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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000615302

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal nº 1510238-


92.2018.8.26.0577, da Comarca de São José dos Campos, em que é apelante
RODRIGO FERREIRA DE LIMA BARBOSA, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 13ª Câmara de Direito


Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores MARCELO


SEMER (Presidente sem voto), AUGUSTO DE SIQUEIRA E MOREIRA DA
SILVA.

São Paulo, 4 de agosto de 2022.

XISTO RANGEL
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação Criminal: 1510238-92.2018.8.26.0577


Apelante(s): Rodrigo Ferreira de Lima Barbosa
Apelado/a(s): Justiça Pública (MP)
Origem: 1ª Vara de São José dos Campos
Voto nº 7592
APELAÇÃO CRIMINAL. Roubo duplamente
circunstanciado. Sentença condenatória. Recurso da defesa.
Absolvição descabida. Réu reconhecido seguramente pela
vítima na fase extrajudicial e preso, pouco tempo depois, na
prática de outro roubo cujo modus operandi era bastante
similar, ocasião em que o veículo apreendido, de cor
vermelha, também foi reconhecido pela vítima do presente
caso. Condenação mantida. Dosimetria. Penas bem dosadas.
Maus antecedentes e reincidência dupla alicerçadas em
condenações penais distintas. Majorantes caracterizadas.
Aumento na terceira fase devido. Regime prisional fechado
fixado com base nos péssimos antecedentes do réu. Valor
fixado a título de indenização mínima à vítima que é
proporcional aos prejuízos sofridos, o que deve ser mantido.
Além do mais, o pedido foi incluído pelo parquet, desde o
início, na denúncia, a possibilitar o contraditório e a ampla
defesa. Pleito de justiça gratuita relegado para o Juízo da
Execução Criminal. Apelação não provida. Sentença
mantida.
Ao relatório de fls. 196/197, o qual adoto, acrescento a
r. sentença ter julgado parcialmente procedente a pretensão punitiva estatal para
CONDENAR o réu RODRIGO FERREIRA DE LIMA BARBOSA, qualificado
nos autos, como incurso no artigo 157, §2º, inciso II (concurso de agentes) e V
(restrição de liberdade da vítima), do Código Penal, às penas de 07 (sete) anos, 05
(cinco) meses e 18 (dezoito) dias de reclusão, em regime inicial fechado, além do
pagamento de 17 (dezessete) dias-multa, calculada a diária no mínimo legal.
Isso porque, segundo diz a denúncia, no dia 28 de julho
de 2018, no horário e local ali mencionados, o sentenciado, agindo em concurso e
com identidade de desígnios com terceiro não identificado, subtraiu, para si,
mediante grave ameaça exercida com arma de fogo e também restrição de liberdade,
o valor de R$ 1.200,00, pertencente a David Alves de Lima.
Apurou-se que a vítima caminhava pela Rua
mencionada quando o acusado RODRIGO dela se aproximou e, falando de forma
veemente, lhe disse que precisaria conversar 'urgente'. Simultaneamente, o veículo
Fiat-Palio, de cor vermelha, parou ao lado e a porta do carona foi aberta. O
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acusado determinou que a vítima ali se sentasse, sendo possível notar que o
motorista possuía entre as pernas uma arma de fogo. Com a liberdade
restringida pelos assaltantes, a vítima teve a carteira subtraída e o acusado notou
que ali não havia dinheiro. Contudo, mantida a restrição de liberdade, os
assaltantes notaram a presença de um cartão bancário (Banco do Brasil) e se
dirigiram com a vítima até ao Mercado 'Sonda', onde foi conferida a senha e
conferida a existência de saldo bancário.
Seguindo com a restrição de liberdade imposta à
vítima e mediante grave ameaça (tanto com a ciência da existência de arma de fogo
como da exibição de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida para que a vítima
'rezasse'), o acusado RODRIGO e seu comparsa realizaram a subtração de dinheiro
da conta bancária na agência da Avenida Nelson D'Ávila (R$ 500,00) e nova
subtração no terminal do Carrefour Aquarius (R$ 500,00 e 200,00).
No curso da investigação, o acusado RODRIGO foi
preso e também foi identificado o carro vermelho do próprio RODRIGO (carro
registrado em nome do acusado RODRIGO: fls. 17).
De fato, submetido a reconhecimento fotográfico, a
vítima reconheceu o acusado como o autor do delito. Não apenas: também
reconheceu o veículo do acusado (com várias particularidades) como aquele no qual
ela teve a liberdade restringida, sendo transportada para as sucessivas subtrações
de dinheiro de sua conta bancária (reconhecimento fotográfico a fls. 14/
reconhecimento do veículo e seus detalhes: fls. 15/26, com fotografias do veículo e
relato da vítima quanto aos detalhes observados).
Inconformada, a defesa técnica do sentenciado,
capitaneada pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, interpôs recurso de
apelação. Sustentou, em síntese, a absolvição ante a insuficiência de provas e,
subsidiariamente, a redução da pena, na primeira e segunda fase da dosagem. Por
fim, pediu o afastamento do valor fixado a título de indenização à vítima. (fls.
204/212).
Em contrarrazões, o representante do Ministério
Público se manifestou pelo não provimento do recurso defensivo (fls. 217/220).
PGJ não discrepou (fls. 231/237).

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De conformidade com a Resolução nº 772/17, não


houve expressa oposição ao julgamento virtual.
Eis o relatório.
A absolvição é meta impossível de ser alcançada, na
medida em que o acervo fático-probatório é firme em apontar o apelante como
coautor do roubo descrito na denúncia.
Em resumo, o acusado optou pela revelia em Juízo,
uma vez que, mesmo regularmente citado, alterou seu endereço sem comunicar o
Juízo (fls. 177 e 180).
Noutra ponta, a vítima, em relato seguro e coeso,
narrou a dinâmica delitiva tal como consta na denúncia. Disse que estava andando na
via pública quando um veículo vermelho encostou e o motorista abriu a porta,
aparentando estar armado; foi constrangida a entrar no referido veículo. Em seguida,
a dupla subtraiu sua carteira, na qual estava seu cartão bancário, e exigiu a senha.
Logo após, um deles deixou o veículo com o seu cartão, afirmando que o outro
deveria “rezar”; algum tempo depois, foi liberada. Constatou, posteriormente, que,
nesse período, foram realizados três saques de sua conta corrente via caixas
eletrônicos. Foi chamada na Delegacia e reconheceu o ora apelante com quase
certeza, assim como o veículo vermelho usado no roubo, pois guardou vários
detalhes internos; em razão dos fatos, entrou em depressão e atualmente faz terapia.
O extrato bancário de fls. 11/13 confirma as retiradas
na conta da vítima.
Corroborando as declarações da vítima, tem-se o
testemunho do investigador de polícia ouvido em Juízo, segundo o qual, o acusado
foi preso na posse de um veículo vermelho pela prática de outro roubo, tempos
depois do crime aqui tratado, cujo modus operandi era idêntico. Na ocasião, a vítima
foi chamada na Delegacia e reconheceu tal veículo pelos detalhes internos; também
reconheceu por fotografia o acusado, que figurava como proprietário do automóvel, o
que possibilitou a identificação.
No mesmo sentido é o relatório investigativo policial
(fls. 15/16), cujas fotografias mostram o veículo apreendido na posse do acusado.
Assim, se o apelante foi preso em flagrante pela prática

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de outro roubo com modus operandi bastante similar ao tratado aqui nestes autos, na
posse de um veículo cuja cor peculiar vermelha e outros detalhes internos foram
reconhecidos pela vítima, aliado ao reconhecimento extrajudicial da vítima, há prova
mais que segura para sustentar a condenação do ora apelante.
As causas de aumento de pena restaram caracterizada,
conforme se extrai da prova oral. O acusado agiu com um comparsa desconhecido,
assim como a vítima teve sua liberdade restringida por tempo juridicamente
relevante, enquanto os ladrões realizavam saques em caixas eletrônicos. Aliás, como
a vítima foi obrigada a fornecer senha de seus cartões bancários, haveria também, em
tese, a prática do crime de extorsão. No entanto, como não foi esse o entendimento
da acusação, nada poderá ser feito.
As penas não comportam ajustes.
A pena-base foi fixada em 1/6 acima do mínimo porque
registrada condenação anterior caracterizadora de mau antecedente (fl. 133
condenação alcançada pelo quinquênio depurador, com pena cumprida em
13.05.2016).
Na segunda fase, sobreveio acréscimo de 1/5, o que se
mostra proporcional à dupla recidiva (fls. 132/133). Ora, é evidente que alguém que
ostenta duas condenações caracterizadoras de reincidência merece ser apendo de
forma mais drástica do que aquele com uma única recidiva, em reverência à
individualização da pena.
Não há se falar em bis in idem porque maus
antecedentes e reincidência são alicerçados em condenações penais distintas. A
esdrúxula tese defensiva no sentido de que a reincidência, por ser mais grave, deve
absorver os maus antecedentes, não comporta guarida. Maus antecedentes e
reincidência incidem em fases distintas das dosagem e cada qual possui critérios
próprios.
Na terceira fase, de forma benevolente, houve aumento
mínimo e 1/3, em virtude das causas de aumente de pena (concurso de pessoas e
restrição de liberdade da vítima).
Réu duplamente reincidente e portador de mau
antecedente, só restava mesmo a imposição do regime prisional fechado, em

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reverência à finalidade preventiva da pena.


O valor fixado a título de indenização a ser pago a
vítima me parece proporcional, pois contempla o prejuízo efetivamente sofrido (R$
1.200,00 sacados da conta corrente da vítima) mais valor equivalente (totalizando R$
2.400,00), decorrente da reparação de danos materiais e morais, uma vez que,
segundo as declarações da vítima, ela precisou se submeter a tratamento
psicoterapêutico após os fatos.
Nesse sentido, acrescenta-se que houve pedido formal
do Ministério Público durante o oferecimento da denúncia (vide fl. 126/128),
pleiteando justamente o valor arbitrado a título de indenização, que abarca os danos
materiais e morais decorrentes dos eventos danosos suportados pela vítima.
No mais, o pedido de justiça gratuita/isenção de custas
processuais não comporta deferimento. Isso porque as custas processuais possuem
natureza jurídica de taxa e decorrem da prestação de serviço público de natureza
forense (Lei Estadual nº 11.608/03, art. 1º). Nas ações penais de iniciativa pública,
uma vez condenado o réu, o pagamento das custas deve ser efetuado perante o Juiz
da Vara onde tramitou o processo (NSCGJ, art. 479, caput), após o trânsito em
julgado da decisão judicial (Lei Estadual nº 11.608/03, art. 4º, § 9º, a), de modo que
eventuais questões referentes à impossibilidade de pagamento devem ser formuladas
perante tal E. Juízo. Neste sentido, a jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de
Justiça:
“O momento de verificação da miserabilidade do
condenado, para fins de suspensão da exigibilidade do pagamento, é na fase de
execução, visto que é possível que ocorra alteração na situação financeira do apenado
entre a data da condenação e a execução da sentença condenatória.” (STJ, Sexta
Turma, AgInt no REsp 1.637.275/RJ, Rel.ª Min.ª Maria Thereza de Assis Moura, j.
em 06/12/2016, DJe de 16/12/2016)
Ante o exposto, NEGA-SE PROVIMENTO ao recurso
defensivo, mantendo-se a r. sentença.
XISTO RANGEL
RELATOR

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