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D. A.

LEMOYNE

Copyright © 2022
D. A. LEMOYNE

dalemoynewriter@gmail.com

Copyright © 2022 por D. A. Lemoyne

Título Original: Deliciosa Armadilha

Primeira Edição 2022

Carolina do Norte - EUA

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta


publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por

qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação


ou outros métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a prévia

autorização por escrito da autora, exceto no caso de breves citações


incluídas em revisões críticas e alguns outros usos não-comerciais

permitidos pela lei de direitos autorais.

Nome do Autor: D. A. Lemoyne

Revisão: Dani Smith Books

Capa: D. A. Lemoyne
ISBN: 978-65-00-43389-0

Esse é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares,

negócios, eventos e incidentes são ou produtos da imaginação da

autora ou usados de forma fictícia. Qualquer semelhança com


pessoas reais, vivas ou mortas ou eventos reais é mera

coincidência.
Sumário

Sinopse

Nota da autora

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13
Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32
Capítulo 33

Capítulo 34

Capítulo 35

Capítulo 36

Capítulo 37

Capítulo 38

Capítulo 39

Capítulo 40

Capítulo 41

Capítulo 42

Capítulo 43

Capítulo 44

Capítulo 45

Capítulo 46

Capítulo 47

Capítulo 48

Capítulo 49

Capítulo 50

Capítulo 51
Capítulo 52

Capítulo 53

Capítulo 54

Epílogo 1

Epílogo 2

Bônus

Papo com a autora

Obras da autora

Sobre a autora
Atenção: pode conter gatilhos.

Aviso: Deliciosa Armadilha, livro 1 da série Feitiço Italiano,


é um volume único. Por ser com casais diferentes, cada livro da

saga pode ser lido separadamente, mas é provável que o posterior


contenha spoilers do anterior.

Beatrice

Eu sempre fui uma boa menina. Um exemplo para os jovens


da atualidade, alguns diriam.

Inteligente, controlada, previsível.

Chata.

Até aquela festa em que, após receber a pior notícia da


minha vida, decidi enlouquecer por umas poucas horas.
O problema é que festejar é para quem sabe. Eu não sabia

como fazê-lo moderadamente e no dia seguinte, meu mundo virou


de pernas para o ar.

De repente, passei de estudante responsável de medicina


para socialite bêbada que vive a vida como se não houvesse

amanhã.

E a pior notícia do mundo?

Há um amanhã e ele responde pelo nome de Mattia Jilani,

meu avô.

Agora, para provar a ele que posso ser confiável e digna da

minha herança, preciso concordar com sua regra, que é

basicamente aceitar a tutela de Tommaso Andresano, o cretino mais


arrogante da Itália, por um ano.

Tommaso

Procuro levar minha vida amorosa de uma maneira simples:

vou a encontros, faço sexo, me despeço.

Com o exemplo que tive em casa, casamento não me atrai.

Filhos então, nem pensar.


Desse modo, me tornar o tutor de alguém parece uma
armadilha.

Ainda mais quando esse alguém é uma delícia cheia de


curvas e lábios tentadores.

Beatrice.

Eu a vi crescer, mas por conta de um episódio do passado,

ela me detesta com toda força de seu um metro e cinquenta e dois.

A garota é a única herdeira do homem que foi meu alicerce

depois que meu avô morreu — Mattia Jilani —, aquele a quem eu

devo muito.

Entretanto, me pedir para tomar conta daquela coisinha

impertinente por um ano inteiro é levar uma dívida longe demais.


A todos aqueles que adoram italianos sexies.

Carolina do Norte, abril de 2022.


Deliciosa Armadilha é o primeiro livro da Série Feitiço

Italiano e contará a história de Tommaso, um bilionário arrogante e


cínico, e a estudante de medicina Beatrice, neta do homem que foi
seu mentor.

Ele, meio-irmão de Ricco Moretti, protagonista de Um Bebê


para o Italiano, vocês já conhecem, mas Beatrice fará sua estreia
em meu universo literário.

O amor desse casal é no estilo cão e gato: engraçado e

muito sensual, mesmo que a garota sexy e linda guarde alguns


segredos.

A presente obra é o primeiro livro da série Feitiço Italiano e

contará também com a participação dos outros irmãos de Tommaso


que terão seus livros no futuro: Chiara, Giancarlo, Gaetano,

Giovanna e Donatella. Ah, teremos uma “pincelada” de Ricco e sua

Luna.
Eu amei escrever sobre esse casal e espero que apreciem

também.

Um beijo carinhoso e boa leitura.

D.A. Lemoyne
Tommaso

Florença

Passado

Gosto do silêncio da madrugada. Na verdade, de silêncios de


uma maneira geral.

Nesse instante em que o mundo todo dorme, eu não preciso

fingir sentimentos.

Enquanto empurro a portinhola de madeira pesada, lascada

pelo tempo, tento me lembrar quando foi a última vez em que estive
aqui, mas não consigo.

Uma sensação boa para caralho se espalha pelo meu peito


ao saber que mesmo depois de tantos anos, Mattia continua
deixando a porta do porão destrancada, como se ainda esperasse

que eu fosse aparecer a qualquer momento.

Eu fazia muito isso quando era adolescente.

O porão da casa dele é praticamente uma suíte de um hotel

cinco estrelas, mas ainda assim, nem eu mesmo consigo entender


porque, depois de adulto, não vou para qualquer outro lugar.

Há muitos anos já não sou aquele garoto perdido que


precisava se esconder da merda que era sua realidade, sou um

homem feito, um empresário sem ter alguém para dar satisfação.

Tento entrar fazendo o menor barulho possível porque não

quero acordá-lo, mas acabo esbarrando em um abajur.

Merda. Talvez esteja um pouco mais bêbado do que eu

pensava.

Eu me dispo, ficando só de cueca. Nem cheguei a acender a

luz, mas mesmo assim, por ser uma noite enluarada, um clarão

vindo da pequena janela perto da entrada externa, permite que eu

consiga ver o contorno dos móveis e objetos.

Fecho os olhos, tentando dormir. Foi por isso que bebi, em

primeiro lugar: para esquecer esse dia fodido.


Desde a adolescência não tomo mais tanto álcool como fiz
hoje, mas essa noite eu precisava do alívio da inconsciência.

Esquecer que meu sobrinho Nicolo[1], o menino que poderia ter sido

meu filho se as coisas fossem diferentes[2], está morto.

Não sei quanto tempo se passa desde que cheguei, até que

ouço o barulho da porta interna, que vai dar na cozinha de Mattia, se

abrindo.

Primeiro acho que é um sonho, depois, que é meu velho


amigo, que entendeu que tinha de volta seu antigo hóspede.

Entretanto, levo poucos segundos para perceber que as passadas

são suaves demais para pertencerem a um homem.

— Quem é? — pergunto como se fosse o dono do lugar e

não um intruso que invadiu uma mansão centenária.

— Sou eu, Beatrice, Tommaso. — Ouço a voz doce da neta

de Mattia como resposta.

Mesmo em meu estado semi-embriagado, sei que deveria

mandá-la embora. Estou quase nu e Beatrice é só uma menina de

dezenove anos incompletos. Antes que eu possa tomar qualquer

atitude, ela para ao meu lado do sofá.

Nos encaramos em silêncio.


Percebo que está me olhando mais pela posição de sua

cabeça, já que na penumbra eu não consigo identificar seus olhos,


embora conheça a cor deles muito bem: são verdes claros, límpidos,

inocentes.

— O que está fazendo aqui, Beatrice?

— Vim ver se está tudo bem com você.

— E como sabia que era eu?

— Vovô me disse no outro dia que fazia muito isso quando


era adolescente. Quando ouvi o barulho… bem, devido ao que
aconteceu hoje, achei que podia ser você.

— Vá embora. Não preciso de companhia. Além disso, não

deve ficar sozinha com um homem quase seminu no meio da


madrugada.

— Não sou mais criança e também não sinto medo de você.

Ela não se mexe e ainda que eu saiba que é errado, meus


olhos passeiam pelo corpo coberto por uma pequena camisola

branca, muito colada. Não há nada de sexy na roupa, até onde


posso notar. Ao contrário, é muito casta, mas nela fica sensual,
grudando-se às curvas que até hoje nunca havia me permitido

pensar a respeito.
Sou um cafajeste no que diz respeito às mulheres, mas

jamais me aproximo daquelas que têm qualquer ligação com a


minha família. E de todas com as quais eu poderia cometer esse

erro, Beatrice Jilani é território completamente proibido.

— Não vou te deixar aqui. Seu dia foi horrível. Não quero que

fique sozinho hoje, Tommaso.

— Não sabe o que está dizendo ou mesmo tem ideia do que


eu preciso — falo, pronto para expulsá-la do porão.

Sua determinação em me fazer companhia, aliada ao tom


ligeiramente rouco da voz e o corpo sexy, estão me deixando com

tesão.

Em um dia bom, eu não sou homem para me envolver com

uma garota como Beatrice, mas hoje, com meus sentimentos


voláteis, com a dor dentro do meu peito que parece me rasgar como

uma lâmina afiada, eu sou a pior pessoa para se ter por perto.

— Não me mande embora — diz e se senta na beira do sofá.

A pele de seu joelho, quente como brasa, encosta nas

minhas costelas e meu corpo reage.

Culpo o álcool por confundir meu cérebro e transformá-la da


garotinha que vi crescer em uma deusa sedutora.
— Vá dormir, Beatrice. O que quer que esteja passando pela
sua cabeça, vai se sentir mal para caralho quando acordar amanhã.
Não sou o tipo de homem o qual você deva se manter perto.

— Não tem nada passando pela minha cabeça a não ser lhe
dar meu apoio, Tommaso. Deixe-me ficar.

Não sou tolo. Sei o que ela está me oferecendo. O que não
tenho certeza, é se ela sabe o quanto é perigoso para seu coração
inexperiente, se envolver com um homem como eu.

Claro que eu já percebera a garota me olhando nas vezes em


que nos encontramos em visitas que fiz a seu avô, mas creditei

aquilo a uma paixonite de uma adolescente tentando descobrir o


próprio poder de sedução. O problema é que nada em Beatrice

atualmente a faz parecer uma menina. Ela é toda mulher. Uma


delícia.

Não costumo negar prazeres a mim mesmo, principalmente


os sexuais, mas nesse instante há uma guerra fodida em meu

interior.

Por tudo que sei dela, é pura, sem qualquer vivência, já que

Mattia a tem sob rédea curta.


Meu objetivo ao vir aqui hoje não era seduzir a neta do meu
amigo, e sim, fugir do presente.

— Só vou ficar um pouco, não a noite toda. — diz.

Indo contra o que sei que deveria fazer, lhe dou espaço e ela
se acomoda no sofá, deitada de lado, a cabeça recostada no meu

bíceps.

Seu cheiro é gostoso para cacete. Uma coisa frutada, meio


embriagante.

— Sei que não gosta de mim, mas só por hoje, me deixe ser

sua amiga.

Eu não a corrijo, embora não tenha certeza de onde tirou a


ideia de que não gosto dela. Somente sempre a tratei como faço

com minhas irmãs: ficando de olho e mantendo os canalhas —

como eu — bem distantes.

Sua mão vem para o meu peito, espalmada, úmida e macia e

antes que eu consiga evitar, meu pau endurece imaginando se ela é

assim em todo lugar.

Como se tivesse vida própria, meu braço envolve sua cintura.

— Não tenho amigas, Beatrice. Só mulheres.


Mesmo meio anestesiado pelo álcool, não pretendo ir muito

além de abraçá-la, mas ainda assim, me sinto na obrigação de


deixar o aviso.

Ela não responde. Ao invés disso, se aconchega mais.

Eu a seguro até sua respiração ficar ritmada e começar a


ressonar. O sofá é apertado para nós dois, então a ergo e passo por

cima de mim, imprensando-a entre o encosto e meu corpo para não

correr o risco de derrubá-la se me mexer durante o sono. Ela

ronrona como uma gatinha e vira de costas.

Aos poucos, sentindo seu corpo moldado ao meu, eu

finalmente consigo me acalmar.

Não sei por quanto tempo durmo, mas acordo com ela

movendo a bunda durinha contra meu pau. Por sua respiração,


percebo que ainda está adormecida, mas eu, infelizmente, não. Seu

rebolado inconsciente consegue fazer ferver cada gota de sangue

em meu corpo.

— Acorde, Beatrice. Você precisa subir.

— Não — resmunga, sonolenta. — Eu não quero ir. Nunca

dormi tão bem.


O braço se eleva, vindo para trás, me puxando pelo pescoço.

Eu resisto apenas por poucos segundos antes de agarrá-la mais

forte, colando irremediavelmente nossos corpos.

— Você não quer passar a noite comigo. Não sabe o que


está pedindo.

— Talvez não, mas não vou embora. Esperei muito tempo por

isso — diz, confirmando as suspeitas de que seu interesse por mim


não começou hoje.

Com a certeza de que estou pisando em gelo fino, ainda

assim não insisto para que volte para o próprio quarto.

Pelo contrário, afasto uma mecha de cabelo de sua orelha e


mordisco o lóbulo.

— Esperou por isso o quê?

— Nós dois — fala, simplesmente, como se aquilo explicasse


tudo.

— Nós dois? Pensei que tinha vindo me consolar.

— Vim por você. Para você. Para tudo o que precisar.

— Vou te dar uma última chance de escapar.

— Não vou embora, Tommaso.


Mando a racionalidade para o caralho e enfio uma das

minhas pernas entre suas coxas, separando-as.

Ela arfa.

— Quer ficar comigo para o que eu precisar? — pergunto,

completamente louco.

Ela olha para trás e me oferece a boca.

Tento resistir, mas tudo na ruiva é quente demais.

Respiração e corpo. Seu cheiro.

Até mesmo o suave roçar de seus cabelos longos contra o


meu peito.

Encosto nossos lábios, querendo ter somente um gosto, mas

quando sinto sua doçura, aprofundo o beijo, metendo a língua

naquela caverna molhada.

Ela geme contra minha boca e empina a bunda. Não acho

que seja um ato consciente de provocação. Beatrice, agora percebo,

é naturalmente sensual.

Meus dedos deslizam com lentidão por seu quadril e coxa.


Ainda que eu esteja alucinado de desejo, lhe darei tempo para me

parar, se for o que quer. Mas como uma tentação encarnada, sua

mão pequena se sobrepõe a minha, e ela pede:


— Toque-me.

Minha mão viaja para a frente de sua calcinha e o tecido

úmido me dá a prova do seu tesão.

Eu a acaricio de leve e ela choraminga. Por enquanto, ainda


temos a barreira da lingerie.

Sem conseguir mais represar a vontade de tocá-la, meus

dedos invadem seu calor.

Merda. Está encharcada. O clitóris, duro de tesão.

Eu o massageio com o polegar e ela morde meu braço que a

envolve, acho que para conter um grito.

— Quer gozar? — provoco, acariciando suas dobras com


meu dedo médio.

Não há um só pensamento lógico me atravessando. Minha

mente é uma bagunça de álcool e desejo.

Empurro a ponta do dedo em sua abertura e ela se contrai


em volta dele.

Foda-me, é apertada para caralho.

Chupo seu pescoço.

— Responda. Quer gozar com meus dedos dentro de você?


Ou quer que eu lamba essa bocetinha doce?
— Ahhhhh…

Forço mais um pouco e ela solta um gemido meio


angustiado.

Eu congelo o movimento e o que ela diz a seguir me choca

para cacete.

— Eu não sei. Nunca fiz isso antes.

— O quê?

Silêncio.

— Beatrice?

— Sou virgem.

Ela gira em meus braços.

— Isso não é grande coisa. A não ser que você não queira

ficar com alguém inexperiente. Sei que não sou como suas

namoradas, mas…

Já não estou mais prestando atenção.

De repente, a névoa de luxúria é aplacada, assim como o

efeito de todo o uísque que tomei.

Levanto-me, me distanciando porque mesmo consciente


agora de que não posso tocá-la, meu corpo se revolta contra essa

decisão.
O que diabos estava passando pela minha cabeça? Claro
que ela é virgem. Mattia a fez prometer que se casaria pura, agora

me lembro.

Eu ia abusar da confiança dele fodendo sua neta em seu


porão. Mais do que isso, eu ia corromper uma virgem, um anjo puro,

intocado, estando bêbado.

No que isso me faz diferente do meu pai, aquele


desgraçado?

Acendo a luz do abajur e levo somente segundos para

entender que não foi uma boa escolha.

O rosto dela é inocente e demonstra confusão, mas também


é a pura imagem do pecado.

Seus lábios estão inchados e ainda úmidos dos meus beijos.


A alça da camisola cai displicentemente por um dos ombros,

provocando-me com a sombra do seios, cujos mamilos duros


apontam no tecido fino.

Dino Moretti. Lembre-se daquele filho da puta. Você não é


como ele. — Uma voz me avisa.

Sinto nojo de mim mesmo por sequer ter pensado em seduzi-


la.
Ela se senta no sofá.

— Tommaso?

— Vá embora, Beatrice. Você não faz ideia do quanto eu


poderia machucá-la. Devemos esquecer o que aconteceu. Foi um
erro.

— Um erro?

Sua voz está trêmula e eu me sinto mal para caralho, mas se

a tocar outra vez para consolá-la, vamos terminar nus, comigo


enterrado em seu corpo.

— Sim, um erro. Não sabe quem eu sou. Se nos

envolvermos, vou partir seu coração.

— Por que faria isso?

— Porque eu não tenho um.


Beatrice

Florença — Itália

Quase dois anos depois

Giro em frente ao espelho, olhando-me de todos os ângulos


possíveis, mas a sensação não muda. Estou muito arrependida de
ter cedido ao impulso e comprado o vestido preto com pequenas

lantejoulas penduradas.

Ele pareceu lindo na modelo com um metro e oitenta de


altura que o usava em um desfile na semana de moda em Paris, na

última primavera.

Experimentei-o em casa e achei que estava bem aceitável,

mas agora, me sinto nua.


Ponho a culpa no meu traseiro.

Devido ao tamanho do meu bumbum, pareço mais uma

mulher sexy e autoconfiante — o que é uma mentira — do que a

neta de um dos homens mais ricos da Itália.

Espero que meu avô não diga em voz alta, na frente de todo
mundo, o que tenho certeza que vai pensar: que essa não é uma

roupa aceitável para sua herdeira.

Mattia Jilani, o homem que me criou, apesar de ser meu

mundo inteiro, parece viver no século retrasado.

Absolutamente qualquer ação dele é analisada e pesada com

cuidado para não prejudicar o tradicional nome da nossa família —

não prejudicar mais do que meus pais já fizeram no passado, em


todo o caso.

Detesta superexposição em qualquer sentido.

Porque sou sua única herdeira e graças ao histórico dos

meus pais, ele me mantém sempre ao alcance do braço.

Eu odeio chamar atenção e ser alvo de comentários da alta

sociedade italiana não está entre minhas dez coisas preferidas na

vida.
Passo os dedos pela têmpora, sentindo que uma dor de
cabeça se aproxima.

Jesus! O que eu faço?

Não dá mais tempo de conseguir outra roupa e a única

pessoa que conheço que poderia ser mais ou menos compatível

comigo em corpo, Donatella Andresano[3], a irmã daquele que não

gosto de falar o nome, está em uma viagem de férias pela Europa

para, segundo ela mesma, coletar material para seu canal da


internet.

Ela é uma importante influencer[4], com mais de um milhão de

seguidores em seu canal e sempre que tem oportunidade, sai em


viagens para conhecer lugares e assim, ter do que falar.

Sorrio lembrando do dia em que me contou que Tommaso


quase infartou quando soube que não terminaria a faculdade, mas

ao invés disso, se dedicaria exclusivamente à produção de conteúdo

para seu próprio negócio.

Não me admira que ele não tenha levado aquilo tão bem, já

que tem como norte controlar tudo e todos à sua volta, assim como

meu avô.
Logo que percebo que minha mente traiçoeira andará

novamente por essa estrada tão bem conhecida — a obsessão pelo


maldito arrogante, que para meu azar é também o homem mais

sexy já conheci — eu me paro.

Não rápido o suficiente, no entanto. A lembrança do rosto

másculo e de maxilar pronunciado, sempre coberto por uma fina


camada de barba por fazer, como se ele não desse a mínima para a
opinião dos outros, já está tatuada no meu inconsciente.

O nariz orgulhoso e a boca de lábios cheios, que eu sei por


experiência, tem um gosto delicioso.

O físico musculoso que faz com que, mesmo de terno, pareça


um convite para a luxúria, causando na pobre coitada que cruzar

seu caminho o desejo de rasgar peça por peça e se jogar naquele


corpo dourado.

Entretanto, o que em mim tem mais impacto são seus olhos.


Contraditoriamente frios, mas também excitantes, debochados,
como se soubesse dos segredos de cada um.

Azuis, profundos e que quando me encaram, por poucos


segundos que seja em nossos raros encontros atualmente, me

deixam trêmula.
Mesmo depois de tudo o que aconteceu naquela noite há

quase dois anos, quando eu finalmente criei coragem de fazer um


movimento sobre ele após anos fantasiando e em seguida, fui

rejeitada, pensar nos poucos minutos roubados que tivemos faz


minha pulsação acelerar.

O clichê dos livros é a menina que se apaixona pelo melhor


amigo do irmão, certo? Mas eu sou filha única, então, o cara por

quem eu suspirava aos quinze, dezesseis, dezessete… acho que


você já entendeu, né? Era o tutelado do meu avô.

Não posso usar a palavra protegido, porque mesmo com uma

família tão louca como a dele, Tommaso nunca precisou ser


protegido de nada por ser tão rico quanto nós. Porém, houve uma
época, segundo vovô me falou, que ele fugia para cá, a mansão

Jilani, para não ter que aguentar o pai em casa.

A história familiar dele é horrível e por ser conhecida de

Donatella, ouvi ao longo dos anos que eles sofreram muito enquanto
cresciam.

Eu, mais do que ninguém, sei como a alta sociedade italiana


pode ser cruel, fazendo os filhos pagarem pelos pecados dos pais.
Ouço duas batidas na porta e sei que é a governanta, Aria,
quem está vindo me lembrar que me encontro no limite do tolerável
quanto ao horário pelos padrões do meu avô, porque ele odeia

atrasos.

— Pode entrar, Aria.

Ela não fala nada quando vê o que estou usando, mas nem
precisa. Depois de conviver com a mulher adorável desde pequena,
conheço quase todas as suas expressões faciais e a do momento

diz: menina, você está tentando arrumar problema.

— Não tenho outra roupa. Deixei todos os meus vestidos

novos de festa em Milão.

— Eu não falei nada.

— Nem precisa. Meu avô vai ficar aborrecido, né?

— Para dizer o mínimo, Beatrice, mas você está linda.

— Não estou parecendo uma atriz pornô? Acho que meu


corpo é todo “demais” para uma roupa dessas.

— A roupa é adequada para seu corpo e idade. Está muito


bonita e sexy, mas sabe que seu avô não vai aprovar.

Suspiro e fecho os olhos por alguns segundos.

— Sabe se Diego já chegou?


Ela fecha a cara.

— Não.

— Por que não gosta dele, Aria?

Desde que comecei a namorá-lo, há alguns meses, a mulher


que ajudou meu avô a me criar não disfarça a antipatia pelo rapaz.

— Não cabe a mim gostar ou não gostar do seu escolhido.

— Ele não é meu escolhido. Estamos namorando, não com

um pé no altar.

— Não é o que seu avô pensa. Ele tem planos para vocês

dois.

— Eu, não. Estamos no século vinte e um. Ninguém mais se


casa para unir sobrenomes, pelo amor de Deus!

— Então por que não diz isso ao signor[5] Mattia? Por que

permite que guie sua vida como um déspota?

— Você sabe a razão. E além disso, não seja injusta. Vovô

não é ruim para mim. Estou fazendo faculdade de medicina, que é o


que sempre desejei. Ele apoia meus sonhos.

— Esses sonhos são, principalmente, cuidar de suas crianças

no futuro, né?
— Sim. Ele me disse que assim que eu fizer vinte e um anos,

liberará uma parte da minha herança para que eu possa investir na


fundação que pretendo abrir. Agora, vamos parar de jogar conversa

fora. Ele já vai ficar irritado ao me ver com esse vestido, imagine se

eu, além de tudo, chegar atrasada. Vamos lá. Preciso enfrentar a


fera.

As feras — me corrijo em silêncio, porque a certeza de rever

Tommaso é ainda mais assustadora do que o mau humor do meu

avô.
Beatrice

— Você não está prestando atenção ao que eu disse,


Beatrice — meu namorado reclama.

E você não está prestando atenção em mim, como sempre,


então de onde eu vejo, há um empate aqui.

Olho para o lado, pela primeira vez desde que desci,

encarando o homem que, assim como eu, ostenta um sobrenome


digno da realeza — ainda melhor do que o meu, na verdade, porque

no currículo de Diego Mariano Palmieri não há uma mancha na

reputação. Seus pais são a imagem da família perfeita.

Estremeço quando uma fisgada atinge minha têmpora direita.

A dor de cabeça, que antes de eu descer a escadaria da

mansão do meu avô era só uma ameaça, agora faz meu cérebro
latejar, como se uma banda de rock alternativo estivesse dentro

dela.

— Eu ouvi sim, só não tenho qualquer comentário para fazer

a respeito.

— Como não? Tem que estar inteirada desses assuntos para


quando, no futuro, dermos festas em nossa casa, saber o que

conversar com os convidados. Encare isso como uma espécie de

treino.

Acredite, eu tenho treino suficiente no plantão do hospital a

cada setenta e duas horas quando tento, junto à minha equipe,


evitar que alguém morra.

Entretanto, sei que não adiantaria falar. Diego só ouve o que


quer.

Observo com atenção o homem que há meses tem aparecido

comigo nas revistas de celebridades.

Diego é, como ele mesmo faz questão de me lembrar,

cobiçado por todas as solteiras da alta sociedade italiana.

Loiro, porte atlético, primeiro aluno de uma prestigiada

faculdade de Administração nos Estados Unidos, onde ainda


estuda. Meu namorado é a perfeição encarnada. Então por que eu
não consigo me sentir feliz ao lado dele? Ao contrário, quanto mais
tempo passa, mais eu me sinto sufocar.

Por dentro, estou suspirando, irritada. Por fora, sou a imagem


da passividade que tanto agrada ao único homem da minha vida.

Assim, ao invés de virar as costas e deixá-lo falando sozinho,

mantenho o rosto neutro ao responder.

— Sempre estive presente ao lado do meu avô nas


recepções que ele oferece. Mattia nunca fez qualquer reclamação

quanto ao meu comportamento.

Eu deveria parar por aqui. Deixar o assunto morrer porque já

aprendi que Diego não fala para o expectador ao lado, mas para si

mesmo. Pura retórica, como se amasse o som da própria voz.

Entretanto, hoje, o gênio ruim que mantenho guardado a sete-

chaves, teima em emergir, então decido completar:

— Mas só para esclarecer, não há porquê você se preocupar

com a inadequação do meu comportamento. Somos apenas

namorados. Não sabemos nada um do outro para já planejarmos o

futuro.

Ele me olha chocado, como se eu tivesse xingado sua mãe

na frente da festa inteira.


— Não precisamos nos conhecer tão bem assim. Meus pais

namoraram apenas dois meses antes de serem abençoados pelo


padre e mais de mil e quinhentos convidados em seu casamento.

Temos o principal.

— Amor? — falo, sem conseguir resistir em provocá-lo

porque mesmo o mais desatento dos observadores saberia que


nossa relação não chega nem a uma milha de interesse romântico.

O pai dele e meu avô são sócios e amigos de longa data.

Enquanto eu crescia, sempre nos encontrávamos, mas não havia


qualquer interesse da minha parte. Eu o achava pedante demais e o

que no meu avô pode ser charmoso ocasionalmente, nele parecia


somente chato.

Poucos anos mais velho do que eu em meus quase vinte e


um, ele foi estudar nos Estados Unidos. Na primeira reunião que
nós dois participamos, em uma de suas voltas para casa, ele

parecia diferente. Menos formal e até mesmo me fez rir.

Com a minha obsessão em relação a Tommaso, achei bem

saudável tentar investir em alguém, mesmo que a última coisa que


passe pela minha cabeça seja casamento. Eu não pretendo cair

nessa armadilha tão cedo, se é que cairei algum dia.


Enfim, na época em que ele me convidou para sair e na

mesma noite, me pediu em namoro, pareceu certo direcionar meu


interesse para alguém real ao invés de uma fantasia que nunca se

concretizaria, então aceitei.

Nas primeiras semanas, por estarmos ambos de férias, foi

incrível. Diego é meu primeiro namorado, então sair sozinha com


um rapaz, jantar, receber flores, ir a festas juntos, tudo isso, pareceu

quase um conto de fadas.

O problema é que nosso relacionamento não evoluiu depois


daquela primeira semana.

Fora as lembranças constantes sobre o meu comportamento


que o fazem parecer mais um pai do que um cara com quem eu

deveria estar aproveitando a vida, não fomos além de beijos castos


e passeios de mãos dadas — e assim mesmo essas ocasiões são
bem raras, já que ele não gosta de demonstrações públicas de

afeto.

Tudo bem, eu entendo que ele me respeite.

Acho que em função do meu avô ser quem é e também pelo

fato de que eu tenho quase certeza de que há um “virgem” escrito


na minha testa, Diego nunca tentou nada nem perto de fazer sexo
comigo. Mas eu acho bem esquisito que depois de meses não tenha
tentado nada.

Quero dizer, não sou exatamente apaixonada por ele ou


mesmo me sinto loucamente atraída, mas isso não significa que
quando nos beijamos por mais tempo meu corpo não desperte. No

entanto, cada vez que isso acontece, ele parece pressentir e me


afasta.

— Amor é um sentimento supervalorizado — ele finalmente

responde. — Viemos de uma boa linhagem e nos damos bem. Não


é algo fácil de se obter hoje em dia.

— Eu me dou bem com um monte de gente do meu curso e


nem por isso penso em casar com qualquer uma daquelas pessoas.

Acho que você está assumindo demais sobre nós dois.

Geralmente não o enfrento assim, não porque o tema, mas

por pura preguiça.

— Você entendeu perfeitamente o que eu quis dizer, Beatrice.

Cada vez mais eu percebo que estou cometendo um erro


levando esse relacionamento adiante.

Eu tinha toda intenção de pôr um fim em nossa curta história


esse mês, inclusive, mas fui aceita para fazer um estágio em Nova
Iorque, no hospital que pertence à família do renomado

neurocirurgião Athanasios Pappakouris[6], então vou nos dar mais


uma chance.

Como Diego estuda em Boston, relativamente perto de Nova


Iorque, quem sabe longe da opressão da alta sociedade italiana não
consigamos descobrir mais coisas em comum?

— Na verdade, não entendi não, mas será que isso tem

alguma importância?

Ele toma um pouco de distância e me olha de cima a baixo.

— O que deu em você hoje? Primeiro, aparece vestida assim

— diz, e eu não me surpreendo, já que tanto ele quanto vovô

franziram a testa ao verem meu vestido — Agora, vem com ironias.


Estou desconhecendo a menina doce que eu pedi em namoro.

Precisa controlar seu temperamento.

Conto até dez mentalmente, pensando que meu avô não


merece um escândalo em sua festa e como sempre acontece,

sufoco o que sinto vontade de dizer.

— Para não lhe causar aborrecimentos, talvez seja bom que

eu vá dar uma volta, Diego. Quem sabe assim eu consigo pensar


com clareza e controlar meu temperamento?
Sem esperar resposta ou olhar para trás, saio do salão

principal em direção ao jardim.


Tommaso

Participar de festas com pessoas que sempre trataram minha


família como lixo não é minha ideia de diversão, ainda mais depois

do dia infernal que tive hoje. Mas por Mattia, decidi fazer o sacrifício.

Aperto o celular com força, por um instante desejando que

fosse o pescoço do miserável cuja participação na minha vida são


os cinco minutos de contribuição genética quando me conceberam:

Dino Moretti[7].

O homem que mesmo depois de ter matado um por um os

sonhos da minha mãe, ela não consegue virar as costas.

A notícia que acabo de receber mudará o rumo da nossa

família. E o pior: terei que guardar segredo como prometi, mesmo


odiando mentiras.
Fecho os olhos por um instante, tentando imaginar o futuro.

Nada jamais será igual.

Afasto a queimação que me envenena por dentro.

Até em uma hora decisiva de sua vida, ela o escolhe ao invés

dos filhos.

Ao menos por essa noite, não quero pensar que enquanto

aquele miserável traidor continuará se divertindo com todas as


outras amantes que eu sei que tem, a vida da minha mãe talvez

será regida por um maldito relógio. Uma contagem regressiva até

que nos deixe.

Quando eu achei que as coisas começavam a se encaminhar

para a normalidade, vem o destino e diz: foda-se você, ainda temos


muito mais para jogar em seu caminho.

Ando pela festa na mansão Jilani sem qualquer intenção de

interagir com quem quer que seja. Minha veia social, que é muito

pequena, geralmente está voltada para um objetivo e esse objetivo,

na maior parte das vezes, tem curvas e após alguns minutos de

conversa banal, me deixa levá-la para onde eu quiser e fazê-la

gemer enquanto a fodo.


Essa festa, entretanto, não foi feita para a caça. Vim para
prestar homenagem a uma das poucas pessoas que respeito,

mesmo que na maior parte do tempo, discutamos por termos visões

diferentes do mundo.

Mattia é excessivamente preocupado com a opinião alheia,

enquanto eu não dou a mínima. Aliás, o questionei outro dia por que

no inferno ele se mantém próximo a mim, sabendo que tanto eu

quanto meus irmãos somos considerados párias diante da alta

sociedade italiana.

Não me deu uma resposta satisfatória, apenas dizendo que

sou “seu garoto”.

Pensar nos meus irmãos me faz lembrar dos outros dois, que

são apenas meio-irmãos: Chiara e Ricco.

Os filhos da outra.

Não, você é o filho da outra — uma voz me avisa.

Chiara[8], é a caçula dos sete filhos do trapaceiro do Dino

Moretti — ele tem dois filhos com a esposa oficial e cinco, contando

comigo, com a minha mãe.

Minha meia-irmã é um pedacinho de gente determinado.

Tentei fugir de sua perseguição implacável porque nossas famílias


são inimigas por motivos óbvios: nosso pai, aquele desgraçado,

casou-se com a mãe dela, Carina[9] e ao mesmo tempo manteve um

relacionamento com a minha mãe, administrando duas famílias


paralelas.

Eu poderia simplesmente odiá-lo como o faço de fato, mas o


que me corrói por dentro é que mesmo sabendo que ele não vale

um euro, minha mãe ainda beija o chão que o desgraçado pisa.

O relacionamento doentio dos dois foi a razão pela qual,


ainda adolescente, fui morar com meus avós. Eu não conseguia

suportar sua presença dentro da nossa casa e mesmo assim,


sabendo o quanto aquilo me fazia mal, mamãe permitia que se

sentasse à mesa conosco em um dos dias do fim de semana para


fazer refeições como um pai amoroso faria, não um maldito traidor
que é o que ele é.

Já com relação a Ricco[10], demorou um pouco mais para


conseguirmos nos entender. Diria até que nossa aproximação — se
é que o fato de conseguirmos conversar sem ter tanta vontade de

matar um ao outro possa ser chamado assim — se deu mais por


força do destino do que por vontade real de qualquer um dos dois.
O rancor entre nós, que começou quando descobrimos que o

nosso pai era o mesmo e que as duas mulheres mais importantes


das nossas vidas eram usadas por aquele canalha, foi aumentando

gradualmente conforme crescíamos e culminou quando, sem


sabermos, tivemos uma parceira sexual em comum, com uma

diferença de poucas semanas de um para o outro.

Não tem nada a ver com o fato de termos dormido com a

mesma mulher e sim com Naomi[11] ter engravidado e não ter

certeza de quem era o pai. Eu nunca deixaria um filho ser criado


longe dos meus olhos, então mesmo que ela afirmasse que achava
que o bebê era de Ricco, eu exigi um exame de DNA.

Como se fosse possível, meu meio-irmão me odiou ainda


mais. Quando o resultado veio negativo, senti um alívio fodido
porque ter um elo para o resto da vida com uma louca como Naomi

seria minha ideia de pesadelo. Entretanto, depois que meu sobrinho

se foi, vítima de uma tragédia do destino[12], pensei se de algum


modo, se fosse meu, não teria cuidado dele melhor.

Claro, eu estava sendo injusto. Ricco, dadas as


circunstâncias — não compartilhava a guarda com Naomi — era um

bom pai.
A mulher era louca e expôs a criança a um estilo de vida
irresponsável, o que acabou desencadeando toda a tragédia.

Quando tudo aconteceu, não fiquei satisfeito com a


investigação da polícia e fui atrás da verdade.

Segundo nos disseram, Naomi se descuidou do meu

sobrinho, deixando a porta da piscina aberta, o que resultou no


afogamento dele. Ao acordar e descobrir que o filho morrera, a
mulher se matou.

Para mim a história não parecia completa, então decidi


contratar um dos melhores investigadores particulares da Europa

para apurar todos os fatos.

Ricco estava tomado pela dor e não conseguia pensar com

clareza. Já eu, estava determinado a descobrir o que realmente


aconteceu com meu sobrinho. Pouco importava que Nicolo era filho

de alguém que me detestava e por quem eu tinha igual desprezo e


sim, que o menino era meu sangue.

No fim, o que nosso parentesco indesejado não conseguiu, a


morte do garotinho fez. Eu e meu meio-irmão estamos longe de

sermos melhores amigos. São anos demais de rancor — verdade


seja dita, alimentados muito mais por minha mãe do que por Carina,
a mãe dele —, para que, de uma hora para outra, possamos
conviver pacificamente.

De qualquer modo, agora temos um objetivo em comum e já


encontramos o fio da meada que talvez nos permita desvendar o
que realmente ocorreu naquela madrugada.

Estou quase chegando à piscina, tentando fugir um pouco da

multidão de convidados, quando vejo de relance uma nuvem de


cabelos vermelhos virando uma árvore e sumindo de vista.

Sei que é Beatrice e se tivesse pensando direito, lhe daria as

costas para voltar à festa, mas ao invés disso, sigo em seu encalço.

Há alguma coisa na ruiva deliciosa que me mantém preso,


observando-a a cada vez que nos encontramos.

Não é algo que eu aceite com facilidade. Ao contrário, eu

combato porque mesmo após dois anos, nada mudou. Por mais
atraído que eu me sinta por ela, a garota não é para mim.

Mattia tem planos de casá-la com um cretino: Diego Mariano

Palmieri e mesmo achando-o um completo imbecil, talvez seja o que

Beatrice precisa: alguém que vá viver, assim como ela, sob o


comando do velho Jilani.
Depois daquela noite em que eu quase traí a confiança de

Mattia, comendo sua neta virgem debaixo do teto dele, eu só vi


Beatrice poucas vezes.

Ela já estudava medicina em Milão, o que facilitou tudo.

Nesse semestre, entretanto, com a saúde do avô abalada


devido a um infarto recente, ele me disse que voltará e concluirá os

estudos em Florença.

Antes, parece que irá fazer um curso nos Estados Unidos —

é, eu sei tudo da vida dela. Minha mania de controle se estende até


mesmo sobre quem não deveria. No caso, a neta de Jilani, que é

totalmente proibida para mim.

Eu só vou dar “oi” — digo a mim mesmo, quando sei que é

mentira.

Na verdade, estou a caminho de brincar com fogo — um bem

quente e curvilíneo —, mas não consigo resistir.


Beatrice

— Estou começando a acreditar que é coisa do destino.

Eu congelo ao ouvir sua voz.

Aquela bendita voz que, mesmo depois de quase dois anos,

ainda consigo escutar sussurrando no meu ouvido a pergunta que


me deixou noites sem dormir: como eu preferiria gozar.

Naquela época, eu não tive uma resposta sexy para dar.


Ainda hoje não teria, se fosse só baseando-me em experiência,

porque se melhorei alguma coisa em minha vida sexual, foi tudo

virtualmente, ao ler os livros de M Cabot Olson[13]. Entretanto, ao

menos faria suas calças um pouco mais apertadas, porque apesar

da rejeição sofrida, eu sei que naquela madrugada, Tommaso me


desejou tanto quanto eu o quis.
Respirando fundo, olho para trás para focar no detentor de

todas as minhas fantasias sexuais.

— Boa noite, Tommaso. Não sei do que está falando.

— Eu vi que acabou de virar duas taças de vinho que

carregava em cada mão. Então pensei que devem ter escrito em


algum lugar que sempre quando nos encontrarmos, um de nós

deverá estar bêbado.

E então acontece outra vez.

Tem sido assim ao longo desses anos, desde aquela noite. A


pouca interação que temos, termina em briga. Eu o enfrento como

não faço com qualquer outro e acho que um psiquiatra poderia dizer

que é um modo de satisfazer algum tipo de emoção com relação a


Tommaso, como uma preliminar sexual, já que é tudo que eu posso

ter. O fato é que o homem me deixa louca.

— É isso o que diz para si mesmo sobre aquela noite? Eu sei

que tinha bebido porque lembro do gosto do álcool quando me

beijou, mas sei também que seu desejo era muito real. Faço

medicina, esqueceu? Se há algo de que entendo, é do

funcionamento do corpo humano.


Ele dá um passo para perto e eu estremeço porque não
consigo evitar reagir ao homem, mas mesmo sabendo que deveria

recuar, fico parada.

— Eu não disse que não me lembrava de nada, mas que

estava sob o efeito do álcool, assim como você está agora.

— Talvez não me conheça tanto quanto pensa. Cresci

praticamente dentro de vinícolas. Vinho não tem um efeito tão forte


em mim.

Como você, por exemplo, que me deixa completamente


embriagada somente quando me olha.

— O quê, então?

— Oi?

— Disse que o vinho não te deixa tonta, bella[14]? O que a faz

enlouquecer, então?

Não é o que ele fala, mas o tom de sua voz e também a

maneira como seus olhos me percorrem da cabeça aos pés, que

fazem borboletas rodopiarem em meu estômago.

Grande! Eu fico meses sem ver o homem e quando acontece,

voltamos à estaca zero.


— Homens arrogantes — falo, tentando fugir da nuvem

sensual para a qual ele me arrasta.

O canto de seu lábio superior se ergue em um fantasma de

um sorriso e doce Senhor Jesus, deveria haver alguma regra


proibindo que o homem me deixasse tonta só com aquela cara de

safado.

— Eu, no caso.

— Não. Em geral — minto, porque não conheço um mais

arrogante do que ele e porque também, mesmo que conhecesse,


ele seria meu favorito.

— O que está fazendo aqui sozinha?

A mudança de assunto é um alívio. Eu, que me considero


extremamente racional, não consigo pensar direito com Tommaso
tão perto.

— Não gosto de multidões.

— Mas não tem muita escolha?

Sei que ele está falando das constantes festas que meu avô
dá aqui na mansão.

Balanço a cabeça de um lado para o outro, focando em um


ponto de luz atrás dele. Qualquer coisa é melhor do que ficar
encarando-o, ainda mais nessa parte do jardim, quase na

penumbra, o que cria uma atmosfera de intimidade muito arriscada.

— Ele não se diverte nessas festas — diz, se referindo ao

meu avô.

Tommaso o conhece tão bem quanto eu mesma e sabe que a

maior parte do que Mattia faz é para satisfazer a alta sociedade.

— Não — concordo —, mas quer oferecê-las assim mesmo.

— E você, como a boa menina que é, comparece.

— Não sei se está lembrado, mas hoje é o aniversário dele.

— digo, irritada com a crítica velada.

— E nas outras em que parece estar morrendo de tédio e


vem mesmo assim?

Ele presta tanta atenção em mim ao ponto de saber que


odeio essas festas?

— Como sabe?

— Sou um observador por natureza.

— Não gosto dessas festas porque me sinto vigiada. É meio


sufocante. As pessoas esperam de mim um comportamento

perfeito. É como se eu fosse uma cobaia em um laboratório.


— Por isso fugiu? Ou foi por que seu namoradinho não
aprovou o vestido?

Sinto meu rosto esquentar e sem conseguir me impedir, olho


para baixo, verificando minha roupa. Quando volto a encará-lo,
esperando ver uma expressão de deboche, sou surpreendida ao

ouvir:

— Não deveria dar tanta importância ao que os outros


pensam.

— Os outros, como você chama, é aquele que me deu um lar,


o único que me quis.

Sei que Tommaso conhece a minha história do avesso. A


Itália inteira conhece.

— Não deveria se considerar em dívida com ele. Não se trata


de um estranho, mas de seu próprio sangue. O que Mattia fez por

você não foi um favor, foi obrigação. Porém, não era dele que eu
estava falando e sim, de Diego.

— Eu posso lidar com meu namorado. Além do mais, essa


roupa não é mesmo adequada para o meu tipo de corpo. Assim que
o vesti, me arrependi.

— Você está linda.


— Não precisa me elogiar para me fazer sentir melhor. Sei
muito bem o tipo de mulher que te atrai: alta, magra, dois metros e
meio de pernas e de preferência, modelo, atriz ou apresentadora, se

não for os três juntos.

Ele joga a cabeça para trás, rindo e fico meio hipnotizada,

olhando para a pele de seu pescoço que aparece na gola da camisa


social cara e que eu sei, foi feita sob medida.

— Está prestando atenção em minha vida amorosa,

Beatrice? Seu namorado não dá conta de distraí-la?

— Para eu prestar atenção na sua vida amorosa, você


precisaria ter uma. Já passou da idade de conseguir diferenciar

sexo de amor, meu senhor. Quanto ao meu namorado, ele me distrai

muito bem. Quando estamos sozinhos, não conseguimos tirar as

mãos um do outro. Estar com Diego é um verdadeiro passeio às


estrelas.

Meu bom Deus, eu preciso ser internada.

De onde tirei isso? Tommaso deve ser um dos maiores

conquistadores da Itália e vai saber em um piscar de olhos que


estou mentindo.
Para minha surpresa, no entanto, seus olhos se estreitam e a

boca vira uma linha fina, demonstrando irritação.

— Tanto quanto eu fiz naquela noite?

— Um cavalheiro nunca perguntaria uma coisa dessas.

— Nunca fui acusado de ser um cavalheiro.

— Meu avô pensa que sim.

— Seu avô me conhece como ninguém.

— Se não é um cavalheiro, por que não foi até o fim naquela

noite? Por que sou neta de Mattia? — jogo, antes que consiga
evitar.

É a pergunta de um milhão de dólares que tenho me feito

desde então.

Por que, sendo Tommaso quem é, não tomou o que eu


estava lhe oferecendo?

— Mattia foi um fator importante em minha decisão, mas não

o principal.

— O que, então?

— Você estava apaixonada por mim e eu queria sexo. Nunca

passaria disso. Se tivéssemos ido até o fim, eu iria te estragar para


qualquer outro homem. Você iria querer mais e eu não tinha nada a

oferecer.

Se ele tivesse me dito essas palavras naquela noite, eu

provavelmente me debulharia em lágrimas, mas de lá para cá,


cresci. Moro sozinha há dois anos e aprendi a chorar pelos motivos

certos.

— Se não fosse a promessa que fiz ao meu avô de me casar


virgem, eu iria ter prazer de te fazer engolir cada uma dessas

palavras, Tommaso. Talvez, depois de uma noite comigo, fosse você

quem não conseguisse me esquecer.

Vejo com satisfação quando ele engole em seco, mas isso


dura poucos segundos porque em seguida, o sorriso debochado

volta.

— Somente a promessa que fez ao seu avô a impede de ter


uma noite de sexo comigo?

— O quê?

— Esqueceu que está namorando?

Sim.

Ai, meu Deus!


— Claro que não — falo, usando minha melhor cara de

jogadora de pôquer. — Estava falando hipoteticamente, em uma


realidade paralela.

Ele se aproxima e abaixa-se, quase colando os lábios na

minha orelha.

— Se um dia desistir dessa sua promessa, podemos pôr à

prova quem vai deixar quem maluco na cama.

— Nunca vai acontecer. Não quebro minhas promessas e

também não traio.

— Nem a si mesma? Porque é isso que está fazendo ao ficar

com alguém por quem não sente nada, Beatrice.

Depois dessa senhora frase de efeito, ele sai, me fazendo

pensar que talvez Tommaso me conheça melhor do que eu mesma.


Beatrice

Hospital Geral de Florença

Semanas depois

— Você é amiga da família Andresano, né? — uma


enfermeira pergunta.

Acabo de chegar para meu plantão da noite.

Estou na minha primeira semana no Hospital Geral de


Florença, depois que pedi minha transferência da faculdade de

Milão para cá e também a quinze dias de viajar para Nova Iorque,


para fazer meu curso.

— Sim, meu avô é, na verdade, por quê?


— Um dos pacientes, Tommaso Andresano, acaba ser

operado. Ele levou um tiro.

Olho para o rosto dela a espera de que vá dizer que é uma

piada, mas a mulher parece concentrada na prancheta que carrega,


fazendo seu trabalho de rotina.

Eu me apoio na parede, as pernas perdendo subitamente a

força.

— Pode repetir?

— O signor Andresano deu entrada no hospital essa tarde,


vítima de uma bala. Parece que houve um tiroteio na casa da mãe

do signor Ricco Moretti, mas eu não sei explicar bem como foi —

diz, agora com as bochechas vermelhas e eu sei a razão: não é


segredo que os irmãos se detestam.

— Entre eles? Atiraram um no outro? — pergunto, quase

histérica agora.

— Não. Parece que foi um invasor quem atirou no signor

Andresano.

Tommaso estar na casa de Carina, a esposa oficial do pai

dele, é algo praticamente impossível.

— Como ele está?


Eu só precisaria ir até o computador para verificá-lo, mas o
nervosismo me impede. Sempre fui tranquila e até mesmo tachada

por alguns professores de fria em meu trabalho, mas pensar em

Tommaso ferido faz meu estômago revirar de agonia.

— Estável. Foi um tiro no braço, pelo que soube, mas está

bem.

Finalmente eu entendo que aquilo é real e começo a me


afastar.

Tommaso tomou um tiro.

Vou até um dos computadores para verificar em qual andar

ele está e levo menos de dois minutos para descobrir, mas antes

que possa entrar no elevador, meu celular toca.

— Mattia? — eu raramente o chamo de avô.

— Beatrice, você precisa verificar Tommaso.

— Eu acabei de saber. Já estou no hospital e, na verdade,

estava indo vê-lo agora. Sabe o que aconteceu?

— Não com certeza. Sei que ele mandou investigarem a

morte do sobrinho, o filho de Ricco e parece que descobriu que não

foi acidental, mas um homicídio.

— O quê?
— Sim, eu sei, minha filha. Algo grotesco de se pensar.

Tirarem a vida do bambino[15]. Enfim, parece que houve um

confronto com o assassino, e Tommaso foi ferido. Estou indo para


aí, mas queria que você o verificasse pessoalmente e me desse

notícia o mais rápido possível.

— Ainda está na Suécia?

— Sim, em voo, já. Tentei te ligar assim que soube.

— Eu estava em um curso online. Tenho prova amanhã e


fiquei incomunicável o dia todo. Sinto muito.

Estou me sentindo um ser humano horrível.

— Não tinha como saber.

— Mas eu deveria ter avisado ao senhor, ao menos. Olha,


preciso ir agora. Quero verificar Tommaso. Assim que tiver notícias,

eu aviso.

Desligo o telefone, tentando organizar as informações que

meu avô me deu.

Eu sei que Tommaso e Ricco se tornaram mais próximos nos

últimos meses porque em uma conversa com Donatella, ela deixou


escapar que a mãe, Greta, estava muito aborrecida com isso.
É algo que eu não consigo entender. Das duas mulheres com

quem Dino Moretti formou famílias paralelas, Carina deveria ser


aquela com mais razão para sentir rancor, afinal, ela sempre foi a

“oficial” do mulherengo sem-vergonha. Mas não, é Greta que


sempre odiou-a e também a seus filhos.

Sei que a situação dela não é fácil e que é vista como uma
destruidora de lares pela maioria dos italianos, mas odiar os filhos

do amante é inexplicável para mim. Se há alguém que não tem


qualquer culpa nessa situação, são os sete filhos de Dino.

Chego no corredor e vejo que todos os Andresano estão

presentes. Até mesmo Gaetano, que é piloto de fórmula um e vive


viajando pelo mundo inteiro.

Entretanto, Greta não está.

Estranho.

Nos assentos opostos, encontram-se Ricco e Chiara.

É esquisito que todos sejam irmãos e mal se falem, mas


quem sou eu para julgar?

E de pé, andando pelo corredor como se não tivesse

qualquer preocupação na vida, está o responsável por tanta mágoa:


Dino Moretti.
Ele olha para mim e sinto meu estômago embrulhar porque
não é um olhar qualquer, mas o que um homem daria a uma mulher
por quem estivesse interessado.

Será que esse infeliz não consegue conter sua cafajestagem


nem com o filho internado?

Desvio dele e foco na única pessoa de quem sou próxima:


Donatella.

Quando me vê, ela vem até mim.

— Oi. Eu te liguei feito uma doida. — diz.

Eu a puxo para um abraço.

— Sinto muito. Vovô também tentou. Estava em um curso e


mesmo que seja online, ficamos incomunicáveis. Temos inclusive

que girar a câmera por todo o quarto para que vejam que estamos
sozinhos.

Ela acena com a cabeça, como se aceitasse minha


explicação.

— Jesus, eu nunca senti tanto medo na vida, Bea. Agora, os


médicos disseram que ele já está estável.

— O que houve?

— Meu irmão… e Ricco…


— Seus irmãos — corrijo-a, porque não aceito aquele tipo de
besteira. Podem se odiar, mas não muda o fato de que são irmãos.

— Isso. Meus irmãos descobriram que a morte de Nicolo não


foi acidental como se pensava e também o nome do culpado. — Os
olhos dela estão cheios de lágrimas. — Eu nunca o vi, Beatrice.

Estou falando do meu sobrinho. Nem cheguei a conhecê-lo e jamais


o conhecerei.

— O que aconteceu foi horrível e não pode ser mudado,

Donatella, mas seu irmão, o pai do bebê, está bem ali. Tenho

certeza de que Ricco não lhe viraria as costas se você decidisse


prestar solidariedade. Mas agora, termine de falar.

— Eu não sei bem dos detalhes, mas o homem, o assassino

de Nicolo, invadiu a casa de Carina e tentou levar Luna[16], a esposa

de Ricco.

— Meu Deus do céu, ela não está grávida?

— Está, sim. Consegue imaginar alguém que não só faz mal

a um bebê, mas que também tenta machucar uma gestante? Aquele

miserável teve o que mereceu.

— Ele foi morto?


— Sim. Ricco o matou. Como deve saber, Dino sempre fez

questão que todos os filhos soubessem atirar, mas eu não sei dos
detalhes ou como ele conseguiu a arma para matar aquele monstro.

— Mas se Ricco matou o bandido, como Tommaso acabou

ferido?

— Parece que o cara ia atirar em Ricco e Tommaso tentou

lhe chamar a atenção para salvar nosso… irmão.

— Idiota.

A despeito de tudo, ela sorri.

— Louco, isso sim. Mas agora, por favor, vá lá dentro. Eles

não deixam todos entrarem e a primeira pessoa que Tommaso pediu

para falar foi Ricco.

Quando olho para o lugar em que ele estava, não o vejo


mais.

— Tudo bem, eu vou entrar. Darei somente algum tempo para

que possam conversar e depois, vou ver seu irmão.


Tommaso

Horas antes

— O alarme está desligado — falo, quando entramos na casa


da mãe de Ricco, Carina, pela porta da garagem ao invés da
principal.

— Minha mãe deve ter se esquecido novamente.

Ao longo das últimas semanas, o detetive que eu contratei

para investigar a morte de Nicolo finalmente trouxe respostas.

Descobriu que Naomi tinha um amante chamado Carlo Abato, um


dos guarda-costas que Ricco colocou para cuidar do filho.

Quando soube que estava sendo procurado, o bastardo

desapareceu. Mas antes de sumir no mapa, confessou tudo ao


irmão, que por um fodido acaso, é um dos meus empregados — um
cara acima de qualquer suspeita e que trabalhou para mim por

anos.

O filho da puta do Carlo disse que estava apaixonado por

Naomi. Queria que se casassem, mas ela não estava interessada


em se unir a alguém sem dinheiro. O irmão tentou aconselhá-lo a se

afastar, mas ele ficou obcecado com a ideia de que Nicolo era o

empecilho. Na noite da tragédia, depois que Naomi adormeceu, ele


abriu a porta do quarto de Nicolo e o levou para fora. Em seguida,

só precisou deixar o portão da piscina escancarado.

Ela acordou e viu o que tinha acontecido. Nunca saberemos

a razão da mulher ter se suicidado. Se por remorso verdadeiro ou


porque perderia o estilo de vida que Ricco lhe proporcionava através

do filho. Talvez um pouco de cada. De qualquer modo, ela seria


responsabilizada.

Ainda assim, com a certeza de como tudo acontecera, não


conseguíamos descobrir o paradeiro de Carlo. Então, eu precisei

recorrer à única pessoa capaz disso, um amigo de longa data: Odin

Lykaios[17]. Foi ele quem rastreou Carlo, um ex-combatente do

exército.
Odin descobriu que Carlo ainda não estava satisfeito com
todo o mal que causara, porque passou a acompanhar a rotina de

Luna, a esposa de Ricco, de perto. Só poderia significar que ele

queria se vingar do meu irmão. De alguma maneira louca,

enxergava Ricco como o responsável pela morte de Naomi.

Odin passou a vigia-lo e foi assim que soubemos que ele

estava vindo hoje.

O maldito covarde resolveu atacar quando ela estava mais

vulnerável, na casa da sogra, Carina.

No caminho para cá, nós chamamos a polícia e também mais

dos nossos seguranças.

Decidimos entrar pelos fundos porque estranhamos a


ausência dos guarda-costas designados para tomar conta de Luna

desde que avisei a Ricco sobre Carlo.

A casa se encontrava desprotegida e quando chegamos à

cozinha, vemos a razão: os homens, assim como a mãe dele, estão

caídos no chão.

Ricco corre para verificar a pulsação de Carina e eu vou até


onde os seguranças foram subjugados.
Ao mesmo tempo em que ele coloca os dedos na garganta

da mãe para confirmar que está respirando, fala com Luna ao


telefone.

Quando soubemos que Carlo estava vindo, Ricco mandou


que ela se escondesse em um dos quartos.

Enquanto isso, eu ligo pedindo uma ambulância.

— Como sua mãe está? — pergunto, depois que desligo.

— Respirando. Acho que foi dopada, porque não encontrei


qualquer machucado.

— Eles também não estão feridos. Devem ter sido sedados,


mesmo — digo, apontando para um pedaço de pão que um dos

homens tem perto de seu corpo desacordado.

Um som de baque, como alguém se jogando contra uma


porta, nos faz agir.

Pego as armas dos dois seguranças desmaiados e entrego


uma para ele.

Sei que tanto quanto eu, aprendeu a atirar. Esse é um dos


esportes favoritos do nosso pai e tenho certeza de que inseriu todos

os filhos nele.
O corredor da casa da mãe dele é muito longo e como uma

espécie de “u”, tem entrada para os dois lados.

Cada um de nós segue em uma direção diferente, tentando

surpreender o desgraçado.

Os barulhos contra a porta continuam.

Eu já não vejo mais Ricco, que foi pelo outro lado.

Viro uma curva, já que a casa mais parece um labirinto e

finalmente encontro Carlo.

O homem não é tão alto quanto eu e meu irmão, mas deve

pesar mais do que qualquer um de nós. Enquanto tenta derrubar a


porta, seu rosto está transtornado.

Agora eu já consigo ver Ricco, por trás do homem, mas o

desgraçado do Carlo encontra-se em meio a uma crise de fúria,


como se tivesse feito uso de alguma droga, e não percebe nossa

aproximação.

No último instante, no entanto, pressente Ricco e aponta a

arma para ele.

Eu não hesito.

— Procurando por alguém, filho da puta? — pergunto,


tentando desviar sua atenção do meu irmão.
Sei que Luna deve estar naquele quarto e de jeito nenhum
esse bastardo vai matar o marido dela.

Carlo se volta para mim muito mais rápido do que eu


supunha, arma apontada.

Sinto uma fisgada no braço direito, mas não tenho a menor

ideia do que aconteceu.

— Carlo! — Ricco grita.

Quero dizer o quanto ele é estúpido por fazer aquilo, mas


assim que o ex-soldado se vira para ele, meu irmão atira duas vezes

em seu peito.

A arma cai no chão e ele tomba de costas. Vejo Ricco se

aproximar e chutar o revólver ao seu lado para longe.

— Eu prometi ao meu filho que mataria seu assassino — diz,


de pé, perto do homem. — Espero que faça uma boa viagem para o

inferno.

Ele corre até onde estou.

— Você foi ferido — fala.

Só então percebo que tenho sangue em mim.

— Por que fez isso? Ele poderia ter alvejado sua cabeça,
matado-o — diz, se abaixando, enquanto ouvimos as sirenes da
ambulância do lado de fora.

— Eu não ia deixar você ficar com toda a diversão — falo,

tentando sorrir, mas agora que minha adrenalina baixou, o local do


tiro dói para caralho.

Ele segura minha mão, apertando com força e é estranho ter

algum tipo de contato com o homem que aprendi a detestar. Nunca

nos tocamos antes de hoje.

— Por que fez isso? — repete.

Fecho os olhos por um instante antes de voltar a encará-lo e

cansado de mentir para mim mesmo, falo:

— Porque você é meu irmão. Eu nunca deixaria que fosse


morto.

Nos olhamos por muito tempo. Mesmo quando os

paramédicos se aproximam, Ricco ainda não me solta.

Não sei o que acontecerá conosco daqui por diante. São

anos de rancor e mágoas. Talvez devamos deixar apenas que a vida

siga seu rumo.

— Você é meu irmão — ele diz de volta e eu sei que muito


mais do que o título, ele está esclarecendo o significado: não
importa o quanto Dino tenha destruído as duas famílias com seu

egoísmo e capacidade de manipulação. Somos irmãos.

— Senhor, precisa nos deixar trabalhar — um enfermeiro

avisa.

— Vá atrás de Luna. Diga-lhe que tudo ficará bem — peço.

Eu realmente gosto da menina-fada com quem ele se casou.

Uma coisinha pequenina e de aparência frágil, mas que o trouxe de

volta à vida.

Há uma movimentação grande de pessoas no corredor


agora, entre policiais e paramédicos.

Enquanto ele se levanta para ir verificar a esposa, vejo um

deles recolher as três armas — as nossas e a de Carlo — e um

outro avisa:

— Ele está morto.

Com essa certeza, eu finalmente me permito cair na

inconsciência.
Tommaso

Hospital Geral de Florença

Horas depois

Finalmente o efeito da anestesia que me deram para


poderem operar meu braço passou. Pelo que soube através do
cirurgião, o tiro foi muito menos grave do que se supunha. Mais um

pouco para o lado e poderia ter sido considerado somente de


raspão.

No fim de tudo, o que importa é que a essa altura, aquele

filho da puta que matou o meu sobrinho está nos braços de


Satanás.
Olho para a janela do hospital, pensando que no fim, deu

tudo certo. Se tivéssemos chegado alguns minutos mais tarde, meu


irmão agora poderia estar vivenciando outra tragédia ao perder a

esposa e a filha, Paola, que eles estão esperando.

A enfermeira me trouxe o telefone celular há cerca de cinco

minutos para que eu pudesse falar com a minha mãe. Ela não tem

se sentido bem há dias e não pode vir me visitar, mas disse que
precisava ouvir minha voz.

O segredo que ela insistiu tanto para que eu guardasse —

que está com câncer em estágio inicial — acabou sendo aberto para

toda a família.

Há cerca de uma semana eu lhe perguntei por que ela me

pediu algo assim. Meus irmãos tinham direito de saber também.

A resposta me enlouqueceu: ela não queria que eles

julgassem mal nosso pai por não poder estar o tempo todo ao seu

lado nesse momento tão difícil.

O destino quis que naquela mesma noite, através de

conhecidos em comum, que eu descobrisse não só que ele estava

separado de Carina, como também a mãe de Ricco havia entrado


com um pedido de divórcio.
Na verdade, eu precisei de somente uns poucos minutos para
descobrir que o filho da puta já tinha uma nova namorada oficial e

estava viajando com ela pelo circuito Itália-Paris-Londres.

Não sou um cara frio. Meu sangue italiano, para o bem ou

para o mal, sempre acaba emergindo e naquele instante, cheguei ao

meu limite.

Fui à casa da minha mãe, a mulher que apesar de eu não


conseguir entender as escolhas que fez ao longo da vida, amo

incondicionalmente, e contei não só que Carina pediu o divórcio,

como lhe mostrei em meu celular um site de celebridades europeias,

em que Dino aparecia aos beijos com uma garota mais jovem do

que Chiara.

Foi a coisa mais difícil que eu já fiz na vida.

Por todo o tempo que serviu como estepe para aquele infeliz,

minha mãe nenhuma vez chorou pelas ausências dele ou mesmo o

acusou de ser um canalha — coisa que todos nós filhos,

achávamos.

Ao contrário, se qualquer assunto surgisse em que o nome

de Dino Moretti fosse sequer levemente tocado, ela o defendia.


Eu não fazia ideia de qual seria sua reação quando visse

aquelas imagens dele com outra mulher; se iria me odiar ou me


mandar embora de sua casa. De uma coisa, no entanto, eu tinha

certeza: ver aquelas fotografias nunca lhe faria tanto mal como ela
fez a si mesma durante todo o tempo em que ficou à espera de que
ele mudasse de ideia e a escolhesse.

Eu achei que estava preparado para qualquer coisa que me


dissesse, mas ela não me agrediu. Somente chorou e disse: eu

nunca serei a escolhida dele.

E assim, depois de mais de trinta e cinco anos à espera de

ser amada pelo homem que só fez pisar em seu coração, ela
finalmente entendeu que o problema jamais foi Carina, Ricco e
Chiara, as pessoas a quem odiava e culpou, e sim o próprio Dino.

Percebeu que se Carina não tivesse pedido o divórcio, ele


continuaria visitando as duas, destruindo a vida de suas mulheres

enquanto se divertia com tantas outras.

Eu não sei por quanto tempo a segurei em meus braços,

enquanto desabafava sua mágoa.

Por anos, tive raiva até mesmo dela, por permitir que ele a

tratasse daquele modo. Foi preciso vê-la quebrada, doente, em um


momento de maior fragilidade de sua vida, para finalmente entender

que mesmo que aquele sentimento que ela nutria por Dino fosse um
veneno para sua alma, ainda assim, era amor.

No dia seguinte, chamamos meus irmãos em casa e


contamos sobre o câncer. Juntos, decidimos que nunca nos

ausentaríamos da Itália todos ao mesmo tempo. Sempre teria que

haver um de nós por perto caso mamma[18] precisasse.

O médico me disse que o câncer de mama dela, no


momento, é tratável, porque foi descoberto logo no início. A cirurgia

foi feita há cerca de quinze dias, antes que meus irmãos soubessem
porque ela não me deixou contar e agora haverá também a

necessidade de algumas sessões de radioterapia.

Dino tentou visitá-la depois que tivemos aquela conversa e

ela descobriu que ele já estava com outra, mas dessa vez, minha
mãe se recusou a recebê-lo.

Eu nunca imaginei que ela diria não àquele infeliz, ainda mais
estando tão frágil.

Nunca precisamos dele para nada — as três famílias são


muito ricas: a dele, a de Carina e a nossa — e no momento em que
minha mãe disse que não o queria mais por perto, sua vontade para
mim se tornou lei.

Dinheiro jamais foi problema, mas sim, sermos apontados


enquanto crescíamos, como filhos bastardos de uma mulher que se
tornou amante do marido da melhor amiga.

Alguém bate na porta e dois segundos depois, ela se abre.

Ricco fica parado no umbral, me encarando.

Quando o médico perguntou qual dos meus irmãos eu queria


ver primeiro, não tive dúvida.

— Não deveria ter feito aquilo. Foi idiota da sua parte — diz.

— Imprudente, talvez. Não idiota. Além do mais, não fiz por


sua causa. Luna é muito jovem para ficar viúva e minha sobrinha

merece ter o pai ao lado.

Ele cruza o espaço entre nós e para perto da cama.

— Um inferno que não fez por minha causa.

Eu o encaro, nem um pouco disposto a ceder. O orgulho é


uma característica forte nos Andresano.

— Obrigado — diz, oferecendo a mão e eu hesito somente

por um segundo antes de aceitar. — Estou cansado de continuar


alimentando tantos anos de mágoa, Tommaso. Não digo que tudo o
que vivemos até aqui será esquecido da noite para o dia, mas eu
quero deixar o passado para trás.

— Sua família nunca vai concordar com isso.

— Não posso falar por minha mãe, mas sabe o quanto Chiara
jamais quis que ficássemos separados. Quem sabe um dia todos

nós possamos nos entender.

Sei que para Carina será muito difícil perdoar. Por várias
vezes, minha mãe a ofendeu quando se encontravam

ocasionalmente.

Eu não sei porque as mulheres sempre põem a culpa uma na

outra ao invés de apontar o dedo para o verdadeiro bastardo: o


homem que lhes devia respeito.

— Não posso falar por meus irmãos, mas estou de acordo

sobre deixar o passado onde ele pertence — digo.

— Luna pediu para que lhe agradecesse também e disse que

virá visitá-lo. Eu a mandei para casa com Chiara.

Aceno, concordando.

— Se está pensando que por conta do que aconteceu,


seremos melhores amigos, pode esquecer — resmungo e ele

quase sorri.
— Isso nem passou pela minha cabeça. Agora, deixe de ser

preguiçoso e trate de melhorar rápido. Sua sobrinha nascerá em um


mês e sabe como as mulheres com nosso sangue podem dar

trabalho.

Vira as costas para ir embora, porque mesmo que tenhamos


muito o que dizer um ao outro, não acontecerá em um passe de

mágica.

— Ricco?

Ele para de andar.

— O que foi?

— Não me importa que você seja somente meu meio-irmão.

Paola será minha sobrinha e protegida por mim para o resto de

nossas vidas.
Tommaso

Ainda estou pensando na conversa com Ricco quando a


porta se abre outra vez e um furacão em miniatura surge na minha

frente, como se estivesse prestes a me matar.

— Você ficou maluco? Por que no céu decidiu chamar a

atenção de um assassino armado para si?

Eu sabia que Beatrice era estudante de medicina, mas nunca


tinha visto-a uniformizada. Dá para entender agora porque alguns

pacientes têm toda essa fantasia de brincar de médico. Mesmo com

o uniforme sem graça do hospital, ela está uma delícia, com todo
esse ar profissional e o ódio de sempre, dirigido a mim.

— Boa noite, Beatrice. Por que não me espanta que tenha

vindo me ver?
Tento me sentar porque não gosto de ficar em desvantagem

em qualquer situação, mas assim que me apoio com o braço bom,


sinto o direito repuxar.

— Não vim te ver, convencido. Eu trabalho aqui e estou


fazendo um favor para Donatella.

— Então se eu morresse não faria qualquer diferença?

Ela se aproxima da cama, os olhos soltando faíscas.

— Não jogue comigo, Tommaso. Não sou uma de suas

conquistas.

— Eu gosto de jogar com você, Beatrice. E quanto a não ser

uma das minhas conquistas, eu nunca a rotularia assim. O que


acontecer entre nós será único.

— Não vai acontecer nada entre nós.

— É uma pena. Nós dois sairemos perdendo. Já

conversamos sobre isso. Basta um encontro e você pode descobrir

o verdadeiro significado do que é o paraíso.

— Acredite, eu já sei.

— Sendo virgem? Acho que não, bella. Agora, por mais que

eu ame essa troca entre nós, gostaria de saber quando vou poder

sair daqui.
Dessa vez, quando me esforço para levantar, consigo e me
sinto quase humano quando minhas pernas tocam o chão, mesmo

que eu ainda esteja sentado na cama.

— Não pode fazer isso — diz.

— Antes de vir aqui saciar o desejo de me ver, verificou meu

prontuário? Aquilo nem foi um tiro. Praticamente passou de raspão.

— Se tivesse sido só de raspão, não teria necessidade de

operar, seu teimoso.

— Sabe que toda essa raiva é energia sexual reprimida, né?

Se aquilo que me disse for verdade, que pretende se casar virgem

para satisfazer seu avô, aconselho não esperar muito. Pode ser

ruim para sua saúde.

— Como você consegue ser tão detestável?

— É genético. Esqueceu de quem sou filho?

— Não fale besteira. Você não poderia ser mais diferente de

Dino Moretti nem se tentasse.

Pela primeira vez desde que entrou, eu paro de falar e só a

observo. Beatrice talvez não faça ideia, mas acabou de me fazer o

maior dos elogios. Eu cresci tentando me espelhar na imagem do

meu avô, o homem que, enquanto viveu, foi referência para mim. Ao
mesmo tempo, procurei ser o mais distante possível, em todos os

sentidos, do meu pai biológico.

— Eu não vou dormir aqui.

— Vai, sim. Nenhum médico em sã consciência vai te dar


alta. Você foi operado hoje e precisa ficar ao menos vinte e quatro
horas em observação.

— Estou inteiro. Não sinto nada.

— Mas tomou um tiro.

— Sou mais forte do que a média dos homens. Atlético,

saudável. Não há nada de errado comigo.

Estou me sentindo exausto, mas se para mantê-la com as


bochechas coradas e brigando comigo preciso lhe encher o ouvido

de merdas, que seja.

— Você é o pior paciente do mundo, isso sim!

— Tenho uma proposta a lhe fazer.

— Não faço acordos com pacientes.

— Não sou seu paciente porque você ainda não é formada,


assim, não há nada de antiético em nosso relacionamento.

— Nós não temos um relacionamento.

— Jante comigo amanhã e eu passarei essa noite aqui.


— Está tentando me chantagear?

— Eu chamo de acordo para que cada um de nós atinja seu


objetivo.

— Não.

— Por que tem namorado?

— Claro — diz, talvez um pouco rápido demais e fica óbvio


para mim que está mentindo. Novamente, assim como aconteceu na

festa de Mattia, ela se esqueceu de Diego, o cretino.

— Entretanto, não é a única razão.

— Então o quê?

Ela me dá um sorriso frio.

— Fui apaixonada por você, esqueceu? — diz, mas a última


coisa que seu rosto me passa agora é qualquer coisa a um raio de

cem quilômetros de paixão. — Mesmo que eu fosse livre, o que quer


é sexo. Nunca passaria disso. Se tivéssemos ido até o fim naquela
noite, você iria me estragar para qualquer outro homem — finaliza, a

ironia destilando de cada palavra e repetindo exatamente o que eu


lhe disse no aniversário do avô.

— Faltou algo nesse discurso. Eu acrescentaria que, ainda


que tudo o que procuro em um relacionamento seja sexo, seria o
melhor da sua vida.

— Não teria base de comparação. Mesmo que você fosse

mediano, como eu poderia saber?

— Nada em mim é mediano, bella — digo e fico satisfeito


quando não só vejo seu rosto corar como também os olhos se

deslocarem para a linha da minha cintura —, mas tem razão quando


diz que nunca saberá. Vai ser casar com aquele garoto mimado
para satisfazer seu avô e viver uma vida de sexo morno para

sempre. Boa sorte.

— Jesus, eu não devia estar com vontade de jogar esse vaso

de flores em você — diz, parecendo falar consigo mesma.

— Fique à vontade. Não quebro fácil. Mas só para lembrar:

amor e ódio andam lado a lado. Agora, seja uma boa menina e
aceite meu convite para um jantar. Eu durmo aqui e todo mundo fica

feliz.

— A resposta ainda é não. Por que essa obsessão de me

levar para jantar? Sabe que não ficaria bem para mim ser vista ao
seu lado.

Ela termina de falar e vejo que se arrependeu segundos

depois.
— Não foi isso que eu quis dizer. Não dou a mínima para o
que eles pensam sobre sua família.

— Eu entendi. Seu namorado poderia achar que o estava


traindo.

Não completo o que descobri sobre o cretino porque não é da

minha conta. Beatrice já é adulta e tem que aprender sozinha o que

é ou não bom para ela.

— De qualquer modo, escolheu o homem errado para tentar

controlar, doutora. Já estou ótimo. Foi só um tiro no braço, mesmo

que sua recusa em sair comigo tenha partido meu coração.

Ela para com as mãos na cintura, os peitos grandes


empurrando a frente no jaleco do uniforme. Sua beleza me hipnotiza

e me faz esquecer parcialmente da briga.

— Para que esse órgão em particular fosse destruído você


precisaria ter um, Tommaso Andresano.

— Bella, guardar rancor por tantos anos é perda de tempo.

Eu poderia ter morrido e você passaria vontade pelo resto da vida.

Ao invés disso estou aqui, me colocando à disposição para uma


noite de prazer.

— Você disse jantar.


— Exato. Prazer da culinária. Não falei nada sobre outro tipo

de prazer, Beatrice mia. Por onde essa sua mente brilhante anda
viajando?

— Mudei de ideia. Vou recomendar ao médico que lhe dê alta

o mais rápido possível.

— Fico feliz que tenha finalmente entendido que estou bem.

Sou quase imortal.

— Não, seu ego é. Você é de carne e osso como qualquer

ser humano. Vou lhe recomendar alta porque a outra opção é enviá-
lo para a mesa do médico legista. Se ficar mais um minuto em sua

presença sei que vou matá-lo, Tommaso.


Beatrice

Nova Iorque

Três semanas depois

Dou mais um gole no café, acompanhado de um sorriso


amarelo enquanto ouço minha companheira de curso tagarelar sem
parar.

Finjo prestar atenção mas, na verdade, estou chateada para

caramba.

Cheguei a Nova Iorque há uma semana e até agora Diego


não veio me visitar. Eu inclusive me ofereci para ir a Boston no

sábado, mas ele arrumou uma desculpa — bem, ao menos eu acho


que foi uma desculpa — de que não poderia porque tem provas na

segunda.

Enquanto observo a movimentação na cafeteria lotada do

hospital, penso que cheguei a uma bifurcação na minha vida. Não


posso mais levar isso adiante. Como vou ficar com uma pessoa que

claramente não sente nada por mim?

Okay, o contrário também é verdadeiro, mas eu ao menos

estava disposta a tentar.

A mensagem que acabo de receber dele, entretanto, foi a pá

de cal que faltava para enterrar de vez o que já não ia bem.

Diego me disse através de um texto, mesmo sabendo que

ficarei só mais poucos dias em Nova Iorque, que acha muito difícil
que possamos nos encontrar.

Eu tenho sérios problemas com migalhas de qualquer tipo,

mas as piores para mim são as emocionais.

Algumas pessoas não entendem por que eu me submeto aos

desmandos do meu avô, mas sei minhas razões. Vovô pode ser um
déspota, mas me ama sem medida. É a única pessoa no mundo,

que eu tenho certeza de que me escolherá acima de tudo e todos.


Para a maioria, pode não ser grande coisa. O que há de mais
em um avô amar a neta, certo? Mas isso é porque não tiveram uma

primeira infância como a minha.

Meus pais eram dois irresponsáveis que deveriam ter sido

proibidos de ter filhos. Ambos dependentes químicos e muito ricos,

viajavam comigo e jamais me deram a chance de criar raízes.

Eu nunca soube o que é a estabilidade de uma família. Muito


menos horários para fazer refeições ou mesmo tomar banho todos

os dias, até que meu avô me tirou deles e assumiu minha criação.

Agarrei com unhas e dentes o que ele me oferecia: amor e

um lar verdadeiro.

Regras também.

Eu gosto delas.

Embora ele leve isso ao extremo na maior parte das vezes,

enquanto crescia, principalmente nos primeiros anos em que fui

morar com ele, eu sonhava com elas. Eu me sentia amada por

aquele homem poderoso tirar parte de seu tempo para prestar

atenção em mim, nos meus estudos, se eu estava comendo direito.

Mattia não é perfeito, mas ele sempre me amou.

Agora, entretanto, eu terei que enfrentá-lo.


Não quero mais Diego e nem seu pedantismo

condescendente. O tempo todo em que estamos juntos, me sinto


como se ele estivesse esperando que eu fosse agradecê-lo por me

chamar de namorada.

Balanço a cabeça, pensando por que no céu não tomei essa

decisão antes. Depois da primeira semana, nosso relacionamento


foi só ladeira abaixo.

— Estou ansiosa para o resultado do teste que fizemos no

segundo dia de curso.

— Teste? — pergunto, sem ter noção do que está falando.

— De DNA, menina. Está com a cabeça nas nuvens, é?

— Ah, sim. Agora me lembro.

Logo no início do curso, foi oferecido para todos os

estudantes um kit de teste de DNA[19]. Podíamos escolher entre


aqueles que somente investigam a árvore genealógica para

descobrir de que região provêm nossos ascendentes ou o completo,


incluindo a previsão de doenças futuras.

A maioria dos estudantes escolheu o básico, porque aquele


ditado: casa de ferreiro, espeto de pau, é muito verdadeiro. Se há
um profissional que morre de medo de descobrir doenças em si

mesmo, são os médicos.

Eu fui pelo completo. Sou do tipo que planeja e se tiver a

possibilidade de alguma doença futura, quero me preparar.

— E então, não está curiosa para saber se seus ancestrais

são da Austrália? De repente somos até primas e não sabemos.

Dou de ombros.

— Só se for muito longe porque minha família viveu na Itália,


na região de Florença, desde sempre.

— Verdade. Eu me esqueci que você não é nova rica como


eu.

Reviro os olhos.

— Isso soou pedante e autodepreciativo ao mesmo tempo.


Você faz mágica com as palavras. — digo.

Ela gargalha.

— Uma pena que tenha que ir embora logo que o curso


acabar, Beatrice. Vou sentir saudade.

— Tenho sim — falo, simplesmente.

O que estou pensando, na verdade, é que vir fazer esse


curso em Nova Iorque ou continuar em Florença não teria feito a
menor diferença. Eu não fui a uma festa ou me diverti desde que
cheguei à cidade.

Ainda que eu saiba que não era esse o objetivo ao vir para os
Estados Unidos, eu tinha esperança de ao menos ser levada a um
jantar romântico. Tinha até escolhido o restaurante que desejava

conhecer: The River Cafe. Fica embaixo da ponte do Brooklyn e tem


uma vista linda de Manhattan. Agora, com essa recusa de Diego em

vir me ver, vou lá sozinha?

Suspiro, irritada e cansada ao mesmo tempo.

— O que há de errado?

Olho para a garota, Hazel, a australiana que conheço há


cerca de uma semana, decidindo se devo desabafar.

Eu só tenho Donatella de quase amiga, mas não somos do


tipo melhores amigas da vida. É algo mais parecido com conhecidas

de longa data.

— Estou namorando um cara que não dá a mínima para mim.

— Termine — diz, sem pestanejar.

— Estou pensando em fazer isso mesmo, embora tenha

certeza de que o mundo vai desabar na minha cabeça.

— Por quê?
— Meu avô pode ser bem mandão às vezes. Isso para dizer
o mínimo.

Conto a ela rapidamente sobre a amizade da família de Diego


e a minha, além do jeito controlador de Mattia e a frieza de Diego.
Quando acabo, ela complementa:

— Não sou muito mais velha que você e pouco experiente

também, mas se quer um conselho, termine logo. Quanto mais


tempo ficar com ele, mais expectativa criará para seu avô. O melhor

é cortar o mal pela raiz.

— Fala como se já tivesse vivido algo parecido.

— E já, mesmo. Meu irmão mais velho[20] passou a me criar

quando nossos pais morreram em um acidente de avião e acho que,


de uma certa maneira, ele sente que é meio como um pai para mim

agora. Se eu não tomar cuidado, vai decidir até a cor da lingerie que

usarei.

Dou risada.

— Talvez seu irmão seja um filho perdido de Mattia. Meu avô

é exatamente assim.

— Não deveria ter te dito o que fazer, Beatrice. Desculpe-me


se fui enxerida, mas quando eu penso em relacionamentos, lembro
dos meus pais. Eles se adoravam. É o que quero para mim

também.

— Não tenho a intenção de me casar tão cedo.

Porque a única pessoa que já me fez sonhar com isso,

deixou bem claro que além de só estar interessado em mim para


sexo, não pretende ele mesmo subir ao altar.

— E nem precisa pensar nisso. Não estamos na Idade Média,

em que as mulheres se comprometiam quase recém entradas na

adolescência, mas acho que você deveria sim mandar esse cara
pastar. Se em um namoro de poucos meses ele não consegue tirar

um dia para vir te ver, o que acontecerá se subirem ao altar?

Dormirão em quartos separados?

Faço uma careta de desgosto e ela sorri.

— Sua expressão já é uma resposta, Beatrice. Você é linda,

inteligente e jovem. Pode escolher quem quiser. Por que se

contentar com uma migalha?

E assim, sem querer, ela toca no ponto crucial. Ao aceitar a

maneira que Diego me trata, estou aceitando sobras de sua

atenção.

Eu mereço ser amada.


Tommaso

Torsolena[21] — Itália

No dia seguinte

— O que diabos você está fazendo aqui? — pergunto, ao sair


da sede da minha vinícola e dar de cara com Dino Moretti.

— Sua mãe não quer falar comigo.

Sinto meu maxilar trancar, tamanho o ódio que o homem me


desperta.

— Minha mãe está doente, como você deve saber. Fique


longe dela.

— Quero ter certeza de que está sendo bem cuidada.


— Ela está. Não precisamos de você. E essa sua

preocupação com a saúde da minha mãe começou quando? Porque


até ontem, estava em Mônaco com sua namorada pré-adolescente.

— Sou um homem livre — diz, com o cinismo que lhe é


característico e eu fecho os punhos ao lado do corpo para não partir

para cima dele.

— Exatamente. Um homem livre. Vá viver a porra da sua

liberdade no quinto dos infernos, então. Ela não precisa de você. É


o único culpado por mamma estar doente. Você envenenou a alma

dela por anos, até que sua maldade lhe alcançasse o corpo.

Apesar da raiva que estou sentindo e do desejo de morte

contra esse bastardo, eu acho que minha mãe deveria pôr um ponto

final nessa história distorcida dos dois, na base do cara a cara. Não

porque ele mereça qualquer consideração, mas para que ela

mesma possa ter um encerramento.

Confesso que desde que me disse que não queria mais saber

de Dino, eu esperei que a qualquer momento, mudasse de ideia. Ela


passou a adolescência e toda a vida adulta apaixonada por ele e

não consigo imaginar algo assim terminando de uma hora para

outra.
Surpreendentemente, no entanto, seguiu firme em sua
decisão e disse que começou inclusive a fazer terapia.

Eu não preciso ser um expert para saber que minha mãe está
com depressão. Eu só não tenho certeza se é por conta do câncer

ou da decisão que tomou de excluir Dino de sua vida.

— O que você esperava que ela fizesse? Tomou um pé na

bunda da mãe de Ricco e sequer a procurou. Carina entrou com o


pedido de divórcio e qual foi a primeira coisa que você fez? Passou

a desfilar com uma garota mais nova do que sua filha caçula por

toda a Europa. Ao menos quando era casado com Carina, você

mantinha as outras amantes relativamente ocultas. Queria o quê?

Continuar humilhando minha mãe? Mostrando para ela que nunca

vai ser boa o bastante para você? Suma da nossa vida, porra!

Pela minha visão periférica, percebo que alguns hóspedes da

vinícola estão prestando atenção em nós, mas eu não dou a

mínima. Passei do meu limite com ele faz tempo e vê-lo em minha
propriedade invertendo a situação e culpando minha mãe por não

querer vê-lo, rompeu qualquer contenção que eu poderia manter em

público.

Eu não falo com Dino pessoalmente há mais de um ano.

Quando fiquei internado no hospital por conta do tiro, não permiti


que entrasse para me ver. Ao contrário do que aconteceu com

Ricco, sei que nunca vou poder perdoá-lo. Não tanto pelo que fez
conosco, os filhos, mas pelos anos de tortura emocional ao qual

submeteu minha mãe, sempre dando-lhe esperança de que um dia


ela seria a única.

Agora, livre e mesmo com ela doente, o filho da puta


escolheu ficar com outras ao invés da mulher que o amou a vida
inteira.

— Você está descontrolado. Não podemos conversar assim


— diz.

— Acho que o momento de conversarem já passou, Dino. —


Ouço uma voz atrás de mim falar e quando me viro, percebo que é

Mattia.

— Não se meta nisso, Jilani. Essa é uma conversa entre pai

e filho.

— Então deveria ir, Dino. Os únicos homens da minha vida

que pude chamar de pai foram meu avô e Mattia. Contribuir


geneticamente para uma concepção não faz de alguém um pai.

— Já vi que você está nervoso hoje. Nem adianta tentar

conversar, mas saiba que não vou desistir de cuidar da minha Greta.
Dou um passo para mais perto dele.

— Não sei quanto tempo minha mãe terá de vida. Espero que
muitos anos ainda, mas guarde algo que vou dizer, Dino: se fizer do

que lhe resta de tempo na Terra um mar de sofrimento, vou acabar


com você. Não é uma ameaça, é uma promessa.

— Venha, filho. Não vale a pena discutir — Mattia diz, me


puxando pelo braço.

Eu me deixo conduzir porque temo que se ficar mais tempo


perto de Dino, possa fazer algo de que vá me arrepender.

— Quer entrar? — pergunto.

— Sim, leve-me para dar uma volta. Há muito tempo não

venho aqui.

— Tem se sentido bem?

— Estou ótimo — fala e depois conserta. — Quero dizer, tão

bem quanto esse bendito coração velho permite.

— Olhando para você, ninguém diria que tem um problema

cardíaco.

— Diga isso ao meu cardiologista. Aquele ditador não me

deixa comer e nem beber nada mais.


— Por que veio tão tarde? — pergunto, enquanto
começamos a circular pela sede.

— Sou idoso, gosto de conversa cara a cara.

— Tem algo para me dizer?

— Pedir, na verdade, mas isso pode esperar. Conte-me como

está Greta.

Eu já havia dito a ele que minha mãe não quer mais ouvir

falar de Dino, então sei que está perguntando sobre a saúde dela.

— Melhor do que esperávamos. Reagiu bem à primeira fase

de radioterapia e tem se alimentado direito. Giovanna se mudou


para morar com ela.

Minha segunda irmã mais nova do lado de cá da família, se

separou recentemente do marido. Não sabemos o que realmente


aconteceu, mas era aquele tipo de relacionamento com mais brigas

do que acertos.

— E Giovanna vai ficar na Itália em definitivo, então?

— Quem pode dizer com certeza? No momento, sim. Está


determinada a cuidar de mamma.

— Bom. Nada melhor do que a família por perto. E é


justamente por isso que vim aqui. Sabe que Beatrice está em Nova
Iorque?

— Mesmo? Não fazia ideia.

Sei até onde ela está hospedada.

— Sim. Deve estar de volta em pouco tempo. Dentro de uns


dias, na verdade. Apesar disso, me preocupo com a minha bambina

e queria saber se não tem um amigo naquela cidade que possa dar

uma verificada, discretamente, se está tudo bem com ela.

— O que o impede de colocar um detetive para descobrir

como ela está?

Sei que já fez isso no passado, quando ela morava em Milão.

Além dos guarda-costas designados para cuidar de sua segurança,


Beatrice tinha verdadeiros espiões atrás de si, vigiando sua vida.

— Não quero aborrecê-la. Se ela descobrir, com certeza

brigaremos.

— Mas certamente ela está com motorista e seguranças lá?

— Sim, mas não é o suficiente.

— E o namorado?

Ele faz um gesto com a mão, como se nem tivesse


considerado aquela possibilidade, o que é bem esquisito, já que não

esconde que é seu sonho que Beatrice e Diego se casem.


— Aquele ali é como eu. Só pensa em trabalho. Mas tudo

bem, se não tiver alguém que possa conferi-la, entenderei.

— Eu não disse isso. Na verdade, terei que ir a Nova Iorque

amanhã. — Falo, quando de fato, acabo de decidir nesse instante.

— Darei um jeito de encontrá-la e assim, saber se está tudo bem.

— Eu sabia que podia contar com você, filho.


Beatrice

— Não pode estar falando sério, Beatrice. Quer terminar


nosso namoro por telefone?

Afasto o celular por um instante, tanto para me acalmar


quanto para dar um alívio aos meus tímpanos. Apesar de todo

refinamento, Diego tem o péssimo hábito de falar alto demais.

— Eu tentei te ver, mas você não teve tempo, lembra?

Estou telefonando igual uma desesperada desde que decidi

pôr um fim na relação e fui ignorada consistentemente.

— E está se vingando de mim, terminando nosso


relacionamento como se eu fosse um qualquer?

Ai, meu doce Senhor Jesus!

— Diego, podemos diminuir o drama? Nós dois sabemos que


esse relacionamento jamais passou de uma conveniência para
ambos. Nunca gostou de mim da maneira que um cara deveria

gostar de sua namorada.

Não me dói dizer aquilo porque sei que não é nada além da

verdade. Talvez se eu fosse apaixonada por ele, pudesse sofrer,


mas não é o caso.

— Você é adequada — ele diz, colocando a cereja no bolo

em nosso término.

— Jesus Cristo, eu sou o quê? Adequada?

Eu achei que ele jamais me surpreenderia. Diego é tão


previsível quanto um relógio suíço, mas ser chamada de adequada

é o fim.

— Foi o que eu disse. Somos bons um para o outro.

— Acho que está me confundindo com a mobília da casa de

seus pais em Florença, Diego. Posso ser nova e ter zero

experiência, mas se tem algo de que tenho certeza na vida, é que

não quero ser adequada para um cara. E quanto a sermos bons um

para o outro, eu sou boa para um monte de gente e, no entanto, não


deixo que enfiem a língua na minha boca. Apesar de que, nem isso

você fazia mais.


— Meu Deus, Beatrice, você não pode estar bem. Essa
agressividade é muito vulgar.

— Talvez seja, para os seus padrões, mas ao menos dizer


tudo o que está me engasgando vai me poupar de sofrer um infarto.

— Respiro fundo, tentando manter a classe. — Olha, eu realmente

não quero que as coisas entre nós terminem mal. Em respeito à

amizade entre nossas famílias, podemos apenas seguir em frente

sem mágoas?

Na verdade, o que eu quero mesmo nesse instante, é acabar

com o telefonema. Não há mais o que ser dito e ele sabe bem disso.

Não entendo por quê está resistindo em aceitar.

— É por causa de Scarlet? Porque se alguém te contou sobre

ela, quero que saiba que foi somente sexo. Um cara tem suas

necessidades e como você prometeu ao seu avô se casar virgem…

— Scarlet?

— A mulher com quem eu durmo.

Eu nem sei dizer o que me choca mais: se é a descoberta de

que sou corna, ou ele tentar justificar sua traição colocando a culpa
na minha virgindade.

Opto pela primeira opção: ter mais informação sobre a outra.


— Quem é Scarlet?

— Ninguém importante. Uma diversão.

Sinto meu sangue ferver.

Se eu não estivesse em público, começaria a gritar.

— Sabe aquilo que eu falei sobre seguirmos em frente sem

mágoas? Esqueça. Vá para o diabo que o carregue, Diego. Você,


Scarlet e sua falta de caráter.

— Não era por isso que estava terminando comigo, então?

— Claro que não. É porque eu não te amo. Você não me faz


ficar com os joelhos bambos e nunca passei uma bendita noite em

claro fantasiando com nós dois.

— Você usou drogas? Não está dizendo coisa com coisa.

— Adeus, Diego. Fique bem. Espero que a pobre Scarlet

descubra quem você é. Nenhuma mulher merece ser chamada de


“diversão”.

Desligo o celular desejando estar em um telefone fixo,


daqueles aparelhos antigos que tem na mansão do meu avô, para
poder colocá-lo no gancho com a força dramática que o momento

merece.
Infelizmente tudo o que posso fazer é tocar a tela do meu

iPhone recém adquirido e me livrar de ouvi-lo continuar dizendo


besteiras.

Eu estava na entrada do hospital quando ele me ligou.


Normalmente, eu esperaria para falar sobre o fim do relacionamento

em casa, mas depois de dois dias tentando encontrá-lo, não podia


perder a oportunidade.

Agora sei a razão de seu sumiço: Scarlet, provavelmente.

Traída por ser virgem.

Foi essa a justificativa que o cretino me deu, mas eu duvido.


Acho que um cara que engana uma namorada com quem está a
apenas por poucos meses, continuará fazendo isso no decorrer do

casamento, se a relação for adiante.

Penso em Tommaso. Pelo menos ele é sincero quanto ao

que está buscando: sexo.

Eu nunca me arrependi tanto de fazer uma promessa na vida.


Se não fosse isso, voaria para Florença amanhã, direto para a casa

dele. Me perder naquele um metro e noventa e cinco — é, eu sei a


altura, peso, e também que número calça. Sou obcecada por ele
desde a adolescência, lembra? — de músculos deliciosos parece
ser uma ótima maneira de dar o troco ao idiota do meu ex.

Mentirosa. Você só quer uma desculpa para aceitar o convite


que Tommaso lhe fez de brincar naquele parque de diversões —
uma voz debocha.

Chego ao andar do curso e dou de cara com Hazel.

Ela sorri, parecendo alegre como sempre.

— Doutor Athanasios está de mau humor hoje.

— Conte uma novidade.

O que o neurocirurgião grego tem de bonito e competente,


tem de irascível. A fama dele corre mundo, mas por ser o número
um em neurocirurgia, é tratado como um deus, que aliás, é também

seu apelido.

— Opa, pelo visto não é só ele.

— Terminei com Diego.

— Uau. Achei que fosse motivo para comemorar. Nossa festa


de despedida hoje terá muitos brindes!

— E é, de uma certa forma, mas ainda estou me recuperando

do fato de que fui corna. Dá para acreditar em algo assim? Ele


namora comigo uns poucos meses, nunca tentou nem uma passada
de mão e disse que me traiu porque sou virgem.

— Filho da… — antes que ela complete, doutor Athanasios


passa por nós.

— Estão atrasadas, senhoritas. Não dou segundas chances.

Do mesmo jeito que surgiu do nada, ele se vai sem que

tenhamos oportunidade de lhe responder.

— Bom, não quero bancar a egoísta, mas como está solteira,

significa que iremos à festa de despedida da turma na boate

Hazard[22]?

Dou de ombros.

— Por que não? Mas agora, é melhor a gente entrar. — falo.


— Para esse dia ser pior do que está, só falta sermos reprovadas

por nos ausentarmos no justamente no fim do curso.

Naquele instante, eu não tinha a menor ideia de que o inferno


estava só começando.
Beatrice

— Estão todos dispensados, senhoras e senhores. Foi um


prazer tê-los aqui conosco. Espero que saibam aplicar o que

aprenderam no curso. Somente os melhores estudantes são


aceitos. Foram escolhidos a dedo.

Apesar do que diz, doutor Athanasios não parece sentir


prazer algum em nos ministrar a aula final.

— Ah, já ia me esquecendo. Quem não deu autorização para

receber o resultado do kit de DNA por e-mail, terá que passar no

laboratório, no décimo terceiro andar, para pegá-lo.

Depois disso, ele sai sem dizer mais nada.

Eu acabo de conhecer alguém que pode empatar fácil com

Tommaso em termos de arrogância.

— E aí, e-mail ou laboratório? — Hazel pergunta.


Balanço o celular para ela.

— E-mail.

— Laboratório. Meu irmão é meio paranoico com relação à

segurança cibernética, então eu não pedi que me enviassem por e-

mail.

— Sabe que não adiantou muito, né? Esses resultados estão

armazenados em algum sistema e duvido que haja uma tia de jaleco


fazendo os gráficos e anotando de quem você foi bisneta.

— Engraçadinha. Pelo visto, a última aula serviu para


melhorar seu humor.

— Com certeza. Não quis competir com “deus” no quesito


azedume — falo, me referindo ao apelido de doutor Athanasios na

comunidade médica.

— Você é engraçada, Beatrice e fez bem em terminar com o

traidor. Qualquer cara que tente conter sua personalidade não a

merece.

Ela me dá um beijo na bochecha e começa a se afastar.

— Nos vemos à noite? — pergunta.

— Sim.

— Use algo sexy.


Reviro os olhos.

— Pode deixar. Vou vestida para matar para comemorar

minha recém adquirida solteirice.

Eu já até sei o que vou usar: um vestido vermelho de seda

curto que comprei na semana passada na Quinta Avenida[23].

Ao menos aqui nos Estados Unidos não tem alguém me

vigiando a cada passo e nem haverá paparazzi para fotografar até

mesmo um espirro meu.

Entro no elevador e enquanto ele desce, abro meu e-mail no

celular para descobrir se há algum dos meus ascendentes mais

importantes do que os arrogantes italianos e também se acertaram

os “chutes” genéticos sobre meu biotipo.

Vamos ver.

Cor da pele, branca, predominantemente; olhos verdes

azulados; cabelos castanhos avermelhados. Sardas. Até agora tudo

certo.

Vejamos os ancestrais: sessenta e nove ponto um por cento

europeia, particularmente do sudeste. Vinte e um ponto nove por

cento, da região dos Cáucaso, na Europa também e aqui, olhe só, a

grande surpresa. Nove por cento da América do Sul.


Será que tenho sangue brasileiro correndo nas minhas veias?

Bem que poderia. Um dos meus sonhos é passar o réveillon na


praia de Copacabana.

O elevador chega ao térreo e eu saio distraída com o celular.


Sei que há um carro com motorista e seguranças me esperando do

lado de fora. Meu avô parece achar que não sou grandinha o

bastante para andar sozinha na Big Apple[24].

Cumprimento o motorista e os dois guarda-costas, depois


entro e fecho o cinto de segurança.

Agora, falta só descobrir sobre minha saúde. O que será que


vou encontrar?

Rolo a tela, nem um pouco ansiosa, então quando leio o texto


na minha frente, a princípio, não acredito.

Volto tudo, desde o começo, porque claro que só pode ser


um engano, mas quando chego ao topo do documento, é meu nome

que está lá.

Minha mão começa a tremer, o coração batendo tão


depressa que tenho medo de sofrer um infarto.

Abro uma página de pesquisa e jogo o nome da doença.


Sou estudante de medicina, então é claro que sei um pouco

sobre aquilo, mas de uma maneira muito superficial.

As primeiras frases são assustadoras e ao mesmo tempo em

que tento assimilar as informações, quero parar de ler.

Não sou do tipo de pessoa que procrastina. Costumo

enfrentar tudo sem enrolar, mas dessa vez, decido deixar o resto da
pesquisa para depois.

Fecho os olhos e recosto a cabeça na poltrona do carro,


tentando racionalizar aquilo, mas não consigo. Não quero ser forte,
quero chorar.

Eu não fiz muito disso ao longo da vida, nem antes de ser


salva pelo meu avô, nem depois que fui morar com ele, mas hoje,

eu gostaria de chorar até não poder mais.

Meu celular toca e quase não acredito quando vejo quem

está chamando.

É como se a vida estivesse brincando comigo. Como se me


dissesse: esqueça das regras que se autoimpõe, vá viver. Esqueça

as promessas. Aproveite o hoje.

Quantas garotas de vinte e um anos incompletos não


aproveitaram nada ainda? Não muitas, eu diria.
Eu sou um belo exemplar do que é uma vida adulta sem
emoções. Se não fosse o breve namoro com aquele trapaceiro do
Diego e os momentos roubados com Tommaso naquela madrugada

há alguns anos, eu poderia fazer inveja a uma freira.

Decido atender.

Quero ouvir a voz dele.

Eu sempre quero ouvir a voz dele, embora, como alguém que

saiba que determinada substância causa dependência, me


mantenho afastada na maior parte do tempo.

— Tommaso?

— Bella, como vai?

Não dispare, coração idiota — ordeno, mas cadê que ele

obedece?

— Acabei de sair do meu curso. Estou em Nova Iorque.

Quem nos ouve conversar, não acreditaria que da última vez


em que nos vimos eu estava com vontade de matá-lo. Parecemos

dois seres humanos civilizados sendo que, na verdade, quando


estamos lado a lado, somos duas bombas prestes a explodir.

— Eu sei — diz, com aquele tom arrogante que não deveria,


mas me deixa arrepiada.
— Como é possível?

— Sei tudo sobre você.

— Você estava indo bem, até começar a mentir.

Ele ri.

— Sentiu minha falta, pequena?

— Morri de saudade. — Tento ironizar, mas o que acabo de

descobrir faz com que minha voz soe mais carente do que

debochada.

— O que há de errado, Beatrice?

— Nada. Por que telefonou? Aconteceu alguma coisa com

meu avô?

— Não, está tudo bem. Pode ser que eu apenas deseje saber

sobre você.

— Mesmo? E esse desejo é sazonal, né? Porque nos vemos

uma vez a cada estação.

Ele ri outra vez e eu memorizo o som.

— Está contando todas as vezes em que nos encontramos,

bella mia?

— Nos seus sonhos você bem que gostaria, Tommaso. Tenho


mais o que fazer.
— Como o que, por exemplo?

— Sair, ir a festas. Não se preocupe, não sou sua


perseguidora.

— Ir à festas com o almofadinha de cabelo no lugar?

— Não se deve falar mal dos mortos.

— Não entendi.

— Eu terminei com Diego hoje, mas não quero elaborar sobre

o assunto.

— Mattia já sabe?

— Não, mas até ele terá que concordar que foi o melhor a ser

feito.

— Por quê? O que aconteceu? O que aquele filho da puta te

fez?

— Nada.

— Não minta.

— Não estou mentindo, estou omitindo. Olha, já me verificou

e eu estou bem. Sei que foi meu avô quem mandou que ligasse.
Fique tranquilo. Continuo viva.

— Disse que vai em uma festa. Onde?


— Na Hazard, uma boate. Hoje será a comemoração dos

estudantes do meu curso e pretendo me divertir para valer.

— Para celebrar a liberdade?

— Algo assim.

— Essa boate é de um amigo meu.

— Mesmo? Já foi? É legal?

— Não pergunte o que você não quer ouvir.

— Não entendi.

— Não saio à noite para dançar, saio quando quero encontrar

companhia, então, o conceito de “legal” pode ser diferente para nós

dois.

Meu coração se contrai de ciúme.

— Achei que, pelo tempo que tem de estrada, tivesse uma

agenda telefônica imensa e não precisasse mais sair à caça de

novidade.

— Eu enjoo fácil.

— Tchau, Tommaso.

— Estou brincando.
— Eu não. Tive um dia horrível e não terei nem a

oportunidade de matá-lo se você continuar me irritando porque


estamos em continentes diferentes.

— Sobre oportunidades: nunca se sabe, bella mia.

E com isso, ele desliga sem maiores explicações.


Beatrice

— Tem certeza de que deveria beber mais um shot? — Hazel


pergunta quando viro a terceira dose de tequila em menos de uma

hora.

— Estou acostumada com álcool.

— Disse-me que estava acostumada com vinho. E sem

querer bancar a amiga mais velha chata, lembre-se de que aqui nos
Estados Unidos é proibido vender álcool para menor de vinte e um

anos.

— Tenho quase isso.

— Se você passar mal e encrencar a nós duas, eu vou te

matar, Beatrice. Foi minha identidade que o barman pegou quando

fomos buscar as bebidas.


— Fique tranquila. Eu só vou me divertir um pouquinho.

Acredite, eu preciso disso hoje.

— Por causa daquele bosta traidor? Cara, ele não merece

tanto esforço. Amanhã você estará com uma dor de cabeça do


cacete, sentindo gosto de cabo de guarda-chuva na boca e terá

envelhecido uns dez anos.

— Nossa, você é sempre tão positiva?

— Sou honesta e já tive ressaca também, então estou

tentando ser uma boa amiga, em primeiro lugar.

— Pare de se preocupar tanto. Vamos dançar. Como você

bem disse hoje mais cedo, tenho que comemorar minha solteirice.

— Ficando com alguém? Porque só precisa escolher. Já vi

vários caras te olhando.

— Não. Só dançando, mesmo. Não sou do tipo casual,

infelizmente.

Ela balança a cabeça de um lado para o outro, rindo.

— Tudo bem. Vamos dançar.

Começa a me puxar para a pista de dança, mas eu a paro.

— Lá não. Ali. — Aponto para umas gaiolas que ficam a pelo

menos uns dois metros de altura acima da pista.


— Enlouqueceu?

— Ainda não, mas pretendo.

— Meu Deus do céu, isso é muito divertido — Hazel diz, uma

hora depois.

— Viu? Quer festejar? Vem comigo, baby. Uhuuuuuu!

Eu nunca me senti tão livre e feliz. Nem tão bêbada também,

claro.

Na minha nuvem alcoólica não há nada além do hoje.

Vários rapazes e garotas já entraram na gaiola conosco. Nem

sei mais quantas músicas dançamos. Estou tão suada que o vestido

vermelho mais parece uma segunda pele.

— Olha, estou adorando a noite de hoje, mas chega de álcool


para você, menina. Três doses de tequila e ainda aceitou aquela

bebida azul do cara. Sei que não está acostumada a sair, então vou
te dar um dica, doutora: jamais se pega bebida da mão de um

estranho, não importa a que gênero pertença.

— Eu nunca fui a uma boate sozinha antes. Só duas vezes

com Diego e bebi vinho — falo rindo porque tudo parece muito
engraçado. — Mas diversão mesmo é na Hazarddddddd.

— Ai, meu Deus, Beatrice. Está me deixando preocupada.

Melhor irmos ao banheiro um pouquinho jogar água no rosto.

Deixo ela me guiar, sem fazer a menor ideia de porquê

preciso lavar o rosto se vou voltar para dançar e suar outra vez.

Quando chegamos no piso da pista, um dos caras que estava

conosco na gaiola nos vê e chama para dançar com os amigos dele.

Ele me coloca no meio de uma roda, junto a Hazel.

A música é muito boa e quando ela tenta me levar embora,


eu peço para ela só mais uma, antes de irmos ao banheiro.

— Uma. — Concorda, fazendo o gesto com o dedo indicador.

As meninas estão descendo até o chão e nós imitamos, só

que na hora de subir, o mundo começa a girar e eu fico ali mesmo,


de cócoras, rindo feito uma doida.

Meu relógio vibra avisando de uma mensagem no celular e


mesmo sabendo que há somente uma pequena chance de que eu
vá conseguir lê-la, eu o pego.

Tommaso: "Beatrice, onde você está?”

Ai, meu Deus!

Somente o nome dele já faz passar um quarto da bebedeira.

Hazel me ajuda a levantar e eu mostro o celular para ela.

— Responde para mim, por favor. Diz que estou vivendo a


vida.

— Quem é esse cara?

— Minha fantasia sexual encarnada. O homem que eu nunca


vou ter.

— Se ele é isso tudo, não merece uma resposta assim.

Vamos ao banheiro e você mesma poderá falar com ele.

Quando chegamos lá, ela entra comigo em uma das cabines.

Não conseguimos mais ouvir a música que toca na boate, então


acho que as paredes devem ser à prova de som.

— Liga para ele. — diz.

— Pera aí.
Antes que eu encontre o número na agenda, no entanto, meu
celular toca.

— Beatrice, por que não me respondeu?

— Eu estava sentada na pista de dança. Lá faz muito


barulho.

Assim que acabo de falar, eu começo a rir. Por que diabos


fiquei sentada na pista de dança?

— Você está bêbada.

— Não foi uma pergunta.

— Não. Diga-me onde está. Vou encontrá-la.

— Dãaaaa. Estou em Nova Iorque, bobo. Você é poderoso,

mas nem tanto. Não tem como atravessar um oceano, Tommaso.


Mas não se preocupe. Tem uma amiga aqui comigo.

— Oi, Tommaso. Estou com ela! — Hazel grita.

— Viu só?

— Sua doida, você está bêbada em um país em que álcool é

proibido para menores de vinte e um anos. Se não quiser passar a


noite na cadeia, é melhor me dizer onde está e eu vou encontrá-la.

Essa sua amiga é americana?

— Não. Australiana.
Alguma coisa no tom de voz dele começa a me assustar.

Meu Deus, o que eu fiz?

— Ela está sóbria?

— Mais do que eu, sim.

— Passe o telefone para ela.

Eles conversam por cerca de dois minutos e quando desliga,

os olhos de Hazel estão do tamanho de duas bolas de tênis.

— O que ele disse? — pergunto.

— Que eu posso ser presa por ter comprado bebida para

uma menor. Podemos ambas sermos detidas.

— E agora?

— Ele está vindo nos buscar — diz.

Hazel aproveita para jogar água no meu rosto e no dela

também.

Quando me olho no espelho, vejo três de mim e somente


então me dou conta de que estou muito bêbada.

— O que mais Tommaso disse a você no telefone?

— Não sei se vai querer ouvir isso.

— Fale.
— Já tem várias fotos nossas em redes sociais, inclusive

dançando na gaiola. Falou que se alguém denunciar que você é


menor, estamos ferradas.

— Ai, meu Deus do céu. Vamos fugir! — digo, pegando-a

pela mão.

A porta se abre e ouço uma voz dizer atrás de mim.

— Não tem para onde fugir, maluca. Não pode chamar

atenção. Seu rosto não é exatamente desconhecido nas redes

sociais, graças às fotos que tirou nos últimos meses com aquele
mauricinho. Então, ouça bem. Vai me obedecer. Se puder fazer isso,

eu prometo tirar sua bunda irresponsável daqui.


Tommaso

— Estou com medo — ela fala e mesmo com vontade de lhe


dizer que deveria mesmo, não acho que vá entender.

— Eu vou te tirar daqui. Apenas faça o que estou mandando.


— Olho para a garota que não pode ser muito mais velha do que

Beatrice, mas que parece estar em muito melhor estado. — O que


ela bebeu?

— Três shots de tequila e algo azul que não sabemos o

nome.

— Foda-me!

— Hey, que mau humor! — a australiana diz.

— Eu não sei seu nome, senhorita, mas o que eu disse a

Beatrice serve para você: vou tirá-las daqui, mas não banque a
engraçadinha comigo ou te deixo para ser presa sem dó nem

piedade.

— Eu não posso. Meu irmão me mataria.

— Então não abuse da minha paciência e me siga.

Assim que desliguei o telefone com Beatrice, quando

descobri que estava no banheiro do primeiro piso da Hazard e muito

bêbada, liguei para Beau[25], meu amigo que é também o dono da

boate e contei o que estava acontecendo, ele me deu instruções de


como sair discretamente pelos fundos.

Mandei que meu motorista nos esperasse lá, assim como os


guarda-costas e agora só posso torcer para que ninguém nos veja

saindo.

Beatrice anda abraçada a mim como se eu fosse sua tábua

de salvação e se não fosse chamar tanta atenção, eu a pegaria no


colo, porque claramente não tem condições de se sustentar sobre

as próprias pernas.

Quase dez minutos depois de desviarmos de outros corpos


tão bêbados quanto o delas, finalmente chegamos à saída.

Se a polícia a pega nesse estado, ela será presa e sua volta

para a Itália, adiada por uns dias, além do escândalo por todo
circuito internacional.

— Onde você está hospedada? — pergunto a tal Hazel.

— No Oviedo Tower[26], assim como Beatrice.

— Para não chamar atenção, você irá em outro carro com


meus guarda-costas. A última coisa que precisamos é que além de

descobrirem que estão bêbadas, pensem que somos um trisal.

Ela baixa os olhos e sei que está envergonhada pelo que eu

disse, mas não dou a mínima.

— Pode pedir para Beatrice me ligar amanhã? — pergunta,

antes de ir para o outro veículo.

Balanço a cabeça concordando e passo meu telefone para

ela.

— Grave seu número e também o do seu irmão.

— Não pode falar com ele, senhor Tommaso. Eu não estava

brincando, Cooper[27] vai me matar.

— Eu não sou sua babá, menina, muito menos dedo-duro,

mas quero ter certeza de que se algo lhe acontecer antes que

retorne para a Austrália, que suponho que é onde mora, ele possa

me contatar.

— Por que algo me aconteceria?


Pego Beatrice no colo e coloco-a no banco de trás da

limousine antes de responder.

— Se essa situação de hoje for seu estilo de vida normal,

talvez nem volte viva para casa. Tem noção de quantas garotas
desaparecem todas as noites pelo mundo fazendo exatamente o

que fizeram hoje? Ficar quase inconsciente em meio a vários


homens com tesão não é uma atitude inteligente.

— Sim, eu entendo o que está me dizendo e acredite, esse

não é o meu normal, muito menos o de Beatrice, até onde sei, mas
ela teve um dia de mer… huh…um dia bem ruim, segundo me

contou.

— Você não é problema meu. Já é uma adulta. Meu recado

está dado.

— Beatrice também é adulta.

— Sim, mas dela eu vou cuidar sempre.

Entro no carro somente depois que confirmo que Hazel já


está no outro e quando sento-me ao lado de Beatrice, percebo que

está completamente apagada.

Não posso ir com ela para o Oviedo Tower assim. Todos

perceberão que está bêbada.


— Para onde, senhor? — meu motorista daqui de Nova

Iorque pergunta.

Eu espero não me arrepender dessa decisão.

— Para minha casa.

— Beatrice, acorde. Você precisa tomar um banho.

— De banheira — ela responde em seu torpor embriagado.

— Não. De chuveiro e gelado, de preferência.

Eu acabei de carregá-la para o quarto de hóspedes e a sentei

na bancada do banheiro, mas ela continua meio fora do ar.

— Gelado nãooooo. Aliás, por que preciso tomar banho?

Estou suja?

— Se consegue argumentar, não está tão bêbada assim.

— Estou é morrendo de sono.

Suspiro irritado, mas acabo decidindo levá-la de volta para o

quarto. Não há maneira de que vá conseguir entrar no chuveiro


sozinha e não vou tirar sua roupa enquanto está quase
inconsciente.

Pego-a outra vez no colo e ando para a cama.

O vestido vermelho de seda, que mais parece uma camisola


de tão curto, sobe completamente quando ela se deita de bruços,

me mostrando a porra da bunda mais sexy do planeta.

Claro que Beatrice tinha que estar usando uma calcinha fio

dental preta.

Jesus!

Tiro as sandálias de saltos altíssimos, também vermelhas e


depois a cubro.

— Não vá embora — geme, mas nem sei se sabe quem sou

eu.

— Não posso me deitar aí com você.

— Não vá embora. Meu dia foi uma merda. Não quero ficar
sozinha, Tommaso.

— Já volto — falo, mas certo de que ela não está escutando.

Vou até meu quarto e tiro a roupa. Procuro no closet uma

calça de moletom e camiseta.


Quando volto à suíte de hóspedes em que ela está, percebo
que o lençol escorregou novamente e o pior, agora ela está deitada
de frente, me dando uma visão total do contorno de seu sexo

coberto pela renda transparente.

Puta que o pariu. A noite vai ser torturante.

Apago a luz do abajur e em seguida, acomodo-me na única

poltrona do quarto.

Ela resmunga em seu sono e sei que amanhã vai estar se

sentindo mal para caralho. Ressaca de tequila não é brincadeira.

Meu celular acende com uma mensagem.

Beau: “Como está sua menina?”

“Ela não é minha. Quanto à sua pergunta: bêbada feito um gambá.”

Beau: “Quando acordar, avise que está proibida de entrar em

minhas boates até ter vinte e um. Quanto à sua negativa: todos

dizemos o mesmo antes de nos rendermos”.


Beatrice

Tento levantar a cabeça do travesseiro e tenho a sensação


de que um milhão de sinos tocam ao mesmo tempo.

É um latejar quase insuportável, tanto na têmpora quanto na


nuca.

Antes mesmo de abrir os olhos, prometo a mim mesma que

nunca mais vou beber tequila.

Eu não consigo me lembrar de boa parte da noite e juro por

tudo quanto é mais sagrado que jamais vou duvidar quando os


pacientes chegarem no meu plantão dizendo que estão com

amnésia alcoólica. Posso comprovar agora que ela existe.

Deus, quem me trouxe para o hotel?

Forço-me a abrir as pálpebras, mesmo que seja doloroso.


Quando olho para o teto, entretanto, sei que há algo errado.

O quarto do Oviedo Tower não tem esses recortes.

Minha pulsação acelera e coloco as mãos por debaixo do

lençol. Quase desmaio de alívio quando confirmo que estou vestida.

Lembro das palavras de Hazel me dizendo para nunca


aceitar bebidas de estranhos.

Hazel, Jesus! Onde ela está?

Sento-me na cama rápido demais e fico tonta, mas nenhum

sintoma físico chega perto de me abalar tanto quanto ver Tommaso


dormindo em uma poltrona a poucos metros da cama.

Ele foi me buscar na Hazard.

Flashes da noite de ontem começam a pipocar na minha


mente, mas são muito pequenos para formar um quadro coerente.

Ele está completamente relaxado, embora eu tenha certeza

pelo tamanho de seu corpo, muito desconfortável. A poltrona parece

de quarto infantil perto dele.

Veste uma calça de moletom cinza que, nessa posição,

delineia cada músculo de suas coxas. A camiseta preta está

esticada no peitoral e tenho vontade de ir lá e arrancá-la para

conferir a carne rija por baixo.


Quando chego ao rosto, tomo um susto quando percebo que
acordou e me observava de volta, completamente imóvel.

Por um momento, nenhum de nós fala nada. O dia ainda não


amanheceu completamente e eu chutaria que deve ser umas cinco

da manhã.

Eu não consigo pensar no que estou fazendo aqui e nem

mesmo onde é esse aqui. O que passa pela minha cabeça, por mais
louco que seja, é como parece certo ele ser a primeira coisa que eu

vejo ao acordar.

Eu queria ter o poder de filmar a cena para repeti-la a cada

manhã.

Desvio de seus olhos, com medo de entregar o que estou


pensando.

— Como eu cheguei aqui? — pergunto, mesmo morrendo de


medo da resposta.

Ele demora um tempo a falar e quando faz, sua voz não

denota raiva, está rouca.

— Do que se lembra?

— Eu bebi muito. Meu dia foi uma porcaria. Decidi festejar

por uma vez que fosse.


— Não pode consumir álcool nos Estados Unidos até que

faça vinte e um.

— Sei disso, mas tive minhas razões.

— Terminar com aquele idiota foi uma delas?

— Não.

Tento me levantar, mas fico tonta.

Em duas passadas, ele está em mim, os braços fortes em

volta do meu corpo.

O efeito do álcool desaparece como por encanto. Ele não é


páreo para o efeito Tommaso.

— Preciso usar o banheiro. Eu gostaria que você me

contasse o que aconteceu, mas antes, posso tomar um banho? Eu


me sinto miserável.

Sem que eu esteja esperando, ele me pega no colo e vai


para o banheiro. Lá, me senta na bancada.

— Não caia. — comanda, como se pular da pia fosse uma


das minhas coisas preferidas na vida. — Tentei fazer com que
tomasse banho quando chegamos, mas você estava quase

apagada.

— Apagada é um bom termo. Não me lembro de nada.


Depois que regula a temperatura da água, ele para na minha

frente, um braço de cada lado da bancada, me mantendo como que


em uma prisão.

— Não pense que porque estou sendo legal com você agora,
não temos muito o que conversar. Depois que sair do banho, me

encontre lá embaixo.

Ele já está indo embora, quando o chamo.

— Lá embaixo? Onde nós estamos?

— Na minha casa. Agora, tome seu banho. Vou deixar uma

boxer e camiseta em cima da cama. Jogue a roupa do lado de fora


que vou colocar para lavar.

— Não vai lavar minha calcinha!

— Não me provoque, Beatrice. Hoje, você me deixou bem


perto do meu limite. Ou tira essa calcinha e o vestido ou terá que

voltar para o hotel de cueca e camiseta mais tarde.

— Bom, colocando dessa maneira, não tenho opção. — falo,

tentando juntar alguma dignidade, afinal de contas, fui criada para


ser uma dama. Uma com muita ressaca no momento, mas ainda

assim, uma dama.


Cerca de quinze minutos depois, eu me sinto um pouco
melhor.

Quando saio do banheiro, como ele prometera, há uma


camiseta e boxer me esperando, embora eu ache que dada nossa
diferença de altura, a cueca vai parecer uma bermuda em mim.

Eu me troco rapidamente e percebo que Tommaso deixou um

vidro de Advil[28], uma jarra com água e um copo na mesinha de


cabeceira.

Quero muito falar com Hazel, mas primeiro preciso parar o


rufar de tambores no meu cérebro.

Bebo o copo de água inteiro com o comprimido e em seguida,


pego a jarra e encho outro.

Deus, se me livrar dessa, prometo que eu nunca mais vou


beber.

O pedido me faz lembrar da razão de ter agido de maneira

irresponsável na boate e também de ter bebido e dançado sem


pensar nas consequências.

Não estou pronta para analisar as repercussão que a minha


descoberta de ontem à tarde terá em meu futuro, então mais uma

vez, empurro o problema para depois.


Pego meu celular e mando uma mensagem para Hazel.

“Hey, só queria conferir se chegou bem. Sinto muito por tudo.”

Menos de dez segundos depois, o telefone toca.

— Você me deu um susto danado, Beatrice.

— Oi. Achei que estava dormindo.

— E eu lá consegui? Enviei uma mensagem para o seu


Tommaso como ele mandou, mas estava tão agitada sem saber se

você estava bem que não consegui pegar no sono.

— Tommaso nunca me machucaria, Hazel. Ele é amigo do


meu avô.

— E sua maior fantasia sexual também.

— O quê?

— Você disse isso ontem.

— Na frente dele? — pergunto, horrorizada.

Ela ri.

— Não, sua boba. Mas olha, falando sério agora, nunca mais

faça isso. Fomos muito irresponsáveis, Beatrice.


— Eu sei. Além de ter quebrado a lei, fui estúpida por aceitar

bebida de um estranho. Lembro de poucas coisas do que fizemos


na boate, mas recordo claramente de você me dizendo para nunca

fazer isso.

— Com certeza, mas quebrar a lei e aceitar bebida do


desconhecido foi só a ponta do iceberg. Se não está preparada para

levar bronca do seu avô, não abra o seu celular nas redes sociais.

— Por quê?

— Nosso nome aparece em todas as maioria mídias, nas


páginas de celebridades. Demos um verdadeiro show, e não em um

bom sentido. Cooper vai tirar meu couro.

— Não estou mentalmente preparada para falar disso ainda.

Diga-me como chegou no hotel.

— Tommaso mandou os guarda-costas me trazerem. E você?

— Não estou no hotel, e sim na casa dele.

— Ah, entendi. Ele deve ter te levado para aí porque você


estava meio apagada. Chamaria muita atenção entrarem juntos no

Oviedo Tower.

— Acredito que sim. Olha, eu tenho que descer para falar

com ele. Por menos que me deixe animada a ideia de conversar


sobre as besteiras que fiz, não sou uma covarde.

— Me liga mais tarde? Quero saber como vai ficar tudo.

— Ligo, sim. Ainda pegará o voo hoje mesmo?

— Não tenho opção. O avião do meu irmão estará me


esperando, mas ainda quero me despedir de você.

— A que horas você vai para o aeroporto?

— Por volta das seis.

— Tudo bem. Eu te ligo quando estiver voltando para o hotel.

Assim que terminamos de nos falar, sinto que a dor de

cabeça melhorou um pouco.

Respirando fundo, me preparo para descer.

Eu já nem sei mais do que estou com medo. Se é do meu


futuro, da bronca certa do meu avô, ou de encarar Tommaso.
Tommaso

— Ela está tomando banho, Mattia.

Não me espanta que ele já tenha me ligado, afinal, são quase


meio-dia em Florença e a essa altura, sabe o que aconteceu.

A pergunta de um milhão de dólares é: quem não sabe?

Dei uma verificada rápida no celular e o que vi vai virar o


mundo de Beatrice de cabeça para baixo: a imprensa ficará em cima
dela como mosca no mel.

— Por que minha neta está tomando banho em sua casa?

— A opção seria carregá-la bêbada pelo saguão do Oviedo

Tower.

— O que diabos estava se passando pela cabeça dessa

menina? — Parece uma pergunta retórica, então ouço seu


desabafo, somente.
Eu o conheço há tempo demais para saber como aquele tipo

de escândalo o incomoda.

Os pais de Beatrice viviam nas colunas sociais e

eventualmente, também nas manchetes policiais, já que ambos


eram usuários de drogas.

Por tudo o que sei, o início de vida dela não foi fácil e acho

que Mattia a mantém em rédea curta por temer que acabe seguindo

o caminho dos pais.

É injusto para caralho que ele pense assim, claro.

Até hoje, Beatrice se mostrou muito responsável.

Então, o que no inferno pode ter acontecido para


enlouquecesse como fez?

Tudo bem, provavelmente as fotos que foram tiradas dela e

de Hazel talvez tenham captado as duas em ângulos ruins, mas o

problema é que apesar de não mencionarem nada sobre ambas

estarem sob efeito de álcool, as imagens são autoexplicativas.

— Ainda está me ouvindo, Tommaso?

— Estou aqui.

— Precisamos conversar a sério.

— Achei que era o que estávamos fazendo.


— Meu coração não anda bem, como você sabe.

Com apenas uma frase, ele prende instantemente minha

atenção.

— Está sentindo alguma coisa? Posso pedir para um dos

meus irmãos que vá vê-lo.

— Nada que já não tenha sentido antes, meu rapaz. Velhice

somada a um coração fraco não é uma boa mistura.

— O que posso fazer por você, Mattia?

— Cuide dela.

— O quê?

— Sabe da história dos pais de Beatrice, não é?

— Sei, sim.

— Eu tenho muito medo de que o quadro se repita.

— Está dizendo que teme que vire uma dependente química?

Pelo amor de Deus, Mattia, a menina tomou um porre. Na idade

dela, isso é muito comum.

Ele dá uma risada cansada.

— Fala como se tivesse cem anos e não trinta e quatro.


— Às vezes eu me sinto com cem. De qualquer modo, acho

precipitado de sua parte acreditar que Beatrice vá se transformar em


uma desvairada baseando-se somente em uma noite de farra.

— E no histórico familiar dela. Ambos os pais eram usuários


de drogas e nem mesmo durante a gestação, pelo que eu soube, a

mãe de Beatrice, minha nora, parou. Quem pode garantir os efeitos


que isso pode ter no sistema nervoso de uma criança? Qual tipo de
adulto ela pode se tornar?

A conversa me incomoda para cacete. Eu me sinto como se


estivesse traindo Beatrice, falando dela por suas costas.

— O que a vida pregressa de sua neta tem a ver com sua


saúde? Eu prefiro que você seja direto no que tem a me dizer.

— Não quero morrer sem saber se a minha menina ficará


bem encaminhada.

— Ela é uma estudante de medicina competente, Mattia. No


tempo em que fiquei internado, todos a elogiavam. Não acha que

está sendo injusto ao julgá-la baseado em um ato isolado?

— Não, eu não acho. Como se explica que uma menina boa


e centrada, como você mesmo disse, possa de uma hora para outra

dar um vexame de repercussão mundial?


— É a porcaria da internet. A podridão do mundo em que

vivemos. Os jornalistas da imprensa marrom sempre atentos para


qual reputação vão destruir. Amanhã a manchete será outra.

— Não estou preocupado com a imagem dela, se é isso que


está insinuando, mas que quando eu me for, se perca na vida.

Jovem, linda e com mais dinheiro do que precisa, o que garante que
não irá se desencaminhar?

Eu não tenho como rebater porque entendo seu ponto.

Sozinha no mundo e ainda tão sem vivência, Beatrice seria


um prato cheio para um mau-caráter.

— Ela terminou com Diego, sabia?

— Sei sim e de onde vejo, é um ponto a favor. Mostra o


quanto é inteligente.

— Ele me telefonou ontem para contar e pedir que eu a

fizesse mudar de ideia.

— O filho da puta a traía, Mattia. Estava ciente disso?

— Não, mas agora também já não importa mais. O


relacionamento dela com Diego se tornou um problema menor perto

de tudo o que aconteceu.


— O que quer de mim? Porque eu sei que fez esse discurso
todo para me pedir algo.

— Preciso que se torne o tutor legal dela por um ano.

— O quê? Está louco? Beatrice é maior de idade.

— Eu sei, mas não acho que apesar disso, seja capaz de

cuidar da própria fortuna quando eu me for.

— Pensei que você havia criado um fundo para isso. Foi o

que conversamos no outro dia.

— Sim, foi isso mesmo, mas ela também tem um projeto para

breve que demandará muito dinheiro.

— De que tipo?

— Não acho que seja algo que ela queira contar. Se for o
caso, lhe dirá.

— Tudo bem. E o que isso tem a ver comigo?

— Como eu disse antes, quero que você atue como tutor dela

por um ano. Supervisione sua vida, trocando em miúdos. Não tenho


mais saúde para enfrentá-la, se decidir se rebelar.

— De novo, acho que você está exagerando.

— Pode ser que sim, mas como posso ter certeza? E então?
Posso contar com você?
— Mattia, não está pensando com clareza. Eu tenho minha
vida, várias empresas para gerir além da vinícola.

— Que atualmente vem se tornando sua maior fonte de


prazer.

— Sim.

No começo, eu comprei a Castiglion[29] para irritar Ricco,

virando seu concorrente direto na região, mas já há algum tempo,

cada vez gosto mais de ficar em Florença, e não viajando para


verificar meus negócios ao redor do mundo, como antigamente.

Para isso, contratei CEOs profissionais e raramente saio da Itália.

— O que torna meu pedido ainda mais plausível. Beatrice

está estudando em Florença, agora. Ficará fácil manter um olho


nela.

— Sua neta nunca vai concordar com isso — retruco, mesmo

que a ideia de ter a ruiva sob meu comando por um ano comece a
me agradar. — Não, eu não posso fazer isso.

É arriscado demais. A atração física entre nós dois é

avassaladora.

— Pode ao menos pensar antes de tomar uma decisão em


definitivo? Eu falarei com ela também e ao contrário do que acredita,
tenho certeza de que vai concordar porque sei quais cartas usar

para persuadi-la. Mas se não tiver outro jeito e você me disser não,
contratarei um tutor profissional. Entretanto, preferiria que ficassse

tudo em família.

— Eu vou pensar, mas de qualquer modo, a partir de agora,


até voltar para casa, Beatrice está sob minha responsabilidade. Ela

irá para a Itália comigo, no meu avião.


Beatrice

— Eu vou ter o quê? Vovô, farei vinte e um dentro de


algumas semanas! Tutor é para menores de idade.

A ideia é tão absurda que a primeira vez que ele falou, achei
que não havia escutado direito.

— Tutor é para quem precisa. Não posso mais tomar conta

de você como antigamente e depois do que aconteceu ontem, acho


que não tem condições de gerir sua vida sozinha no momento.

Estamos em uma chamada de vídeo.

Antes que eu pudesse descer para me encontrar com


Tommaso, Mattia ligou com aquela conversa sem pé e nem cabeça.

Não, estou atropelando as coisas. Na verdade, primeiro ele

ficou quase quinze minutos falando sobre as consequências dos

meus atos na noite de ontem.


Eu ouvi tudo calada porque sei que errei e muito feio, mas

pelo amor de Deus, eu não deveria ter direito ao menos a uma


xícara de café antes?

Agora, depois de me relembrar os males das drogas e do


álcool, ele me joga essa bomba.

— Acha que está sendo justo comigo, vovô?

— Estou tentando decidir o que é melhor para você, já que


não parece capaz de fazê-lo.

Fica na ponta da língua dizer que se ele não me der espaço,


eu nunca saberei o que é tentar um voo solo, mas no último

momento, eu recuo.

Às vezes eu penso que deveria procurar ajuda psicológica.

Não pode ser saudável a maneira como me culpo pelos erros dos
meus pais.

O que me faz sempre ceder às vontades do vovô é, além de

me sentir grata por ele ter me criado, a culpa que me corrói por meu

pai, o filho dele, ter sido uma grande decepção.

— O que está me dizendo é que eu passarei um ano da

minha vida prestando conta a alguém?

— Exatamente.
— Achei que o senhor já suprisse esse papel.

— Estou velho e doente.

Sinto meu sangue gelar. Será que ele piorou e não me disse

nada?

Eu estava determinada a conversar com meu avô sobre o

resultado do meu teste de DNA, mas acabo de mudar de ideia.

Depois do vexame que dei ontem e ele parecer tão abatido, não

serei eu a lhe dar mais uma notícia ruim. Posso lidar com aquilo

sozinha por enquanto.

— Teve alguma piora?

— Não quero falar sobre isso agora.

— Conte-me.

— O maldito cardiologista disse que não posso sofrer fortes

emoções.

O remorso me corrói.

— Tipo o que aconteceu ontem? Está desistindo de mim? Por

isso essa ideia de tutor?

— Nunca, Beatrice. Jamais desistirei de você. Eu quero seu

bem acima de tudo e pensar que poderia seguir o caminho de seus


pais é minha ideia de pesadelo, por isso, preciso que aceite essa

supervisão.

— E se eu disser não?

— Não me restará alternativa. Vou mudar o testamento. Só


terá acesso ao dinheiro de sua herança que eu iria lhe adiantar em
vida quando fizer vinte e cinco anos.

— O quê?

— Estou fazendo isso para o seu bem, Beatrice. Seu pai se


destruiu. Não permitirei que faça o mesmo.

Pela primeira vez desde que fui morar com ele, tenho o
desejo real de enfrentá-lo, mas me reprimo pelo que acabamos de

conversar.

— Não é justo, vovô — digo, ao invés disso.

— Já deveria ter aprendido que a vida não é justa, minha

filha. Dê-me o que estou lhe pedindo: um ano sob a supervisão de


um tutor. Mostre-me que é capaz de ser responsável e terá o

dinheiro para a instituição que deseja criar em sua conta bancária


daqui a um ano.

Sinto um gosto amargo na boca e não tem nada a ver com a


ressaca da tequila, mas com o fato dele estar me colocando no
mesmo nível que meus pais por conta de um único desvio em meu

caminho.

Do que me adiantou ter sido uma boa menina a vida inteira?

É como se ele tivesse somente esperando o momento em que eu


iria errar, não se eu iria errar.

— Por que não me perguntou nada sobre o fim do meu


relacionamento com Diego?

Logo no início da conversa, eu lhe contei rapidamente sobre


o fim do meu namoro e ele não fez qualquer comentário.

— Porque não vem mais ao caso. Eu estava errado sobre


aquele rapaz.

— Baseado em quê está dizendo isso? — pergunto,


desconfiada.

— Tommaso me contou que ele a traía.

Abro e fecho a boca várias vezes, sem conseguir dizer uma


palavra, a humilhação se espalhando quente pelo meu sangue.

— Como ele descobriu? Eu não disse nada — falo.

— Deve ter procurado, se bem conheço meu garoto. De

qualquer modo, eu errei em meu julgamento sobre seu ex-


namorado. Nossa conversa terminou, Beatrice. Pense no que lhe
falei. Um ano se comportando bem e terá a liberdade de usar parte
da sua herança como bem entender.

— Essa pessoa que será meu tutor… já tem alguém em


mente?

— Já sim, mas não lhe darei nomes antes que você se

decida.

Sei que não adianta insistir, então mudo de assunto.

— Eu não vou voltar para a Itália hoje, provavelmente só


chegarei depois de amanhã.

— Por que não?

— Além do vexame na boate ontem, não fiz nada memorável


em Nova Iorque. Não quero sair daqui com uma lembrança ruim.

Preciso ter algo de bom para guardar.

— Como fazia quando era criança?

Sinto meus olhos se encherem de lágrimas, então paro de


encará-lo e aceno com a cabeça concordando.

— Como faço até hoje.

Logo que cheguei para morar com ele, eu era muito apática.

Não sorria e nem demonstrava emoção sobre nada. Um dia ele


conversou comigo e me perguntou se eu não estava feliz ao seu
lado. Eu respondi que sim, muito, mas que tinha muitas coisas ruins
de que eu me lembrava da época em que morei com meus pais.

Ele então conseguiu uma solução: me deu duas caixas de


madeira. Em uma, eu deveria guardar as lembranças ruins, na
outra, as boas que fôssemos criando. Me prometeu que chegaria o

momento em que a de lembranças boas teria mais de o dobro de


tamanho das ruins.

Assim, tenho por hábito colecionar momentos.

Um banho de chuva. A primeira vez em que fui à Disney.

Quando ele me levou para esquiar na Suíça.

E a mais inconfessável de todas: aquela madrugada com


Tommaso.

— Vá lá pegar sua lembrança boa de Nova Iorque. Coloque

sua cabeça no lugar e depois, volte para casa. Tommaso me disse


que irá trazê-la.

— Não sei de nada disso. Não conversamos ainda.

— Eu prefiro que o que quer que vá fazer em Nova Iorque

hoje, seja com ele.

— Por quê?
— A imprensa pode ser cruel. Com Tommaso ao seu lado,

ninguém a importunará.

— Ele não é minha babá. Tenho certeza de que tem coisas

mais interessantes para fazer aqui na cidade.

Meu avô não perguntou como cheguei na casa de Tommaso,


então presumo que eles já conversaram.

— Convide-o para esse dia de lembrança que quer guardar.

Talvez se surpreenda com um sim. De qualquer modo, volte com ele

para a Itália. Ficarei mais tranquilo por saber que ninguém a


importunará até chegar em casa.

Estou cansada dessa conversa. Cansada de ter minha

responsabilidade posta em dúvida, então só aceno com a cabeça,

concordando.

— Assim que chegar em Florença, venha direto me ver para

acertarmos os termos do acordo de tutela.

— Eu não disse ainda que concordava.

— Não tem escolha, Beatrice. Não permitirei que destrua sua

vida.
Tommaso

— Pensei que não fosse mais sair do quarto — falo, quando


a encontro no corredor do segundo andar.

Primeiro achei que estava conversando com Mattia durante


todo esse tempo, mas ela demorou tanto que passei a considerar a

possibilidade de estar passando mal por causa da ressaca.

— Estava falando com meu avô em uma chamada de vídeo.

Aceno com a cabeça, nem um pouco interessado na

conversa dela com Mattia porque posso adivinhar mais ou menos do


que se tratou. Provavelmente uma continuação do que ele falou

comigo mais cedo, agregando algumas ameaças no pacote.

O que prende minha atenção mesmo no momento é como a

perfeição do corpo pequeno e curvilíneo de Beatrice não consegue


ser disfarçado nem com uma camiseta vários números maiores que

o dela.

Limpo minha garganta, tentando manter a mente livre do

tesão que ela me desperta. Se eu aceitar o que Mattia me pediu,


não posso ver Beatrice como a mulher que quero deixar nua e

provar cada pedaço do corpo, mas como a neta de um amigo. A

garota pela qual serei responsável.

— E como foi?

Ela faz uma careta involuntária.

— Ele quer que eu aceite ter um tutor. Dá para acreditar

nisso?

Pela maneira não agressiva com que ela me confidencia

aquilo eu entendo rapidamente que não faz ideia de que foi a mim a
quem Mattia pediu. Decido que não há porquê lhe revelar a verdade

nesse instante, afinal de contas, eu nem aceitei ainda.

— Ele deve ter suas razões.

— A bebedeira de ontem é a maior razão, não resta qualquer

dúvida.

Ela brinca com a ponta do dedão do pé, cuja unha está

pintada de um vermelho vivo, no piso de madeira. Não me encara e


me pergunto se está envergonhada por se encontrar com tão pouca
roupa perto de mim ou pela noite alucinante da qual foi protagonista

ontem.

Eu pretendo descobrir o que aconteceu para levá-la a agir

daquele jeito. Se não foi o fim do namoro com o merda do Diego, o

que pode ter sido?

— Vovô disse que você vai me dar uma carona para casa em
seu avião. — Um canto de sua boca se ergue. — Se é que podemos

chamar de carona.

— Sim, eu vou te levar.

— Nem me perguntou se eu aceito. Simplesmente assumiu

que irei. Você consegue ser, sem medo de errar, o homem mais
arrogante que já conheci, Tommaso.

— Eu me esforço para isso, obrigado.

Ela segura uma risada, mas não rápido o suficiente para que

eu não perceba.

— Obrigada pela roupa, mas agora acho que devo ir.

— Não antes de conversarmos. Vou te levar para almoçar.

Ela finalmente me olha.


— Agradecida, mas não consigo pensar em comer agora.

Estou um pouco enjoada, mas se quiser trocar por um jantar…

— Acho que já tivemos essa conversa antes e você me disse

não.

— É diferente. Além do fato de que você disse que


precisamos conversar, o que eu concordo, porque tenho que lhe

agradecer apropriadamente por conseguir conter o escândalo do


qual fui protagonista, há um lugar específico que eu gostaria de

conhecer para guardar na minha caixinha de lembranças.

— Caixinha de lembranças?

— Eu coleciono boas memórias. — diz e as bochechas


coram.

Ah, Beatrice, por que você não para de me surpreender? Por


que é tão mais difícil lidar com você do que com qualquer outra

mulher que já conheci?

Obrigo-me a fugir do desejo de pegá-la no colo, de sentir seu


cheiro, de ter aquelas coxas macias em volta da minha cintura,

como naquela noite em que nós…

Jesus!
— Onde seria esse lugar? — pergunto, tentando me prender

a um assunto neutro.

— The River Cafe. Sabe onde fica?

— Sim, já estive lá algumas vezes. É um restaurante bem


romântico para quem gosta do gênero.

A vermelhidão agora se espalha por seu pescoço também.

Eu não tive a intenção de constrangê-la. O que disse é um

fato. O River Cafe tem uma vista fantástica e geralmente é


frequentado por casais.

— Hum… não pensei sobre isso — diz, rápido, parecendo


muito embaraçada. — Podemos fazer assim, então: eu desço com

você para tomar um café enquanto conversamos e amanhã


voltamos juntos para a Itália. Que tal?

— Desistindo assim tão fácil de colecionar suas lembranças?

— Não. Na verdade, eu pretendo ir sozinha ao restaurante.

— De jeito nenhum. Você me deve um jantar.

Ela cruza os braços em frente aos peitos e me encara


desconfiada.

— Esse convite para jantar não significa que vou dormir com
você. Continuo firme na promessa que fiz ao meu avô.
— De se casar virgem?

— Isso mesmo.

— Eu vou te levar para jantar, Beatrice. Só isso. Quanto ao

meu outro apetite, não gosto de plateia.

Ela bufa e nem eu mesmo sei por que estou provocando-a

assim, mas acho que é porque discutir com Beatrice é quase uma
preliminar sexual. Eu fico imaginando toda essa paixão na cama.

— Eu não estava insinuando que nós dois… huh… faríamos


algo em público.

— Bom, isso esclarecido, a que horas devo te pegar?

— Você me diz. — Ela sorri de rosto inteiro, agora. — Mal


posso acreditar que vou conhecer esse restaurante.

— Oito? — pergunto, sem me prender ao seu entusiasmo. A


garota grita “vida” por todos os poros.

— Está ótimo. Vou passar no quarto de Hazel para ver se


está tudo bem. — Para, como se estivesse criando coragem para

perguntar algo. — Minha roupa secou?

É minha vez de desviar os olhos.

Eu sou a porra de um santo — um meio tarado — porque


fiquei a um passo de sentir o cheiro de sua lingerie quando coloquei
o vestido e a calcinha para lavar.

— Tommaso?

— Sim, acredito que sim. Vou buscar e deixo em cima de sua

cama.

Saio sem lhe dar tempo para argumentar.

Beatrice é transparente para mim e percebi que os

pensamentos dela estavam correndo paralelos aos meus.

Se eu aceitar ser seu tutor, vou ter que aprende a exercitar o


autocontrole.

Ou melhor, nós precisaremos, porque eu não tenho dúvidas

de que assim que um dos dois der o primeiro passo, será um


caminho sem volta. Não pararemos enquanto não estivermos nus,

em uma foda dura e suada.


Beatrice

— Meu Deus do céu, você vai jantar com aquela delícia mal-
humorada? No fim das contas valeu muito a pena ter seu nome nas

manchetes, hein?

Eu cheguei no hotel há cerca de meia hora.

Fiz a caminhada da vergonha[30], com o vestido vermelho de

seda que claramente é roupa de sair à noite e ainda mais


autoexplicativo foi o fato de que Tommaso quis me acompanhar até

a porta do quarto.

Nós entramos pelos fundos do hotel para tentar driblar

eventuais paparazzi que estivessem me esperando.

Depois que ele partiu, eu me troquei e vim direto para cá.

Não somente para me despedir, mas também porque estou

curiosa para descobrir o que aconteceu durante a noite inteira, já


que há partes que eu não me lembro de jeito algum. Além disso,

quero ver se ela precisa de ajuda para fazer as malas.

— Jesus, Hazel, você não tem filtro mental?

Ela gargalha.

— Não. Ou se tenho, veio com defeito. Agora falando sério, o

cara tem jeito de malvado, mas é lindo demais. Não me espanta

você dizer que é o dono de suas fantasias sexuais. Pode ser


inclusive que se torne das minhas, também.

— Opa, não compartilho.

— Pensei que tudo não passasse de fantasias.

Fico em silêncio por tempo demais, eu acho, porque ela me

olha como se soubesse que não contei tudo.

— Manda.

— Não tenho coragem.

— Não seja boba. Somos amigas. Precisamos de gráficos

sexuais comparativos para o futuro.

— Dizer que o que houve foi sexual seria um exagero.

Conto rapidamente a ela o que aconteceu naquela

madrugada, mas sem dar detalhes. Quando termino, ela me olha

com pena.
— Não diga nada — peço.

— Não sabe o que estou pensando.

Suspiro.

— Tudo bem, diga.

— Esse lance de relacionamentos com pessoas próximas à


família nunca dão certo se forem casuais. Quero dizer, você me

falou que Tommaso é amigo do seu avô e que além de tudo, sabe

que você prometeu se casar virgem. A não ser que vocês acabem

juntos no altar, apesar de todo esse charme sensual que ele joga

em cima de você, acho bem difícil que desse mato saia coelho.

— Eu sei. E considerando que a possibilidade de que eu me

case um dia é bem remota, vou morrer virgem.

Ela me olha e morde o lábio inferior, como se tivesse que se

controlar para não me dizer algo.

— Meu Deus, você disfarça muito mal.

— Sabe o que é? Não consigo engolir essa história de se


casar virgem. Onde você estava com a cabeça quando prometeu

algo assim, Beatrice? Cara, você está solteira, sozinha em Nova

Iorque com aquele homem lindo…

— Eu não estou com ele.


— Como não? Não me disse que ele mandou que fechasse a

conta aqui no hotel para se hospedar na casa dele?

— Por uma questão de praticidade. Amanhã voaremos juntos

de volta para Florença.

— Praticidade uma ova! O cara se sente atraído por você,


isso é óbvio. Tinha que ver como ele ficou ontem quando a

encontrou bêbada. A expressão era um misto de ciúme com desejo.

— De onde você tira essas análises? Pelo que me contou, é

tão inexperiente quanto eu.

— Sou uma espiã. Eu me infiltrei em chats de mulheres mais

velhas com vida sexual ativa e me tornei quase uma expert teórica.
Sei tudo sobre o jogo de sedução.

— Meu Deus, graças aos céus você voltará para a Austrália


no avião do seu irmão. Estou começando a ficar preocupada com

sua saúde mental.

— A vida é muito curta, Beatrice. Sei que ao te pedir esse


voto de castidade até o casamento, seu avô tinha boas intenções,

mas isso não é justo. Você tem o homem que deseja ao alcance do
braço. Por que não aproveitar?
— Amor, deixa eu te situar no contexto, antes que sua mente

comece a viajar demais em teorias românticas. Tommaso é um dos


solteiros mais cobiçados da Itália. Tem mulheres caindo do céu e

implorando pela atenção dele. Basta um telefonema para que tenha


uma top model na cama em um piscar de olhos.

— Não duvido. Além de lindo e gostoso, ele tem toda aquela


aura de poder. É óbvio que deve ter um monte de mulher

desejando-o, mas então por que foi atrás de você na Hazard ao


invés de sair com uma delas? Porque até chegar lá, ele não tinha
ideia do quanto você estava bêbada. Foi à sua procura, já que

segundo me disse, avisara-o de que estaria lá.

Um arrepio de prazer me atravessa ao pensar naquilo.

Será?

— Acha que devo fazer um teste para ter certeza se ele está

a fim de mim?

— Olha, vou te falar o que sei sobre homens baseando-me

no que conheço do meu irmão. Ele é mais velho, rico e lindo


também, assim como o seu Tommaso: Cooper não vai atrás de uma

mulher, a menos que a queira muito. Homens da idade deles não


ficam de joguinhos, sua boba.
— Tudo bem. Mesmo que seja verdade, o que de bom pode
sair disso? Você mesma falou que ele não vai fazer nada comigo
por saber do acordo com meu avô de me casar virgem.

— Epa, eu disse que acho que ele não a levará para a cama
por causa do tal acordo, mas isso não significa que não possam dar

uns belos amassos. Tem muita coisa que se pode fazer e continuar
virgem.

— Você é uma safada, Hazel! — falo, rindo.

— Eu me chamaria de prática.

— Não sei. Ele é tão… tudo, sabe? E não nos esqueçamos


de que já me rejeitou uma vez.

— Vou ter que bancar o advogado do diabo aqui. Ele fez o


que qualquer homem decente faria. Se transasse com você no
porão de seu avô quando ainda era praticamente uma adolescente,

tenho certeza de que Tommaso se sentiria um canalha.

— É, eu sei. Pensei muito sobre isso ao longo dos anos e

cheguei à conclusão de que a rejeição não foi falta de desejo, foi


respeito a Mattia.

— Não perca essa chance, Beatrice. Fique linda para o jantar


de hoje e divirta-se com seu italiano gostoso. Disse-me que não
viveu nada. Quer guardar como única recordação o tempo que
passou com Diego?

— Não.

— Então aproveite, garota. Ah, e memorize tudo! Quero


detalhes picantes assim que eu chegar na Austrália.
Tommaso

“Eu não vou conseguir chegar a tempo. Divirta-se no jantar. Meu


motorista irá apanhá-la como combinado e depois a levará de volta

para minha casa.”

Após digitar a mensagem hoje mais cedo, eu me senti um

filho da puta, mas não havia nada que eu pudesse fazer.

Meu irmão Gaetano sofreu um acidente leve em Indiana[31],

em um dos treinos de fórmula um e tive que verificá-lo.

Ele me disse ao telefone que não era nada grave, mas minha

mãe me telefonou e pediu que o conferisse pessoalmente.

Embora eu quisesse muito ir com Beatrice, no estado de

saúde atual de minha mãe, não posso lhe negar nada.


Sua resposta, um singelo “tudo bem” me fez sentir pior do

que se tivesse dito algo do tipo “você prometeu”.

Já passa da meia-noite quando finalmente volto para casa.

Sei que os empregados estão dormindo, assim como também sei


que Beatrice já voltou de seu jantar solitário, então, estranho ao ver

uma movimentação na piscina.

Caminho até o pátio coberto, que tem uma claraboia gerando

iluminação natural, então não me preocupo em acender as luzes.

Não estou preparado, no entanto, para a visão à minha

frente.

Beatrice nada na piscina aquecida, o corpo banhado pelo luar

que entra pelo teto.

De todos os ângulos que vejo, é errado estar espreitando-a,


tanto porque é muita tentação encontrá-la em plena madrugada,

seminua, se deliciando na água morna como uma sereia em seu

habitat natural, como porque tenho certeza de que, depois de ter

desmarcado nosso jantar, não sou uma de suas dez pessoas

favoritas no mundo.

Eu sei que foi tudo bem no restaurante porque os guarda-

costas me avisaram que nenhum paparazzi descobriu que ela


estava lá, mas ainda assim, falhei em minha promessa.

Eu sei que deveria ir embora, entretanto, não consigo me

mover.

Enquanto se movimenta na água, as braçadas suaves

deslizando quase como se ela pertencesse àquele elemento, eu me

recosto em uma das colunas, completamente hipnotizado.

Sua pele é branca como leite puro e o contraste com o cabelo

vermelho e longo a transforma nesse momento para mim em uma

espécie de ser mítico.

Vai e volta, atravessando a piscina diversas vezes, como se

sua energia fosse inesgotável e o desejo de me juntar a ela é quase

impossível de controlar.

Minha sereia particular ainda não se dá conta de que não

está sozinha e me sentindo um voyeur, me obrigo a agir.

Tiro o blazer do terno e solto a gravata, caminhando até onde

está.

Somente quando chego à beira da piscina, ela me vê.

— Tommaso?

Ela fica de pé na parte mais rasa, e tudo que cobre a parte

superior de seu corpo são dois pequenos triângulos cor de pele que
a fazem parecer nua.

— Perdeu o sono?

— Eu nem tentei dormir, para dizer a verdade. Estava me

sentindo muito agitada. Achei que não se importaria se eu nadasse.

— Como foi no restaurante?

Preciso de somente alguns segundos para entender que foi a


pergunta errada a ser feita.

Seu rosto se fecha e ela começa a nadar para as escadas.

— Foi tudo bem. — responde quando já está do lado de fora.

Eu pego uma toalha de uma das pilhas que meus


empregados sempre deixam para os hóspedes e vou a seu

encontro.

Quando está de pé à minha frente, engulo em seco.

— Obrigada — diz, tirando-a da minha mão e começando a


secar o cabelo, me provocando inconscientemente com seu corpo

molhado. — Achei que não voltaria hoje.

— Eu só precisava conferir se estava tudo bem com meu


irmão. Gaetano sofreu um acidente.

— Oh! Então foi por isso? Ele está bem?


Suas bochechas ficam vermelhas, ao mesmo tempo em que

a expressão desanuvia.

— Sim. Não volto atrás com minha palavra, Beatrice. Tinha

dito que a levaria para jantar e lamento não ter ido.

— Não tem importância — ela responde um pouco rápido

demais e tenta passar por mim.

Não permito.

Ainda que eu saiba que é errado, seguro seu braço,


impedindo-a de ir. Não estou pronto para me despedir.

Ela olha para a região em que a estou tocando, mas não faz
qualquer movimento para se soltar. Quando volta a focar em mim,

os incríveis olhos verdes, límpidos normalmente, estão


tempestuosos.

Eu sei que ainda tenho tempo de recuar. Eu sei que eu

deveria recuar, mas ao invés disso, eu a puxo para mim.

Ela solta a toalha e sua respiração fica instável. As mãos

pequeninas vêm para o meu peito, não afastando, mas agarrando-


se na camisa como se precisasse de apoio.

— Eu deveria te deixar subir.

— Mas não vai?


— Não antes de provar essa boca mais uma vez.

Até o último segundo antes do beijo, uma pontada de culpa

ainda me alcança, mas no instante em que minha língua encosta na


boca úmida e ela solta um gemido de prazer, o jogo está perdido.

A maciez dos lábios dela, a maneira como se entrega,

abrindo-se para que eu tome o que quiser, os dedos agarrando-se a


mim, puxando-me para mais, como se desejasse se fundir, tudo isso
alimenta a chama de desejo reprimido.

A luxúria me inunda como o início de uma tempestade.


Incontrolável em sua força. Selvagem. Assustadora.

Corro as mãos na pele de seda de suas costas, mas não é o


suficiente, então eu a pego no colo.

— Feche as pernas na minha cintura. Preciso sentir você —


murmuro dentro de sua boca.

Ela hesita somente poucos segundos, se afastando para me


olhar, antes de fazer o que eu mandei.

Minhas mãos a agarram pela bunda e desço o sexo mal


coberto pela minúscula calcinha do biquíni, para que sinta a rigidez

da minha extensão.

Ela joga a cabeça para trás, gemendo alto, me enfeitiçando.


— Não podemos… — diz.

— Sei que não. Só quero te beijar.

— Eu não quero só te beijar. Quero suas mãos em mim. Eu

sempre quis suas mãos em mim.

— O que você deseja, Beatrice?

— Quero que termine o que começou no passado. Me dê

meu primeiro orgasmo.


Beatrice

Nem eu sei como tive coragem de dizer algo assim.

Na verdade, passei a noite inteira muito chateada com ele por


ter desmarcado o jantar. Não fazia a menor ideia de que havia sido
por causa do irmão.

No instante em que Tommaso me tocou, no entanto, eu me

esqueci de todo o resto: da promessa que fiz ao meu avô e


principalmente, do quanto pode ser perigoso para o meu coração

me envolver com um homem que foi minha paixão da adolescência.

Tudo o que sei é que preciso de mais do que me deu até

agora: seus beijos, suas mãos me tocando, a rigidez do corpo


contra o meu.

Estou trêmula, ansiosa. O coração descompassado e


completamente mergulhada em desejo, então a princípio, não
entendo nada quando ele não só para de me beijar, como me coloca

de volta em meus próprios pés.

Quando estou no chão novamente, ele se reclina colando

nossas testas.

— Eu não posso.

— O quê?

Começo a me sentir enjoada, sem querer acreditar que estou

sendo rejeitada pela segunda vez por ele.

Humilhação se espalha pelo meu peito e tento me soltar.

— Não posso te fazer gozar antes de dizer a verdade.

— Solte-me.

Ele deixa os braços caírem e dou um passo para trás.

— De que verdade está falando?

Sua roupa está amassada e toda molhada do meu corpo,

mas continua lindo como sempre. Entretanto, não há mais em seu


rosto a expressão provocadora com a qual me acostumei.

— Mattia me pediu para ser seu tutor. Eu não podia te fazer


gozar antes que soubesse disso. Iria me sentir como se tivesse

tirando proveito da situação.

Afasto-me ainda mais, horrorizada.


— Foi por isso que me trouxe para sua casa?

— Não. Claro que não.

— Eu não acredito em você! — grito, frustrada e morrendo de

vergonha.

Meu Deus, como pude ser tão burra?

Pego a toalha do chão, cobrindo-me, precisando da barreira

protetora do tecido grosso porque nesse instante me sinto

completamente exposta.

— Nunca menti — ele diz.

— Não importa. Fazendo uso de suas palavras naquela

madrugada no porão do meu avô: o que acaba de acontecer foi um

erro.

Eu saio correndo sem olhar para trás e só paro quando entro

no quarto e tranco a porta.

Lá dentro, me jogo na cama.

Senhor, como fui estúpida!

Acreditei que estávamos em um jogo de iguais pela primeira

vez quando, na verdade, tudo o que ele estava fazendo era cuidar

de mim para o meu avô.


Eu sei que Tommaso sentiu desejo. Seu corpo não tinha

como negar aquilo, mas isso não tem qualquer importância se


comparado à razão pela qual estou na casa dele: sou uma

obrigação.

Fico deitada de costas, olhando para o teto nem sei por

quanto tempo. Quando finalmente crio coragem de me levantar,


tomo uma chuveirada e depois de me acomodar no lado da cama
que não molhei, tento dormir.

Eu só quero esquecer essa noite e minha humilhação.

No avião, na volta para a Itália

— Diga a meu avô que não pode fazer isso, Tommaso.

— Isso o quê? — pergunta, depois de desviar os olhos do

notebook.

É a primeira vez que falo com ele desde ontem.


Sim, eu sei que não foi muito maduro da minha parte ignorá-

lo até agora. Principalmente porque estava na casa dele como


hóspede, mas não tenho sangue de barata e estava muito

chateada.

Ainda estou.

— Não quero que seja você o meu tutor.

Ele fecha o computador.

— Por que não?

— Não é óbvio? Nenhum dos dois quer isso. Se você fizer,

vai ser para não ter que dizer não a Mattia. Eu sei que meu avô
pode ser persuasivo, então estou te pedindo para simplesmente

recusar.

— Não.

— Não o quê?

— Eu não vou recusar o pedido do seu avô. Tomei a decisão


ontem à noite. Ele está preocupado com seu comportamento e acho

que sou a pessoa mais adequada para vigiá-la.

— Eu discordo. Nunca vai dar certo. Nós brigamos o tempo

todo além de…

— Além do quê?
— Nada. Não importa.

Jesus, eu me parei bem a tempo. Eu ia dizer: além de termos

toda essa tensão sexual entre nós.

Agora, imagina se eu falo uma merda dessas e ele diz que


não sente nada por mim e que só seguiu um impulso de momento

ao ver uma mulher seminua nadando em sua piscina?

Fecho os olhos por um instante, desejando ter o poder de

apagar a noite de ontem da memória.

— Não vai acontecer. — Ouço-o dizer.

— O quê?

— Não vai conseguir apagar a noite de ontem de sua


memória — diz e só então percebo que falei em voz alta —, assim

como não vai esquecer de como quase te fiz gozar no porão do seu
avô. O mesmo se passa comigo. Não há maneira de destruir a

lembrança do quanto você é apertada e quente por dentro.

— Não pode me dizer essas coisas se vai ser meu tutor.

— Errado. Eu não posso tirar sua virgindade porque quer se


casar assim, mas nada me impede de externalizar meus desejos.

— Que seria o que, me torturar?


— Não, bella. Criar memórias. Vamos passar o próximo ano
juntos. Eu não vou ser um para sempre em sua vida, mas o que
vivermos, sim.

— Não há essa história de “o que vivermos”. Você será


apenas um supervisor de conduta em minha vida. Para ver se vou

andar na linha.

O miserável joga a cabeça para trás e ri.

— Não, Beatrice. Está enganada. Eu estarei presente como

um maldito perseguidor durante um ano inteiro. Quando nosso

tempo juntos acabar, seremos muito mais próximos do que a


maioria dos casais.

Aquilo deveria me irritar, assustar ou quem sabe os dois

juntos, mas ao invés disso, me deixa excitada.

É, eu devo ser muito mais louca do que imaginara.

Talvez Mattia tenha razão. No fim de tudo, eu realmente

preciso de supervisão.
Tommaso

Florença — Itália

Enquanto o meu motorista dirige até a mansão Jilani,


Beatrice nem disfarça que está com muita raiva e sei que é dirigida
toda a mim.

Fui impulsivo para cacete quando disse no avião que

aceitaria me tornar seu tutor e tenho dado a desculpa para mim


mesmo de que não posso falhar a um pedido do meu amigo, mas

isso é pura besteira. Na verdade, após esse par de dias juntos em


Nova Iorque, ainda não estou pronto para me afastar dela.

Até essa viagem, eu acho que mesmo com a atração física


que ela me desperta, eu a encarava como uma garotinha. Alguém
superprotegida e doce como um cordeiro que vivia uma existência

unicamente para agradar ao avô.

Ela é muito mais complexa.

Apesar de sim, de uma certa forma ter sido criada dentro de

uma bolha por Mattia, pode ser forte e ousada se lhe derem espaço
para um voo solo.

Inteligente, irônica e com uma língua afiada, Beatrice


consegue uma proeza que nenhuma até agora realizou: além de me

despertar um tesão absurdo, me faz rir.

— Eu deveria falar com meu avô sozinha — ela finalmente se

digna a conversar comigo, mas ainda voltada para a janela do

automóvel, como se a paisagem lá fora fosse a coisa mais


interessante do mundo.

— Não. Prefiro uma reunião a três para que eu possa

esclarecer meus termos.

Ela gira no banco e parece irritada.

— Seus termos?

— Sim, meus termos. Acha que assumirei a responsabilidade

sobre seu comportamento por um ano sem impor algumas regras?


— Tem ideia de como isso é ridículo? Faço vinte e um em
poucas semanas.

— Mesmo? — Finjo que não sabia. — Então é bom que fique


claro desde já que danças em gaiolas estão fora do cardápio em

sua comemoração.

Vejo-a apertar os punhos para conter a ira, como a dama

bem comportada que foi treinada para ser, mas não é isso que eu
quero. Ela pode guardar aquele tipo de merda para idiotas como

Diego. Quero a verdadeira Beatrice, então continuo.

— E vamos aproveitar para fazer um detox de álcool,

também. Vou liberar uma única taça de vinho ou champanhe para a

comemoração de seus vinte e um anos e só.

Estou esperando uma explosão e ela não decepciona.

— É detestável, Tommaso! Agora eu entendo porque você e


Mattia se dão tão bem! Dois tiranos se reconhecem!

— Não preciso me preocupar com seu julgamento, mas o

contrário não é verdadeiro. Meus relatórios mensais ao seu avô

determinarão seu futuro, a não ser que esteja disposta a abrir mão
do adiantamento de sua herança.

— O que sabe sobre isso?


— Muito.

Nada.

Antes que ela possa contra-argumentar, meu celular toca.

— Com licença — peço. — Mãe? Está tudo bem?

— Está sim. Eu só queria vê-lo, meu filho.

— Precisa de algo? — pergunto, estranhando o pedido.

Por conta do relacionamento dela com Dino, eu e minha mãe

nos afastamos emocionalmente por anos e somente um pouco


antes dela adoecer, mesmo quando ainda estava com o canalha, eu
lhe dei abertura para que pudéssemos retornar de onde paramos,

quando eu ainda era um adolescente e fui morar com meu avô, o


pai dela.

A obsessão de mamma por Dino era tanta que às vezes eu


tinha a sensação de que ela se esquecia de nós em nome daquele

amor doentio.

Tanto eu quanto meus irmãos nos ressentimos disso.

Crescemos em uma casa em que não tínhamos um pai, a


não ser em poucos momentos roubados em que ele se dignava a

agir como um chefe de família, embora aquilo não passasse de puro


fingimento.
Por outro lado, tínhamos ela, Greta, nossa mãe, tão doente

emocionalmente como seu corpo está agora. Não tinha uma


existência, a não ser orbitar em torno de Dino.

Perdi a conta de quantas vezes ela desmarcava programas


em família comigo e meus irmãos porque ele telefonava avisando

que “daria uma passada lá”. Raramente cumpria sua palavra, claro,
porque tinha mulher e filhos em casa para dar atenção, mas bastava

que ele incutisse um pedacinho de esperança no coração de Greta,


para que ela se esquecesse do mundo ao redor.

Irremediavelmente, essas promessas mentirosas acabavam

com ela sentada na varanda da nossa casa, esperando-o chegar,


mesmo sabendo que ele não viria.

— Não preciso de nada. É só saudade, mesmo. Se não


puder vir, não tem problema. Eu não queria atrapalhar.

— Não, espera. Só vou deixar Beatrice na casa de Mattia e já


sigo para aí.

— Beatrice? A ruiva bonita?

Mattia e minha mãe não são muito próximos, eu não sei


porquê. Assim, ela nunca viu Beatrice pessoalmente, apesar de

saber de sua existência.


— Sim, a ruiva bonita.

— O que está fazendo com ela?

— É uma longa história.

— Traga-a também.

— O quê?

— Traga a menina para me ver. Se é sua amiga, quero

conhecê-la.

Talvez ela esteja pedindo aquilo porque nunca levei uma


mulher em casa e esteja curiosa.

— Nós dois não somos… — Começo, tentando esclarecer.

— Não são o quê, namorados?

— Isso.

— Não tem problema. Traga-a assim mesmo. Vou mandar

preparar a mesa para um lanche.

Eu não estou com fome alguma, mas minha mãe, como boa

italiana, acha que todas as conversas que valem a pena, são feitas
em torno de uma mesa.

— Certo. Vejo-a em alguns minutos.


— Aconteceu alguma coisa? — Beatrice pergunta quando eu
desligo.

Pelo seu tom, sei que Mattia deve ter dito que minha mãe
está com câncer. Não são muitas pessoas da região que sabem.
Mesmo que tenha se submetido aos desmandos de Dino, Greta é

orgulhosa e não quer que sintam pena dela.

— Acho que não. Ela só quer me ver. E também… hum…


pediu que te convidasse para um lanche.

Vejo seu rosto adquirir um tom rosado, mas ela se recupera

rápido.

— Estamos mais perto da casa de Greta do que da do meu


avô, então faz todo sentindo seguirmos para lá — diz, fingindo

indiferença, o que sei que é uma mentira. Eu já estou começando a

conhecê-la melhor e percebi a curiosidade por trás da fachada de


indiferença. — Isso é, se realmente você tem a intenção de ir para a

casa de Mattia depois, para conversarmos.

Eu a encaro em silêncio, pensando que as partes da minha

vida estão se misturando como se alguém estivesse jogando


comigo. Por fim, me decido.
— Sim, faz mais sentido seguirmos para a casa de Greta

primeiro.
Beatrice

Eu sempre tive curiosidade de conhecer Greta Andresano


pessoalmente.

Não por dar ouvidos às fofocas, cresci sentindo na pele o


quanto as pessoas podem ser maldosas. Não cabe a mim ou a

qualquer um julgar as escolhas alheias.

Os Andresano, no entanto, não são uma família típica. Talvez


por conta do relacionamento de Greta com o pai deles, acabaram se

fechando, pouco comparecendo a eventos sociais.

A propriedade de Greta mais parece uma fortaleza, quase tão

grande quanto a de Mattia e cercada de árvores e guarda-costas.


Acho que não somente porque são muito ricos, mas também para

afastar intrusos que quisessem incomodá-los com seus

julgamentos.
Paparazzi, principalmente.

Donatella desabafou uma vez que eram raras as vezes que a

mãe saía à rua e não ouvia algum tipo de piada pelo fato de ser a

amante de Dino Moretti.

Greta é uma espécie de lenda urbana para mim, quase como


uma celebridade às avessas e por ser mãe de Tommaso, quero

muito conhecê-la.

Quando o carro para em frente à mansão histórica, eu

continuo sentada, esperando que ele venha abrir a minha porta. Sei

que não permitirá que o motorista o faça. Tommaso pode ter vários
defeitos, mas a educação é primorosa.

— Não vamos demorar — diz, quando fico em pé à sua


frente.

— Tudo bem. Mandei uma mensagem de texto para Mattia,

avisando que estamos aqui.

Surpreendendo-me, ele pega minha mão e segue para a

entrada da casa.

Há uma governanta nos esperando na porta e eu a

cumprimento quando Tommaso nos apresenta.


A primeira coisa que noto é a escuridão. Apesar do dia
ensolarado do lado de fora, dentro, as cortinas estão fechadas e as

lâmpadas dos abajures acesas, dando ao ambiente um ar sombrio.

O piso, de tábuas de madeira pesada, é recoberto quase que

totalmente por tapetes persas, me fazendo lembrar muito mais um

museu do que um lar.

A casa é impecável do ponto de vista de decoração, mas


também triste, como se qualquer alma humana já não vivesse ali há

tempos.

As poltronas e sofás, de tecido grosso, acompanhando o

mesmo padrão das cortinas, como é comum nas mansões

centenárias da região, estão um pouco desbotadas.

Apesar de algumas flores frescas em vasos espalhados em

pontos estratégicos, andar pela residência de Greta Andresano é

como observar um quadro de natureza-morta.

— A sua mãe está esperando-o na sala de estar, senhor

Andresano — a mulher diz formalmente.

Tommaso ainda não soltou minha mão e enquanto anda


comigo, acho que com destino à sala em que a mãe nos aguarda,

minha intuição diz que ele não tem boas lembranças daquela casa.
Eu não a vejo imediatamente assim que entro, somente sua

cabeça, já que está sentada de costas, em uma poltrona em frente a


uma lareira alta em que há um único porta-retrato de uma mulher,

que suponho que seja ela, com cinco crianças.

Deus, como é possível sentir a dor de alguém sem nem

mesmo tê-la visto ainda?

Não estou falando da física, em decorrência do câncer, mas


da dor do coração.

A casa toda exala tristeza por todos os cômodos.

Ela não se volta enquanto andamos em sua direção, embora

eu tenha certeza de que ouve nossa aproximação.

— Mamma? — Tommaso chama quando paramos atrás de


sua poltrona e ela enfim se vira.

Observo quando as mãos magras se apoiam nos braços da

poltrona para se erguer.

Eu já vi Greta em fotos porque é comum na região que os

jornais locais publiquem notas para aniversários, casamentos,


coisas assim, mas nenhuma imagem impressa foi capaz de fazer jus
à beleza da mulher.
como o filho mais velho, seus cabelos são negros. Os olhos

azuis, profundos e investigativos, prendem a atenção do observador


imediatamente. Mesmo com a saúde claramente fragilizada,

ninguém precisa dizer que a mulher tem tanta energia quanto uma
usina nuclear. Greta brilha mesmo em silêncio.

Não consigo evitar pensar em como alguém com aquela


beleza, e se minha intuição estiver certa, personalidade explosiva,

pode se submeter a um canalha como Dino Moretti. Se amor for a


resposta, então esse é o sentimento mais perigoso e assustador do
mundo.

— Tommaso, você chegou…

Apesar da contenção inicial enquanto me observa, seu rosto

se suaviza em um sorriso quando olha o filho.

Ela vem até onde estamos e o abraça. Tommaso me solta e

de forma hesitante, envolve os braços musculosos em torno da


figura frágil.

A cena, de algum modo inexplicável, é dolorosa de se ver.


Como se nenhum dos dois ficasse totalmente confortável com

aquilo, mas ao mesmo tempo, desejasse o contato.


— Olá, você deve ser Beatrice, a neta de Mattia. — Ela se
dirige a mim, não mais sorrindo. Não que demonstre antipatia,
parece apenas que não está acostumada a sorrir.

— Sim, senhora — respondo sem jeito e estendo a mão em


cumprimento.

Ela a ignora e me beija a bochecha.

— Seja bem-vinda. Gostariam de tomar um lanche? Eu pedi

que colocassem a mesa.

Eu não estou com fome alguma, mas algo em sua pergunta

tem o poder de atingir meu coração tão profundamente, como um


pedido silencioso, solitário, que me vejo dizendo:

— Eu adoraria. Estou faminta.

Sua expressão relaxa.

— Então vamos comer, meninos.

Uma hora depois, ainda estamos sentados na sala de jantar.


Enquanto converso com Greta, percebo que Tommaso não
tocou no lanche, observando nós duas.

Eventualmente, dá um gole no café e quando desvio os olhos


de sua mãe para encará-lo, pego-o me olhando com a testa
franzida.

— Então ele vai ser seu tutor como nos romances de época?

— Greta pergunta sorrindo, como se a ideia a encantasse e para


meu deleite, vejo o homem poderoso corar.

Ela é muito diferente do que eu pensava.

As pessoas comentam que é amarga e que odiava os Moretti,

à exceção de Dino, claro. Então eu formei um quadro mental de


alguém denso, desagradável de se conviver e talvez ela seja

mesmo para algumas pessoas, mas comigo, depois que comecei a

tagarelar porque quando fico nervosa, falo muito, parece relaxada e


até contente.

— Sim, eu fui uma menina má e agora se não me comportar

direitinho serei castigada — falo para provocá-lo.

— As meninas más não são as melhores? — a mãe dele


pergunta, como se achasse divertido me ajudar a implicar com o

filho.
— São? Eu não saberia dizer, mas tenho um ano inteiro para

testar essa teoria — falo.

A expressão de Tommaso fica carregada.

— E eu, pronto para punir cada mau comportamento.

Várias imagens de “punições” que eu gostaria de


experimentar com ele atravessam minha mente e sinto minhas

bochechas esquentarem.

Greta não parece se dar conta disso e sorri para nós dois.

— Opa, não sabia que tinha visita, mamãe — uma voz diz
atrás de mim.

Quando me viro, vejo Giovanna, a segunda irmã mais nova

de Tommaso desse lado da família, entrando com um bebê fofo no

colo.

— Eu convidei seu irmão de última hora quando soube que já

estava de volta à Itália e ele me trouxe Beatrice junto.

— Oi, Beatrice — ela diz se aproximando quando me levanto

e me dando um beijo na bochecha.

— Oi, Giovanna. Desculpe-me bancar a mal-educada, mas

eu tenho que ir — falo para as duas ao mesmo tempo e vejo

Tommaso seguir em direção à mãe para se despedir.


Brinco com o bebê e ele me dá um lindo sorriso banguela.

Eu me aproximo de Greta e novamente ofereço a mão em

despedida, mas ela me puxa para um abraço.

— Volte outro dia — pede.

O convite simples faz meu coração contrair. Eu vejo muita

solidão por trás dele.

Não sei como funciona a dinâmica na família Andresano, mas

suspeito que reuniões entre eles não sejam muito comuns.


Tommaso parecia ligeiramente desconfortável.

— A qualquer momento — digo. — Basta me convidar.


Tommaso

— Se eu disser algo, promete não levar a mal? — ela


pergunta quando nos aproximamos da propriedade de Mattia.

Eu estava olhando para fora da janela, a cabeça


completamente mergulhada nos eventos de hoje à tarde, embora

muito consciente da mulher ao meu lado.

— Só saberemos se falar, Beatrice.

— Tudo bem. — Ela faz uma pausa e eu me volto para

encará-la. — Sua mãe não era o que eu pensava.

Sinto meu maxilar endurecer.

— Em que sentido?

— Eu a imaginava alguém menos… eu não sei que palavra

usar. Radiante, talvez? Fiquei surpresa ao ver o tanto de energia


que há nela.
— Assim como em você.

— O quê?

— Enquanto conversavam hoje, eu as observei. Ambas

soltam faíscas quando falam.

— Isso é um elogio?

— Uma constatação — respondo, mas quando vejo sua


expressão cair, opto pela verdade. — Sim, foi um elogio. Disse que

imaginava que minha mãe fosse diferente. Aquela é a verdadeira

personalidade de Greta, mas ela sempre a guardou para a família,


assim como você faz.

— O quê?

— São raras as ocasiões em que deixa sua real essência vir


à tona, Beatrice.

— Não estamos falando de mim.

— Foi você quem começou a analisar a personalidade da


minha mãe. Só estou complementando o que disse.

É sua vez de olhar para fora da janela.

— Não tenho muito espaço de manobra para deixar minha

personalidade real emergir. As pessoas nos julgam o tempo todo.


— As pessoas que se fodam. Viva sua vida sem se importar
com o que pensam. Quem gosta de você, continuará gostando, não

importa o que faça. Quem te odeia, idem.

— Não são palavras que eu esperava ouvir do meu futuro

tutor.

— Acha que só porque vou tomar conta para que não se

autodestrua também desejo sufocar quem é realmente? Pode olhar


para mim e dizer que a doida que estava dançando bêbada naquela

gaiola é a verdadeira Beatrice?

Ela morde o lábio inferior.

— Não, mas eu também não sei quem eu sou. Tenho poucas

certezas na vida, para dizer a verdade.

Eu consigo sentir sua tensão, como se estivesse presa em

restrições invisíveis. Sufocando lentamente.

É isso o que Mattia deseja? Matar a personalidade da neta?

Porque se for, serei a pior escolha possível. Gosto do que vejo nela.

Gosto cada vez mais, para ser sincero.

Estudo o rosto lindo e ela me encara de volta.

O que mais aprecio em Beatrice é sua incapacidade de

dissimular. Suas emoções estão sempre à flor da pele.


— Quais são?

— Hein?

— Disse-me que tem poucas certezas na vida. Quais são

elas?

— Nada que eu queira compartilhar.

— Algo a ver com o que aconteceu na minha piscina?

Ela puxa uma respiração profunda e sei que está se

lembrando de quando esteve em meus braços, gemendo e pedindo


para que eu a satisfizesse.

— Na verdade, há sim uma certeza em relação àquilo: a de

que nunca mais acontecerá — diz, balançando a cabeça de um lado


para o outro, como se tentasse afastar a cena de sua mente.

O cabelo longo, da cor de cobre, está preso em uma trança


lateral e sem conter o impulso, enrosco o dedo no fim dela,

experimentando a textura dos fios de seda.

Aproximo-me de sua orelha.

— Não deveria acontecer de novo, mas vai. E dessa vez, eu


não vou parar enquanto você não gozar gritando meu nome.

Ela não me empurra como pensei que faria. Ao contrário,


estremece e ergue aqueles olhos lindos para me encarar.
— Não pode dizer coisas assim. Vai ser meu tutor.

— É apenas um título. Durante um ano, vou cuidar para que


você não se meta em encrenca, Beatrice, mas isso não significa que

não aproveitarei cada segundo.

Alguma coisa muda na atmosfera dentro do automóvel depois

do que eu falo, talvez porque ambos estejamos fantasiando com o


caminho à frente.

Ela é a primeira a quebrar o feitiço, mas antes fecha os olhos,


como se estivesse tentando afastar pensamentos pecaminosos.

Quando torna a abri-los e me encara, sua respiração está


curta, como se obter oxigênio fosse um sacrifício.

O ar entre nós é quente, denso, assim como a atração física


que nos empurra um para o outro. O silêncio se alimenta de tensão,
desejo reprimido de ambos os lados e eu me pergunto como vou

conseguir manter as mãos longe dela por um ano inteiro.

Não pretendo seduzi-la a não ser que desista da promessa


que fez ao avô, então não vejo uma solução para o tesão que nos

consome.

— É mesmo? Já pensou que o feitiço pode virar contra o


feiticeiro?
— Em que sentido? — pergunto.

— Não sei. Pode ser que, por exemplo, eu precise de você

todos os fins de semana e mesmo em algumas noites da semana


durante um ano inteirinho. Consegue se imaginar sem fazer sexo
por tanto tempo?

Ela parece vitoriosa. Há um sorrisinho irônico na boca linda.


O problema é que Beatrice acha que sabe jogar, mas perto de mim,
é um bebê ainda.

— O contrário também é verdadeiro. Pode ser que eu queira


vê-la todos os dias.

— E o que tem isso de mais?

Eu me abaixo para falar novamente perto de sua orelha.

— Não jogo limpo quando quero algo, Beatrice. Eu não vou te


seduzir a menos que você volte atrás com essa promessa ridícula

de se casar virgem, mas posso te garantir que farei suas noites


muito quentes sem nem mesmo precisar te tocar.

— Não sei do que está falando.

— Já ouviu falar em sexo por telefone? Digamos que eu

posso te dar um orgasmo só dizendo o que quero fazer com você.


Ela engole em seco e desvia os olhos, mas não antes que eu
consiga ver suas pupilas dilatadas.

Merda. A ameaça a excitou e se eu for sincero, a mim


também. Esse é um jogo em que não haverá vitoriosos.

Segundos depois, torna a me encarar.

— Sou inexperiente, Tommaso, mas o que falta em vivência,

sobra em imaginação. Prometo a você que posso fazer suas calças


ficarem muito apertadas, também.

Acho que nem ela acredita que falou algo assim, porque o

rosto fica meio arroxeado de vergonha. Não posso deixar passar.

— Já faz isso sem esforço, Beatrice. Nesse instante mesmo,


me encontro nessa situação.

Como eu esperava, seus olhos desviam para o meu colo,

mas ergo seu queixo.

— Tem vontade de tocar? Saber como é a textura do meu

pau duro por você?

Sei que o motorista não está nos ouvindo porque o vidro que

nos separa dele está levantado.

— E se eu disser que tenho?


— Então talvez um dia eu te dê uma prova. Algo para pensar

até o dia em que se casar e perder sua virgindade.

Achei que ela fosse me dizer alguns desaforos, mas me

surpreende.

— Talvez eu aceite.

Eu não estava esperando aquilo e agora tenho a noção exata

de que ficar ao lado dela por um ano é muito mais perigoso do que

supus.

O tesão que sinto por Beatrice pode ameaçar não somente a


amizade com Mattia, mas também minha sanidade.
Beatrice

— Quais são seus termos para aceitar ser tutor de Beatrice?


— meu avô pergunta a Tommaso como se ainda estivéssemos na

Idade Média e eu fosse inimputável.

Normalmente aquilo me deixaria louca, mas a verdade é que

a minha mente está a milhas de distância daqui, ainda presa na


conversa que tivemos dentro do carro.

Assim que entrei na mansão Jilani, mandei uma mensagem

para Hazel avisando que cheguei bem, já que ela me avisara

anteriormente que sua viagem de volta para a Austrália foi boa.

Falar com Hazel me fez lembrar do que me disse: que eu


deveria testar a atração de Tommaso por mim.

O que falei dentro do carro foi pura provocação, mas agora


uma ideia começa a se formar.
— Eu determinarei quais dias preciso checá-la.

Independentemente de ser fim de semana.

Coloco meu tom mais doce na voz quando pergunto:

— É uma via de mão dupla?

— Não entendi — meu avô diz.

— Quero saber se caso eu precise do meu tutor a qualquer


momento do dia ou da noite, ele também deverá estar pronto para

me atender. Sabe como é, vai que eu enlouqueço em plena

madrugada e decido ir a uma festa?

— É o que pretende? — Mattia pergunta com uma carranca e

eu fico com remorso.

— Não, vovô.

— Acho que podemos acrescentar essa cláusula. Nada de


horários ou dias predeterminados. Posso lhe dar o flagrante a

qualquer momento, Beatrice. — Tommaso diz.

Se aquilo era para ser uma ameaça, o único efeito que teve

foi fazer meu coração iniciar uma corrida louca. Imagens minhas de

lingerie ou com uma camisola sexy pedindo para vê-lo em plena

madrugada passam na mente tão brilhantes como os carros

alegóricos do desfile da Disney.


— Beatrice, ouviu o que Tommaso acabou de falar? — meu
avô pergunta.

— Claro.

Nem uma palavra.

— Então concorda? — meu recém-nomeado tutor pergunta.

Há um quê de riso em seus olhos, como se soubesse que

não tenho a menor ideia do que estão tratando, mas não posso me

desmentir na frente do meu avô, agora.

Olho a boca sexy, irônica e que parece ter sido desenhada

especialmente para mim.

Os ombros largos que me fazem ter vontade de escalá-lo.

O maxilar anguloso, que me faz desejar correr a língua e

sentir a aspereza de sua barba.

E mesmo sabendo que não devo confiar nele, resolvo dar um

salto de fé.

— Concordo totalmente — digo, tentando soar segura.

— Ótimo — vovô diz —, então combine depois com

Tommaso quando é que vocês poderão ir.

Está na ponta da língua perguntar: “ir aonde?”, mas

mantenho a pose.
— Só preciso confirmar minha agenda — digo.

— Podemos fazer isso mais tarde, durante o jantar.

— Jantar?

— O que acabamos de combinar. Assim como a viagem de


três dias à vinícola de sua família. Mattia quer que eu lhe mostre

pessoalmente tudo o que possui.

— Mas a faculdade…

— Não se preocupe com isso — vovô diz. — Basta irem em


um fim de semana. Tenho certeza de que o diretor do hospital, que

foi meu companheiro de fraternidade, não se importará em liberá-la


do plantão por dois dias.

Meu coração dispara de uma maneira anormal. Uma coisa é

brincar de provocar Tommaso aqui em Florença, outra, é ficar


sozinha com ele em uma viagem.

Eu não confio em mim mesma para não atacá-lo.

— Agora que já acertamos tudo, eu tenho que ir, Mattia.

— Achei que jantaríamos juntos hoje, vovô. — Ainda tento


fugir do compromisso.

— Não. Você e Tommaso precisam conversar sobre alguns


pontos. Estou cansado. Não tenho conseguido dormir direito esses
dias.

A alusão ao que aconteceu em Nova Iorque é clara e eu sinto


remorso.

Antes que a conversa sobre Tommaso se tornar meu tutor


fosse trazida à discussão hoje, passei meia hora ouvindo um

discurso sobre os malefícios do álcool.

— Só mais uma coisa — digo. — Se eu provar ao fim desse

um ano que sou digna de confiança, terei direito ao meu


adiantamento da herança?

— Sim — vovô responde. — Terá liberdade de fazer com


esse dinheiro o que bem entender, desde que não seja algo ilegal.

Seguro com muita dificuldade a vontade de revirar os olhos.

— Sabe bem o que pretendo fazer com o dinheiro, vovô.

Ele acena com a cabeça, concordando e depois me dá um

beijo na testa.

— Acompanhe Tommaso até a porta. Vou esperá-la voltar.

Presumo que vai se trocar para o jantar aqui mesmo?

— Sim. Tenho roupa nas malas.

Enquanto faço o que ele pediu, andando ao lado do homem


que tem o poder de enlouquecer meu corpo sem sequer me tocar,
sinto-me queimar por dentro.

Excitação e medo de me machucar brincando dentro de mim

na mesma medida.

Tommaso faz meu corpo queimar. Tensão acumulando-se em


meu baixo ventre.

— Não estava brincando quando disse que não jogava limpo.


Sabia que eu não estava prestando atenção — acuso, assim que

chegamos a seu carro, onde o motorista o espera.

Ele traz a mão até meu rosto e ajeita uma mecha que se

soltou, devolvendo-a para trás da minha orelha.

— Não, eu não estava brincando.

— Onde acha que isso vai dar, Tommaso? Você é um cara

livre, solteiro e no entanto, está se comprometendo a empatar sua


vida por um ano para cuidar de mim? Apesar do que meu avô

pensa, eu não preciso ser cuidada. Tenho juízo de sobra.

— Eu sei.

— E mesmo assim concordou?

— Se não fosse eu, seria outro. Provavelmente um


contratado.

— E no que isso influenciaria sua vida?


— Foi a mim que Mattia pediu.

— Porque ele não tem noção de que brigamos o tempo todo.

Sinto o peito comprimir. Ao mesmo tempo que desejo

empurrá-lo para longe, quero dizer que a ideia de passar um ano


sendo perseguida por ele é assustadora, mas também excitante.

— Nós brigamos o tempo todo — ele repete minhas palavras

—, mas ainda assim, eu aceitei o pedido. Por quê?

— Fui eu quem te fez essa pergunta, em primeiro lugar.

Ele toca minha bochecha.

— Porque você faz com que eu me sinta vivo.


Tommaso

— Você quase não comeu — digo, olhando para a carne


praticamente intocada no prato dela.

— Perco o apetite quando fico nervosa.

— E está nervosa?

Ela faz menção para pegar a taça de vinho, que não bebeu
até agora, mas para no meio do caminho.

— Além do fato de ser nosso primeiro jantar juntos, eu tenho


medo de fazer algo errado e perder uma estrelinha em seu relatório,

senhor.

Balanço a cabeça, sorrindo.

— Por que concordou com essa loucura de Mattia?

— Além do desejo de atrapalhar sua vida sexual, você quer

dizer?
— Já tivemos essa conversa. Posso ser criativo em relação à

minha vida sexual, não importa o quanto você tente atrapalhar.

Seus olhos soltam chispas.

— Não vai fazer sexo com uma mulher na minha frente —

diz, parecendo um pouco louca.

Eu estava dando um gole no vinho e engasgo.

— Jesus, de onde você tirou isso?

— Você tem fama — fala e cora.

— Fama de quê?

— De insaciável. E como pretendo me meter em sua vida

sexual tanto quanto você quer monitorar a minha… quero dizer, não

a sexual porque não faço sexo, enfim, você entendeu. O que estou

tentando dizer é que não compreendo como espera levar isso


adiante, a não ser que…

— O quê?

— Pretenda jogar sozinho.

— Espera aqui um instante.

— O que foi?

— Vou mandar verificar se o chef colocou alguma droga


nessa comida.
— Eu costumo dizer o que penso quando estou longe do
vovô. Diego odiava isso.

Diego, o bosta.

— Por que terminaram?

— Nem deveríamos ter começado, para início de conversa.

— Nisso, eu concordo.

— Por quê?

— Não podiam ser mais diferentes. O cara é entediante.

— Muitas pessoas achavam que éramos o casal perfeito.

— Isso porque você esconde sua verdadeira personalidade.

— E sabe qual é minha verdadeira personalidade, Tommaso?

— Completamente, ainda não, mas pretendo corrigir isso ao

fim desse um ano que passaremos juntos. Agora, responda. Por que

aceitou essa história de tutor?

— Além do fato de que tenho um destino certo para o

dinheiro, não quero decepcionar meu avô mais do que meu pai já

fez.

Seu rosto cai ao dizer aquilo.

— Já terminou de comer? — pergunto.


— Já, sim.

— Vamos dar uma volta.

Ofereço a mão para ajudá-la a levantar e quando aceita,

estremece assim que nossos dedos se tocam.

— Onde iremos?

— Tem medo de altura? — pergunto.

— Não.

Eu a guio para uma escada em espiral. Ela é tão estreita que


só dá para passar uma pessoa por vez.

São pelo menos uns três minutos de subida e quando


chegamos lá em cima, Beatrice está sem fôlego. Porém, quando

destranco a porta da saleta, ela abre a boca e não fecha mais.

É uma vista completa de Torsolena[32] à noite.

Embaixo, mesmo na penumbra, conseguimos ver o vinhedo,

assim como o vale recortado da paisagem da Toscana.

— Meu Deus, isso é perfeito — diz.

Escondo um sorriso.

— Acho que é meu lugar preferido no mundo.

Franze a testa.
— Nunca adivinharia.

— Por que não?

— Porque é um lugar simples para seus padrões, embora de

uma beleza estonteante.

— Para os meus padrões? — repito, enquanto a guio até

uma amurada, onde há uma poltrona posicionada em direção ao


vale.

— Só tem um lugar — fala.

— Ninguém além de mim sobe aqui. Mas não tem problema.

Eu me sento no chão. Você está de vestido.

— E você de terno.

— Sente-se.

— Até sendo um cavalheiro você é arrogante.

Ela se acomoda na poltrona e percebo seus olhos em mim


enquanto removo a parte de cima do terno.

— Explique a parte do para os meus padrões? — falo,

enfatizando as duas últimas palavras.

— Você é sofisticado. Pensei que diria que seu lugar favorita

seria esquiar em algum lugar exótico ou qualquer coisa do tipo.

— Não gosto de esporte radicais — confesso.


— Eu tenho vontade de pular de paraquedas, mas sou muito
covarde.

Só por cima do meu cadáver que vou deixá-la saltar de um


avião contando que a porra de um balãozinho vai abrir.

Foco na paisagem abaixo de nós.

Todas as vezes que preciso pensar, venho para cá. Virou


meu lugar alternativo ao porão de Mattia. Nunca mais voltei lá desde

a vez em que quase transei com Beatrice.

Merda. Pensamento fora de hora, principalmente porque meu

objeto de desejo está perto demais.

— Aquilo que você disse sobre não querer decepcionar seu

avô porque seu pai já o fez é besteira. Não pode pagar pelos
pecados dos outros.

— Os outros, no caso, são meus ascendentes diretos. Eu

nunca vou deixar de agradecer a Deus por ter sido resgatada pelo
meu avô.

— Resgatada?

Volto a encará-la.

Eu sei que os pais dela eram loucos para cacete, mas muito
ricos também. Do jeito que Beatrice falou, parece que viveu em um
cortiço.

Ela não olha para mim quando responde.

— Acho que poucas pessoas fazem ideia do que passei.

Talvez só mesmo Aria e vovô.

— Conte-me.

— Sabe que meu avô só descobriu minha existência quando

eu já tinha sete anos?

— Porra! Não.

— Foi, sim. Para esconder ao menos um pouco a maneira

louca como eles viviam, meus pais viajavam o tempo todo. Quando

minha mãe engravidou, acho que nenhum dos parentes de ambos


os lados soube. Vovô eu tenho certeza de que não, ou teria trazido-

os de volta.

— Como? Eram adultos.

— Adultos sustentados. Não tinham qualquer renda, a não


ser a mesada de suas famílias. Enfim, acho que vovô optou por

deixar meu pai bem longe para evitar os vexames que ele fazia nas

festas. Segundo me contou, tentou interná-lo em clínicas de


reabilitação várias vezes, mas sempre voltava ao vício de cocaína.

— Disso, eu soube.
— Sim. Enfim, eu não me lembro muito daquela época, mas

algumas coisas ficaram marcadas.

— Como o quê, por exemplo?

— Eu sentia fome e não tinha alguém para me alimentar.

Minha pele fedia, porque eles ficavam dias sem me dar banho. Até
hoje tenho problema com isso. Se suo um pouco que seja, preciso

logo entrar no chuveiro.

— Caralho!

Sinto minha garganta trancar e é difícil me manter parado.

— Melhor mudarmos de assunto.

— Não. Conte-me. Eu quero saber.

— Mesmo eles recebendo o suficiente de mesada para pagar

babás para mim, os empregados não paravam, segundo vovô


descobriu, porque a casa vivia cheia de gente e faziam festas o

tempo todo. Como eu disse antes, eu não sei dos detalhes, mas do

que me lembro, eu só tenho a agradecer por ter me livrado deles


dois.

— Como Mattia descobriu sobre você?

— Um amigo dele viu meus pais de mãos dadas com uma

garotinha e juntou dois e dois. — Ela se vira para mim. — Entendeu


agora por que só tenho o que agradecer? Meus pais estavam

entrando em um espiral de autodestruição tão grande, de acordo

com o que vovô me contou, que venderam móveis, joias e até


roupas para pagarem o vício, porque Mattia começou a controlar o

dinheiro. Ele não me disse nada, mas não duvido que a próxima

coisa que eles venderiam seria eu.


Tommaso

Levanto-me e antes que eu possa pensar no que estou


fazendo, a pego no colo, sentando-me na poltrona.

Ela enrijece em meus braços.

— Não contei isso para que sinta pena de mim.

— Não sinto pena, mas preciso segurá-la.

Talvez eu esteja apertando-a com um pouco de força, mas

necessito da calma que saber que ela está bem agora, que aqueles
rascunhos de seres humanos não podem mais lhe fazer mal.

Ela demora mais de um minuto para ceder e recostar a

cabeça no meu ombro.

— Entendeu agora quando lhe digo que fui salva?

— Entendi, sim, mas ainda penso da mesma maneira: não

pode ser culpada pelos pecados de seus pais.


— Mattia pensa diferente — diz. — Acho que acredita que

posso ser como eles.

Afasto o rosto para olhá-la.

— E você pode?

— Não. O que aconteceu em Nova Iorque foi um episódio

isolado. Eu… — começa, mas para —, enfim, meu dia foi horrível e

eu só queria extravasar.

— Dançando bêbada em uma gaiola?

— Vai tripudiar?

— Não muito.

— Eu queria criar memórias.

— Não acho que essas serão boas.

— Quem sabe? Se eu ficar velha talvez eu olhe para trás e

me parabenize por ter protagonizado aquela noite louca.

— Talvez. Ou pode ser que um dia queira virar senadora e


essas fotos sejam resgatadas. Daí seus planos irão ladeira abaixo.

Como eu esperava, ela sorri e esconde o rosto na curva do


meu pescoço.

— Se eu soubesse que só precisava contar a triste história da


minha vida para que você fosse legal comigo, já teria feito isso
antes.

— Eu não sou legal de um modo geral. Não é pessoal.

— Legal e agora acrescento divertido às suas qualidades.

Não se preocupe. Não vou espalhar.

— O que te fez beber feito uma doida naquele dia, Beatrice?

— Medo, em primeiro lugar.

— Medo?

— Sim. Eu não vivi nada.

— Não viveu nada durante seus vinte anos. O que a fez

mudar de ideia de uma hora para a outra?

— Não tenho uma explicação filosófica para dar, se é isso

que está esperando. Eu só… huh… cheguei à conclusão de que a

vida é curta e decidi que de agora em diante, além da caixinha de

boas lembranças, vou fazer uma lista de sonhos.

Ela me olha rapidamente e tenta levantar, mas eu não deixo.

— Fale-me deles.

— Por quê? Achei que seria aquele designado para matá-los.

Ela está sentada no meu colo, de lado, mas não mais com a

cabeça no meu ombro.


— Talvez eu seja aquele designado para garantir que não vai

se machucar enquanto os realiza.

Fecha os olhos e balança a cabeça de um lado para o outro,

fazendo que não.

— Não o quê?

— É impossível crescer de verdade sendo superprotegida.


Você me vê como uma criança.

— Acredite em mim quando eu digo que não te vejo como


uma criança.

— Vê, sim. Naquele dia, no porão, me disse que iria me


machucar se fizesse amor comigo.

— Eu estava bêbado, mas lúcido o suficiente para falar a

verdade.

— Que verdade? Ninguém pode garantir que

relacionamentos vão dar ou não certo. Você já começa prevendo o


fim?

— Não tenho relacionamentos, Beatrice. Satisfaço o desejo


enquanto ele dura, o que não costuma ser muito.

Em um segundo, ela está fora dos meus braços.

— Mudei de ideia sobre você ser um cara legal.


— Se não aguenta ouvir a verdade, não me empurre.

— Não te empurrei para nada. E quem disse que não


aguento? Como pode ter certeza de que se tivesse feito amor

comigo naquele dia, não viria atrás para mais?

— Poderia acontecer, mas uma hora ia passar e eu iria

querer uma novidade.

Não estou tentando ser um filho da puta, mas mostrar-lhe

quem sou de verdade. Não sua fantasia de menina. Não a porra de


um príncipe encantado, mas um cara que vai comê-la e depois
seguir adiante.

— Acho que terminamos aqui. Jantei com você como me


pediu e vou verificar minha agenda para saber quando posso visitar

os vinhedos de vovô. Agora, gostaria de ir para casa.

Eu me levanto, sabendo que o certo a fazer é levá-la embora,

mas ainda assim, quando estou em frente ao corpo pequeno, não


me afasto.

Ao contrário, a puxo para mim.

Seus olhos são puro fogo, mas sei que não é tesão, é raiva.

Muita raiva reprimida porque, no fundo, sabe que o que eu disse


não é nada além da verdade.
Ela me encara com o queixo erguido.

— Sabe que eu te quero, Beatrice.

— Sei, sim. Como disse, vou ser médica, então entendo as

reações do corpo humano, mas há algo mais que eu sei: que nunca
vou ser a porcaria de um brinquedo para você.

Sustento seu olhar, me sentindo instável, também.

Por dentro, sou pura tormenta. Desejo conflitante. Sabendo

que sou a pior pessoa com quem ela pode se envolver, mas egoísta,
não quero abrir mão dessa tensão sexual entre nós dois.

— Não tenho nada a oferecer, a não ser prazer.

— Mesmo que não pudéssemos ir até o fim, eu estaria


interessada, mas não do seu jeito. Não me tratando como se eu

fosse algo previsível, que você sabe de cor qual é o roteiro do início,
meio e fim.

Seguro seu rosto.

— Eu te respeito pela coragem de se impor, mas ao mesmo

tempo, quero sentá-la de volta na poltrona, levantar seu vestido e


chupar sua boceta até ouvi-la gritar meu nome.

Ela fecha os olhos, a cabeça jogada para trás como se


minhas palavras estivessem passando como um filme em sua
mente.

— Quando você me toca, sinto como se correntes elétricas

me atingissem. Eu quero experimentar, mas não quero me sentir


usada.

Deixo um dedo percorrer o braço nu e ela estremece.

— O que você quer? — pergunto.

Não faço concessões, mas o desejo que sinto por ela


borbulha dentro de mim, então, estou disposto a negociar.

Ela me surpreende ao me empurrar.

— O que eu quero não é nada que você possa me dar.

— Medrosa.

— Eu não sou.

— É, sim. Qual outro nome daria para alguém que está louca

para gozar em meus dedos e língua e ainda assim recua porque

não tem garantias?

— Não preciso de garantias.

— Precisa. Fez todo aquele discurso sobre querer crescer,

mas não se permite arriscar.

— Arriscar é quando se faz uma aposta. Há cinquenta por


cento de chance de se sair vencedor. Com você, minha mão está
perdida desde o princípio porque já segura todas as boas cartas,

Tommaso.

— Disse que se não fosse a porra da promessa de se manter

virgem, poderia me viciar em seu corpo. Estou te desafiando,

Beatrice. Vicie-me. Faça com que eu só deseje seu cheiro e gosto.


Beatrice

Eu quero me sentir ofendida, porque Tommaso acaba de


ultrapassar todas as barreiras da arrogância, mas não consigo já

que sei que ele está sendo honesto comigo.

Ele tem certeza de que não sou capaz.

Está seguro de que sou apenas mais uma em sua vida,

independentemente da atração física louca que sentimos um pelo


outro.

Eu mentiria se não dissesse que há uma parte minha que


está morrendo de medo de que no fim, ele chegue a essa

conclusão, mas eu tenho uma vantagem que nenhuma outra teve


até hoje: sou louca por ele há anos.

A certeza de que nunca encontrarei outro homem que me


faça sentir como só ele é capaz, é um senhor incentivo para eu
bancar a suicida e me jogar de cabeça no desafio.

— Quanto tempo eu tenho?

— O quê?

Ele me encara como se eu estivesse drogada. Talvez


esperasse que eu fosse sair correndo.

— Você me desafiou. Disse que eu devo viciá-lo em mim.


Quanto tempo eu tenho?

— Quanto tempo você quer?

Agora já parece recuperado e volta a mostrar a mesma


arrogância de sempre.

— Um ano.

— Acho que não escutei direito.

— Eu quero todo o ano em que você será meu tutor.

Ele dá um passo para trás e minha autoconfiança despenca

uns cem andares, mas tento manter a calma.

— Acho que não funcionará — diz, por fim.

— Por que não?

— Nunca fiquei com alguém por mais do que uma semana.

— Quantos anos você tem mesmo?


— Engraçadinha.

— Aqui vai uma nova proposta, então, porque tenho certeza

de que não preciso de tanto tempo para te viciar em mim.

— Lembrando que não teremos sexo no sentido total da

palavra e sem querer te desanimar, mas eu gosto muito de sexo no

sentido total da palavra. Por várias horas e sem pausa.

Ele fala a última parte bem devagar e um arrepio de desejo

percorre minha coluna.

Concentre-se, Beatrice. Ele está jogando com você, tola.

— Certo, deixe-me colocar minha nova proposta na mesa: no

momento em que você estiver viciado em mim, paramos. Mas, se

não acontecer até seis meses, me darei por vencida. A honestidade

de ambas as partes é fundamental para que isso funcione, acho que

nem preciso dizer.

— E o que mais?

— Se eu ganhar… quero dizer, se eu conseguir que você se

vicie… — faço uma pausa dramática — como foi mesmo que falou?

Ah, sim. Em meu cheiro e gosto em menos de seis meses, estou

liberada da tutela. Vai conversar com Mattia e dizer que sou a

mulher mais responsável do mundo e que não preciso de


supervisão. Você ganha sua liberdade de não ter que me vigiar e eu

ganho minha herança.

Ele cruza os braços.

— Estou me sentindo como um prostituto. Seduzido por


dinheiro. Além disso, não está considerando uma variante: pode ser
que se apaixone por mim como era na adolescência e daí, deseje

mais.

— Mais do quê? Já deixou bem claro que não namora. Aliás,

que não faz nada além de sexo. Eu ouvi da primeira vez. O que
quero mostrar é que nem todas as mulheres são iguais e que

independentemente de você não querer compromisso, vai pensar


em mim quando nos separarmos, assim como tenho certeza de que

pensarei em você.

Ele ainda não parece convencido.

— Foi você quem me desafiou e agora parece que está


dando para trás, Tommaso.

Tento demonstrar mais autoconfiança do que sinto. Já não sei

mais o que dizer e a vontade de mandar ele esquecer esse monte


de besteira é grande.
Para minha surpresa, ele volta a se sentar na poltrona e

estica a mão para mim.

— Vou ter liberdade de te tocar também?

Balanço a cabeça fazendo que sim.

— Palavras, bella. Quero ouvir você dizendo.

— Sim, vai poder me tocar.

Ele me puxa para seu colo e segura meu rosto.

— Não fantasie com mais do que isso será, Beatrice. Seis


meses é tudo o que teremos. Não acabará com nós dois subindo ao

altar.

Aquilo dói, mas não pela razão que ele pensa.

— Eu nunca vou me casar.

— E vai morrer virgem?

— Não. Talvez só desfaça o acordo com meu avô um dia.

— Por que não agora?

Eu não deixo que ele continue me perguntando mais nada.

Ajoelho-me na poltrona, com uma perna de cada lado de seu

corpo e colo nossos lábios. Eu não tenho tanta experiência em beijo


quanto ele porque Diego não era um bom beijador, mas fiz um
intensivo com Tommaso na cena da piscina em Nova Iorque e já
dentro no papel de sedutora impiedosa, dou o meu melhor.

Passo a língua na costura de sua boca. Ele não a abre


inicialmente, como se esperasse que eu o convencesse.

Rodeio seu pescoço com meus braços e desisto de um

ataque direto. Ao invés disso, mordisco seu maxilar e depois corro


meus dentes por ele.

Quando um grunhido sai do fundo de sua garganta, meu


núcleo se contrai de desejo e eu me sento em seu colo.

Dessa vez, quando encosto em sua boca, ele a abre, me


pegando de surpresa em um ataque sensual. A língua invade a
minha, chupando, lambendo e meu corpo começa a se mover

involuntariamente sobre o colo dele.

O beijo é tão íntimo que sinto-me tremer inteira.

Suspiro dentro de sua boca, querendo que o contato não


acabe nunca. As pontas dos meus seios estão arrepiadas, duras e

precisando de alívio, me esfrego nele.

Suas mãos vêm para o meu quadril.

— Mexa essa boceta no meu pau — comanda e eu gemo


alto, porque acabo de descobrir que gosto de palavras sujas se elas
vierem dele.

Seus lábios agora percorrem meu pescoço, mordem meu

ombro enquanto ele me cheira.

É algo primitivo senti-lo me aspirando. Muito excitante,


também.

Ele parece estar faminto por mim.

O meu vai e vem sobre seu colo se intensifica e eu sinto algo


estranho apertar meu ventre. Afasto-me assustada, mas não paro

de me mexer porque preciso de mais.

— Eu acho que eu vou…

— Merda!

Ele põe as mãos em meus quadris, por baixo do vestido e

elas mais parecem garras. Uma delas desliza para a frente da

minha calcinha.

— Não pare de rebolar. Vou te fazer gozar gostoso.

E então, ele pressiona meu clitóris por cima da lingerie e meu

corpo inteiro explode, flutua, viaja em um mundo em que não existe

vergonha, promessas ou culpa.

Ouço um implorar seguido de gemidos e custo a perceber

que vêm de mim.


Quando instantes depois eu finalmente abro os olhos,

Tommaso está me encarando.

Fico sem jeito por ter me entregado sem qualquer pudor e

baixo a vista para o meu colo.

— Temos um acordo? — pergunto.

Ele segura meu queixo.

— Pode apostar que sim.


Tommaso

Dois dias depois

— Luna perguntou se você quer vir almoçar no sábado. A

irmã[33] e o cunhado dela, Hudson[34] estarão aqui, vindos

diretamente do Texas, então minha menina-lua quer todos reunidos.

— Com “todos” você quer dizer sua mãe, também? Obrigado,


mas vou recusar. Não é nada contra Carina, mas mesmo que minha
mãe tenha decidido não ver mais Dino, ainda está muito fragilizada.

Não quero machucá-la ainda mais.

Ele suspira do outro lado da linha.

— Eu sempre me esqueço de que ela está doente, Tommaso.

Não há uma maneira de pormos um fim a isso? Já passou da hora

de nós, os filhos, nos encontrarmos para uma conversa franca.


Enquanto ficamos anos nos odiando mutuamente, o miserável do

nosso pai continuou e continua até hoje vivendo a vida sem


qualquer preocupação. `

Ele está certo, é claro. Da parte das garotas, eu sei que não
haverá problemas, mas eu não tenho certeza quanto a Giancarlo e

Gaetano.

Apesar de saberem que eu e Ricco convivemos em paz

agora — tudo bem, talvez um pouco mais do que “em paz”, estamos
muito próximos de sermos amigos — meus irmãos não

demonstraram qualquer vontade de se aproximarem dele também.

Talvez em parte porque Gaetano vive pelo mundo,

competindo e Giancarlo seja tão atolado de trabalho como eu era há

uns anos, antes de comprar a vinícola.

— Eu vou falar com eles e tentar marcar um almoço ou jantar

aqui na Castiglion. O que acha?

— Por mim, tudo bem. Não estou querendo me impor aos

seus irmãos…

— Nossos irmãos.

— Não estou querendo me impor nem nada, mas Luna faz


questão que de que Paola cresça com os tios por perto.
— Sua mulher é um ser muito especial. Tem consciência
disso?

— Mais do que especial, minha fada é única.

Falamos por mais alguns minutos e depois que desligo, ainda

continuo pensando no que ele disse.

Tomo uma decisão.

Depois de mandar mensagem para os meus irmãos,

iniciamos uma chamada de vídeo.

— Reunião de família? — Gaetano debocha.

É raro que consigamos falar todos ao mesmo tempo, então

decido pular a enrolação.

— Ricco quer se encontrar conosco.

A primeira a se manifestar é Giovanna.

— Eu gostaria muito, mas mamma nunca vai aceitar.

— Vou conversar com ela. Não precisa ser algo grande, mas

a esposa dele quer que a filha, Paola, conviva com os tios.

Um silêncio desconfortável se instaura e eu sei a razão.

Todos nós nos sentimos culpados por Nicolo ter morrido sem sequer
o conhecermos.
Por causa de orgulho, nunca demos um beijo em nosso

sobrinho.

— Nós já erramos uma vez. — Continuo. — Não podemos

fazê-lo novamente.

Todos acenam com a cabeça e Giancarlo diz:

— Vou ver nossa mãe amanhã e conversarei sobre isso. Eu


entendo que ela não goste de Carina… — Ele pausa. — Não, na
verdade, eu não entendo. De qualquer modo, estender essa raiva

para Ricco e Chiara não faz sentido.

Depois que terminamos a chamada, vejo uma mensagem de

Beatrice piscando na tela do celular.

Beatrice: “Acho que vou ter que desmarcar nosso jantar. Estou
destruída do plantão.”

Eu não a vejo desde o dia em que voltamos de Nova Iorque,

quando ela me nocauteou gozando em meus braços no terraço


aqui da vinícola. Não estou nem um pouco disposto a ceder.
“Contraproposta: jantar na sua casa. Eu cozinho enquanto você

toma um relaxante banho de banheira.”

Segundos depois, pontinhos começam a piscar na tela.

Beatrice: “Quer conferir se sua tutelada está mesmo em casa e não


dançando dentro de alguma gaiola pela noite italiana?”

“Exatamente. Seu avô me fez assinar um documento, está

lembrada? Levo minhas responsabilidades a sério.”

Beatrice: “Combinado. Jantar e banho de banheira me parece


ótimo. Alguma chance de que eu ganhe uma massagem nos pés?”

“Sim para massagem, mas não gosto de limitações geográficas.


Prefiro explorar aleatoriamente.”

Depois disso ela não responde mais e eu consigo imaginar


aquelas bochechas sardentas ficando vermelhas de vergonha.
Beatrice é uma contradição. Provocante, selvagem, sensual,
mas também acanhada quando se expõe.

Eu me considero um cara bem controlado com relação aos


meus desejos, mas juro por Deus que assisti-la gozar naquele dia
quase me levou junto.

Sei que o que estamos fazendo é um jogo perigoso. Beatrice


nunca vai ser uma mulher como outra qualquer para mim porque ela
é neta de Mattia, em primeiro lugar, mas estou disposto a pagar

para ver onde vai dar essa atração entre nós.

Levanto-me e vou até a janela, pensando nas coisas que ela

me contou sobre os pais. Sua infância foi a porra de um pesadelo e


não me admira que ela não só obedeça, mas aprecie as regras que

o avô impõe. Para minha futura doutora, restrições são sinônimo de


amor.

Não são.

Podem ser sinônimo de segurança, mas não de amor.

Beatrice é linda, espontânea e eu gostaria de ver sua real


personalidade no comando o tempo todo.

Você não gostaria de nada — uma voz avisa. — Seu tempo

com ela tem prazo para acabar e depois seguirá em frente, como
sempre fez.

Quarenta e cinco minutos depois, mando uma mensagem


para ela avisando que estou em frente ao seu edifício.

A resposta vem em forma de dois códigos e um aviso de que


um é para que eu possa abrir a garagem e estacionar e o outro é o

de sua cobertura.

Admira-me que Mattia tenha permitido que more sozinha em

Florença. Ou talvez ela não tenha lhe dado opção, já que em Milão
vivia em seu própria lugar.

Paro meu carro em uma das cinco vagas à disposição dela e

sorrio quando vejo um Mini Cooper na outra.

Não estranho que ela tenha escolhido um carro tão pequeno.


Beatrice é uma coisinha miúda.

Entro no elevador privativo que só para em seu andar e

assim que chego em frente à porta, ouço uma música suave ao


fundo.

Eu já tive muitas mulheres, mas nunca vivi essa intimidade de


ir à casa de uma delas ou as levei até a minha. Sempre preferi

hotéis, pois passam a mensagem correta: sem amarras.

Entretanto, chegar aqui não me faz querer correr como


acreditei que faria.

Talvez, saber que temos um prazo final seja o que me deixa

mais tranquilo.
Beatrice

Assim que recebi a mensagem de Tommaso avisando que


estava chegando, meu coração começou a bater em uma corrida

louca — o que me assustou.

Eu tenho andado literalmente com a cabeça nas nuvens e

esse não é meu jeito de ser.

Sou centrada, estudiosa. Aquela que nunca erra.

Quero dizer, a que quase nunca erra, porque depois daquela

ida à Hazard, fiquei com uma mancha no meu currículo.

Diego tem mandado mensagem todos os dias dizendo que


precisamos conversar e eu as ignoro sem dó. Para mim, ele já é

passado. O presente, é um homem de pele dourada e muito mais

perigoso para o meu coração do que meu ex jamais será.


Deus, o que meu avô estava pensando quando escolheu

justamente Tommaso para ser meu tutor? É quase como colocar a


raposa dentro do galinheiro.

Tudo bem que o galinheiro está mais do que disposto a


deixar a raposa entrar.

Nossa, que analogia horrível.

No dia seguinte em que jantei com Tommaso em sua vinícola


— e que também tive meu primeiro orgasmo, finalmente! — fiquei

tão surtada com tudo o que aconteceu que liguei para Hazel.

Era ela ou Donatella, e sinceramente não acho que a

influencer iria gostar de ouvir das habilidades do irmão para me

fazer gozar.

Eu contei a Hazel o que aconteceu: tanto o desafio maluco


que fizemos quanto o orgasmo, sem detalhes gráficos, claro. Sua

resposta foi: dez para o orgasmo, quatro para o desafio.

Ela me disse na lata que acha que há uma grande chance de

que eu me machuque no fim e infelizmente, tenho que concordar.

Acontece que deixou de ser uma escolha.

Imaginar o que é estar nos braços de Tommaso e estar de

fato não tem comparação. Eu teria que ser muito louca para não
aproveitar esse nosso tempo juntos.

Enquanto subo a calcinha, ouço barulhos no apartamento e

tenho a certeza de que ele já entrou.

Pego o vestido em cima da cama, pensando se é uma boa

ideia usá-lo, mas decido que sim. Quero que me ache bonita.

O banho de banheira conseguiu relaxar meus músculos.

Sinto-me preguiçosa como uma gata, mas muito animada para a

noite, também.

Abro a porta para encontrá-lo, quando de repente algo que

não havia pensado ainda, me atinge: não falamos nada sobre ele

não poder ter outras mulheres.

De jeito nenhum que vou ficar gastando meu arsenal de

sedução versão iniciante, e ao mesmo tempo concorrendo com

experts. Para ser um jogo justo, preciso ser a única participante


desse desafio.

Já estava no corredor, mas volto para o quarto e dou uma

última olhada no espelho por causa da minha bendita insegurança.

“Estou te desafiando, Beatrice. Vicie-me. Faça com que eu só

deseje seu cheiro e gosto.”

Deus, será que dou conta ou estou fazendo papel de boba?


Ando para a cozinha, onde imagino que ele esteja por causa

dos sons que saem de lá, mas já não me sinto tão confiante de
quando trocamos mensagens mais cedo.

Assim que chego à porta, ele está de costas, sem o blazer do


terno, só de camisa social, mexendo algo no fogão.

Doce Senhor Jesus o homem tem um… Opa, blasfêmia.

O que estou tentando dizer é que o homem tem um bumbum


que merecia ser homenageado em verso e prosa. A calça marca a

musculatura como se tivesse sido moldada nele e me faz ter


vontade de mordê-lo.

Dou uma risada do pensamento louco e ele vira para trás.

E assim, eu tomo consciência pela milésima vez de que


nunca conseguirei ser blasé com relação a esse homem. Tommaso
me olha de um jeito que me faz derreter.

— Oi — digo, sem graça e mordendo a parte de dentro da


bochecha para conter o tremor do meu corpo.

Dor é sempre uma boa maneira para me acalmar.

Caramba, isso soou meio sadomasoquista. Credo.

Ele não responde, mas diminui o fogo do que quer que esteja
fazendo e vem até mim.
Não me ataca nem nada — como eu gostaria, diga-se de

passagem — mas para na minha frente e deixa o olhar me percorrer


dos pés à cabeça.

A diferença de altura entre nós é ridícula e acho que é o que


o faz me pegar no colo e sentar na bancada da ilha da cozinha.

Uma mão descansa de cada lado do meu corpo e ele não me


toca, mas está inclinado, alinhando nossos rostos. Se chegar cinco
centímetros para frente, nossas bocas se encostarão.

— Esse seu cheiro… já é a tentativa de tentar me viciar?

Sua voz soa rouca, me causando um arrepio gostoso.

— Não estou usando nada. Só sabonete, mesmo. Nem lavei

o cabelo.

Ele se aproxima e me inspira, mas sem encostar em mim e


rapaz, talvez se colocasse a mão dentro da minha calcinha o efeito

não fosse tão devastador.

A forma como ele nem tenta disfarçar o desejo está me

deixando sem fôlego.

Sem conseguir resistir, puxo seu rosto para mim e deixo

meus dentes brincarem de morder seu queixo.


Ele grunhe e eu acho que estou me viciando nesses sons
masculinos, primitivos.

A ponta da minha língua desenha sua boca, provocando-o, e


eu quase desmaio quando ele começa a sugá-la.

Tommaso me beija sem pressa, mas mesmo assim, consigo

sentir a necessidade, a fome dele por mim me envolvendo em uma


nuvem de desejo.

— Não tem ideia de como estou me segurando para não te


deitar nessa bancada e comer sua boceta no lugar do jantar.

— Não podemos… huh…

— Com a boca, Beatrice. Quero chupar seu clitóris, prender

entre meus dentes, enquanto meu dedo te sente por dentro. Te


mostrar como é gostoso ser preenchida.

— Tommaso… — choramingo, puxando seus cabelos com

força, querendo que ele me ensine até onde pode me levar.

— Você quer isso, bella mia?

Gemo em resposta, envergonhada de assumir meu desejo,


mas por dentro implorando que ele faça o que quiser comigo.

Quando sinto suas mãos enormes, separando minhas coxas,


eu me deito, me entregando, ansiosa.
Tommaso

Ela geme baixinho e o som me excita mais do que as maiores


sacanagens que já ouvi das mulheres com quem estive no passado.

Eu não vim aqui para isso, mas aparentemente subestimei o


poder que a sensualidade inocente de Beatrice tem sobre mim.

Ergo seu vestido somente até o umbigo, ainda que o que

desejo seja deixá-la nua. Entretanto, isso não é sobre o que eu


quero, e sim, o prazer que vou lhe proporcionar.

Sua pele é como veludo quente sob meus dedos enquanto


percorro sua cintura e ventre, as ancas pronunciadas, carnudas.

Abaixo-me e mordo-a de leve sobre a calcinha, o cheiro de

sua excitação aumentando minha loucura, luxúria, desejo sem

nome.
Eu me delicio com suas curvas e quando minha boca toca o

interior de suas coxas, ela grita que quer mais.

Beatrice treme enquanto minha mão desliza sobre a seda de

sua lingerie.

Eu não paro. Continuo a mapeá-la, acariciando sua cintura,


as pernas, joelhos e somente quando a sinto mais relaxada, desço

sua calcinha, olhando em seus olhos.

Quando está nua, corro minha língua no lábio inferior

enquanto observo a bocetinha virgem de pelos curtos e úmidos de

tesão.

Passo a mão aberta em seu sexo, sentido seu calor molhado,

pulsante. O clitóris está duro contra minha palma.

Beatrice é pura tentação, deitada, esperando para ser


devorada.

Seu olhar me queima, ordena e implora.

Sexy, doce.

Baixo a cabeça e mordisco os lábios do seu sexo. Nada de

língua, só o calor da minha boca contra a carne melada de desejo.

Porra, como o gosto de sua pele é doce.


Ela tenta se mexer. Eu não permito, mantendo suas pernas
abertas.

— Quieta. Eu quero te provar.

Separo os lábios da boceta encharcada com uma das mãos e

com o polegar da outra, pressiono o clitóris teso.

Ela implora, louca para ser saciada, brilhando seu tesão para

mim.

— Por favor, Tommaso.

Ouvi-la é o meu gatilho. Eu não posso mais esperar.

Corro a língua por seu sexo, lambendo a umidade. O gosto é

uma delícia.

Os quadris giram em círculos, se oferecendo para matar

minha fome.

Puxo suas pernas por cima dos meus ombros e me alimento

de seu mel.

Uso os dentes em seu clitóris durinho enquanto minha língua

invade sua entrada, preenchendo-a devagar, sentindo a quentura de

seu sexo.

Seus suspiros e gemidos são viciantes.


Cada vez que meto a língua em sua boceta, ela se contrai,

como se quisesse me prender dentro de si.

Como-a sem pausa, chupando, sugando, sentindo-a escorrer

pelo meu queixo, me perdendo naquela carne rosa e inexplorada.

Substituo a língua dentro dela por um dos meus dedos,


enquanto mamo seu clitóris.

— Ahhhhh…

Eu não paro de devorá-la. Amo o quanto é apertada.

Só de pensar nisso, em como deve ser senti-la pulsando em

volta do meu pau, eu quase explodo.

Beatrice é linda, mas muito gostosa, também. Dona de uma


sensualidade que não se adquire ou se pode treinar. É dela.

Toda fêmea, instintos, gemendo alto.

Só até que ela goze — prometo a mim mesmo —, e então eu


pararei.

Seguro-a pelos quadris, levantando sua bunda. Estou


determinado a ouvi-la gritar meu nome enquanto alcança o prazer.

Sinto-me bêbado de tesão. Nunca experimentei nada

parecido com isso antes.


Roço os dentes em seu ponto mais sensível e meto a língua

em sua boceta em movimentos circulares.

— Tommaso!

— Continue gemendo para mim.

As costas se erguem como um arco e seu corpo treme sob

minhas mãos quando ela explode em minha boca, mas mesmo


depois do orgasmo, eu não consigo parar de comê-la.

Beatrice gozando é a mais pura essência de uma deusa:


safada, lasciva e ao mesmo tempo, de uma pureza quase dolorosa.

Beijo sua boceta sem pressa, lentamente agora, lambendo os


resquícios de seu orgasmo.

Quando ergo a cabeça, está sorrindo. Os olhos lindos ainda

fechados.

Observo a pele clara de suas coxas marcadas pela minha

barba por fazer, a umidade de seu gozo escorrendo de seu sexo.

— Olhe para mim, Beatrice.

Ela custa um pouco a obedecer, como se ainda estivesse


presa em um mundo de sonhos.

Quando finalmente faz o que mandei, eu a sento no balcão,


puxando-a para a beira e me encaixando entre suas coxas.
Beatrice se derrete em meus braços, as mãos vindo para o
meu pescoço, acariciando minha nuca em movimentos
hipnotizantes.

O desejo de possuí-la, de fazê-la minha é muito mais difícil


de combater do que julguei antes de prová-la.

Enquanto a beijo, fazendo com que experimente seu próprio


gosto, meu corpo inteiro está tenso de tesão reprimido.

Ela ainda treme, a cabeça jogada para trás, me oferecendo o


pescoço, os lábios, como uma entidade pagã, metade santa,
metade pecado.

A boca de Beatrice tem um sabor único e parece ter sido feita


para se moldar à minha.

Fomos muito além do que eu imaginara. A entrega de ambos


ultrapassando divisórias de uma relação sem vínculos.

Entretanto, nesse momento, só existe ela. Escolho deixar


para pensar em impor limites depois.

Ao invés de me afastar, deixando claro que é somente sexo,


meus braços a apertam mais porque ainda não estou pronto para

mandá-la para longe.


Eu inspiro o cheiro de nós dois misturados e o desejo que a
garota me desperta é tão selvagem que turva minha visão.

Aos poucos, nossas respirações, antes curtas, sem fôlego,


vão se normalizando.

Quando me afasto e a encaro, há uma camada fina de suor

sobre sua testa. As bochechas estão coradas e os lábios ainda

separados em um pequeno “o”, como se o orgasmo que


experimentou a tivesse pegado de surpresa.

— Isso foi…

A experiência mais excitante que já vivi.

— Um bom começo? — falo, ao invés de complicar ainda


mais as coisas entre nós.

Ela me olha parecendo confusa a princípio, mas aos poucos,

como se pudesse me ler, entender o que estou tentando fazer — me


afastar emocionalmente —, se desprende de mim e desce do

balcão.

Sem me encarar, pega a calcinha.

— Obrigada por essa primeira experiência. Agora preciso


tomar uma chuveirada.
Enquanto a vejo ir, me lembro do que me falou na vinícola:

que se sentia suja porque seus pais não lhe davam banho quando
era criança.

Foi isso que a fiz sentir ao reduzir o que fizemos a uma

experiência sexual banal?

Se foi, sou um idiota.

Nós fizemos um acordo. Eu a desafiei. Ao mentir,

transformando seu primeiro orgasmo em minha boca em algo

comum, joguei sujo.

Preciso consertar isso.


Beatrice

Saio do quarto pela segunda vez na noite, tentando entender


o que aconteceu.

Em um momento, Tommaso era a mais pura imagem da


paixão, me fazendo voar em suas mãos, língua e boca. Depois, eu

senti como se ele tivesse reduzido o que vivemos a algo corriqueiro,


como tomar um cafezinho.

A necessidade de fugir foi incontrolável porque eu me senti

muito exposta, tipo naqueles pesadelos em que você aparece nu no

meio da rua enquanto todos estão vestidos? Algo assim.

Senti-me emocionalmente despida, enquanto ele parecia


controlado e se recuperando rápido demais do que vivemos.

Eu menti. Não tinha qualquer intenção de tomar banho.


Apesar da necessidade de me sentir limpa ser algo que

talvez eu devesse dar mais atenção no futuro, até mesmo


procurando a ajuda de um psicólogo, ainda não estou pronta para

apagar a sensação da boca de Tommaso em mim.

Vim para o banheiro só porque queria me afastar, mesmo.

Respirar fundo e me lembrar que aquilo tudo que vivemos faz parte

de um acordo.

Enquanto caminho para encontrá-lo, penso no resultado do


exame de DNA que fiz em Nova Iorque.

Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac.

O relógio da vida está correndo, caminhando para o meu fim.

Quantos sonhos terei tempo de realizar? O que conseguirei

fazer antes que meu corpo me traia, desista, se renda à doença?

Ter um prazo não é justo. Eu não fiz nada, ainda.

Chego na sala de jantar e percebo que a mesa foi posta. Ele

mexeu nos meus armários, mas eu não ligo. Só quero que esse

encontro acabe logo para que eu possa ficar sozinha e tentar

reorganizar minhas emoções.

Eu estava observando a mesa e quando levanto a cabeça,

vejo-o parado na entrada da cozinha, me olhando.


— Espero que não se importe — diz, fazendo um gesto para
os pratos e talheres arrumados.

— Nenhum problema. — Forço um sorriso.

Ajo como se estivéssemos nos vendo pela primeira vez na

noite.

— Qual vai ser o jantar? Estou faminta.

E as mentiras só se acumulam. Um Oscar de melhor atriz

para mim mesma, senhoras e senhores.

— Massa com frutos do mar. Não fui eu quem fez, foi o chef

da vinícola. Só esquentei. Eu trouxe um vinho da Castiglion,

também.

— Okay. Enquanto comemos, há algo que eu queria te dizer


— falo, enquanto sento-me no meu lugar.

A expressão dele muda para desconfiado quando se


acomoda em sua cadeira e começa a abrir a garrafa de vinho.

Depois de nos servir, tanto de comida quanto de bebida, mas


antes de tocar em sua refeição, pergunta:

— O que seria?

— É com relação ao nosso acordo de tutela. — Sacudo a

cabeça de um lado para o outro. — Deus, soa tão ridículo dizer isso
em voz alta.

Estou falando mais para mim mesmo do que para ele, mas

quando volto a encará-lo, acho que vejo uma leve decepção em seu

rosto. Pode ser impressão minha, mas se for o caso, decepcionado


por quê?

— Sobre a tutela?

— Do que mais poderíamos falar?

— Não me provoque, Beatrice. Eu não sou um cara suave.


Pode ouvir o que não quer.

Sei pelo rosto zangado que esperava que eu mencionasse o


que aconteceu há pouco, mas de jeito nenhum vou trazer à tona a

maneira como me senti.

Tenho meu orgulho.

— Não é provocação. Temos duas situações diferentes entre

nós e elas correm paralelas. Uma é o desafio, mas apesar de até


agora tudo ter sido muito gostoso, não é a principal razão para

convivermos. A tutela, sim.

Ele dá um gole grande no vinho.

— O que você quer?

— Estou pensando em trancar a faculdade esse semestre.


— O quê? Por que diabos faria algo assim? Desistiu de ser

médica?

Desvio nossos olhos, sentindo a garganta fechar.

— Não. Sempre foi meu sonho.

— Por quê, então?

— Precisamos falar disso agora?

— Sim, porque se é seu sonho desde sempre, quero

entender o que a faz desejar interromper o curso.

— Eu queria… hum… quero me especializar em

neurocirurgia infantil, mas para cuidar de famílias cujos pais não têm
como arcar com as despesas de um tratamento de primeira linha.

Não o olho enquanto falo isso. Não sou aquela que adora
compartilhar sonhos. Eles são… eram meus e de mais ninguém.
Apenas meu avô sabe que quero abrir a fundação e mesmo assim,

não lhe dei muitos detalhes.

— E agora quer parar com tudo?

Olho-o com raiva.

— Não me faça sentir culpa. Não sabe nada de mim,

Tommaso. Além disso, que diferença faz para você qual profissão
terei, desde que não fique seminua e bêbada dançando em uma
gaiola?

— Era para isso o dinheiro do adiantamento da herança?

Balanço a cabeça, concordando.

— Coma. Depois conversaremos.

Finalizamos a refeição em silêncio, embora eu quase não

tenha tocado na comida.

Tommaso levou os pratos para a cozinha e quando tentei

ajudá-lo, me disse para terminar meu vinho.

É estranho vê-lo andando pela minha casa como se fosse o

dono do lugar, mas tenho mais com o que me preocupar do que


lutar pequenas batalhas.

Trancar a faculdade por um semestre era algo que eu já

vinha pensando desde o dia seguinte — o bendito dia seguinte do


show que dei na Hazard — em que recebi o resultado do exame de
DNA.

Naquele instante, eu ainda não sabia da ideia do meu avô de


me manter sob tutela, por isso agora terei que mover as peças com
cuidado para conseguir que Tommaso concorde comigo.

— Se não está desistindo da faculdade e sonha em fundar o

instituto para crianças menos favorecidas, por que parar agora?

Tomo um susto quando noto que ele voltou.

Oferece-me a mão para irmos até a sala de estar, mas eu a

ignoro. Já tive mais do que o suficiente de sua pele quente contra a

minha hoje.

— Porque eu nunca parei.

— Explique-se — pede, depois que cada um de nós se

acomoda em uma poltrona como se há cerca de meia hora, eu não


estivesse gemendo em seus braços.

Meu sangue esquenta ao relembrar, mas afasto as cenas

eróticas da minha mente.

— Todo mundo que termina o segundo grau sai em uma


viagem pelo mundo, erra, faz besteira. Eu entrei direto para a

faculdade.
— Por quê?

— Estava preocupada demais em não decepcionar meu avô


para pensar em mim antes.

— E não está mais?

— Sim, mas não quero viver o resto dos meus dias tentando
me moldar ao que esperam de mim.

Ele cruza os braços na altura do peito.

— Essa conversa é alguma manifestação de um desejo de

dar continuidade ao que aconteceu em Nova Iorque?

— Não. Somente a esperança de experimentar coisas novas.

A vida é muito curta. Quem sabe quanto tempo nos resta?

— Você só tem vinte anos, Beatrice.

— Eu quero viver. Não preciso lhe pedir autorização para


isso, mas não quero aborrecer meu avô. Entretanto, se você me

apoiar, ele o ouvirá. Mattia não confia em mim para gerir minha vida,

mas confia em você.

— Quer tanto assim o dinheiro para a instituição ao ponto de


se dobrar a qualquer coisa?

— Qualquer coisa, não. — Suspiro, cansada dessa conversa.

Está sendo mais difícil do que eu pensei que seria. — Por que está
tornando tudo tão complicado? Independentemente do que meu avô

pensa, sabe que não sou irresponsável, Tommaso.

— No que consistiria esse "viver a vida"?

— Se eu falar, promete não surtar?

— Não prometo nada. E eu não “surto”, eu reajo às loucuras

de maneira apropriada.

— Okay. A primeira coisa é: quero pular de paraquedas.

— Não.

— Vai ser agora ou daqui a um ano. Não faz diferença,

porque o farei de qualquer modo, mas como me sinto corajosa

nesse momento, não queria esperar.

Ele não diz nada e um pouco mais encorajada, continuo.

— Quero assistir a queima de fogos no réveillon na praia de

Copacabana, no Rio de Janeiro.

— O quê?

— Se me pedir para explicar cada detalhe dos meus planos,

não sairemos do lugar hoje.

— Continue.

— Quero conhecer Nova Orleans, na Louisiana. Dançar na


chuva. Aprender a andar de skate e ter um cachorro com nome de
comida, de preferência, doce, tipo Doughnut[35] ou Pipoca Doce.

— Só isso?

Sua pergunta é irônica, mas é a primeira vez desde que


começamos a conversa que sua expressão suaviza.

— Tem algo mais, que me faz sentir muito culpada.

— O que é?

— Gostaria de me afastar por um mês do meu avô. Quero


dizer, não ir embora de vez. Isso nunca. Porém, para realizar esses

sonhos, vou precisar viajar. Quero experimentá-los em sequência e

talvez precise de uns trinta dias para viver a vida sem me sentir

constantemente obrigada a agradecer.

— Não acho que Mattia queira isso: que você o agradeça o

tempo todo, quero dizer.

— Eu também acredito que não. O problema, na verdade,


está em mim. Sou eu quem não se sente digna de amor —

confesso, porque já ultrapassei a linha da dignidade há alguns

minutos, então, que diferença faz?

— Você é digna de amor.

Desvio de seus olhos, que nesse instante parecem me

desnudar a alma.
— Agora você já sabe o que desejo. — continuo, sem fazer

caso do que ele disse anteriormente.

— E não estou convencido.

— Vai me negar seu apoio?

— Seus planos são muito aleatórios. Tenho uma

contraproposta.

— Não fazemos outra coisa além de propor e contrapropor,

aparentemente.

— Não brinque com a sorte.

— Okay. Fale-me.

— Concordo com esse um mês. Vou te dar um mês para


viver suas loucuras, fora o réveillon, claro, porque isso terá que

esperar por razões óbvias.

— Será que um mês é suficiente?

— Terá que ser suficiente.

— São muitos prazos: um ano de tutela, seis meses para

você se viciar em mim e agora um mês para que eu viva a vida. Vou

precisar de uma agenda para saber quando começa um e termina o

outro.

— Eles devem correr em paralelo.


Engulo em seco, pensando no que aconteceu mais cedo.

— Vou ficar um mês ausente do nosso acordo de sedução?

— Eu não acabei de dizer minha contraproposta: vou te dar

um mês para experimentar, mas sua jornada começará com nossa

viagem pelos vinhedos de sua família. Apenas dois dias lá serão o

bastante.

— E depois me deixará livre para o resto do meu mês de

loucuras como você o chamou?

— Não totalmente. Considero o acordo que fiz com seu avô

muito sério, então, nessa sua viagem de descobertas, irei junto.


Beatrice

Três dias depois

— Tommaso me disse que quer trancar a faculdade.

Não era essa a reação que eu esperava de Mattia.

Ele demonstra um misto de incredulidade e desgosto.

Nunca pareceu muito entusiasmado com a ideia de que eu

virasse médica, mostrando um desejo claro de que eu trabalhasse


com os negócios da família e agora quando digo que preciso de um

tempo, parece chateado.

— Sim, por um semestre. E como ele também deve ter lhe

contado, vou viajar.

— Isso é o de menos — fala, gesticulando com a mão e eu

tenho certeza nesse instante de que Tommaso não contou tudo o


que desejo fazer na viagem. — O que quero mesmo saber é o

porquê dessa mudança repentina em relação a sua profissão.

Porque eu vou precisar de muitas lembranças boas quando

os dias difíceis chegarem.

— Não estou desistindo do curso — falo, ao invés disso. —


Eu só preciso de um tempo.

— Bem, não vou me opor porque sei que Tommaso estará


vigando-a de perto.

Eu pretendia ficar o resto da tarde, mas depois daquilo,


desisto.

Levanto-me e ele não faz nada para me parar, mesmo que eu


intua que saiba que me magoou com o que disse.

— Eu preciso ir.

Antes que eu me abaixe para beijá-lo, pergunta:

— Você é feliz, Beatrice?

— Ocasionalmente.

— O que te falta?

A Beatrice do passado teria evitado a pergunta, mas eu não

sou mais a mesma pessoa de alguns meses atrás, então falo sem

pestanejar.
— Sua confiança.

— Confio em você.

— Tudo bem. — digo, para evitar briga. — Eu tenho que ir.

Dou um beijo em sua bochecha, mas antes que possa sair da

sala de estar, meu celular toca.

Estranho ao ver quem é, mesmo sabendo que Tommaso deu

meu telefone a ela.

— Greta, tudo bem?

— Liguei em má hora, Beatrice?

— Não, hoje é minha folga do plantão.

— Eu sei. Tommaso me falou e eu quero saber se não quer

vir aqui tomar um lanche.

Penso por alguns segundos.

Misturar-me com a família dele é uma maneira rápida de

tornar as coisas mais confusas entre nós.

Ele tem me mandado mensagens todos os dias, já que teve

que viajar para Nápoles a trabalho. Eu respondo de forma contida,

tentando entender as regras desse confuso jogo que estamos


jogando, em que uma hora ele é o tutor mandão, que rege minha
vida, no instante seguinte, o amante sedutor e cinco segundos

depois, o homem indiferente com quem convivi enquanto crescia.

— Tudo bem se já tiver compromisso — diz, parecendo sem

jeito.

— Não, espera. Eu adoraria. Estou saindo da casa do meu


avô agora.

— Ele não vai gostar de saber que vai vir me ver.

— Por que não?

— É uma longa história.

— Tudo bem. Quem sabe você não pode me contar durante

minha visita?

Desligo e percebo Mattia me observando.

— É amiga de Greta, agora?

Sua expressão é vazia de emoção e eu não consigo


adivinhar nada. Vovô nunca fala muito sobre si mesmo e nem sobre

seu casamento com minha avó, que morreu quando deu à luz ao
meu pai.

— Não sei se amiga, mas estamos nos conhecendo. Gosto

dela. Você não? — Arrisco porque algo me diz que existe uma razão
por trás de sua pergunta.
— Não preciso gostar ou deixar de gostar. Ela é só a mãe de

Tommaso.

— Tudo bem. Eu preciso ir encontrá-la — digo, beijando-o

outra vez.

Antes que eu me afaste, segura minha mão.

— Eu só quero que você seja feliz — diz.

— Então não espere a perfeição de mim. É uma carga

pesada de se carregar.

— Se estiver com Tommaso, eu não me preocuparei.

— Pois deveria. Eu tive uma paixonite por ele na


adolescência — falo, em um impulso.

— Eu sei.

— E não se preocupa que isso possa voltar?

— Não. Se acontecer, talvez seja o destino.

Saio da casa com a cabeça completamente confusa.

Eu não esperava ouvir aquilo de Mattia. Achei que ele


enxergava Tommaso como um irmão mais velho para mim.

E agora eu me pergunto se aquela história de me arrumar um


tutor não foi uma desculpa do meu avô para tentar manipular o
amigo.
Infelizmente para ele, se for verdade, suas esperanças de me
juntar ao “seu garoto” como ele mesmo diz, darão em nada.

— Então você e meu filho vão viajar? — a mãe de Tommaso


pergunta quase que imediatamente quando eu ponho os pés dentro

de sua casa.

— Na verdade, não acho que ele esteja muito animado com a

ideia, mas como leva suas responsabilidades a sério…

— Tommaso só faz o que quer, Beatrice. Não nasceu alguém


para obrigá-lo ao que quer que seja.

— Ele adora meu avô. Acredite quando eu digo que não é por
minha causa.

— Eu discordo. Talvez nem ele mesmo saiba, mas é por sua


causa, sim. Mas não a convidei porque quero me meter na vida de

vocês. Minha relação com Tommaso ainda está muito frágil.


Fico sem jeito, sem ter certeza do que ela está falando, então
aguardo.

— Mattia não se aborreceu que viesse me ver?

Penso em ser educada, mas Greta me deixa tão confortável


que me escuto dizendo:

— Não pareceu muito satisfeito. Por quê?

— Quanto tempo você tem?

— O dia todo. Fui hoje cedo na faculdade para trancar o


curso e embora no hospital ainda tenha que comparecer por mais

uns dias, como eu lhe disse antes, hoje é minha folga.

Ela segura minha mão.

— Venha, vamos para a mesa. As conversas que valem a

pena têm que ser feitas perto de boa comida.

Meia hora depois eu não sei se choro por ela, parabenizo-a

por ser tão forte ou lhe dou uma sacudida por ter se deixado ser
usada pelo filho da mãe do Dino.

— Você poderia ter sido minha avó postiça então, se tudo

tivesse dado certo — digo, chocada depois que ela me conta que

quando engravidou de Tommaso, Mattia, que já era viúvo, se


ofereceu para assumir o bebê.
Será que meu tutor sabe disso?

— Em uma realidade paralela, sim, mas a verdade é que


nasci para pertencer a um único homem, Beatrice. Essa é a minha

maldição.

— Eu não sabia que você e a esposa de Dino tinham sido


melhores amigas.

— Fomos a vida toda, até conhecê-lo. Fui eu quem o viu

primeiro. Quem o amou e desejou. Carina apenas fez o que seus

pais mandaram, casando-se com ele. Ela foi criada em uma família
católica rigorosa, onde a palavra divórcio não existe. Custei a

acreditar que ela pediu a separação há alguns meses.

— Espera, não pode começar a me contar uma história assim

sem detalhes. Estou confusa. Parece uma tragédia de um livro.

— Não há muito mais para ser dito. Dino namorava as duas

ao mesmo tempo, mas dizia para mim que só visitava a casa da

família dela porque o pai dele tinha negócios a tratar com o de


Carina. Nessa época, eu e ela já não éramos próximas. Os pais dela

não gostavam de mim.

— Por quê?
— Sempre fui um espírito livre. Regras sociais me

entediavam.

Dou risada porque aquilo parece muito ela mesmo.

— Eu passei um tempo viajando. — Continua. — Minha mãe

achava que eu precisava ficar uma temporada na casa de parentes,

nos Estados Unidos. Talvez ela estivesse antecipando problemas lá

na frente. Quando voltei, eles estavam noivos. Eu chorei por dias e


terminei tudo com Dino. Quero dizer, terminei nem sei o que, porque

ele estava comprometido com outra.

Fico quieta, pois não acho educado dizer o que estou

pensando.

— Acredita que eu ainda tinha uma escolha, né? — pergunta.

— E tive mesmo, até o dia em que Ricco nasceu.


Beatrice

— O que aconteceu?

— No dia em que Ricco nasceu, eu engravidei de Tommaso.

Abro e fecho a boca várias vezes, sem conseguir dizer nada.

Eu nem sei o que é mais errado: se é um homem fazer sexo

com a amante no dia em que seu primeiro filho veio ao mundo —


sim, estou julgando, não sou perfeita — ou ela aceitar as migalhas
que ele lhe jogava.

— Até então, não tínhamos qualquer intimidade. Ao contrário

do que todo mundo pensava por conta do meu temperamento, eu


era virgem.

— E o que a levou a tomar uma decisão tão drástica

justamente no dia em que tudo se tornou tão definitivo entre ele e

Carina? Quero dizer…


— Eu estava bêbada.

— O quê?

— Até aquele dia, não deixei mais Dino me tocar. Sempre fui

orgulhosa, mas quando Ricco nasceu, eu pensei que fosse morrer.

Não sei se você já se apaixonou, Beatrice. O amor pode ser


libertador, mas também sufocante. Faz com que nos sintamos

completas, mas também destroçadas. A dor que eu sentia não cabia

em mim. Sabia que tudo estava perdido para sempre.

— Então, o que aconteceu?

— Ele me encontrou. Eu tinha fugido para uma casa

abandonada que ele me levou para conhecer na primeira vez em

que saímos, quando eu não passava de uma menina. Deus, eu fui


tão tola. Nunca pensei na razão pela qual nunca ficamos juntos em

público, mas Dino sempre foi lindo, dizia as palavras certas e meu

coração adolescente jamais foi páreo para a lábia dele.

Eu nunca imaginei a história pelo ângulo dela. Apesar de não

julgá-la como as outras pessoas da região, sempre acreditei que

teve uma escolha, mas agora já não tenho tanta certeza.

— Você fez amor com ele naquela noite?


— Defina fazer amor. Eu estava bêbada e somente há pouco
tempo, quando tomei a decisão de me afastar, aceitei isso: naquela

noite, Dino abusou sexualmente de mim.

— O quê?

— Eu não me lembro de nada do que aconteceu. Nem dos

beijos que trocamos, se ficamos nus, nada.

— Meu Jesus Cristo, Greta.

— Não nos vimos mais. Eu recordava vagamente do nosso

encontro, mas não que chegamos a fazer sexo, então, um mês

depois, veio a bomba: eu estava grávida. Falei para minha mãe que

eu tinha certeza quem era o pai — já que eu nunca tive outro

namorado — e ela tomou a decisão por mim, me mandando voltar


para os Estados Unidos durante a gestação. Antes, no entanto, fui

procurar Dino e contei do bebê. Ele me disse que estava feliz

porque me amava e não a Carina, mas nem por um segundo me

persuadiu a não ir embora. Só voltei quando Tommaso estava com

dois anos.

— Deve ter sido um escândalo.

— Você não faz ideia. As pessoas achavam que eu tinha

engravidado de um americano. Somente quando meu segundo filho,


Giancarlo, nasceu, os cochichos começaram. Ainda assim, a

maioria pensava que eu era promíscua e que tinha um filho de cada


pai.

— Mas você continuou com ele.

— Sim, eu continuei com ele, acreditando em suas


promessas mentirosas, achando que um dia ele a deixaria.

— E nunca aconteceu.

— Não. Os filhos foram nascendo e minha esperança se


transformou em ódio contra Carina, Ricco e Chiara. Quando os
rapazes estavam quase entrando na adolescência, descobriram que

eram irmãos — estou falando de Ricco e Tommaso — e passaram a


se detestar. Não me orgulho de dizer que incentivei isso.

— Acho que se odiariam de qualquer jeito — falo.

— Quem pode ter certeza?

— Por que aguentou-o por tanto tempo, Greta?

— No começo, por amor e esperança. Já há muito anos, por

orgulho.

— Orgulho?

— Sim. Eu acreditei que uma hora ele me escolheria e


mostraria a toda essa maldita sociedade que era a mim que amava.
Foi por isso que eu lhe disse que meu relacionamento com

Tommaso é frágil. Ele viveu com meus pais boa parte da


adolescência porque eu continuava recebendo Dino em nossa casa.

A maior das ironias é que enxerga em Mattia, o homem a quem eu


rejeitei, uma figura paterna.

— Eu não sei o que dizer — confesso.

— Estou desabafando porque ontem tive uma conversa com


meu filho, Giancarlo. Ele me disse que Ricco quer se aproximar, que

meus filhos conheçam a sobrinha, Paola. Isso fez com que eu me


lembrasse do outro garotinho, Nicolo. Meu ódio por Carina impediu

que meus filhos convivessem com o menino. Eu não só destruí


minha vida, privei-os do contato com os irmãos.

— Sim, você fez, mas dá tempo de voltar atrás. Libere-os.


Não sou a melhor pessoa para aconselhar porque tenho pouca
experiência de vida, mas posso te dizer o que eu faria: permitiria

que meus filhos convivessem com os irmãos. Eu não tenho alguém


além do vovô e quando ele se for, estarei sozinha no mundo. Daria

qualquer coisa para ter uma casa cheia de parentes.

Ela parece atenta a cada palavra e depois de um tempo,

pergunta.
— E quanto a você?

— O que tem eu?

— Está apaixonada pelo meu filho, Beatrice?

— Às vezes penso que sim, outras acho que ainda é


resquício do que senti na adolescência. Tommaso me faz desejar

coisas que nunca experimentei, mas ao mesmo tempo, é inatingível.

— Ninguém é inatingível. Existem os incapazes de sentir, o

que não é o caso do meu filho.

— Pode ser, mas ele me vê como um passatempo. Nós

fizemos uma aposta. Foi um desafio, na verdade, mas não sei se


devo lhe contar a respeito.

— Pule os detalhes picantes, apenas.

Sorrio.

— Okay. Ele me desafiou a deixá-lo viciado em mim.

— Ai, meu Deus. Isso é muito emocionante!

— De uma certa forma, sim. E estou muito disposta a ao

menos tentar, mas fiquei amarrada a uma promessa que fiz ao meu
avô.

— Promessa?

— De me casar virgem.
— Eu não acredito que aquele controlador dos infernos a fez
prometer algo assim.

— Fez e na época, pareceu certo.

— Mas… — Estimula.

— O jogo mudou. Descobri que a vida é curta demais. Eu

quero experimentar, e ao mesmo tempo, não quero decepcioná-lo.

— Já pensou em dizer isso a ele?

— Não. Se bem o conhece, sabe que vovô não é do tipo


aberto para se falar de qualquer assunto.

— O que foi que mudou, Beatrice? Falou que “o jogo mudou”.

Olho para ela, me sentindo insegura. É a mãe de Tommaso e


temo que me julgue, mas por fim me decido.

— Ficarei doente no futuro.

— O quê?

Conto sobre o teste de DNA.

— Não há dúvida?

— Não, é uma certeza. Dentro de alguns anos, estarei

doente. Não tem cura e não há nada que eu possa fazer a respeito.

A faculdade de medicina… eu vou concluí-la, claro, mas não poderei


exercer a profissão que eu sempre quis, de neurocirurgiã, por muito

tempo.

— Filha, eu não sei o que dizer.

— Que a vida é uma droga?

Ela me puxa para os seus braços e pela primeira vez desde a


descoberta, me permito chorar. E quando começo, não consigo

parar.

Ela me consola com abraço, não com palavras e me sinto

agradecida por isso.

— Sinto muito, Greta. Vim para conversar sobre você e no

fim, eu que estou desabafando.

— Você me disse para liberar meus filhos. Deixar que

convivam com os irmãos, formem uma verdadeira família. Libere a


si mesma, Beatrice. Fazendo minhas as suas palavras, não sou a

melhor pessoa para aconselhar, mas se o que está dizendo for

verdade, e que dentro de alguns anos tudo vai mudar, viva o hoje.
Mattia não tinha direito de lhe obrigar a fazer uma promessa sobre

seu corpo. Ele é seu e ninguém deve ditar seus desejos ou

vontades. Não estou dizendo isso porque Tommaso é meu filho, eu


juro. Falo por você. Qualquer um de fora percebe a faísca entre
vocês dois. Aproveite-as, queime-se se for o caso, mas se tiver que

se arrepender, faça pelos seus erros, não por covardia.


Tommaso

Dois dias depois

Olho em volta da mesa de jantar da minha vinícola, onde pela


primeira vez meus seis irmãos estão reunidos.

Eu sabia que Giancarlo ia conversar com nossa mãe sobre


Ricco e Chiara, mas mesmo depois que ele me contou que ela não

reagiu mal, eu não acreditava que ela fosse ceder tão fácil. Fiquei
surpreso quando Greta me telefonou hoje cedo, assim que cheguei

de Nápoles, dizendo que não se oporia a uma reunião nossa com os


filhos de Carina.

E agora estamos aqui, tentando ultrapassar os abismos de


anos de antagonismo bilateral.
— Luna quer que conheçam Paola o quanto antes — Chiara

disse e em seguida, falou também que gostaria de ser apresentada


a Edoardo, o filho de Giovanna.

A partir daí, o clima ficou mais leve e após algumas taças de


vinho, até mesmo sorrisos eventuais surgiram.

Eu não tenho dúvida de que as mudanças não ocorrerão do

dia para a noite, mas ainda assim, há esperança.

— O que você tem? — pergunto a Giancarlo, que a despeito

de um comentário ou outro, parece distraído.

— Não sei do que está falando.

— Parece preocupado com algo.

— Hum… não exatamente preocupado. Pensando na


companhia aérea que acabo de comprar.

— Oba, passagem de graça para todos — Donatella diz e eu

reviro os olhos.

— Qual foi a última vez que viajou em um voo comercial? —

pergunto, já que meu avião privado leva-a onde ela onde deseja ir.

Gaetano e Giancarlo também possuem seus brinquedos, então

acho que se ela responder “nunca”, estaria bem próximo da

verdade.
— Voos comerciais são divertidos — Chiara intervém e
Donatella pisca um olho para ela.

— Não é? Esses donos do mundo aí não sabem de nada.

Volto a olhar para Giancarlo.

— Por que diabos comprou uma companhia aérea?

— Era um bom investimento.

— Ele tem razão — Ricco diz. — Quase fechei negócio há

cerca de um mês. Qual você comprou?

Quando ele fala o nome, Ricco franze a testa.

— Uma companhia americana?

Meu irmão limpa a garganta e é quando tenho certeza de que

está me escondendo algo.

Aproximo-me para que só ele me ouça.

— Isso tem alguma coisa a ver com aquela cigana que veio

com você para a Itália daquela vez? Como era mesmo o nome

dela? Eloísa?

— Elodie[36] — ele responde. — E a única coisa que vou dizer

é “talvez”. Caso contrário, terá que me contar também por que você

e a neta de Jilani estão desfilando pelo eixo Estados Unidos-Europa.


Fecho a cara.

— Não é da sua conta.

— Eles estão namorando — Giovanna diz e todos riem, até

mesmo Ricco.

Bom, se me expor foi uma maneira de fazer meus irmãos

mais relaxados uns com os outros, que seja.

Uma hora e meia depois, estamos todos saindo da vinícola

quando meu telefone vibra com a chegada de uma mensagem.

Beatrice: “Queria saber se foi tudo bem com o encontro de irmãos.”

Toco no celular para completar a ligação.

— Já está deitada para dormir?

— Ainda não.

— Eu quero te ver.

Sei que não deveria aparecer lá a essa hora, mas depois da


despedida fria que tivemos em sua casa naquele dia, antes que eu

viajasse, estou ansioso para reencontrá-la.

— Não sei se devemos.


— Por que não?

— Estou com saudade.

— Chego aí em meia hora, no máximo.

Quando abriu a porta para mim, Beatrice estava corada e

parecia sem fôlego também, mas não tomou a iniciativa de se


aproximar.

Horas depois, eu me perguntei se foi aquilo que rompeu meu


autocontrole. Se ao vê-la determinada a impor distância de mim,

quando tudo o que eu ansiava era a pele de seda em meus dedos,


enroscar o punho naquele cabelo vermelho e trazer sua boca para
onde eu queria, foi o que me fez praticamente atacá-la em seguida.

Ataque é uma boa palavra para o que aconteceu.

Sem nos falarmos, eu a peguei no colo e fechei a porta com o


pé.
Suas pernas, como se tivessem feito aquilo desde sempre,
enroscaram em minha cintura e as mãos delicadas me enlaçaram o
pescoço.

Eu quase podia sentir a força com que seu coração batia e


seu descontrole aferventou ainda mais meu sangue.

Seus olhos se fecharam e ela entreabriu os lábios, como que


à espera dos meus beijos.

Sou um cara vivido e que provavelmente somo sozinho uma


quantidade de parceiras que talvez uns cinco homens com vida
sexual ativa tenha tido ao longo do caminho, mas a entrega de

Beatrice me deixa louco de tesão.

— Você me faz queimar — diz, entre beijos, enquanto nossas

línguas se devoram. — E sou eu quem deveria te viciar em mim.


Logo que acontecer, ambos estaremos livres.

Não quero ouvir aquilo. Haja o que houver, temos ao menos


seis meses, então a calo com minha língua.

Meu corpo comprime o dela contra a parede ao lado da porta.

Beatrice segura meu rosto com as mãos, me chamando para

mergulhar mais profundamente em sua boca.

— Você é tão gostosa, quente, macia.


Ela usa meus ombros de alavanca, descendo e subindo no
meu pau. Veste somente um pijama fininho, então consigo sentir o
contorno perfeito de seu sexo.

— Eu não quero me sentir assim. — diz.

— Assim como?

— Como se eu te pertencesse.

Eu sinto o mesmo, mas incapaz de colocar aquilo em


palavras, opto por explorar sua boca com a minha língua.

Ela está sedenta e entregue. Chupa e lambe tudo o que

alcança e só o que consigo pensar é naquela boca quente em volta

do meu pau.

Beatrice não faz ideia de como é dolorosamente provocante e

que suas subidas e descidas no meu eixo estão me roubando o

autocontrole.

A fome entre nós é voraz, violenta e somente senti-la assim

não é suficiente.

Ando para a sala de estar e sento-me em uma poltrona com

ela no colo.

— Tire a camiseta. Eu quero ver esses peitos — sussurro em


seu ouvido.
— Faça — diz.

— Não. Mostre-se para mim. Quero que tenha certeza de que


deseja isso também.

Por um instante, nossos olhos ficam presos uns nos outros,

mas como se a distância fosse insuportável, uma refinada tortura,


ela me puxa para um beijo. Suas mãos não estão mais nos meus

cabelos, estão abrindo os botões do pijaminha.

A despeito do que eu falei, a espera é inaceitável, então a

dispo eu mesmo.

Pressinto seu sorriso dentro da minha boca, como se a minha

ansiedade a excitasse e sua língua, que tem gosto de mel, me

convida para a dança.

Eu a afasto porque quero olhá-la, mas a visão dos peitos,


grandes para seu tipo físico, bicos rijos e mamilos rosa escuros, me

fazem rosnar.

Brinco com um, roçando as costas do dedo e ela geme alto.

Agarro sua cintura e a faço ficar de joelhos, uma perna de

cada lado do meu corpo, mas ela é pequena demais, então a ponho

apoiada nas minhas coxas e olhando-a, lambo um mamilo.

Beatrice dá um longo gemido, sexy para caralho.


Sua língua escapole, passeando pelos lábios e quando

mordisco o bico durinho, ela crava os dentinhos no lábio inferior.

Minhas mãos correm por suas costas e bunda e enquanto eu

mamo seu peito, meus dedos brincam com a cintura do pijama.

— Quero você só de calcinha.

— Só se me deixar te sentir também.

— Não vou ficar nu. Não sou tão forte assim.

Sem esperar minha resposta, sua mão desce até meu zíper,
brincando.

— Só sentir. Pode ser por cima da boxer.

Foda-me, ela vai me causar um infarto.

Irritado com o descontrole que ela me provoca, chupo seu


peito com fome, enquanto abaixo seu shorts.

Ela termina de tirá-lo, se senta sobre meus joelhos e puta

merda, não pode existir nada mais delicioso do que Beatrice com as
mãos apoiadas para trás, mostrando-se para mim.

Eu sei o que ela quer e mesmo me sentindo um adolescente

na primeira foda, deslizo o zíper da calça e me erguendo um pouco,


a escorrego pelo quadril.
Ela não espera convite e me monta. Na primeira esfregada

no meu pau, choraminga, jogando a cabeça para trás.

— Está tentando me matar?

— Preciso te viciar em mim — diz. — Diga-me se estou

fazendo direito.

Descontrolado, não respondo e rasgo sua calcinha, deixando-


a completamente nua.

— Você vai gozar em mim. Quero sentir o calor dessa boceta

na minha carne.
Tommaso

Eu nunca estive com uma virgem e não tenho a menor ideia


se a virgindade de Beatrice significa completamente virgem, do tipo

nunca viu um pau ao vivo.

Também não sei como dosar o que quero dela. Tenho uma

boca suja durante o sexo.

Entretanto, assim que falo, ela toma a iniciativa de descer


minha boxer e eu uivo de tesão quando sinto seu corpo sobre o

meu, seu mel umedecendo minha extensão.

— Beatrice.

— Fiz algo errado?

Eu não consigo responder. Não com aquela deusa nua no

meu colo. Não com os lábios de sua boceta ensopada me


provocando. Não com aqueles peitos lindos, que se mexem a cada

esfregada que dá.

— Só… continue — falo com uma voz estrangulada enquanto

ela se move, masturbando a nós dois.

Tenho certeza de que meus dedos deixarão marcas na carne


branca de sua bunda, porque eu a seguro com aspereza,

impedindo-a de parar de se mexer.

— Eu quero te comer. — falo em seu ouvido. — Quero entrar

devagarzinho nessa boceta, te abrindo centímetro por centímetro.

Ela geme em resposta.

Com os corpos unidos, roçando, as bocas se buscando,


unhas que arranham, somos uma bagunça de desejo, fome bruta,

sem ensaio.

— Você é tão grande, mas se encaixa perfeitamente em mim.

Olho para baixo, onde os lábios de seu sexo estão separados

pelo espessura do meu pau.

— Já fez isso? — pergunto.

— Nunca tive qualquer intimidade com um homem.

— Porra, Beatrice, não pode me dizer essas coisas porque

faz com que eu me sinta como um neandertal.


— É verdade. Só quero você.

Ela me beija como se eu fosse ar e comida. Estamos

entorpecidos de desejo.

— Você me deixa louco. Não há nada que eu queira mais do

que mergulhar no seu corpo, te encher todinha.

O beijos são cada vez mais profundos, quase rudes, imitando

o vai e vem dos corpos.

As línguas duelam, adentram-se, consomem em uma

provocação perversa porque sabemos que não podemos ir até o

fim.

Minhas mãos a apertam com aspereza quando sinto, por sua

respiração, que ela está muito perto do gozo.

Saber que nenhum de nós conseguirá o que quer faz com

que busquemos o orgasmo com ainda mais ganância. Os corpos se

resvalando sem contenção, provocando tontura, dor pela fome não

satisfeita.

Eu ainda me prendo às regras para não terminar

profundamente enterrado nela, mas Beatrice as menospreza,

subindo cada vez mais, a entrada apertada de sua boceta alinhada

com a cabeça do meu pau.


Belisco seu mamilo, punindo-a por quase me matar de tesão,

mas aquilo parece excitá-la.

— Faça de novo.

— Porra, mulher.

É um jogo de sedução, mas é também sobre marcar um ao

outro, inserindo-nos mutuamente na memória, tornando impossível


esquecer essa noite.

— Tommaso.

— Goza para mim, bella.

— Meu Deus! Por que tem que ser tão perfeito?

Parece falar consigo mesma, descontrolada, selvagem. Um

tesão.

Com um último gemido dentro da minha boca, ela se entrega,

agarrada na minha camisa, pedindo por mais, implorando para eu


não parar.

Eu espero que seus tremores diminuam e inverto nossas


posições.

— Separe mais as coxas — falo quando fico em pé à sua

frente.
Ela custa a entender o que estou dizendo, mas quando vê

que estou me masturbando, parece despertar da onda do gozo.

— Eu quero fazer isso.

— Não.

— Por favor. — Insiste.

Mudo de ideia. Não lhe dando tempo para argumentar, eu a


viro de costas para mim.

— Recline sobre o sofá.

A tentação ruiva obedece e quando vejo as marcas das

minhas mãos na bunda branquinha, explodo em um orgasmo longo,


derramando minha semente em suas costas. Mas ainda não estou
satisfeito e me inclino para frente, quase deitado sobre ela e

sussurro em sua orelha.

— Quero gozar dentro de você, Beatrice. A partir desse

instante, esse vai ser meu objetivo de vida.

Ela estremece quando beijo seu pescoço. Deixa escapar um

gemido e arqueia-se, me dando mais acesso a sua orelha.

Viro seu rosto para mim e a beijo profundo, mas por mais que

eu queira começar tudo de novo, sei que é muito arriscado.


Se Beatrice quiser ir até o fim, terá que se decidir sozinha.
Não serei aquele a forçá-la a quebrar uma promessa.

Então a ponho de volta no sofá e fecho minha calça. Depois,


pego-a no colo.

— Onde é seu quarto?

— Por quê?

— Eu gozei em você. Vou te limpar.

Seus braços rodeiam meu pescoço.

— Nunca vou me esquecer de hoje. Acho que estou mais

para seduzida do que sedutora, mas não importa. Eu adorei cada


segundo.

Não sei mais qual papel se encaixa em qualquer um de nós e


eu não me importo.

— Quer ajuda com o banho? — pergunto quando chegamos


no quarto.

A despeito de estar nua em meus braços, ela cora.

— Não. Só preciso de cinco minutos.


Cerca de dez minutos depois, ela volta à sala. Dessa vez,

vestida de shorts jeans e camisetinha branca.

Sem falar nada, monta no meu colo e me beija.

— Embaralhamos todas as regras — diz. — Não sei mais


quem você é para mim. Tutor? Sedutor?

— Precisamos de um rótulo?

— Eu não sei. Rótulos significam segurança. Eu não quero


que você saia com outras mulheres enquanto estamos… huh…

nesse desafio de prazer.

— Desafio de prazer, é?

— Tem nome melhor? Parece que entramos em uma corrida


para deixar o outro doido.

Seguro seu rosto e a forço a me olhar.

— Não precisamos de rótulos. — falo. — Rótulos não


significam nada. Dino deu o de esposa para Carina e a traía com a
minha mãe. Assim, basta que você saiba que enquanto o que temos

durar, seremos só nós dois.


Tommaso

Três dias depois

Beatrice parece nervosa enquanto para o carro em frente ao


manobrista de um dos restaurantes mais frequentados pela alta
sociedade de Florença e eu sei a razão: é a primeira vez em que ela

aparecerá em público depois do episódio de Nova Iorque, que não


seja para trabalhar ou algum evento em família.

— Donatella vai vir também? E Gaetano, né? Você disse que

seu irmão está na cidade.

Eu estava me preparando para sair do carro, mas paro.

— Está muito agitada. Não dê a mínima para o julgamento

alheio.
— Fui criada para me importar com o que as pessoas

pensam de mim.

Porra, eu amo Mattia, mas não nesse momento. Não sei se

ele faz ideia de que ao tentar criar a neta para ser completamente
diferente dos pais, acabou por minar sua autoconfiança, deixando-a

excessivamente preocupada com o que esses hipócritas pensam

sobre ela.

— Você vai entrar comigo. Eu chamo muito mais atenção.


Sou um pária, está lembrada? O filho do pecado. Deveria estar mais

preocupada é em ser vista ao meu lado.

Não disse aquilo porque me importo com a opinião alheia,

mas para que ela perceba que sempre haverá um desocupado que

ao invés de cuidar da própria vida, disfarça a mediocridade de sua

existência tomando conta da dos outros.

— Eu não ligo para o que eles pensam de você ou da sua

família. Adoro Greta e Donatella, os membros que conheço.

— Só elas duas? — Não resisto em provocar.

Ela me dá uma revirada de olhos sexy.

— Não precisa de massagem no seu ego.


— É sempre bom reforçar. E para seu conhecimento, gosto
de massagens de uma maneira geral.

Ela solta o cinto de segurança e se aproxima de mim, quase


subindo no meu colo.

— É mesmo? Então por que quase não me deixa tocá-lo?

Sua voz fica rouca e posso ver a mudança de clima leve para

tensão sexual entre nós.

— Porque se me tocar, eu não confio em mim mesmo para

conseguir parar.

Tenho evitado ficar sozinho com ela depois do que aconteceu

em seu apartamento. Nós passamos de zero a cem rápido demais e

eu não quero que Beatrice se sinta obrigada a dar um passo maior

do que está pronta.

Assim, sua pergunta seguinte me surpreende para caralho.

— E se eu não quiser que pare?

Eu a encaro em silêncio, tentando adivinhar se está


brincando ou se quis mesmo dizer aquilo, mas ela não desvia os

olhos.

— Se não quiser que eu pare, terá que dizer isso em voz alta.

Eu quero você, mas não persuadindo-a a ir contra o que acredita, e


sim se entregando por escolha.

Ao invés de me responder, ela se ajoelha no banco do carro e

fala de maneira enigmática em meu ouvido.

— Temos trinta dias de viagem. E eu pretendo aproveitar


cada um deles.

— Uma viagem de aventuras! Por que nunca me chamou


para algo assim? — Donatella pergunta antes de dar um gole no

prosecco[37].

— Pode ir. Eu pago — falo e ela me faz uma careta.

Por mais que eu ame minha irmã, sua veia midiática vai
contra meu modo de levar a vida. Não gosto de redes sociais.
Nunca tive, nunca terei. Viajar com alguém que registra em vídeo

absolutamente toda e qualquer atividade me enlouqueceria.

— Quero companhia.
— Então por que não acompanha Gaetano na próxima

temporada?

Meu irmão ergue os braços, como que me mandando parar.

— Opa, não posso cuidar de alguém.

— Não preciso ser cuidada — ela responde, sem entender o

que ele está dizendo.

— Acho que seu irmão quer dizer que não quer carregar uma

“vela” do lado, Donatella. — Beatrice explica e minha irmã cora.

— Como pude me esquecer de que o senhor campeão de

fórmula um vive cercado de fãs?

— Nunca saí com uma fã — ele se defende.

— Todo mundo é seu fã, mesmo que não digam isso em voz
alta — Donatella fala e um sorriso pretensioso se desenha no rosto
dele.

— Não gosto de fórmula um — Beatrice solta distraidamente


antes de dar uma garfada na salada que pediu de entrada. Quando

todos ficam em silêncio, levanta o rosto do prato. — O que foi?

O ar ofendido do meu irmão é impagável.

— Nada. Acho que ele é sensível quando se fala mal de seu


esporte. — Explico.
— Eu não falei mal, apenas acho sem graça, assim como
basquete.

— Okay, senhorita. Agora você ultrapassou todos os limites.


Retrate-se ou teremos um problema aqui. — Meu irmão continua.

Donatella dá risada e eles começam uma discussão de como

o basquete é entediante.

O restaurante em que estamos é relativamente pequeno,

seleto, eu diria, na verdade. Ainda assim, muito famoso e bilionários


como nós viajam de várias partes da Itália para jantar aqui.

Quando entramos, pude ver as cabeças se virando para olhá-


la. Beatrice é uma garota ainda e eu notei que estremeceu ao
perceber que era o centro das atenções.

Dando um foda-se aos fofoqueiros e mesmo sabendo que


minha atitude iria gerar ainda mais comentários, entrelacei nossos

dedos e não a soltei até que chegássemos à mesa onde meus


irmãos já nos esperavam.

Enquanto os três conversam, eu a observo.

Talvez por ter saltado de enxergá-la como a neta de Mattia

para em seguida, uma mulher sensual que me enlouquece, eu


nunca tenha notado suas outras qualidades.
Beatrice é irônica e consegue com algumas tiradas
engraçadas, destroçar o ego do meu irmão sem ser grosseira.

Seu sorriso é sempre enviesado, como se guardasse


segredos, mas presta muita atenção à conversa e sempre
argumenta de volta, fazendo com que seu interlocutor se sinta

especial.

Ela dá a primeira garfada no prato principal que o garçom


acaba de servir e seu suspiro de prazer me causa um choque de

desejo, remetendo minhas lembranças à última noite em que

estivemos juntos em seu apartamento e em seguida, para o que ela


me disse no carro antes de entrarmos no restaurante.

“Temos trinta dias de viagem. E eu pretendo aproveitar cada

um deles.”

Nós estamos jogando um jogo arriscado, eu sei.


Principalmente, eu. Beatrice é muito próxima do meu mundo para

que, quando tudo acabar, eu possa apenas virar as costas e seguir

adiante.

Não bastasse minha amizade com Mattia, Greta fala dela


toda vez que conversamos e minha mãe não é do tipo de pessoa

que gosta de alguém de cara.


Ela se volta para mim de repente e quando percebe que

estava sendo observada e talvez, entendendo o que estou


pensando, seu sorriso morre.

Estou confuso para cacete. A começar do porquê me ofereci

para ir junto nessa viagem. Sim, porque aquela desculpa idiota


sobre tomar conta dela não foi nada além disso: uma desculpa.

Apesar do que aconteceu em Nova Iorque, não acredito nem

por um segundo que sua personalidade seja autodestrutiva, embora

ainda não consiga entender aquela história de trancar a faculdade


porque a vida é curta.

O restaurante começa a encher, mas não estou prestando

atenção à nossa volta, e sim absolutamente concentrado na mulher


que me fascina mais a cada dia.

Então, fico surpreso quando alguém diz atrás de nós:

— Precisei atravessar o oceano para te encontrar. Por que

não atendeu meus telefonemas ou respondeu às mensagens?

Meu sangue esquenta quando reconheço a voz do bosta e

quando viro-me para Beatrice, ela está pálida.

Apesar disso, não recua.


— Boa noite, Diego. Primeiro, você está sendo rude com

meus amigos. E em segundo lugar, já ouviu aquele ditado: nenhuma

resposta já é uma resposta?

— Vai me trocar por umas noites de sexo? Porque ele nunca


vai te oferecer nada, além disso. — diz, se referindo claramente a

mim.

Eu me levanto e somente por respeito a Beatrice não lhe


acerto um soco, mas me aproximo tanto que nossos rostos ficam a

poucos centímetros de distância.

— Repita o que você falou e prometo que vai passar os

próximos dias reconstruindo seus dentes. Não se engane comigo,


moleque. O terno caro é só uma fachada para esconder o animal

dentro de mim.

— Ela é minha namorada. — Seu tom muda, mas a


arrogância não.

— Eu não sou. Terminamos e sabe bem disso.

Apesar do estabelecimento ser pequeno, as poucas mesas

são afastadas umas das outras, então para quem observa de fora,
pareceríamos mais dois amigos conversando. Entretanto, todos

sabem que ele e Beatrice foram namorados e eu não tenho dúvidas


de que os fofoqueiros ficarão eufóricos por presenciarem o suposto

triângulo amoroso.

Eu quero que todos se fodam. Minha única preocupação é

protegê-la.

— Brigamos. — ele diz.

— Terminamos — ela repete. — O que está fazendo aqui,


Diego? Scarlet te deixou?

— Você me abandonou por ciúmes? Eu te expliquei que ela

era somente diversão.

— Não foi por essa razão, e sabe bem disso. Eu nem


desconfiava da sua amante quando falei que queria terminar.

— Um homem tem suas necessidades…

— Saia — falo e ele me encara por um instante, mas depois


dá um passo para trás.

Sabe que estou falando sério.

— Okay, aqui está um aviso — Donatella diz. — Persiga ou

embarace meu irmão e a namorada dele outra vez, e eu juro por


Deus que vou te fazer ficar famosão. Tenho um milhão de

seguidores. Você será notícia por meses.


O filho da puta covarde empalidece e se eu não estivesse

com tanta raiva, seria capaz de sorrir quando o vejo ir embora.

Volto a me sentar.

— Sinto muito por isso — Beatrice se desculpa.

— Ele estava te perseguindo? — pergunto a ela. — Não me

falou nada.

— Porque posso resolver meus problemas sozinha. E não foi

perseguição, só me enchendo com mensagens. Ele achava que


iríamos casar.

— O quê? Com aquele idiota? — minha irmã pergunta em

sua honestidade habitual.

— Acho que meu avô não desestimulou seus delírios —

minha ruiva diz.

— Estava namorando para casar? — Donatella continua e

depois, nada discretamente, olha para nós dois.

Ninguém precisa ser um gênio para entender o que está

pensando e as bochechas de Beatrice ficam rubras.

— Não precisa se preocupar. Não estou trazendo seu irmão

para uma armadilha ao viajarmos juntos — ela fala aquilo em tom de


brincadeira, mas já a conheço o suficiente para saber que encara o

que diz com seriedade.

— Pode ser que seja uma armadilha na qual ele deseje

entrar, já pensou nisso? — Donatella continua, talvez por eu não tê-

la desmentido quando chamou Beatrice de minha namorada.

— Hum… não vejo como. Eu nunca vou me casar — ela


responde e eu estudo seu rosto para ver se está falando aquilo para

salvar seu orgulho, com base na conversa de não termos rótulos ou

amarras.

Não está. O que noto nela é a mais absoluta determinação.

Algo mudou no modo como Beatrice encara o mundo. Há

alguns meses, eu diria que não demoraria muito e ela ia querer se

casar e formar uma família. Agora, trancou a faculdade e deseja


aproveitar a vida.

O que diabos está acontecendo?

Prometo a mim mesmo que até o fim dessa viagem, eu vou


descobrir.
Beatrice

Bertinoro[38] — Itália

No dia seguinte

— Eu não fazia ideia de que os vinhedos de Mattia eram tão


extensos — falo, enquanto percorremos as parreiras de uva da

propriedade do meu avô.

— Nunca teve vontade de visitá-los?

— Ele já me trouxe algumas vezes quando eu era criança, na

época da vindima[39], mas depois de adulta, não. Eu não sou muito

fã de cidades grandes, como Nova Iorque. Para morar, quero dizer.


Por outro lado, viver no campo também não me atrai. Gosto de um

meio-termo, como Florença, onde temos um pouco de tudo.


Eu não sei se ele percebe que desde que descemos da moto

com a qual viemos visitar a propriedade, porque segundo ele, ficava


mais fácil de acessar certas áreas da vinícola, não soltou mais

minha mão.

Eu tento manter meu coração em um ritmo saudável porque

ter taquicardia durante o próximo mês inteiro pode ser perigoso,

mas cadê que consigo diminuir o efeito que ele tem sobre mim?

— Eu comprei a Castiglion para irritar Ricco, tornando-me


seu principal concorrente na região, mas agora não me imagino

morando em qualquer outro lugar.

— É inacreditável ouvir isso. Você exala tanta energia que é

difícil imaginá-lo vivendo pacificamente em uma região como a

nossa. — Paro de falar, pensando se devo perguntar o que quero,

mas acabo por me decidir que se vamos viajar juntos, não posso

pisar em ovos o tempo todo. — Sua mãe me disse que nasceu nos
Estados Unidos. É meio americano então, né? Pelo que li uma vez,

quem nasce em solo estadunidense ganha cidadania automática.

— Sim, eu sou — diz, simplesmente.

— Não estava querendo ser enxerida, mas é que Greta me


contou a história da vida dela e lembrei disso agora. Nunca teve
vontade de morar lá?

— Não me considero americano. Sou cem por cento italiano.

Só nasci em outro país por força do acaso.

Seu tom muda.

— Sinto muito.

— Por quê?

— Ficou óbvio que não gosta de falar no assunto.

Ele para de andar e me abraça.

— Não gosto de me lembrar das circunstâncias do meu

nascimento e nem da minha infância.

— Nada do que aconteceu com seus pais foi culpa sua.

— Eu digo o mesmo em relação aos seus e no entanto,


permite que Mattia a manipule ao ponto de forçá-la a uma

promessa. Falou no outro dia que não pretende se casar. Vai ficar

virgem para sempre? E antes que possa pensar que estou

perguntando isso em meu benefício, não é, mas porque cada célula

do seu corpo lindo implora para experimentar, aprender.

— Eu tenho pensado muito a respeito.

— E?
— Não sei como dizer ao meu avô o que preciso. É algo

íntimo demais.

— Dizer o quê?

— Por mais que eu o ame, ele não pode mandar no meu


corpo ou desejos. Você está certo. Eu quero experimentar tudo.

— Para ter lembranças.

— Sim, para ter lembranças.

Solto-me da sua mão porque preciso de distância. Tenho que


saber impor limites ou ao final dessa jornada de um mês, meu

coração inexperiente acabará destroçado.

— Foi tudo bem no passeio de hoje? — meu avô pergunta ao


telefone.

Estou me arrumando para o jantar, que o gerente da vinícola

disse que seria servido no terraço exclusivo, cujo acesso é somente


para o meu avô.
Não sei de onde o homem tirou essa ideia, mas não serei

aquela a reclamar. Como eu disse a Tommaso hoje cedo, quero ter


tantas lembranças boas quanto eu puder acumular.

— Por que acho que já sabe a resposta?

— Porque já sei, mesmo. Falei com Tommaso antes de lhe

telefonar e ele me disse que você fez muitas perguntas sobre nossa
vinícola.

Tanto quanto fico feliz com o elogio porque a validação do


meu avô é muito importante para mim, não posso deixá-lo criar uma
bolha de ilusão, como fez em relação a Diego.

— Mattia, eu nunca vou ser uma administradora. Eu não


tenho a mesma paixão por vinho que você e Tommaso. Deveria

pensar em torná-lo seu sócio.

— Eu tenho uma ideia melhor — diz, misteriosamente. —

Mas agora, me conte: estão embarcando amanhã para Nova


Orleans?

— Estamos, sim. Já fiz uma lista enorme das coisas que

quero ver pela cidade. — Pauso antes de lhe perguntar — Por que
não está louco comigo, vovô? Quando eu disse que trancaria o
curso, ficou chateado, mas agora que sabe dos meus planos nesse
um mês de aventura, não argumentou contra.

— Eu confio em Tommaso.

Meu coração afunda.

— E em mim não?

— Se eu disser que sim, vai dispensar seu tutor?

— Não.

— Por que não?

— Porque gosto de estar com ele.

— Pensei que o detestasse.

— Não muito. Só quando age como um bastardo arrogante.

— O que significa quase sempre. Assim como eu.

Uma desconfiança começa a despontar na minha cabeça e

ao contrário das outras vezes que deixo passar, resolvo dar voz ao
que estou pensando.

— Não crie fantasias na sua cabeça, avô. Depois desse um


mês juntos, Tommaso voltará ao papel de meu tutor.

— Ele já saiu dele alguma vez?


— Nós dois saímos, várias vezes, mas também colocamos
limites. Ele vai me levar para conhecer os lugares que eu desejo,
tomando conta de mim como o senhor pediu. Pretendo que o tempo

que vamos passar juntos seja um acúmulo de boas lembranças,


mas quando voltarmos, é tudo que serão. — Respiro fundo. — Eu

nunca vou me casar. Nem com ele e nem com ninguém.

— Por que não?

— Eu não estou pronta para explicar a razão agora, mas o

senhor precisa saber que essa é uma decisão definitiva.

— E a promessa que me fez?

— Libere-me. Não sou como meus pais. Me dê um voto de


confiança.

— Podemos fazer uma troca.

— Em relação ao quê?

— Você e Tommaso. Eu esqueço a promessa e você não

toma uma decisão definitiva sobre nunca se casar.

— Com ele, você quer dizer, né? Porque eu consigo ver as

engrenagens de sua cabeça girando. Vou te dizer o seguinte:


mesmo que eu mudasse de ideia, Tommaso nunca se casará
comigo e se eu estiver certa, nem com ninguém, mas se para

desfazermos o acordo antigo preciso concordar com isso, tudo bem.

Quando desligo o telefone, não me sinto preocupada, e sim

livre. Não precisarei quebrar minha promessa porque ela está

desfeita e muito menos me preocupar sobre casamento, porque a


despeito do que meu avô pensa, o que existe entre mim e Tommaso

é atração.

De onde eu vejo, fiz um ótimo negócio.


Tommaso

Há um brilho diferente, irresistível em Beatrice essa noite.

Eu a esperei no terraço onde pedi que o gerente colocasse a


mesa para o nosso único jantar em Bertinoro, já que amanhã cedo
embarcaremos para Nova Orleans.

Eu não faço o tipo romântico. Como poderia? Por escolha,

nunca mantive relações a longo prazo, de modo que as coisas não


evoluíam ao ponto de que eu desejasse criar uma atmosfera

especial para uma mulher, mas eu quis que esse primeiro jantar de

nossa viagem ficasse marcado.

Enquanto ela caminha sorrindo até onde estou, digo a mim


mesmo que organizei tudo aquilo porque estou comprometido a

contribuir para suas boas lembranças, mas até aos meus ouvidos

soa como uma mentira fodida.


Seus ombros estão de fora, em um vestido sem alças ou

mangas e o desejo de morder a pele exposta é quase incontrolável.

Hoje é o primeiro dia de um mês inteiro juntos e eu nunca me

imaginei passando tanto tempo com a mesma mulher. Beatrice me


faz não só desejar isso, mas ansiar para ficarmos sozinhos, longe

da família e da consciência de que talvez estejamos cometendo um

erro.

— Você está me olhando de um jeito esquisito — diz, quando


aceita minha mão e se aproxima.

Seu rosto transparece tantas emoções que por um momento


eu não consigo falar nada.

O que estou fazendo com ela? Com nós dois? Não há


chance de que não saia machucada no fim.

— Há algo errado?

— Nada errado — minto.

Sua expressão cai.

— Espero que não seja dessa forma que negocia sobre suas

empresas. Você mente muito mal.

Ela dá um passo para trás e eu sei que fiz merda.

— O que quer que eu diga, Beatrice?


— A verdade. Sempre.

— Não quero te machucar.

— Eu sei.

— Sabe?

Ela acena com a cabeça em resposta.

— Eu também não quero me machucar, então pegando

emprestado suas palavras do outro dia: acho que esse é um bom

começo: ambos concordando que não devo ser magoada. Se está


preocupado com o que Donatella disse naquele jantar sobre sermos

namorados, não precisa. Acho que sua irmã é romântica e só vê o

que quer.

— E você não é?

— O quê? Romântica?

— Isso.

— Acho que costumava ser.

— E agora?

Surpreendendo-me, se aproxima e faz um gesto de “vem

aqui” com o dedo indicador. Quando me abaixo, ela sussurra na


minha orelha:
— Agora, a expressão “sem amarras” soa como o paraíso

para mim. Sei que não vai esperar nada além do que teremos
nesses trinta dias. Ninguém se machuca. Fim da história.

Depois disso, ela me dá um beijo suave nos lábios e toma


seu lugar à mesa.

Como eu havia combinado com o gerente, uma música suave

começa a tocar, mas eu nem presto atenção, concentrado em tentar


desvendá-la, estudando-a para ver se o que disse é um blefe.

A conclusão me irrita: Beatrice está falando sério.

— Disse que seu amigo de Nova Orleans deu sugestões de

programas? — pergunta.

— Deu, sim.

— O que há de errado? — Ela ia dar um gole na água, mas


para no meio do caminho.

— Você me surpreendeu com seu desprendimento — falo


com sinceridade.

— Acredite, eu não sou desprendida. — Sorri.

— O quê, então? Por que simplificou o que temos? Sem

amarras não parece combinar com você.


— Eu não sei o que combina comigo — diz, se levantando e

novamente me pegando de surpresa, vem para o meu colo e se


senta de lado. — Estou me testando. Foi por isso que tirei esse

tempo, em primeiro lugar.

Ela me dá um beijo no queixo e não parece se importar com

os garçons que se movimentam para nos servir, mas eu sim. Com


um aceno de cabeça, os dispenso.

Eu gosto desse lado corajoso dela. É excitante para caralho.

— Obrigada por vir comigo. Eu queria muito fazer essa


viagem, mas para ser sincera não sabia como pôr em prática. Nem

nos meus melhores sonhos imaginei você como meu companheiro


de aventura.

— Mas já sonhou comigo, né?

— Você é muito convencido! — diz, irritada e tenta se

levantar.

Não permito. Rodeio sua cintura com os braços e mordisco a


orelha.

— Eu não queria que fizesse essa viagem com mais ninguém

— confesso.
— Tem noção de que me confunde quando diz coisas assim?
— fala, mas depois se corrige. — Enfim, não tem problema.
Continue dizendo. Infle meu ego.

Bato em sua bunda.

— Você é uma mistura deliciosa de menina e mulher,

Beatrice. Me deixa louco.

Afasto o cabelo de seu pescoço e roço os lábios na pele

lisinha.

O sorriso dela some, substituído por uma expressão de

desejo.

— Você me deixa trêmula quando diz essas coisas. Esses

seus olhos têm pecado escrito.

— Eu quero pecar com você — falo, chupando seu ombro. —


Muito. Várias vezes. Lamber sua boceta. Entrar profundamente

nela. Te pegando por trás e ensinando-a a me montar.

Afasto-me um pouco para olhá-la porque não sei se a

choquei. Não tenho ideia de até onde posso ir com Beatrice porque
ela ainda é uma folha em branco. Ao invés de medo, entretanto,

seus olhos são pura luxúria, os lábios entreabertos, em expectativa.

— Eu já disse que está linda hoje?


Corro os dedos pela pele nua dos braços.

— Não. Faça isso. Faça muitas vezes até que eu possa

gravar na memória sua voz para os dias em que não estiver me


sentindo assim.

— Beatrice…

Devoro seus lábios para impedi-la de dizer coisas que

alcançam mais partes de mim do que estou disposto a doar, mas


seu suspiro de rendição não faz nada para curar a fome inominada,

o desejo desconhecido. Ao contrário, inflama ainda mais meu corpo,

exigindo que eu a tome.

Seus lábios são quentes, suculentos.

Enlouquece-me a maneira como me acompanha sem medo,

entregue e ousada, querendo aprender.

Seguro sua nuca para impedi-la de fugir, mesmo que uma


voz no fundo da minha mente me diga que isso está indo rápido

demais.

As línguas dançam juntas, em sincronia, seduzindo-se

mutuamente. As bocas pressionam-se, em uma mensagem erótica


inequívoca.
Somente quando alguém tosse atrás de nós, Beatrice

finalmente parece voltar a si, pulando do meu colo com o rosto


vermelho.

— Desculpem-me interrompê-los, mas o jantar será servido,

doutor Andresano.

Ela volta para sua cadeira e me olha disfarçadamente.

Depois que os garçons se vão, comemos em silêncio por um

tempo até que ela levanta a cabeça para o céu e sorri.

— Vai chover daqui a pouco.

— Sim.

O sorriso aumenta, mas não diz nada.

— O que está pensando?

— Faz parte dos meus sonhos dançar na chuva.

— Não me lembro de ter dito nada sobre isso.

— Acho que disse sim, mas mesmo que não tenha dito,

temos um mês, Tommaso. Prepare-se para muitos pedidos

surpresa. Não seja ranzinza.

Seu sorriso é contagiante e nesse instante eu não posso lhe

negar nada.

— O que quer fazer?


— Já temos a música de fundo. Comemos e esperamos a

tempestade.

Você é a minha tempestade, menina e estou começando a

me viciar nela. Só não sei como vai ser quando o sol voltar a surgir.
Tommaso

Tão logo o jantar terminou, ela veio até mim.

— Vamos dar uma volta?

— Para pegar chuva? — implico.

— Também, mas não aqui — diz, pela primeira vez tomando

a iniciativa de entrelaçar nossos dedos.

Achei que fosse me levar para fora da vinícola, mas ao invés

disso, torna a entrar no hotel, no mesmo corredor do terraço em que


estávamos, no qual há somente a suíte de Mattia, que eu estou

usando e na outra ponta, a dela.

— Onde estamos indo?

— Tem medo de mim, senhor tutor?

Eu não respondo à provocação, mas a puxo para um beijo.

Não há delicadeza no contato, é fome crua, paixão, necessidade.


Beatrice me para, mesmo parecendo muito ligada também.

— Quero meu banho de chuva. — diz.

— Onde?

— No terraço do meu quarto.

Quando entramos na suíte dela, em que somente o abajur

está aceso, reparo que é muito parecida com a que estou, só que
um pouco menor.

Beatrice não me dá muito tempo para pensar. Depois de


colocar uma música de seu celular que se faz ouvir no quarto inteiro,

corre para o terraço.

Fico um pouco para trás, observando-a. Relutando em ir até

onde está porque intuo o que significa ter me chamado para seu
quarto, independentemente de ter dito que a razão principal era

esperar a tempestade.

Ela está olhando para o céu enquanto a observo.

Tirou os sapatos e eu não sei explicar o que há sobre ver os

dedos delicados pintados de vermelho que tanto me excita.

— Tommaso — chama, rindo. — Está com medo da chuva?

Eu nunca vi nada mais bonito do que Beatrice nesse instante.


O cabelo que vai quase até a cintura, cai solto nas costas e
assim, na semi escuridão do terraço, contrasta com a carne exposta

dos ombros e braços. Ela parece livre e selvagem. A verdadeira

Beatrice que se permite ser quando ninguém está olhando.

— Não vai vir? Já começaram a cair alguns pingos.

Ela dança, girando em torno de si mesma.

Tiro a carteira do bolso e deixo em cima da mesinha de

cabeceira, em seguida me livro dos sapatos e meias sem acreditar

que farei aquilo, mas é impossível ver sua alegria e não querer
roubar um pouquinho para mim.

— Está bêbada? — pergunto, segurando sua mão e a

puxando contra meu corpo quando me aproximo.

— Está me vendo dançando em alguma gaiola? Só fico

bêbada quando tenho plateia — brinca.

— Ah, Beatrice… você engana tão bem com essa carinha de

boa menina.

Eu a tenho em meus braços e dançamos bem devagar,

acompanhando a música.

A chuva começa a ficar mais forte, mas eu não dou a mínima.

Estou onde e com quem quero estar.


— Aquela conversa sobre vício… — Começo, mas ela me

interrompe.

— Achei que fosse um desafio.

— Chame do que quiser… estou louco por você, bella.

Dessa vez, eu a beijo sem gentileza, forçando-a a receber

minha língua, explorando profundamente seu calor.

Beatrice não recua, ela se entrega, escala meu corpo,

excitada, respirando com dificuldade, tão faminta quanto eu.

— Disse que está louco por mim. Sempre fui louca por você.

Estou em desvantagem.

Ela não faz a menor ideia de que nesses dois anos depois
daquela noite no porão, eu fantasiei o que poderia ter acontecido se

minha consciência não tomasse o controle.

Olha para seu rosto molhado.

Seus lábios estão vermelhos e eu quase urro de tesão


quando passa a língua por eles, recolhendo as gotas de chuva.

Eu quero aqueles lábios carnudos me provando, quero


segurar seus cabelos e inclinar sua cabeça para trás enquanto fodo

sua boca.
Sou uma confusão de desejo e várias outras emoções que

não consigo decifrar. A intensidade dela me nocauteia.

Beatrice corresponde de maneira apaixonada à minha

demanda pelo seu corpo, sem me esconder nada: nem o tesão ou a


vulnerabilidade da inexperiência.

Isso mexe para caralho comigo.

Eu não quero pensar em algo além que não os lábios dela,

minha mão enrolando seu cabelo, nossos corpos buscando-se


através da barreira das roupas.

Eu a suspendo em meus braços para que fique da minha


altura e ela sorri contra a minha boca.

— Somos perfeitos agora. — diz.

Somos perfeitos… sempre.

— Por que me trouxe aqui, Beatrice? Por que não ficamos

onde estávamos?

Ela desliza as mãos pelo meu rosto, como se não quisesse

que eu desviasse o olhar.

— Porque a única promessa que preciso cumprir a partir de

hoje é a de ser feliz por tanto tempo quanto eu puder.


Eu consigo entender o que ela está dizendo: nada mais nos
impede.

Meu coração bate forte contra o peito.

— Comigo? — exijo.

— No momento, sim.

Não é a resposta que eu queria.

Qual resposta eu queria?

Sou uma bagunça por dentro, então opto pelo caminho que já
conheço: o desejo.

Eu agarro seu pescoço com uma das mãos enquanto o outro


braço não permite qualquer distância entre nós.

Os beijos não são beijos, são preliminares. A maneira


sensual como nossas línguas se devoram ferozmente, como se

somente um pudesse saciar a fome do outro, deixa ver como será


delicioso quando estivermos pele contra pele.

Eu a agarro pela bunda e ela abre as pernas, em seguida


trancando-as na minha cintura.

Apesar do tesão, eu não paro de dançar, comprometido a

fazer essa experiência inesquecível para ela.


Suas mãos me mapeiam. Das outras vezes, Beatrice mais
me deixou tocá-la do que tomou a iniciativa, mas agora parece
ansiosa para experimentar, descobrir, desvendar essa paixão

latente, reprimida entre nós.

Eu cravo os dentes na pele macia de seu pescoço e ela

estremece. Quando minhas mãos acariciam a carne nua de sua


bunda, me morde o peito.

— Estamos encharcados — diz no meu ouvido.

Brinco com o tecido da calcinha, entre as bochechas de sua

bunda arrebitada e quando meu dedo se move até o sexo, ela geme
alto.

— Já teve o suficiente da chuva?

Ela não responde, mas abre minha camisa e me lambe o

peito.

— Chupe minha pele. Coloque sua língua contra minha

carne, Beatrice.

Ela provoca meu mamilo antes que os dentinhos puxem

somente a ponta. Olha para mim enquanto o faz e meu pau pulsa
pela ousadia mesclada à inocência.
Os olhos verdes parecem soltar labaredas, ela inteira é puro

fogo. No rosto lindo, um pedido, um convite, uma sedução


silenciosa.

Enquanto entro no quarto com Beatrice em meus braços, o

barulho da chuva, os raios, nada disso consegue distrair minha


atenção do calor da pele dela. Eu a seguro forte, uma necessidade

como nunca tive por uma mulher se espalhando pelo meu corpo e

mente. Dominando meus sentidos.

Ela está agarrada aos meus ombros, usando o roçar do meu


pau em seu sexo, ainda protegido pela lingerie, para se satisfazer.

Beija e lambe o que consegue alcançar.

Pescoço, queixo, boca.

Desce minha camisa e morde meu ombro e eu devolvo,


abrindo o zíper às suas costas.

Quando chegamos finalmente ao quarto, eu a ponho de pé. O

vestido escorrega ao chão, desnudando o corpo lindo que tanto me


enlouquece.

Eu termino de me livrar da camisa, sem parar de olhá-la.

Ela treme de frio, agora.

— Banho? — pergunto.
Balança a cabeça de um lado para o outro, fazendo que não.

— Estou um pouco nervosa — confessa.

Abro o botão da calça e seus olhos se arregalam.

— Não estou tentando apressar nada, mas não posso ficar


assim. Foi você quem quis dançar na chuva, menina-bailarina.

Ela sorri, parecendo relaxar um pouco.

Dou um passo para a frente. Somente sua calcinha e minha

boxer nos cobrem agora.

Afasto as mechas molhadas de seus cabelos, colocando-os

para trás dos ombros.

— Não é porque tomou essa decisão que precisa ser hoje,


Beatrice. Eu posso te chupar a noite inteira. Fazer você gozar nos

meus dedos.

— E você?

— O que tem eu?

— Não precisa se satisfazer, também?

— Eu consigo me controlar — digo, sabendo que se não a

tiver hoje, terei que me masturbar. Mas nada é mais importante do

que ela estar certa do que quer.

— Eu, não.
— Não consegue se controlar?

— Não. Espero para ser sua há muito tempo. Não sei o que o
futuro guarda para mim. Você está aqui. Nós estamos. Me dê tudo.
Tommaso

Eu a pego no colo e deito na cama. Não fico por cima, mas


ao lado, porque apesar do desejo quase doloroso, eu quero

aproveitar cada segundo dessa noite. Não há porquê ter pressa.

Ela treme e eu não tenho certeza se é resquício do frio pelo

corpo molhado, ou excitação.

Na contramão dos tremores, o calor do seu olhar em mim é


algo que nunca vou me esquecer.

Beatrice me diz sem falar que sua entrega é sem restrições.

Abaixo a cabeça e lambo o mamilo devagar.

Ela geme e agarra meu cabelo, ansiosa, mas eu pego sua


mão e beijo.

— Devagar, Beatrice mia.


Abocanho seu peito e mamo, me deliciando com o gosto de

sua carne ao mesmo tempo em que deixo minha mão descer para o
ventre achatado. Antes que eu toque sua calcinha, ela já arqueia as

costas.

Quando minha mão alcança o vértice entre suas coxas, eu

levanto a cabeça para olhá-la.

Sem descer a peça, toco-a por dentro da lingerie. Sinto a

sedosidade de seus pelos em meus dedos. O calor úmido de seu


tesão.

Eu não me lembro de já ter ansiado tanto para estar em uma


mulher. Se não há uma ligação maior, depois de um tempo, sexo,

por mais gostoso que seja, é somente isso: sexo. Satisfação física

que tão logo o orgasmo é alcançado, termina.

Com Beatrice, há esse algo mais inominado e nesse instante,

todos os meus sentidos estão ligados nela.

Seu cheiro, textura, gemidos, umidade.

O gosto de sua boca e da maneira como se contorce quando


meu dedo adentra as dobras de sua boceta.

Como chama meu nome e me faz desejar ouvir esse som


para sempre.
Eu não tiro sua calcinha de propósito porque a quero ansiosa,
sedenta, necessitada.

Quando meu dedo toca o clitóris, ela choraminga que não


pode mais esperar.

Meu pau é aço puro, somente de assistir suas reações.

Ajoelho-me e desço a peça minúscula. Quando está nua,

faço com que plante os pés no colchão, bem aberta para mim.

Ela está envergonhada e apesar da intimidade que já tivemos

antes, tenta fechar as coxas.

— Não. Você quer ser minha? Então não pode esconder

nada. Eu vou te comer inteira. Cada pedaço do seu corpo será

devorado.

Beatrice engole em seco e quando torno a separar suas

pernas, fica parada.

Dessa vez, não há preparação, eu a quero escorrendo tesão

na minha língua e me abaixo, os dedos afastando os lábios de seu

sexo, expondo o clitóris duro.

— Você está tremendo. É medo do que vai acontecer?

— Não. Eu quero muito isso. Prove-me, Tommaso. Roube-me

para você.
Molho meu polegar em sua umidade enquanto inclino-me

para chupar seu sexo, massageando seu clitóris, aplicando a


pressão exata para enlouquecê-la.

— Ohhhhh….

Tudo em Beatrice é delicioso, intenso. Sua entrega, sabor.

A conexão criada entre nossos corpos foi uma surpresa para


mim.

Antes mesmo de transarmos, desde a primeira vez em que a


toquei mais intimamente, eu me senti ligado a ela.

Nunca aconteceu antes. Em nenhuma das minhas transas o


físico se misturou com qualquer sentimento. Mas estar com ela é

como descobrir um mundo novo.

Beatrice é chama, fogo ardente enquanto a devoro. Ela


queima contra meus lábios, as pernas trancando em volta do meu

pescoço.

Agarro seus quadris para mantê-la como eu quero.

Ela está encharcada, seus líquidos enchendo minha boca.

Enquanto a como, meus dedos acariciam seus mamilos, mas

ela pega minha mão e leva à própria boca, sugando meu polegar.
Não tenho certeza se sabe o que faz, mas está me deixando

desesperado.

Eu a chupo ainda mais faminto. Beatrice rapidamente se

transformou em minha comida favorita.

Sugo seu clitóris, ora lambendo, ora mamando o botão

durinho. Quando arranho os dentes nele, ela goza, em meio a


promessas e palavras desconexas.

É lindo ver suas coxas estremecendo por segundos inteiros,


resquícios do prazer selvagem.

Eu me levanto e desço a boxer.

Ela abre os olhos.

— Quero te provar, também.

— Não dessa vez, amore mio[40]. Eu preciso ter você.

Pego a carteira na mesinha de cabeceira e tiro um

preservativo. Depois que o visto, posiciono-me em sua entrada,


testando um vai e vem suave. Deixando que se acostume enquanto
a cabeça do meu pau separa as dobras delicadas de seu sexo.

Ela morde o lábio e afasta mais as pernas, os olhos abrindo e


fechando como se não desejasse mostrar o que está sentindo.
Eu estava ajoelhado, mas deito-me sobre ela, entrelaçando
nossos dedos.

— Olhos em mim, Beatrice.

Empurro um pouco mais dentro de seu corpo e ela geme.


Inicio um martelar lento, dilatando-a em volta do meu eixo.

Levanto uma de suas coxas, abarcando minha cintura e sua


boca se abre em um misto de dor e desejo quando afundo cada vez

mais.

— Dói? — pergunto, sentindo o suor tomar conta dos nossos

corpos, ambos tensos por razões diferentes. Eu, pela contenção que
me autoimponho; ela por estar fazendo aquilo pela primeira vez.

— Um pouco, mas não quero que pare.

Nossos olhos não se desviam. Estou viciado em suas


reações.

— Vem para mim. Eu quero que me complete, Tommaso. Eu


sempre estive à sua espera.

Suas palavras me atingem profundamente, enredando-me,


seduzindo-me, me fazendo cada vez mais perdido nela.

E assim, louco de desejo e urgência, eu percorro o caminho


até o fundo de seu corpo.
Ela enrijece e me aperta dentro de si, fruto da tensão. Sei que
está sentindo dor e me obrigo a ficar parado, mas as contrações de
sua boceta estão me enlouquecendo.

— Vai passar. Eu preciso me mexer.

Beijo sua boca, saboreando-a sem pressa e aos poucos, ela

suaviza sob mim, um rebolado inconsciente fazendo seus quadris

girarem em uma dança sensual, convidativa.

Movo-me devagar, entrando e saindo, abrindo caminho no

corpo inexplorado.

Abaixo a cabeça e tomo um mamilo nos lábios e em pouco

tempo, a outra perna me enlaça também.

Saio inteiro e volto para sua quentura molhada. Fico muito

tempo assim e logo, Beatrice está me acompanhando, gemendo,

implorando por mais.

Ela ondula sob mim, criando seu próprio ritmo, mordendo-me,

ameaçando nunca me deixar ir. Sei que ela está perdida na paixão

do nosso ato, mas me pega de surpresa o quanto eu desejo mais.

Não só hoje, enquanto estou pela primeira vez


transformando-a em minha mulher, mas esquecendo tudo o que

combinamos antes: datas, prazos, acordos, desafios.


Eu memorizo cada segundo que estou nela.

Seus gemidos e a expressão de prazer. A maneira como


suas mãos percorrem minhas costas ou como sua boceta me toma

por inteiro, apertando-se na doce prisão de sua inocência.

Beatrice não demora a se mostrar exigente.

Ela não quer ser satisfeita, quer receber sim, mas doar-se

também.

Ela lambe meu mamilo, mordiscando e chupando. Meu pau

contrai dentro de seu corpo em resposta.

— Ahhhhhh….

— Você é toda viciante, bella. Cada pedaço seu me

enlouquece.

Desço a mão e toco o clitóris porque sei que não vou durar.

Olho para onde os corpos se encontram, pelve batendo

contra pelve, o cheiro de nós dois se tornando o melhor perfume

para mim.

— Goze comigo — comando.

Mamo seus peitos, alternado entre os dois. Ela está muito

sensível e a combinação da martelada ininterrupta, o ataque em

seus mamilos e a massagem no clitóris são mais do que pode


aguentar. Ela explode, gozando tão gostoso que consigo sentir

mesmo através do preservativo.

Continua se movendo sob mim mesmo depois de alcançar o

próprio clímax, vindo ao encontro de cada investida que dou, seus


músculos internos me envolvendo, me ordenhando dentro da boceta

apertadinha.

Não para de se mexer mesmo depois de gozar, o corpo


devolvendo cada investida, se erguendo para me encontrar no meio

do caminho.

— Sono pazzo di te[41], Beatrice mia. Completamente louco

por você.

Nossos olhos não se desprendem enquanto gozo.

— Sei l’unico per me[42], Tommaso. O único.

A força do meu orgasmo me deixa fora do ar, preso nesse

mundo só nosso. Um lugar que acabamos de criar e onde minhas

antigas certezas estão sendo desconstruídas.

Mudo de posição, deitando-a sobre meu corpo e ela se


aconchega mais, aspirando meu cheiro.

Nenhum dos dois fala. Para mim, ao menos, não há como

colocar em palavras o que aconteceu, então eu opto por só sentir.


Beatrice

Eu não tinha certeza do que esperar ao acordar.

Quero dizer, até a noite de ontem, eu era virgem, mas não


mentalmente. Eu leio um monte de romance e quando me sobra
tempo, também assisto algumas série de tv. Baseando-me

principalmente em uma antiga, em que quatro amigas contam suas

aventuras amorosas e sexuais na ilha de Manhattan[43], eu tentei,

mesmo antes de abrir os olhos, estar preparada para qualquer


coisa.

Qualquer coisa ruim, claro, porque em primeiro lugar, é assim


que eu sou e em segundo, como eu bem disse a Tommaso uma

vez, ele tem fama.

Nada cafajeste ou de alguma mulher que tenha sido

maltratada, caso contrário, não importa o quão bonito fosse, eu não


deixaria que chegasse nem perto de mim. Tenho muitos problemas

de autoestima e também com rejeição para permitir que alguém


fique ao meu lado para me fazer sofrer.

Não, a fama de Tommaso é de destruidor de corações,


porque além de dizerem que é um amante o qual não se consegue

esquecer — o que comprovei em primeira mão —, ele não as

dispensa sendo grosseiro, mas com um “arrivederci, bella” tão


charmoso que elas sempre acham que terão chance de uma

segunda rodada — o que pelo que ouvi, quase nunca acontece.

Agora, juntando minha falta de autoconfiança natural e o fato

de que não tenho experiência do dia seguinte, estou com medo do


que acontecerá no momento em que eu abrir meus olhos.

Acredito que já esteja ficando meio arroxeada de tanto que

estou prendendo o ar há quase dez minutos, para dar a falsa

impressão de que ainda durmo, mas a situação além de ridícula, é


perigosa. Não quero sair nas manchetes como a ex-socialite bêbada

que morreu por asfixia após acordar de uma noite regada a sexo.

Assim, me rendo ao inevitável e, finalmente, paro de fingir.

Entretanto, nada me preparou para ver Tommaso sentado na

cama me observando.
Eu considerei que várias coisas poderiam acontecer: mais
rodadas de safadezas, uma brincadeira por sua performance sexual

— que diga-se de passagem somente um “oh, my God!” é capaz de

explicar — e até mesmo que se tornasse cuidadoso, pisando em

ovos comigo, o que eu odiaria.

O que vejo nele não é nada disso, é algo que ao mesmo

tempo em que faz meu coração errar as batidas, me deixa

apavorada.

— Bom dia — falo, tentando demonstrar que está tudo bem.

Ele não responde. Estica a mão e toca meu rosto. Os dedos

contornando minha mandíbula e parando nos lábios.

— Há algo errado?

— Não.

— Acordou há muito tempo?

— Aham.

Começo a me sentir envergonhada e me sento na cama para


tentar ficar em pé de igualdade, mas o bendito lençol escorrega, me

deixando nua.

Seus olhos escurecem e eu engulo em seco.

Antes mesmo que se mova, eu sei que vai me tocar.


Como se eu fosse uma boneca de pano, ele me leva para o

colo, me fazendo montar suas coxas grossas.

— Essa é sua maneira de dar “bom dia”? — brinco, porque

meu coração bate tão rápido agora que temo passar mal.

— Não saberia dizer. Eu nunca fico para o dia seguinte —


fala, com aquela sinceridade tão característica e em seguida, me

beija.

Ele não está fazendo nada de explicitamente sexual, apenas

correndo as mãos por minhas costas nuas, embora eu sinta seu


sexo endurecer contra meu abdômen.

Acho que esqueci de dizer que está não usando qualquer


peça de roupa.

Conforme o beijo se aprofunda, minha capacidade de pensar


se esvai.

É muito difícil me concentrar no que quer que seja quando


sinto o calor de sua pele na minha. As mãos enormes acariciando-
me, a boca me tocando não só os lábios, mas alcançando meu

coração.

Apavorada e com muitas emoções brincando dentro de mim

ao mesmo tempo, resolvo agir, rompendo a atmosfera de desejo


mesclada com carinho. Eu preciso me concentrar na parte física

porque é mais seguro.

Determinada a não deixá-lo pegar além do que me oferece,

começo a correr os dedos pelo peito musculoso, arranhando a carne


rija.

Ele morde meu lábio inferior e encorajada, deixo minha mão


descer até seu sexo. Toco-o devagar, testando, sem ter certeza se é
da maneira que gosta, mas quando geme contra minha boca, eu me

sinto mais confiante.

Desprendo nossos lábios e chego um pouquinho para trás,

sem parar de acariciá-lo.

Dar prazer a Tommaso é outra das minhas memórias que

quero guardar.

— Estou fazendo direito?

— Continue, Beatrice. — Sua voz soa rouca. — Nada poderá


ser errado entre nós dois nus.

Seu sexo é duro como aço, longo e grosso, mas ao mesmo


tempo, quente e aveludado. Decido que quero mais. Prová-lo de

todas as maneiras.
Ele está sentado na beira da cama, os dois pés plantados no
chão e eu saio de seu colo, me ajoelhando à sua frente.

Separo suas coxas e lambo os lábios, louca para sentir sua


rigidez entre eles.

A posição é incômoda porque o chão fere meus joelhos e

como se adivinhasse, ele me puxa para cima outra vez. Antes que
eu possa protestar, se deita de costas comigo sobre seu corpo.

— O que você quer, Beatrice? — pergunta, mordiscando


minha orelha.

— Viciar você em mim — respondo sem pestanejar porque


depois de ontem, tenho certeza de que não desejo Tommaso só
pelo próximo mês ou seis meses, ou ano.

Eu o quero por tanto tempo quanto eu conseguir tocar seu


coração, mesmo que eu saiba que nunca será um “para sempre”.

— Mas não sei como fazer — confesso, voltando a masturbá-


lo.

Surpreendendo-me, ele gira meu corpo, fazendo com que o


monte invertido, nossos sexos alinhados com a boca um do outro.

Se eu dissesse que não estou morrendo de vergonha seria


mentira, mas isso dura um centésimo de segundo porque no
momento em que sinto a língua dele em meu interior, ela é
substituída pela mais pura luxúria.

Lambo sua extensão, como eu li em alguns livros e ele aparta


meu bumbum com ambas as mãos, fazendo um som rouco,
profundo e que me deixa ainda mais excitada.

Ele me invade com um dedo, enquanto suga meu ponto de

prazer e eu quase desmaio quando uma onda de desejo percorre


minha coluna.

Sinto o gosto salgado de um líquido que sai dele e quando

chupo tudo, ele morde os lábios do meu sexo devagar, rodando a


língua em minhas paredes internas.

Descontrolada, rebolo em seu rosto e ele passa a me devorar

sem piedade.

— Abra a boca e chupe tanto quanto você puder — orienta.


— Mas não use os dentes.

Faço o que ele mandou, permitindo que me preencha, mas

Tommaso é grosso e eu engasgo.

— Caralho, Beatrice. — Ele rosna e eu me sinto flutuar por


conseguir enlouquecê-lo.
Sugo mais forte, engolindo mais da metade e ele me

recompensa, beijando meu sexo como se fosse minha boca.

Seus gemidos ficam mais ásperos e quando uma das mãos

vem para minha cabeça, controlando meus movimentos enquanto o

tomo, eu me perco de vez.

Sua língua é insaciável, preenchendo-me e em pouco tempo

sinto meu corpo retesar pela tensão que precede o orgasmo.

Ele percebe porque se torna ainda mais voraz, mas não

estou disposta a me entregar sem obter o mesmo dele, então abro


mais a boca e intensifico a carícia.

Ele engrossa entre meus lábios.

— Se não quiser me beber, precisa parar, bella.

— Eu quero tudo de você.

Como se me castigasse pelas palavras, dois de seus dedos

me possuem agora e quando seus lábios prendem meu clitóris, eu

gozo.

Nosso orgasmo é quase simultâneo. Sinto os jatos de seu


prazer me inundando e faminta, necessitada, bebo tudo e não paro

nem mesmo quando ele está limpo.

Ele me gira sobre seu corpo, fazendo com que eu o encare.


— Não quero só esse mês — falo, sem medo e imprudente.

Quantas vezes ele já não deve ter ouvido aquilo antes?

— Eu não disse que ficaremos só um mês.

— Foi o combinado inicial, mas não é o suficiente para mim.

— Por que não?

— Eu quero muito mais com você.

Ele me encara em silêncio e sinto calor invadir minhas


bochechas.

— Não se preocupe, eu não estou criando ideias românticas

nem nada, mas eu não posso te deixar ir ainda.

— Ainda?

— Sim, em algum momento, você estará livre de mim.

— E se eu quiser dar um foda-se aos prazos?

— Não vai acontecer. Todos nós temos um prazo na vida,

não importa o quanto pensemos que não.

— Do que você está falando, Beatrice?

— De nada importante. Vamos aproveitar. Sei que não fica

com suas mulheres por muito tempo, mas….


— Shhhhh…. esquece isso. Somos só nós dois nesse

momento.

— É bom o bastante para mim.

Ele ainda me olha sem dizer nada, mas depois me abraça e

beija meu cabelo.

— Nunca se contente com “bom o bastante”. Sonhe com o


todo.

— Não posso me dar a esse luxo e é por isso que você é

perfeito para mim.

— Eu não entendi.

— Você não quer um “para sempre”. Eu não posso oferecer

um longo prazo. Somos o casal ideal.


Tommaso

Nova Orleans

Dois dias depois

— Se eu morasse aqui, viraria um bolinha — ela diz,

mordendo seu segundo beignet[44] e em seguida, dando um gole no

chá doce gelado.

Um pouco de açúcar estão agarrados em seus lábios e eu

puxo para beijar sua boca.

Passamos o dia todo percorrendo as principais ruas de Nova

Orleans.

Julia Street, onde Beatrice comprou diversas lembrancinhas;

a St. Charles Avenue, com seus casarões antigos e agora paramos


na famosa Bourbon Street para comer os doces tão característicos

da região.

— Por que não pode me oferecer um “longo prazo”, Beatrice?

Desde que ela me disse aquilo, depois de transarmos

naquela manhã ainda na vinícola de seu avô, minha mente não


parou por um segundo, tentando adivinhar o significado de suas

palavras.

— O que importa a razão, Tommaso? Eu tirei essas férias

para vivermos o hoje.

Eu poderia pressioná-la um pouco mais, entretanto, deixo

passar.

— Você vai me contar sobre isso em algum momento,

Beatrice. Pode fugir o quanto quiser, mas cada vez mais acho que
tem relação com o que aconteceu em Nova Iorque.

Ela está sentada no meu colo, na lanchonete em que

estamos comendo, e segura meu rosto.

— Não me force a contar. Eu não estou pronta. Deixe-me

sonhar. Não sou boa nisso. Estou tentando aprender.

— Eu também não sei sonhar. Sou realista demais.

— Ótimo. Vamos aprender juntos — fala, rindo.


— Começamos por onde?

— Esses sonhos têm limites?

— Se tivessem não seriam sonhos.

— Okay. Eu começo então. Vamos voar amanhã para Las

Vegas e nos casar. Depois voltamos para cá e compramos uma

casa na St. Charles Avenue. Será nosso local de férias.

Balanço a cabeça, sorrindo.

— Continue. Você é boa contadora de histórias. Estou


conseguindo visualizar isso.

— Não seria nossa residência principal, mas a de temporada.

Viríamos a cada ano para o carnaval[45]. Eu vou aprender a fazer

esse delicioso chá doce e também beignet e talvez até o venda em


nossa vinícola.

— Nossa?

— Claro. Nos casaremos. O que é seu, é meu — diz, me

dando uma piscadinha sexy, mas eu não estou mais sorrindo.

A despeito das brincadeiras, alguma parte de mim adivinha

que Beatrice não está brincando, está me expondo seus sonhos

reais, ou parte deles, ao menos.


— E quando voltarmos para casa? — pergunto, querendo

que ela se mostre mais.

— Qual casa? Teremos ao menos meia dúzia pelo mundo.

— Sim, mas a principal será em Florença. Você precisará


olhar de perto sua Fundação. Além disso, exercer sua profissão,
também.

Em um segundo, ela sai do meu colo. Custa um nada para


que eu perceba que atingi um nervo exposto.

— Acabou de comer? — pergunto e quando ela acena que


sim com a cabeça, deixo alguns dólares em cima da mesa e a puxo

pela mão para a rua.

Quando estamos do lado de fora, pergunto.

— Pretende desistir da sua profissão? Essa historia de


trancar a faculdade não era temporária?

Ela não me encara, o que me irrita.

— Está falando como tutor ou como meu futuro marido? —

ainda tenta brincar.

— Não vai fugir com evasivas, Beatrice.

Suspira, parecendo derrotada.

— Estou pensando em me dedicar somente à Fundação.


— Assim, de uma hora para outra? Mattia me disse que ser

neurocirurgiã infantil sempre foi seu sonho.

— Por que está fazendo isso, Tommaso?

— Isso o quê?

— Empurrando-me.

— Empurrando você? — Tento manter a calma, mas estou


chegando muito rápido ao meu limite. — Eu só quero a verdade.

Compartilhe comigo o que quer que esteja fazendo sua cabeça virar.
Porque não importa o quanto você fuja da reposta, eu sei que há

algo errado.

Ela ergue a cabeça e me encara. Seus olhos estão

marejados e eu sinto como se uma faca estivesse sendo retorcida


dentro do meu peito.

— Eu não quero falar.

— Por que, não? Não confia em mim?

— Confio, mas não quero que mude comigo. Fizemos um

trato. Vários, na verdade. Um ano, depois seis meses e enfim, esse


mês de aventuras. Estou amando cada segundo. Não faria nada

diferente. Por que precisamos conversar sobre coisas sérias?


— Porque tem algo te machucando e eu quero que divida
comigo.

Ela dá um passo para trás.

— Para quê? Não importa o tempo que vamos ficar juntos,


sempre haverá um ponto final. Deixe-me aproveitar esses dias ou

meses sem pensar no futuro. Você me desafiou a te enlouquecer, te


viciar e eu disse que saí em desvantagem porque sempre fui louca
por você, mas depois pensei bem e vi que não é verdade. Eu sou a

sortuda porque conheço o amor desde a adolescência. Não o


correspondido, mas um sentimento tão forte, que atravessou anos e

não mudou. Deixe-me sonhar com nós dois. Você não vai correr
qualquer risco. São meus sonhos, não uma obrigação.

— Beatrice….

Eu a puxo para mim e ela não tenta fugir.

— Se eu te contar o que está me fazendo tão corajosa sobre


aproveitar a vida, as coisas entre nós mudarão e não quero isso.

— Nada precisa mudar.

— Mas mudarão. Eu tenho uma contraproposta — diz e

apesar da seriedade da conversa, sorrio.

— Não estou interessado. Quero a verdade.


— Não ouviu o que tenho a dizer ainda. Ao fim dessa viagem,
eu conto tudo.

Não faço o tipo ansioso, mas é exatamente como me sinto


nesse instante.

— Só farei o acordo se você me disser que esperar para me

falar a verdade não irá prejudicá-la de algum modo.

Milhões de teorias atravessam minha mente, mas uma


principal está martelando e fazendo o sangue que corre nas minhas

veias gelar: Beatrice está doente.

Só de pensar nisso, sinto vontade de quebrar alguma coisa

porque, porra, seria injusto demais.

Enlouquece-me que ela não queira compartilhar, mas eu não

posso ser na vida dela o que Mattia é: aquele que a obriga ao invés

de permitir que tome suas próprias decisões.

— Tem minha palavra. No fim da viagem, eu te conto tudo.


Beatrice

Hazard — Nova Orleans

Quatro dias depois

— Achei que tinha dito que seu amigo me proibiu de entrar


nas boates dele depois do show que dei em Nova Iorque — falo,
sentada em seu colo, na ala vip do nightclub.

— Era até que você fizesse vinte e um, o que significa daqui

a duas semanas.

Quase pulo de alegria.

— Aham, na Sicília, mas antes iremos para o Havaí. Você é o

melhor parceiro de viagem da vida!


Beijo sua boca porque sou meio compulsiva pelo homem. A

cada dia, estou mais apaixonada por Tommaso e por mais louco que
possa ser, menos temerosa de me machucar também.

A convivência diária tem me mostrado que ainda que não


tenha se dado conta disso, ele também está envolvido no que temos

e mesmo que eu duvide que seja amor, é muito mais do que

somente sexo.

Fiquei meses com Diego e nunca me senti com ele como me


sinto com Tommaso.

Ele não consegue ficar longe de mim, sem me tocar.

Seja no cabelo, braço, rosto, ou andar de mãos dadas.

Estamos sempre um no outro, como se qualquer tipo de

distância fosse inconcebível.

— Não me lembre disso. Até agora não entendo como

concordei com essa loucura.

— Não pode voltar atrás com sua palavra em relação ao meu

salto de paraquedas, mas como sou a garota mais legal do mundo,

nem vou te pedir para pular comigo. Sei que se sente responsável

por mim, mas já deu para perceber que tem medo de altura.

Ele emburra a cara.


— Não tenho medo de nada.

— Então isso significa que vai saltar?

— Continue me provocando e nem mesmo você vai saltar.

— Sim, senhor tutor.

— Não gosto da ideia de você saltando com aquele


balãozinho preso em uma mochila.

Eu começo a rir.

— Sabe quantas pessoas morrem em um salto de

paraquedas?

— Não me deixe saber ou vou cancelar seus planos.

— Mesmo se eu prometer ser muito boazinha depois do

salto?

Olho para trás e quando vejo que ninguém está prestando

atenção em nós, eu o monto de frente.

Mordisco seu queixo e suas mãos vêm para o meu quadril.

— Boazinha como?

Seu tom mudou para aquela rouquidão que tanto me excita.

— Talvez eu te deixe fazer amor comigo no voo de volta para

a Itália.
Ele revira os olhos.

— Boa tentativa, amor. Mas será no meu avião particular,

então não consigo ver qualquer vantagem, ainda. Eu poderia foder

você dentro dele mesmo sem o salto.

Ponho a mão sobre seus lábios.

— Boca suja.

— Achei que isso já estava estabelecido. Além do mais, você

adora.

— Não tenho como negar.

— Por que esse desejo louco de pular de paraquedas?

— Porque a ideia é apavorante. Eu tive medo de muitas

coisas durante minha infância e mesmo agora, depois de adulta,


não sou exatamente uma pessoa corajosa. Quero fazer algo que eu
possa sentir orgulho de mim mesma.

— Você sobreviveu a pais irresponsáveis. Daqui a uns anos


estará formada e é a melhor neta que seu avô poderia desejar.

Coragem não significa apenas se desafiar fazendo algo que poderia


te machucar, bella. Às vezes, sobreviver ao dia a dia, a uma

depressão ou medos tão intensos que parecem reais, pode fazer de


você a pessoa mais corajosa do mundo sem que para isso precise

andar em uma corda bamba.

Eu o puxo pelo pescoço.

— Me aventurar com você foi a melhor coisa que poderia ter


me acontecido, Tommaso e também a maior loucura.

— Por quê?

— Eu achei que arriscando meu corpo, provaria a mim

mesmo que sou corajosa. Eu não fazia ideia de que o mais perigoso
era ficar ao seu lado e conhecer quem você realmente é. O que

esconde do mundo.

— E quem eu sou, Beatrice?

— Não o homem frio que me avisou para não me apaixonar.

Você tem muito calor aí dentro e eu quero cada chama dele para
mim. Estou pronta para me queimar.
— Aria, vovô tem comido direito? — pergunto à querida
governanta quando ela passa por trás dele na sala.

Estamos em uma chamada de vídeo e meu avô parece meio


desanimado.

— Mais ou menos. Ontem ele não jantou, só tomou duas

doses de uísque.

— Vocês duas sabem que estou aqui, né? — ele diz, com

cara de poucos amigos. — Não sou criança. Sei cuidar da minha


saúde.

— Seu médico disse “não” a substituir refeições por álcool —


relembro, enquanto vejo Aria se afastar.

— Eu tive um dia ruim.

Fico tensa.

— Por que? Passou mal?

— Não. Eu… hum… encontrei-me sem querer com Greta.

Fico sem jeito sem saber se devo revelar que conheço a


história dos dois e o fato de meu avô ter sido rejeitado.

— Pode falar, Beatrice. Vejo suas engrenagens em

funcionamento.
— Não quero ser enxerida, mas ela me contou que o senhor
se ofereceu para assumir Tommaso como seu filho, depois que
enviuvou da vovó.

Ele suspira, parecendo cansado.

— E ela disse não.

— Eu sei, vovô.

— Greta foi a paixão da minha vida, muito antes de sua avó


existir.

— Foi?

— Sim. Passado. Não sou o tipo de homem que fica atrás de

uma mulher que não o quer. Ela fez uma escolha. Fim da história.
Quando me ofereci para assumir Tommaso como meu filho, não foi

por amor, mas porque eu não queria ficar sozinho. Era viúvo com

um filho pequeno para cuidar. Parecia a solução perfeita.

— Então se é assim, por que não se dão bem até hoje?

— Eu não suportava a maneira como ela aceitava os maus

tratos de Dino. Greta sempre foi brilhante. Um raio de sol. Acho que

ainda me ressinto por ela se valorizar tão pouco.

— Talvez não fosse uma escolha. O amor pode fazer mal,


também.
— Eu não acredito nisso. A obsessão sim, mas não que o

amor possa trazer tanta dor. Amor, para ser verdadeiro, tem que ser
correspondido. Se é unilateral, é paixão. Ninguém pode dizer que

viveu um amor se não recebeu nada de volta. O amor completa, é

pleno. A paixão se contenta apenas com o respirar do outro.


Qualquer migalha, porque a mente está enevoada. Às vezes,

doente.

— E agora?

— Agora, o quê?

— Há alguma chance daquilo entre vocês renascer?

— Não. Eu fui apaixonado por Greta, mas amei sua avó.

Mesmo quando propus casamento à mãe de Tommaso, sabia que

nunca poderia igualar os sentimentos que tive pelas duas. Sua avó
sempre ganharia. Qualquer outra perto dela, sairia em

desvantagem. Quer saber uma coisa sobre a vida, minha filha? Não

existe isso de segundas chances. Pode até ter uma outra


oportunidade, mas aquilo que deixou de viver, nunca mais se

repetirá.
Tommaso

Havaí

Dias depois

— Eu poderia perfeitamente viver em uma cidade de praia —


ela diz, quando sai do banho, depois de uma manhã inteira em que
a ensinei a surfar.

— Vamos comprar uma casa aqui, também?

Ela me olha, confusa.

— Fora a de Nova Orleans, menina.— Vou até onde está e a

puxo para meus braços. — Outro lugar para passarmos as férias.

Beatrice me entrega o sorriso mais lindo do mundo. Estamos

ambos comprometidos com a brincadeira desde o dia em que ela


falou aquilo na Bourbon Street.

— Ah, sim. Vamos comprar uma aqui, também. E eu quero

uma prancha só para mim. Acho que nasci para ser um peixe.

— E para os nossos filhos?

Ela se afasta como se eu a tivesse esbofeteado.

— O quê?

— Crianças. Quero meia dúzia, pelo menos. — Continuo,

meio brincando, meio falando sério porque tão louco quanto isso

possa ser, a ideia de ter alguns bambini[46] já não parece tão


assustadora.

A palidez que se espalha pelo rosto de Beatrice me liga um


sinal de alerta.

— Nada de crianças? — Testo, ficando subitamente sério,


enquanto algo como uma bola de ferro se desenrola no meu

estômago. A desconfiança que vem me assombrando há dias aos

poucos se transforma em certeza. Ela está doente.

— Não — diz, simplesmente.

— Sem problemas. Podemos adotar.

Eu agora a estou empurrando de propósito porque preciso

saber o que diabos está acontecendo.


— Não.

— Por que não?

Meu rosto está tenso e talvez intuindo que se formos por

aquele caminho, eu não vou parar até descobrir a verdade, ela volta

para perto de mim, me abraça e sorri.

— Quero ser a dona exclusiva desse corpo. Crianças me

atrapalhariam.

Eu beijo seus lábios devagar. Não mais com a luxúria que

sempre nos consome, mas com carinho.

Quando nos afastamos, eu a encaro.

— Está mentindo, Beatrice. Eu posso ver em seus olhos

todos os seus sonhos. Quer filhos. Vários, se eu pudesse chutar,


mas está com medo e eu não vou parar até saber a razão.

— O que eu quero mesmo, é saltar com você daquele avião e


voar em seus braços, Tommaso, mais do que você já me faz voar

aqui em terra firme. Infelizmente, para mim, você não quer pular.

— Posso te fazer sonhar acordada enquanto como sua

boceta, mas de jeito nenhum vou saltar de um avião a mil e

duzentas milhas por hora.


Mais tarde, naquele dia

— O segredo é não pensar muito antes de pular — o instrutor

diz quando abre a porta do avião.

Eles já checaram nossos equipamentos e os capacetes que

usamos têm comunicadores, então eu poderei falar com Beatrice


durante o salto.

Na última hora, decidi que nem fodendo a deixaria fazer

aquela loucura sozinha e não sei a quem preciso internar primeiro, a


ela, por ter esse desejo inexplicável de fingir que é um pássaro ou a

mim, por concordar com aquilo.

— Você está muito sério, senhor tutor — ela brinca.

— Ainda dá tempo de desistir.

— Não. Vamos lá, Tommaso. Como bem disse o instrutor, a

cada cem mil saltos, o número de mortes é zero ponto trinta e nove
por cento — diz, pegando minha mão e dando um beijo.
— São trezentos e noventa mortes. Não deveria ter me dito

isso — rosno.

— Por favor. Voar com você é como um sonho. Vai ser

incrível!

Fecho os olhos por um segundo e depois balanço a cabeça,

sorrindo.

— Está certo, maluquinha. Qualquer coisa por você.

O instrutor faz a contagem regressiva.

Não saltaremos sozinhos, mas com meia dúzia de

experientes paraquedistas.

A primeira impressão depois que pulamos é uma descida


infinita de montanha-russa, sem a segurança do carrinho.

Assustador para caralho.

Aos poucos, no entanto, enquanto atravessamos as nuvens,


a sensação de morte iminente vai sendo substituída pela adrenalina
controlando todo o meu corpo.

Um grito agudo de pura alegria vindo direto do meu capacete


me faz olhar para a mulher que tem virando minha vida literalmente

de cabeça para baixo.


Beatrice está sorrindo para mim, linda e livre como nunca a
vi.

Eu a encaro, fascinado com sua alegria, mas é o que diz a


seguir que faz meu coração disparar, não o salto.

— Eu te amo, Tommaso. — Sua voz ressoa no fone e os

instrutores gritam junto porque estão todos ouvindo. — Sempre te


amei e sempre vou te amar. Quando estiver velho, ainda vai se
lembrar de hoje. Eu nunca vou sair de dentro de você. Ninguém vai

ocupar o meu lugar.

A velocidade da queda parece aumentar e então, as nuvens

desaparecem. As do céu, e também aquelas que encobriam minha


visão e eu entendo que não tenho mais como fugir.

Beatrice é minha.

Sempre foi minha.

Sempre será.

Movo-me para alcançá-la e pego suas mãos. Sei que temos

poucos segundos, mas eu não preciso de muito tempo.

— Você é minha para sempre, pequena.

Seu sorriso desaparece e ela se desprende.

Eu não a persigo porque não preciso.


Não há nada que vá nos impedir de ficar juntos. Estamos
apaixonados. O que poderia ser mais importante que isso?

E então eu me lembro do segredo que ela está guardando de


mim e entendo porquê pareceu tão assustada com o que acabo de
falar. Sente medo. O que Beatrice não entende é que não desistirei

dela.

Não agora que descobri o que é essa mistura louca de


emoções que só ela consegue despertar em mim.

— Vinte segundos. — O mesmo instrutor que nos orientou

para o salto avisa e na hora todos os paraquedas se abrem.

Foco na descida.

A sensação é indescritível. Como se adrenalina estivesse

sendo bombeada por cada célula do meu corpo.

Por um momento até o solo, minha mente fica vazia de


pensamentos, preenchida pela satisfação de ter vencido o desafio.

Quando estou de pé, no entanto, me sinto ansioso enquanto

a equipe me ajuda a me soltar do paraquedas.

Enfim estou livre e corro até ela.

— Hey, você — chamo.

Ela pula em meus braços.


— Você é o melhor parceiro de vida! Não sei se teria

coragem de saltar sozinha!

— Não precisa saltar sozinha. Nunca mais. Disse-me que

coleciona momentos? A partir de hoje, colecionarei suas palavras.

Não vou me esquecer do que falou. Eu quero tudo, Beatrice. Cada


sonho seu se tornando realidade. Eu te amo.
Tommaso

— Estão se divertindo, filho? — mamãe pergunta em uma


chamada de vídeo.

Beatrice já deu “oi” para ela e agora está se arrumando para


nossa última noite no Havaí.

Amanhã, voaremos para a Sicília, pois apesar de italiana, ela

nunca esteve lá.

Será a parada final, já que o réveillon no Rio de Janeiro terá

que esperar.

Sim, estou fazendo planos.

Foi preciso saltarmos de paraquedas para eu entender, em


pleno ar, que o que estava acontecendo nas últimas semanas entre

nós é único.
Algo que nunca experimentei e que tenho certeza, não

voltarei a viver.

— Pular de paraquedas não foi tão ruim quanto eu pensei —

respondo, me obrigando a retornar ao mundo real.

— Achei que tinha medo de altura, Tommaso — diz, sorrindo.

— Medo, não. Somente não confio o suficiente em alguém

para cuidar da minha própria segurança ou da dela.

— Hummm…

— O que foi isso?

— Estou pensando no “da dela”. Sabe o que dizem sobre um

homem se sentir muito protetor em relação a uma mulher?

— Não.

— Em casos assim, é ele quem precisa ser protegido.

Eu a encaro em silêncio, pensando se devo dizer o que está

povoando minha mente desde que descemos do paraquedas.

Depois que me declarei, ela não disse nada de volta. Foi como se

tivesse sido pega de surpresa. Como se achasse que seus


sentimentos não poderiam ser retribuídos.

— Beatrice disse que me ama. Estou apaixonado por ela.

Nada pode dar errado.


— Qualquer um que olhasse de fora podia notar que estavam
apaixonados. Só precisei ver vocês dois juntos uma vez para ter

certeza. Ela porque tinha estrelas nos olhos quando você estava

perto e você…

— Eu o quê, mãe?

— Você é meu filho, Tommaso, não importa o quanto a vida e

os meus erros tenham nos afastado. Eu te conheço. Nunca deixou


qualquer mulher se aproximar tanto. Muito além disso, você nunca

desejou que uma mulher se aproximasse tanto. Sair com Beatrice

nessa viagem foi uma escolha. Você já a queria para sempre, só

não estava pronto para admitir isso ainda.

Ouço calado o que ela está dizendo. Minha mãe está certa.

Desde o começo, quando a persegui em Nova Iorque — talvez

mesmo antes, no aniversário de Mattia —, eu a queria.

Deixei que o passado interferisse em minhas decisões. Adiei

o quanto pude a nossa entrega, mas eu acho que

independentemente de termos saído nessa viagem, mais cedo ou

mais tarde, eu a caçaria e a pegaria para mim.

— Ela tem um segredo — digo.


— Todos nós temos segredos, filho e eles podem se tornar

nossa prisão.

— Sabe do que se trata?

— Sim, mas quem tem que lhe contar é sua namorada,


Tommaso.

— Sei disso. Nunca a trairia dessa forma. Eu nunca a trairia


de forma alguma.

— Tenho certeza disso, meu filho. Se há uma coisa boa


nessa minha história sórdida com o pai de vocês é que, graças a
Deus, meus três meninos não poderiam ser mais diferentes de Dino

Moretti.

No dia seguinte

Ela está de calcinha, sutiã e um jeans na mão, já que hoje


voaremos para a Sicília.
Ontem eu a levei a uma aula de skate — outro de seus

sonhos a serem realizados — e sua conclusão no fim, após alguns


tombos e boas risadas, é que o esporte não era para ela.

— Há algo errado? — pergunta quando me vê, talvez pela


maneira como a encaro.

A conversa com a mamma não sai da minha cabeça. Temos


que esclarecer tudo e não vou esperar chegar em Florença, no fim
da viagem.

Dou um passo para dentro.

— Eu te amo, Beatrice. Não sei o que está me escondendo,


mas o que eu sinto por você não vai mudar, independentemente do
que me conte.

Ela se aproxima de mim e me abraça.

— Eu escutei quando disse que me amava depois do salto,

Tommaso. Eu gostaria de ser uma boa pessoa e te falar que não


deveria me amar, porque o meu futuro…

Ela para de falar e começa a chorar.

— Continue, Beatrice mia. Esse suspense está me deixando

louco. Conte-me tudo. Prometo que não importa o que seja,


resolveremos juntos.
Antes que ela possa responder, meu celular, que estava na
mesinha de cabeceira, toca.

— Atenda — diz.

— Não.

— Deve atender. Pode ser algo sério.

Quando olho no visor, vejo que é minha irmã, Giovanna.

Suspiro irritado.

— Não é uma boa hora — falo sem preâmbulos.

— Precisa voltar para casa, irmão.

Sinto meu corpo enrijecer de tensão.

— O que foi?

— Mamma.

— O que aconteceu?

— Acabamos de voltar de uma consulta de rotina. Eles


descobriram outro câncer.
No voo para a Itália

— Ela não deu mais detalhes? — Beatrice, que não soltou a

minha mão desde que entramos no avião, pergunta ao meu lado.

— Somente que esse segundo câncer pode ser mais grave.

Como eles deixaram passar, Beatrice?

Fecho os olhos, sem acreditar que isso está acontecendo. Os

médicos disseram antes de viajarmos que minha mãe estava ótima.

Porra!

— Eu não faço ideia. Na teoria, era para terem revirado sua

mãe do avesso.

— Não posso perdê-la. Mamma ainda é muito jovem. Não é

justo. Ela acaba de se libertar daquele desgraçado. Deveria ter uma


segunda chance.

— Nem sempre a vida nos dá uma segunda chance,

Tommaso. O que podemos fazer é aproveitar da melhor forma o que


temos.
Beatrice

Enquanto observo o olhar de desespero de Tommaso ao se


encaminhar para falar com os irmãos no hospital, meu coração

afunda.

Culpa me inundando e também a certeza de que não posso

fazer aquilo com ele.

Disse que me ama, mas não tenho o direito de obrigá-lo a


ficar ao meu lado, sabendo o que virá pelo meu caminho.

O meu coração está partido em dois, mas eu preciso tomar


uma decisão de uma vez antes que o que temos cresça e nos fira

mais do que fará se terminarmos agora.

Eu o ouço falar com os médicos, a maioria conhecidos meus,

mas me mantenho à parte, somente observando, porque não tenho


certeza de qual é o meu papel em sua vida.
Estou quase me despedindo, decidida a ir encontrar meu avô,

quando a última pessoa que deveria estar ali, aparece: Dino Moretti.

O infeliz está bronzeado, bem-vestido como sempre e com

aquele mesmo ar de dono do mundo, como se esperasse que as


pessoas se ajoelhassem quando ele passa para lhe render

homenagem.

Sua aparência é tão contrastante com a dos filhos, todos com

ar cansado e tensos, que eu me pergunto o que diabos ele está


fazendo aqui.

Vejo o exato momento em que Tommaso nota sua presença.

Sua postura endurece. Seus olhos, ficam mais escuros e o

maxilar assume a rigidez de uma estátua.

— Por que veio? — ele pergunta quando o pai se aproxima.

Mesmo sendo o último lugar que desejo estar porque não

suporto Dino Moretti, vou para perto deles.

— Vim ver a mãe de vocês. Eu soube por um conhecido meu

que descobriram outro câncer. Ela vai precisar de mim ao seu lado

nos momentos finais. Vou me casar com ela. Realizar esse último

desejo. Greta sempre sonhou com isso.


— Como ousa? — Giovanna o enfrenta e as pessoas
começam a reparar no grupo, mas acho que eles não se dão conta

disso. — Como tem coragem de vir aqui e agourar nossa mãe? Ela

não está em momentos finais coisa alguma. Não precisamos de

você. Estamos com ela. Por ela. Nunca pudemos contar contigo

enquanto crescíamos. Por que faríamos isso agora?

— Ele não está aqui por preocupação com a mãe de vocês.

— Ouço Mattia dizer atrás de nós.

O tom que usa é alto o bastante para ser ouvido em todo o

corredor, o que me espanta. Meu avô é um homem discreto,

tradicional. Completamente avesso a escândalos. Deve haver

alguma razão para ter vindo.

— Não se meta nisso, Jilani. É assunto de família.

Tommaso se adianta.

— Ele é muito mais família do que você jamais será. Mattia

nunca precisou passar por nós e atravessar a rua. Não nos

cumprimentar porque estava com a mulher e os filhos ao lado.

Eu já imaginava a dor que os Andresano haviam


atravessado, mas ouvir Tommaso dizer aquilo em voz alta, a mágoa

escorrendo de cada palavra, sangra meu coração.


— O que está acontecendo, Mattia? — meu namorado

pergunta ao vovô.

— Ele está falido. Perdeu tudo. Se quer se casar com a mãe

de vocês agora, é visando ficar com o patrimônio dela.

Antes que Tommaso tome uma atitude, Giancarlo dá um


passo à frente.

— Saia daqui. Não chegue mais perto da nossa mãe, ou não


respondo por mim.

— Ela me ama! — o cretino insiste.

— Nossa mãe está doente, pai — Donatella diz, chorando. —


Será que por uma única vez não consegue deixar de pensar em si

mesmo, em seu próprio benefício?

Ver as lágrimas da filha parece finalmente ter o poder de


mexer com ele, mas ainda leva alguns segundos para sair.

Quando vai embora, abraço meu avô.

Estou exausta. Física e mentalmente. Preciso ficar sozinha.

A minha dor e a deles misturada é mais do que consigo


suportar.

— Leve-me daqui — peço baixinho no ouvido de Mattia.


Percebo que Tommaso nos observa, mas não estou pronta

para enfrentá-lo.

— O que há de errado, filha?

— Vamos até minha casa. Precisamos conversar — falo,


decidida a abrir toda a verdade.

Tommaso caminha até nós.

— Vou ver como ela está e depois te encontro na sua casa.

— Hoje, não. Preciso descansar.

Desvio dos seus olhos para não ver a mágoa neles e quando

meu avô passa o braço sobre meu ombro, me deixo guiar para fora
do hospital.

— Por que guardou esse segredo de mim, Beatrice?

— Não sei se vai gostar da resposta, avô.

— Nunca ia me contar?

Balanço a cabeça de um lado para o outro, fazendo que não.


Ele me segura em seus braços e nós dois choramos.

— Porque com esse meu coração fraco, provavelmente eu

não estaria mais aqui quando a doença se manifestasse, não é?

— Sim, para que fazê-lo sofrer?

— E no lugar disso, sofreu sozinha?

— É o meu fardo. Preciso aprender a lidar com ele. Andei


pensando. Ainda tenho mais de uma semana de férias. Vou viajar.

— E Tommaso?

— Telefonarei para ele. Conversaremos com calma na volta.

— Fugir não vai adiantar nada, meu bem. Aonde quer que
você vá, seu amor por ele estará junto.

— Não vou fugir. Conversarei com ele, mas não agora.


Precisa dar atenção à Greta. O senhor não faz ideia de como ele

estava no avião. Arrasado pela mãe. Como posso fazer com que
passe o mesmo comigo daqui a uns anos?

— É uma certeza? A doença, quero dizer.

— Sim. Foi feito um mapeamento no meu DNA, vovô.

— Deve ser da parte da família de sua mãe. Na nossa, tenho


certeza de que nunca houve casos.
— Sim, eu li que se um dos pais têm, o filho tem cinquenta
por cento de chance de herdar a doença.

— Eu queria poder trocar de lugar com você.

— Não duvido disso, avô. Entende agora porque não posso


permitir que Tommaso permaneça ao meu lado? Ele disse que me

ama e eu acredito, mas eu nunca vou poder me perdoar por fazer

com que ele sofra ao me assistir adoecer.

— Perdoe-me, Beatrice. Deus, eu errei tanto. Deveria ter

deixado você viver, aproveitar e ao invés disso, podei suas asas.

— Não, o senhor me deu o que eu precisava. Eu queria os

limites. Além do mais, essas semanas com Tommaso são memórias


o suficiente para guardar até meu último suspiro. Eu sou apaixonada

por ele desde que me entendo por gente, vovô e é por amá-lo que

tenho que deixá-lo livre.

— Para onde quer ir?

— Não muito longe. Estava pensando na nossa casa de

Mônaco. Eu só preciso esfriar as coisas entre nós.

— Quando?

— Agora mesmo.
— Beatrice? Eu ainda não consegui sair do hospital, mas irei
direto vê-la, bella — ele fala quando atende o telefone.

— Foi por isso que liguei. — Respiro fundo para não chorar.

— Espera, que barulho é esse?

— Estou decolando.

— Decolando para onde?

— Vou ficar uns dias fora. Quando eu voltar, conversaremos.

— Que porra é essa? Você está fugindo? É por causa da

conversa que precisamos ter?

— Não estou fugindo. Eu vou voltar. Agora, preciso ir.

Desligo o telefone sem conseguir parar de chorar.

Como a vida pôde me dar tudo e tirar em um mesmo

momento?
Tommaso

Eu sinto minha boca amarga como fel enquanto estaciono em


frente à casa de Mattia.

O orgulho não me permitiu ligar para Beatrice outra vez, mas


se há alguém capaz de me dizer o que no inferno está acontecendo,

é ele.

Depois que minha mãe teve alta do hospital, fomos todos


para a casa dela.

Não pareceu abatida, mas conformada. A única coisa que


exigiu é que não deixássemos Dino se aproximar dela.

— Tommaso — Mattia me chama, já na porta aberta.

Não é algo comum ele vir receber um convidado e aquilo só

me diz que está muito ansioso, também.


Respiro fundo antes de andar até onde está, tentando o meu

melhor para não me sentir traído por ela. Beatrice deve estar
apavorada e sei que só algo muito grave a faria fugir assim.

— O que ela tem, Mattia? Porque sei que foi essa a razão
para Beatrice ir para longe de mim. E não me dê qualquer tipo de

discurso. Sou louco por ela. Não me importa o que seja. Qualquer

tempo que tenha de vida, eu estarei ao lado dela.

Foda-me. Deveria ser para minha mulher esse discurso.

Eu nunca me senti tão perdido.

— Vamos entrar, meu filho. Eu vou te contar tudo.

Na sala principal, ele serve uma dose de uísque para cada


um de nós.

Dou um gole grande, quase finalizando-o e aquilo cai como

um tijolo no meu estômago vazio.

— Já ouviu falar na Doença de Huntington?

— Não.

— Eu já, mas isso é porque sou velho e depois de uma certa


idade, pesquisar doenças passa a ser um hobby.

— Espera, é isso o que ela tem?

— Sim.
— Um minuto — peço, pegando meu celular.

— Jesus, vocês jovens e essas pesquisas online.

— Sabe detalhes da doença?

— Não.

— Eu preciso descobrir tudo o que eu puder.

Teclo o nome que ele falou no buscador e meu estômago se

contrai quando começo a ler.

“A Doença de Huntington (DH), também conhecida como Coreia de

Huntington, é uma doença hereditária rara, neurodegenerativa, que

afeta o sistema nervoso central, causando alterações dos

movimentos, do comportamento e da capacidade cognitiva.

A DH é causada por uma mutação no gene que codifica uma

proteína chamada huntingtina (Htt). Esta mutação produz uma forma

alterada da proteína Htt, que causa a morte das células nervosas

(neurônios) em determinadas regiões do cérebro.

Certas funções do cérebro, como a habilidade de se mover, pensar

e falar, deterioram-se gradualmente à medida que células nervosas


chaves são danificadas e morrem.
A DH atinge homens e mulheres de todas as raças e grupos étnicos

e, de forma geral, os primeiros sintomas aparecem lenta e


gradualmente entre os 30 e 50 anos, mas pode atingir também

crianças e idosos.

Um médico bem informado pode prescrever um tratamento para

minimizar o impacto dos sintomas motores e mentais, embora estes


sejam progressivos.

A DH é uma doença fatal que se desenvolve gradualmente.

A maioria das pessoas com DH não morre como resultado imediato


da doença, mas sim de complicações causadas pelo estado de

fragilidade do corpo, particularmente por asfixia em consequência


de o doente se engasgar, por infecções (por exemplo pneumonia) e

por parada cardíaca.”[47]

Aperto o celular com força, incapaz de continuar lendo.

Cenas de Beatrice dançando na chuva, andando de skate,


pulando de paraquedas, desfilam na minha mente e tudo o que
consigo pensar é que porra de vida é essa em que alguém como

ela, que não pôde experimentar quase nada, tem sobre si um fardo
tão pesado.
Eu só percebo que estou chorando quando Mattia se senta

ao meu lado.

— Você a ama.

Aceno com a cabeça, concordando.

— Eu não me importo. Não tem problema. Eu quero qualquer

tempo que ela tenha ainda. Dez segundos ou vinte anos. Ela é
minha e eu não vou deixar que fuja.

— Ela não quer você por perto para que não sofra. Minha
menina é abnegada assim. Beatrice não tem alguém além de mim.

Ela não ia me contar, Tommaso, para me poupar.

Ver o homem que sempre foi minha fortaleza quebrando me

faz tomar uma decisão.

— Não preciso que seja abnegada comigo. Eu vou lidar com


tudo o que vier em nosso caminho. Beatrice foi a melhor coisa que

me aconteceu. Diga-me onde ela está, Mattia.

— Em nossa casa em Mônaco. Vai para lá agora?

— Sim. Eu não posso esperar. Ela me ama. Disse isso mais


de uma vez. Não vou permitir que desista do que temos por medo. A

doença se manifesta em média aos trinta anos, até lá, muita coisa
pode mudar. A ciência, evoluir. Mas mesmo que não aconteça, eu
não me importo. Eu a quero do jeito que for. Cuidarei dela e a
protegerei. Beatrice ainda tem muitos sonhos para realizar e serei
aquele que estará ao seu lado.

— Tommaso? — ela pergunta depois do celular tocar ao

menos dez vezes.

— Estou parado na entrada da casa e não vou embora.

— Você é louco? São duas e dezoito da manhã. Nem


dormiu?

— Abra, Beatrice.

— Estou descendo.

Menos de dois minutos depois, a porta da frente da mansão


envidraçada com vista para o mar se abre.

Ainda estou recostado no veículo que aluguei, ansioso

porque sei que o que conversaremos decidirá nosso futuro.


Beatrice a princípio também não se move, me olhando de
longe, mas quando percebe que continuo parado, toma a iniciativa
de vir.

No início, parece hesitante, mas então acho que vê algo em


meu rosto e corre para os meus braços.

Eu a aperto tanto que tenho medo de machucá-la.

— Eu nunca vou te deixar, Beatrice.


Tommaso

Beatrice tenta falar, mas eu não permito. Teremos tempo para


isso depois. Agora, eu preciso do abrigo de seu corpo.

De seus sussurros e as promessas que me faz quando estou


dentro dela.

De sua voz rouca chamando meu nome enquanto me puxa e

me pede por mais.

— Eu te amo. Você me ama. Não pense em mais nada. —

falo.

Eu a pego no colo e começo a andar para a casa.

Loucura, fome, medo e desespero revezam-se dentro de


mim.

Quando entende que o que precisamos agora não são


palavras, ela me puxa pelo pescoço, me beijando com ganância.
Somos opostos, mas também complementos. Possuidor e

possuído.

— Quarto? — pergunto, tonto pelo seu cheiro único.

— Não quero esperar — diz e começa a abrir minha camisa.

— Eu te amo.

Seus olhos brilham de emoção e eu farei qualquer coisa para

mantê-los assim: vibrantes, quentes, desejosos, porque cada célula


dela quer viver.

— Tem certeza de que quer aqui? — confirmo porque não


estou conseguindo pensar com clareza.

— Tenho.

Ela está de camisola e depois de encostá-la contra a parede,


desço o zíper da minha calça, enquanto afasto sua lingerie apenas o

suficiente para entrar inteiro nela.

Ambos ficamos sem fôlego. Loucos de amor e desejo.

— Nunca mais fuja de mim — ordeno, enquanto a possuo

profundamente. — Eu vou te caçar seja onde for.

— Eu te amo — diz novamente, ao invés de me chamar de

louco, que é exatamente como me sinto agora.


Nossas bocas só separam para buscarmos ar, porque a
necessidade de conexão, de saciar a fome é quase dolorosa.

Ela move-se, subindo e descendo no meu pau, mas não é o


bastante e eu seguro sua bunda metendo duro, tomando-a uma e

outra vez sem pausa, me enterrando em seu sexo apertado.

Rasgo uma alça da camisola e pego um peito inteiro na boca.

Ela geme alto e rebola.

Então, algo dentro de mim estala.

— Assim, não — falo, andando para onde suponho que seja

a sala. — Você merece mais do que ser fodida contra uma parede.

Caminho até um tapete macio e depois de pô-la de pé, tiro a

roupa e livro-a do que sobrou da camisola e calcinha, que na minha

ânsia furiosa, rasguei.

Deito-me no chão e a puxo sobre o meu corpo.

— Cavalgue-me.

Ela está tão quente que parece febril quando a suspendo


pela cintura e volto a me encaixar em sua abertura.

A diferença física entre nós faz com que precise ampliar


muito as pernas, sentada escancarada em mim e a visão é erótica

para caralho.
Ela estremece enquanto me monta, se acostumando,

tentando me acomodar em suas paredes estreitas.

Murmura meu nome como uma oração, usando as mãos

apoiadas no meu peito como uma espécie de alavanca para me


cavalgar.

Eu não consigo me manter tão longe, então sento-me, e

agora, mesmo ela estando por cima, sou eu quem tem o total
controle sobre a foda.

Minutos inteiros se passam e eu nem penso em parar. Não


tive o suficiente. Nunca haverá um “suficiente” com relação a

Beatrice.

Lambo um seio, a língua saboreando em círculos a ponta

rosada, sugando até ouvi-la gemer.

Uma das minhas mãos desce entre nossos corpos e toca seu

clitóris, resvalando de leve e é o bastante para que ela goze em


mim.

Aprofundo o beijo e enquanto chupo sua boca, bato duro

dentro dela.

Seu sexo me encharca e os quadris começam a se mover em

círculos.
Beatrice me prende dentro de si, enquanto convulsiona ao

redor do meu pau.

Empurro com força, fodendo-a com selvageria, não deixando

qualquer espaço entre nossos corpos.

A boceta se aperta, estreitando-se e seus gemidos são minha

ruína.

O prazer se espalha por todo o meu corpo quando me

derramo em seu interior.

Beijo sua boca e diminuo o ritmo.

— Eu quero que essa noite seja uma de suas lembranças,


bella.

— Tudo o que acontece entre nós faz parte da minha

caixinha de lembranças, amore.

— Não vai caber, Beatrice. Vou te dar tantas razões para

vibrar e sorrir que sua caixinha de lembranças vai transbordar. Eu


não sei quanto tempo temos, mas eu prometo que vou fazer com

que minutos, meses ou anos, valham muito a pena.


Estamos sentados na banheira, ela recostada em mim, os

corpos sendo massageados pelos jatos de água quente.

— Nunca mais faça isso. Eu sei que escondeu de seu avô

porque sentiu medo de que ele não pudesse aguentar a notícia, mas
a partir de agora, somos nós dois.

— Tem noção do que está dizendo? Sabe o que eu terei?

— O básico, sei sim. Pesquisei o que pude no voo para cá,

mas como será no futuro não importa, Beatrice, e sim que eu não
vou a lugar algum. Eu encontrei minha casa, meu mundo inteiro em

você.

Ela gira em meus braços.

— Não quero ser um fardo.

— Nunca mais repita isso. Eu já disse, mas sei que palavras

não são nada perto de ações. Eu quero você para mim, comigo.
Construir uma vida ao seu lado. Ninguém sabe o tempo que resta
para si. Vamos fazer do nosso juntos, o melhor que pudermos. Seja
minha, bella. Esposa, mulher, dona. Seja minha.

— O que está me dizendo?

— Case-se comigo, Beatrice. Me dê a honra de compartilhar


sua vida.

Ela monta no meu colo e começa a chorar. Não era a reação

que eu queria, mas eu mesmo não me sinto mais estável.

— Eu não sou forte o bastante para dizer não, Tommaso.

Mesmo sabendo que não vou poder te dar tudo o que você merece,

eu quero me casar com você.

O beijo agora é vagaroso, não mais a urgência de amantes


ansiosos para validar amor, mas uma comunhão de almas, um

encontro que sei que para mim será único, insubstituível.

Jamais haverá outra mulher capaz de me alcançar como


minha Beatrice faz.

Uma hora depois de sairmos da banheira e comermos, nos

deitamos no sofá da sala, ela em cima de mim.

Olha-me sem falar. Fez muito isso ao longo da madrugada e


sei que é porque está preocupada.
— Eu nunca terei filhos — diz, levantando o rosto do meu

peito. — Você disse que queria, mas eu não posso me arriscar. Há


cinquenta por cento de chance de que ele herde a doença.

— Podemos adotar se você desejar, ou podemos ser

somente nós dois para sempre. Não pense nisso agora, e sim em
mamãe e minhas irmãs, que vão te deixar louca com os

preparativos do casamento.

— Greta, meu Deus! Como ela está? No meu desespero eu

agi como uma egoísta, mas juro que foi pensando em protegê-lo.

— Proteger-me de que, Beatrice? Do meu amor por você?

Nunca tive defesa contra ele. Nunca desejei defesa contra ele.

Afasto os cabelos de seu rosto e beijo sua testa.

— Chega de chorar. Minha mãe está bem, dentro do


possível. O câncer dessa vez está localizado no pescoço.

— Linfoma[48]?

— Isso, mas como o do seio, está em estágio inicial. Vai dar

tudo certo.

— Você é uma fortaleza, Tommaso.

— Eu nunca desisto, Beatrice. Jamais me dou por vencido.

Não vou desistir das duas mulheres da minha vida.


Fico em silêncio por um tempo, a cabeça trabalhando sem

cessar.

— O que está pensando? — pergunta.

— Em quem é o maior especialista para tratar seu problema.

— Deveria ser um neurologista e nesse caso, o maior

especialista é o doutor Athanasios Pappakouris, o mesmo médico

que me deu o curso que fui fazer em Nova Iorque, mas acho que,
atualmente, ele atua somente como neurocirurgião.

— Vou procurá-lo, de qualquer modo. Afinal, foi através do kit

de DNA do hospital dele que você obteve seu diagnóstico. Amanhã

vou tentar marcar uma vídeo chamada para nós três.

— Não acho que ele vá atendê-lo. O homem é muito

ocupado.

— Já ouviu falar em rede de influência, bella? Eu descobrirei


de quem ele é amigo até que consiga o que preciso. Se Athanasios

Pappakouris é o maior neurologista vivo, será ele quem cuidará de

você.
Beatrice

Quatro dias depois

Eu mal consigo acreditar que estamos sentados na sala da


casa do meu avô, já de volta em Florença, esperando doutor
Athanasios Pappakouris aparecer para a vídeo chamada.

Quando a imagem do homem que o mundo conhece por

“deus" surge na tela do Ipad, minha boca se abre e não fecha mais.

Tommaso acabou nem precisando ir tão longe em sua rede

de conhecidos. Ricco, o irmão dele, tem um amigo grego que, por


sua vez, é amigo do médico.

— Beatrice Jilani, como vai? — ele pergunta e eu quase caio

dura para trás.

— Lembra-se do meu nome?


— Nunca me esqueço de um nome ou de um rosto — diz, de

maneira impessoal. — E você deve ser Tommaso Andresano.


Alguma relação com o piloto Gaetano Andresano?

— Ele é meu irmão — Tommaso responde e consigo sentir


sua impaciência. — Sabe por que pedimos para falar com você?

“Você”.

Ai, Jesus!

Não “senhor”, ou “doutor”, e sim “você”.

Tenho certeza agora de que meu noivo não faz ideia de com

quem está prestes a conversar.

— Segundo Dionysus[49] me disse — acho que ele é amigo do


seu irmão Ricco, certo?

— Sim.

— Pois, então, segundo Dionysus me disse, parece que a

sua namorada, que por acaso foi minha aluna em um dos cursos

que ministrei, recebeu um diagnóstico de Huntington.

— Isso mesmo. Qual é o percentual de certeza do seu teste

de DNA?

— Ela descobriu através do teste de DNA que ofereci aos

alunos do curso?
— Sim, senhor, doutor Pappakouris. Recebi o resultado no
meu último dia do curso — respondo.

Ele não demonstra surpresa ou qualquer emoção. O homem


é um verdadeiro bloco de gelo.

— Nenhum resultado é cem por cento confiável se não

houver uma contraprova. Você a fez?

— Não. Fiquei apavorada demais para sequer pensar nisso.

— Deveria. É o primeiro passo para termos certeza.

— E depois? — Tommaso pergunta.

— Eu sugiro que refaça o teste, dessa vez não com o kit

básico, mas um exame mais completo. Depois, dependendo do

resultado, conversaremos.

— Algum hospital ou clínica que sugira?

— Vocês estão em Florença, certo?

— Sim, mas não importa onde seja, iremos. — Tommaso

continua.

— Eu recomendo uma na Suécia. Mandarei minha secretária

passar tudo por mensagem e também, se desejarem, agendar o

exame para a senhorita Jilani. Eles são muito exclusivos e

geralmente há uma espera de meses.


— Não podemos esperar tanto — Tommaso diz.

— Por isso intervirei. Ninguém me faz esperar.

Jesus, fale sobre ego!

O problema é que ele tem razão. O homem é considerado


praticamente o novo Messias pela comunidade médica.

Em seguida, com um mero aceno como despedida, ele some


do visor.

— Você parece mais ansioso do que eu.

— Eu estou mais ansioso. Quero descobrir tudo a respeito da


sua condição.

— Não queria te deixar preocupado.

— Não depende do seu querer, amore mio. Já nasci assim.

— Quando vão escolher um anel? — Mattia pergunta atrás

de nós. — Mal posso esperar para que anunciem logo o noivado.

— É ela quem está me enrolando para se decidir por um.


Quero que tenha o que deseja e Beatrice diz que confia no meu

gosto. Estamos em um impasse — Tommaso diz de mau humor.

— Tenho uma contraproposta — falo, certa de que ele vai rir.

— Qual é?
— Saímos para escolher o anel hoje desde que me leve para

tomar sorvete naquele lugar que Luna recomendou.

Quando Tommaso ligou para o irmão para tentar encontrar

amigos em comum com o doutor Pappakouris, Ricco nos chamou


para jantar lá e pude conhecer a esposa dele, Luna e a bebezinha

Paola, que é a coisa mais fofa do mundo.

Ela me contou de um sorvete de morango que amava e eu


fiquei com água na boca. Não conhecia a sorveteria ainda porque

além de ter passado anos em Milão, nunca tive por hábito caminhar
pelas ruas como uma pessoa comum.

— Você é muito fácil de agradar, bella — meu noivo diz.

— Sonhei com esse sorvete. Farei qualquer coisa se me

levar para tomá-lo.

Ele e meu avô sorriem.

— O que eu disse de mais?

Vovô beija minha testa.

— Acho que é a única mulher na face da Terra que precisa


ser persuadida com sorvete para pode sair e escolher uma joia.

— Eu não preciso de um anel — defendo-me —, tenho o


amor de vocês dois.
— Precisa, sim — meu noivo diz. — Joia alguma poderá
expressar o que sinto por você, Beatrice mia, mas ao menos vamos
afastar os desavisados, deixando claro que é comprometida.

— Nem sei quantas reviradas de olhos merece esse


comentário machista. Sua sorte é que eu te amo, mesmo quando

parece ter vindo de outro século.

— Não há nada de errado ter vindo de outro século — vovô


diz, gargalhando.

Se alguém me falasse que depois de todo o sofrimento de


alguns dias atrás estaríamos os três brincando sobre a escolha de

um anel, eu jamais acreditaria. A verdade, no entanto, é que a


coragem de Tommaso, seu apoio e a certeza de que não precisarei

enfrentar tudo sozinha, devolveu o ar aos meus pulmões.

Eu não vou desistir. Tenho muito o que viver ainda.

— Quando viajarão para a Suécia para fazer a contraprova


do teste? — meu avô pergunta.

— Assim que conseguirmos marcar com o laboratório de lá.


Espero que amanhã mesmo.
Suécia

Uma semana depois

— Está demorando muito — Tommaso fala, enquanto saímos

do quarto de hotel. — Por que não puderam simplesmente nos dar o

resultado por e-mail ou telefone?

Hoje o laboratório nos ligou dizendo que sairia o resultado

sem falta, mas o médico que falou comigo, pediu uma reunião

pessoalmente.

Meu coração afundou dentro do peito. Toda a esperança


desses últimos dias mesclada pelo pavor de que a situação seja

ainda pior do que pensamos a princípio.


Quarenta e cinco minutos depois, eu sinto meu corpo todo
tremer , mas não pela razão de antes — medo —, e sim, pela

notícia que acabo de receber.

Quando chegamos à clínica, eu mal pude acreditar que o

doutor Athanasios Pappakouris estava lá, nos esperando. A notícia


que nos deu foi um alívio.

— Como uma merda dessas pode ter acontecido? —

Tommaso explode. — Você tem noção de que essa confusão

roubou meses de vida dela? Do quanto Beatrice chorou, sofreu e se


torturou achando que não poderia mais realizar seus sonhos?

O neurocirurgião grego se mantém impassível.

— Se vocês não tivessem entrado em contato comigo, nunca


teríamos descoberto. — fala. — Ao menos uma dúzia de

diagnósticos foram trocados, pelo que averiguamos até agora.

— Foda-me! — Tommaso urra.


— Eu já mandei que todo o sistema fosse trocado e agora a

empresa de Odin Lykaios[50] reorganizará a parte de segurança da

tecnologia do meu hospital.

— O que aconteceu foi muito grave — me manifesto pela

primeira vez, chocada. — Um diagnóstico errado pode fazer com


que pessoas tomem atitudes drásticas, talvez até mesmo atentando

contra a própria vida.

Pela primeira vez, uma réstia de emoção atravessa o rosto do


médico, mas desaparece rapidamente.

— Eu não tenho como expressar o quanto lamento, senhorita

Jilani, mas garanto que o responsável será punido. Eu o caçarei até

descobrir o que diabos estava pensando ao brincar com a vida das


pessoas desse jeito.

A vinda do doutor Pappakouris para a Suécia teve uma

razão: ele acaba de nos contar que o sistema do hospital foi


hackeado, provavelmente por um funcionário de lá de dentro de sua

empresa e que eu não tenho a doença de Huntington.

Ainda não caiu minha ficha sobre o engano, mas eu fiquei tão

emocionada que no meio da reunião mandei uma mensagem para


vovô, dizendo:
“Eu não estou doente.”

Ele respondeu pedindo que lhe telefonasse assim que saísse

daqui.

Enquanto observo os dois médicos, o grego e o sueco,


ouvirem Tommaso descarregar sua fúria italiana, penso no futuro.

Não precisarei mais abrir mão de nada: minha profissão, a

Fundação, filhos.

É como renascer. Deus está me dando uma segunda chance

e eu pretendo agarrá-la com unhas e dentes.

Eu não percebo que começo a chorar até que, ao levantar a

cabeça, vejo os três homens me encarando.

— Receber a notícia de que ficaria doente foi a pior coisa que

aconteceu na minha vida. — Começo e Tommaso segura minha

mão, beijando-a. — Mas também me fez ter coragem de sair da

minha zona de conforto. Arrisquei-me como nunca teria feito. —


Olho para o meu noivo. — Inclusive transformar o amor que sempre

senti por você, de fantasia em realidade. Não digo que estou

agradecida por essa confusão, mas acredito que tudo tem uma
razão de ser. Estava escrito em algum lugar que seria assim. Não

quero processar o hospital do doutor Pappakouris, Tommaso. Só

desejo seguir adiante e agradecer a Deus por essa nova

oportunidade.

Tommaso me beija na frente de todos e depois mantém um

braço em volta dos meus ombros.

De repente, ele fica rígido outra vez.

— Espera. O diagnóstico de Beatrice foi real ou forjado? —

meu noivo pergunta.

— Real — o grego responde e olha para mim. — Há alguém

do curso com a doença de Huntington.

— Quem? — pergunto.

— Sabe que não posso responder isso, senhorita Jilani, mas

lhe digo que quem fez essa mistura estúpida com os exames, tem

um senso de humor doentio. Os pacientes que tiveram os


diagnósticos trocados, que eram todos alunos do curso que a

senhorita participou, têm a mesma idade, com diferença de poucos

meses, no máximo, e também tipo físico.

Olho para ele enquanto passo mentalmente o rosto de cada

um dos alunos que estudaram comigo. Quando termino, meus olhos


enchem-se de lágrimas.

— Oh, meu Deus! Hazel!


Beatrice

A expressão do médico grego depois do que eu falei me


deixou ver que eu acertara e meu coração sangrou ao pensar na

expressão sorridente da menina que é somente poucos meses mais


velha do que eu.

— O senhor já falou com ela?

O rosto do médico parece um bloco de mármore, mas eu


intuo que seja mais por tensão do que indiferença dessa vez. Uma

confusão como a que aconteceu com a troca de diagnósticos não é

pouca coisa, pode manchar uma reputação e, talvez, destruir uma


carreira.

Não que eu acredite que vá acontecer, pelo simples fato de

que não existe alguém vivo atualmente que possa substituir o doutor
Athanasios Pappakouris. Ele é o melhor no que faz e contra fato,

não há argumento.

Levanto-me sabendo que ele não falará mais nada. Nossa

conversa já terminou no que me consta e começo a me despedir


dos dois médicos.

Antes que eu dê adeus, entretanto, o sueco me para.

— Nós fizemos todos os exames que precisávamos, mas


também os de rotina, senhorita Jilani… — ele começa e eu franzo a

testa, sem entender nada.

— O que foi dessa vez? O que há de errado com ela? —

Tommaso, que já estava começando a relaxar, fica tenso outra vez.

— Nada de errado. Mas descobrimos algo que talvez melhore

o dia de ambos. A senhorita está grávida.

Sento-me novamente, certa de que há um engano. Eu e

Tommaso sempre usamos preservativo.

Não. Mentira, quase sempre usamos preservativo.

Oh, meu Deus!

— Tem certeza disso? — meu noivo pergunta.

— Sim. Não sabemos de quanto tempo, mas pela contagem

hormonal, acredito que de poucas semanas.


Eu me despeço deles como um autômato, permitindo que
Tommaso me guie para o carro à nossa espera.

— Beatrice, fale comigo.

— Eu não consigo. Estou com medo.

— Vai dar tudo certo, bella. Estarei ao seu lado.

— Não é medo pelo bebê, Tommaso, é medo de que tudo

isso não seja verdade e que de um momento para o outro, alguém

vá me dizer que é parte de um sonho. Em um mesmo momento eu

soube que não ficarei doente, que não precisarei adiar meus planos

e no seguinte, que vou ser mãe do seu filho.

Ele entra no carro comigo e manda o motorista esperar do

lado de fora.

— Está feliz, então?

— Dizer que estou feliz é muito pouco para expressar o que


sinto. E você?

— Eu queria ser menos egoísta e falar que esperava que não


fosse agora porque você ainda nem se formou e ainda é muito nova,

mas a verdade é que eu me sinto nesse instante como um ganhador

de um grande prêmio de loteria. Eu tenho tudo que quero. Sou o

dono do mundo.
— Eu te amo, Tommaso. Só tenho o que agradecer a Deus.

Quero muito uma vida ao seu lado. Como me disse durante nossa
viagem, sonho com uma casa cheia de filhos.

— Vamos providenciá-los. Vou te manter ocupada, mulher.


Não consigo pensar em nada melhor do que produzir bebês em

série.

Dou um sorriso triste e ele percebe. Levanta meu queixo para


que o encare.

— Sei o que está pensando. Não se sinta culpada por não


estar doente.

— Eu não estou me sentindo culpada, mas não posso me


impedir de pensar em como Hazel está nesse instante. Eu preciso

falar com ela.

De dentro do veículo ainda, tento completar a ligação para a

Austrália, mas ninguém atende. Mando mensagem, mas mesmo


depois que chegamos ao hotel, não obtenho qualquer resposta.

Tommaso percebe minha frustração e me abraça.

— Talvez ela esteja precisando de um tempo, Beatrice. Eu


tenho o número do irmão de Hazel. Quem sabe não deva ligar para

ele? Provavelmente sua amiga deseja ficar um pouco sozinha.


— Eu sei. Entendo o que ela está passando agora.

Principalmente a parte de não querer compartilhar ou conversar a


respeito — digo, secando uma lágrima. — Sinto-me egoísta por

estar contente de não ter a doença, Tommaso. Isso faz de mim uma
pessoa ruim?

— Não. Faz de você humana, amore mio.

Assim que chegamos ao hotel, Tommaso faz uma chamada


de vídeo com toda a família. Temos um grupo de mensagens que foi

nomeado de “AJ” — Andresano-Jilani — desde que meu diagnóstico


foi aberto para todos os irmãos, já que para Greta, eu havia contado
anteriormente. Até mesmo Aria participa do chat, embora ela quase

nunca mande mensagem.

— Eu não acredito que vou ser avó de novo.

— E eu, bisavô — Mattia diz, com um sorriso de orelha a


orelha.
Não falamos nada sobre Hazel. Conversamos a respeito e
achamos que vovô e Greta mereciam aquele momento de
felicidade, sem que nada mais encobrisse a alegria de saber que

não ficarei doente e também de que em breve teremos mais um


membro na família.

— Quando voltam para Florença? Estou animada para


continuarmos com os preparativos para o casamento. Não quero

esperar — minha sogra diz e eu, mais do que ninguém, a


compreendo.

Quando se tem o relógio da vida em contagem regressiva

sobre a cabeça, nem sequer um dia pode ser desperdiçado.

— Quanto tempo acha que precisa? — pergunto, feliz com a

alegria dela.

— Um mês. Podemos fazer isso em um mês, não é mesmo,

meninas? — fala com as filhas.

Ela está bem, aparentemente e em pouco tempo fará o

primeiro ciclo de quimioterapia. Eu soube que Mattia foi visitá-la


anteontem e fiquei surpresa que meu avô não tenha tocado no

assunto.
Não acredito que eles dois terão uma segunda chance. Vovô
foi sincero quando disse que a esposa falecida foi o amor de sua
vida e Greta, acho que se fechou para o sentimento, mas acho que

na idade deles, às vezes uma amizade verdadeira pode ser tão ou


mais importante do que um relacionamento físico.

— Um mês me parece ótimo — falo, sorrindo. — Mal posso


esperar para mostrar à Itália toda que esse bonitão aqui é meu.
Tommaso

Quinze dias depois

Enquanto carrego minha noiva no colo para dentro de casa, a


minha, que em breve será nossa, já que decidimos que moraremos
aqui porque desejamos enchê-la com muitos bambini, Beatrice sorri,

agarrada ao meu pescoço.

— Vou ficar mal acostumada com todo esse tratamento de


rainha, e tal. Está criando maus hábitos para o nosso futuro. Não me

contentarei com nada além de sua devoção total, Andresano.

Olho sério para ela.

— Um dia, eu te disse que nunca deveria se contentar com

“bom o bastante” e pretendo cumprir o que falei. Não posso garantir


uma vida perfeita, Beatrice, mas darei o meu melhor para fazer da

nossa história algo a ser lembrado no futuro.

— Eu já tenho tantos momentos para recordar que, como

você bem prometeu, a caixinha das boas memórias está


transbordando.

— E nós só estamos no começo de uma longa vida, amore

mio.

É raro Beatrice brincar ultimamente, pois até hoje não

conseguiu conversar com Hazel ou Cooper, o irmão dela. Sei o

quanto isso a entristece, mas não há nada que possamos fazer.

— Por que quis tanto vir jantar em sua casa hoje? Achei que

preferia a vinícola — diz.

— Nossa futura casa. E sim, eu prefiro a vinícola, mas pensei


a respeito e vi que seria uma confusão danada organizar tudo lá.

— Não estou entendendo.

— Com o que aconteceu, não comemoramos seu aniversário

de vinte e um anos, minha noiva, mas eu não me esqueci dele.

Chegamos à porta da minha casa e Donatella, sempre ela,

que não consegue esperar por um segundo para concluir a


surpresa, abre-a com chapéu de aniversário, balão de gás na mão e
pulando feito uma doida.

— Feliz aniversário, cunhada! — grita, beijando a bochecha


de Beatrice, que ainda está no meu colo.

Conforme vou andando com ela em meus braços, minha

mulher percebe que a casa está toda decorada, mas a surpresa só

está começando.

Ela quase salta do meu colo e corre para abraçar o avô e

mamãe. Depois de falar com meus irmãos, volta aos meus braços.

— Você é o melhor.

— É, eu sei.

— Jesus, Tommaso. Resposta errada. Deveria dizer “são


seus olhos”.

— Por quê? Além de ser uma expressão cafona, seria


mentira. Agora vem cá. Deixa eu te mostrar seus presentes.

Na sala principal, eu lhe entrego um envelope. Quando o


abre, sua boca escancara.

— Você é louco.

— Sim. Completamente louco por você.

— Uma casa em Nova Orleans?


— Aham. Vamos passar o carnaval lá tantas vezes quanto

você quiser.

— Ai, meu Deus! Eu não sei o que dizer.

— Melhor esperar um pouco mais para agradecer — falo e


entrego o segundo envelope.

Agora acho que ela já começou a entender que estou


determinado a realizar o que, na época em que viajamos, eram
sonhos de brincadeirinha.

— Você não fez isso. Não comprou uma casa no Havaí. —


diz, ao abrir o segundo envelope.

— Fiz sim e também uma prancha de surf para minha sereia

particular.

Ouço a risada dos nossos familiares, mas nesse instante, eu


só tenho olhos para ela. O amor da minha vida. A mulher que

adorarei e honrarei até meu último suspiro.

Nunca me imaginei me expondo tanto, abrindo meus

sentimentos nem mesmo para minha família, mas a suposta


condição de Beatrice e a doença da minha mãe me mostraram que
não podemos contar com uma vida longa. Cada segundo importa.

— Espere aqui — mando e vou para uma sala em anexo.


Pego o presente final em meus braços e ganho uma lambida

na bochecha.

— Oi, você. Chegou a hora de fazer sua mãe sorrir, menino.

Eu mal piso na sala e Beatrice tampa a boca. Enquanto me


aproximo, consigo ver as lágrimas que tentar disfarçar.

— Diga oi para o Cannoli[51], Beatrice.

Ela para de chorar, joga a cabeça para trás e gargalha e eu


tenho a certeza de que vou viver para fazê-la sorrir.

— O que vou fazer com você, Tommaso? Um cão com nome


de doce? Lembrou-se de todos os meus sonhos — diz, se

aproximando e abraçando a nós dois.

— Comece me amando incondicionalmente. Acrescente que


além de lindo, sou o homem mais sexy que já conheceu. Em

seguida, jure que será minha para sempre. Acho que desse jeito,
sua dívida estará se encaminhando para ser sanada.

— Só isso? Vai ser a dívida mais fácil de ser paga do mundo,


meu amor.
São três horas da madrugada e eu ainda não consegui

dormir, agitado para cacete com os acontecimentos dessa noite.

Depois que todos foram embora e que colocamos Cannoli

para dormir, eu e minha mulher fodemos por horas. Tem sido assim
todos os dias. Ainda mais intenso do que antes. Beatrice põe a

culpa nos hormônios da gravidez, eu, entretanto, sei que não é só


isso, mas a certeza de que precisamos aproveitar todo o tempo que
Deus nos conceder.

Sento-me na minha poltrona favorita, o celular no colo e faço


o que tenho feito desde que descobrimos que Hazel tinha a doença

de Huntington: tento ligar para o irmão dela.

Fico surpreso quando atende. Esperava dar com a cara na


porta, como tem acontecido sempre.

Olho para o relógio no visor. Pelos meus cálculos são dez

horas da manhã na Austrália.

— Cooper Balbuk.
— Você deve ser Tommaso Andresano — ele fala. — Hazel
disse que pediu meu telefone e então gravei o seu.

— Sim. Sabe quem sou?

— Amigo da amiga da minha irmã, Beatrice.

— Noivo. Vamos nos casar em quinze dias.

— Em que posso ajudá-lo, Andresano?

— Beatrice tem tentado falar com Hazel, mas ela não atende

os telefonemas.

— Sabe de tudo?

— Sei, sim. E antes que possa achar que Athanasios

Pappakouris quebrou o sigilo médico de sua irmã, ele não o fez.


Quando nos disse que a troca dos diagnósticos havia sido feita com

pessoas de idade e tipo físico semelhante, Beatrice só precisou

juntar dois e dois. Ela quer muito falar com Hazel. Minha mulher
está grávida.

— Parabéns, mas não acredito que minha irmã esteja pronta,

ainda. Ela não tem saído de casa.

— Pode ao menos lhe dizer isso o que contei, que Beatrice

está grávida? Enviei sem que minha noiva soubesse, um convite de


casamento que talvez ainda não tenha chegado. Vou mandá-lo por

e-mail. Os dois serão bem-vindos, se quiserem comparecer.

— Eu não posso prometer nada. Tenho quase certeza de que

ela não irá, mas darei o recado.

— Tudo bem.

Depois que desligo, penso na garota que conheci em Nova

Iorque. Beatrice me disse que assim como ela, Hazel é órfã e só

tem o irmão. Ao menos nós dois tínhamos uma grande família para

nos apoiar. A cabeça do tal Cooper deve estar tão fodida quanto a
da irmã.
Greta

Às vésperas do casamento de Tommaso e


Beatrice

Eu posso fazer isso — digo a mim mesma, enquanto encaro


meu corpo magro em frente ao espelho.

Dessa vez serão necessárias somente quatro sessões de

quimioterapia e eu reagi bem à primeira, graças a Deus. Tão bem


que enfim criei coragem de fazer o que preciso.

Depois de uma prisão mental de mais de trinta e cinco anos,


eu me libertei da minha obsessão por Dino, mas conversando com

meus filhos, cheguei à conclusão de que todos nós, eu e meus


meninos, precisamos de um encerramento e é por isso que, ainda
que seja a última coisa que desejo, pedi que o pai deles viesse me

encontrar aqui em casa.

Todos eles sabem disso, inclusive Mattia, que tem se tornado

cada vez mais presente em minha vida.

O avô de Beatrice não faz qualquer movimento romântico e


nem eu esperaria isso, mas à noite, quando me deito na cama,

penso em como poderia ter sido minha vida se tivesse aceitado sua

proposta de casamento.

No fim, entendo que mesmo que fosse fiel a mim, eu também

seria a número dois na vida de Jilani.

Ninguém precisa ser um terapeuta amoroso para saber que

foi louco pela falecida esposa.

Se há algo de que me arrependo na vida, é de nunca ter


dado a oportunidade para alguém me amar dessa forma, já que

minha existência foi mergulhada em uma obsessão por um homem

que nunca valorizou nada além de si mesmo.

Entretanto, se fosse o caso e eu tivesse me apaixonado por


outro, talvez não teria meus bambini. Eles são meu mundo inteiro,

meu verdadeiro tesouro, embora eu tenha precisado quase perder a


vida para entender isso. Não era Dino o centro do meu universo,
mas meus cinco filhos.

Desço as escadas e sei que minha filha está no quarto com


meu neto, Edoardo, atenta a qualquer chamado meu. Giovanna não

disse com todas as letras, mas intuo que não saiu de casa porque

não quer me deixar sozinha com Dino.

Cinco minutos depois de chegar à sala, a governanta anuncia


que o homem que foi o dono do meu coração por boa parte da

minha vida, chegou.

Eu o aguardo de pé, nervosa, pois é a primeira vez que nos

veremos em meses.

Eu mentiria se não dissesse que estou tensa, mas minha


pulsação não está disparada como sempre acontecia no passado,

pela mera perspectiva de vê-lo.

Eu aguentei muito de Dino Moretti, mas finalmente acordei

quando Tommaso me contou que Carina pediu o divórcio. Ele não

veio me procurar. Ao invés disso, desfilou por toda a Europa com

alguém com um terço de sua idade, me humilhando como fez por

toda a vida.

— Greta — diz e dá um passo para perto.


— Não se aproxime. — O paro com um gesto. — Eu o

chamei aqui porque amanhã é o casamento do meu filho, um novo


ciclo de vida para nossa família e eu quero começar do zero.

— Você está linda — diz, ignorando tudo o que falei.

— Não tente jogar seu charme em mim, Dino. Poupe-o para


as mulheres que tem espalhadas pelo mundo. Estou imune. Eu só

te chamei aqui para dizer que não importa o que você faça, nunca
mais conseguirá me ter sob seu domínio. Demorou mais de três

décadas, mas finalmente matou tudo o que senti por você.

— Não pode estar falando sério, cara[52]. Cometi muitos erros,


mas nós nos amamos.

— Não, você nunca amou alguém além de si mesmo. Eu te


amei, mas jamais fui correspondida. Eu dediquei minha vida a

esperar por um homem que só soube mentir.

Ele tenta falar, mas eu o interrompo com um gesto.

— Não importa mais. Eu não o culpo, somente. Permiti que


me humilhasse e esmagasse meu coração. Odiei as pessoas
erradas com meu ciúme e despeito e espero um dia ser forte o

bastante para conseguir não ver Carina com mágoa ou Ricco e


Chiara como usurpadores daquilo que eu achava que meus filhos
tinham direito. Sou humana e falha. Ainda não cheguei ao ponto de

admitir que a verdadeira usurpadora fui eu. A outra. Entretanto, já


amadureci o suficiente para perceber que o maior culpado em toda

essa trama sórdida de mentira e traição nas quais enredou nossas


vidas, é você.

— Está magoada, Greta. É normal.

— Eu odeio sua condescendência, Dino. Na verdade,


desprezo tudo em você. Um homem de meia-idade ridículo que

precisa de uma conquista a cada esquina, que não soube valorizar


duas mulheres que foram apaixonadas por você. Um ser humano

baixo e vil que trabalhou com seu mau-caratismo até destruir o amor
dos próprios filhos. Boa sorte com o resto dos seus dias, Dino
Moretti. Espero que colha tudo o que plantou e que seu fim seja tão

solitário quanto foi a minha vida inteira. A diferença, é que agora


estarei cercada de uma família que me ama. Netos e filhos,

enquanto você continuará tentando conquistar garotinhas. Soube


que está falido. Vamos ver se elas continuarão te querendo quando

souberem que não tem nada mais a oferecer. Fora o seu dinheiro,
você é oco.
Beatrice

Dia do casamento de Tommaso e Beatrice

— Você será a noiva mais bonita que a Itália já viu — Aria


sussurra em meu ouvido e intuo que ela não fala alto para não ferir
os sentimentos de Giovanna, que já se casou, embora no momento

esteja separada.

Claro que é um exagero. As irmãs de Tommaso são lindas,


assim como os espécimes masculinos da família.

— Eu estou me sentindo maravilhosa — digo, girando em


torno de mim mesma, em meu vestido tomara-que-caia branco,

rendado e longo.

O casamento será celebrado na Castiglion para cerca de


quinhentos convidados.
Há uma confusão no quarto porque além da estilista,

maquiadora, cabeleireira, as irmãs e mãe de Tommaso quiseram se


arrumar na suíte contígua e a porta está aberta. A toda hora alguém

entra ou sai.

Greta está cheia de energia e me disse que é porque

finalmente ontem colocou um ponto final em sua relação com Dino,

que graças a Deus, não virá ao casamento.

Fico feliz por ela ter conversado com ele e conseguido seu
encerramento. Antes tarde do que nunca.

A única coisa que lamento é que Ricco, Luna e Chiara não


virão.

Foi o próprio Ricco quem achou melhor assim. Apesar do


jantar que tiveram há poucos meses, os outros Andresano ainda

não se sentem confortáveis com o meio-irmão como Tommaso o

faz. Assim, Chiara e Ricco acharam preferível poupar Greta de

constrangimento e jantaram conosco ontem para comemorar nossa

união. É triste que não possam vir, mas nem sempre a vida é
perfeita.

Ouvimos duas batidas na porta e em seguida, vovô aparece.

— Ainda não estou pronta — falo, franzindo a testa.


— Eu sei, mas tem alguém aqui que deseja vê-la. — Ele
empurra a porta e meu coração sai pela boca quando Hazel surge,

linda como sempre.

Corro para ela e a abraço.

— Não acredito que veio.

— Sinto muito não ter telefonado antes — ela diz, enquanto

nós duas choramos.

— Não pode estragar a maquiagem — a maquiadora fala, ao

meu lado.

— Depois corrigimos. Gostaria que nos dessem licença. —

Peço.

Aria põe todos para fora e depois sai pela porta de


comunicação com a outra suíte, fechando-a atrás de si.

Pego Hazel pela mão e me sento na cama.

— Você está linda — falo, reparando no contraste da pele

morena com o vestido verde-folha.

— Nós duas estamos. E você, sua safada, vai se casar com o

lindão mal-humorado.

Eu não consigo falar, emocionada, então a puxo para um

abraço novamente.
— Hey, eu estou bem — diz.

— Está, mesmo?

— Sim. Precisei me afastar um tempo para colocar a cabeça

no lugar, mas agora já estou bem.

— Não tem nada que eu possa dizer a você que vai te

mostrar o quanto eu lamento, Hazel.

— Sei disso, Beatrice. Eu já me conformei. Deus não nos dá

mais do que podemos segurar. Eu vim para te dizer, do fundo do


meu coração, que nunca passou pela minha cabeça desde o
momento em que descobri que adoecerei, que eu preferiria que

tivesse sido você a ter o diagnóstico.

— Acredito nisso e estou muito feliz que tenha vindo. Não faz
ideia do quanto é importante para mim que esteja aqui.

— Certo, agora chega de tristeza. Eu quero me divertir e

provar o tão badalado vinho do seu futuro marido. Hoje é dia de


diversão, baby.

— Ai, meu Deus. Será que eu deveria ter providenciado


gaiolas?

Ela gargalha.
— Não, por favor. Cooper pegou muito tempo no meu pé por

causa daquilo.

Aria volta para o quarto.

— A maquiadora precisa terminar de arrumá-la, filha. Seu


futuro marido vai acabar furando o chão de tão ansioso.

Vinte e cinco minutos depois, meu coração dispara e minhas


mãos suam frio enquanto caminho de braços dados com vovô ao

encontro do amor da minha vida.

— Nervosa?

— Muito, avô. Parece um sonho. Eu não sei o que fiz para


merecer isso.

— Você é minha menina preciosa, Beatrice. Sempre foi e

merece toda felicidade do mundo.

— Então por que nunca confiou em mim? Por que quis que

Tommaso se tornasse meu tutor?

Ele sorri.

— Talvez tenha chegado o momento de lhe contar que tudo o


que fiz sobre a tutela, a ameaça de lhe tirar a herança e as

desconfianças em relação ao seu caráter, faziam parte de um plano.

Paro de andar e o encaro de boca aberta.


— Está falando sério?

— Sim. Eu sempre soube que eram perfeitos um para o

outro, mas precisei montar uma armadilha para que se dessem


conta disso.

Balanço a cabeça sorrindo, mas meu sorriso morre e eu

engulo em seco quando vejo o homem que eu amo me esperando


no altar.

Tommaso para inquieto e ver aquele homem, que para o


mundo inteiro é frio, controlado, aparentar ansiedade, me emociona.

Passa um filme na minha cabeça.

A primeira vez em que nos encontramos, quando eu ainda

era criança, logo que vim morar com Mattia.

As cartas de amor que escrevi e nunca lhe enviei, quando era


adolescente e o sonho de um dia fazer exatamente o que

acontecerá em poucos minutos: me tornar a senhora Tommaso


Andresano.

Lembro-me daquela noite no porão, em que percebi que não


era mais uma menina, mas que ansiava para me tornar mulher nos

braços dele.
A primeira vez em que fizemos amor e como eu tive certeza
de que nunca poderia pertencer a outro.

O medo que senti de não ter tempo de viver para sempre ao


lado dele quando finalmente declarou que me amava.

Eu tenho tudo — meu avô, que sempre será meu herói, vou

me casar com o homem que eu amo, ser mãe do filho dele e agora,

ter uma grande família.

Não sei se as pessoas, ao segurarem seus mundos nas

mãos, são tão agradecidas como eu, mas nesse instante, faço uma

oração silenciosa a Deus, prometendo dar o meu melhor para viver


uma vida que seja merecedora de tantas bençãos.

Tommaso desce as escadas para vir ao meu encontro e

como sempre acontece perto dele, meus joelhos perdem a força.

— Você está linda, Beatrice mia.

— Eu sou a mulher mais feliz do mundo, Tommaso. Pensei

que teria que abrir mão de tudo e agora, me sinto tão abençoada

que não tenho como agradecer o suficiente a Deus.

— Agradeça vivendo. Vamos bater recordes de felicidade.


Viajar, criar nossos filhos e comemorar cada conquista.

— Celebrar o amor e a paixão que no une.


— Sempre, minha mulher.

Lua de Mel

No voo para a Sicília

— Poderíamos ter esperado para voar amanhã — ele diz, um


pouco mal-humorado, dentro do nosso avião particular.

— Não. Eu estava louca para viajar para de uma vez.

— Mais louca para viajar do que para foder gostoso? Tinha

planos de te comer em nossa casa, em cada um dos cômodos.

— Podemos fazer isso na volta. Hoje, quero sexo nas alturas.

Estou faminta por você, Tommaso.

— Nessa noite não deveria ser suposto termos uma foda

romântica? — ele pergunta, mas percebo que engole em seco


quando me vê começar a tirar a roupa no quarto do avião.
Até agora só descalcei os sapatos e desci lentamente a meia

presa na cinta-liga.

Viro-me de costas para que abra os botões do meu vestido e

sentir seus dedos quentes contra minha pele me causa arrepios.

A peça cai no chão e quando volto a encará-lo, os olhos

desse homem, meu marido, em mim, quase me fazem desmaiar.

Será possível que nunca deixarei de reagir a ele como uma


adolescente apaixonada?

— Espero que não.

— Falei em voz alta?

Ele ri e ao invés de responder, abre os punhos da camisa.

Minha pulsação acelera quando vejo-o agora já sem a

gravata e a camisa. O abdômen definido e rijo pedindo pela minha

língua.

Estou somente de calcinha e sutiã, ansiosa, sedenta por ele.

— Nada de romance, então? Quer uma foda suja, menina

safada?

— Romance é super estimado — respondo sem fôlego,


levando as mãos atrás das costas e abrindo o sutiã.

Quando ele passa a língua no lábio inferior, me descontrolo.


— Nu, agora, Andresano.

Ele sorri, convencido e continua se despindo lentamente, mas


eu sei direitinho o que fazer para enlouquecê-lo, então, quando mal

a calça cai aos seus pés, eu o empurro até a cama para que se

deite, subo em seu corpo e olhando-o, passo a língua por cima da

boxer.

— Porra, Beatrice. Quer me matar?

A voz não tem mais um pingo de arrogância, só soa

necessitada.

Não dou tempo para que pense, descendo sua cueca e

tomando-o tanto quanto posso em minha boca.

— Tire a calcinha enquanto me chupa. Quero que toque essa

boceta.

Eu me derreto ao ouvir a ordem suja. O homem parece saber

o que dizer para me deixar trêmula.

Enquanto o sugo cada vez mais forte, tento coordenar para,

ao mesmo tempo, me livrar da lingerie.

— Você está me enlouquecendo, esposa. Não vou gozar pela

primeira vez depois de casados em sua boca. Quero comer sua

boceta.
— Senhor, nós vamos para o inferno quando morrermos, ou

eu pelo menos irei, porque cada vez que você fala “boceta” eu só

quero que você me possua inteira.

Ele sorri com uma cara safada e me puxa para cima de si,
mas isso não dura muito. Gira-me no colchão, se posicionado entre

minhas coxas.

— Diga-me que é minha, Beatrice.

— Sempre fui. Não sabe disso, ainda?

— Gosto de ouvir — fala, enquanto começa a entrar em mim

devagar.

Gemo, deliciada.

— Sou sua, Tommaso. Sempre fui e sempre serei sua.

Aquilo parece romper seu autocontrole e ele me possui

inteira.

O ato, que começou lento, custa um nada para se tornar


desesperado, faminto, como sempre acontece entre nós. Ele sai e

entra no meu corpo, movimentando os quadris sem cessar, somente

para voltar cada vez mais profundo.

O desejo entre nós não é só físico, é único, porque envolve


corações e almas.
Eu não saberia dizer por quanto tempo fazemos amor. Ele

parece incansável, trocando as posições, ora me mantendo por


cima, ora de lado, ora se abrigando no meio das minhas coxas.

Estou em minhas mãos e joelhos agora e enquanto me

possui, me diz palavras sujas, me faz promessas de amor eterno e

fala que sou a mulher da vida dele.

O bater dos nossos corpos não cessa e o prazer é quase

insuportável.

Quando sua mão desce entre os lábios do meu sexo,


alcançando meu ponto de prazer e o ritmo das estocadas aumenta,

sei que não vou durar.

— Goze para mim, Beatrice. Eu quero enchê-la com meu

esperma.

Ele muda a velocidade e me possui mais lento e profundo e

quando acerta um ponto exato dentro de mim, me rendo ao

orgasmo.

As mãos em meu bumbum me apertam mais forte e sinto

meus olhos encherem-se de lágrimas, uma emoção sem nome,

quando ele enfim me entrega sua semente.


Caio na cama e ele por cima, mas em seguida nos gira de
lado. Afasta o cabelo da minha orelha e sussurra.

— Minha. Você é minha, bella.

— Eu nunca duvidei disso, marido.


Beatrice

Florença

Meses depois

Dia do nascimento de Emília Hazel Jilani Andresano

Para a maioria dos pais, acredito que seja emocionante ouvir


o choro de seu bebê pela primeira vez, mas quando minha Emília

Hazel gritou ao mundo que acabara de chegar, eu chorei ainda mais

forte do que a minha filha. Uma emoção como nunca senti antes me
dominando.

Tommaso se aproxima quando a enfermeira a põe em meus


braços.

Grande, poderoso, protetor.


Eu ergo os olhos para encará-lo.

— Fizemos um bom trabalho, esposa — fala, depois de me

dar um beijo. — Ela é linda como você.

— Obrigada pela parte que me toca, mas foi um projeto em

conjunto. A cor do cabelo dela e também a pele são seus.

— Sim, mas a boca linda herdou da mãe, assim como o

tamanho.

Dou risada.

— Tinha que ser, né? Para caber em mim.

Alguém bate na porta e em seguida ela se abre e Giovanna

entra.

— Minha família não tem noção de privacidade — meu

rabugento favorito reclama.

— Não seja ranzinza, estamos loucos para conhecer Emília.

Oh, meu Deus! — minha cunhada diz, quando se aproxima.

Segundos depois, como se estivessem escutando através

das paredes, um a um os Andresano começam a aparecer, assim


como meu avô e Hazel.

Ela será madrinha da minha filha. Ao longo da gravidez,

passamos de conhecidas para amigas verdadeiras e ela veio me


visitar ao menos duas vezes antes dessa viagem definitiva, para o
parto.

Enquanto observo nossa família tagarelando sem parar,


agradeço a Deus, como tenho feito todos os dias desde que soube

do erro de diagnóstico.

Acabei tendo que trancar mais um semestre da faculdade por

conta da gravidez e só devo voltar ao curso quando Emília estiver


com ao menos um ano.

A Fundação, por outro lado, está pronta e esperamos que


comece a funcionar no máximo em três meses.

— Está feliz? — Tommaso me pergunta ao meu lado,

enquanto vejo meu avô segurar a bisneta.

— Como poderia não estar? Eu tenho tudo, Tommaso.

— Ainda não, mas eu prometo que terá.

— O que falta?

— O melhor da surpresa é esperar por ela, bella.

— Quem inventou isso não sofria de crise de ansiedade.

— Boa tentativa, esposa, mas vai ter que aguardar.

Olho em volta e quando acho que ninguém nos escuta, digo a

ele:
— Peça a Ricco, Luna e Chiara para virem nos visitar em

casa. Estou com saudade do restante da família e espero que um


dia possamos comemorar todos juntos.

Ele fica sério e sei que é porque a relação de Ricco com os


irmãos continua não evoluindo.

— Eu não sei o que fazer para mudar esse quadro —

confessa.

— Acho que não há nada a ser feito, a não ser esperar o

tempo passar. Algumas feridas custam mesmo a cicatrizar. O que


importa, no entanto, é que a sua já se curou. Eu adoro ver você e

Ricco juntos.

— Eu não faço mais diferença entre ele e Chiara com

qualquer outro dos meus irmãos. Eu os amo da mesma maneira.

Tommaso não é de externalizar sentimentos que não sejam

em relação a mim, então fico atenta ao que diz.

— Sem mágoas? — pergunto.

— Sem mágoas. Agora eu vejo que nunca foi culpa nossa. A


raiva que eu sentia não era tanto de Ricco, eu acho, mas porque
eles eram aceitos pela sociedade e nós não. Isso não importa mais.
Não existe meio-irmão. Eles são meus irmãos, assim como você e

Emília são minhas.

— Tudo seu? — implico. — Tão possessivo.

Ele se abaixa para sussurrar na minha orelha:

— Não faz ideia do quanto, Beatrice. Quando se trata de

vocês duas, eu quero tudo. Não aceito nada menos do que tudo.
Tommaso

Rio de Janeiro — Brasil

Pouco mais de um ano depois

— Eu não acredito que estamos aqui! Então era essa a


surpresa que faltava e que não quis me contar no dia do parto de

Emília? — Beatrice pergunta ao meu lado, olhando para o céu,


enquanto os fogos explodem sem cessar.

O apartamento é de um amigo meu, Frederico[53], e está


localizado na Avenida Atlântica, em Copacabana.

— Era sim. Missão cumprida. Vai ter que começar a criar uma
nova lista de desejos, esposa — falo em seu ouvido, abraçando-a

por trás e prendendo-a entre meu corpo e a janela.


— Já tenho vários a caminho, pode deixar. Imaginação é o

que não me falta. Porém, um talvez seja mais urgente do que


outros — diz, girando em meus braços e sorrindo. — Vamos

precisar que mais um quarto para bebês seja montado. Feliz ano

novo, meu amor. Estou grávida.

Fecho os olhos e balanço a cabeça, me sentindo um rei. A

mesma emoção de quando descobri da vinda de nossa Emília, se


repetindo.

— Eu tinha certeza de que tínhamos outro bebê a caminho.

Você está tão safada durante o sexo quanto na gravidez da nossa

menina.

— Ai, Senhor. Safadeza agora é parâmetro? Podemos

dispensar os testes hormonais? — ela gargalha.

— Sou um especialista em você, Beatrice. Fico atento a cada

mudança sua.

— Está feliz, então?

— Mais do que consigo expressar, amore mio — confesso,


beijando-a, mas depois me lembro de algo. — E a faculdade?

Beatrice tinha decidido parar até Emilia completar um ano, o


que aconteceu no mês passado.
— Vou frequentar mesmo grávida, caso contrário, não
concluirei os estudos nunca.

— Podemos fazer isso. Minha mãe já ficaria com Emília de


qualquer jeito.

— Por falar em mamãe, ela me disse que a filha de vocês

está chorando — Donatella avisa, parando ao nosso lado.

Toda a família veio passar o réveillon conosco no Brasil,

embora Gaetano vá embora amanhã cedo para reiniciar os treinos

da nova temporada.

— Vamos ver o que nossa menina tem? — pergunto, dando

um último beijo na minha ruiva.

Ela me abraça e depois andamos juntos na direção dos

quartos.

— Eu esqueci de te contar um coisa que descobri no dia do

nosso casamento. — diz.

— Algum segredo sórdido?

— Não sórdido porque no fim, beneficiou a nós dois.

— O que foi?

— Aquela história de que eu teria um tutor depois do

escândalo de Nova Iorque foi uma armação de Mattia para nos unir.
— Eu desconfiei.

— O quê?

— No começo, não, mas depois ficou claro que seu avô te

adorava e nunca pensaria que você se “perderia na vida” como ele


me disse. Então, achei que havia um interesse oculto por trás.

— Sabia que ele nos preparou uma armadilha, então?

— Com certeza absoluta, não. Mas o que importa? No fim, foi

uma deliciosa armadilha.

Chegamos à porta da nossa suíte, mas ao invés de entrar,

ficamos parados, observando mamma e Mattia cuidarem de Emília.

Minha mãe segura a neta nos braços, consolando-a,


enquanto nossa filha ainda faz uns resmungos sentidos e o homem

que eu amo como a um pai, observa, parado atrás dela.

Eles estão cada vez mais próximos e eu não sei definir que

tipo de relacionamento é aquele, e para falar a verdade, nem é da


minha conta.

O que importa, é que minha mãe está feliz. O cancêr foi mais
uma vez vencido e mesmo que não saibamos por quanto tempo, por

ora, ela está bem, saudável e aprendendo a viver sem a sombra


daquele maldito do Dino em cima dela.
— Acha que são um casal? — Beatrice pergunta, baixinho.

— Como nós, não.

— Não entendi. Existe outro tipo?

— Eu não sei se o que eles têm é físico. Ele amou sua avó
verdadeiramente. Ela passou a vida inteira ligada a uma ilusão.

Cada um dentro de uma prisão.

— Talvez eles não consigam encontrar a saída dela, né? —

pergunta.

— Sim, talvez nunca consigam.

— Mas há sempre a possibilidade de se fazer um buraco na


parede, criar uma passagem alternativa.

— Talvez haja, mas pode ser que eles sejam grandes demais
para passar por ela. O arriscar casa melhor com juventude. Quanto
mais envelhecemos, mais medrosos ficamos.

— Fale por você. Sou novinha. — Ela dá risada, mas não


estou brincando.

— Há outra razão também que talvez faça com que Mattia


não queira arriscar.

— Qual? — pergunta.
— Se ele amou sua avó um décimo do que eu amo você,
nunca haverá outra. Eu jamais poderia amar alguém novamente,
Beatrice. O amor que eu sinto por você é espaçoso, selvagem e não

respeita limites, mas também é escravo, dominado, possuído. Você


é meu tudo.
Aviso: nas próximas páginas, bônus do segundo
livro da série Feitiço Italiano.
Giancarlo

Estou ao lado do piloto na cabine e ouço-o dar as boas-


vindas aos passageiros, logo após o aviso para que mantenham os

cintos de segurança fechados ser desligado.

Ainda não fui para o meu assento desde que entrei no avião

porque um pensamento louco de que ela poderia fugir me fez


esperar que a aeronave decolasse.

Normalmente, ela trabalha na classe econômica, já que foi

contratada há pouco tempo, mas hoje mandei que a remanejassem

para a primeira classe. Nesse voo em particular, nenhum dos outros


assentos da classe especial foi vendido, o que a deixará

inteiramente à minha disposição.

Despeço-me do piloto e vou para o meu lugar.

Passo por ela na cozinha, que não nota. Está de costas.


Não demora mais do que dois minutos, entretanto, para que

ela venha até onde estou.

Minha pulsação acelera, excitação correndo quente pelo meu

sangue.

Quando ela levanta a cabeça e me vê, sua boca carnuda se


abre em espanto.

Linda para caralho. A mulher que eu não consigo esquecer.

Elodie.

Finalmente tenho minha cigana onde eu quero: ao alcance

das minhas mãos.


Espero que tenham apreciado acompanhar a história de amor

de Tommaso e sua Beatrice, o primeiro livro da série Feitiço Italiano.

O próximo será de Giancarlo, par de Elodie. Ela é irmã de


Amber, de Sob a Proteção do Bilionário.

Um grande beijo e até a próxima aventura.

D. A. Lemoyne
Interaja com a autora através de suas redes sociais

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Seduzida - Muito Além da Luxúria (Livro 1 da Série

Corações Intensos)

Cativo - Segunda Chance (Livro 2 da Série Corações


Intensos)

Apaixonada - Meu Para Sempre (Livro 3 da Série Corações

Intensos)

Fora dos Limites (Livro 1 da Duologia Seduza-me)

Sedução no Natal - Conto (Spin-off de Seduzida e Cativo)

Imperfeita - O Segredo de Isabela (Livro 4 da Série

Corações Intensos)

Isolados - Depois que Eu Acordei (Livro 5 da Série

Corações Intensos)

Nascido Para Ser Seu (Livro Único)

168 Horas Para Amar Você (Livro Único)


Sobre Amor e Vingança (Livro 2 da Duologia Primos

Lykaios)

168 Horas Para o Natal (Conto de Natal - Spin-off de 168

Horas Para Amar Você)

Uma Mãe para a Filha do CEO (Livro 1 da Série Irmãos


Oviedo)

A Protegida do Mafioso

O Dono do Texas (Livro 1 da Série Alma de Cowboy)

Um Bebê Por Contrato (Livro 2 da Série Irmãos Oviedo)

A Obsessão do Mafioso (Livro 1 da Série Alfas da Máfia)

Uma Família Para o Cowboy (Livro 2 da Série Alma de

Cowboy)

A Esposa Contratada do Sheik (Livro 1 da Quadrilogia

Casamentos de Conveniência)

Como Domar um Mulherengo (Livro 3 da Série Irmãos

Oviedo)

Um Anjo Para o Mafioso ( Livro 2 da série Alfas da Máfia)

O Herdeiro do Cowboy (Livro 3 da Série Alma de Cowboy)

Um Bebê Para o Italiano (Livro 1 da Série Bebês


Inesperados)
Sob a Proteção do Bilionário(Livro 2 da Duologia Seduza-
me)

Bastardo Apaixonado (Livro 4 dos Irmãos Oviedo)

Proibida Para o Cowboy (Livro 4 da Série Alma de Cowboy)

A Eleita do Grego (Livro 1 da Duologia Primos Lykaios)

Destinada ao CEO (Spin-off Irmãos Oviedo – A História de

Isabel e Stewart)

A Princesa Seduzida pelo Magnata (Livro 3 da Quadrilogia


Casamentos de Conveniência)

A Esposa Inocente do Mafioso (Livro 3 – Série Alfas da

Máfia)

A Mãe da Minha Menina (Irmãos Oviedo – Livro 5)

Seduzida Por Contrato (Irmãos Kostanidis – Livro 1)

Sob o Domínio do Mafioso (Série Honra Irlandesa - Livro 1)

Deliciosa Armadilha( Livro 1 da Série Feitiço Italiano)

Livro 3 da série Bebês Inesperados(8 Silenciosos)


D. A. Lemoyne iniciou como escritora em agosto de 2019

com o livro Seduzida, o primeiro da saga Corações Intensos. De lá


para cá, foram várias séries de sucesso como Alma de Cowboy,
Irmãos Oviedo, Irmãos Kostanidis entre outros.

Sua paixão por livros começou aos oito anos de idade


quando a avó, que morava em outra cidade, a levou para conhecer
sua “biblioteca” particular, que ficava em um quarto dos fundos do

seu apartamento. Ao ver o amor instantâneo da neta pelos livros, a


senhora, que era professora de Letras, presenteou-a com seu

acervo.

Brasileira, mas vivendo atualmente na Carolina do Norte,


EUA, a escritora adora um bom papo e cozinhar para os amigos.

Seus romances são intensos, e os heróis apaixonados. As

heroínas surpreendem pela força.

Acredita no amor, e ler e escrever são suas maiores paixões.


Contato: dalemoynewriter@gmail.com

[1]
O filho falecido de Ricco em Um Bebê Para o Italiano.
[2]
A mãe de Nicolo teve relações sexuais com os dois irmãos, sem que um
soubesse do outro, com uma diferença de poucas semanas, como é relatado em
Um Bebê Para o Italiano e isso causou ainda mais desentendimento no
relacionamento já conturbado dos meios-irmãos.
[3]
Essa personagem está aparecendo pela primeira vez. Ela é irmã de Tommaso,
o protagonista da presente obra e terá seu próprio livro no futuro.
[4]
Um influencer digital é alguém capaz de influenciar pessoas através da sua
produção de conteúdo nas redes sociais. Eles também são conhecidos como
creators, ou seja, são criadores de conteúdo de sucesso que conquistaram um
público fiel e engajado. Fonte: Blog Dinamize.
[5]
“Senhor”.
[6]
Esse personagem aparece em Seduzida por Contrato, livro 1 da série Irmãos
Kostanidis e no futuro, será protagonista de seu próprio livro em uma nova série.
[7]
Esse personagem aparece em Um Bebê para o Italiano. Ele manteve duas
famílias paralelas, com Carina e Greta. Teve dois filhos com a primeira, que é sua
esposa e mais cinco com a amante.
[8]
Essa personagem apareceu em Um Bebê para o Italiano e terá seu próprio livro
no futuro, nessa presente série.
[9]
Essa personagem apareceu em Um Bebê para o Italiano.
[10]
Protagonista de Um Bebê para o Italiano e também um dos 8 Silenciosos.
[11]
Essa personagem apareceu em Um Bebê para o Italiano.
[12]
Esse fato é relatado em Um Bebê para o Italiano.
[13]
Esse é o pseudônimo de Martina Oviedo. Em seu livro, Como Domar um
Mulherengo, ela é uma escritora de livros hot que usa o pseudônimo de M. Cabot
Olson.
[14]
Linda, bonita.
[15]
Garotinho.
[16]
Protagonista de Um Bebê Para o Italiano.
[17]
Protagonista de Sobre Amor e Vingança.
[18]
Mãe.
[19]
Esses testes são muito comuns nos Estados Unidos.
[20]
Opa! Ouvi falar “nova série”? Pois é o que vem por aí.
[21]
Cidade fictícia criada especialmente para este livro.
[22]
Rede de boates que pertence a Beau, protagonista de Sob a Proteção do
Bilionário.
[23]
Uma importante rua de Manhattan, onde ficam as lojas de marcas caríssimas.
[24]
Apelido de Nova Iorque.
[25]
Dono da Hazard e protagonista de Sob a Proteção do Bilionário.
[26]
Um dos hotéis de luxo da família Caldwell-Oviedo em Nova Iorque. É um hotel
fantasia, criado especialmente para a série Irmãos Oviedo.
[27]
Gravem esse nome. Ele será protagonista de um livro de uma nova série.
[28]
Analgésico.
[29]
Vinícola fictícia, pertencente a Tommaso e que também é citada em Um Bebê
para o Italiano.
[30]
É um termo utilizado, geralmente por universitárias quando dormem com seus
namorados e no dia seguinte precisam voltar para casa com a roupa da noite
anterior.
[31]
Estado americano.
[32]
Cidade fictícia criada para a presente obra.
[33]
Antonella, protagonista de O Dono do Texas.
[34]
Protagonista de O Dono do Texas.
[35]
Parece uma pão doce ou o que chamam de “sonho” no Brasil, mas com um
buraco no centro.
[36]
Essa personagem aparece no livro Sob a Proteção do Bilionário, pois é irmã
da protagonista, Amber e será protagonista do livro dois da série Feitiço Italiano,
fazendo par com Giancarlo.
[37]
É muito comum nomearmos qualquer espumante de Champagne. O que
acontece é que além de possuir exclusividade no método de produção e região, a
Champagne não é a única na categoria dos espumantes. Os espumantes diferem
entre si no sabor, processo de fermentação e uvas usadas.
Prosecco é o espumante italiano mais conhecido, e compete diretamente com a
Champagne em popularidade.
O prosecco é feito na região de Veneto na Itália e a produção se difere da
champagne por ter sua segunda fermentação (que cria as bolhas) feita em
tanques de aço ao invés de dentro das próprias garrafas. Isto faz com que o sabor
do prosecco seja mais suave e menos fermentado. Prosecco geralmente é mais
doce que a Champagne ou Cava, com bolhas maiores e mais espalhadas, com
notas de maçã, pera, limão, florais e tropical.
Fonte: Blog World Importados.
[38]
Cidade italiana.
[39]
Época da colheita das uvas.
[40]
Meu amor.
[41]
Sou louco por você, minha Beatrice.
[42]
Você é o único para mim, Tommaso.
[43]
Uma referência à série Sex and the City.
[44]
Beignet são doces clássicos de Nova Orleans, no sul dos Estados Unidos.
Lembram um sonho, no Brasil, ou Doughnut nos Estados Unidos.

[45]
O Carnaval de Nova Orleans parte da tradição do Mardi Grass, termo francês
que significa Terça-Feira Gorda. Este movimento teve seu início na Louisiana, por
volta de 1699 – ano em que ocorreu a primeira documentação deste evento -,
uma iniciativa dos colonizadores franceses.
No Mardi Grass, mais de 50 grupos realizam seus desfiles ao longo da cidade. Os
bares não fecham e ficam lotados, e neles são exibidos figurinos os mais bizarros.
As pessoas se embebedam e realizam pelas ruas uma grande farra.

[46]
Crianças.
[47]
Fonte: ABH.
[48]
Este tipo de câncer desenvolve-se principalmente nos linfonodos, também
conhecidos como ínguas, que se encontram na axila, virilha e pescoço, levando à
formação de caroços.
[49]
O amigo grego do neurocirurgião e que por sua vez também é amigo de Ricco
Moretti é Dionysus Kostanidis, o protagonista do livro dois da série Irmãos
Kostanidis.
[50]
Protagonista de Sobre Amor e Vingança.
[51]
Doce italiano que consiste em um “tubo” de massa frita e recheado de creme.
[52]
Querida.
[53]
Gravem esse nome. Ele é brasileiro e será protagonista de um livro meu.

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