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OBRAS DE TERRA EM SUPERFÍCIE E

SUBTERRÂNEAS

UNIDADE IV
OBRAS SUBTERRÂNEAS
Elaboração
Laoana Tuíra Gonçalves Mendes

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................................4

UNIDADE IV
OBRAS SUBTERRÂNEAS.......................................................................................................................................................................7

CAPÍTULO 1
HISTÓRICO E MÉTODOS CONSTRUTIVOS............................................................................................................................. 7

CAPÍTULO 2
ESTADOS DE TENSÕES............................................................................................................................................................... 13

CAPÍTULO 3
SISTEMAS DE SUPORTE............................................................................................................................................................. 28

REFERÊNCIAS.................................................................................................................................................35
INTRODUÇÃO

No estudo das fundações, o solo é tratado apenas como suporte de uma


obra, contudo, deve-se considerá-lo também como material de construção,
já que ele próprio é muitas vezes diretamente utilizado na construção
de obras, como, por exemplo, taludes, aterros, barragens, túneis, entre
outros. Nesses e em outros tipos de obras, o solo deve atender a certas
exigências necessárias ou, caso contrário, pode ser necessário submetê-lo a
um tratamento adequado, a fim de obter as características e propriedades
que permitam sua utilização (CAPUTO, 2014).

Nesta disciplina estudaremos as obras de terra em superfície e subterrâneas,


desde os conceitos iniciais, os critérios de projeto, análises de comportamento
até a avaliação da segurança.

Na primeira Unidade o aluno se ambientará com algumas definições


importantes sobre as estruturas de contenção. O Capítulo 1 mostra uma
breve explanação sobre as principais teorias de determinação dos empuxos.
O Capítulo 2 abrange os principais tipos de estruturas de contenção. Já o
Capítulo 3 trata especificamente das verificações de estabilidade dessas
estruturas de contenção.

A segunda Unidade guia o aluno para entender as principais definições


sobre estabilidade de taludes. No Capítulo 1 o aluno entenderá melhor
sobre os taludes, naturais ou artificiais e também os principais métodos de
estabilização. O Capítulo 2 mostra os mecanismos de ruptura dos taludes,
enquanto o Capítulo 3 abrange os métodos de análise de estabilidade dos
taludes.

A terceira Unidade aborda os aspectos gerais de barragens, critérios


de projeto e verificações de segurança. No Capítulo 1 será possível se
ambientar com os tipos de barragens e seções típicas. Já o Capítulo 2 trata
dos critérios de projeto e métodos construtivos. E o Capítulo 3 mostra as
análises de estabilidade, percolação e tensão-deformação.

Na quarta Unidade o assunto é sobre obras subterrâneas. Essa unidade


conta com três capítulos. O Capítulo 1 abordará o histórico e métodos
construtivos. No Capítulo 2 serão tratadas as análises de estado de tensões.
Por fim, o Capítulo 3 abrange as principais características dos sistemas
de suporte.
Objetivos
» Entender o comportamento do solo no que diz respeito à teoria dos
empuxos;

» E s t u d a r o s t i p o s d e c o n t e n ç ã o d e t a l u d e s e s u a s v e r i f i c a ç õ e s d e
estabilidade;

» Aprender a analisar as estabilidades de taludes pelos mais diversos métodos;

» Conhecer os tipos de barragens, seus critérios e de projeto e análise de


estabilidade, percolação e tensão-deformação;

» Compreender as obras subterrâneas, abrangendo o estudo das tensões e


deformações e os tipos de sistemas de suporte.

Bons estudos!

“O conhecimento é o processo de acumular dados. A sabedoria


reside na sua simplificação”.
(Martin H. Fischer)
OBRAS SUBTERRÂNEAS UNIDADE IV

A Unidade IV mostra o estudo das obras subterrâneas. O Capítulo 1 abordará


o histórico e métodos construtivos. No Capítulo 2 serão tratadas as análises de
estado de tensões. Por fim, o Capítulo 3 abrange os sistemas de suporte.

CAPÍTULO 1
HISTÓRICO E MÉTODOS CONSTRUTIVOS

No nosso dia a dia vivenciamos diversas situações em que dependemos das obras
subterrâneas, da quais, pode-se citar:

» Transportes: túneis metroviários, rodoviários e ferroviários;

» Adução: água e esgoto;

» Cavernas: barragens e estocagem;

» Mineração subterrânea: poços e túneis;

» Shafts e poços de extração.

1. Histórico
Segundo Assis (2013), o uso de escavações subterrâneas vem desde a pré-história,
em que os humanos se abrigavam contra predadores e elementos climáticos.
Segundo registros, há aproximadamente 4000 anos, na Babilônia, sob o leito do
rio Eufrates, foi construído o túnel (seção 1,5 x 1,5m) mais antigo já registrado.
Esse túnel tinha o objetivo de proporcionar uma comunicação subterrânea entre
o palácio real e o templo, afastados por volta de um quilômetro. Admira-se
essa escavação ainda mais devido ao fato de que o próximo túnel sob o leito
de rio só foi construído quatro milênios depois, em 1843, sob o Tâmisa, em
Londres.

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Na Idade Antiga, cerca de 2700 anos atrás, construiu-se um túnel de adução


de água na ilha grega de Samos com seção de 1,8 x 1,8 m e 1,5 km de extensão.
Depois, em Atenas, há 1800 anos, escavaram outro túnel de adução, que sofreu
reforma em 1925 e continua em operação na adução de água da cidade. Neste
mesmo período, foi escavada a maior rede de túneis em Roma, no período em
que os cristãos eram perseguidos. Foram construídas inúmeras câmaras por
toda a extensão dos corredores em túneis compondo as catacumbas, onde foram
enterrados em torno de 6 milhões de cristãos.

Já na Idade Média, a principal finalidade dos túneis era por questões militares.
Já no final deste período, houve alguns avanços, principalmente com a escavação
dos grandes canais de navegação na Europa, como, por exemplo, o túnel Malpas,
construído em 1681, no Canal de Midi, na França, que possui 161m de extensão.
Além disso, em 1679, explosivos (pólvora) para abertura da frente de escavação
foram utilizados pela primeira vez em obras civis. Antes faziam uso de martelos
e cinzéis para este fim.

Depois da Revolução Industrial e com o surgimento das máquinas a vapor,


iniciou-se a Era das Ferrovias, que é considerada uma das fases mais produtivas
da engenharia de túneis. Dentre as construções mais importantes, é possível citar
o túnel sob o Tâmisa, em Londres, com início em 1807, mas abandonado por
volta de 15 anos devido a dificuldades na construção. Este túnel só foi concluído,
em 1843, com o emprego do primeiro shield, por Brunel. Depois desse período,
os métodos de abertura de túneis tiveram uma rápida evolução, seguindo com o
uso das máquinas de escavação hidráulicas e pneumáticas, em 1857, da dinamite,
em 1864, do ar comprimido na expulsão da água do lençol freático e dos shields
cilíndricos, em 1869.

Todavia, foi apenas com o surgimento do NATM (New Austrian Tunnelling


Method) que a concepção dos sistemas de suporte sofreu evoluções até chegar
ao estágio atual. Neste sentido, para Assis (2013), a evolução das escavações
subterrâneas pode ser dividida nos seguintes períodos:

» Pré-História: cavernas como moradia;

» Era Mineral (de 4000 a.C. até os dias atuais);

» Era da Navegação (séculos XV e XVI): construção de canais;

» Era das Ferrovias (século XIX): grandes avanços;

» Era Ambiental (depois dos anos 1960).

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2. Métodos construtivos
Para Assis (2013), os Métodos Clássicos para Abertura de Túneis surgiram, com
aperfeiçoamento e acúmulo de experiência, no século XIX (Era das Ferrovias).
Dentre eles é possível citar os métodos alemão, belga, austríaco clássico e
inglês. Estes métodos tinham a preocupação de fixar uma escavação parcial ou
sequencial e a instalação do suporte, adequando-se às condições geológicas.
Eles faziam uso do suporte sem a sua otimização, já que o princípio do alívio
de tensões não era seguido.

Na década de 1930, houve a concepção, por Rabcewicz, de um novo método de


escavação denominado NATM – New Austrian Tunnelling Method (Novo Método
Austríaco de Abertura de Túneis). Este método foi aplicado pela primeira vez
na escavação do túnel de Lodano-Mosagno, em 1950 e oficializado em 1957.
Diferentemente dos métodos anteriores, o NARM não estabelece qualquer
sequência para a abertura da escavação ou instalação de suporte, assim, pode-
se considerá-lo como sendo uma filosofia de escavação.

O NATM se baseia em alguns princípios básicos, também chamados de princípios


modernos de túneis:

» Considera-se o maciço como principal elemento estrutural;

» A estrutura de sustentação pode ser complementada, quando necessário, por meio


da colocação de um sistema de suporte ótimo;

» A instrumentação do túnel faz-se necessária.

Como pode ser notado, um dos princípios é que não se considera o maciço apenas
como um carregamento, ou seja, ele trabalha juntamente com o suporte para
estabilizar a cavidade.

2.1. Maciço como elemento estrutural

De acordo com Assis (2013), este princípio rege algumas características principais:

» A fim de se ter o maciço como principal elemento estrutural, deve-se


preservar sua qualidade;

» A deformação do maciço é necessária para redistribuição das tensões e


mobilização do efeito arco, gerando menor carga de suporte;

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» O maciço não deve deformar excessivamente, pois pode gerar fraturas nele e,
assim, provocar aumento na carga de suporte;

» Em algumas circunstâncias, é possível decidir pelo melhoramento da


qualidade do maciço.

No decorrer de todas as fases de construção do túnel é preciso conservar ou, até


mesmo melhorar a qualidade do maciço. Ao levar este preceito em consideração
têm-se estruturas de suporte com dimensões menores e, por consequência, custos
reduzidos. Ademais, ressaltam-se melhorias na qualidade e segurança da obra.

Definir a geometria da seção do túnel é de suma importância para manter a


qualidade do maciço. Desse modo, é preciso atentar para a funcionalidade da
estrutura e as propriedades geológico-geotécnicas do maciço circundante. A
geometria da seção deve proporcionar a minimização ou eliminação das zonas
de concentração de tensões e, também, contribuir para que o efeito arco seja
formado em uma região mais próxima do contorno da cavidade.

Assis (2013) afirma que o efeito arco acontece quanto a capacidade portante do
maciço é mobilizada por meio da redistribuição das tensões na região contígua à
escavação com o aumento das tensões cisalhantes. Essa redistribuição, chamada
de princípio da estabilização pelo alívio controlado de tensões, decorre de
deformações resultantes da abertura da cavidade. Entretanto, deformações
excessivas devem ser evitadas, pois, dessa maneira, o maciço poderia perder
sua capacidade de autossuporte.

Outrossim, uma sequência de escavação da face deve ser estipulada, previamente,


levando em consideração experiências precedentes. É possível otimizar essa
sequência, por meio de análises de dados colhidos da instrumentação do túnel,
até que o nível de deformações desejado seja alcançado.

Se os deslocamentos no decorrer da escavação forem considerados excessivos,


é possível fazer melhoria da qualidade do maciço adotando ações de caráter
estrutural como, por exemplo, injeção de nata de cimento ou resina, grauteamento,
enfilagem, entre outros.

2.2. Sistema de suporte

O suporte é instalado somente nos casos em que o maciço não é competente,


seja por não ter capacidade de autossustentação após a escavação ou quando
estruturas circunvizinhas não conseguem suportar certos níveis de deformações.

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Aqui são apresentados, conforme Assis (2013), os três princípios que regem o
sistema estrutural de suporte, cujo estudo será aprofundado no Capítulo 3 desta
Unidade:

» Tempo de colocação: intrinsecamente ligado ao tempo de convergência


do anel do túnel;

» Resistência e rigidez: funcionamento do sistema de suporte como um


cilindro de paredes finas, minorando as forças cortantes e momentos;

» Em situações que necessitem de um suporte de alta capacidade, o que


sugere paredes grossas, é mais acertado deixar as paredes finas e fazer um
reforço com tirantes.

A rigidez do suporte deve ser suficiente de tal forma que acompanhe as


deformações previstas no maciço. Caso contrário, suporte com alta rigidez,
as distorções devidas à tensão diferenciada no maciço são restringidas, o que
impede o alívio de tensões. Além do mais, a resistência do suporte também
deve ser suficiente para absorver esforços e evitar deformações excessivas,
suprindo as deficiências estruturais do maciço.

Fora a rigidez e a resistência, deve-se atentar para o tempo de instalação do


sistema de suporte que deve ser feito num tempo ótimo, inferior ao tempo de
autossustentação, com o objetivo de cruzar a curva característica do maciço
(CCM) em determinado deslocamento admissível, como será visto mais a fundono
Capítulo 3 desta Unidade.

3. Instrumentação

Outro ponto importante, consoante Assis (2013), é a instrumentação, que tem o


intuito de acompanhar os comportamentos do maciço e do suporte ao longo de
todo o processo de construção do túnel. Sua instalação pode ser feita em vários
pontos, a depender das informações necessárias: carga no suporte, convergência,
recalques superficiais e subsuperficiais, entre outros.

Essa instrumentação é de suma importância para a compatibilização entre


projeto e execução, portanto, deve prover dados de deformações e tensões do

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maciço, verificando, assim, a eficácia do método adotado, bem como a segurança


da escavação.

Se o comportamento não for o esperado, é possível modificar o projeto ou


os métodos construtivos até que os resultados obtidos sejam satisfatórios,
conferindo, assim, um caráter observacional ao NATM.

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CAPÍTULO 2
ESTADOS DE TENSÕES

Num local onde será executada uma escavação subterrânea já existe no maciço
um tensor de tensões naturais, imposto pela história geológica. Quando é feita
a abertura, esta vai causar uma redistribuição de tensões ao seu redor. Estas
tensões causadas pela abertura são chamadas de tensões induzidas.

1. Tensões naturais e induzidas

1.1. Tensões naturais

Assis (2013) enfatiza que a determinação das tensões in situ ou tensões naturais é
essencial para a elaboração do projeto e, por consequência, para o comportamento
da escavação subterrânea. Num ponto qualquer, abaixo da superfície, as tensões
são: s x, s y, s z e as tensões cisalhantes.

Comumente adota-se a hipótese de que as tensões principais sejam as tensões


verticais (s z) e horizontais (s x e s y), e, portanto, as tensões cisalhantes são nulas
nestes planos. Esta hipótese deve ser tomada com cuidado, especialmente em
regiões com topografia acentuada ou sujeita a tectonismo acentuado.

A tensão vertical é comumente assumida como a pressão geostática:

s z = ∑ γ .z [47]

Esta expressão normalmente apresenta bons resultados quando comparada com


as medições de campo. Ocorrem resultados ruins somente em regiões dobradas,
em que pode haver concentração e/ou alívio de tensões devido ao efeito arco
das dobras.

As tensões horizontais são geralmente dependentes da tensão vertical e, também,


do coeficiente de empuxo ao repouso (k o):

=s x k=
ox .s z ; s y koy .s z [48]

Desta maneira, para calcular as tensões horizontais, basta obter k o no sentido


da tensão horizontal em questão.

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1.2. Tensões induzidas

Após as tensões in situ serem calculadas, deve-se obter as tensões que serão
causadas pela obra subterrâneas devido à redistribuição de tensões. Estas tensões
são chamadas de tensões induzidas e dependem tanto das tensões in situ quanto
da geometria, forma e dimensões, da abertura. Para tanto, assume-se que o
maciço ao redor da escavação é homogêneo. Nesse caso de meios homogêneos
e geometrias simples, é possível aplicar expressões analíticas para calcular as
tensões induzidas (ASSIS, 2013).

O modelo mais utilizado é o modelo de Kirsch (1898), que foi, a princípio,


desenvolvido para analisar chapas metálicas com orifícios circulares (estado
plano de tensões) e depois foi alterada para o caso de aberturas subterrâneas
com geometria circular (estado plano de deformações). As hipóteses do Modelo
de Kirsch são:

» Maciço homogêneo e infinito;

» Túnel com seção transversal circular;

» Estado plano de deformações;

» Túnel profundo.

Túnel profundo pode ser entendido como aquele que possui a razão entre
profundidade e raio maior ou igual a cinco (z/a ≥ 5). Assim, o modelo de Kirsch
permite a nomenclatura mostrada na Figura 43.

Figura 43. Modelo de Kirsch.

pz
px=ko pz  r px=ko pz


r r

pz

Fonte: Assis (2013).

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Ao se variar “r” e “q”, é possível determinar as tensões que atuam em qualquer local em
volta da abertura:

1
sr
= . pz . (1 + ko ) .(1 − a 2 ) + (1 − ko ) .(1 + 3a 4 − 4a 2 ) .cos 2q  [49]
2

1
sq
= . pz . (1 + ko ) .(1 + a 2 ) − (1 − ko ) .(1 + 3a 4 ) .cos 2q  [50]
2

1
− . pz . (1 − ko ) .(1 − 3a 4 + 2a 2 ) .sen 2q 
t rq = [51]
2

Em que:

a = a / r.

É sabido que s r e s q são as tensões principais se t rq for igual a zero. É possível


fazer uma verificação analisando as expressões acima mostrando que t rq será
igual a zero nas seguintes circunstâncias:

sen2q = 0 → q = 0 o ou q = 90 o;

k o = 1;

1 - 3a 4 + 2a 2 = 0 → a = 1, ou seja, a = r.

Ao se analisar mais detalhadamente, com k o = 1 (t rq = 0), observa-se que:

pz .(1 − a 2 ) ; s q =+
sr = pz (1 a 2 ) [52]

As tensões s r e s q são função somente de p z, a e r, não dependendo dos valores


do ângulo q (Figura 44). Nota-se também que s r reduz na mesma proporção
que s q aumenta.

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Figura 44. Distribuição de tensões para ko=1.


 = 2pz



r

a
r = 0 -5a r

Fonte: Assis (2013).

No caso sem suporte, s r e t rq sempre tenderão a zero na face de abertura do


túnel se k o ≠ 1. Além disso, para cada valor de r e q tem-se diferentes valores
de tensões. Visto que as equações de s r e s q são função de sen2q, seus valores
repetem-se após 180 o. E, pelo fato de a função seno ser simétrica de zero a 180 o,
com eixo em 90 o, apenas deve-se calcular as tensões de zero a 90 o.

1.3. Solução elasto-plástica para abertura circular

Sabe-se que, em uma região bem próxima a aberturas subterrâneas, as tensões


induzidas pela escavação podem atingir a resistência ao cisalhamento do maciço
(ASSIS, 2013). A partir daí, forma-se nessa região uma zona plástica, onde essas
tensões induzidas são limitadas pela resistência do maciço, transferindo as
tensões excedentes para a região adjacente, mantendo comportamento elástico
(zona elástica).

Obtêm-se as tensões na região plástica adotando um critério de ruptura e


considerando obedecidas as equações de equilíbrio (TIMOSHENKO e GOODIER,
1970). O critério de ruptura adotado pode ser qualquer um, mas deve-se ter o
cuidado de aplicar as soluções obtidas a materiais que tenham comportamento
compatível com o critério assumido.

A geometria considerada é a de uma abertura circular em uma placa infinita,


submetida a um carregamento hidrostático (k o = 1). Desta forma, esta solução
se aplica às geometrias do cilindro de paredes espessas, para um raio externo
tendendo a infinito, e a de Kirsch, para um k o igual a um. Tendo em vista que
a solução para o cilindro de paredes espessas é um caso particular da teoria de
Kirsch, apenas esta será utilizada.

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Quanto ao meio, são feitas as seguintes considerações:

» Ruptura frágil (perda de resistência pós-pico);

» Homogêneo e isotrópico;

» Linear-elástico na zona elástica;

» Perfeitamente plástico na zona plástica.

Para deduzir as tensões induzidas s r e s q deve-se adotar que a distribuição


de tensões dentro da zona plástica seja governada pelo critério de ruptura
Mohr-Coulomb (envoltória de resistência), aplicado ao espaço s 1 e s 3 , dado
por:

σ 1 = m.σ 3 + σ c [53]

Em que:

1 + senf
m= [54]
1 − senf

s 1 = tensão principal maior;

s 3 = tensão principal menor;

s c = resistência à compressão uniaxial:

2.c.senf
sc = [55]
1 − senf

c = coesão;

f = ângulo de atrito do maciço.

O comportamento frágil do material é definido por um fator “s”, que representa


a relação entre a resistência de compressão uniaxial no pico e a resistência de
compressão uniaxial residual. Devido a esse comportamento, existirão parâmetros
de ruptura para a zona elástica correspondentes à resistência de pico, e para a
zona plástica correspondentes à resistência residual. Assim:

s c ( residual )
s= [56]
s c ( pico )

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Sendo:

m = m p e s c = s cp, para s = 1

m = m r e s.s c = s cr, para s < 1

Em que:

s = 1 à material elástico perfeitamente plástico e dúctil;

s < 1 à material elástico perfeitamente plástico e frágil;

m p e s cp à parâmetros de ruptura para a zona elástica;

m r e s cr à parâmetros de ruptura para a zona plástica.

De forma geral, pode-se adotar m p igual a m r, pois sabe-se que o ângulo de atrito
não se altera muito após a perda de resistência. Além disso, por simplicidade,
considera-se que essa perda de resistência se dá em um instante imediatamente
posterior àquele em que o maciço alcança a resistência de pico.

Como há a coincidência das tensões principais s 1 e s 3 nas zonas elástica e plástica


com tensões induzidas s r e s q, respectivamente, as tensões induzidas podem
ser determinadas, dentro da zona elástica a envoltória de resistência que as
governa, por:

s q m.s r + s c
= [57]

A distribuição de tensões induzidas, dentro da zona plástica, é regida por:

s q m.s r + s.s c
= [58]

As condições de equilíbrio, também válidas na zona plástica, podem ser regidas


pelas seguintes equações diferenciais, considerando um carregamento assimétrico
(coordenadas polares):

∂s r (s r − s q )
+ 0
= [59]
∂.r r

∂t rq
=0 [60]
∂q

t rq = 0 [61]

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Em que:

s r e s q = tensões principais menor e maior, coincidentes com as direções


radial e tangencial, respectivamente;

r = distância de um elemento na direção radial da abertura, a partir do centro


dela.

A Equação [59] pode ser rearranjada da seguinte maneira:

∂s r
r. = sq − s r [62]
∂.r

Substituindo a Equação [58] na Equação [62], determina-se a equação da tensão


principal radial s r na zona plástica:

∂s r 1
=( m − 1) .s r + s.s c  . [63]
∂.r r

Separando as variáveis:

∂s r ∂.r
= [64]
( m − 1).s r + s.s c r

Integrando a expressão acima, obtém-se:

1
.ln ( m − 1) .s r + s.s= ln  r ( )  + C1.( m − 1)
m −1
c
 [65]
( m − 1)

Rearranjando a equação acima, para a obtenção da tensão radial na zona plástica:

 r( ) 
m −1
1
=sr .  s.s . + C 2 [66]
r( ) 
c
1− m
m −1 

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Para determinar o valor da constante de integração da Equação [66], consideram-se


as seguintes condições de contorno características da zona plástica:

s ra= ps= (1 − ls ) . po [67]

s rR= (1 − le ) . po [68]

Em que:

s ra = tensão principal na direção radial quando r é igual ao raio da abertura (a);

s rR = tensão principal na direção radial quando r é igual ao raio que delimita a


zona plástica (R);

p s = pressão de suporte;

p o = pressão atuante sobre o maciço antes da escavação (k o=1);

l s = número que relaciona p s e p o (0 < l s < 1);

l e = número que faz a relação entre a tensão radial no limite das zonas elástica
e plástica (s rR) com a pressão atuante no maciço antes da escavação (p o).

Aplicando a condição de contorno definida pela Equação [67] na Equação [66],


obtém-se:

 s.s c  (1−m )
C2 =
 (1 − l ) . p − .a [69]
1 − m 
s o

Substituindo a Equação [69] na Equação [66], chega-se à expressão final, válida


para uma abertura circular profunda, para s r dentro da zona plástica:

(1− m )  (1− m )
 s.s c    a  a
=sr   . 1 −    + (1 − ls ) . po .  [70]
 1 − m    r   r

A outra tensão principal s q pode ser obtida substituindo a Equação [70]


na equação que caracteriza o critério de ruptura na zona plástica (Equação
[58]). Assim:

(1− m )  (1− m )
 s.s c   a a
sq 
=  . 1 − m.   + m.(1 − ls ) . po .  [71]
 1 − m   r  r

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Essas equações mostram que as tensões na zona plástica dependem da resistência


do maciço (s c, s, m), da geometria da abertura (a) e das condições de carregamento
(p o e p s ou l s ), continuando independentes da deformabilidade do material
(módulo de Young - E, coeficiente de Poisson - v etc.).

Sabendo-se que a tensão radial s r é contínua no limite entre as zonas elástica


e plástica, é possível obter a extensão da zona plástica, raio R. Substituindo a
Equação [70] com r = R na Equação [68], tem-se que:

s rR ( elástico ) = s rR ( plástico ) [72]

(1− m )  (1− m )
 s.s c    a  a
(1 − =
le ) . po   . 1 −    + (1 − ls ) . po .  [73]
 1 − m    R   R

 1 
 ( m − 1) .(1 − le ) . po + s.s c   m−1 
 

R = a.  [74]

 s.s c + A 

Onde,

A =( m − 1) .(1 − ls ) . po [75]

O valor de l e é determinado em função de uma pressão de suporte tal que a


abertura não sofra plastificação. Essa pressão de suporte deve ser igual ao valor
de s r quando o estado de tensões atuantes toca a envoltória de resistência do
maciço (s rR), caracterizando o limite entre as zonas elástica e plástica.

A equação que representa a trajetória de tensões induzidas em uma abertura


circular com k o = 1, na zona elástica, é dada por:

sq + s r =
2. po [76]

No limite entre as zonas elástica e plástica, as tensões radiais são iguais. Desta
maneira, ao substituir a Equação [57] na Equação [76], a tensão radial no limite
entre as zonas (s rR), é dada por:

1
=s rR .[ 2. po − s c ] [77]
m +1

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Inserindo a Equação [77] na Equação [68], tem-se:

1
(1 − le ).=
po .[ 2. po − s c ] [78]
m +1

1  s 
=le . m − 1 − c  [79]
1+ m  po 

É interessante notar que a extensão da zona plástica depende do campo de


tensões, da resistência do maciço e da pressão de suporte. Além disso, pode-se
verificar que, quando p s é igual a uma pressão em que não há plastificação, l s
se iguala a l e de onde se conclui não haver zona de plastificação, pois o raio
plástico se iguala ao raio da abertura (R = a).

A fim de obter as tensões na zona elástica, para r > R, considera-se para a teoria
de Kirsch (k o = 1), uma abertura fictícia de raio R e pressão de suporte s rR. Assim
as tensões s r e s q são dadas por:

2
R
s r =po − ( po − s rR ) .  [80]
r

2
R
s q =po + ( po − s rR ) .  [81]
r

2. Deslocamentos induzidos

2.1. Deslocamentos elásticos

Se existirem tensões induzidas causadas pela abertura, também haverá,


consequentemente, deslocamentos induzidos. Em casos diferentes das hipóteses
adotadas, ou seja, geometria complexa, maciço heterogêneo ou material não
elástico-linear, é necessário o uso de softwares computacionais, atendendo a
suas respectivas limitações. No caso de túnel circular, em que as hipóteses de
Kirsch são válidas, é possível calcular os deslocamentos ao redor da abertura,
adotando as etapas a seguir:

22
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» Definir as expressões gerais da Lei de Hooke para as deformações


longitudinal, tangencial e radial;

» Fazer a derivada destas equações no estado plano de deformações, ou


seja, deformação longitudinal nula;

» Fazer a substituição das equações de Kirsch para tensões tangencial e


radial nas expressões de Hooke para deformações tangencial e radial;

» Fazer a integral destas equações de deformações por todo o domínio do


maciço e, então, obter as expressões para os deslocamentos tangencial
e radial.

Colocando as etapas acima em prática, tem-se o deslocamento radial de Kirsch:

pz .r 
=u . (1 + ko ) .a 2 + (1 − ko ) .( −a 4 + 4a 2 − 4νa 2 ) .cos 2q  [82]
4G

Ao se restringir essa equação para a = 1, ou seja, na parede da escavação,


pode-se obter a convergência, que é o deslocamento radial na parede:

pz .a
=u . (1 + ko ) + (1 − ko ) .( 3 − 4ν ) .cos 2q  [83]
4G 

Em uma escavação num maciço com k o = 1, a convergência é dada por:

p0 .a
u= [84]
2G

2.2. Deslocamentos elasto-plásticos

Sabe-se que, em uma região bem próxima a aberturas subterrâneas, a resistência


ao cisalhamento do maciço pode ser atingida pelas tensões induzidas pela
escavação. A partir daí, forma-se nessa região uma zona plástica, onde essas
tensões induzidas são limitadas pela resistência do maciço, repassando o acréscimo
de tensões para a região adjacente, cujo comportamento se mantém elástico
(zona elástica).

Obtêm-se as deformações na região plástica com base nas equações da lei do


fluxo plástico, de compatibilidade e de deformação-deslocamento. Além disso,
considera-se que a deformação total na região plástica é a soma das deformações

23
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plástica e elástica, sendo que esta última é constante e seu valor é o máximo
dentro da região (limite elástico).

A geometria considerada é a de uma abertura circular em uma placa infinita,


submetida a um carregamento hidrostático (k o = 1). Desta maneira, esta solução
é aplicável para um túnel circular submetido a um carregamento hidrostático
(k o = 1). Quanto ao meio, são feitas as seguintes considerações:

» ruptura frágil (queda na resistência pós-pico);

» homogêneo e isotrópico;

» linear-elástico na zona elástica;

» perfeitamente plástico na zona plástica.

As deformações elasto-plásticas para uma abertura circular em massa infinita,


definida por Kirsch, podem ser obtidas considerando as equações de compatibilidade,
de controle do fluxo plástico, definida por Kaiser (1980) e sabendo-se, ainda,
que correspondem à soma das deformações elásticas e plásticas. As equações
de compatibilidade e as relações deformação/deslocamento, para um problema
axissimétrico, consideradas na dedução das deformações elasto-plásticas
(TIMOSHENKO e GOODIER, 1970) são:

∂u u ∂w ∂e
er = ; eq = ; e z = =cte ; ∫ eq dq =ν =0 ; r q + eq − e r =0 [85]
∂r r ∂z ∂r

Em que:

e r = deformação na direção radial;

e q = deformação na direção tangencial;

e z = deformação perpendicular ao plano de deformação (rq);

v = deslocamento na direção tangencial, nulo por simetria;

u = deslocamento na direção radial.

A equação de controle de fluxo plástico proposta por Kaiser (1980) se refere às


deformações plásticas, sendo dada por:

e r p + a ..eq p =
0 [86]

24
Obras Subterrâneas | UNIDADE Iv

Em que:e rp, e qp = deformações plásticas na direção radial e tangencial;

a = parâmetro de dilatância.

O valor de a pode ser:

a = 1 se a plastificação ocorre sem variação de volume;

a = m se a plastificação ocorre com fluxo associado pelo critério de


Mohr-Coulomb (coincidência entre direção das deformações principais e
direção das tensões principais);

1 < a < m para uma plastificação com dilatância sem fluxo associado.

Pela solução de Kirsch, para aberturas circulares em massa infinita, a deformação


elástica na direção radial pode ser obtida para a zona elástica considerando-se
a abertura fictícia de raio R e pressão de suporte p s igual a s rR. Integrando a
deformação radial, obtém-se o deslocamento radial na zona elástica:

(1+a ) 
ur e .le  R
ur
= ep
. a − 1 + 2.   [87]
1 + a  r 

Em que:

p0 .r
ur e = [88]
2G

u re = deslocamento radial elástico para uma escavação sem suporte.

Desta maneira, a convergência será:

(1+a ) 
ua e .le  R
ua
= ep
. a − 1 + 2.   [89]
1 + a  a 

Em que:

p0 .a
ua e = [90]
2G

25
UNIDADE Iv | Obras Subterrâneas

Esta formulação elasto-plástica é de extrema valia para calcular a distribuição de


deslocamentos na zona plástica, que podem ser avaliados em função de extensão
da zona plástica. Finalmente, vale observar a importância do fator de dilatância
a nos valores dos deslocamentos, uma vez que estes são função da potência de a.

2.3. Bacias de recalques

Segundo Teixeira e Assis (1994), quando um túnel é construído, ocorrem


modificações no maciço circundante alterando os estados de tensões geostáticos,
e por consequência, gerando deslocamentos, também chamados de subsidência
(Figura 45). O estudo desses deslocamentos, ou recalques, é de suma importância,
já que poderiam causar danos nas edificações preexistentes ou em redes de
abastecimentos, por exemplo.

Figura 45. Subsidência devido à escavação subterrânea.

Perda de
Solo

Túnel

Fonte: Elaborada pela autora.

Uma das metodologias mais conhecidas para determinação dos recalques causados
pela escavação de um túnel foi proposta por Peck (1969). Nesse método, têm-se
os recalques por uma distribuição de Gauss (Figura 46):

 − x2 
 2 i 2  [91]
S ( x ) = Smáx .e  

Em que:

S(x) = recalque num ponto x a partir do eixo transversal;

S máx = recalque máximo no eixo transversal do túnel;

x = distância horizontal transversal ao eixo do túnel;

26
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i = distância horizontal do eixo transversal do túnel ao ponto de inflexão da


curva de recalque.

Figura 46. Curva da bacia de recalques proposta por Peck (1969).

x 0
-2i 2i
-√𝟑𝟑i √𝟑𝟑i

Smáx
Recalque – S (mm) -i i
Ponto de Ponto de máxima
inflexão curvatura
(0,61.Smáx) z (0,22.Smáx)

Fonte: Elaborada pela autora.

Portanto, o volume de recalque superficial ou volume de subsidência na superfície


(V s) é dado por:

Vs = 2p .i.Smáx [92]

A aplicação deste modelo de cálculo de recalques superficiais necessita da


estimativa do valor de i. Neste sentido, Schmidt (1969 apud TEIXEIRA e
ASSIS,1994) propôs a seguinte equação, para solos coesivos:

η
i  z 
= ka .   [93]
a  ( 2a ) 

Para K a e η (parâmetros empíricos adimensionais), foi proposto para solos


coesivos: K a =1 e η = 0,8.

Assis (2013) sugere mais uma aproximação:

i = ko . z [94]

27
CAPÍTULO 3
SISTEMAS DE SUPORTE

A instalação de sistemas de suporte é feita para assegurar determinados níveis


de deslocamentos admissíveis ou para a prevenção da ruptura do maciço. Com
o intuito de caracterizar o comportamento do sistema de suporte é preciso
definir a Curva Caraterística do Maciço (CCM) e a Curva Confinamento do
Suporte (CCS).

3. Curva de convergência

3.1. Curva característica do maciço

A relação entre uma pressão de suporte fictícia necessária para assegurar


determinado nível de deslocamento admissível é chamada de Curva Característica
do Maciço (CCM). No caso de um maciço elasto-linear, ligando os pontos, a CCM
será uma reta:

Para u a = 0, P = p o;

Para u a = u, P = 0.

Se k o ≠ 1, existirão n CCMs, uma para cada valor de q. Contudo, é necessário


apenas determinar duas CCMs, sendo uma para a lateral e outra para o teto do
túnel.

Considerando situações reais de comportamento do maciço, a curva 1 da Figura


47 mostra a curva característica do maciço (CCM) como as tensões atuantes
no maciço dependendo dos deslocamentos radiais que ocorreram em razão da
abertura da cavidade. A curva 2 representa a curva de confinamento do suporte
(CCS), que será estudada a seguir.

28
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Figura 47. Curva de convergência.

Carga no Maciço Maciço


suporte (P) Elástico Plástico

Po A

Pb C 2 CCS
B
Pd
D
CRM
Ps E

F
1 Desagregação

Deslocamento Radial (u)

Fonte: Assis (2013).

É notório que, de início, o maciço se comporta elasticamente e, depois do ponto


C esse maciço acumula deformações, conferindo o comportamento plástico.
Nota-se também que o maciço sofre uma desagregação a partir do ponto F, que
é o ponto em que ocorre a atuação da mínima tensão na periferia da cavidade.

3.2. Curva de confinamento do suporte

Define-se a CCS (Figura 48) a partir de dois parâmetros: a rigidez do suporte


(k s) e a pressão limite do suporte (p s,max).

Figura 48. Curva de confinamento do suporte (CCS).

Ps

Ps,max

u0 u

Fonte: Assis (2013).

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O tempo de instalação do suporte interfere no deslocamento inicial u o, e, portanto,


este deslocamento é uma característica do processo construtivo e da reação do
maciço e não do suporte.

Admite-se que a pressão no suporte “p s” seja simétrica radialmente. É possível


que o suporte seja frágil, devido à perda de resistência pós-pico ou dúctil, quando
não há perda dessa resistência. Desta forma, é melhor fazer uso de algum tipo
de reforço para assegurar a ductilidade do suporte.

Seguindo o princípio lógico, o suporte é projetado para minorar os momentos.


Assim, as tensões na seção transversal do suporte serão:

 M .y   N 
=s  +  [95]
 I   A

Em que:

M = momento fletor;

I = momento de inércia;

N = carga axial;

A = área da seção transversal.

Os comportamentos do maciço e do suporte podem ser analiticamente representados


por meio de duas curvas características (CCM, curva característica do maciço e
CCS, curva de confinamento do suporte – Figura 47), em que o ponto de interseção
destas indica o equilíbrio da interação maciço-suporte. Essa solução é chamada
de método de convergência-confinamento ou método das linhas características.

O comportamento mecânico do suporte é representado na curva 2 da Figura 47,


assumido como sendo elasto-plástico perfeito. Com o decorrer da escavação da
cavidade, desenvolvem-se deslocamentos radiais no maciço em direção ao centro
da escavação que provocam a mobilização das tensões cisalhantes no maciço,
gerando diminuição das tensões na superfície da escavação, tensões estas que
deverão ser absorvidas pelo sistema estrutural de suporte. Tomando como
exemplo o ponto B, observa-se que o deslocamento ocorrido u b gera um alívio das
tensões na superfície da escavação reduzindo a tensão atuante de P o para P b. O
ponto D representa o momento de instalação do suporte. A capacidade de carga
do suporte é inicialmente nula, crescendo linearmente até que atinja um valor

30
Obras Subterrâneas | UNIDADE Iv

máximo, representado por P s,máx. No ponto E atinge-se o equilíbrio do sistema


maciço-suporte, onde o deslocamento total acumulado do maciço vale u s e a
capacidade de carga do suporte se equipara à tensão aplicada pelo maciço - P s.

Instalando-se suportes com a mesma capacidade portante, porém com


diferentes flexibilidades, obtêm-se coeficientes de segurança variados. O
coeficiente de segurança é entendido como a relação entre a capacidade
portante do suporte e a tensão nele atuante. Na Figura 49, os suportes “A”
e “B” possuem mesma capacidade portante, porém o primeiro trabalha
com um baixo coeficiente de segurança, enquanto o segundo adquire maior
coeficiente por ter maior flexibilidade. O suporte “C”, apesar de apresentar
o maior coeficiente de segurança dentre os três (“A”, “B” e “C”), possui
elevada flexibilidade o que gera excessivas deformações aproximando-se,
perigosamente, do ponto de desagregação. O suporte “D” não apresenta
capacidade portante suficiente para equilibrar as tensões a ele impostas
pelo maciço.

Figura 49. Comparação entre suportes.

Carga no
suporte (P)

C
A B

Deslocamento Radial (u)

Fonte: Assis (2013).

4. Tipos de suporte
Os sistemas de suporte podem ser classificados de acordo com sua área de
aplicação, sendo eles: pontuais, lineares e contínuos.

Suportes pontuais

O principal suporte pontual é o tirante, que é um elemento estrutural de suporte


que transmite o esforço superficial na superfície para determinada região no

31
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maciço. Da mesma maneira, ocorre com os chumbadores, mas que, em geral,


são empregados em conjunto com outros tipos de suporte, como, por exemplo,
cambotas metálicas ou concreto projetado. Essa aplicação conjunta acontece
principalmente nos casos de estes últimos elementos não serem capazes de
assegurar que não ocorram deformações excessivas.

4.1. Suportes lineares

Um suporte linear é aquele em que a pressão de suporte é aplicada em seções


transversais, com certo espaçamento longitudinal.

Cambotas metálicas

Podem ser utilizadas com pranchões de madeira ou em complemento ao concreto


projetado ou enfilagens cravadas ou injetadas. Elas são anéis metálicos de perfis
laminados arranjados para abranger todo o perímetro da escavação, fornecendo
suporte imediato ao maciço até que o concreto projetado adquira a resistência
desejada. Dentre as qualidades das cambotas metálicas é possível citar a sua
elevada resistência mecânica e a intemperismos, o que proporciona melhor
rigidez estrutural do sistema.

Treliças metálicas

Diferentemente das cambotas, as treliças são formadas por elementos treliçados


e não perfis laminados. Desta maneira, há menor consumo de aço para atingir
a mesma resistência. Além do mais, as treliças podem ser produzidas in loco,
facilitando as emendas e melhorando a aderência com o concreto projetado.

4.2. Suportes contínuos

Suportes contínuos são aqueles que aplicam uma pressão de suporte por todo
o maciço.

Suportes segmentados

São segmentos pré-fabricados de aço, ferro ou concreto, formando uma casca


contínua na periferia da escavação. A aplicação de aço e ferro tem diminuído em
função do crescente uso de segmentos de concreto pré-fabricados, parafusados
ou não. O sistema possui uma eficiência que depende, dentre outros fatores,
de um contato maciço-suporte perfeito. Existem duas formas de garantir esse
contato: injeção de calda de cimento nos vazios oriundos da sobre-escavação
(overbreak) ou por meio da expansão dos anéis segmentados.

32
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Concreto moldado in loco

Segundo Assis (2013), este é o sistema mais tradicional, durável e confiável.


Entretanto, está sendo utilizado com menos frequência, já que há a necessidade
de um longo espaço de tempo para montar a forma e a armação e também porque
tem alto consumo de concreto.

Concreto projetado

A aplicação do concreto projetado na superfície da escavação é feita por meio


de um equipamento dotado de uma mangueira e com capacidade de misturar
os vários componentes do concreto. Esta solução está sendo cada vez mais
utilizada devido à evolução das técnicas de produção e aplicação. Ademais,
suas características se adequam perfeitamente ao NATM, já que este sistema
de suporte proporciona boa interação maciço-suporte ao preencher os vazios
oriundos da sobre-escavação.

5. Rigidez e carga limite do suporte


Para calcular CCS é preciso obter a rigidez e a carga limite do suporte, que são
função dos parâmetros de resistência e deformabilidade e da seção transversal
do suporte.

5.1. Suportes contínuos

Conforme apresentado por Assis (2013), a equação a seguir é aplicável para


qualquer tipo de suporte contínuo circular, que é o caso do concreto moldado
in loco ou projetado:

Es ( a − t s ) t s
ks = [96]
(1 + ν s ) (1 − 2ν s ) a 2 + ( a − ts ) 
2

sy  (a − t ) 
2

ps
= max . 1−
  [97]
2  a2 

Cabe ressaltar que são assumidas propriedades lineares para o suporte, o que
poderia gerar problemas especialmente para o caso do concreto projetado.

33
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5.2. Suportes lineares

As equações são válidas para cambotas de aço com berço de madeira:

1 sl .a s .a 3 q .(q + senq .cosq )  2.sl .q .t


= + l . − 1 + [98]
ks Es . As Es . As  2.sen 2q  EB .w
2

3. As .I s .s y
psmax =
   1   [99]
2.sl .a.q . 3.I s + X . As .  a −  tb + . X  .(1 − cosq )  
   2  

5.3. Suportes pontuais

As seguintes equações aplicam-se para tirantes:

1 s .s  4.l 
= l t . + Q  [100]
ks a  p .d 2 .Es 

Ty
psmax = [101]
sl .st

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REFERÊNCIAS

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