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Segredos do Azul do Mar

De todas as 2,2 milhões de espécies marinhas conhecidas no mundo,


apenas 9% foram descritas, então pode-se dizer que não conhecemos mais de
90% da biodiversidade presente nas praias, falésias, áreas litorâneas e em
outros ambientes costeiros do Brasil.

Ao mesmo tempo, as atividades humanas, tais como a poluição e a


urbanização, têm dificultado cada vez mais o trabalho dos cientistas na
identificação de espécies marinhas. Assim, estudos estimam que a atual
comunidade científica internacional precisaria de aproximadamente 360 anos e
mais de US$260 milhões somente para a identificação desses animais, e o pior
é que a tendência desse cenário é se agravar.

Uma maneira de facilitar o processo de registro das espécies marinhas


seria o DNA Barcoding (Código de Barras de DNA), que consiste em gerar e
catalogar uma etiqueta molecular a fim de identificar a espécie a partir de uma
pequena sequência de DNA. Desse modo, não seria necessário ter o organismo
inteiro, mas apenas fragmentos dos quais se possa extrair o material genético.

É necessário entender e registrar as espécies marinhas pois muitas delas


são de enorme importância biológica e socioambiental. Desde algas, que
produzem até metade do oxigênio presente na atmosfera, até outros organismos
usados como fontes de novas substâncias para a indústria farmacêutica e de
cosméticos.

Exemplos são algumas moléculas isoladas de organismos marinhos,


como a esqualamina (substância isolada das vísceras do tubarão Squalus
acanthus, que pode ser um agente antitumoral pois inibe a angiogênese,
mecanismo de crescimento de novos vasos sanguíneos a partir dos já
existentes, o que favorece a difusão de células tumorais. Uma outra substância
que pode ser útil contra o câncer é a ecteinascidina-743, isolada da
Ecteinascidia turbinata, invertebrado esponjoso que vive grudado a rochas, e
que pode ser usada na quimioterapia para danificar o material genético de
células tumorais.
Apesar de apresentar uma riqueza e diversidade impressionante de
espécies marinhas, temos outro problema: no Brasil, a área de zona costeira e
marinha abrange 4,5 milhões de km², dos quais cerca de 34% são considerados
como áreas prioritárias para conservação pelo Ministério do Meio Ambiente.
Entretanto, em termos burocráticos, somente 1,8% está de fato sob proteção de
Unidades de Conservação Marinha, e isso não implica necessariamente que
essas unidades funcionem eficientemente, que tenham sido bem demarcadas
cientificamente ou que estejam protegidas dos impactos antrópicos.

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