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livro arte santeira do piaui.

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Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Cultura
Juca Ferreira

Presidente do Iphan
Luiz Fernando de Almeida

Diretora de Planejamento e Administração


Maria Emília Nascimento Santos

Diretora de Patrimônio Imaterial


Marcia Sant’Anna

Diretor de Patrimônio Material e Fiscalização


Dalmo Vieira Filho

Diretora de Articulação e Fomento


Márcia Rollemberg

Superintendente do Iphan no Piauí


Diva Maria Freire Figueiredo

Supervisor Técnico do INRC Arte Santeira -


Iphan no Piauí
Ricardo Augusto Pereira

Coordenadoras do INRC Arte Santeira


Áurea Pinheiro
Cássia Moura

Realização do INRC Arte Santeira do Piauí


Educar: artes e ofícios
Copyright@2009 by Iphan

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Textos
Áurea Pinheiro
Fotografias
Cássia Moura
Capa, Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica
765
Fotografias Santeiros
Cássia Moura
Márcio Vasconcelos
Transcrição Entrevistas
Adriana Pinheiro Moura
Revisão
Rosa Pereira
Editor
Educar: artes e ofícios

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[...] comecei fazendo também ex-votos. [...]. A pessoa faz uma

promessa pra São Francisco, como tem em São Gonçalo, no

Ceará, tem Santa Cruz dos Milagres, São Francisco de Canindé,

tudo isso eu fiz muitas peças pra aquelas pessoas pagarem a

promessa. Fiz cabeças, braços, pernas [...] o corpo da pessoa

todinho, e fui continuando. Eu nunca abandonei [...] hoje, eu

venho trabalhando na Arte Santeira, tenho uns trabalhos que

como você sabe, tem um valor mais alto [...] Muitas vezes, se a

pessoa não puder [pagar pelo ex-voto], eu dou e assim eu venho

continuando porque foi assim que eu comecei e continuo [...]

Sou feliz da vida com ela [Arte Santeira], é tanto que o pessoal

me chama de artesão, alguns me chamam de escultor, é difícil,

mas eu gosto que me chamem mesmo de Santeiro. [...].1

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SUMÁRIO

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artesãos,
escultores, santeiros

Narramos histórias imersas no

contexto do ofício e modos de fazer

da Arte Santeira do Piauí. Histórias

presentes nos bairros das cidades

de Teresina, José de Freitas, Campo

Maior, Pedro II e Parnaíba. Histórias

de artesãos, escultores, entalhado-

res, santeiros. Homens que vivem

como artesãos e têm um modo sin-

gular de produzir a Arte Santeira.

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arte santeira do piauí

O trabalho nos permitiu compre- instrumento indispensável no pro-


ender que não existem histórias sem cesso de identificação e documen-
sentido e que é preciso encontrá-las tação de bens culturais; ferramenta
até mesmo onde os outros não as que possibilita a preservação e salva-
veem. guarda de bens culturais de natureza
Apresentamos o resultado da material e imaterial.
pesquisa com o Manual de Aplicação,
O INRC é, antes, um instrumento de conheci-
ferramenta teórico-metodológica do mento e aproximação do objeto de trabalho do
INRC – Inventário Nacional de Refe- Iphan, configurado nos dois objetivos principais
que determinaram sua concepção:
rências Culturais para identificação,
1. identificar e documentar bens culturais, de
documentação e registro da Arte San- qualquer natureza, para atender à demanda pelo
teira do Piauí na categoria ofício e reconhecimento de bens representativos da diver-
sidade e pluralidade culturais dos grupos formado-
modos de fazer. res da sociedade; e
O Manual de Aplicação foi produ- 2. apreender os sentidos e significados atribuídos
zido sob a coordenação do antropó- ao patrimônio cultural pelos moradores de sítios
tombados, tratando-os como intérpretes legítimos
logo Antônio Augusto Arantes [2000]. da cultura local e como parceiros preferenciais de
O INRC é considerado pelo Iphan um sua preservação.2

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A pesquisa foi realizada por Edu- dos santeiros, localizados nos municí-
car: artes e ofícios em parceria com os pios de Teresina, Campo Maior, José
pesquisadores do Grupo de Pesquisa de Freitas, Pedro II e Parnaíba.
– CNPq, “Memória, Ensino e Patrimô- O conhecimento e documenta-
nio Cultural”, da Universidade Federal ção produzidos subsidiarão o Iphan
do Piauí e Associação Nacional de His- - Piauí nas ações de salvaguarda
tória – ANPUH – Seção Piauí. referentes à Arte Santeira, além de
A equipe de trabalho teve natureza fornecer elementos para o processo
interdisciplinar. Colaboraram com o tra- de registro do bem no “Livro de
balho historiador, produtor audiovisual, Registro dos Saberes”, como esta-
fotógrafo, documentarista e administra- belece o Decreto nº 3.551, de 04 de
dor; da equipe participaram, ainda, alu- agosto de 2000:
nos do Curso de Graduação em Histó-
ria e Direito da UFPI. Artigo 1º - Fica instituído o Registro de Bens Cultu-
rais de Natureza Imaterial que constituem patrimô-
O projeto original foi uma inicia- nio cultural brasileiro.
tiva do Iphan no Piauí. O trabalho Parágrafo 1º Esse registro se fará em um dos
realizado privilegiou: o levantamento seguintes livros:
I - Livro de Registro dos Saberes, onde serão ins-
preliminar, a identificação e a docu- critos conhecimentos e modos de fazer enraizados
mentação do ofício e modos de fazer no cotidiano das comunidades [...]3

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Estivemos atentos para as ao Presidente do Instituto do Patrimônio Histórico


e Artístico Nacional – Iphan, que as submeterá ao
demandas e necessidades próprias Conselho de Patrimônio Cultural.5
dos sujeitos com os quais convivemos
ao longo da pesquisa – os artesãos
O trabalho inicial da equipe se
santeiros. Acompanhamos de perto a
caracterizou pelas seguintes ativida-
elaboração do pedido de registro da
des, denominadas pelo Manual de
Arte Santeira do Piauí no Livro dos
Aplicação de etapa de levantamento
Saberes, que foi entregue ao Ministro
preliminar: estudo e familiaridade com
da Cultura [para encaminhamento ao
o Manual de Aplicação; construção
Presidente do Iphan] por representan-
dos referenciais teóricos: memória,
tes do Conselho de Jovens Artesãos,
cultura, identidade, arte, bens e patri-
do Memorial Mestre Dezinho e da pri-
mônio cultural; pesquisa bibliográ-
meira geração de santeiros do Piauí,
fica e contatos preliminares com os
em maio de 2008.4
santeiros nas localidades objeto do
Artigo 2º - São partes legítimas para provocar a inventário.
instauração do processo de registro: [...] A metodologia da História Oral6
IV – Sociedades ou associações civis
Artigo 3º - As propostas para registro, acompanha- foi utilizada para complementar os
das de sua documentação técnica, serão dirigidas instrumentos de pesquisa presentes

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no Manual de Aplicação e realizar os Mestre Expedito [contemporâneo


registros dos trabalhos de campo. Prio- de Mestre Dezinho].
rizamos as entrevistas temáticas com Realizamos as entrevistas nas
os santeiros, destacando o ofício e os oficinas dos santeiros. Mestre Kim
modos de fazer. A inserção dessas dife- esteve, ao longo das entrevistas con-
rentes vozes em nosso texto, ainda que cedidas, recuperando as obras produ-
transcritas e manipuladas segundo as zidas por Mestre Dezinho, nos anos
orientações do Manual de Aplicação, setenta do século XX, para a Igreja de
pretende ampliar a abordagem do dis- Nossa Senhora de Lourdes, no Bairro
curso científico em direção a interpre- Vermelha, em Teresina. Realizou o tra-
tações outras, advindas dos próprios balho de restauro na oficina localizada
praticantes da Arte Santeira. no Memorial Mestre Dezinho. Acom-
Os primeiros contatos e entre- panhamos, também, Mestre Expedito8,
vistas foram realizados com Joa- que restaurava as obras que produziu
quim José Alves, mais conhecido para a mesma Igreja nos anos 1970.
como Mestre Kim [hoje mestre, Com os dois mestres, acompanhamos
mas, no final de 1970, aprendiz de as etapas de produção de uma peça-
seu tio e sogro, Mestre Dezinho, escultura [desde a seleção da matéria-
personagem central na história da prima, produção e acabamento, emba-
Arte Santeira do Piauí, represen- lagem e comercialização].
tante da primeira geração de san- Ao longo da pesquisa, entrevista-
teiros],7 e com Expedito Antônio mos artesãos de diversas faixas etárias,
dos Santos, mais conhecido como nas cinco localidades selecionadas.

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Artesãos em plena atividade, aposen- expressões devocionais recorrentes


tados, aprendizes, artesãos que vivem de um diálogo entre as diversas cul-
somente da Arte Santeira, outros que turas que forjaram e têm reelaborado
dividem o tempo com atividades com- temporalmente a identidade brasileira
plementares como agricultura, serviço e nordestina em particular.
público e comércio – foi esse o uni- O trabalho de campo nos colocou
verso multifacetado dos sujeitos com desafios de método e epistemológico,
os quais dialogamos – ofício cotidiano sobretudo, no que tange à produção
e artefatos que produzem. de conhecimento sobre o Outro. Como
O estudo de fontes secundárias, estabelecer um diálogo entre os pesqui-
as entrevistas temáticas e a convivên- sadores e os praticantes da Arte San-
cia com os informantes permitiram ler a teira, os produtores dos bens culturais
Arte Santeira como um artefato repre- que inventariamos? Como estabelecer
sentativo da cultura local-regional e, uma comunicação entre os praticantes,
por conseguinte, brasileira. As entre- informantes, interlocutores, mediadores
vistas, mesmo privilegiando questões- e os processos de produção?
problemas, nos possibilitaram conhe- Não é nossa pretensão ser autori-
cer as trajetórias de vida dos santeiros, dade no inventário, mas sermos capa-
que têm a sua arte assinalada por uma zes de promover uma autorreflexão e
religiosidade popular típica do Nor- compreensão sobre o que vimos, ouvi-
deste brasileiro, com vivências e expe- mos e sentimos na experiência com
riências rurais e urbanas; marcadas o trabalho de campo para a produção
por uma espiritualidade bem peculiar, dos registros audiovisuais e textuais.

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Sabemos que essa postura autorrefle- que a submete à mudança. Não temos
xiva nos permitiu detectar continuida- como apreender a totalidade e com-
des, permanências, rupturas, memórias plexidade do real, daí porque a nossa
subterrâneas e muitas vezes em dis- descrição, mesmo que pretensamente
puta; o que nos impõe desafios éticos densa9, será parcial. Sabemos que as
enquanto pesquisadores, pois temos memórias capturadas são trabalha-
consciência de que o texto que produzi- das e permeadas de ressentimentos,
mos aqui será o produto reflexo de uma conflitos, experimentos e vivências
síntese, organização e interpretação de construídas ao longo do tempo e de
dados e que não estaremos isentos do gerações. Como orienta a discussão
nosso lugar social de fala. norteadora do INRC, nosso intento é
Estamos convictos de que o mate- captar o ofício, os modos de fazer, os
rial que produzimos [palavras e ima- sentidos e os significados que os arte-
gens] não é capaz de repor a origina- sãos lhe atribuem no momento parti-
lidade da realidade vista, vivida e sen- cular da história em que estamos inse-
tida no trabalho de campo, levando-se ridos, isto é, percebendo a sedimenta-
em consideração o conjunto de variá- ção de experiências e contribuições do
veis das quais a pesquisa pode even- passado, mas aceitando a abertura da
tualmente não dar conta, e a própria Arte Santeira às mudanças e desafios
inscrição da cultura na temporalidade, de nosso tempo.

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o piauí
da arte santeira

O Piauí de onde falamos está

localizado a noroeste da Região Nor-

deste, na sub-região chamada Meio-

Norte do Brasil. Possui uma área de

251.529,186 Km². Sua capital é Tere-

sina. O Estado tem uma população

estimada em 3.036.290 habitantes.

Nas localidades de Teresina, José

de Freitas, Campo Maior, Pedro II e

Parnaíba há uma maior concentração

de mestres e aprendizes do ofício e

modos de fazer da Arte Santeira.

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arte santeira do piauí

A colonização do Piauí se deu social aristocrática e interiorana que


a partir de meados do século XVII, marcou a história deste espaço.
pelos movimentos de expansão da A formação histórica do Piauí se
pecuária e de interiorização dos caracteriza, também, pela forte pre-
espaços coloniais da América Por- sença dos missionários franciscanos
tuguesa. Atraídos pela largueza das e jesuítas. Como em todo o Brasil, a
terras, pela abundância dos rios - Igreja Católica acompanhava a con-
condições propícias para a criação quista dos espaços coloniais portugue-
extensiva do gado -, contingentes de ses pela evangelização e catequese
desbravadores se espalharam pela dos índios e pelos serviços religiosos
área intermediária entre a bacia do prestados aos colonos.
rio São Francisco e a região do Mara- No Piauí, a atuação da Igreja
nhão. Tornaram-se donos de currais, Católica nos séculos XVII e XVIII pre-
expulsaram e dizimaram as popula- cedeu a constituição das vilas e cida-
ções indígenas, e conquistaram as des, pois, antes da instalação oficial
terras, constituíram as elites locais da Capitania de São José do Piauí, os
que se mantiveram secularmente missionários já pregavam aos índios e
à frente da organização política e faziam as desobrigas, percorrendo o

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sertão e administrando os sacramen- cissões e nos festejos de padroeiros


tos, quando as fazendas foram fixadas. em cidades do interior.
A própria administração do Piauí colo- Quando no início do século XX,
nial, baseada na fundação de vilas, foi a Diocese do Piauí foi criada, buscou
montada de acordo com a preexistên- ordenar e direcionar o trabalho cate-
cia de freguesias, em diferentes e dis- quético sobre as populações locais,
tantes lugares do território piauiense, tendo em vista que muitas das práti-
pois onde havia uma freguesia cató- cas religiosas populares eram preca-
lica, passou a existir uma vila e, futura- riamente organizadas pelas irmanda-
mente, uma cidade. des leigas no século XIX.
Essa marca da presença católica Ainda no período colonial, o Piauí
é responsável pelo substrato cultural esteve politicamente sob jurisdição da
profundamente religioso que perma- Bahia e depois do Maranhão. A posse
necerá, com modificações e interfe- e propriedade das terras eram regu-
rências, na formação cultural do Piauí, lamentadas por cartas de sesmarias.
nas formas de religiosidade popular, A pecuária foi desenvolvida também
nas práticas devocionais como na pela ação dos padres jesuítas, da
reza do terço, nas novenas, nas pro- Companhia de Jesus, no século XVIII,

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momento em que atingiu ponto de luta dos vaqueiros e roceiros contra o


maior desenvolvimento. Diferentes domínio português. A Batalha do Jeni-
espaços do Brasil, como o Maranhão, papo [1823], como, posteriormente, a
o Ceará e as províncias do sul eram Balaiada [1838 e 1841], revelou o con-
abastecidos pelos rebanhos origi- junto de tensões latentes no meio rural
nários do Piauí, até a expulsão dos piauiense, advindas de sua formação
jesuítas quando suas fazendas foram oligárquica e da manutenção das hie-
incorporadas à Coroa e entraram em rarquias sociais no sertão.
declínio. Em 1811, o Piauí tornou-se Em 1852, o Piauí, cuja capital era
uma capitania independente.10 Oeiras, no centro do território, fixada
No século XIX, a pecuária em pleno sertão, teve inaugurada sua
piauiense entrou em franca e pro- nova capital, Teresina, situada na foz
gressiva decadência, devido, princi- do rio Parnaíba e planejada para abrir
palmente, a seu caráter rudimentar e a economia e a sociedade piauiense
às sucessivas crises de mercado. Foi às comunicações e aos contatos
o período, também, em que o Brasil comerciais com o restante do Impé-
se tornou independente de Portugal, rio brasileiro. Apesar de desbancar
e em que o Piauí se destacou na o comércio da cidade de Caxias, no

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Maranhão, e ser ponto de contato trializados. Apesar de conectar as


mais próximo com a Europa e com margens do rio Parnaíba e muitos
o litoral, Teresina não logrou superar trechos do interior do Piauí ao comér-
o caráter interiorano da sociedade cio com outros países, o extrativismo
piauiense, que perduraria ainda por reproduzia a estrutura dominante na
muitas décadas e até bem recente- sociedade piauiense, caracterizada
mente, quando persiste misturado às pelo latifúndio e pelas relações de
sociabilidades e hábitos urbanos vin- apadrinhamento no campo.
dos de fora. A Segunda Guerra assinalou a
Na virada para o século XIX e decadência do extrativismo, que já
nas primeiras décadas do século sofria diversas baixas em suas expor-
XX - período também da mudança tações. Nos anos 1950, o Piauí sofreu
do regime monárquico para a Repú- um de seus piores momentos sociais
blica -, o Piauí se inseriu na dinâmica e econômicos: a pecuária, como eco-
capitalista internacional, através da nomia tradicional, estava esfacelada;
economia extrativa da maniçoba, da o extrativismo já não trazia ao Estado
carnaúba e do babaçu, que fornecia a mesma renda; a agricultura sofria os
matéria-prima para os países indus- impactos de sua recente introdução

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maciça e arbitrária no meio geográ- vescente em que o Piauí assistia à


fico piauiense, pois, pela falta de aco- decadência efetiva da pecuária, saía
modação do solo, sobrevinha a seca da predominância da economia extra-
sobre o sertão; a população piauiense, tiva e buscava se integrar ao Nordeste
em sua maioria rural, como o restante e ao território brasileiro por meio da
do Brasil naquele momento, padecia construção de rodovias intermunici-
com a crise de modo mais acentuado pais, interestaduais e da luta por patro-
que as elites. cínio do Estado nacional.
Quando falamos em Arte Santeira O Piauí, por meio da Superin-
do Piauí é possível encontrar grande tendência para o Desenvolvimento
número de artesãos provenientes de do Nordeste [SUDENE] e do Banco
famílias pobres do meio rural, que tra- do Nordeste do Brasil [BNB], buscou
balhavam como agricultores, vaquei- apoio político e financeiro para se
ros e agregados. No meio sertanejo erguer da crise, para a construção de
piauiense, o artesão geralmente é uma infraestrutura produtiva mínima
aquele que não se adaptou, ou não que o pusesse na marcha do desen-
escolheu, as atividades econômicas e volvimento, que o modernizasse e
culturais tradicionais, como a roça e o o retirasse da condição de unidade
trato com o gado, tendo buscado apren- federativa “mais pobre do Brasil”,
der uma ocupação própria e autônoma, como era proclamado até então.
como a marcenaria e a carpintaria.11 São aspectos como esses que
A Arte Santeira ganhou impulso nos levam a perceber a divulgação da
nos anos 1950 e 1960, período efer- Arte Santeira em meio a uma série de

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mudanças culturais do século XX que rino Vieira de Melo, dos anos 1920 aos
tornavam o Piauí, assim como o Brasil anos 1950, buscou reordenar sua hie-
inteiro, cada vez mais populoso, mas- rarquia e repensar suas relações com
sificado e, especialmente, urbano. os diferentes grupos da sociedade.
A Arte Santeira se desenvolve Mas é na administração de Dom Avelar
inscrita, naquele momento, com o Brandão Vilela, a partir do fim dos anos
registro de uma série de experiências 1950, que a instituição eclesiástica atu-
históricas, tais como a urbanização alizou suas práticas com as demandas
da capital piauiense, o fluxo migra- e com a realidade dos diferentes grupos
tório que esvaziava o campo e, mais sociais, incluindo aí toda a dimensão da
especificamente, a permanência da religiosidade popular. É nesse sentido
cultura do ex-voto, a atenção que a que vamos encontrar a Arte Santeira do
Igreja Católica passava a dedicar aos Piauí, quando de seu desenvolvimento
grupos e práticas populares, sobre- e visibilidade junto a uma prática emi-
tudo, a partir do Concílio Vaticano II, e nentemente popular, as trocas simbóli-
o próprio incentivo, dos anos 1970 em cas entre santos e fiéis, materializadas
diante, à busca e ao conhecimento nos ex-votos, estimulada e promovida
dos elementos rústicos que pudessem diretamente por clérigos piauienses,
caracterizar uma identidade piauiense como o próprio Dom Avelar e o Padre
tipicamente sertaneja e regional. Francisco Carvalho, pároco construtor
Com efeito, a Igreja Católica no da Igreja de Nossa Senhora de Lour-
Piauí, desde a atuação de Dom Seve- des, em Teresina.12

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mestres
e aprendizes

Vestígios de artistas populares

ligados à Arte Santeira remontam

aos tempos de ocupação do territó-

rio piauiense, quando os jesuítas ini-

ciaram o processo de catequese das

populações que habitavam a região,

momento em que os rituais tradicio-

nais católicos se misturaram à devo-

ção popular de culto às imagens,

novenas, procissões e pagamento de

promessas com a produção de ex-

votos, capelas e altares domésticos.

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arte santeira do piauí

Essa contribuição cultural de escravos e índios ter- depois, o povoado Tanque, município de Oeiras
se-á materializado, sobretudo, na construção dos [...] Como é natural em pequenas comunidades
templos e em sua decoração. Na talha de retábulos agrárias de nosso interior, iniciou-se o futuro
e confecção das peças do culto coletivo e que ali- mestre que é apenas alfabetizado, como lavra-
dor, atividades que partilharia, já a partir dos anos
mentavam, até o advento dos moldes para gesso, a
quarenta, com o comércio ambulante. O fato é
infinidade de oratórios domésticos de que viveu a fé
de significativa importância para o nosso estudo,
de uma colônia obcecada pela ideia de pecado. portanto essas viagens do pequeno comer-
Notáveis foram, desde o início da colonização, as ciante - que o levaram, muitas vezes a Juazeiro
reinterpretações artísticas de concepções euro- do Norte e Canindé, no Ceará - terão ensejado
peias, por mestres nativos; como notáveis os mes- contatos mais frequentes e mais próximos com
tres artistas do povo que, no interior mais distante, mestres santeiros das referidas cidades (centros
criaram as imagens de que o culto não prescindia regionais de peregrinação) e suas oficinas arte-
e a pobreza material das comunidades não permi- sanais [...]. A técnica usada foi a do entalhe com
faca e “ferro de volta”, instrumento desenvolvido
tia importar.13
pelo próprio artista. A madeira preferida, o cedro
[...]. Para as encarnações, utilizava-se da tinta
Dagoberto Carvalho Júnior indica a óleo mais facilmente encontrada no comércio
incipiente da região.14
exemplo do santeiro popular que loca-
lizou no Piauí:
Outro artista santeiro apontado
Nasceu Pedro Xavier Nunes em 15 de agosto de pelo historiador Carvalho Júnior é
1907, no lugar Chapada dos Nunes que integrou, Loreno Antônio da Cunha (1848-1929).

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Para o pesquisador, o primeiro artista Como a grande maioria dos artistas populares, não
assinava seus trabalhos e, como outro tanto, nem
popular historicamente documentado. uma marca de identificação adotou. Aceitou inú-
meras encomendas tendo sido, coincidentemente,
Loreno Cunha esculpiu sua primeira imagem com uma Santa Luzia a primeira que vendeu.15
quinze anos. A partir de então sua atividade no setor
não foi contínua pela falta de profissionalismo, mas foi
constante pela intuição artística que lhe marcou a vida Podemos citar ainda o caso do
de agropecuarista bem sucedido. Sua curiosidade o
faria ainda hábil mecânico - também neste caso mais artista popular Sebastião Mendes,
para suprimento de necessidades locais - de relógios nascido em terras do Piauí, respon-
e máquinas de costura. Mas, foi, efetivamente como
santeiro que preencheu as horas de lazer e realizou- sável por esculpir as portas da Igreja
se do ponto de vista intelectual [...].
Esculpiu aproximadamente cento e cinquenta ima-
de São Benedito, edificada pelos
gens desde aquela Santa Luzia de 1863. Essa pre- fiéis sob a coordenação e incentivo
dileção pela protetora dos olhos seria constante em
sua vida e em sua arte, tendo sido da referida santa o
do frei capuchino Serafim de Catâ-
maior número de peças que trabalhou, algumas des- nia, no final do século XIX.
sas imagens primorosamente entalhadas [...] Usava,
de preferência, a cajazeira e o instrumento foi sempre
Na imaginária produzida pelos
o canivete. O acabamento (pintura) era feito com as artistas populares está presente
grosseiras tintas de que dispunha. Na arte, não teve ainda o ex-voto, que designa uma
mestre. Iniciou-se e promoveu-se pela intuição cria-
dora, tendo a inspirar-lhe, além do velho e rico orató- variedade de objetos doados por
rio doméstico, bonitas gravuras à época importadas. fiéis aos santos de sua proteção

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como forma de agradecimento por um a produção de ex-votos se popularizou


pedido atendido. A prática de trocas e ficou a cargo de artesãos e artífices
simbólicas entre o santo e o devoto é anônimos, que residem próximo aos
uma manifestação artístico-religiosa santuários, lugares de peregrinação
que se liga diretamente à arte religiosa ou aos devotos que encomendavam
as peças. Mestre Dezinho e Mestre
e popular desde os primórdios da colo-
Expedito, santeiros emblemáticos na
nização portuguesa no Brasil. Arte Santeira do Piauí, produziram, ao
As motivações do presente votivo longo de suas vidas, ex-votos. O san-
são muitas. No Piauí, os pedidos mais tuário de Santa Cruz dos Milagres no
recorrentes são quanto à cura de doen- Piauí é um desses lugares de peregri-
ças e se materializam em esculturas nação que recebe grande variedade
produzidas por artesãos santeiros, que de objetos trazidos pelos romeiros que
esculpem em madeira as partes do ali se dirigem para pagar promessas.
corpo afetadas por moléstias – perna, No Piauí, desde o século XVIII,
cabeça, mão, coração etc. Essas formas de convívio, sociabilidade e
vivências revelavam a existência de
esculturas produzidas em madeira são
práticas religiosas de cultos domésti-
deixadas pelos fiéis em locais públicos cos com o uso de altares particulares
– capelas ou sala de milagres. produzidos em madeira. Os equipa-
Com o processo de colonização mentos da moradia colonial, móveis e
portuguesa no Brasil e no Nordeste bra- apetrechos produzidos em madeira já
sileiro, a prática de trocas simbólicas, informam sobre a existência de artí-

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fices da produção de oratórios em santo anjo da guarda ou do santo onomástico;


madeira etc. “[...] as capelas [...] que uma pequena concha com água benta; o rosário
reuniam os membros do domicílio, dependurado na própria cabeceira da cama.
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incluindo os escravos, foram sendo


substituídas pelos oratórios, coloca- Construindo o panorama religioso
dos em nichos nas paredes ou nos do Brasil Colonial, Mott ainda destaca
quartos (oratórios portáteis) para uso o fervor religioso de alguns católicos:
individual [...]”16.
“O testamento do sertanista Domingos
Para Luiz Mott:
Afonso Mafrense (1711) é especial-
[...] Em muitas casas urbanas do Brasil antigo,
mente ilustrativo nesse particular: dei-
conforme fixou a tradição oral, podia-se ver uma xou à Companhia de Jesus dezenas de
cruzinha de madeira pregada à porta de entrada; fazendas no Piauí e riquíssimos imóveis
nas zonas rurais, um mastro, com a bandeira de
um santo, revela aos visitantes a preferência da na cidade da Bahia em troca de que lhe
devoção familiar. Dentro de casa, uma série de celebrassem todos os dias, ‘até o fim
imagens, quadros e amuletos sinalizam a pre-
sença do sagrado no espaço privado do lar.
do mundo, uma missa pelo descanso
No Brasil colonial, seguindo o costume português, eterno de sua alma.”
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desde o despertar o cristão se via rodeado de lem- No Piauí, o caráter religioso e


branças do Reino dos Céus. Na parede contígua
à cama, havia sempre algum símbolo visível da fé devocional foi plantado pelos primei-
cristã: um quadrinho ou caixilho com gravura do ros missionários jesuítas, que trouxe-

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ram a arte erudita e a apresentaram anjos e santos, nas procissões e nas


aos nativos, que, usando a inventivi- promessas foi e ainda é elemento
dade cabocla, se apropriaram de seu marcante da religiosidade e espiritua-
conteúdo para criar manifestações lidade da sociedade piauiense desde
artísticas presentes nos retábulos das a colonização. Procissões ao Santu-
igrejas do Piauí, como é o caso dos ário de Santa Cruz dos Milagres - PI e
templos católicos de Nossa Senhora Oeiras - PI [Procissão de Bom Jesus
da Vitória e Nossa Senhora do Rosá- do Passos]19, às cidades de Canindé
rio na cidade de Oeiras. e Juazeiro, no Ceará, têm feito parte
O pesquisador da história da arte, do calendário litúrgico, devocional e
Dagoberto Carvalho Jr., aponta que a turístico de grande contingente da
religião católica no Piauí foi marcada população piauiense, sobretudo, do
desde os primórdios da colonização meio rural, deixando marcas pro-
por práticas devocionais, com a pre- fundas nas práticas religiosas e nos
sença de novenas, promessas e ora- ambientes urbanos.
tórios particulares. Nesse sentido, a origem da Arte
A devoção popular, manifestada Santeira do Piauí pode está ligada à
e ritualizada no culto a imagens de arte popular de talhar, esculpir anjos,

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santos e confeccionar ex-votos, tam- não cobrava o pagamento.20 Ainda nos


bém chamados “milagres”, fabricados dias atuais, muitos artesãos se dedicam
sob encomenda dos fiéis e utilizados à prática de confecção de ex-votos,
com fins religiosos. devido à procura de fiéis católicos que
A pesquisa constatou que foram frequentam igrejas e lugares de pere-
vários os artesãos, com destaque para grinação e ali depositam o objeto-sím-
aqueles da primeira e segunda gera- bolo de sua promessa.
ção de santeiros, que começaram pro- Do ex-voto [fragmento isolado do
duzindo cabeças, pés, mãos e demais corpo, por vezes sem maiores deta-
“pedaços” do corpo humano para o lhes ou cuidados de acabamento],
pagamento de promessas em templos surgiram os “corpos inteiros”, como o
e santuários católicos. Essa prática, Cristo da Igreja de Nossa Senhora de
inclusive, era uma espécie de oferta Lourdes, em Teresina, obra de José
religiosa não apenas para o fiel, que de Oliveira, o futuro Mestre Dezinho,
encomendava o ex-voto e o depositava encomendada pelo Padre Francisco
na Igreja, santuário ou sala de milagres Carvalho, na virada dos anos 1960 e
como gratidão por um pedido recebido, 1970, quando o templo ainda estava
mas para aquele que fabricava a peça e em fase de conclusão.

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Simultaneamente à atividade de direções, o que hoje chamamos Arte


Mestre Dezinho, outros sujeitos de Santeira emergia em diferentes pon-
origens sertanejas exerciam traba- tos do meio rural e urbano do Piauí,
lhos manuais, como os de marce- levando os artesãos a conhecerem,
neiro, sapateiro e também confeccio- através da confecção do ex-voto, um
navam ex-votos no interior do Piauí, prévio aprimoramento de técnicas, o
em meados dos anos 1950 e 1960, manejo das ferramentas e a necessá-
como Expedito Antônio dos Santos ria sensibilidade com a madeira.
[Mestre Expedito], José Joaquim de Nos anos 1970, a Arte Santeira
Araújo [Mestre Araújo], José Guler- do Piauí ganhou extraordinário des-
dúcio dos Santos [mais conhecido taque e repercussão. No contraditório
como Guilherme], Francisco das Cha- período em que a intervenção urbana
gas Ribeiro [Mestre Ribeiro] e Ageu modernizava Teresina e desestabili-
Alves de Melo [Mestre Ageu], os dois zava as relações sertanejas tradicio-
primeiros do município piauiense de nais pela migração e pelo comércio, e
Domingos Mourão e os três últimos do quando se intensificavam as práticas
município de Parnaíba. Como numa no sentido da criação de uma cultura
rede ou uma constelação de muitas midiatizada, conectada aos padrões de

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consumo internacionais e permeada ao longo dessa década, com as escul-


pelos sons e imagens trazidas pelas turas de Mestre Dezinho - a imagem de
telecomunicações - como a televisão e Nossa Senhora de Lourdes, de Santa
a ampliação espacial das linhas telefô- Bernadete, do Cristo Crucificado, o
nicas em todo o Brasil -, as manifesta- altar, os anjos e arcanjos; a porta e um
ções culturais de origem popular e de mural entalhado, de Mestre Expedito.
caráter rústico ganhavam destaque. Esse acervo rico e único conferia
Mestre Dezinho, dentre outros a Mestre Dezinho, em particular, reco-
artesãos, passou a produzir efetiva- nhecimento em todo o Estado, sobre-
mente esculturas de “corpo inteiro”, tudo, depois que outras esculturas
apesar de ainda produzir ex-votos. As suas alcançaram destaque nacional e
peças esculpidas e entalhadas invadi- internacional, nas exposições de que
ram lugares públicos, prédios, igrejas, participou no Brasil e exterior, dentre
além das casas de particulares, que as quais a do Centro Domus de Milão,
encomendavam esculturas e se torna- em 1972; a Bienal de Arte Popular de
vam colecionadores. O acervo da Igreja Bratislava, em Israel, no mesmo ano;
de Nossa Senhora de Lourdes, em a mostra Brasil Export, em 1973, em
Teresina, é definitivamente montado, Bruxelas; a Bienal Nacional de 1974,

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em São Paulo; dentre outros even- Cheguei aqui em 1970, em Teresina. Continuei
a trabalhar, antes disso, eu tive um convite da
tos no Rio de Janeiro, Pernambuco esposa do governador, que era o Dr. Euclides
e Estados Unidos.21 Afirmando a ori- Nunes de Barros, a esposa dele me convidou,
era um trabalho pra o Prefeito lá da minha terra,
gem de sua arte e a inspiração para a [...] Raimundo de Oliveira. Eu apresentei um
produção das peças, Mestre Dezinho trabalho na Feira dos Municípios aqui em Tere-
sina, esse trabalho pegou bem, eu ganhei o pri-
dizia, em entrevista de 1974, ao jor- meiro lugar no serviço manual e essa esposa do
nal O Dia, de Teresina, que sua arte governo me convidou pra vir pra Teresina, ensi-
nar a minha profissão a um grupo de meninos.
era “do povo do Piauí”, uma forma de [...] Eu cheguei aqui em 1970 e fui ensinar um
divulgação de sua terra pelo mundo, grupo de meninos [...]23
através da exportação.22
Entrementes, outros artesãos, Aprendizado de forma espontânea,
como Mestre Expedito e Mestre Araújo, outras vezes incentivada, fez com que
produziam também suas imagens de surgisse, no final dos anos 1970 e início
santos, na capital e no interior do Piauí, dos anos 1980, uma segunda e, pos-
sob o mecenato de padres, bispos e teriormente, uma terceira geração de
políticos, que estimulavam também a artesãos. Vizinhos, familiares dos san-
transmissão do ofício para os jovens. teiros mais velhos, como filhos e sobri-
Como diz Mestre Expedito: nhos, ou mesmo pessoas sem relação

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direta com os pioneiros começam a À medida que os artesãos eram


aprender o ofício e modos de fazer da celebrados e se tornavam “Mestres,
Arte Santeira do Piauí. Assim como os indivíduos do interior e da capital
pioneiros, muitos membros da segunda como Joaquim José Alves, Rai-
geração vieram do interior com suas mundo Ferreira Lima [Mestre Dim],
famílias, necessitando estabilizar-se José Pascoal de Araújo Pereira [Pas-
financeiramente nas cidades, sobre-
coal], Raimundo Nonato Costa Filho
tudo, em Teresina. Sem ter condições
[Costinha], João Pereira de Oliveira
de estudar ou acessar níveis maiores
[Joãoliveira] e José Wilson Ibiapina
de instrução, muitos indivíduos se tor-
[Ibiapina] aprendiam os modos de
naram artesãos, incorporando a Arte
Santeira em seu cotidiano, adotando o fazer espontaneamente ou por fre-
artesanato como fonte de renda, meio quentarem as oficinas dos mestres.24
de vida e inserindo-se no mercado; isso É o que se percebe pelos depoimen-
sem contar os aspectos lúdicos, artísti- tos de Costinha e de Mestre Dim,
cos e por vezes religiosos que caracte- a respeito de seu aprendizado com
rizam a atividade dos santeiros. Mestre Dezinho:

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Bem, eu praticamente comecei com o Mestre são e manutenção do ofício e modos


Dezinho, eu vou começar logo do começo, come-
cei com o Mestre Dezinho, varrendo a oficina dele,
de fazer, não tanto por preservar suas
depois comecei lixando, depois comecei a escul- formas incólumes e cristalizadas, mas
pir. [...] Cheguei lá, ele me perguntou se eu queria
trabalhar pra aprender ou pra ganhar dinheiro e eu
por confrontar esses modos de fazer
disse, pra aprender.25 com o tempo, ressaltando a pertinência
da continuidade da Arte Santeira como
[...] chegou um tempo e ele [Mestre Dezinho] foi me
ensinando aos pouquinhos porque eu já fazia aqui referência cultural seja para os arte-
sozinho [...] eu sempre dava um jeito de ir pra lá, sãos, que dela sobrevivem, seja para
na casa do Mestre Dezinho porque lá era melhor
[...]. Daí eu fui e nunca deixei de andar lá, é como o Piauí, pela projeção que a exporta-
se fosse um pai porque me aceitou na casa dele ção e a exposição das peças confe-
e eu sempre digo [...] você tem que começar do
chão, a lixar as peças pra saber como dar um bom rem ao Estado, seja, particularmente,
acabamento. Lixar tudo. Eu passei muito pouco para todos aqueles que consomem os
tempo fazendo isso porque eu já tinha muita habi-
lidade, já fazia as peças, ajudava no acabamento, artefatos produzidos e partilham ou
fazia tudo da parte que a gente fazia e até hoje é recriam seus significados, utilizando
dessa maneira, a gente começa lixando, depois a
gente vai dando o acabamento e ajeitando.26 como ex-votos, imagens sacras ou
objeto de coleção.
O ensino nas oficinas se definia, Nesse sentido, um dos maiores
então - e tem se definido até hoje - e mais atuais exemplos de como a
como prática privilegiada de transmis- Arte Santeira tem sido transmitida

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e ensinada é a Oficina Chico Bar- Somando-se aos artesãos de Tere-


ros. Fundada nos anos 1990, mas sina, outros como Danilo Castro Silveira
fruto de um projeto idealizado ainda e Antônio Carlos Pereira da Silva, da
na década de 1980. A Oficina, loca- cidade de Parnaíba, Natanael Araújo,
lizada no bairro Monte Castelo, em da cidade de Pedro II, e Erimar de Oli-
Teresina, é bastante ilustrativa da veira Costa, de José de Freitas, são
aparição de uma terceira geração de representantes dessa terceira geração
artesãos santeiros, nos anos 1980, que tem apresentado cada um com seu
1990 e 2000. Aprendizes dos mes- estilo, técnicas e particularidades locais
tres da primeira ou da segunda gera- a vigência e o alcance da Arte Santeira
ção, esses jovens artesãos, como através do tempo.
Adriano Rodrigues do Nascimento, Situemos, então, aquilo que cons-
Josias Ferreira de Sousa e Rondinelli titui e caracteriza esses indivíduos, que
da Silva Araújo [Xexéu] têm continu- os define social, cultural e tecnicamente
ado o ofício e modos de fazer, evi- como artesãos, que os coloca neste
denciando sua importância para a emaranhado formado por eles próprios,
sociedade piauiense. A Oficina Chico pelos compradores, intermediários, fiéis
Barros se constitui em ambiente sin- devotos, colecionadores, que unificam
gular de trabalho, onde artesanteiros seu depoimento e recebem matizes na
de diferentes faixas etárias convivem fala e no trabalho de cada um - os modos
e trocam experiências distintas. de fazer da Arte Santeira do Piauí.

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arte santeira do piauí

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arte santeira:
ofício e modos de fazer

Imaginemos um artesão, em

sua oficina. Personagem solitário, na

maioria das vezes, paciente em sua

tarefa de mediador entre a madeira

e as formas simbólicas que ele traz

consigo, a fim de investir as matérias

naturais com o manejo simultâneo

das ferramentas e de todo o acervo

de referências a partir do qual e para

o qual compõe a sua arte. Com muita

frequência, a produção está quase

inteiramente a cargo do artesão. Ele

conhece todas as etapas do trabalho,

participa de todas elas ou as supervi-

siona, na oficina.

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arte santeira do piauí

Ao observar e dialogar com mui- nhão; ou doada, na forma de “tocos”,


tos artesãos, de diferentes idades e que sobram dessas madeireiras, aos
moradores de localidades do Piauí, artesãos; ou retirada diretamente da
foi possível mergulhar no cotidiano de natureza, de pontos do Piauí, onde a
ruídos, gestos, movimentos, cores, imburana é abundante.
técnicas e singularidades que carac- O cedro é utilizado em talhas,
terizam o ofício e modos de fazer da esculturas; a imburana nas escul-
Arte Santeira do Piauí. turas. Alguns artesãos utilizam a
O trabalho começa com a sele- imburana de espinho ao invés da
ção e a aquisição da madeira para imburana de cheiro, por considerá-la
a confecção das peças. O cedro, a mais resistente para o trabalho. Com
imburana de espinho ou a imburana experiência no trabalho de marcena-
de cheiro constituem as matérias-pri- ria ou carpintaria, o artesão conhece
mas preferidas e mais utilizadas pelos como ninguém as propriedades da
artesãos. A madeira chega à oficina madeira, sua resistência, sua dura-
do santeiro por diferentes caminhos: bilidade, as condições de tempe-
ou comprada em madeireiras e serra- ratura e calor a que a madeira será
rias, que a trazem do Pará e do Mara- submetida, especialmente se a peça

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for exportada para ambientes com vas naturais da madeira, respeitando


climas distintos do Piauí. O artesão ou interferindo criativamente, elabo-
sabe o ponto que, ainda na natureza, rando outras tantas linhas, curvas e
a madeira está “verde” ou seca, que detalhes.
está pronta e firme para o trabalho, Sobre a relação que cada artesão
que não haverá deformação, que não mantém com a madeira, percebemos
entortará ou rachará, no contato com duas falas bem peculiares, a de Mestre
a umidade, iluminação, cortes e inci- Expedito, representante da primeira
sões das ferramentas; ele sabe que, geração e dedicado especialmente à
enquanto matéria-prima, “a madeira fabricação de anjos e santos, e a de
também tem o limite dela”27. É o arte- João Oliveira, artesão da segunda
são quem dita, de acordo com os geração, que possui um estilo mais
esboços que mentaliza, com o pro- livre de confecção das peças:
jeto da peça, com seu próprio estilo
A imburana de espinho foi que comecei a fazer
e com seus objetivos, qual a madeira, os ex-votos, porque ela é uma madeira mais
como será lavrada, que contorno ela mole e boa de trabalhar, dela foi que eu come-
cei a fazer a arte santeira, os ex-votos, conti-
tomará. É ele quem conforma, dialoga nuei. Depois que eu cheguei em Teresina, eu
com os nós, as falhas, as linhas e cur- continuei pegando algumas madeiras do inte-

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rior, a imburana, mas depois eu vi que não dava No ambiente rústico da oficina, a
porque a imburana de espinho dava pra fazer
peças só de até um metro de altura, é difícil por-
madeira é, inicialmente, medida em suas
que é uma madeira que esgalha muito, nunca dimensões antes de ser cortada no tama-
ela dá, tem uma falha no centro da madeira,
nho próprio para a escultura ou talha que
no lugar daquele miolinho que o cedro tem,
tem um ocozinho, aquele buraco. E o cedro eu será produzida. Alguns artesãos utilizam
achava uma madeira difícil pra mim porque ela lápis, pincel hidrocor, compasso ou fita
tinha uma fibra, ela é muito cheia daquelas bei-
ras, você fica trabalhando, ela nunca pega um métrica para fazer medições e marcas
brilho, é uma coisa difícil. Mas, aí eu continuei, na madeira. Em seguida, para o caso de
a madeira hoje pra mim é o cedro. 28
uma escultura de anjo ou de santo, são
Esses detalhes aqui, nada planejados, as pró- iniciados os cortes mais bruscos com a
prias irregularidades da madeira me conduziram
a tal forma. Por isso que cada obra é diferente da enxó e o serrote, que irão definir as par-
outra. Eu reaproveito o que vem lá da natureza, tes maiores da imagem, como o local
das imperfeições, aqui são troncos velhos que
estava há muito tempo naquelas capoeiras, cheias
da cabeça, dos ombros, do apoio para
de cupins, muitas delas com abelhas. Quiser tam- os pés e do formato das roupas. É mais
bém a gente pode até registrar, tem umas ali com
uma vez Mestre Expedito, cuja experi-
as abelhinhas. Essas eu não mexo, eu deixo ali,
tenho o maior respeito pela natureza, não mato ência se mostrou das mais abrangentes
uma árvore, pode ser a árvore mais bonita do sobre o ofício, quem descreve todas as
mundo, se ela estiver viva, não é minha. Eu pego
troncos secos, porque se tem uma coisa que eu etapas do trabalho com a madeira e as
admiro e respeito é a natureza.29 respectivas ferramentas:

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A escultura eu pego uma madeira, se por acaso eu Depois que eu desbasto ela toda na enxó, eu levo
vou fazer uma peça de um metro e setenta, eu dou a ela pra cima de uma mesa [cavalete] pra eu tra-
dimensão dela [...]. Às vezes eu dou uns riscos rapi- balhar, uma que possa com a madeira. Eu coloco
damente com pincel, eu dou o gesto da cabeça e em cima e vou acabar de tirar na enxó, vou mar-
ombros, depois faço o gesto da cintura e a parte da car a base com o serrote, aí passo pro formão,
saia, aí eu tiro no machado, serviço pesado. Depois pra fazer o jeito das mãos, rostos, os olhos, essa
que eu tiro toda ela, ela no chão, eu faço o jeito dos parte que fica do cabelo, o pescoço, tudo. Aí eu vou
braços, aquela posição de mão ou rezando, braço pra [raspilha], o que chamo raspilha tem diversos
solto, conforme seja, assim também em posição de modos, tem onde raspar, quase tipo uma plaina
oração. Eu faço aquele gesto e passo para a enxó. e tem essa que chama [raspilha] e chama [espó],
A enxó é tipo uma enxadinha, pequenininha, cabo que é tipo uma plainazinha, tem uma laminazinha
curto e vai cortando ela e tirando. Depois disso tem pequena, o sujeito raspa e arredonda do jeito que
o serrote, essa parte do pescoço às vezes eu apro- quer, a parte da cabeça e tudo. Vai indo e chega no
fundo a serragem, pra tirar de um lado e tirar do final, quando você acaba de fazer as partes finais
outro pra encontrar, fazer o colo.30 do formão, passa pra faquinha, que é uma faqui-
nha pequena [...]. É uma peça que eu pego, serro
na lâmina, serro o cabo no meio pra ficar dentro
Daí, segue-se a definição de deta- da minha mão. Ela tem que ficar dentro da minha
lhes corporais menores, como mãos, mão porque se eu botar comprida, eu me corto. E
aí vou cortando, vou finalizar, quando eu termino
rosto e cabelos, com o uso de ferra- os detalhes todos, passo pro formão retângulo mais
mentas mais minuciosas e refinadas, fino, de 1 cm ou de meio, e nesse meio tem outros
que eles chamam de triângulo, ele faz tipo assim
dentre as quais os formões, a raspilha, um risco, e aí tem o serrote pequeno, que também
a espó, a faquinha, o serrote pequeno: a gente usa muito pra fazer o cabelo, as partes que

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encontram o toco da madeira, depois eu faço com madeira e uso a despoladeira de madeira pra colo-
a grosa pra ir trabalhando, depois eu venho com a car a lixa no lugar, não vou dizer em todo lugar,
lixa, pra acabar.31 no lugar de uma prega eu lixo com uma faquinha
dentro dela e num lugar reto eu lixo com a despo-
ladeira e em um lugar mais delicado eu lixo com
A etapa final é o acabamento da o dedo e nas partes mais finas, como o olho, eu
peça, feito com lixas de tamanhos lixo com a faquinha e numa parte com a lixa pra
variados. A seguir, a peça recebe a fazer os acabamentos finais do olho. Depois que
aplicação de cera de carnaúba, cera eu termino tudo isso eu aplico a cera, tem a cera
industrializada para assoalho ou o poliflor, eu estou usando aquela cera inglesa, que
tá sendo uma cera boa, aplico ela com um pincel
extrato de nogueira. Mestre Expedito e deixo enxugar de um dia pro outro. No outro dia
ainda faz duas sequências com a lixa, eu lixo a peça todinha. A madeira quando recebe
para só então aplicar a cera: a cera é como quando recebe água, ela sai aque-
las frepas, ela fica toda freposa, aí você lixa pra
tirar aquelas frepas. Quando você lixa que aque-
Quando eu termino todo esse trabalho eu vou pra las frepas se acabam, você aplica outra cera, aí
lixa, eu começo com a lixa 50, uma lixa pesada, quando ela bebe aquela cera já é rápido e não
depois eu vou pra lixa mais fina, a 100, depois levanta mais aquelas frepas não. Você espera
eu vou pra 150 ou até mais fina, por acaso. Aqui secar e torna a lixar, vai fazendo o acabamento
tem algumas pessoas que lixam só a lixa 100, até ficar bonito, afinal de contas, é isso que o tra-
mas eu não acho que seja de acordo porque se balho da gente fica.32
você for lixar com a lixa 100, é o mesmo caso de
um pedreiro, ela pega uma massa e passa numa
parede com uma colher e alisa, alisa, alisa e ela A fala de Mestre Expedito é ape-
fica empolada. Você tem que ter uma despola-
deira ou uma régua pra cortar, tirar tudo, pra ficar
nas uma das muitas formas como os
reta, tudo certinho. Então eu uso uma faquinha de artesãos poderiam descrever as eta-

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pas do ofício e modos de fazer da Arte isso aqui é um formão, é uma ferramenta, uma
Santeira do Piauí. Com menos eta- goiva, ferro também de fábrica que a gente com-
pra no comércio, agora, aqui já muda a história,
pas, com maior ou menor quantidade esse ferro aqui é o formão, esse aqui é feito de
de ferramentas, os modos de fazer as mola de carro [mola de Fusca] que eu mesmo
peças esculpidas e entalhadas têm, fabrico de acordo com o tipo de trabalho que eu
vou desenvolver.33
basicamente, uma sequência muito
semelhante: o desbaste inicial, a con- Aquelas molas de Volks eu fiz uma talhadeira,
fecção minuciosa dos detalhes e o inclusive eu até tenho uma ali, que é no caso, de
tanto andar feito besta, andando nas repartições
acabamento. pedindo ajuda pra comprar formão, essas coisas,
Como Mestre Expedito se refe- eu peguei umas talhadeiras de uma mola de Fusca
riu ao falar da faquinha, algumas fer- que fica ali no eixo e fiz uma talhadeira que nem o
formão, porque não adiantava, já tinham arranjado
ramentas são feitas pelos próprios o espaço pra eu ficar lá com os meninos e material
artesãos. A maioria é comprada, mas nada, eu tive que tomar uma atitude e foi essa, aí a
a faquinha e a goiva, em particular, gente foi fazendo devagarzinho e deu certo.34
são confeccionadas a partir de outros
artefatos, como se deduz das falas do Apesar da manutenção des-
artesão Guilherme, de Parnaíba, e do sas ferramentas básicas, de uso
Mestre Dim, de Teresina: manual e que exigem esforço total-
mente humano, outras ferramen-
A minha ferramenta é muito simples, essa é uma
das principais, é uma faca como qualquer outra
tas foram incorporadas ao longo do
faca industrializada, só que a gente pega, corta tempo pelos santeiros, o que informa
pra ficar no jeito da gente trabalhar. Aí vem goiva, como o ofício e modos de fazer têm

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arte santeira do piauí

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arte santeira do piauí

se adaptado às mudanças tecnoló- ção dessas mudanças, que, para ele,


gicas e não se fixado no passado, servem mais para o entalhe que para
ainda que alguns artesãos prefiram as esculturas:
as ferramentas tradicionais ou limi-
tem o uso da eletricidade para que o Instrumento que a gente usa eletricidade tem o
artefato produzido não fique “indus- besouro, que é se você quer fazer uma peça com
trializado”35. As novas ferramentas o braço vazado, você tendo o besouro facilita
mais. Se você tá cavando pra vazar de um lado
utilizadas são as que fazem uso da pro outro com a faca, ela corre o risco de quebrar,
eletricidade, como a furadeira [tam- com o besouro não, facilita. Fura e depois é só
bém chamada de “besouro”] e a limpar. Tem a serra tico-tico, só que a gente usa
mais em trabalho talhado, na escultura mesmo,
serra elétrica [chamada de serra
praticamente material elétrico nenhum.36
“tico-tico”], que cortam e fazem deta-
lhes na madeira em tempo menor São essas as etapas do trabalho
e, em alguma medida, se ajustam à do artesão, com suas respectivas fer-
demanda mercadológica que exige ramentas. Cabe ainda definir as for-
uma produção um pouco mais ace- mas, motivos e referências estéticas
que definem o “estilo” do artesão, no
lerada. O artesão Adriano, de Tere- momento decisivo da confecção das
sina, pertencente à terceira geração peças, pois são essas referências
de santeiros, descreve a incorpora- que, em contato com a criatividade do

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senhores de seu ofício

artesão, as demandas, as encomen- reza local, como a fauna [esculturas


das do público se relacionarão com e talhas com bois, sapos, cachor-
o modo como o artesão é recebido e ros, gatos, gaviões, cobras] e a flora
tem suas peças consumidas.
[talhas com carnaubeiras, pés de
Uma questão que perpassa as
coco babaçu, cajueiros].
falas de alguns artesãos é aquela
Uma tendência geral, mas não
referente ao seu “estilo” de trabalhar
absoluta, é que a Arte Santeira
no ofício e modos de fazer. Apesar
stricto sensu ocorra mais em Tere-
da denominação genérica que por
sina que nas cidades do interior,
vezes usamos neste texto, por ques-
tões de familiaridade com um con- seja pelo renome de Mestre Dezi-
ceito já generalizado, a “Arte San- nho, seja pelo acervo do artesão na
teira” está muito longe de se definir Igreja de Nossa Senhora de Lour-
como apenas santeira, pois junto des, seja pela divulgação que con-
com a confecção de anjos, santos, cedeu o nome homogeneizador ao
sacrários entalhados, oratórios, ofício e modos de fazer. No interior,
altares, dentro dos tradicionais moti- especialmente nos municípios de
vos religiosos, o ofício e modos de Parnaíba e Campo Maior, predo-
fazer também se desdobra no “estilo mina o estilo regional, havendo por
regional”, fabricando figuras carac- vezes recusa dos artesãos em pro-
terizadas de “sertanejas”ou “nordes- duzir outro tipo de peça, ou o com-
tinas”, como o vaqueiro, o lavrador, promisso de fazer santos apenas
o pescador, a mulher grávida, o reti- por encomenda, como diz o artesão
rante e ainda peças alusivas à natu- Danilo, de Parnaíba:

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arte santeira do piauí

Agora, você tava falando sobre Arte Santeira e santo, que remetem ao cotidiano de trabalho
aqui em Parnaíba tem pouquíssimas pessoas que
trabalham com santo, na verdade, nós, escultores, e sofrimento das populações pobres
trabalhamos com santo assim, digamos, uma pessoa do Piauí e do Nordeste, os artesãos
quer uma encomenda: olha eu quero um São Fran-
se mostram informados por toda uma
cisco, uma Nossa Senhora [...]. Mas trabalhar assim
mesmo com Santo como lá em Teresina faz, que a herança cultural que inclui o catoli-
demanda só santo, santo, santo aqui em Parnaíba a cismo e a própria experiência e obser-
turma aqui já não faz. Aqui somos mais ou menos,
em atividade mesmo, seis escultores, em Parnaíba, vação que ele faz:
e todos eles trabalham mesmo com o tema regional,
como vocês viram [...].37 Eu gosto muito de interior, sempre que eu posso,
eu viajo pro interior, eu vejo muito assim a pessoa
que sai pra caçar, pegar água no açude, essas
Entretanto, essa nem sempre é figuras mesmo nordestinas. Eu tinha a curiosidade
de fazer pra ver como ficava, sempre que eu via
uma divisão estanque. Há artesãos
uma assim diferente, uma cena curiosa eu tentava
que trabalham com ambos os estilos, retratar na madeira. Aí foi dando certo. Cangaceiro
também, vaqueiro, a gente vê isso muito no inte-
conforme a demanda, a inspiração e
rior, cangaceiro não, porque já passou a época
a criatividade. Em qualquer dos esti- do cangaço. O que me inspira são as pessoas
los com que se identifique, resta que mesmo, pessoas do interior, pessoas sofridas,
no caso eu faço umas mulheres grávidas porque
o artesão se apresenta como um indi- eu tenho no interior de Oeiras um pessoal que eu
víduo com uma percepção singular conheço, sempre que eu ia lá sempre que eu via
a mesma mulher grávida, todo ano que eu ia ela
da dimensão simbólica da realidade estava grávida, passei a fazer muito mulher grá-
e da vida social. Produzindo figuras vida e vendia muito, não tenho nenhuma pra lhe
mostrar. Então é isso, o que inspira são as cenas
de caráter devocional ou litúrgico ou que eu via no interior.38

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divulgar
a arte santeira
A circulação e a divulgação da

Arte Santeira do Piauí ocorrem espe-

cialmente através de eventos, como

exposições, feiras e salões promovi-

dos pelo Serviço Brasileiro de Apoio

às Micro e Pequenas Empresas

[SEBRAE] e pelo Programa de Desen-

volvimento do Artesanato [PRO-

DART]. Outra forma de divulgação é

o contato com o consumidor, feito de

forma direta ou por meio de interme-

diários. Alguns dos grandes consumi-

dores de artefatos do ofício e modos

de fazer da Arte Santeira do Piauí são

os sacerdotes da Igreja Católica, que

procuram os artesãos para ornarem

os templos com suas peças.

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arte santeira do piauí

Em Teresina, é possível identi-


ficar espaços emblemáticos para a
Arte Santeira. Dentre eles: a Igreja
de Nossa Senhora de Lourdes, no
bairro Vermelha; a Central de Artesa-
nato Mestre Dezinho [onde funciona
o PRODART - Programa de Desen-
volvimento do Artesanato Piauiense],
no centro da cidade, na Praça Pedro
II, onde se localiza também o Theatro
4 de Setembro; o Mercado Central,
próximo à Praça Marechal Deodoro
da Fonseca, mais conhecida como
Praça da Bandeira; o Memorial Mes-
tre Dezinho, no Bairro Vermelha, pró-
ximo à Igreja Nossa Senhora de Lour-
des; a Oficina Chico Barros, no bairro
Monte Castelo; o Conselho de Jovens
e Artesãos, que representa os interes-
ses desse segmento social; a Casa
da Cultura, onde ocorrem exposições
periódicas. Os artesãos do interior
do Piauí têm suas peças espalhadas
nos municípios onde residem [Campo
Maior, Parnaíba, Pedro II, José de
Freitas] e nos municípios vizinhos.

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considerações
finais
Em 2008, a equipe que produziu

o INRC da Arte Santeira do Piauí, sob

a coordenação da historiadora Áurea

Pinheiro, sugeriu que fosse realizado

como parte das atividades do Con-

gresso Internacional de História e

Patrimônio Cultural um Fórum de Arte

Santeira, com a finalidade de reunir os

santeiros do Piauí. O evento foi reali-

zado em agosto daquele mesmo ano

e contou com parcerias de instituições

como o Iphan, a Universidade Federal

do Piauí, a Associação Nacional de

História e Educar: artes e ofícios.

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arte santeira do piauí

A partir da pesquisa realizada com rias condições de existência material e


os santeiros e do Fórum foi possível que falta uma política de conscientiza-
constatar que os mestres e os aprendi- ção e incentivo à participação dos arte-
zes têm desejos e necessidades, que, sãos em cooperativas e associações;
por meio de diálogos e políticas públi- há poucos eventos de divulgação local
cas de incentivo e salvaguarda do ofí- para o trabalho dos mestres e aprendi-
cio e modos de fazer da Arte Santeira zes. Os artesãos reclamam, sobretudo,
do Piauí, podem ser concretizados. da quase inexistência de concursos, a
Ao longo das discussões e diálo- exemplo dos Salões de Arte Santeira,
gos, os artesãos apontam a falta de promovidos pelo governo do Estado
recursos para investir em equipamen- do Piauí, por meio do PRODART.
tos, matérias-primas, comercialização, Nesse sentido, destacamos algu-
constituição de capital de giro, ensino mas sugestões de intervenções indica-
do ofício e modo de fazer da Arte San- das pelos próprios artesãos ao longo do
teira; informam que a presença do Fórum de 2008, dentre elas: a necessi-
intermediário, que comercializa a Arte dade de fontes de financiamento espe-
Santeira, é uma realidade. Destacam cíficas para compra de equipamentos,
que muitos desses comerciantes apro- matérias-primas e constituição de
veitam a precária condição de subsis- capital de giro, o que poderia ser feito
tência de alguns artesãos e compram em parceria com cooperativas, asso-
as obras por um preço irrisório e ven- ciações e bancos públicos; a criação
dem-nas por preços superiores àque- de políticas de educação patrimonial
les adquiridos junto aos artesãos. Foi que envolva professores e alunos de
possível perceber, nesses diálogos, vários níveis de ensino, cooperativas,
que alguns santeiros vivem em precá- associações e comunidade em geral,

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senhores de seu ofício

para conhecimento e reconhecimento simples, como ex-votos, até avançar


do valor da cultura local; incentivos à para as esculturas mais elaboradas.
comercialização direta de suas obras, As oficinas estão instaladas nas pró-
pelos próprios artesãos, com os con- prias casas dos artesãos, ocupando
sumidores finais, o que pode ser feito muitas vezes o espaço do quintal. As
por meio da revitalização das lojas da ferramentas ficam expostas em um
Central de Artesanato Mestre Dezinho cavalete de madeira. Após o trabalho,
[Teresina] e do Porto das Barcas [Par- alguns artesãos guardam a maioria
naíba]; política sistemática de realiza- das ferramentas em uma caixa de
ção do Salão de Arte Santeira, com madeira, outros as mantém expostas
o aumento de parcerias com o poder na própria bancada.
público e iniciativa privada. A importância do ofício e modos
É válido, portanto, considerar a de fazer é evidenciada pela produção
Arte Santeira uma importante mani- de artefatos de madeira esculpidos ou
festação cultural do Estado do Piauí e talhados por um significativo número
a necessidade de salvaguarda do ofí- de artesãos provenientes de grupos
cio e modos de fazer dessa produção populares do Piauí. A criatividade que
artística. envolve o seu trabalho se materializa
A transmissão de saberes e em formas com temáticas religiosas,
modos de fazer se materializa a partir permitindo criar-se o ofício de santeiro,
da relação mestre e aprendiz. A maio- denominação dada pelos próprios
ria dos santeiros do Piauí é autodi- detentores desse “saber-fazer”.
data ou aprendeu o ofício com algum Os mestres e os aprendizes san-
mestre em uma oficina. Começam na teiros ao requererem o registro da Arte
maioria das vezes produzindo peças Santeira no livro de saberes, na cate-

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arte santeira do piauí

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arte santeira do piauí

goria ofício e modos de fazer, propõem No artigo 216 da Constituição


o reconhecimento de um bem cultu- Federal de 1988, encontram-se as
ral emblemático para o Estado, pois responsabilidades do “poder público,
consideram que é preciso valorizar o com a colaboração da comunidade”,
conhecimento das técnicas e matérias- na promoção e proteção do patrimônio
primas utilizadas na produção de arte- cultural brasileiro, compreendido como
fatos em madeira, marcados por uma os “[...] bens de natureza material e
religiosidade popular e devocional. imaterial, tomados individualmente ou
Os artesãos esperam que o regis- em conjunto, portadores de referên-
tro da Arte Santeira permita a afirma- cia à identidade, à ação, à memória
ção de políticas públicas, haja vista dos diferentes grupos formadores da
representar um bem de inestimável sociedade brasileira”. É urgente asse-
valor cultural para a formação da iden- gurar que os detentores do patrimônio
tidade da população do Piauí, além de imaterial continuem a adquirir conhe-
possuir os requisitos necessários ao cimentos e “saber-fazer” e os transmi-
seu registro e salvaguarda. tam às gerações seguintes.
Vale lembrar que o reconhecimento O Decreto nº 3.551/00 definiu qua-
de manifestações culturais dessa natu- tro categorias para os bens culturais
reza tornou-se possível com a promul- imateriais ou intangíveis no processo
gação em 2000 do Decreto nº 3.551, de registro: os saberes, as celebrações,
que instituiu o “Registro de Bens Cul- as formas de expressão e os lugares.
turais de Natureza Imaterial que consti- No caso específico da arte santeira do
tuem patrimônio cultural brasileiro, criou Piauí, o pedido de seu registro atende
o Programa Nacional do Patrimônio à categoria de saberes, vez que há um
Imaterial e deu outras providências”. ambiente de transmissão [as oficinas

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dos mestres] às novas gerações do espiritualidade, os artistas interpretam


“saber-fazer”. aspectos de sua realidade cotidiana.
O registro da Arte Santeira do A trajetória de vida dos santeiros
Piauí é um instrumento possível para informa sobre uma arte marcada por
garantir a salvaguarda do ofício e uma religiosidade popular típica do
modos de fazer desses mestres e Nordeste brasileiro, com vivências
aprendizes, pois são eles os legí- e experiências rurais e urbanas; por
timos detentores do “saber-fazer”. uma espiritualidade bem peculiar,
Nesse sentido, o registro se justifica expressões devocionais recorrentes
pela necessidade de garantir a con- de um processo de interface entre
tinuidade do “saber-fazer”, vez que o as diversas culturas que forjaram a
mestre santeiro transmite às novas construção e constituição brasileira,
gerações os segredos das técnicas nordestina e piauiense em particular.
do ofício e dos modos de fazer. A Arte Santeira, ofício e modos
Os escultores populares apre- de fazer, mestres e aprendizes, “os
sentam qualidade e força criativa, santeiros”, como elemento de sig-
havendo um variado repertório de nificativa riqueza cultural, alcança
santos, anjos e oratórios. Há entre repercussão nacional e internacional,
os artistas alguns traços comuns: com peças em museus, igrejas, insti-
autodidatismo e uso de ferramentas tuições públicas e privadas, além de
rudimentares, domínio da técnica e fazer parte de coleções particulares
criatividade. Marcados por uma forte e de participar de feiras e salões.

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arte santeira do piauí

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de 2008. NASCIMENTO, Adriano Rodrigues. Entrevista de 2008.
ALMEIDA, Max Daylle Pinheiro Alves de. Entre- concedida a Áurea Pinheiro em Teresina [PI] em
vista concedida a Áurea Pinheiro em Teresina [PI] 25 de novembro de 2007. 5.2 Campo Maior
em 23 de abril de 2008. PEREIRA, José Pascoal de Araújo. Entrevista
ALVES, Joaquim José. Entrevista concedida a concedida a Áurea Pinheiro em Teresina [PI] em FARIAS, Luiz Francisco. Entrevista concedida a
Áurea Pinheiro em Teresina [PI] em 24 de novem- 16 de maio de 2008. Áurea Pinheiro em Campo Maior [PI] em 09 de
bro de 2007. SANTOS, Ednaldo dos. Entrevista concedida a janeiro de 2008.
ARAÚJO, Rondinelie da Silva. Entrevista conce- Áurea Pinheiro em Teresina [PI] em 19 de maio IBIAPINA, José Wilson. Entrevista concedida a
dida a Áurea Pinheiro em Teresina [PI] em 18 de de 2008. Áurea Pinheiro em Campo Maior em 21 de janeiro
janeiro de 2008. SANTOS, Expedito Antônio dos. Entrevista conce- de 2008.
CARVALHO, Francisco Wellington Hans Donner dida a Áurea Pinheiro em Teresina [PI] em 25 de
de. Entrevista concedida a Áurea Pinheiro em novembro de 2007. 5.3 Pedro II
Teresina [PI] em 12 de fevereiro de 2008. SILVA, Edinaldo da. Entrevista concedida a Áurea ARAÚJO, José Joaquim de. Entrevista concedida
CAVALCANTE, Raimundo Soares. Entrevista con- Pinheiro em Teresina [PI] em 19 de maio de 2008. a Áurea Pinheiro em Pedro II [PI] em 23 de maio
cedida a Áurea Pinheiro em Teresina [PI] em 02 de SILVA, Hernandes Robson Rodrigues da. Entre- de 2008.
julho de 2008. vista concedida a Áurea Pinheiro em Teresina [PI] ARAÚJO, Natanael José da Silva. Entrevista con-
COSTA, Laércio Santos. Entrevista concedida a em 21 de maio de 2008. cedida a Áurea Pinheiro em Pedro II [PI] em 19 de
Áurea Pinheiro em Teresina [PI] em 05 de maio SILVA, Josafá Lopes da. Entrevista concedida a julho de 2008.
de 2008. Áurea Pinheiro em Teresina [PI] em 20 de maio SILVA, Verônica Amorim da. Entrevista concedida
COSTA, Raimundo Nonato. Entrevista concedida de 2008. a Áurea Pinheiro em Pedro II [PI] em 25 de maio
a Áurea Pinheiro em Teresina [PI] em 26 de janeiro SILVA, Marcos Fernando Rodrigues da. Entrevista de 2008.
de 2008. concedida a Áurea Pinheiro em Teresina [PI] em
GONDINHO, José Ribamar Soares. Entrevista 01 de junho de 2008. 5.4 Parnaíba
concedida a Áurea Pinheiro em Teresina [PI] em SOUSA, José Luiz de. Entrevista concedida a LIMA, Raimundo de Sousa Filho. Entrevista con-
12 de maio de 2008. Áurea Pinheiro em Teresina [PI] em 22 de julho cedida a Adriana Pinheiro Moura em Parnaíba [PI]

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arte santeira do piauí

em 15 de julho de 2008. SILVEIRA, Danilo Castro. Entrevista concedida a


LIMA, Raimundo de Sousa Filho. Entrevista con- Áurea Pinheiro em Parnaíba [PI] em 07 de feve-
cedida a Áurea Pinheiro em Parnaíba [PI] em 17 reiro de 2008.
de fevereiro de 2008. SOUSA, Francisco Antônio de. Entrevista conce-
MELO, Ageu Alves de. Entrevista concedida a dida a Áurea Pinheiro em Parnaíba [PI] em 08 de
Áurea Pinheiro em Parnaíba [PI] em 07 de janeiro fevereiro de 2008.
de 2008.
REIS, José Carlos Alves. Entrevista concedida a 5.5 José de Freitas
Adriana Pinheiro Moura em Parnaíba [PI] em 15
de julho de 2008. COSTA, Erimar de Oliveira. Entrevista concedida
REIS, José Carlos Alves. Entrevista concedida a a Áurea Pinheiro em José de Freitas [PI] em 16 de
Áurea Pinheiro em Parnaíba [PI] em 07 de feve- janeiro de 2008.
reiro de 2008. OLIVEIRA, João Pereira de. Entrevista concedida
RIBEIRO, Dimas de Sousa. Entrevista concedida a a Áurea Pinheiro em José de Freitas [PI] em 16 de
Áurea Pinheiro em Parnaíba [PI] em 08 de janeiro janeiro de 2008.
de 2008. OLIVEIRA, João Pereira de. Entrevista concedida
RIBEIRO, Francisco das Chagas Sousa. Entre- a Áurea Pinheiro em José de Freitas [PI] em 08 de
vista concedida a Áurea Pinheiro em Parnaíba [PI] junho de 2008.
em 08 de janeiro de 2008. SILVA, Silvério Pereira da Neto. Entrevista conce-
SANTOS, José Gulerdúcio dos. Entrevista conce- dida a Áurea Pinheiro em José de Freitas [PI] em
dida a Áurea Pinheiro em Parnaíba [PI] em 08 de 20 de maio de 2008.
janeiro de 2008.
SILVA, Antônio Carlos Pereira da. Entrevista con-
cedida a Áurea Pinheiro em Parnaíba [PI] em 07
de janeiro de 2008.
SILVEIRA, Danilo Castro. Entrevista concedida a
Adriana Pinheiro Moura em Parnaíba [PI] em 15
de julho de 2008.

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senhores de seu ofício

notas

1
Mestre Expedito, entrevista concedida à Áurea Humanitas, 2006. Pinheiro. José de Freitas [PI], 2008.
Pinheiro, 2007. 7
Os registros audiovisuais de Mestre Kim foram 12
A Igreja Nossa Senhora de Lourdes é conhe-
2
CORSINO, Célia Maria. Apresentação. In: INVEN- produzidos em sua oficina, no Memorial Mestre cida pelo caráter diferenciado de sua composição,
TÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTU- Dezinho [Bairro Vermelha, Teresina, PI]. expresso no repertório sacro de inspiração popu-
RAIS: manual de aplicação. Introdução de Antônio 8
Os registros audiovisuais de Mestre Expedito lar e na qualidade rústica de seu arranjo, que lhe
Augusto Arantes Neto. Brasília: Instituto do Patri- foram produzidos em sua oficina localizada no conferem um aspecto bem pitoresco e regional. É
mônio Histórico e Artístico Nacional, 2000. p. 8. Bairro Piçarra em Teresina. referência da expressão de arte popular conhecida
3
BRASIL. Decreto nº 3.551, de agosto de 2000. 9
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. como Arte Santeira do Piauí.
Disponível em www.iphan.gov.br. Rio de Janeiro: LTC, 1989; GEERTZ, Clifford. 13
CARVALHO JÚNIOR, Dagoberto. Arte sacra
4
O Ministro da Cultura, Gilberto Gil, visitou o Piauí Obras e vidas. O antropólogo como autor. 2. ed. popular e resistência cultural. Cadernos de Tere-
em 15 de maio de 2008 para assinar acordo de coo- Rio Janeiro: UFRJ, 2005; GEERTZ, Clifford. Nova sina. Ano 7, n. 14, ago, p. 19, 1993.
peração com o governo do Estado para realização luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: Jorge 14
Ibidem, p. 20.
do Programa Mais Cultura no Piauí. A solenidade Zahar Editor, 2001; GEERTZ, Clifford. O saber 15
CARVALHO JÚNIOR, Dagoberto. Um santeiro
foi realizada no Theatro 4 de Setembro, no Centro local. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007; CLI- do Médio Parnaíba. Revista Presença. Nº 11, abr/
Histórico da Cidade de Teresina, capital do Estado. FFORD, James. A experiência etnográfica. 2. ed. jun, p. 35-36, 1984.
5
Ibidem. Rio de Janeiro: UFRJ, 2002. 16
ALGRANTI, Leila Mezan. Famílias e vida
6
ALBERT, Verena. Manual de História Oral. 2. 10
PINHEIRO, Áurea. As tensões entre clericais e doméstica. In: MELO E SOUSA, Laura; NOVAIS,
Ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004; ALBERT, anticlericais no Piauí. Teresina: Fundação Cultu- Fernando A. (Orgs.). História da vida privada no
Verena. Ouvir contar. Textos em História Oral; ral Monsenhor Chaves, 2002. PINHEIRO, Áurea e Brasil. Cotidiano e vida privada na América Portu-
THOMPSON, Paul. A voz do passado. História MOURA, Cássia. Celebrações/Celebrations. Tere- guesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
Oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992; FREITAS, sina: Educar: artes e ofícios, 2009. p. 103.
Sônia Maria de. História oral. Possibilidades e pro- 11
Cf., dentre outros exemplos, OLIVEIRA, João 17
MOTT, Luiz. Cotidiano e vivência religiosa:
cedimentos. 2. ed. São Paulo: Associação Editorial Pereira de. Entrevista concedida a Áurea da Paz entre a capela e o calundu. In: MELO E SOUSA,

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arte santeira do piauí

Laura; NOVAIS, Fernando A. (Orgs.). História da O%20patrimonio%20-%20Ivana%20Medeiros. dida a Áurea da Paz Pinheiro. Teresina [PI], 2007.
vida privada no Brasil. Cotidiano e vida privada na pdf>. Acesso em 17 jul. 2008. 31
SANTOS, Expedito Antônio dos. Entrevista conce-
América Portuguesa. São Paulo: Companhia das 22
MORAIS, Menezes de. Dezinho/Expedito: a dida a Áurea da Paz Pinheiro. Teresina [PI], 2007.
Letras, 1997. p. 164. forma e o tempo. O Dia, Teresina, n. 3.904, c. 2, p. 32
SANTOS, Expedito Antonio dos. Entrevista conce-
18
Ibidem 1, 12/13 de maio, 1974. dida a Áurea da Paz Pinheiro. Teresina [PI], 2007.
19
PINHEIRO, Áurea da Paz. Passos de Oeiras. 23
SANTOS, Expedito Antônio dos. Entrevista conce- 33
SANTOS, José Gulerdúcio dos [Guilherme].
Documentário Etnográfico. Rio de Janeiro: Museu dida a Áurea da Paz Pinheiro. Teresina [PI], 2007. Entrevista concedida a Áurea da Paz Pinheiro.
do Folclore do Rio de Janeiro/Petrobras, 2008. 24
Cf. o depoimento de Mestre Kim. ALVES, Joaquim Parnaíba [PI], 2008.
20
Sobre a trajetória dos artesãos santeiros e sua rela- José. Entrevista concedida a Áurea da Paz Pinheiro. 34
LIMA, Raimundo Ferreira [Mestre Dim]. Entre-
ção com a confecção de ex-votos, cf. MESQUITA, Teresina, 2008. E os depoimentos citados a seguir. vista concedida a Áurea da Paz Pinheiro. Teresina
Aldenora M. V. de. Santeiros do Piauí. Rio de Janeiro: 25
COSTA FILHO, Raimundo Nonato [Costinha]. [PI], 2008.
Fundação Nacional de Arte, 1980. Cf. também, den- Entrevista concedida a Áurea da Paz Pinheiro. 35
COSTA FILHO, Raimundo Nonato [Costinha].
tre outros, os relatos de Mestre Expedito e de Mestre Teresina [PI], 2008. Entrevista concedida a Áurea da Paz Pinheiro.
Araújo: SANTOS, Expedito Antônio dos. Entrevista 26
LIMA, Raimundo Ferreira [Mestre Dim]. Entre- Teresina [PI], 2008.
concedida a Áurea da Paz Pinheiro. Teresina, 2007; vista concedida a Áurea da Paz Pinheiro. Teresina 36
NASCIMENTO, Adriano Rodrigues do. Entre-
ARAÚJO, José Joaquim de. Entrevista concedida a [PI], 2008. vista concedida a Áurea da Paz Pinheiro. Teresina
Áurea da Paz Pinheiro. Pedro II [PI], 2008. 27
SILVA, Ednaldo [Edy]. Entrevista concedida a [PI], 2008.
21
SILVA, Alberto da Costa e. Mestre Dezinho de Daniel Oliveira da Silva. Teresina [PI], 2008. 37
SILVEIRA, Danilo Castro. Entrevista concedida
Valença do Piauí. Teresina: Fundação Cultural 28
SANTOS, Expedito Antônio dos. Entrevista conce- a Áurea da Paz Pinheiro. Parnaíba [PI], 2008.
Monsenhor Chaves, 1998; CAVALCANTE, Ivana dida a Áurea da Paz Pinheiro. Teresina [PI], 2007. 38
NASCIMENTO, Adriano Rodrigues do. Entre-
Medeiros P. O patrimônio – cara de pau, cara de 29
OLIVEIRA, João Pereira de. Entrevista concedida vista concedida a Áurea da Paz Pinheiro. Teresina
santo. FUMDHAMENTOS VI. Disponível em: <http:// a Áurea da Paz Pinheiro. José de Freitas [PI], 2008. [PI], 2008.
www.fumdham.org.br/fumdhamentos6/artigos/ 30
SANTOS, Expedito Antônio dos. Entrevista conce-

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os santeiros (contatos)
Teresina

André Vítor da Cruz Silva


Rua Arimatéia Tito, Nº 688, José Alves de Oliveira
Bairro Monte Castelo [Mestre Dezinho] (In memorian)

Adriano Rodrigues do Nascimento


Francisco de Assis Nascimento Assunção
Quadra 108, Lote 19, Casa B,
Rua 27, S/N, Povoado Alegria
Conjunto Promorar.

Moaci Araújo Barradas Antônio Edson Dias


Q.124, C.7A, Promorar II Rua Manoel da Paz, 1876,
Bairro Monte Castelo

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arte santeira do piauí

Hernandes Robson Rodrigues da Silva


Ednaldo dos Santos Rua 4, n 1881.
Rua São Jorge, 7684, Bairro Santo Antonio.
Vila Santa Bárbara

Ednaldo da Silva [Edy] José de Ribamar Soares Gondinho


Quadra 185 Casa 08,
Rua Iguatur, 5851, Vila São Francisco Norte
Conjunto Dirceu II.

Raimundo Nonato Costa Filho [Costinha] Josafá Lopes da Silva


Rua Heráclito de Sousa, 1074, Rua Ceará, 2339,
Bairro Monte Castelo. Bairro Vila Operária.

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senhores de seu ofício

Josias Ferreira de Sousa Laércio Santos Costa


Rua Zito Batista,112, Rua Heráclito de Sousa, 1064
Bairro Monte Castelo. Bairro Monte Castelo.

Josielton Ferreira de Sousa


Rua Zito Batista,112,
Bairro Monte Castelo.

José Luiz de Sousa


Rua Padre Geraldo, 717, Martinho Abreu Junior
Bairro Mafrense. Quadra -27, Lote-11, Casa-B,
Bairro Promorar I.

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arte santeira do piauí

José Cornélio de Abreu


Raimundo Soares Cavalcante [Dico] Rua Bentivi, 1370,
Rua Riachuelo, 3332. Bairro Angelim I.
Bairro Matadouro.

Raimundo Ferreira Lima [Dim]


Rua Arimatéia Tito, 924,
Bairro Monte Castelo.

Leonardo Abreu [Léo]


Rua Bentivi, 1370, Jeovah Santos
Bairro Angelim I. Rua Ney Bauman, 3970,
Bairro Buenos Aires.

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senhores de seu ofício

Expedito Antonio dos Santos [Mestre Expedito] Marcos Fernando R. da Silva [Paquinha]
Rua Rio Grande do Sul, 910, Rua 4, n 1881,
Bairro Piçarra. Bairro Santo Antonio.

Joaquim José Alves [Kim]


Rua Firmino Pires, 1610,
Bairro Vermelha.

Rondinelli da Silva Araújo


Centro Social Ludjan Ladeira,
José Pascoal de Araújo Pereira
Oficina Chico Barros,
Rua José Marques da Rocha, 2732,
Bairro Monte Castelo.
Bairro Memorare.

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arte santeira do piauí

Amarante Floriano

Nanico (in memorian)


Antônia Felix (in memorian)

Campo Maior

José Wilson Ibiapina


Rua Cel. Eulálio Filho, 1154.

Luiz Fernando Farias


Rua Mandubé, 355,
Bairro Flores.

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senhores de seu ofício

José de Freitas

Erimar de Oliveira Costa


Rua Hugo Napoleão, 860, Centro.

João Pereira de Oliveira [Joãoliveira]


Rua Santo Estevão, 49, Centro.

Silvério Pereira da Silva Neto [Verim]


Rua José Candido Gaioso, 642, Centro.

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arte santeira do piauí

Parnaíba

Antonio Carlos Pereira da Silva Danilo Castro Silveira


Rua G, Nº 461, Rua Desembargador Sales, 1089,
Bairro São Vicente de Paula. Bairro Nova Parnaíba.

Francisco das Chagas Ribeiro [Mestre Chico Ribeiro] José Gulerdúcio dos Santos [Guilherme]
Quadra B, Casa 08, Conjunto Broder Ville, Av. João T. C. Silva, 3980.
Bairro Sabiazal. Bairro Vazantinha.
Ilha Grande de Santa Isabel.

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senhores de seu ofício

Raimundo de Sousa Lima Filho [Juca Lima]


Ageu Alves de Melo [Mestre Ageu]
Travessa 06, São Vicente de Paula, 990.
Travessa Pinheiro Machado, 511

Francisco das Chagas Ribeiro [Toinho]


José Carlos Alves Reis Rua-B, Quadra-25, Casa-08
Rua Itaúna, 1573. Conjunto Broder Ville.

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arte santeira do piauí

Pedro II

José Joaquim de Araújo [Mestre Araújo]


Rua, Nenem Galvão, 1088.

Natanael da Silva Araújo


Rua, Nenem Galvão, 1088.
os santeiros (contatos)

fotos: Cássia Moura

Adriano, Ageu, Antonio Carlos, Chico Ribeiro, Costinha,


Dico, Edy, Erimar, Farias, Hernandes, Ibiapina, Josias,
Josielton, Kim, Léo, Max, Paquinha, Reis, Ribamar, Toinho,
Verim, Verônica.

fotos: Márcio Vasconcelos

André, Antônia Félix, Araújo, Assunção, Barradas, Cornélio,


Danilo, Dezinho, Dias, Dim, Ednaldo, Expedito, Guilherme,
Verônica Amorim da Silva
Joãoliveira, Josafá, José Luiz, Juca Lima, Júnior, Laércio,
Rua, Nenem Galvão, 1088. Nanico, Natanael, Pascoal, Rondinelli.

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