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São Paulo
Junho 2019
Introdução:
Há uma discussão sobre o quanto o Executivo pode atuar sobre as leis, mas não é
difícil de ouvir que determinado chefe de Executivo “governa por decreto”. A partir dessa
realidade, como trabalho final da disciplina de Limites da Gestão Pública, o presente
ensaio visa apresentar um caso específico do art. 84 como ferramenta para regulamentar
ou destituir a participação social nos órgãos colegiados, considerados como canais de
mediação entre sociedade civil e Executivo. Para isso, será realizada uma breve análise
histórica da institucionalização da participação social como instrumento de controle e
intermediação, que culmina no desfecho mais recente, o decreto 9.759/19 que “extingue
e estabelece diretrizes, regras e limitações para colegiados da administração pública
federal direta, autárquica e fundacional”.
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Boa parte das informações sobre participação social e órgãos colegiados foi retirada do livro
“Participação Social no Brasil: entre conquistas e desafios” disponível no link:
https://issuu.com/secretariageralpr/docs/participacao_social_no_brasil
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https://oglobo.globo.com/brasil/governos-do-pt-criaram-mais-conselhos-populares-12874740
3
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Decreto/D8243.htm
Política Nacional de Participação Social (PNPS) o Sistema Nacional de Participação
Social (SNPS), que visa fortalecer e integrar as diferentes instituições e procedimentos
que intermediam a relação Estado x Sociedade Civil. Considerar as instâncias de
participação social em todo ciclo de políticas públicas (Art.5º) é uma regulamentação do
decreto.
O decreto No 9.759/19
O decreto Nº 9º.759/19 foi formulado pelo Ministro da Casa Civil da atual gestão,
Onyx Lorenzoni, que em sua exposição de motivos6 objetiva, através do princípio de
racionalização administrativa, “controlar a proliferação de colegiados no âmbito da
administração pública federal direta, autárquica e funcional por meio da extinção em
massa de colegiados criados antes de 1º de Janeiro de 2019.” (pg.1) Também revoga o
Decreto 8.243/14 que criou o PNPS e SNPS. A justificativa está nos gastos da relação
homem/hora de agentes públicos nas reuniões, a forma de controle exercida por parte dos
colegiados, que estariam gerando passivos judiciais e administrativos e o desalinhamento
desses poderes colegiados para com as autoridades eleitas democraticamente. Classifica-
o como aberração e pede revogação com urgência.
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https://oglobo.globo.com/brasil/conselhos-populares-senado-pode-preferir-projeto-de-lei-decreto-
12818694
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9191.htm
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Exm/Exm-Dec-9759-19.pdf
Ao publicar o decreto, o Executivo coloca que essa regra valeria a partir de 28 de
Junho de 2019. O caso foi encaminhado ao STF depois de uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 6121 ajuizada pelo PT. O Relator do processo, Ministro
Marco Aurelio, considera que o chefe do Executivo não pode extinguir colegiados de
qualquer natureza, sejam deliberativos ou judicantes que tenham sido criados com a
aprovação do Congresso Nacional, sendo necessária também a aprovação do mesmo para
sua extinção. Porém, não há impedimento para que o presidente extinga por meio de
decreto órgãos colegiados que foram criados a partir de Decreto. A decisão do Tribunal7
foi favorável ao encaminhamento do relator (6 a 5) e a decisão foi encaminhada para a
manifestação da Presidência da República.
Observações Finais
É visível que neste caso, a não criação de colegiados por lei na câmara, constituiu
uma fragilidade institucional. As gestões Lula/Dilma expandiram os mecanismos de
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http://jurinews.com.br/stf-impede-bolsonaro-de-extinguir-colegiados-criados-por-lei
participação, mas não garantiram estabilidade jurídica para que essas políticas de
participação social se perpetuassem.
Referências Bibliográficas
MARQUES, Floriano de Azevedo, “Os grandes desafios do controle da Administração
Pública”, in MODESTO, Paulo (coord.). Nova Organização Administrativa Brasileira,
Belo Horizonte: Fórum, 2010 (p. 199-238)
“Participação Social no Brasil: entre conquistas e desafios”. Secretaria-Geral da
Presidência da República. Brasília, 2014
RIBEIRO, Leonardo Coelho. “O Direito administrativo como caixa de ferramentas e
suas estratégias”, in RDA, Rio de Janeiro, v. 272, pp. 209-249, maio/ago, 2016
http://www.planalto.gov.br/
http://www.secretariadegoverno.gov.br/participacao-social/conselhos-nacionais