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Ferramentas de Gestão
da Produção Cultural
Formação Específica: Produção Cultural
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 3
1 ASPECTOS GERAIS DA QUESTÃO ................................................................................ 5
2 CINEMA ........................................................................................................................ 27
3 MÚSICA......................................................................................................................... 36
4 ARTES CÊNICAS ........................................................................................................... 47
5 LITERATURA ............................................................................................................... 59
6 CULTURA POPULAR .................................................................................................... 68
7 ARTES PLÁSTICAS ....................................................................................................... 79
CONCLUSÃO .................................................................................................................... 90
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 92
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INTRODUÇÃO
O texto que se segue busca apresentar, de maneira direta e simples, os
caminhos institucionais existentes hoje na esfera pública administrativa que levam
à captação de recursos e à produção cultural de um modo geral. Tendo em vista os
módulos anteriores, o que se apresenta agora é um quadro amplo que envolve
ferramentas, ações, políticas e procedimentos disponibilizados por um conjunto de
instituições públicas com vistas a dinamizar a produção cultural.
Nesse sentido, foram eleitos seis setores artístico‐culturais que compõem o
espectro da produção cultural brasileira na sua dimensão pública. Os setores são os
seguintes: artes plásticas, cinema, literatura, música, artes cênicas e cultura
popular. Faz‐se necessário reiterar que esses setores possuem características
muitos distintas entre si, não só no aspecto artístico propriamente dito, mas
também quanto às motivações e os valores que portam junto ao público e no
interior das próprias instituições financiadoras e reguladoras. Cada um dos setores
recebe assim no texto um tratamento diferenciado, no entanto um eixo de
estruturação os envolve para cumprir o objetivo central deste texto, qual seja:
apresentar as principais ferramentas de gestão envolvendo a produção
cultural pública brasileira. Nesses termos, aspectos como financiamento,
resultados, técnicas, entre outros, são estruturadores do texto e ligam os setores
entre si.
Buscando respeitar as peculiaridades históricas de cada setor e das suas
características de linguagem, o texto percorre cada um dos setores por meio da sua
vinculação direta com as instituições culturais públicas responsáveis pela
coordenação e execução das ações envolvendo o setor em questão. Por exemplo, no
caso de cinema é preponderante o papel exercido pela Agência Nacional de
Cinema (ANCINE), entidade ligada ao Ministério da Cultura (MINC). Por outro
lado, no caso da cultura popular, é imprescindível destacar hoje papel do Instituto
do Patrimônio Artístico e Nacional (IPHAN), que, por meio do Centro Nacional
de Folclore e Cultura Popular e do Departamento de Patrimônio Imaterial, vem
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realizando ações de valorização da memória simbólica e artística da cultura
popular brasileira.
Buscando, então, apresentar o panorama geral das ferramentas de gestão
que envolve a produção cultural pública brasileira, o texto se inicia apresentando
de maneira descritiva uma rápida discussão conceitual que envolve alguns
procedimentos da gestão cultural. Em seguida, parte para o tratamento de um dos
setores mais importantes da produção cultural: o cinema. A partir do cinema
começa a traçar de modo sistemático as peculiaridades que envolvem os demais
setores, buscando reunir o maior número de informações possíveis acerca dos
instrumentos da gestão cultural pública.
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1 ASPECTOS GERAIS DA QUESTÃO
Há, de certa forma, um consenso segundo o qual a gestão administrativa é
o aspecto mais frágil do mercado cultural (BRANT, 2004). Além do senso comum
que nos diz que artista não sabe administrar, o fato é que o mercado procura
incessantemente produtores, administradores e captadores de recursos
necessários à atividade cultural. Em se tratando da produção de um produto para o
mercado é importante se conhecer processos de gestão e administração tanto para
produzir como para gerir o que está sendo ofertado para consumo.
Núcleo estratégico da cultura enquanto empreendimento econômico, a
gestão baliza as ações planejadas, desde o posicionamento ético até o cumprimento
e a realização do que foi proposto ao longo do processo. Como é já corriqueiro na
atividade administrativa de empresas ou atividades produtivas em geral, o
planejamento tem fundamental importância para a atividade cultural em geral.
Entretanto, ainda com base naquele senso comum de que “artista faz arte”,
no Brasil, ainda são poucos os produtos culturais que têm uma produção cuidada,
planejada e constantemente avaliada pelos procedimentos de gestão
administrativa, embora se perceba um lento processo de aperfeiçoamento nessa
direção por parte dos interessados (indústria cinematográfica, fonografia, show
etc.). O clima de improvisação que muitas vezes caracteriza a produção cultural
traz prejuízos não só econômicos como também de qualidade nos produtos
ofertados. A tradição da área cultural delega ao produtor papel fundamental numa
produção. Introduzir métodos de gestão com base em conhecimentos
administrativos pode diminuir a figura do produtor e essa tem sido uma das razões
que explicaria o porquê da dificuldade em atuar segundo princípios
administrativos acadêmicos.
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Brandt (2004, p. 106 e seguintes) ressalta que, em função da sofisticação
do mercado cultural e o número de novas atribuições que ele impõe ao
produtor, tem tornado cada vez mais inviável essa forma amadora e
caseira de trabalhar. Segundo esse autor, certos itens são essenciais para o
sucesso do trabalho.
Vejamos:
Checklist
Consiste em compor uma lista de checagem abrangente que possa servir de
roteiro geral para todas as produções que forem realizadas. Sendo apenas um
roteiro (cuja função é facilitar o caminho), ela deve evidentemente contar com a
possibilidade de ser flexibilizada, ampliada e aperfeiçoada a cada produção.
Responsabilidade
É importante ressaltar que os responsáveis finais pelos rumos da carreira e
pelas conseqüências cíveis e até criminais dos seus atos, como profissionais e
cidadãos, são os próprios artistas ou os donos da marca artística. A decisão de
contratar um profissional para cuidar das funções administrativas de seu negócio
não os exime dessa responsabilidade. Por isso, não se deve deixar tudo nas mãos do
profissional encarregado. A gestão do dinheiro, principalmente, deve ser feita ou
acompanhada pelo próprio dono do negócio.
Arquivos e relatórios
Acompanhar todas as etapas do processo de produção e gestão do negócio
cultural, proporcionando ao gestor maior conhecimento e controle sobre seu
andamento. É importante a criação e o desenvolvimento de procedimentos
contábeis e administrativos que auxiliem a análise da situação real do negócio. Não
se pode planejar sem conhecer a realidade. As informações têm de ser
compartilhadas, registradas, arquivadas, de fácil acesso. E os procedimentos de
contratação e produção têm de ser normalizados, sistematizados para serem
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realizados por diferentes pessoas. Mantidos em condição de fácil acesso, os
arquivos, contratos e mailings tornam a gestão do negócio e a produção de algum
produto menos centralizadas, diminuindo riscos de colapsos na possível falta de
alguém.
Avaliação constante
É importante compor relatórios, contratos, metodologia de trabalho,
buscando constantemente o aprimoramento e melhoria dos processos. Muitas
carreiras caem em derrocada pela falta de capacidade do artista de se reposicionar
no mercado, de se reinventar. Os relatórios e as planilhas servem para a análise do
que foi bem ou mal realizado, direcionando o negócio e a carreira para o futuro.
Cadastro
Atualizar freqüentemente os mailings de imprensa, clientes, formadores de
opinião e pessoas do mercado é essencial para o trabalho de comunicação, assim
como o cadastro de fornecedores é fundamental para o processo de gestão e
produção cultural. É preciso conhecer os profissionais e as empresas que dividem a
responsabilidade pelo trabalho cultural, afinal, essas pessoas acabam emprestando
e subtraindo sua competência, reputação e qualidade ao produto final.
Contratos
Uma das principais dificuldades das relações no mercado cultural diz
respeito à formalização de contratos, o que pode ser extremamente prejudicial para
todos os envolvidos. Um profissional sem contrato é um profissional sem vínculos,
obrigações, direitos e deveres. A relação começa errada e tem grande chance de
terminar mal. Por isso, contrato é essencial.
Prestação de contas
Prestação de contas (contabilidade) é uma questão que acompanha todo o
processo de produção e gestão de negócios. Os interlocutores são variados e o
controle dos gastos passa a ser imprescindível para não correr riscos financeiros.
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São também muitas as pessoas envolvidas numa atividade cultural e a
multiplicidade de pagamentos exige um controle rígido por meio de documentação
pertinente (recibos, notas fiscais etc.). Dotar o empreendimento de um arquivo
contábil facilita no planejamento de novas ações e dos gastos.
Pósevento
O término de uma atividade significa uma série de outras relativas ao
fechamento contábil da ação. Toda a documentação reunida ao longo da
preparação, montagem e apresentação da atividade ou do produto deve ser
recuperada e feita uma avaliação não apenas qualitativa (o sucesso de público
aponta para esse quesito), mas, sobretudo, contábil financeira. Uma avaliação
crítica dos pontos positivos e negativos a serem ou não destacados ou
aperfeiçoados aparecem garantindo uma seqüência racional do processo da
produção, preparando terreno e aparando arestas para as produções futuras.
As etapas descritas acima são importantes inclusive para a negociação de
empréstimos financeiros para eventos programados. Em geral, um grupo bem
estruturado no seu aspecto gerencial detém trunfos valorizados tanto pelo público
consumidor – na medida em que se trata de um componente também qualitativo do
produto oferecido – como também de agências financiadoras – públicas ou
privadas.
De fato, a viabilização do projeto cultural tem na sua boa contabilidade um
trunfo que se soma à sua qualidade artística. Além do mais o agente financiador, ou
o patrocinador, olha o projeto como uma ponte de interlocução com o seu cliente,
que é de fato quem lhe interessa. A relação do agente cultural com o patrocinador
ainda traz resquícios de séculos passados nas palavras de Brant (2004, p. 112). O
último ainda é visto como mecenas, como aquele que sustenta a arte por seu valor
intrínseco. Quando estamos pensando em empresas, essa perspectiva está
ultrapassada. Elas não estão interessadas em sustentar carreiras de artistas. O
interesse está no poder de transferência de valores positivos para a marca
patrocinadora perante o público atendido por um determinado agente cultural. Daí
a importância de que o produtor da ação cultural saiba quais valores tem para
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“vender”, daí a importância do “projeto cultural”. Ele é quem vai apontar as
ferramentas necessárias para se implementar a proposta.
Um projeto completo é aquele feito sob medida para o cliente. Cada cliente
tem uma necessidade e o projeto tem de gerar contrapartidas específicas para
essas necessidades. Nesse sentido, vale ressaltar a importância de preparar um
projeto para cada cliente, pensado e voltado para o seu interesse e necessidade. É
preciso criar sempre situações de interesse do patrocinador específico para quem o
projeto está sendo encaminhado. Isso sem contar a enorme gama de segmentos,
aos quais o produto precisa se apresentar, como ministérios e secretarias de
cultura, imprensa, parceiros institucionais e promocionais. Um mesmo projeto para
abranger todo o leque de possibilidades de financiamento precisa ser proposto sob
o enfoque de interesse de cada um desses segmentos, para ampliar a sua
capacidade de sensibilização. Por exemplo: ao Ministério da Cultura interessa os
atributos e contrapartidas sócio‐artístico‐culturais do projeto; para o patrocinador,
são seus atributos de marketing, e assim por diante. O projeto é o mesmo em ambos
os casos.
As empresas que patrocinam projetos entendem as dificuldades do
mercado cultural e, uma vez parceiras do projeto, esforçam‐se para realizá‐lo. Essa
confiança deve ser preservada ao risco de não se alcançar novos financiamentos ou
novas parcerias.
Dentre as diferentes etapas que compõem um projeto cultural, elegemos
algumas que consideramos as mais importantes. Elencá‐las permitira ao estudioso
tomar ciência da complexidade do sistema de produção cultural e, assim, se inserir
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conhecendo regras básicas1. De forma exaustiva podemos considerar que uma
produção cultural envolve as seguintes etapas:
Planejamento
Produção
Direitos do Autor
Questões Jurídicas Solidariedade
tributária
Projetos e Financiamento à Cultura
É aquela que ocorre
Questões Financeiras entre as pessoas que
Comunicação tenham interesse
comum na situação
Questões Internacionais que constitua o fato
gerador da obrigação
Terceiro Setor principal; São as as
pessoas legalmente
designadas. Seus
efeitos, salvo
Vários desses componentes já foram tratados em maior ou menor disposição de lei em
profundidade ao longo do curso. Deteremos‐nos agora nas questões contrário, são os
seguintes: o
financeiras do projeto, pois ainda foi pouco abordada. O valor acordado pagamento efetuado
por um dos obrigados
para o pagamento de um serviço e/ou material do produto cultural sendo aproveita aos demais;
a isenção ou remissão
colocado no mercado deve ser entendido pelas partes envolvidas de crédito exonera
todos os obrigados,
(produtores, apoiadores) como valores brutos. Isso significa que sobre eles salvo se outorgada
incidem impostos que é uma obrigação legal. O não pagamento pode tornar pessoalmente a um
deles, substituindo,
vulnerável perante o fisco as partes envolvidas. nesse caso, a
solidariedade quanto
Assim, independentemente do tipo de projeto cultural que se aos demais pelo saldo;
a interrupção da
pretende realizar, seja a apresentação musical de um grupo internacional, a prescrição, em favor
ou contra um dos
edição de um livro ou a exposição de um artista renomado, sempre haverá a obrigados, favorece ou
incidência de tributos e seu pagamento deve ser observado pelo gestor do prejudica aos demais.
Para a solidariedade
projeto. O princípio da solidariedade tributária diz que o produtor tributária não se aplica
o benefício de ordem.
cultural é tão responsável pelo adimplemento da obrigação tributária Veja Arts. 124 e 125 do
Código Tributário
quanto o prestador do serviço, ou seja, ambos podem ser acionados e Nacional, Lei nº
5.172/66.
responsabilizados pela sonegação fiscal (não recolhimento do tributo).
A incidência de tributos vai exigir das partes envolvidas uma
1
Utilizaremos o trabalho de Edson Natale e Cristiane Olivieri, Guia Brasileiro de Produção Cultural,
2007, São Paulo, Editora Zé do Livro, 2006.
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transparência fiscal e tributária, que se por um lado exige certa burocracia, por
outro, protege de possíveis imprevistos as partes. No caso de empresa a
Site da receita Federal:
verificação é simples, pois a Receita Federal dispõe no seu site informações (www.receita.fazenda.g
ov.br)
sob sua idoneidade fiscal. Para isso, basta ter o número do Cadastro Nacional
da Pessoa Jurídica (CNPJ) da empresa a ser contratada. Se não encontrar a
empresa ou esta possuir pendências fiscais, é melhor não se arriscar: contrate
aquela que esteja regular. Para as pessoas físicas, basta solicitar ao profissional
contratado cópia de seus documentos cadastrais e, principalmente, de seu registro
como autônomo, expedido pela Prefeitura ou pela Delegacia Regional do Trabalho.
Todo e qualquer desembolso de recursos monetários deve vir
acompanhado de uma nota fiscal, recibo ou cupom fiscal representativo do serviço
prestado, a depender da legislação, discriminando o valor total bruto dos serviços
prestados. A formalização das finanças do empreendimento cultural evidencia o
seu tratamento como uma atividade econômica e social (gerando inclusive
emprego) e o seu tratamento é similar ao de qualquer atividade que vise ao lucro.
Daí a peculiaridade dos incentivos fiscais para a cultura conforme já discutido, pois
se tratam de incentivos financeiros para viabilizar a pesada carga tributária que
envolve as atividades formais no Brasil, da qual a cultura tem muitas vezes
dificuldades em responder aos estatutos legais.
Para se ter idéia do emaranhado de tributos envolvidos, apresenta‐se a
seguir os tributos que a contratante, no ato do pagamento à empresa prestadora do
serviço, deverá reter e recolher:
Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) – as alíquotas
que servem de base para o cálculo são fornecidas pela Receita e é calculada
sobre o valor total a ser pago, devendo o seu recolhimento ser feito por meio
de formulário próprio (DARF). A legislação que regulamenta o pagamento
discrimina pessoas físicas ou jurídicas, mas é importante que a contratante
envie ao contratado informe de rendimentos para lançamento na declaração
anual de rendimentos do contratado.
Contribuição ao Programa de Integração Social (PIS),
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e
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Contribuição Social sobe o Lucro Líquido (CSLL) – pagamentos com
valores mensais superior a R$5.000,00 (cinco mil reais), feitos por uma
pessoa jurídica de direito privado a uma outra pessoa jurídica também de
direito privado, estão sujeitos à retenção de CSLL, PIS e COFINS, com
alíquotas de 1%, 0,65% e 3,0%, respectivamente.
Contribuição ao Instituto Nacional da Seguridade Social
(INSS) – no caso de contratação de pessoa jurídica prestadora de serviços de
empreitada ou que envolva cessão de mão de obra (vigilância, limpeza,
segurança etc.) a empresa contratante deverá reter o INSS no VALOR
CORRESPONDENTE A 11% do valor bruto da nota fiscal, fatura ou recibo
referente aos serviços contratados. O valor retido deverá ser compensado
pela empresa contratada com as contribuições devidas ao INSS.
Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISS) – os
municípios têm prerrogativa para estipular a alíquota que incidirá sobre os
serviços de sua competência, alíquota essa que não pode ser inferior a 2%,
nem superior a 5%. Em geral, o ISS deve ser recolhido no município onde
está sediado o estabelecimento prestador do serviço, sendo que em algumas
hipóteses específicas a legislação determina que o recolhimento seja feito
em outras localidades. Em outros termos, o recolhimento do tributo
obedece às regras da legislação do município competente para a cobrança.
É importante verificar se pessoas físicas contratadas são registradas como
autônomas, ou seja, se possui inscrição perante o município, o chamado Cadastro
dos Contribuintes Mobiliários (CCM), na Delegacia Regional do Trabalho (DRT) e no
INSS, pois somente assim poderá ser considerado profissional autônomo. No ato do
recebimento da sua remuneração pelos serviços prestados ele deverá receber o
Recibo de Pagamento a Autônomo (RPA) com o valor total do serviço, destacando,
ainda, os tributos que serão retidos e recolhidos pelo contratante, a saber:
Contribuição ao Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS), o Imposto de Renda
Retido na Fonte (IRRF) e o Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISS).
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Iremos, na seqüência, ilustrar com exemplos atividades culturais
formalizadas e apoiadas pelo setor público no Brasil, tanto aquelas já consolidadas
como atividades industriais propriamente ditas, como aquelas oriundas de
iniciativas outras, mas que recebe também apoio público (Fundações, atividades
artísticas, folclóricas, cultura popular ou mesmo atividades intelectuais ou de
vanguarda).
Se levarmos em consideração as diferentes modalidades culturais apoiadas
pelo Ministério da Cultura no último exercício (20), constataremos que as artes
cênicas tiveram 17,6% e a música, (16,6). Essas foram as modalidades culturais
mais beneficiadas com recursos públicos. As demais atividades (artes plásticas,
literatura, audiovisual, patrimônio cultural etc.) tiveram apoio relativamente
uniforme (média de 12% do total). O gráfico abaixo ilustra esses dados.
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Entretanto, se nos determos na prática de consumo cultural por faixa de
renda iremos perceber que as faixas “A” e “B” consomem sobretudo produtos
audiovisuais (20%), seguido de longe pelas microinformática e leitura (8%). A
classe “C” repete o mesmo padrão de consumo de bens culturais embora
dispensando menos recursos (12% e 4,8%, respectivamente, para audiovisual,
microinformática, leitura e indústria fonográfica). Alteram‐se as prioridades nas
classes “D” e “E” quando a “indústria fonográfica” passa a ocupar o segundo lugar
nas prioridades de consumo (5,5%) e a leitura (2,9%) o terceiro lugar (ver gráfico).
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Feitas essas pequenas considerações, muitas na forma de críticas
sugestivas, é necessário, antes de tratar mais detidamente as especificidades da
gestão cultural nas seis principais áreas de produção cultural e artística, apreciar
alguns pontos que abrangem cada uma dessas áreas, podendo ser considerados
como gerais. Em outras palavras, o que se pretende expor, como uma espécie de
ponto de partida, é como as instâncias de incentivo e fomento à produção cultural
estão fundamentadas no seu olhar e consideração ao produto cultural. Além disso,
cabe discutir as linhas operacionais da legislação de incentivo.
Acesse o site e conheça
Incentivo a nível federal: A já familiar Lei n. 8.313, de 23 de a Lei Rouanet na
íntegra:
dezembro de 1991, conhecida como Lei Rouanet, institui o Programa
www.planalto.gov.br/
Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC). O alcance dessa lei é bastante ccivil_03/leis/l8313c
ons.htm
amplo, de modo que abrange quatro frentes:
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incentivo à formação artística e cultural;
fomento à produção artística e cultural;
preservação e difusão do patrimônio artístico, cultural e
histórico;
estímulo ao conhecimento de bens e valores culturais.
Esse alcance é concebido por meio da atuação dos mecanismos a seguir
expostos:
Fundo Nacional de Cultura (FNC) – Mecanismo da Lei Federal de Incentivo
à Cultura (Lei n. 8.313/1991) – consiste em um fundo de investimentos que
possibilita ao Ministério da Cultura investir diretamente nos projetos culturais,
composto de recursos advindos de fontes como:
recursos do Tesouro Nacional;
doações;
legados;
subvenções e auxílios de entidades de qualquer natureza,
sejam elas nacionais ou internacionais;
saldos não utilizados na execução de projetos de Mecenato;
devolução de recursos de projetos vinculados ao FNC ou ao
Mecenato que não foram iniciados ou concluídos;
1% da arrecadação de Fundos de Investimentos Regionais;
3% da arrecadação bruta de concursos de prognósticos e
loterias federais e similares, deduzidos do montante destinado aos prêmios;
reembolso das operações de empréstimo realizadas pelo
Fundo;
resultado das aplicações em títulos públicos federais;
conversão da dívida externa com entidades e órgãos
estrangeiros,
saldo de exercícios anteriores,
recursos de outras fontes.
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O FNC pode apoiar parte do custo total de cada projeto cultural, permitindo
a liberação de recursos por meio de convênio com instituições, programas de apoio
a determinados segmentos, empréstimos reembolsáveis ou concessão de prêmios,
passagens e bolsas. Nota‐se que a aplicação de fundos do FNC é realizada visando à
diminuição de desequilíbrios regionais, de forma que se aplica a maior parte dos
recursos nas regiões Norte e Nordeste, tendo em vista que o Sul e Sudeste são mais
bem servidos pelo Mecenato.
A legislação que rege o FNC fixa a contrapartida em 20%. Nesse sentido,
em caso de convênios, a entidade que firma o convênio deve assumir 20% dos
recursos necessários à realização do projeto ou obter patrocínio, ou doação de
algum ente privado, posto que é vedada como contrapartida a utilização de
recursos oriundos de incentivos fiscais. Em alguns casos ainda, a transferência de
recursos do FNC pode prescindir da contrapartida mínima de 20%, quando se
tratar de recursos com destinação especificada na origem pelos doadores,
patrocinadores ou no caso de emendas adicionais ao orçamento da União para o
FNC.
Os convênios podem ser realizados com pessoas jurídicas de direito
público ou privado sem fins lucrativos. A proposta de celebração de convênio é
preenchida no mesmo formulário disponibilizado pelo MINC para o Mecenato. Após
a entrega a esse ministério, esse documento é encaminhado para um órgão de
análise específica, conforme a área em que se enquadra o projeto.
As deliberações do Fundo são realizadas por uma comissão presidida pelo
secretário‐executivo e pelos titulares das secretarias do ministério, pelos
presidentes das entidades vinculadas ao MINC e por um representante do Gabinete
do Ministro. As funções dessa comissão são as seguintes:
avaliar e selecionar os programas, projetos e ações culturais
que objetivem a utilização de recursos do Fundo Nacional da Cultura, de
modo a subsidiar sua aprovação final pelo Ministro de Estado da Cultura;
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apreciar as propostas de editais a serem instituídos em caso
de processo público de seleção de programas, projetos e ações a serem
financiados com recursos do Fundo;
apreciar as propostas de plano anual das entidades vinculadas
ao MINC;
elaborar o plano de trabalho anual do FNC que integrará o
plano anual do PRONAC. Este plano anual deverá conter os orçamentos
detalhados e justificativos dos programas, projetos e ações culturais de
iniciativa do ministério a serem financiados pelo Fundo.
Deve ser feita, ainda, uma ressalva em relação a projetos que não se
enquadram em programas específicos, divulgados por meio de edital pelas
secretarias vinculadas ao Ministério. Esses projetos partem de uma demanda
espontânea da sociedade e sua avaliação documental e técnica também constitui
uma atribuição da comissão do FNC, podendo celebrar um convênio de
financiamento de parte do seu valor.
Fundos de Investimento Cultural e Artístico (FICART) – é um
mecanismo autorizado pela Lei Rouanet, sob a forma de condomínio, sem
personalidade jurídica, caracterizando comunhão de recursos destinados à
aplicação em projetos culturais e artísticos. Na prática, esse mecanismo ainda não
foi utilizado, mas para se ter uma idéia do que viria a ser um FICART segue um
exemplo: se uma instituição financeira constitui um fundo para aplicar recursos na
realização da temporada de um determinado espetáculo teatral, a receita
procedente da arrecadação dos patrocínios, entradas vendidas e demais fontes de
arrecadação serão receitas do fundo, gerando dividendos a serem partilhados entre
os investidores.
Mecenato – constitui um mecanismo da Lei Rouanet que possibilita o
abatimento de investimentos culturais no Imposto de Renda devido. O mecenato
permite o apoio de pessoas físicas e de empresas para a execução do seu projeto
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cultural, desde que esse seja antes aprovado pelo Ministério da Cultura. E aos
investidores é permitido, por sua vez, deduzir do imposto de renda o valor
repassado.
Diferentemente do FNC, o mecenato não permite a transferência direta de
recursos para o projeto, mas, após a aprovação do projeto no Diário Oficial
da União, cabe ao proponente buscar empresas ou pessoas físicas
interessadas em financiar a execução, por meio por meio de patrocínio ou
doação.
Só podem investir no projeto por via Mecenato as empresas tributadas
com base no lucro real. Outra diferença em relação ao FNC é que, por meio do
Mecenato, o projeto pode ser financiado em sua totalidade. No entanto, se o
proponente pretender lançar mão de recursos de outras fontes – próprias ou
provenientes de outro patrocínio –, deverá indicá‐las na entrega do projeto e
comprová‐las na prestação de contas.
Após ter o projeto aprovado, o proponente tem um prazo determinado
para captar os recursos, determinado na portaria de divulgação da aprovação. Se o
proponente não conseguir recursos durante o prazo determinado, poderá solicitar
a prorrogação do período de captação para o exercício seguinte, com justificativa,
até 30 dias corridos antes do fim do prazo estabelecido na portaria. Projetos que
não obtiverem captação poderão ter o período designado prorrogado por mais 12
meses, a contar do final do prazo inicial concedido na aprovação. Aqueles que
captarem pelo menos 20% do valor aprovado e completarem 12 meses da data da
aprovação também podem solicitar prorrogação por 12 meses. O pedido não é
aceito se o projeto completar 24 meses da aprovação sem captação ou se esta for
inferior a 20% do valor aprovado. No caso de eventos, o prazo máximo para obter
recursos é de 60 dias após o término do evento, e não é admitida a prorrogação.
Após revisar os três principais mecanismos previstos pela Lei Rouanet,
cabe a revisão de alguns tópicos relevantes do ponto de vista de quem produz
cultura: a apresentação de projetos, a captação de recursos e a prestação de contas.
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A apresentação de projetos
A primeira fase de concepção do produto cultural a ser incentivado é a
montagem do projeto cultural, quando é definido o que se deseja produzir, as
estratégias para realização e, ainda, as fontes de onde se espera captar recursos. O
projeto é apresentado ao MINC por meio do preenchimento de um formulário
padronizado disponível na página do ministério na internet ou nas suas
representações nos Estados.
O grande pressuposto que orienta as exigências do MINC na seleção dos
projetos é o da democratização do acesso aos bens e serviços culturais
resultantes dos incentivos. Nesse sentido, é de suma importância que o plano de
acessibilidade ao produto final do projeto seja o foco do projeto por meio da
exposição dos seguintes pontos:
estimativa dos preços dos produtos, revelando como os
ingressos ou a comercialização das obras será acessível à população em
geral;
políticas de acessibilidade para idosos e portadores de
necessidades especiais, envolvendo o planejamento de utilização de locais
adaptados a tais necessidades;
plano de distribuição gratuita, definindo qual a cota de
distribuição será reservada e a quem se destinará;
estratégias de difusão em geral.
Após a montagem do projeto, o preenchimento do formulário é o próximo
passo, que não tem maiores complicadores, pois se trata de um instrumento auto‐
explicativo. Nele deverá constar a identificação do projeto, identificação do
proponente, os objetivos, a justificativa, a estratégia de ação (memorial descritivo),
plano de realização do projeto, o orçamento físico‐financeiro, resumo das fontes de
captação, resumo do orçamento e cronograma físico–financeiro. Mas, mesmo sem
dificuldades maiores, é importante ressaltar alguns pontos que merecem atenção.
Na identificação do proponente, por exemplo, deve‐se atentar para o fato de que
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pessoa física ou jurídica com finalidade lucrativa não pode pleitear convênio. Na
exposição do objetivo deve‐se cuidar para que haja objetividade na explanação do
que se pretende realizar. Mas, além desses pontos, o preenchimento da justificativa
merece atenção especial, pois é justamente nesse espaço em que o proponente
pode explicitar as razões que motivaram a proposta do projeto e, além disso,
justificar itens do orçamento. Por fim, a feitura do orçamento deve considerar
alguns parâmetros:
cabe à administração do projeto o máximo de 15% incidente
sobre o valor captado;
destina‐se ao agenciamento e à elaboração do projeto o
máximo de 10% incidente sobre o valor captado;
reserva‐se à mídia o máximo de 20 %.
Após serem entregues e protocolados, os projetos são pré‐analisados e
remetidos a pareceristas da Lei Rouanet que checarão o enquadramento nos
objetivos da lei, o que caracteriza a sua apreciação enquanto técnica e não
valorativa no que se refere à validade artística e cultural. Em seguida, os projetos
são encaminhados à Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC), órgão do
qual os projetos recebem aprovação. Posteriormente, à decisão da CNIC é remetida
a cada secretaria de área, que prepara a portaria para apreciação final do Ministro
de Estado da Cultura, ou de alguém delegado por ele, que deve encaminhar para
publicação no Diário Oficial da União. É somente após a publicação da portaria de
aprovação que ao proponente é permitido captar recursos para seu projeto.
Captação de recursos
Este constitui o ponto crucial do mecanismo instituído pelo Governo
Federal, por meio do qual o investimento em cultura se estrutura tributariamente,
pois é justamente o momento em que o patrocinador ou doador investe na
realização do produto cultural e recebe como contrapartida o incentivo fiscal. A
seguir mostra‐se um breve apanhado dos abatimentos junto ao fisco, de que trata a
Lei Rouanet:
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em geral, o teto de abatimento fixo pelo dispositivo legal para
cada tipo de mecenas é de até 4% do Imposto de Renda devido pela pessoa
jurídica e de 6% do devido pela pessoa física;
em alguns casos específicos a legislação prevê abatimentos
distintos no Imposto de Renda. Portanto, está autorizada a dedução de
100% do valor transferido para projetos em: artes cênicas; livros de valor
artístico, humanístico ou literário; música erudita ou instrumental;
exposições de artes visuais; doações de acervos para bibliotecas,
cinematecas, museus e arquivos públicos; produção, preservação e difusão
de produções audiovisuais; por fim, preservação do patrimônio material e
imaterial.
Tratemos agora do relacionamento entre o beneficiário e o agente para a
realização do investimento no produto cultural. A doação ou o patrocínio não pode
ser oferecido à pessoa física ou instituição vinculada ao agente. Nesse sentido, não
podem receber patrocínio ou doações instituições que tenham como gerente, sócio,
titular, acionista ou investidor o agente, na data da operação ou nos últimos doze
meses. Isso se aplica também a pessoas físicas que sejam sócias, cônjuges,
dependentes, parentes de até terceiro grau e afins de agentes. Por outro lado,
instituições culturais sem fins lucrativos que tenham sido fundadas por agentes
podem receber suas doações ou patrocínios.
Administração do projeto
Considerando que a não correspondência ao que foi proposto no projeto
para captação de recursos pode levar a problemas junto ao incentivador no
momento da prestação de contas e na devolução dos recursos captados, e culminar
com o envio do nome do proponente ao Cadastro de Inadimplentes do Governo
Federal (CADIN), recomenda‐se bastante cuidado na administração do projeto, de
forma que ele possa ser fechado com a realização do produto cultural planejado.
Nesse sentido, é importante dar a devida atenção a certos procedimentos que serão
sugeridos a seguir.
22
O primeiro passo após captar os recursos para um projeto é a informação
ao órgão incentivador para que seja feito o acompanhamento. Esse
acompanhamento se faz por meio de uma carta ao órgão com o recibo e uma cópia
do extrato bancário em que conste o crédito. Caso o proponente deseje, pode enviar
prestações de contas parciais para facilitar a prestação de contas final. Na execução
do projeto, os pagamentos à pessoa jurídica devem ser feitos mediante a
apresentação de nota fiscal e, no caso de pagamento à pessoa física, o proponente é
responsável pelo recolhimento do INSS e pela retenção do Imposto de Renda (IR)
na fonte e do Imposto Sobre Serviço (ISS), quando for necessário. Os recursos
destinados a projetos culturais devem ser depositados em uma conta‐corrente
aberta em nome do proponente, mas destinada exclusivamente ao projeto.
Em caso de alteração de metas, o proponente deve pedir autorização do
MINC para remanejar os recursos, expondo as justificativas para que a
transferência de recursos possa ser autorizada ou não. Se houver gastos que não se
encaixem nos parâmetros expostos no orçamento aprovado, a prestação de contas
deve trazer uma justificativa detalhada do que levou à alteração.
O Ministério da Cultura se reserva a contrapartida da marca, ou seja, o
direito de que as peças promocionais do produto final tragam logomarca
do MINC segundo os critérios de inserção estabelecidos pelo seu manual
de identidade visual.
Por fim, é obrigatória a destinação de pelo menos seis cópias do produto
cultural ou do registro da ação realizada para a composição do acervo do MINC e a
reserva de até 10% do produto para distribuição gratuita com destinação
estipulada pelo MINC no ato da aprovação do projeto. Essa cota reservada ao MINC
não deve ser confundida com a cota de 10% a que tem direito também o
patrocinador do projeto.
Nota‐se que a enumeração desse pequeno roteiro de passos
administrativos tem como objetivo tão‐somente possibilitar a realização do
23
produto cultural tal como se planejou, atendendo as expectativas do patrocinador,
do MINC e do próprio proponente e, ao mesmo tempo, facilitar a realização do
passo seguinte ao fechamento do projeto: a prestação de contas.
Prestação de contas
Vejamos agora o que é necessário após a conclusão de administração do
projeto: o proponente tem 30 dias, após o fechamento do projeto e encerramento
do prazo de captação, para entregar a prestação final de contas, informando os
valores pagos na execução, os impostos, as receitas recebidas via Mecenato ou as
decorrentes de alguma aplicação financeira dos recursos. Ao final do projeto, o
extrato bancário das movimentações envolvendo os recursos deve ter o saldo
zerado e, caso haja saldo remanescente, o valor será recolhido ao FNC. Como foi
dito anteriormente, caso o proponente deseje, e venha a ser estipulado pelo MINC,
podem ser feitas prestações de contas parciais.
Para a prestação de contas o proponente deverá preencher então Site do MINC:
<www.cultura.gov.br>.
alguns formulários auto‐explicativos disponíveis no site do MINC. Assim,
serão preenchidos os seguintes formulários de:
receita e despesa, nos quais constam os valores e as fontes dos
recursos recebidos, além dos valores e destinação das despesas;
relação de pagamentos, em que são declarados todos os
pagamentos realizados para o projeto;
relatório fisco, no qual é descrita a metas e declarada a
proporção do que foi de fato realizado;
relação de bens de capital, em que são declarados os
pagamentos relacionados à aquisição de bens que incorporam o ativo fixo
permanente do proponente;
relação de bens imóveis, no qual se declara os pagamentos
relacionados à aquisição de bens imóveis para a realização do projeto
cultural;
conciliação bancária, na qual são relatadas as movimentações
bancárias e anexadas cópias dos comprovantes bancários das transações;
24
relatório final, como parte principal da prestação de contas, é
aquele no qual ultrapassa a característica contábil e traz os demais
formulários, ao oferecer uma descrição detalhada de todo o andamento da
execução do projeto, além das justificativas de alterações, como já foi
mencionado anteriormente. Dessa maneira, o relatório final deve passar por
cada um dos pontos do projeto, como objetivo, justificativa, estratégias de
ação, custos e plano de captação, expondo como cada uma das etapas foi
realizada e em que medida teve discrepâncias em relação ao
plano aprovado.
De acordo com a recomendação de Fábio Cesnik (2007), o proponente deve
datar e incluir uma linha para assinatura ao encerrar o relatório final.
Incentivo em nível estadual
Enquanto os instrumentos federais de incentivo se baseiam no benefício de
imposto de renda, os instrumentos estaduais lançam mão do imposto sobre
operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação
(ICMS) que é de competência dos Estados e do Distrito Federal.
Incentivo a nível municipal
As leis municipais de incentivo à cultura operam por meio da concessão de
abatimentos no imposto territorial e predial urbano (IPTU) e no imposto
sobre serviço de qualquer natureza (ISS), nos limites de sua competência aos
agentes financiadores de cultura.
Após revisar alguns tópicos relevantes que permitem lidar com as políticas
culturais de maneira operacional, sigamos então para o que de fato é de interesse:
desvendar os modelos de gestão adotados, enumerar as ferramentas oferecidas,
considerar as formas de financiamento e, por fim, listar os resultados dos modelos
de gestão. Para tanto, serão utilizados como atalhos certas entidades que recebem
25
e analisam tecnicamente os projetos entregues no MINC, de acordo com seu
enquadramento. Essas instituições são: a Fundação Nacional de Artes (FUNARTE),
que trata de assuntos ligados à música e às artes cênicas; Fundação Biblioteca
Nacional (FBN), que analisa projetos relacionados à literatura e Instituto do
Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN), cuja função é tratar de aspectos ligados ao
folclore e à cultura popular.
É necessário esclarecer que não constitui o objetivo da exposição que
segue oferecer um mapeamento completo das políticas de incentivo, das entidades
incentivadoras da produção cultural e das maneiras como essas entidades públicas
ou privadas atuam. Na verdade, o que segue é um apanhado que mais sugere linhas
gerais dos modelos de gestão, das ferramentas e dos modos de atuação de forma
que os exemplos arrolados não pretendem de forma alguma servir como modelo de
generalizações acerca da temática.
O que se espera de tal apanhado é, na verdade, oferecer um roteiro de
reflexões acerca dos valores e pressupostos nas propostas de incentivo,
das motivações que levam ao investimento em cultura, da condição do
produtor cultural em um mercado que gera estimas e valores, mas que
também gera renda.
Como reforço a essa percepção e à consciência do que de fato representa a
realização de cultura dentro da teia contemporânea que a envolve, a idéia é que se
possa visualizar de forma prática os instrumentais à mão e a relação entre agente
incentivador e produtor, para que essa se dê da forma mais frutífera possível, ou
seja, que o produto final – que é o bem cultural – venha a nascer e ser consumido.
26
2 CINEMA
ANCINE
Para pensar como se dá a gestão cultural no setor do cinema, é de central
importância voltar a atenção à atuação da ANCINE, agência vinculada ao MINC,
responsável por gerir as políticas relacionadas à produção cinematográfica e
videofonográfica. Por meio da análise dos documentos e relatórios da entidade, é
possível compor um quadro esclarecedor acerca das diretrizes que orientam a
produção audiovisual no Brasil.
A ANCINE executa a política nacional de fomento ao cinema, formulada
pelo Conselho Superior de Cinema, fiscaliza o cumprimento da legislação
pertinente, promove o combate à pirataria de obras audiovisuais, aplica multas e
sanções na forma da lei, regula as atividades de fomento e proteção à indústria
cinematográfica e videofonográfica, resguardando a livre manifestação do
pensamento, da criação, da expressão e da informação. Fornece Certificados de
Produto Brasileiro a obras nacionais, registra as obras cinematográficas e
videofonográficas que serão comercializadas em todos os segmentos de mercado e
presta apoio técnico e administrativo ao Conselho Superior de Cinema.
Criada em setembro de 2001, por meio da Medida Provisória n. Acesse o site e conheça
a medida provisória
2228, a Agência Nacional do Cinema (ANCINE) é o órgão oficial de na íntegra:
https://www.planalto.
fomento, regulação e fiscalização das indústrias cinematográfica e gov.br/ccivil_03/mpv/
2228
videofonográfica, dotada de autonomia administrativa e financeira. É uma
agência independente na forma de autarquia especial, vinculada desde
2003 ao Ministério da Cultura. Sua administração é feita por uma diretoria
colegiada, composta de um Diretor‐Presidente e três Diretores, com mandatos fixos
e não coincidentes, aprovados pelo plenário do Senado Federal. Sendo órgão de
governo, a Agência disponibiliza à classe cinematográfica, pesquisadores,
jornalistas e interessados em geral, dados estatísticos, boletos de recolhimento,
referente à opções de mecanismos legais, formulários, editais, informações e
27
notícias, na intenção de facilitar o acesso à informação a respeito de suas
realizações e competências.
Modelo de Gestão
A ANCINE é uma agência reguladora cujo objetivo é fomentar a produção, a
distribuição e a exibição de obras cinematográficas e videofonográfica em seus
diversos segmentos de mercado, assim como promover a auto‐sustentabilidade da
indústria nacional nos vários elos da cadeia produtiva. Em sua curta existência, a
ANCINE implantou‐se fisicamente, equipou‐se com recursos humanos e infra‐
estrutura técnica, saneou e aperfeiçoou os mecanismos de incentivos fiscais que
movimentam mais de cem milhões de reais por ano, manteve a participação
brasileira nos festivais internacionais, retomou a regulamentação do mercado e deu
início à sua fiscalização, interrompida desde 1990.
A ANCINE desenvolveu o conceito de fomento regulador e tem aberto
editais de apoio a essa atividade, além de outros editais apoiando o
desenvolvimento de projetos, a produção, a finalização e a distribuição de obras
cinematográficas. A abertura de editais tem contribuído para a descentralização da
produção cinematográfica no país, antes fortemente concentrada no Rio de Janeiro
e em São Paulo. A Agência tem como objetivo também estimular a participação das
obras cinematográficas e videofonográficas de produção nacional no mercado
externo. E, ainda, apoiar a capacitação de recursos humanos, o desenvolvimento
tecnológico do setor e zelar pelo respeito ao direito autoral sobre obras
audiovisuais nacionais e estrangeiras.
Construir um órgão novo na estrutura do Estado brasileiro e reconstruir a
capacidade de gestão pública na atividade cinematográfica e audiovisual não é
tarefa simples. Cinco anos após a sua criação pela Medida Provisória n. 2228‐
1/2001, a ANCINE está plenamente implantada. Há, sem dúvida, o desafio de
desenvolver as competências de regulação e fiscalização, já iniciadas e a ser
aprofundadas para o atendimento de seus objetivos.
Dentre os objetivos que marcam o discurso presente em documentos e
relatórios da ANCINE, merecem destaque os objetivos de promoção do
28
desenvolvimento da atividade, visando ao aumento da competitividade nos
diferentes segmentos do mercado, de ampliação do acesso às obras produzidas no
Brasil e de estímulo à presença de obras nacionais nos diferentes segmentos de
mercados mundiais. A pretensão de obter êxito no cumprimento desses objetivos é
fundamentada por meio da atuação em três grandes áreas: regulação, fiscalização e
fomento das atividades. A regulação é planejada por meio de ações como:
registro de todas as obras cinematográficas e
videofonográficas destinadas à veiculação no Brasil, nos diversos segmentos
de mercado;
estímulo à participação das obras em todos os segmentos do
mercado interno e estimulá‐la no mercado externo;
fornecimento de um Certificado de Produto Brasileiro às obras
cinematográficas e videofonográficas;
regulação do procedimento para a realização das filmagens e
gravações estrangeiras no território nacional;
estabelecimento de critérios para aplicação dos recursos do
Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Cinema Nacional (PRODECINE);
atualização, em consonância com a evolução tecnológica.
A Fiscalização se dá por meio de ações como:
aferir, semestralmente, o cumprimento da obrigatoriedade de
os locais de exibição pública comercial exibirem obras cinematográficas
brasileiras de longa metragem;
aferir, anualmente, o cumprimento da obrigatoriedade de
lançamento comercial em vídeo doméstico de obras brasileiras por parte das
empresas de distribuição;
arrecadar e fiscalizar a Contribuição para o Desenvolvimento
da Indústria Cinematográfica Nacional (CONDECINE);
fiscalizar o cumprimento da legislação referente à atividade
cinematográfica e videofonográfica nacional e estrangeira nos diversos
segmentos de mercados;
29
zelar pelo respeito ao direito autoral sobre obras audiovisuais
nacionais e estrangeiras.
A área de fomento é viabilizada por meio de quatro linhas de ação:
aprovação e acompanhamento da execução de projetos de
produção, co‐produção, distribuição, exibição e infra‐estrutura técnica a
serem realizados com recursos públicos e incentivos fiscais;
aprovação e acompanhamento da execução de projetos de
comercialização de obras cinematográficas e videofonográficas brasileiras
de produção independente a serem realizados no âmbito do PRODECINE;
estabelecimento de critérios e diretrizes para a aplicação de
recursos de fomento e financiamento à indústria cinematográfica e
videofonográfica nacional;
gestão de programas e mecanismos de fomento à indústria
cinematográfica e videofonográfica nacional.
Como se percebe, as atribuições da ANCINE são complexas e uma
interessante maneira de compreender a sua lógica seria analisar em
detalhes sua performance de atuação.
Ferramentas
A ANCINE em suas atividades rotineiras tem de ficar atenta para que as
ações ou os projetos que apóia correspondam às suas funções definidas legalmente.
Particularmente, deve prestar contas à sociedade e aos agentes econômicos por ela
regulados, bem como atendendo às disposições dos órgãos de controle dos
Poderes Executivo e Legislativo. Assim fazendo ela não apenas se legitima diante
do público externo como também se consolida internamente, fortalecendo‐se cada
vez mais ao longo de sua existência. Nunca é demais insistir no fato de que
construir um órgão novo na estrutura do Estado brasileiro, e reconstruir a
30
capacidade de gestão pública na atividade cinematográfica e audiovisual não é
tarefa simples. O audiovisual e, particularmente, a atividade cinematográfica estão
inseridas em pesadas estruturas de mercado tanto na produção quanto na
distribuição de seus produtos e sua gestão pressupõe ferramentas ágeis e eficazes
de ação. Vejamos um pouco de sua estrutura administrativa.
Para realizar os objetivos, as ações desenvolvidas pela ANCINE tiveram,
como diretrizes gerais, as ações integrantes dos Programas Brasil Som e Imagem e
Gestão da Política de Cultura, cujas gerências são exercidas pela Secretaria do
Audiovisual do Ministério da Cultura (SAV/MINC). Além delas, a ANCINE também é
responsável por uma Ação desenvolvida dentro do Programa Gestão da
Participação em Organismos Internacionais, cuja gerência é exercida pelo
Ministério das Relações Exteriores e outra no Programa Previdência de Inativos e
Pensionistas da União, cuja gerência é exercida pelo Ministério do Planejamento e
Gestão. É por meio desses mecanismos que a atuação no setor do cinema e
audiovisual é viabilizada. Vejamos como funcionam os dois principais mecanismos.
Programa Brasil Som e Imagem: é um programa que tem como objetivo
principal ampliar a produção, a difusão, a exibição, a preservação e o acesso às
obras audiovisuais brasileiras e promover a auto‐sustentabilidade da indústria
cinematográfica, tendo como público alvo a sociedade brasileira. A execução desse
programa se dá por meio dos seguintes procedimentos:
fiscalização das atividades integrantes da indústria
cinematográfica e videofonográfica;
fomento a projetos cinematográficos e audiovisuais;
fomento a distribuição e comercialização de obras
cinematográficas e videofonográficas no país e no exterior;
promoção e intercâmbio de eventos audiovisuais;
concessão de prêmio adicional de renda a produtores
distribuidores e exibidores.
31
Gestão da Política de Cultura: é um programa que atribui à ANCINE a
execução da implantação do Sistema Nacional de Cultura (SNC), que constitui um
sistema de articulação, gestão e de promoção conjunta de políticas que objetivam a
formulação e implantação de políticas públicas de cultura, definidas em conjunto
com a sociedade civil.
Tipos de investimento
A unidade responsável pelo gerenciamento e execução das atividades
relacionadas ao desenvolvimento de programas de incentivo, apoio, fomento e
financiamento das atividades cinematográfica e audiovisual é a Superintendência
de Fomento (SFO). Para o desenvolvimento dessas atividades, foi destinado à
ANCINE o montante de R$34.015.812,00 (trinta e quatro milhões, quinze mil e
oitocentos e doze reais) na Lei Orçamentária Anual de 2006, sem considerar as
despesas com pessoal. Por meio do Decreto n. 5.780, de 19 de maio de 2006, o
Ministério da Cultura destinou à Agência um Limite para Movimentação e Empenho
em Outras Despesas Correntes e Capital (OCC) equivalente a R$29.063.721,00
(vinte e nove milhões, sessenta e três mil e setecentos e vinte um reais) e que, ao
longo do exercício fiscal, foi reduzido para R$28.861.000,00 (vinte e oito milhões,
oitocentos e sessenta e um mil reais).
Além dos investimentos resultantes de ações diretas do MINC, são
consideráveis os investimentos de empresas que atuaram mediante os incentivos
fiscais previstos pela Lei do Audiovisual. O quadro a seguir traz alguns números
relativos a valores captados, por mecanismo, alocados em projetos em 2005 e 2006
(valores em R$ mil):
MECANISMO 2005 2006
LEI ROUANET 38.682,1 35.794,9
ARTIGO 1º da LEI n. 8.685/1993 43.662,9 50.787,2
ARTIGO 3º da LEI n. 8.685/1993 37.726,1 63.240,3
ARTIGO 39 da MP N. 2228‐1/2001 14.921,6 4.101,0
FUNCINES (ARTIGO 41 da MP n. 2228‐
1.032,0 3.440,0
1/2001)
TOTAL 136.024,7 157.363,3
Fonte: Superintendência de Fomento/SFO – ANCINE
(*) situação em 08/03/2007 – dados preliminares
32
Quanto à já mencionada preocupação relacionada à competitividade em
termos de qualidade da produção, existe um mecanismo de fomento automático
baseado nos resultados artísticos dos filmes e denominado Programa ANCINE de
Incentivo à Qualidade do Cinema Brasileiro. A premiação se dá em função da
seleção, indicação e premiação de obras cinematográficas brasileiras de longa‐
metragem de produção independente, em festivais nacionais e internacionais. Em
2006, doze filmes foram contemplados pelo Programa, recebendo cada um o valor
de R$100.000,00 (cem mil reais), devendo os recursos recebidos serem destinados,
obrigatoriamente, ao desenvolvimento de projetos brasileiros de longa‐metragem
de produção independente.
Além dos investimentos já mencionados, cabe mencionar mais um que se
insere no Programa Gestão da Participação em Organismos Internacionais, cuja
gerência é exercida pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE). Com a
participação nesse programa, a ANCINE foi responsável, em 2006, pelo aporte
financeiro no valor de R$26.937,63 (vinte e seis mil, novecentos e trinta e sete reais
e sessenta e três centavos), destinado ao funcionamento da Secretaria Executiva da
Cinematografia Ibero‐americana (SECI), com sede em Caracas, na Venezuela.
Resultados
O resultado dos programas e ações é a possibilidade de execução de
projetos a partir da utilização de recursos advindos de incentivos e financiamentos
resultantes das políticas de gestão mencionadas. Não se quer com isso afirmar que
já se trata de uma política que satisfaz todas as necessidades de produção cultural
no setor audiovisual, pois como pode ser conferido nos números uma parcela
significativa dos projetos atendidos ainda é proveniente de produtores do eixo Rio‐
São Paulo.
Mas notar como um número significativo de projetos é atendido e levado à
execução já figura como um importante resultado ao tipo de objetivo que as
propostas de políticas analisadas assumem. Nesse sentido, pode‐se mencionar
como um resultado positivo o fato de, em 2006, ter sido registrada a captação de
33
mais de R$157 milhões em incentivos fiscais, sendo que os números relativos à
concessão de prêmios pelos editais de fomento diretos da ANCINE, por não serem
resultantes de renúncia fiscal, não estão incluídos nesse total. Ao todo, 272 projetos
captaram recursos em 2006, para um total de 769 projetos aprovados ou
prorrogados pelas leis de incentivo. Isso significa que 35% dos chamados projetos
“Ativos” lograram êxito na captação.
Mas revelar apenas estes números não soa tão expressivo quanto mostrar
os valores captados por esses projetos. Para não trazer um quadro constando os
valores de 272 projetos, segue apenas um quadro representativo, com os valores
captados por dez projetos beneficiados por renúncia fiscal.
VALOR CAPTADO
NOME DO PROJETO PROPONENTE
F (R$)
O PRIMO BASÍLIO RJ LEREBY PRODUÇÕES LTDA. 5.161.709,70
O2 PRODUÇÕES ARTÍSTICAS E 4.550.150,00
CIDADE DOS HOMENS, O FILME SP
CINEMATOGRÁFICAS LTDA.
AS PELEJAS DE OJUARA RJ FILMES DO EQUADOR LTDA. 4.221.976,01
A TURMA DA MÔNICA EM UMA RJ DILER & ASSOCIADOS LTDA. 3.832.849,12
AVENTURA NO TEMPO
RJ 3.680.950,00
XUXA GÊMEAS DILER & ASSOCIADOS LTDA.
ATITUDE PRODUÇÕES E
MEU NOME NÃO É JOHNNY –
RJ EMPREENDIMENTOS 3.661.506,60
PRODUÇÃO
LTDA.
BOPE RJ ZAZEN PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS LTDA. 3.620.999,50
O MAGNATA SP GULLANE FILMES LTDA. 3.601.675,00
O PASSADO SP HB FILMES LTDA. 3.472.265,00
TRAIR E COÇAR É SÓ COMEÇAR RJ DILER & ASSOCIADOS LTDA. 3.280.000,00
Fonte: ANCINE,.
34
Estrutura Organizacional da ANCINE
Fonte: Ministério da Cultura.
35
3 MÚSICA
Como mencionado acima, para tratar da gestão cultural no setor musical, o
atalho adotado será a Fundação Nacional de Artes (FUNARTE). A entidade que
foi criada 1975, extinta em 1990, transformada e recriada em 1994, é um órgão
vinculado ao Ministério da Cultura e sucessor das extintas Fundação do Cinema
Brasileiro (FCB) e Fundação Nacional de Artes Cênicas (FUNDACEN), que tem
como objetivo primordial promover, incentivar e amparar em todo território
nacional e no exterior a prática, foco o desenvolvimento e a difusão das atividades
artísticas e culturais nas áreas de teatro, dança, ópera, circo, artes plásticas e
gráficas, fotografia, música popular e erudita, documentação e informação. Os
recursos financeiros da FUNARTE são oriundos do Tesouro Nacional e aprovados
pelo Congresso, provenientes de convênios com instituições oficiais brasileiras e
estrangeiras ou privadas, gerados de arrecadação própria por meio de suas
atividades.
Cabe, portanto, observar a maneira como a música é percebida, valorizada
e tratada, tendo como plano de fundo a atuação da FUNARTE.
Modelo de Gestão
A música é considerada pela FUNARTE enquanto uma das mais poderosas
manifestações da arte e da cultura nacional, na medida em que o povo fala por meio
da música que produz. Nesse sentido, as ações realizadas são orientadas no sentido
de fomentar, difundir, registrar e preservar a produção musical nas mais variadas
formas e vertentes em que vier a se enquadrar. De uma maneira geral, a FUNARTE
atua na área de música aprovisionando os tópicos:
fomento e apoio a festivais, encontros e seminários de música;
promoção da circulação nacional de concertos e shows
musicais;
apoio a bandas e orquestras em atividade regular;
36
produção de edições gráficas e fonográficas;
realização o registro do patrimônio sonoro nacional;
incentivo a experiências inovadoras.
Na área de música popular, o modo de atuação da FUNARTE traz
pressuposto um discurso afinado com a democratização da relação entre artista e
grande público. Com isso, o fundamento é o estímulo ao consumo do produto
cultural por parte do grande público e o resultado é a abertura e o acesso à fruição
do bem cultural, que por sua vez foi incentivado e possibilitado em grande medida
via políticas de incentivo. Assim se opera o resgate de artistas e gêneros
característicos da tradição musical nacional, assim como se abre o espaço para o
reconhecimento de novos talentos. Além disso, há a determinação de difundir essa
produção inventariada por meio de apresentações e da disponibilização do acervo
de gravações e outros materiais relacionados à produção e memória musical
brasileira.
Outro ponto importante do enfoque dado no tratamento à área musical é a
necessidade de formação de um público apreciador de arte. As ações revelam que
não só o incentivo à produção musical e à oferta dessa produção são fatores
merecedores de incentivo, mas que o estímulo ao interesse pela fruição de
espetáculos e obras musicais também configuram um relevante instrumento de
valorização da cultura e preservação da memória. Um exemplo desse interesse na
formação do público pode ser observar no discurso que informa o Projeto
Pixinguinha.
37
Celso Fonseca, Rogéria Holtz e Martnália no Projeto Pixinguinha
Criado em 1977, o Projeto Pixinguinha surgiu com o objetivo de
difundir e formar platéias da música brasileira por meio da
circulação nacional de espetáculos. O projeto, que apresenta
espetáculos a preços populares ou com entrada franca, resulta da
parceria entre a FUNARTE e as secretarias estaduais e municipais de
cultura de todo o país e, desde 1983, conta com o patrocínio da
Petrobrás. O projeto foi interrompido em 1997, só sendo retomado
em 2004. Desde então os espetáculos realizados já somaram 344 e
foram assistidos por mais de dois milhões de espectadores em todo
o Brasil. Geraram também um acervo de 500 fitas cassete ou de rolo,
com gravações ao vivo de cerca de cinco mil músicas de
aproximadamente 3.400 compositores brasileiros.
Existe também a Pauta FUNARTE de Música Brasileira, projeto criado com
o objetivo de valorizar os espaços de música da FUNARTE junto ao público que
oferece a ocupação das Salas FUNARTE para espetáculos a preços fixos e populares,
além de boas condições aos artistas selecionados para ocupação mediante edital
público de seleção, por meio da parceria que mantém com a Petrobrás, sendo 80%
do valor arrecadado na bilheteria e ajuda de custo de R$1.000 (mil reais) por
apresentação, além do plano de divulgação.
38
Na área de música erudita, o apoio e a divulgação da música erudita se dão
por meio da realização de circuitos e do apoio à manutenção de orquestras e
grupos de câmara, além da realização de bienais de música brasileira
contemporânea. Esse apoio se revela por meio dos projetos:
Projeto Orquestras: projeto que apóia o desenvolvimento de orquestras
sinfônicas, de cordas e de câmara;
Projeto Concertos Didáticos nas Escolas: projeto que visa à formação de
um público apreciador de música erudita, rompendo com a idéia segundo a qual a
música erudita só pode ser apreciada por uma classe social elevada;
39
Bienal de Música Brasileira Contemporânea: a série das bienais,
iniciada em 1975, reúne a cada dois anos no Rio de Janeiro os mais variados
gêneros, técnicas, estilos e concepções de música erudita no Brasil. A realização
oferece como resultado os próprios concertos, a troca de experiências entre
músicos e a realização das gravações sonoras dos concertos.
Para alcançar seus objetivos, o Projeto Bandas atua em diversas frentes:
organiza cadastramento das bandas;
realiza doação de instrumentos musicais de sopro;
promove o aperfeiçoamento prático e teórico de mestres e
instrumentistas, por meio de cursos realizados em todo o país;
40
edita e distribui partituras de músicas de compositores
brasileiros, especialmente arranjadas para bandas, bem como manual de
reparo e manutenção de instrumentos de sopro.
Essas ações são desenvolvidas pela FUNARTE em parceria com instituições
culturais estaduais, municipais e privadas de todo o país. Hoje, o Projeto Bandas
tem mais de duas mil bandas de música cadastradas, em metade dos municípios
brasileiros.
Dentre todas as ações propostas pela FUNARTE na área de música, este
projeto é o que melhor revela o caráter memorialista situado na base da atuação da
entidade. Na própria feitura do projeto é realizado um panorama geral acerca da
origem e importância das bandas na criação de ritmos, tradições e saberes
musicais, justificando, por meio do resgate ao passado, a intenção de preservar
saberes e fazeres musicais ameaçados pelo advento da “cultura de massa”.
Instrumentos doados pelo Projeto Bandas – FUNARTE, ANO. (indicar fonte.)
Ferramentas
Diante da exposição dos valores, objetivos, posicionamentos e expectativas,
reconhecidos como fundamentos do modelo do setor musical, é importante pensar
como é possível atuar nesse contexto. Por meio de editais, músicos, produtores
musicais e pessoas envolvidas com o registro e memória, relacionados ao setor
musical, podem ter acesso a incentivos como:
41
premiações em dinheiro;
financiamento de espetáculos;
registro e difusão da obra;
divulgação da obra;
ocupação de espaços para realização de espetáculos;
participação em bienais, encontros, feiras;
cursos, oficinas;
doação de instrumentos ou materiais.
No site do MINC são divulgados constantemente editais de premiação,
ocupação e financiamento para projetos que se enquadrem no setor musical, assim
como na página eletrônica da FUNARTE estão publicados os editais de parcerias
entre a entidade e empresas como Petrobrás, por exemplo, que visem incentivar a
produção cultural em música.
Além da inscrição em editais, outra ferramenta disponível é a busca de
apoio de empresas que desejem vincular seu nome ou sua marca a produtos,
figurando enquanto empresa incentivadora de cultura. Como foi lembrado na
abordagem acerca das leis de incentivo fiscal, a possibilidade de contar com
doações e patrocínios é uma ferramenta que traz benefícios para o patrocinador –
que agrega um valor simbólico a seu nome e conta com descontos em impostos – e
para o produtor cultural – que tem a chance de se dedicar à criação, execução e
comunicação de sua arte e de toda a carga simbólica e valorativa que compartilha
culturalmente em sociedade.
Se por um lado a FUNARTE figura enquanto uma entidade com uma
atuação de relevo no setor musical, instituições como Petrobrás, Itaú Cultural, Visa,
Tim, Vale do Rio Doce, Caixa Cultural e Banco do Brasil, entre outras, destacam‐se
como empresas incentivadoras, que oferecem prêmios, financiamentos de projetos,
e outros tipos de apoio já mencionados, sendo que as duas últimas oferecem
espaços (espaços da Caixa Cultural e do CCBB, respectivamente) para a realização
de espetáculos. Diante de tais possibilidades de atuação à mão do produtor cultural,
42
é importante ressaltar a importância do planejamento para a ação daqueles que se
inscrevem na área musical, assim como em outros setores da produção cultural.
Isso porque é de fundamental importância a percepção correta do funcionamento
das instituições e das possibilidades à disposição para a atuação. Detectando
eficazmente os pressupostos e valores que estão informando as políticas,
propostas, planos e metas das entidades incentivadoras o produtor tem a
possibilidade de se posicionar da melhor forma para chegar a seus objetivos. Não
se quer dizer com isso que o artista – no caso o músico – vai realizar obras de
acordo com o que acha que é esperado, como em uma espécie de encomenda. O que
se pretende expor é que, conhecendo bem os mencionados valores e pressupostos,
o produtor musical tem a possibilidade de planejar de forma eficaz como lidar com
mecanismos avaliativos, burocráticos, legais e administrativos para otimizar a
realização do produto musical final.
Formas de financiamento
Como formas de financiamento de produção cultural existem:
o financiamento público direto (subsídios, prêmios, fundos de
loteria, bolsas);
o financiamento público indireto (as isenções de impostos
para citar um exemplo);
os financiamentos privados (seja corporativo, de instituições
sem fins lucrativos ou de pessoas físicas por meio de doações, patrocínios).
Como afirma Ana Carla Fonseca Reis (2007), existem inúmeras outras
formas de incentivo e financiamento de cultura compreendida dentro de sua
especificidade de mercado, mas que permanecem ainda não aplicadas. Segundo
uma das sugestões que a autora considera cabível, a mais relevante é aquela que
propõe a reserva de parte da verba destinada às leis de incentivo à cultura para
uma votação popular. O Ministério da Cultura poderia disponibilizar, em seu site e
nos Pontos de Cultura, a relação dos projetos aprovados, mas que ainda não
obtiveram patrocínio e permitir aos contribuintes votar, eletronicamente, nos
43
projetos que mais lhes interessam. O governo, então, custearia esses projetos
legitimados por voto popular e ainda mobilizaria a sociedade para refletir a
respeito do que quer ver, ouvir e sentir.
Resultados
Os discursos utilizados para abordar os resultados das políticas e ações
implementadas no tratamento dispensado ao setor musical revelam o pressuposto
que esteve durante todo o tempo justificando a ação das entidades dedicadas a tal
empreendimento: a preocupação com a popularização da produção musical
brasileira. Essa popularização não se resume apenas em buscar abranger um
público maior com as produções realizadas, mas envolve uma complexa teia de
relações, valores, necessidades e interdependências.
Seguindo esse nexo, nota‐se que de 2003 a 2006 o Projeto Pixinguinha foi
retomado e ocorreram duas Bienais da Música Contemporânea, sem contar com o
apoio prestado a orquestras e bandas tradicionais, por meio dos mecanismos já
mencionados, somando um total de R$23,23 milhões em investimentos no
segmento da música nos quatro anos descritos no último relatório da FUNARTE
(2006).
Uma visão geral do alcance em termos de acesso do público resultante da
execução dos mecanismos e ferramentas de incentivo no segmento musical pode
ser obtida por meio dos seguintes números:
PROJETO PROJETO PIXINGUINHA PAUTA FUNARTE BIENAIS
Esses são os números dos três principais projetos da entidade, mas os
resultados de outras ações, como a entrega de instrumentos musicais a bandas de
música, realização de oficinas para reparo de instrumentos musicais ou a
44
premiação em dinheiro a produtores musicais ajudaram a compor o quadro de
efeitos de posturas e mecanismos que vêm sendo empregados desde 2003. O saldo
de tais medidas é considerado no relatório como positivo na medida em que o
consumo dos produtos musicais aumentou, abrangendo o público de diversas
classes e regiões do país.
Para fechar a exposição desenvolvida aqui acerca do incentivo à produção
cultural no setor musical, segue uma ligeira ilustração, um olhar a experiência
realizada com um projeto cultural que passou por esse caminho analisado até o
momento para chegar à sua realização enquanto produto cultural final, pronto para
a comunicação e fruição. O exemplo que se pretende trazer é a realização da
expedição realizada pelo grupo musical paulistano A Barca, que percorreu diversas
cidades em sete Estados brasileiros, recolhendo sotaques, ritmos e influências da
música tradicional brasileira para compor o repertório a ser registrado e lançado
em seguida.
Caboclinhos de Pernambuco, ANO. (indicar fonte)
A expedição recebeu o patrocínio do programa Petrobrás Cultural, por
meio do edital de 2004, e se inscreveu perfeitamente no tipo de valor que vem
sendo disseminado – muitas vezes de forma inconsciente – no trato com a cultura.
Isso porque era proposta do grupo seguir os passos de Mário de Andrade na sua
expedição que resultou nos relatos de O turista Aprendiz – título que, aliás, foi
adotado pelo grupo para denominar a expedição Brasil afora –, resgatando e
45
registrando a musicalidade característica do povo brasileiro transmitida de
maneira intergeracional nas pequenas comunidades tradicionais. Assim, a
expedição percorreu cidades de estados como Paraíba, Maranhão, São Paulo,
Pernambuco, Minas Gerais, Bahia e Alagoas, registrando seu repertório autoral
juntamente com tocadores de coco, brincantes locais e representantes de diversas
manifestações populares e musicais como o grupo Caboclinhos de Pernambuco e o
Mestre Miguel de Juazeiro do Norte/CE. Além de toda a pesquisa e o inventário
de influências realizado, o grupo realizou espetáculos nos locais visitados,
estabelecendo, portanto, uma relação de troca de sonoridades e ritmos.
Com tal exemplo é possível entrever como a contrapartida da memória é
valorizada no momento de se avaliar o que deve ou não ser apoiado. E o mais
interessante é que com isso se pode notar o seguinte: o produto final não se mostra
como um mero recolhimento de dados e relatos musicais, mas, sim, como uma
relação que resulta em um produto cultural produzido na atualidade – mediante
técnicas, influências e características iminentemente urbanas –, porém com um
forte traço tradicional, tributário da resignificação de tradições realizadas.
46
4 ARTES CÊNICAS
Assim como no caso da abordagem acerca do setor musical, nesta
abordagem a entidade que serve de fio condutor para a exposição é a FUNARTE,
por ser um órgão que avalia projetos, concentra iniciativas e mantém parcerias
importantes para o incentivo às artes cênicas no Brasil, figurando como meio para a
realizações dos planos de política cultural do MINC.
Modelo de Gestão
Neste setor, a FUNARTE atua por meio do Centro de Artes Cênicas
(CEACEN), operacionalizando sua ação pelas coordenações de Teatro, Dança, Circo
e Centro Técnico. Neste setor, a centralidade da ação se assenta no tripé: formação,
manutenção e realização, na medida em que as ações abrangem iniciativas de apoio
à formação de artistas e técnicos, apoio a grupos e montagem, realização e
circulação de espetáculos.
Vejamos detalhadamente como se dá a atuação em cada uma das vertentes
que compõem as artes cênicas, dadas as suas especificidades:
Teatro – em se tratando do teatro, desde 1994, o Serviço Nacional do
Teatro (SNT) é parte integrante da FUNARTE. Desde 2004, a entidade, por meio da
Coordenação de Teatro, centraliza, planeja, orienta e põe em prática a política do
MINC para o segmento.
47
Títulos lançados pela coleção de obras críticas
realizada pela FUNARTE visando valorizar a memória
do Teatro Brasileiro, ano. (indicar fonte)
Para alcançar seus objetivos, a FUNARTE atua da seguinte maneira:
administra espaços culturais nas cidades do Rio de Janeiro,
São Paulo e Brasília;
promove a circulação de companhias e espetáculos teatrais
por todo o país;
incentiva o aperfeiçoamento profissional de artistas e técnicos,
e o desenvolvimento tecnológico de diversas disciplinas ligadas ao fazer
teatral;
estimula a inovação e a experimentação, por meio de
concursos de dramaturgia e do apoio a festivais;
resgata a tradição e a história do teatro do Brasil, por meio da
publicação de uma bibliografia ligada ao assunto, além de tornar disponível
o acervo de textos sobre teatro brasileiro guardados no Centro de
Documentação da FUNARTE, o maior banco de textos teatrais do Brasil.
Circo – atividade humana ancestral, a arte circense percorre estradas, vilas
e cidades do Brasil desde os tempos coloniais. Com a feroz concorrência da
comunicação de massas, porém, essa atividade chega ao século XXI em grandes
dificuldades.
48
É diante da percepção dessa realidade que a FUNARTE apóia as artes
circenses por meio de programas como:
cadastro de profissionais e grupos circenses;
projetos de informação às prefeituras sobre como acolher o circo que
chega à cidade;
realização e divulgação de cursos e oficinas;
realização de concursos e prêmios;
apoio a festivais no Brasil e no exterior.
Além dessas ações, a FUNARTE afirma pensar em
questões a longo prazo, viabilizando a formação de novos
profissionais por meio da Escola Nacional de Circo, que é
administrada pelo Ministério da Cultura. Na escola, o aluno é
admitido por meio da submissão a um concurso público e, entre Campanha Nacional de
Valorização do Circo –
as expectativas na formação dos artistas circenses, é exposta a parceria FUNARTE/ Rede
Globo, ANO. (indicar
necessidade de que os alunos desenvolvam a capacidade de fonte)
conceber espetáculos voltados à promoção e difusão da cultura.
Dança – as ações da FUNARTE direcionadas ao
desenvolvimento da dança são efetivadas por meio da
Coordenação de Dança. Para viabilizar esse desenvolvimento, são
implementadas ações variadas, tais como:
implementação de programas de fomento
aos grupos de dança;
viabilização da circulação de caravanas de
espetáculos, levando a dança a populações que nunca
haviam tomado contato com essa arte;
Divulgação de
espetáculo de
dança pelo
programa
Caravana.
FUNARTE, ANO. 49
(indicar fonte)
concedendo exclusividade às companhias e grupos de dança
na utilização do Teatro Cacilda Becker, no Rio de Janeiro;
apoiando o aperfeiçoamento profissional de artistas e técnicos
por meio de cursos, oficinas e seminários;
incentivando e divulgando a realização de festivais no Brasil e
no exterior.
Como se pode notar, na conformação de políticas direcionadas às artes
cênicas, necessidades diferenciadas orientam atenções e ações diferenciadas. Dessa
maneira, enquanto na atenção à arte circense se pode notar uma grande
preocupação no resgate à valorização dos fazeres desta arte e na formação de
novos artistas, no trato com a dança a ação se volta muito mais no sentido de
possibilitar o contato das produções com públicos que ainda não tiveram contato
com ela. Nesse sentido, enquanto que com o circo a base da gestão é a formação,
com a dança as ações se fundamentam no aumento do alcance, em um despertar do
interesse do público por uma arte pouco consumida no Brasil, sobretudo em
cidades distantes dos grandes centros urbanos.
Além dessas duas vertentes, pode‐se notar que em relação ao teatro a
FUNARTE expõe, com seus argumentos de justificativa, às ações empregadas certa
satisfação com o que é produzido no setor. Isso porque as ações descritas vão em
um sentido de aperfeiçoar, manter e administrar, revelando um discurso que
pressupõe algo já satisfatório.
De fato, em se tratando de Teatro, o Brasil possui renomados grupos,
importantes dramaturgos e bons diretores, mas será que, assim como
ocorre com a dança, o teatro não permanece ainda bastante distante da
apreciação do público no Brasil?
Se por um lado há um destaque na produção teatral, por outro lado é
importante atentar para a necessidade de formação de um público de teatro em
algumas localidades e segmentos sociais, pressupondo que para haver a realização
50
de uma obra artística como tal são imprescindíveis o autor, a obra, mas também o
público.
Bem, mas essa é apenas uma questão entre tantas outras que podem surgir
na observação das políticas de cultura.
Ferramentas
Para trazer à discussão algumas ferramentas e instrumentos que
viabilizam a dedicação a atividades teatrais e cênicas, não se mostra necessária
divisão entre os setores, pois é justamente ao olhar essas ferramentas em conjunto
que se poderá notar traços particulares na atenção dispensada a cada um deles.
Assim como foi mencionado em relação às ferramentas direcionadas ao
setor musical, neste setor a concorrência em editais concentram um importante
meio de acesso aos incentivos. Dentre os tipos de incentivo que projetos em artes
cênicas podem obter têm‐se:
ocupação de teatros para a realização de espetáculos;
premiações em dinheiro;
financiamento de espetáculos;
cursos, oficinas de preparação técnica e artística;
financiamento de passagens;
apoio a grupos teatrais e companhias de dança;
financiamento de temporadas e outras formas de incentivo.
A própria FUNARTE abriu uma série de editais em cada uma das áreas.
Vejamos:
Prêmio FUNARTE de Dramaturgia – que visa estimular e descobrir novos
dramaturgos;
Prêmio FUNARTE Myriam Muniz de Fomento ao teatro – que desde
2005 visa apoiar financeiramente a produção de grupos independentes de teatro e
a consolidação de companhias já existentes;
51
Prêmio FUNARTE de Apoio ao Circo – dividido em dois módulos
(patrimônio e produção), oferece lonas para até 500 pessoas ao vencedor e apóia a
execução de espetáculos, números ou pesquisa de acordo com a linguagem
circense;
Prêmio FUNARTE de Dança Klauss Vianna – apóia a produção nacional
de dança por meio de auxílio à montagem de espetáculos e auxílio à consolidação
de grupos;
Prêmio FUNARTE Petrobras de Fomento à Dança – oferece prêmio em
dinheiro mediante a seleção.
É necessário ressaltar que esses prêmios acima citados constituem apenas
uma maneira de obter apoio ao projeto que se pretende levar adiante. É sempre
importante lembrar que existem inúmeras empresas que oferecem apoio cultural
que não necessariamente seja igual ao praticado pela FUNARTE ou Petrobrás
cultural, que seja.
Com isso, o fundamental é que o produtor tenha consciência de seu projeto,
saiba em que valores ele está pautado, note que espécie de identificação ele pode
gerar, tanto no público quanto na abordagem do agente financiador. Com essa
ferramenta fundamental, o produtor poderá se sentir bem mais à vontade para
buscar apoio junto a agentes que se identifiquem de alguma maneira com o
produto final.
De acordo com Cesnik (2007), a forma de apresentar o projeto em muito
está envolvida com a sua aprovação. O que o autor quer dizer com isso é que há
pontos específicos que devem ser expostos claramente, de forma que se possa ter
uma idéia do produto final enquanto um empreendimento viável mediante a leitura
do projeto. Com isso se pode conquistar a confiança de possíveis agentes
financiadores que desejem vincular seu nome a um produto cultural com o qual se
identifica.
Tipos de Investimento
52
De acordo com o relatório FUNARTE do período de 2003 a 2006, o
investimento em artes cênicas da entidade em parceria com a Petrobrás foi o maior
da história recente do país, um total de R$58,28 milhões.
O crescimento progressivo pode ser visualizado na seguinte tabela
numérica:
ANO VALOR INVESTIDO (EM MILHÕES DE R$)
2003 APROXIMADAMENTE 2
2004 APROXIMADAMENTE 9
2005 APROXIMADAMENTE 13
2006 APROXIMADAMENTE 35
2003 ‐ 2006 58,28
Esses recursos foram investidos na recuperação de espaços que se
encontravam em condições precárias, na doação de equipamentos a espaços
teatrais, na concessão de prêmios, no financiamento a temporadas de espetáculo
entre outras aplicações, sendo que, em 2006, aproximadamente R$12 milhões se
destinaram especificamente ao incentivo da dança e, aproximadamente, R$6
milhões ao incentivo das artes circenses.
Como é claro no texto da Lei de Incentivo à Cultura, são garantidos
abatimentos em impostos e a contrapartida da vinculação do nome de entidades
enquanto incentivadoras de cultura ao produto cultural a que prestou apoio. Nesse
sentido, além do investimento de recursos realizado por entidades públicas como a
FUNARTE, muitas empresas privadas investem no desenvolvimento das artes
cênicas.
A atuação de empresas privadas pode se dar por meio de parcerias com
entidades públicas, como no caso da parceria FUNARTE/Petrobrás, ou não. O
imposto sobre o qual o apoiador de projetos receberá desconto varia conforme o
alcance do seu incentivo. Nesse sentido, se uma empresa abre um edital para
financiamento ou premiação no qual podem concorrer projetos de todo o país, o
desconto será no Imposto de Renda devido. No caso de incentivo em um nível
estadual, o desconto é sobre o ICMS e, para incentivos em nível municipal, os
descontos são no IPTU e ISS.
53
Resultados
De acordo com o Relatório FUNARTE da gestão 2003‐2006, o aumento
considerável em investimentos visando ao desenvolvimento das artes cênicas no
Brasil trouxe bons resultados. Em quatro anos, mais de 30 grandes ações visando à
circulação e ao fomento estimularam a produção de espetáculos, a formação
profissional e a pesquisa.
Embora reiterando em diversos momentos que o objetivo fundamental
consistiu na democratização do acesso aos espetáculos, o destaque nos resultados
da atuação da FUNARTE no teatro dizem mais respeito à atenção às necessidades
do produtor em realizar seus projetos. Houve também o apoio à pesquisa e à
realização de oficinas gratuitas ou projetos que beneficiem a comunidade, sendo
esta outra inovação trazida pelos editais.
Até o fim de 2006, cerca de R$1 milhão foi investido em reformas de
espaços e na compras de equipamentos. Foram recuperados os teatros Duse,
Glauce Rocha e Cacilda Becker no Rio de Janeiro; o teatro Plínio Marcos e a Sala
Cássia Eller, em Brasília; e a Sala Guiomar Novaes, em São Paulo. Além disso, foi
reinaugurada, em dezembro de 2005, a Casa Paschoal Carlos Magno, um centro
cultural localizado no Rio de Janeiro, que possui uma hospedaria com 29 leitos para
grupos artísticos em temporada na cidade e um teatro de câmara para 60 pessoas.
54
Visando à qualificação artística e técnica dos artistas e produtores teatrais,
o programa nacional Laboratório do Ator, criado em 2004 pela Coordenação de
Teatro, teve bastante êxito nos propósitos a que se dispôs: reciclar atores
profissionais em atividade, ou não, por meio de oficinas práticas gratuitas. De 2004
a 2006 o Laboratório emitiu cerca de 1.800 certificados.
Cerca de 250 alunos foram capacitados por meio das oficinas de circo
realizadas na Escola Nacional de circo e das oito edições de
oficinas de dança realizadas em sete Estados em 2005 e 2006.
Em 2004, as caravanas de circulação de teatro e dança
apoiaram e premiaram grupos de diversas categorias e
tamanho nas modalidades: Adulto, Infância e Juventude,
Bonecos e Teatro de Rua. Neste ano, os incentivos se
direcionaram para a realização em nível regional. Já em 2006 o
foco foi investir na circulação nacional por meio das Caravanas FUNARTE
Petrobrás de Circulação Nacional de Teatro e Dança. A Caravana de Teatro
distribuiu um prêmio de R$3,08 milhões, por 42 grupos, de 677 inscritos; a de
dança apoiou 30 companhias, de 193 inscritas, com um total de R$1,6 milhão.
Proprietários à moda antiga – Estação de Teatro Russo (parceria Brasil –Rússia), ANO. (INDICAR FONTE)
55
O estímulo à participação de artistas brasileiros de eventos e parcerias
internacionais também foi bem sucedida:
com o financiamento das apresentações de teatro e dança no
Espaço Brasil em Paris, por ocasião do ano do Brasil na França (2005);
com a celebração da parceria teatral Brasil‐Rússia, pela qual
cada país apresenta cinco das melhores peças contemporâneas, numa troca
de turnês (2005).
Em estímulo à produção dramatúrgica, após quase dois anos de suspensão,
o Prêmio FUNARTE de Dramaturgia foi retomado em 2003. Até 2006 foram
realizadas três edições do programa, com um total de 84 premiados e R$980 mil
em prêmios, para os três melhores trabalhos nas categorias Adulto, Infância e
Juventude. Na edição de 2005, além dos prêmios em dinheiro, os vencedores
puderam publicar a obra premiada pela FUNARTE.
O programa Resgate e Desenvolvimento de Técnicas Cênicas republicou os
cinco livros da coleção, sobre administração teatral, cenotécnica, arquitetura cênica
e iluminação, reeditados em 2005. Teve destaque, ainda, o lançamento da coleção
de obras críticas: Reflexões do teatro brasileiro século XX, de Yan Michalski,
organizado por Fernando Peixoto, lançada em 2004, e Paschoal Carlos Magno –
crítica teatral e outras histórias, organizado por Martinho de Carvalho e Norma
Dumar, publicada em 2006.
Em muitos outros pontos pode‐se destacar bons resultados provenientes
de ações de incentivo, tais como a formação de profissionais de circo pela ENC, a
formação de um público apreciador de espetáculos de dança por meio da ação das
caravanas FUNARTE ou o apoio à execução de número cada vez maior de
espetáculos, produzidos por profissionais mais qualificados tecnicamente. De fato,
no campo artístico o estímulo a um determinado segmento traz resultados muitas
vezes maiores do que os esperados, em virtude de configurar uma espécie de teia
em que estão envolvidos os artistas, os técnicos, os financiadores e o público.
Porém, como já justificado anteriormente, esta não é uma tentativa de mapear
56
ferramentas, investimentos e resultados. Assim, cabe expor de uma maneira bem
sucinta o que de fato significa tais resultados das ações de incentivo à cultura
resumidas acima.
Sem dúvida os números apresentados no Relatório FUNARTE (2003‐2006)
revelam um aumento progressivo nos recursos aplicados, resultando em uma
possibilidade de ampliar cada vez mais o apoio à produção em artes cênicas. Por
outro lado, o fato de todas as grandes ações serem publicadas em editais públicos
com ampla divulgação confirma o pressuposto da democratização do acesso aos
incentivos, mecanismos de apoio e financiamento que é defendido como objetivo
fundamental na orientação das políticas.
Mas em que medida os produtores do segmento das artes cênicas se
percebem diante desse quadro?
Será que longe das estatísticas essas medidas são percebidas e sentidas
enquanto uma forma de democratização do acesso a produções em artes
cênicas?
Em que medida a atenção às necessidades dos produtores permite que
sejam praticados preços mais baixos e acessíveis a uma grande parcela da
sociedade, tal como é ponderado no texto do Relatório FUNARTE?
57
E para encerrar, por hora, será que apenas preços acessíveis são
suficientes para fazer dos espetáculos verdadeiros fatos culturais, com
tudo que uma relação artística de comunicação necessita (autor, obra e
público, entendido não como platéia simplesmente, mas como
espectadores que compartilham sentidos com o que experimenta diante
de si)?
É claro que alguns dos dados apresentados apontam para resultados
relativos à formação do interesse pelo bem cultural, principalmente no caso do
circo, mas não apontam para uma preocupação que tenha orientado os esforços
nesse sentido. Ao menos fica uma reflexão acerca dos limites que a forma como as
artes cênicas são consideradas impõe a realização de uma “democratização”, como
é mencionado pela entidade, ou de uma ampliação do acesso às produções.
58
5 LITERATURA
Enquanto que para discutir acerca das possibilidades de incentivo à música
e às artes cênicas a utilização do material legado nas justificativas e relatórios de
uma entidade como a FUNARTE ofereceu muitas informações, para tratar acerca do
incentivo à literatura não há uma instituição que agregue um plano claro de ação e
estímulo relacionado à produção no setor, de forma que serão agregadas diversas
formas de apoio tal como são realizados na prática.
Nesse sentido, serão analisados alguns programas de incentivo à leitura
criada e sustentada pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN), assim como as
diretrizes e bases de alguns programas de premiação e incentivo à produção
literária no Brasil.
Modelo de Gestão
Como foi ressaltado, a ausência de uma entidade vinculada ao MINC que
concentre as iniciativas públicas relacionadas às políticas de incentivo no setor
impossibilita delimitar um modelo único de gestão acerca da produção literária.
Para falar a verdade, diante da variedade de iniciativas que muitas vezes apenas
tem em comum o fato de premiar produções literárias mediante contrapartidas
previstas e asseguradas pela Lei de Incentivo à Cultura, é necessário confessar a
dificuldade em se falar de modelo de gestão no setor literário.
Mas mesmo com certas dificuldades de se revelar o fio condutor dos
incentivos à produção literária, é possível esboçar algumas reflexões a respeito do
setor, mesmo que as “faltas” sejam elementos para compor um quadro
compreensivo a respeito.
Partindo da atuação da Fundação Biblioteca Nacional, existem dois
projetos: o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER) e o Fome de
Livro. Vejamos a seguir como são esses projetos.
PROLER
59
A proposta do programa é contribuir, por meio de ações afirmativas, para a
criação de condições de exercício da leitura, respeitando‐se as diversidades
culturais e sociais de um país como o Brasil.
Objetivos do programa:
promover o interesse nacional pela leitura e pela escrita,
considerando a sua importância para o fortalecimento da cidadania;
promover políticas públicas que garantam o acesso ao livro e à
leitura, contribuindo para a formulação de uma Política Nacional de Leitura;
articular ações de incentivo à leitura entre diversos setores da
sociedade;
viabilizar a realização de pesquisas sobre livro, leitura e
escrita;
incrementar o Centro de Referência sobre leitura.
Tendo como sede a Casa da Leitura, o PROLER visa à implementação de
políticas do Programa Nacional de Incentivo à Leitura. Para isso, promove cursos,
palestras, exposições, oficinas, com o objetivo de incentivar e promover a leitura,
tendo reorientado suas atividades para alcançar um público prioritário:
professores, bibliotecários e agentes de leitura das redes públicas. Na sede, são
atendidas escolas da rede pública e particular do Rio de Janeiro, que têm acesso ao
acervo da Casa e em determinadas oportunidades têm contato direto com autores
convidados para receber os estudantes.
Nacionalmente, o PROLER desenvolve ações em parceria com secretarias
de cultura e de educação (municipais ou estaduais), universidades, bibliotecas, ONG
e outras instituições, por meio de convênios. Considera‐se, na proposta do
programa, a promoção da leitura com efeito multiplicador, de forma que é por meio
da continuidade na prática que se pretende que novos parceiros se integrem ao
Programa.
Fome de Livro
60
Definido enquanto programa estratégico da parceria MINC/FBN, o projeto
Fome de Livro é, na verdade, a implementação da política nacional de leitura em
bibliotecas públicas. Uma dos principais objetivos do programa é instalar mais de
1000 bibliotecas até 2006 e, assim, zerar o número de cidades brasileiras sem
biblioteca pública. Além da FBN e do MINC, participam do Fome de Livro os
diversos ministérios, programas e empresas estatais e federais com interesse na
questão do letramento no Brasil. O programa recebe apoio da Unesco e de outros
organismos internacionais como o Centro Regional de Difusão do Livro na América
Latina e no Caribe (CERLALC), sem contar com a participação de parceiros que
mantém em diversas localidades do país.
Apesar da menção, no relatório de atividades da FBN do ano de 2006, de
que um dos objetivos da gestão consistiria em divulgar a literatura e contribuir
para o estímulo do hábito da leitura, o que se nota é uma separação no momento de
pôr em prática ações destinadas aos dois setores que lhe competem. Dessa
maneira, enquanto por um lado os programas centrais, assumidos como estratégias
de ação da entidade, limitam‐se a focalizar o desenvolvimento e o estímulo da
prática da leitura, por outro lado, em se tratando da abordagem da produção
literária, são concedidos anualmente prêmios à produções nas mais variadas
vertentes literárias (romance, conto, poesia, ensaio literário, ensaio social, entre
outros).
Como se pode perceber, o nível do incentivo é bastante diferenciado,
considerando que no primeiro caso o agente incentivador está projetando e
atuando diretamente na obtenção dos objetivos afixados em relação à leitura. No
segundo caso, apenas são oferecidos prêmios a autores de produtos literários já
finalizados.
61
Diferentemente de como ocorre em outros segmentos artísticos, como no
teatro, por exemplo, o produtor do setor da literatura dificilmente conta
com o apoio no desenvolvimento de sua obra, o que em certa medida
impõe que a atividade literária seja na maioria das vezes apenas uma das
atividades profissionais do produtor.
Anualmente são concedidos sete prêmios pela Biblioteca Nacional no valor
de R$12.500,00 (doze mil e quinhentos reais) cada, ao melhor livro do ano, nas
seguintes categorias:
Prêmio Machado de Assis para Romance;
Prêmio Clarice Lispector para Contos;
Prêmio Alphonsus de Guimaraens para Poesia;
Prêmio Mário de Andrade para Ensaio Literário;
Prêmio Sérgio Buarque de Holanda para Ensaio Social;
Prêmio Aloísio Magalhães para Projeto Gráfico;
Prêmio Paulo Ronái para Tradução.
Lusofonia é o
conjunto de
Além desses, destaca‐se também o prêmio concedido em parceria com identidades
culturais
o Instituto Camões (Portugal): o Prêmio Luís de Camões, no valor de $100
existentes em
(cem mil euros), que visa homenagear um escritor dos países lusófonos que países falantes da
língua portuguesa
tenha contribuído para a difusão e o fortalecimento da Língua Portuguesa no
como Angola,
mundo. Brasil, Cabo
Verde, Guiné-
Diante do quadro apresentado, um grupo de escritores da União Bissau, Macau,
Nacional dos Escritores lançou o movimento “Literatura Urgente”. Acerca do Moçambique,
Portugal, São
movimento, manifestou‐se um dos participantes: “Como muitos sabem, um Tomé e Príncipe,
grupo de teimosos escritores deflagrou o Movimento Literatura Urgente. O que Timor-Leste e por
diversas pessoas e
querem esses teimosos: a criação de políticas públicas para a literatura, com comunidades em
critérios claros, transparentes e democráticos”. Como resultado do todo o mundo.
62
movimento, que conta com a adesão de quase 200 escritores de todo o Brasil, foi
gerado um manifesto intitulado “Fome de Literatura”, assinado em dezembro de
2004 e entregue ao Ministro de Estado da Cultura e ao Coordenador do Programa
Nacional do Livro e da Leitura. No manifesto são apresentadas dez propostas de
Programas Públicos para a Literatura e cinco reivindicações, inclusive mudanças na
Lei do Livro, aprovada pelo Congresso Nacional.
Essa iniciativa permite pensar acerca das necessidades que o produtor
cultural vivencia para realizar suas atividades. Portanto, eis as propostas
apresentadas no manifesto:
PROGRAMA DE CIRCULAÇÃO DE ESCRITORES E POETAS I – a partir da
articulação entre Ministério da Cultura e Ministério da Educação, criar um
Programa de Circulação de Escritores e Poetas pelas universidades do país.
Caravanas de cinco escritores e poetas deverão circular pelas universidades das
cinco regiões do Brasil (Norte, Nordeste, Centro, Sudeste, Sul), para debates sobre
literatura, leituras públicas e lançamentos de livros e revistas. Cada caravana
deverá passar por, no mínimo, cinco cidades diferentes. Serão, portanto, cinco
caravanas simultâneas, com cinco escritores cada. Total: 25 escritores. Essas
caravanas deverão ser trimestrais. Sugestão de nome: Projeto Waly Salomão.
PROGRAMA DE CIRCULAÇÃO DE ESCRITORES E POETAS II – este segue
o mesmo princípio do Programa anterior, mas, agora, a articulação se dá entre o
Ministério da Cultura e os governos estaduais e municipais brasileiros (por meio de
suas respectivas Secretarias de Cultura). Dessa forma, é possível ampliar o projeto
para a rede de escolas estaduais e municipais. Sugestão de nome: Projeto Paulo
Leminski.
PROGRAMA LATINOAMÉRICA DE LITERATURA ‐ em articulação do
MINC com os Ministérios da Cultura estrangeiros, embaixadas e universidades criar
o Programa Latino‐américa de Literatura para circulação mútua de escritores e
poetas entre os países latino‐americanos, promovendo debates, leituras públicas e
lançamentos de livros e revistas. Assim, deseja‐se ampliar para um Programa de
Intercâmbio de Escritores e Poetas Visitantes nas Universidades desses países.
63
PROGRAMA ENTREMARÉS DE LITERATURA – a mesma idéia do programa
anterior, porém estabelecido entre o Brasil, Portugal e os países africanos e
asiáticos de língua portuguesa.
PROGRAMA PRIMEIRO LIVRO – um incentivo do MINC (e de eventuais e
bem‐vindos parceiros) para a publicação, divulgação e distribuição a escolas e
bibliotecas do primeiro livro de escritores e poetas brasileiros.
FUNDO NACIONAL DA LITERATURA, LIVRO, LEITURA E BIBLIOTECAS –
pretende‐se a destinação direta de 30% do orçamento ao fomento de projetos
independentes (publicação de revistas, CD e DVD de poesia e/ou prosa, recitais de
poesia, festivais literários, co‐edições, ciclos de discussões, pesquisas etc.).
BOLSA CRIAÇÃO LITERÁRIA – para desenvolvimento de projetos
literários de escritores e poetas. A cada ano seriam concedidas 20 bolsas em todo o
país, no valor de R$3 mil mensais para cada contemplado pelo prazo de um ano. Os
autores escolhidos não poderiam ter vínculo empregatício, dedicando‐se
integralmente ao projeto. Os recursos poderiam ser conseguidos em parceria com
as empresas estatais e a iniciativa privada.
SISTEMA PÚBLICO DE DISTRIBUIÇÃO – criação de um sistema público de
distribuição de livros (em parceria com os Correios) voltado às pequenas editoras e
a produção independente.
PUBLICAÇÕES LITERÁRIAS – criação de veículos públicos de circulação
para a literatura, tais como jornais e revistas (por meio da imprensa oficial), sites e
programas de rádio e TV na rede pública de comunicação.
JORNADA NACIONAL LITERÁRIA – criação de um grande evento anual,
reunindo escritores, poetas e ensaístas para leituras, debates, conferências,
palestras e lançamentos. O evento será aberto preferencialmente a professores,
estudantes e, também, ao público em geral. Dessa forma, os professores poderão se
atualizar sobre a criação e a discussão literária do Brasil, servindo de agentes
multiplicadores junto aos seus alunos. A cada ano a jornada será realizada em uma
cidade diferente do país, privilegiando todas as regiões.
Ferramentas
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Conforme o quadro traçado até o momento, é possível afirmar que não são
muitas as ferramentas de fomento à criação literária. O que se pode inventariar é a
variedade de premiações oferecidas a bens literários já acabados, como é o caso
dos oferecidos pela Biblioteca Nacional, ou à produção e difusão, como alguns
oferecidos por agentes privados mediante as contrapartidas previstas na Lei de
Incentivo à Cultura.
Dentre os programas de apoio à produção literária oferecidos por
instituições privadas, pode‐se destacar a título de exemplo o programa Rumos Itaú
Cultural, que envolve todo um conceito de valorização do produto literário. O
segmento Literatura do programa recebe projetos nas carteiras de produção
literária ou de crítica literária. Os projetos selecionados recebem uma bolsa para
realizar as pesquisas, participam de oficinas a distância e o trabalho final, um
ensaio, é publicado. Apesar de não financiar a criação de novos produtos literários,
o programa estimula o acesso à literatura nacional recente na sociedade.
No incentivo da criação literária, destaca‐se o projeto Petrobrás Cultural,
que no edital de 2006 trouxe pela primeira vez a área de seleção pública “Criação
literária: ficção e poesia”, considerada uma antiga demanda do setor. Além disso,
a empresa aprovou o apoio a três eventos literários:
Salão do Livro Infanto‐Juvenil – Rio de Janeiro;
Bienal do Livro de Recife;
Jornada de Literatura de Passo Fundo.
Tipos de Investimento
Com a escassez das medidas relacionadas ao incentivo da criação literária,
têm‐se os dados referentes as duas premiações concedidos pela Fundação
Biblioteca Nacional: o Prêmio Fundação Biblioteca Nacional e o Prêmio Luis
Camões (em parceria com o Instituto Camões Portugal). No primeiro caso, são
concedidos sete prêmios no valor de R$12.500,00 (doze mil e quinhentos reais),
totalizando um valor de R$87.500,00 (oitenta e sete mil e quinhentos reais), em
2006. No caso do Prêmio Luis Camões, desde 1988, um autor é homenageado e
65
recebe um prêmio em dinheiro. Em 2006 o prêmio foi no valor de $100 (cem mil
euros).
Os investimentos do programa Petrobrás Cultural, como foi
ressaltado acima, direcionaram‐se a permitir a realização de projetos literários e
não a premiar produtos já acabados. O total da verba direcionada para o fomento
da criação literária pelo Petrobrás Cultural na edição 2006/2007 foi de
R$800.000,00 (oitocentos mil reais), de um total de R$80.000.000,00 (oitenta
milhões de reais), sendo que R$40.000.000,00 (quarenta milhões de reias) foi
destinado à produção e difusão. Pode‐se ter uma idéia do investimento realizado
neste setor observando juntamente com o dos outros setores:
INVESTIMENTO (R$
SETOR
MIL)
CINEMA 33.300
MÚSICA 6.000
ARTES CÊNICAS 2.900
LITERATURA 800
TOTAL 40.000
Guardadas as devidas proporções que envolvem os gastos na
administração e realização de projetos entre o setor literário e os demais setores
mencionados, fica a impressão de que muito ainda precisa ser pensado e
transformado envolvendo o fomento à criação literária.
Resultados
Com o quadro apresentado, os resultados não poderiam ser muito
satisfatórios, principalmente para os produtores que em grande medida precisam
conciliar a atividade literária com outras atividades.
De qualquer forma, pode‐se pensar, neste momento, considerando a
inquietação que já está ocorrendo por parte de alguns escritores que apresentaram
suas propostas ao MINC, como o Manifesto “Fome de Leitura”, e o fato de algumas
entidades já estarem inserindo o fomento à criação literária na sua pauta de
66
investimentos em cultura como um ponto de inflexão nesse setor. Sem dúvida,
como podem revelar as proporções visualizadas no gráfico a seguir, o número de
projetos selecionados no segmento revela uma área bastante promissora para se
patrocinar e apoiar, de modo que essas primeiras iniciativas podem chamar a
atenção de agentes para esse fato.
Números do Programa Petrobrás Cultural 2006/2007 – Projetos por Linha de Atuação
67
6 CULTURA POPULAR
Ao contrário do que como foi visto ocorre com a criação literária, em se
tratando de cultura popular, uma atenção considerável é dada por parte do órgão
vinculado ao MINC responsável por realizar as ações que envolvam esse setor: o
Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN).
A atuação do IPHAN se desenvolve no sentido de proteger o patrimônio
cultural brasileiro, manifesto de forma material ou imaterial, seguindo um desejo
de preservação que tem raízes no século XVII, mas ganhou visibilidade na década
de 1930 com a atuação de artistas e intelectuais ligados ao movimento modernista.
Em linhas gerais, as ações da instituição se direcionam ao que contempla o artigo
216 da Constituição da República Federativa do Brasil: o patrimônio cultural a
partir de suas formas de expressão; de seus modos de criar, fazer e viver; das
criações científicas, artísticas e tecnológicas; das obras, objetos, documentos,
edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico‐culturais e dos
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.
Partindo desse princípio, o IPHAN elabora programas e projetos visando à
integração da sociedade civil com os objetivos do Instituto, além de buscar
linhas de financiamento e parcerias para auxiliar na execução das ações
planejadas. Após essa breve introdução, cabe perceber ainda como, na
prática, o patrimônio é valorizado e preservado pela entidade.
Modelo de Gestão
No modo de pensar o patrimônio cultural, o IPHAN considera que esse bem
se diferencia das outras modalidades de bem cultural, na medida em que apresenta
interfaces com outros segmentos da economia como a construção civil e o turismo.
68
Com isso, ao invés de se restringir apenas ao mercado cultural, o patrimônio
cultural possui um amplo potencial de investimento.
No modo de lidar com o patrimônio cultural, o IPHAN opera com duas
categorias: patrimônio material e imaterial. Vejamos em que consistem de fato
essas categorias e como a entidade atua em relação a cada uma delas, diante das
especificidades que guardam.
Patrimônio material
O patrimônio material protegido pelo IPHAN é composto por um conjunto
de bens culturais classificados segundo sua natureza nos quatro Livros do Tombo:
arqueológico, paisagístico e etnográfico;
histórico;
belas artes;
artes aplicadas.
Esses bens podem ser móveis, como núcleos urbanos, sítios arqueológicos
e paisagísticos e bens individuais, ou móveis, como coleções arqueológicas, acervos
museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos
e cinematográficos. Diante disso, o tombamento é a ferramenta‐chave para pensar
a ação do IPHAN. O tombamento consiste em um ato administrativo realizado pelo
Poder Público, visando preservar bens de valor histórico, cultural, arquitetônico,
ambiental e, também, de valor afetivo para a população, sendo aplicado para
preservar a memória coletiva. O processo de tombamento tem início com o pedido
que pode ser realizado por qualquer cidadão, passando por três instâncias de
avaliação, até chegar à inscrição do bem no Livro do Tombo e à comunicação formal
do tombamento aos proprietários. Vejamos, pois, como se justifica o tombamento
dos seguintes tipos de patrimônios material.
Sítios Urbanos – considerando que os sítios urbanos não são obras de arte
prontas e concluídas num determinado período, deve‐se levar em conta que são
bens que têm a natureza dinâmica e mutante típica das áreas urbanas. Nesse
sentido, o tombamento e a catalogação derivada desse processo permite que se
69
construa uma espécie de retrato desta paisagem física, ou seja, o Inventário
Nacional de Bens Imóveis (INBI), no qual estão apresentados os bens imóveis
tombados pelo IPHAN em Sítios Urbanos. Em relação a bens dessa natureza, segue
um exemplo de como a descrição do bem é realizada e consta no inventário:
Sítio tombado: Natividade/TO, ano. (indicar fonte)
Ficha Técnica
Nome: Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico de Natividade
Município: Natividade
Estado: Tocantins
14a SR IPHAN
Características do Tombamento Federal
Data: 16/10/1987
Livro do tombo: Arqueológico, etnográfico e paisagístico, histórico e belas artes.
Área do perímetro tombado: 18ha
Histórico
Natividade nasceu da expansão mineradora do século XVIII, no Centro‐Oeste. Foi
fundada por garimpeiros a partir de Vila Boa de Goiás. Naquela época, havia
cerca de 300 casas térreas, construídas com adobe, cobertas com telhas e
dispostas uma junto a outra.
O sítio arquitetônico da cidade é formado de por 260 unidades, 28 delas
catalogadas recentemente. A estrutura urbana original de Natividade se
encontra praticamente íntegra. As áreas de ocupação mais recentes não
interferem no núcleo original.
A cidade tem a estrutura urbana colonial, com ruas irregulares. Natividade se
destaca pela simplicidade e ausência de monumentalidade das construções. As
fachadas são de dois tipos que correspondem os ciclos econômicos por quais
passou. As mais despojadas correspondem à fase da mineração e as mais
ornamentadas, à fase da pecuária.
70
Patrimônio arqueológico – o tombamento de bens arqueológicos, que são
considerados bens patrimoniais da União, é feito por interesse científico ou
ambiental. São considerados sítios arqueológicos:
as jazidas que representem testemunhos da cultura dos
paleoameríndios;
os sítios nos quais se encontram vestígios de ocupação pelos
paleoameríndios;
os sítios identificados como cemitérios, sepulturas ou locais de
pouso prolongado ou de aldeamento "estações" e "cerâmios”;
as inscrições rupestres ou locais e outros vestígios de
atividade de paleoameríndios.
Jardins históricos parques e paisagens – o Decreto‐Lei n. 25, de 30 de
novembro de 1937, equipara o patrimônio natural ao patrimônio histórico e
artístico nacional, tornando monumentos naturais como jardins e paisagens, bem
como os bens agenciados pela indústria humana, como os parques, passíveis de
tombamento, com o objetivo de conservar e proteger a feição que possuam. Um
jardim histórico é uma composição arquitetônica e vegetal que, do ponto de vista
da história ou da arte, apresenta um interesse público e, como tal, é considerado
monumento.
Acervo Iconográfico – em imagens e fotografias estão registradas as
diversidades e mudanças nos modos de representação da figura humana, da
natureza e das cidades. Portanto, esse material é alvo de interesse do IPHAN, que
mantém um Banco de Dados de Acervos Iconográficos.
Museus e centros culturais do IPHAN – em se tratando de museus e
centros culturais, é considerado necessário agir com precisão no tempo e no
espaço, “com delicadeza e respeito aos que vieram antes e aos que virão depois;
com firmeza e criatividade para realizar e celebrar mudanças”.
Patrimônio imaterial
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Tal como é definido pela Unesco, o Patrimônio Cultural Imaterial consiste
nas práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas e, também, nos
instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes são associados e nas
comunidades, nos grupos e, em alguns casos, nos indivíduos que se reconhecem
como parte integrante de seu patrimônio cultural.
Para lidar com um bem tão específico como esse, foi instituído o Programa
Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI), que tem como principal objetivo
viabilizar projetos de identificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção da
dimensão imaterial do patrimônio cultural.
Nas definições do PNPI, o patrimônio imaterial é definido a partir de
quatro vetores:
os saberes ou modos de fazer – atividades desenvolvidas por
atores sociais conhecedores das técnicas e matérias‐primas que identificam
um grupo social ou uma localidade;
as celebrações – ritos e festividades associados à religiosidade,
à civilidade e aos ciclos do calendário, que participam fortemente da
produção de sentidos específicos de lugar e de território;
as formas de expressão – formas não lingüísticas de
comunicação associadas a determinado grupo social ou região, traduzidas
em manifestações musicais, lúdicas, plásticas, cênicas ou literárias;
lugares – espaços onde ocorrem práticas e atividades de
naturezas variadas que constituem referência à população.
No PNPI, a preservação dos bens imateriais é planejada por meio da
garantia às condições de transmissão e reprodução, condições de sua existência. No
entanto, as formas de garantir essas condições só são definidas no decorrer do
processo de inventário e registro do bem, considerando as especificidades que cada
saber e fazer popular traz em si. Mas cabe dizer que tais transmissões são
garantidas por ações que vão desde a concessão de ajuda financeira a detentores de
saberes específicos, até a uma espécie de organização comunitária.
72
Como ilustração dos planos de salvaguarda, vejamos um exemplo. O Plano de
Salvaguarda do Samba de Roda, que consiste em ações de apoio a transmissão de
conhecimentos tradicionais, tais como os relacionados às técnicas de fabricação
e execução do Machete; ações de apoio à organização formal de uma entidade
que os represente juridicamente para facilitar a auto‐gestão dos seus projetos;
além das ações de promoção propriamente ditas, como realização de gravações,
lançamento de CDs e promoção de apresentações dos grupos de samba de roda,
entre outras. (indicar referência completa da foto)
Ferramentas
A divisão entre bens materiais e imateriais está também ligada à utilização
de ferramentas específicas para cada tipo de bem.
O tombamento pode ser aplicado a bens móveis e imóveis de interesse
cultural ou ambiental, quais sejam: fotografias, livros, mobiliários, utensílios, obras
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de arte, edifícios, ruas, praças, cidades, regiões, florestas, cascatas etc. Somente é
aplicado a bens materiais de interesse para a preservação da memória coletiva.
Após o tombamento, o bem pode continuar sendo utilizado pelos
proprietários, uma vez que não consiste em uma desapropriação. Mas é importante
ressaltar que as características catalogadas do bem tombado devem ser
preservadas e o descumprimento das obrigações legais relativas ao tombamento
implica as seguintes sanções conforme a natureza da infração:
destruição, demolição ou mutilação do bem tombado: multa
no valor correspondente a até dez vezes o valor venal do bem;
reforma, reparação, pintura, restauração ou alteração, por
qualquer forma, sem prévia autorização: multa no valor correspondente a
no mínimo 10 e no máximo 100% do valor venal;
não observância de normas estabelecidas para os bens da área
de entorno: multa no valor correspondente a no mínimo 10 e no máximo
50% do valor venal;
além dessas sanções, o proprietário também fica obrigado a
reconstruir ou restaurar o bem tombado.
No caso do tratamento de bens de natureza imaterial, a ferramenta se
diferencia. Pode‐se dizer que a ferramenta básica nesse caso consiste no registro e
catalogação de bens, orientados pelas diretrizes do Programa Nacional do
Patrimônio Imaterial (PNPI). O PNPI, instituído pelo Decreto n. 3.551, de 4 de
agosto de 2000, viabiliza projetos de identificação, reconhecimento, salvaguarda e
promoção da dimensão imaterial do patrimônio cultural. É um programa de
fomento que busca estabelecer parcerias com instituições dos governos federal,
estadual e municipal, universidades, organizações não‐governamentais, agências de
desenvolvimento e organizações privadas ligadas à cultura, à pesquisa e ao
financiamento. Pode‐se dizer, em linhas gerais, que a ação prevista pelo PNPI está
baseada no tripé inventário, registro e salvaguarda de bens de natureza imaterial.
Vejamos em que consiste de fato esse tripé.
74
Registro de bens culturais de natureza imaterial – os bens são
registrados nos Livros de Registro dos Saberes, das Celebrações, das Formas de
Expressão e dos Lugares;
Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) – tem o objetivo
de produzir conhecimento acerca dos domínios da vida social que constituem
marcos e referências de identidade para determinado grupo social. Direciona‐se
aos bens visados pelo registro, edificações que tenham significação histórica e
imagens urbanas, independentemente de sua qualidade artística ou arquitetônica;
Planos de salvaguarda – planos definidos a partir do conhecimento
gerado pelos registros e inventários de bens, que visam preservar a feição dos bens
e garantir sua transmissão.
Tipos de Investimento
No quesito patrimônio imaterial, o IPHAN prioriza investir seus recursos
em projetos inseridos nas seguintes linhas de ação:
pesquisa documentação e informação;
sustentabilidade;
promoção;
capacitação.
Entre os projetos nos quais o IPHAN investe, vejamos alguns realizados
apenas pela entidade ou por meio de parcerias com outras instituições:
Inventário Celebrações e Saberes da Cultura Popular – desenvolvido
pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, estrutura‐se seguindo quatro
grandes linhas de nossa diversidade cultural: os usos culinários do feijão e da
mandioca, as celebrações que têm o boi como tema, o barro e a cerâmica tradicional
e as formas de expressão proporcionadas pela viola e os instrumentos de
percussão.
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Plano de salvaguarda dos bens culturais registrados – o Ofício das
Paneleiras de Goiabeiras, no Espírito Santo, e a arte Kusiwa dos indos Wajãpi, do
Amapá.
Projeto Multiculturalismo em situação urbana – inventário de
referências culturais no bairro do Bom Retiro, desenvolvido pelo IPHAN em
parceria com o Departamento do Patrimônio Histórico do Município de São Paulo.
Referências Culturais dos Povos Indígenas do Alto Rio Negro/AM –
inventário junto com populações indígenas da região, desenvolvido pelo IPHAN em
parceria com a Federação dos povos indígenas do Rio Negro e com o Instituto
Socioambiental.
Rotas da Alforria – trajetórias da população afrodescendente na região de
Cachoeira/BA. Projeto de desenvolvimento integrado desenvolvido pelo IPHAN em
parceria com várias instituições locais.
Como foi dito logo acima, os bens culturais apresentam interfaces com
outros segmentos da economia como a construção civil e o turismo, além de outros
setores culturais, como a música e das artes visuais. Isso significa que além dos
investimentos diretos do IPHAN visando à preservação do patrimônio cultural,
outras fontes também oferecem apoio nesse sentido, recebendo o amparo da Lei de
Incentivo à Cultura.
Resultados
Com a realização das ações planejadas pelo IPHAN, os resultados que
podem ser vistos são muitos e bem relevantes. Isso pode ser conferido por meio de
alguns números fornecidos pela própria entidade:
Estão registrados os seguintes bens:
Ofício das Paneleiras de Goiabeiras;
Kusiwa – Linguagem e Arte Gráfica Wajãpi;
Círio de Nazaré;
Samba de Roda no Recôncavo Baiano;
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Modo de Fazer Viola‐de‐Cocho;
Ofício das Baianas de Acarajé;
Jongo no Sudeste;
Cachoeira de Iauaretê – Lugar sagrado dos povos indígenas
dos Rios Uaupés e Papuri;
Feira de Caruaru;
Frevo;
Tambor de Crioula do Maranhão.
Arte Kusiwa, ano. (indicar fonte)
Ofício das baianas de acarajé, ano. (indicar fonte)
Modo de fazer Viola de Cocho, ano. (indicar fonte.
Os processos de registro nos arquivos do IPHAN que se encontram em
andamento são: Cantos Sagrados de Milho Verde/MG; Circo de Tradição
Familiar/Nacional; Capoeira/RJ/BA; Sanduíche Bauru/SP; Frevo/PE;
Mamulengo/RN/PE/PB; Feira de Caruaru/PE; Teatro Popular de Bonecos
Brasileiro (Mamulengo); Feira de São Joaquim, em Salvador/BA; Empada ou
Empadão de Goiás/GO; Alfenim de Goiás/GO; Cuxá/MA; Linguagem dos Sinos nas
Cidades Históricas Mineiras/MG; Queijos Artesanais de Minas/MG; Festival
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Folclórico de Parintins dos Bois‐Bumbás Garantido e Caprichoso/PA; Samba
Carioca – Jongo/RJ.
O Programa Nacional do Patrimônio Imaterial já realizou os seguintes
Inventários:
INRC do Círio de Nossa Senhora de Nazaré – Belém/PA;
INRC do Ofício das Baianas de Acarajé – Salvador/BA (CNFCP);
INRC da Viola de Cocho – MS/MT;
INRC do Jongo – RJ/SP (CNFCP);
INRC da Cerâmica Candeal/MG (CNFCP);
INRC Bumba‐Meu‐Boi/MA (CNFCP);
INRC do Museu Aberto do Descobrimento/BA.
Para além da enumeração dos resultados, dos registros e inventários,
pode‐se afirmar que o grande resultado que o conjunto da obra do IPHAN trouxe
foi possibilitar a memória e o contato com valores culturais preservados. Isso é em
grande medida viabilizado por meio do Arquivo Noronha Santos, no qual constam
os dados dos quatro Livros do Tombo, disponíveis para a consulta, além de outros
dados do órgão. Os dados podem ser acessados por meio da página do Arquivo, no
endereço eletrônico http://www.IPHAN.gov.br/ans/.
78
7 ARTES PLÁSTICAS
Antes de falar da operacionalidade e do setor que envolve as artes plásticas
é preciso destacar rapidamente a importância do chamado terceiro setor.
Os programas culturais têm uma importante participação do chamado
“terceiro setor”, definido como uma rede de organizações privadas e autônomas
constituídas por ato de vontade de seus fundadores, sem objetivo de distribuição
de lucro, mas, sim, de atender a propósitos e interesses públicos que ficam à
margem da estrutura formal estatal2.
Esses programas são constituídos com finalidades sociais, culturais,
educacionais etc. Não têm como objetivo o resultado econômico, ou seja, não têm
finalidade lucrativa, ainda que vendam bens ou serviços para atender aos seus
propósitos. Compõem‐se, basicamente, de instituições classificadas segundo duas
modalidades:
fundações;
institutos.
As fundações são organizações que nascem da vontade de uma ou mais
pessoas, por meio de uma doação. Fundações devem ter, no momento de sua
constituição, finalidade religiosa, moral, assistencial ou cultural. A doação deve ser
realizada por meio de testamento ou escritura pública. O doador especificará a
finalidade da fundação podendo ainda determinar a forma de sua administração.
A fundação já nasce com patrimônio, com finalidade certa e, muitas vezes,
com regras de atuação administrativa. Elas são fiscalizadas pelo Poder Público e o
órgão responsável em controlar todos os atos e procedimentos é o Ministério
Público, por meio de uma curadoria, denominada Curadoria das Fundações.
Uma tradicional fundação cultural no Brasil é a Fundação Bienal de São
Paulo responsável por diversas ações culturais naquela cidade, dentre as quais a
2
- Sobre o terceiro setor iremos nos basear no “Guia de Produção /cultural 2007” de Edson Natale
e Cristiane Olivieri – São Paulo, Edit. Zé do Livro, 2006
79
que goza de maior visibilidade são justamente as Bienais de Artes realizadas
periodicamente (de quatro em quatro anos). Na seqüência, daremos alguns
detalhes de sua constituição, o que irá permitir compreender alguns aspectos
dessas instituições culturais.
FUNDAÇAO BIENAL DE SÃO PAULO
A Fundação Bienal de São Paulo foi criada em 1962, mas suas origens
remontam aos anos 40, ao processo de modernização da sociedade brasileira e, em
particular, à criação das bases institucionais e culturais que levaram São Paulo a
ingressar, definitivamente, no circuito internacional das artes do século XX.
As bases institucionais
Até a década de 1940, o investimento do Governo na produção cultural e artística
moderna se restringia ao Rio de Janeiro, capital do país. No restante do Brasil, não
havia programas culturais de maior amplitude que levassem a marca do Estado. Ao
contrário do Rio de Janeiro, em São Paulo a produção artística esteve
historicamente ligada à iniciativa privada e de uma forma bastante peculiar, já que
não havia grandes investimentos com bases empresariais. Homens ricos da elite
tradicional limitavam‐se a fazer pequenas doações de partes de heranças, acudiam
aos artistas com aquisições de peças ou quadros, intermediavam relações e
contatos com políticos.
Nos anos 40, um grupo remanescente do movimento pioneiro da Semana
de Arte Moderna, ampliado por representantes da elite paulista, por novos artistas
e intelectuais recrutados na recém‐criada Faculdade de Filosofia da Universidade
de São Paulo, procurava fundar associações e clubes com o intuito de divulgar a
arte moderna brasileira e internacional. No entanto, com a guerra mundial em
curso, tornava‐se difícil um contato mais estreito com a Europa, que fora a principal
fonte de inspiração e de formação dos artistas modernos e da elite paulista durante
os primeiros 20 anos do século XX. Assim, o Brasil assistia a um processo de
substituição das referências do modelo europeu para o modelo norte‐americano,
com a implementação da chamada "Política de Boa Vizinhança", que teve como
80
coordenador o milionário norte‐americano Nelson Rockefeller, dono da Standard
Oil e presidente do Museum of Modern Art (MoMA). Nesse contexto, a discussão
sobre uma instituição voltada para a preservação e divulgação da arte moderna
começou a tomar corpo, inspirada em instituições norte‐americanas.
Quando a guerra acabou, o Brasil dispunha de divisas acumuladas para
investimentos nos diversos setores da economia e da cultura. O intercâmbio
internacional também era favorável, já que os países europeus, em reconstrução,
colocavam sua produção artística no mercado a preços baixos. Com esse ambiente
propício, só faltava quem investisse recursos para dar continuidade ao processo de
institucionalização da cultura.
Os dois grandes museus, Museu de Arte de São Paulo (MASP) e Museu de Arte
Moderna (MAM), fundados no final dos anos 40, resultaram da iniciativa dos
setores emergentes da sociedade paulista, que desejavam se colocar como
representantes de um projeto modernizador compatível com a construção de seus
parques industriais.
O Museu de Arte de São Paulo (MASP) foi criado, em 1947, por Assis
Chateaubriand, jornalista paraibano e proprietário da primeira grande rede de
comunicações do Brasil. Para construção do acervo do Museu, associou‐se ao
galerista italiano Pietro Maria Bardi, que deu à Instituição um caráter bastante
dinâmico. Desenvolveu atividades didáticas nas áreas de história da arte,
publicidade, design e construiu um dos mais importantes acervos de artes plásticas
da América Latina. A formação do acervo do MASP, no entanto, não foi feita por
meio de critérios críticos e técnicos de organização e, sim, pela oportunidade da
hora e esteve sempre bastante centralizada na figura do "mecenas" e de seu
principal colaborador.
Ao contrário do MASP, o Museu de Arte Moderna (MAM), criado em 1948 pelo
industrial Francisco Matarazzo Sobrinho, contou desde o início com a participação
de representantes de todas as áreas das artes e da cultura, que traçaram o perfil e a
política de aquisição e de formação do seu acervo. Ciccillo Matarazzo financiou de
seu próprio bolso a compra das obras para a coleção do Museu e fomentou seu
posterior crescimento com o "Prêmio Aquisição", promovido pelas futuras bienais.
81
Os estatutos do Museu previam a criação de comissões de cinema, arquitetura,
folclore, fotografia, gráfica, música, pintura e escultura. Sua sede foi instalada numa
sala do edifício dos Diários Associados, na Rua 7 de Abril, cedida por Assis
Chateaubriand.
Em 8 de março de 1949, o Museu de Arte Moderna de São Paulo foi inaugurado com
a célebre exposição “Do Figurativismo ao Abstracionismo”, que reuniu 51 artistas,
entre os quais três brasileiros: Cícero Dias, Waldemar Cordeiro e Samson Flexor.
A Primeira bienal
Logo após a inauguração do MAM, Ciccillo Matarazzo propôs a realização de uma
grande mostra internacional inspirada na Bienal de Veneza, enfrentando a
resistência de alguns membros da Diretoria que achavam prematura uma aventura
de tais proporções. Assim mesmo, Ciccillo definiu o ano de 1951 para a realização
do evento e o montante de recursos destinado à premiação.
A maior dificuldade para realização da mostra foi convencer os artistas dos países
estrangeiros, principalmente os europeus, a participar da aventura de mandar
obras de arte para um país que não tinha presença política nem cultural no cenário
mundial. Ciccillo percebeu que somente por meio de correspondência e convites
seria um fracasso. Solicitou, então, a Yolanda Penteado, sua esposa, que fosse
pessoalmente à Europa fazer os convites a artistas e representações estrangeiras
para participarem do evento. Como embaixatriz da primeira Bienal, Yolanda
superou todos os desafios com competência e absoluto sucesso.
Como local para abrigar a I Bienal, a equipe do MAM obteve da Prefeitura de São
Paulo a cessão do espaço hoje ocupado pelo MASP – a esplanada do Trianon –, onde
havia um antigo salão de baile. Sobre a estrutura do salão, os arquitetos Luís Saia e
Eduardo Kneese de Mello projetaram um polígono de madeira que, construído,
garantiu uma área de exposição de 5.000m2. A I Bienal foi inaugurada em 20 de
outubro de 1951. O Pavilhão adaptado recebeu 1.854 obras, representando 23
países.
O Parque Ibirapuera como local definitivo das Bienais
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O êxito da I Bienal, apesar de toda improvisação, mostrou a capacidade de
realização de Ciccillo e da equipe do MAM. Ainda sob o impacto do sucesso, já se
programava a II Bienal, que viria a acontecer no final de 1953, abrindo as
comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo, sob o comando de Ciccillo
Matarazzo como presidente da Comissão organizadora dos festejos. O local
escolhido foi a área do Ibirapuera, na época uma várzea distante e sem nenhuma
infra‐estrutura urbana.
Oscar Niemeyer foi convidado a projetar o conjunto de edificações. Considerando
suas dimensões, o Parque, seus edifícios e os jardins de Burle Marx foram
construídos em tempo recorde. Dos sete prédios, entre pavilhões e centros de
cultura propostos, foram edificados o Pavilhão das Indústrias, o Pavilhão dos
Estados e o Pavilhão das Nações, ligados por uma elegante marquise. Eram
integrados também ao espaço do Parque o Pavilhão da Agricultura (hoje o Detran)
e o Ginásio de Esportes, este último projeto de Ícaro de Castro Mello.
Considerada uma das mais importantes Bienais, essa 2ª edição reuniu
obras dos mais importantes artistas modernos e, com destaque maior, 51 telas de
todas as fases Picasso, entre as quais Guernica, que, por vontade do pintor, tinha o
MoMA como depositário enquanto a Espanha estivesse sob a ditadura franquista.
Até então, a grande tela nunca havia deixado Nova York.
Em novembro de 1953, a II Bienal começou a ser montada ocupando o Pavilhão das
Nações, onde ficaram expostas as representações dos países da Europa e do
Oriente, e o Pavilhão dos Estados que recebeu as representações das Américas, do
Brasil e a Mostra Internacional de Arquitetura. Eram, no conjunto, 24.000m2 de
exposição. Em 12 de dezembro a mostra foi inaugurada com a representação de 33
países e 3.374 obras.
Em 1957, A IV Bienal de São Paulo passou a ocupar definitivamente sua atual sede
no Parque Ibirapuera, o Pavilhão Ciccillo Matarazzo.
A Criação da Fundação Bienal de São Paulo
Com o êxito da II Bienal, iniciava‐se um período da história do Brasil em
que se institucionalizavam, cada vez mais, os eventos culturais que estavam
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imbricados com a modernização do Estado brasileiro.
No entanto, o crescimento e o prestígio das bienais realizadas durante o período do
governo Kubitschek começaram a pôr em xeque o papel do MAM como promotor
das mostras. As bienais consumiam a maior parte dos esforços e das verbas
arrecadadas pelo Museu, transformando‐o quase que exclusivamente num
escritório para sua operacionalização. Ciccillo Matarazzo resolveu, então, que era o
momento de separar o MAM da Bienal, dando independência financeira e decisória
a esta última.
Em 1958, o MAM já havia mudado definitivamente para o Parque Ibirapuera. No
momento da mudança, ocupando espaço improvisado no segundo andar do
Pavilhão Armando Arruda Pereira, atual Pavilhão Ciccillo Matarazzo, constatou‐se a
dificuldade quanto à organização museológica do acervo. Além da necessidade de
uma reserva técnica e do correto acondicionamento das obras, havia o problema de
se distinguir o que pertencia ao MAM, o que era de fato doação de Ciccillo e de
Yolanda Penteado, e o que não havia sido doado e estava apenas depositado no
Museu.
A forma de gerir o Museu e a vinculação do caixa da Instituição com o bolso de seu
presidente resultaram numa reforma dos estatutos do MAM, em 1959. Ciccillo já
preparava o caminho para separar as bienais do MAM, apesar da forte oposição dos
meios intelectuais e dos artistas à extinção do Museu. Mário Pedrosa, seu diretor
artístico na ocasião, fez várias tentativas junto a Ciccillo que, no entanto, resultaram
infrutíferas. Em 8 de maio de 1962, já estava criada a Fundação Bienal de São Paulo,
uma instituição privada sem fins lucrativos. Em janeiro de 1963, o MAM é extinto e
seu patrimônio transferido para a Universidade de São Paulo.
Com mais de 70 anos de idade, Ciccillo começava a preparar sua sucessão. Em
1975, depois da realização da XIII Bienal, afasta‐se definitivamente da diretoria da
Fundação Bienal e, dois anos depois, em 16 de abril de 1977, falece deixando a
Bienal como sua mais importante realização.
A 14ª edição da Bienal, em 1977, é o primeiro evento realizado sob o comando de
um novo presidente, Oscar Landmann, sucessor de Ciccillo Matarazzo.
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São 50 anos de atividades, 25 edições com a participação de 148 países,
10.660 artistas e cerca de 56.932 obras, num espaço que permitiu a estimulante
convivência das artes plásticas, das artes cênicas, das artes gráficas, do design, da
música, do cinema, da arquitetura e de muitas outras formas de expressão artística.
Único evento brasileiro assinalado no calendário internacional da arte e da
arquitetura há meio século, a Bienal de São Paulo vem projetando o Brasil no
cenário mundial, sendo considerada, junto com a Bienal de Veneza, o mais
importante evento do gênero entre os mais de cinqüenta existentes no mundo.
A Bienal realizada em 2001 expôs cerca de mil obras de 118 artistas, sendo
96 estrangeiros e 22 brasileiros. Para marcar o encerramento da mostra, que teve
acesso gratuito a exemplo da anterior, a dupla de artista plásticos Ângela Detanico
e Rafael Lain fez uma performance na instalação de Rirkrit Tiravanija, no segundo
andar do Pavilhão, utilizando um laptop como ferramenta para apresentar suas
músicas. A 27ª Bienal recebeu 535 mil visitantes em 64 dias de exposição.
Avaliações do evento apontam qualidade e um eficiente programa educativo,
resultante do agendamento de 100 mil visitas de estudantes, além de mobilizar
moradores da periferia para conhecer a exposição.
Pela primeira vez na história da Fundação Bienal, o projeto curatorial foi eleito por
meio de um comitê internacional. Foram descartadas as representações nacionais e
uma equipe internacional de curadores viajou o mundo em busca dos artistas que
melhor representariam os ideais e conflitos da vida contemporânea em espaços
partilhados. A Exposição reuniu cerca de mil trabalhos de 118 artistas de 51 países.
Além disso, dez artistas residentes de várias cidades do mundo passaram de um a
três meses no Brasil, nas cidades do Acre, Recife e São Paulo, preparando seus
trabalhos. Um dos artistas do inédito projeto de residência da Bienal é Meschac
Gaba, que construiu a obra Sweetness [Doçura], a partir de sua permanência no
Recife. Sua escultura, feita com açúcar, reconstrói o centro da cidade, mesclando‐o
com ícones da arquitetura contemporânea de outros lugares.
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A 27ª Bienal começou a mostrar e a discutir a produção
artística contemporânea em janeiro, quando foi iniciado o ciclo de seis Juan Guerra
seminários realizados ao longo do ano. Em outubro, uma quinzena de
filmes, com a exibição de 39 películas, evocaram o “Como Viver Junto”,
tema central dessa edição da Bienal, consolidando um evento ousado e
mais ligado às condições atuais da prática artística contemporânea.
Inspirado em seminários de Roland Barthes, o tema dessa
Bienal, “Como Viver Junto”, propôs uma reflexão sobre a vida coletiva Vista geral da 27a. Bienal
em espaços partilhados. A curadoria da Bienal buscou artistas que
tivessem como tema central a questão dos limites, fronteiras e a
incorporação das diferenças na esfera da vida cotidiana.
O viver junto esteve presente não apenas nas obras expostas no Pavilhão.
Alguns artistas, como o grego Zafo Xagoraris, colocaram seus trabalhos em praça
pública. Xagoraris exibiu uma instalação acústica na Avenida Rio Branco, centro de
São Paulo. Além disso, durante o período da mostra, ônibus partiram do Pavilhão
rumo à periferia da zona sul da capital, para que o público pudesse visitar o Jardim
Miriam Arte Clube (JAMAC), convidado pela Bienal.
Tentando incorporar o público da periferia e visitantes de baixa renda ao
corpo de visitantes da 27ª Bienal, o projeto educativo, encabeçado por Denise
Grinspum, criou cinco núcleos de discussão sobre arte contemporânea, em parceria
com os Centros Educacionais Unificados (CEUs), na periferia da capital. Ainda pelo
projeto, foi ministrado um curso de capacitação para professores das redes pública
e particular, com intuito de preparar alunos em sala de aula antes da visita à
exposição. A equipe de monitores também recebeu treinamento intensivo durante
dois meses antes da abertura da mostra.
Esse projeto contou com o apoio dos parceiros: Petrobras; BM&F; Bombril;
Bovespa; CPFL Energia; Fiat 30 Anos; TV Globo; Usiminas; Cosipa; Votorantim;
Estadão; Radio Eldorado; FAAP; Satipel; Telefônica; Docol; CO Restauro; CIEE;
Blindex/Cebrace; Eletropaulo; Produtos Plásticos. Como apoio institucional, contou
com: Prefeitura de São Paulo; Secretaria de Cultura; Secretária do Verde e do Meio
Ambiente; Secretaria de Subprefeituras; Subprefeitura Sé; Imprensa Oficial do
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Estado de São Paulo; Casa Civil; Secretaria de Estado da Cultura; Governo do Estado
de São Paulo; Ministério da Cultura, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.
A Fundação Bienal de São Paulo diversifica suas atividades, como, por
exemplo, e com patrocínio e organização do Ministério da Cultura a abertura, uma
grande mostra da diversidade cultural brasileira: TEIA – A Rede de Cultura do
Brasil. .
A TEIA envolveu as áreas de arte, educação, cidadania e economia solidária
e reuniu cerca de mil representantes da cultura popular brasileira, mil produtores
culturais dos Pontos de Cultura, apoiados pelo Ministério da Cultura, por meio do
Programa Cultura Viva, e 600 empreendedores da Economia Solidária, que
apresentaram seus trabalhos e manifestações artísticas.
Na programação, realizou‐se exposições de fotografias e artes plásticas;
apresentações de dança e teatro; oficinas, sessões de cinema e de audiovisual;
eventos literários e encontros de bonequeiros, artistas circenses, congadeiros,
grafiteiros, griôs, mestres de capoeira, reciclagem, repentistas e tambores.
Manoel Francisco Pires da Costa e o Ministro Gilberto Gil.
INSTITUTOS
O termo instituto é usado, muitas vezes, apenas como designação e,
portanto, podemos encontrar associações, fundações, ONG e até Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) com designação de instituto, como por
exemplo: Instituto Ethos, Instituto Ayrton Senna, Instituto Pensarte etc. Cabe,
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portanto, ressaltar que o uso do termo “Instituto” não implica a natureza da
organização.
Vejamos algumas modalidades de instituições que podem ser classificadas
nesta categoria de “Institutos”:
Organização nãogovernamental (ONG)
Uma ONG é reconhecida como o resultado das múltiplas manifestações na
sociedade civil mundial, que acarretam o fenômeno social de organização
espontânea para a realização de atividades de interesse público. ONG, portanto, é
um gênero, uma denominação genérica, em que temos como espécies: associações,
fundações, OSCIP etc.
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP)
O Governo Federal criou a OSCIP por meio da Lei n. 9.790/1999. Trata‐se
de espécie de organização sem fins lucrativos que usufrui de benefícios fiscais e de
contratação com o poder público, desde que atenda aos requisitos estabelecidos
pelo Governo.
Organização Social (OS)
Modelo estatal de organização pública que atua fora do âmbito da
Administração Pública, permitindo e incentivando sociedades cíveis sem fins
lucrativos a prestarem serviços públicos não exclusivos do Estado. Pode ser pública
ou privada.
As organizações sociais permitem a parceria entre Estado e a sociedade
mediante contrato de gestão instrumento que regulará as ações das OS.
As Organizações Sociais Públicas têm as seguintes características:
os seus órgãos superiores de deliberação são formados por
representantes do Estado (20% a 40%) da sociedade;
as doações destinadas à execução dos contratos de gestão
integram o orçamento da União;
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qualquer irregularidade na execução do contrato de gestão
deverá ser comunicada ao Tribunal de Contas da União.
As Organizações Sociais Privadas têm as seguintes características:
permite que a contratação de pessoal seja realizada nas
condições de mercado;
adoção de normas próprias para realização de contratos com
entes públicos;
ampla flexibilidade na execução de seu orçamento;
são constituídas pelas entidades privadas, sem fins lucrativos
(Associações, Fundações), que atuam nas áreas de saúde, educação, pesquisa
científica e desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do meio
ambiente, cultura.
esses serviços, quando prestados pelas organizações sociais,
não se sujeitam ao regime do serviço público, mas ao regime de direito
privado.
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CONCLUSÃO
O texto acima exposto pretende realizar uma taquigrafia dos principais
pontos que constituem as estruturas da gestão cultural no Brasil. Assim, buscou‐se
interpenetrar nas principais questões do tema com os setores culturais‐artísticos
mais importantes. Feito isso, é importante destacar que o traçado de exposição do
texto vinculou cada um dos setores e seus respectivos tópicos estruturais a uma
determinada instituição da Administração Pública no nível federal de governo,
integrando o Sistema Federal de Cultura. Diante disso, é preciso destacar três
aspectos de grande relevância: a interpenetração entre Estado e mercado, os nichos
específicos de consumo que cada setor costuma recrutar e, por fim, as implicações
disso junto aos tópicos estruturadores da gestão cultural.
Primeiro, o texto buscou evidenciar as ferramentas de gestão utilizadas
pelos organismos públicos com vistas a dinamizar a produção cultural brasileira,
por meio da disponibilização de bens e serviços culturais. É preciso destacar assim
que o texto não entrou na seara propriamente dita da produção cultural privada,
das estratégias de legitimação utilizadas por parte das empresas e grupos
empresarias que lançam mão de políticas culturais internas, como evidenciou o
módulo intitulado Políticas e Programas de Produção Cultural (módulo II). Cada um
dos seis setores descritos e trabalhados possuem um circuito de consumo,
apreciação e fruição próprios, assim como cadeias de produção especifica. Há assim
a economia do cinema, da cultura popular da música, entre outras. E, nesse sentido,
a dinamização dessa economia passa necessariamente pelo circuito mais ampliado
dos bens e serviços culturais e, por conseguinte, pelos elos de produção,
distribuição e consumo da indústria cultural.
Diante dessa interpenetração, é necessário assegurar que o texto buscou
demonstrar a operacionalidade formal da produção cultural no âmbito federal, suas
principais características e resultados. Ocorre que tal operacionalidade é um dos
vetores principais de dinamização da moderna economia da cultura globalizada.
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Todos os setores podem ser vistos, assim, como um complexo encadeamento, que
perfaz a economia da cultura brasileira e, em um escopo maior, o entrelaçamento
de fenômenos, como o consumo cultural, os direitos culturais, a renovação das
linguagens artísticas e a manutenção de outras.
Um segundo aspecto diz respeito à estruturação dos públicos
consumidores. Embora o texto não trate desse aspecto diretamente, é necessário
perceber a importância de um diagnóstico ampliado e preciso sobre os públicos
consumidores e sobre os interesses que mobilizam as ações desses públicos. O
processo de gestão não deve, pois, ignorar fatores centrais sobre acesso,
viabilidade, interesse e capacidade de integração das ações. É preciso, com efeito,
estabelecer instrumentos de gestão que também envolvam um conhecimento
profundo sobre os segmentos de consumidores, suas características
macrossociológicas e todos os aspectos políticos e econômicos que geram
obstáculos para a utilização dos serviços e bens culturais.
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http://www.FUNARTE.gov.br/ – FUNARTE
www.bn.br/ – Biblioteca Nacional
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www.ube.org.br/ – União Brasileira dos Escritores (UBE)
http://www.culturaemercado.com.br/ – onde eu consultei o artigo da Ana Carla
Fonseca Reis...
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