”..............................................................................18

24
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

Anexos

Anexo 1: Questionário online

O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea


O turismo sexual apresenta-se como um tópico de discussão bastante polémico entre autores e
investigadores, sendo negado como modalidade turística pela maioria dos trabalhos académicos
existentes. O presente questionário tem o intuito de recolher a opinião leiga relativamente a esta
temática. Agradeço, desde já, a disponibilidade proporcionada.

1. Idade

18-25

26-33

34-41

42-49

50-57

58-65

+65

2. Sexo
Feminino
Masculino

3. Na sua opinião, como definiria Turismo Sexual?


Deslocação de indivíduos com o objectivo primário de estabelecer contactos sexuais com
os residentes do destino.

Deslocação com o intuito de se envolver em relações sexuais, normalmente de natureza


comercial (prostituição).

Deslocações nacionais ou internacionais com o objectivo primário de praticar relações


sexuais com residentes ou não-residentes do destino turístico.

Ocorrência de práticas sexuais durante viagens de lazer ou de negócios.

25
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

4. Dos seguintes cenários, qual(is) atribui a práticas de turismo sexual?


Deslocação de um indivíduo de nacionalidade portuguesa ao Algarve com o intuito de
estabelecer contactos de natureza sexual com turistas estrangeiros.

Deslocação de um indivíduo a uma cidade vizinha para usufruir de serviços de


prostituição.

Ocorrência de um acto sexual durante uma viagem de lazer.

Realização de uma viagem com o intuito de praticar relações sexuais.

Deslocação de um casal a um destino turístico com o intuito de usufruir de práticas


sexuais entre si e com terceiros.

5. Já praticou Turismo Sexual?


O Turismo Sexual traduz-se na deslocação de indivíduos para fora da sua área de
residência, num período superior a 24 horas e inferior a um ano, com o objectivo primário
de obter relações sexuais com residentes ou não residentes do destino turístico.
Sim.
Não.

6. Tenciona praticar Turismo Sexual?


Sim.
Não.

7. Na sua opinião, qual(is) das seguintes opções se adequa(m) às práticas de Turismo Sexual?
Modalidade de lazer vulgar.
Imoralidade.
Associação à prostituição e ao tráfico sexual.
Procura de lazeres exóticos e/ou diferentes.
Conotação negativa dos destinos turísticos.
Outros.

26
Seminário/Projecto II 2012/2013
O Tabu do Turismo Sexual na Sociedade Contemporânea

O presente estudo foi redigido em concordância com as normas do Antigo Acordo Ortográfico.

27

Você também pode gostar