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Arte Conceitual

Artigo da seção termos e conceitos


Artes visuais
Atualizado em: 17-09-2018
Definição

Para a arte conceitual, vanguarda surgida na Europa e


nos Estados Unidos no fim da década de 1960 e meados
dos anos 1970, o conceito ou a atitude mental tem
prioridade em relação à aparência da obra. O termo arte
conceitual é usado pela primeira vez num texto de Henry
Flynt, em 1961, entre as atividades do Grupo Fluxus.
Nesse texto, o artista defende que os conceitos são a
matéria da arte e por isso ela estaria vinculada à
linguagem. O mais importante para a arte conceitual são
as idéias, a execução da obra fica em segundo plano e
tem pouca relevância. Além disso, caso o projeto venha a
ser realizado, não há exigência de que a obra seja
construída pelas mãos do artista. Ele pode muitas vezes
delegar o trabalho físico a uma pessoa que tenha
habilidade técnica específica. O que importa é a invenção
da obra, o conceito, que é elaborado antes de sua
materialização.

Devido à grande diversidade, muitas vezes com


concepções contraditórias, não há um consenso que
possa definir os limites do que pode ou não ser
considerado como arte conceitual. Segundo Joseph
Kosuth, em seu texto Investigações, publicado em 1969,
a análise lingüística marcaria o fim da filosofia tradicional,
e a obra de arte conceitual, dispensando a feitura de
objetos, seria uma proposição analítica, próxima de uma
tautologia. Como, por exemplo, em Uma e Três Cadeiras,
ele apresenta o objeto cadeira, uma fotografia dela e
uma definição do dicionário de cadeira impressa sobre
papel.

O grupo Arte & Linguagem, surgido na Inglaterra entre


1966 e 1967, formado inicialmente por Terry Atkinson,
Michael Baldwin, David Bainbridge e Harold Hurrel, que
publica em 1969 a primeira edição da revista Art-
Language, investiga uma nova forma de atuação crítica
da arte e, assim como Kosuth, se beneficia da tradição
analítica da filosofia. O grupo se expande nos anos 1970
e chega a contar com cerca de vinte membros. E Sol
LeWitt, em Sentenças, 1969, sobre arte conceitual, evita
qualquer formulação analítica e lógica da arte e afirma
que "os artistas conceituais são mais místicos do que
racionalistas. Eles procedem por saltos, atingindo
conclusões que não podem ser alcançadas pela lógica".

Apesar das diferenças pode-se dizer que a arte conceitual


é uma tentativa de revisão da noção de obra de arte
arraigada na cultura ocidental. A arte deixa de ser
primordialmente visual, feita para ser olhada, e passa a
ser considerada como idéia e pensamento. Muitos
trabalhos que usam a fotografia, xerox, filmes ou vídeo
como documento de ações e processos, geralmente em
recusa à noção tradicional de objeto de arte, são
designados como arte conceitual. Além da crítica ao
formalismo, artistas conceituais atacam ferozmente as
instituições, o sistema de seleção de obras e o mercado
de arte. George Maciunas, um dos fundadores do Fluxus,
redige em 1963 um manifesto em que diz: "Livrem o
mundo da doença burguesa, da cultura 'intelectual',
profissional e comercializada. Livrem o mundo da arte
morta, da imitação, da arte artificial, da arte abstrata...
Promovam uma arte viva, uma antiarte, uma realidade
não artística, para ser compreendida por todos [...]". A
contundente crítica ao materialismo da sociedade de
consumo, elemento constitutivo das performances e
ações do artista alemão Joseph Beuys, pode ser
compreendida como arte conceitual.

Embora os artistas conceituais critiquem a reivindicação


moderna de autonomia da obra de arte, e alguns
pretendam até romper com princípios do modernismo, há
algumas premissas históricas que podem ser encontradas
em experiências realizadas no início do século XX. Os
ready-mades de Marcel Duchamp, cuja qualidade artística
é conferida pelo contexto em que são expostos, seriam
um antecedente importante para a reelaboração da
crítica dos conceituais. Outro importante antecedente é o
Desenho de De Kooning Apagado, apresentado por
Robert Rauschenberg em 1953. Como o próprio título
enuncia, em um desenho de Willem de Kooning, artista
ligado à abstração gestual surgida nos Estados Unidos no
pós-guerra, Rauschenberg, com a permissão do colega,
apaga e desfaz o seu gesto. A obra final, um papel vazio
quase em branco, levanta a questão sobre os limites e as
possibilidades de superação da noção moderna de arte.
Uma experiência emblemática é realizada pelo artista
Robert Barry, em 1969, com a Série de Gás Inerte, que
alude à desmaterialização da obra de arte, idéia cara à
arte conceitual. Uma de suas ações, registrada em
fotografia, consiste na devolução de 0,5 metro cúbico de
gás hélio à atmosfera em pleno deserto de Mojave, na
Califórnia.

O brasileiro Cildo Meireles, que participa da exposição


Information, realizada no The Museum of Modern Art -
MoMA [Museu de Arte Moderna] de Nova York, em 1970,
considerada como um dos marcos da arte conceitual,
realiza a série Inserções em Circuitos Ideológicos. O
artista intervém em sistemas de circulação de notas de
dinheiro ou garrafas de coca-cola, para difundir
anonimamente mensagens políticas durante a ditadura
militar.

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