ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.4688-38583-1-RV.

0802201410

Souza TO de, Silva LWS da, Dantas BT. Intersetorialidade em um município do interior da Bahia...

ARTIGO ORIGINAL
INTERSETORIALIDADE EM UM MUNICÍPIO DO INTERIOR DA BAHIA – ESTUDO
PILOTO
INTERSECTORIALITY IN A CITY OF THE COUNTRYSIDE OF BAHIA – A PILOT STUDY
INTERSECTORIALIDAD EN UNA CIUDAD DEL INTERIOR DE BAHIA - ESTUDIO PILOTO
Tatiane Oliveira de Souza1, Luzia Wilma Santana da Silva2, Benedito Tourinho Dantas3
RESUMO
Objetivos: testar o instrumento de coleta de dados de um trabalho de dissertação quanto conhecer a visão
dos profissionais coordenadores da Estratégia de Saúde da Família sobre a articulação intersectoral na gestão
do Sistema Único de Saúde. Método: estudo piloto, do tipo misto, não randomizado, interpretativo e
descritivo, realizado com cinco coordenadores da Estratégia de Saúde da Família, subsidiado por um
questionário e pela ferramenta UCINET 6 – NetDraw. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa, CAAE nº 10810712.1.0000.0055. Resultados: a estratégia demonstrou validação do instrumento
de coleta de dados, necessitando reestruturar uma questão. A ferramenta revelou as respostas numa
visualização em tipologias de redes. Conclusão: o teste foi uma abordagem investigativa de mais valia ao
desenho do estudo, que valida a temática quanto submergir no campo para fazer emergir a complexidade que
envolve a práxis intersectoral na Estratégia de Saúde da Família. Descritores: Ação Intersectoral; Acesso
Universal a Serviços De Saúde; Sistema Único de Saúde; Política de Saúde; Projetos Piloto.
ABSTRACT
Objectives: testing the instrument of data collection from a dissertation work as knowing the vision of
Professional Coordinators of the Family Health Strategy about the intersectoral articulation in the
management of the Unified Health System. Method: a pilot study, of mixed type, nonrandomized,
interpretative and descriptive, performed with five coordinators of the Family Health Strategy, supported by
a questionnaire and by the tool UCINET 6 - NetDraw. The research project was approved by the Research
Ethics Committee, CAAE N. 10810712.1.0000.0055. Results: the strategy showed validation of the instrument
for data collection needing to restructure a question. The tool revealed the answers in a visualization of types
of networks. Conclusion: the test was an investigative approach of more value to the design of the study that
validates the theme as submerging in the field to bring out the complexity which involves intersectoral praxis
in Family Health Strategy. Descriptors: Intersectoral Action; Universal Access to Health Services, Unified
Health System; Health Policy; Pilot Projects.
RESUMEN
Objetivos: probar el instrumento de recolección de datos de una tesis cuanto a conocer la visión de
Coordinadores Profesionales de la Estrategia Salud de la Familia sobre la coordinación intersectorial en la
gestión del Sistema de Salud Unificado. Método: un estudio piloto, de tipo mixto, no aleatorizado,
interpretación descriptiva, realizado con cinco Coordinadores de la Estrategia de Salud de la Familia, con el
apoyo de un cuestionario y por la herramienta UCINET 6 - NetDraw. El proyecto de investigación fue aprobado
por el Comité de Ética de Investigación, CAAE No 10810712.1.0000.0055. Resultados: la estrategia demuestro
validación del instrumento de recolección de datos, necesitando reestructurar una pregunta. La herramienta
reveló las respuestas en una visualización de tipos redes. Conclusión: la prueba fue un enfoque investigativo,
de valor añadido para el diseño del estudio, que valida el tema como sumergirse en el campo para poner de
manifiesto la complejidad que implica la praxis intersectorial en la Estrategia de Salud de la Familia.
Descriptores: Acción Intersectorial; Acceso Universal a Servicios de Salud; del Sistema Único de Salud;
Política de Salud; Proyectos Piloto.
1
Enfermeira, Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde/PPGES, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB.
Jequié (BA), Brasil. E-mail: tatiane2101@gmail.com; 2Enfermeira, Professora Pós-doutora em Enfermagem, Departamento de Saúde,
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB. Jequié (BA), Brasil. E-mail: luziawilma@yahoo.com.br; 3Físico, Doutorando em
Modelagem Computacional, Faculdade de Modelagem Computacional e Tecnologia Industrial SENAI – CIMATEC, Empresa Baiana de Águas e
Saneamento – EMBASA. Salvador (BA), Brasil. E-mail: tourinho@superig.com.br

Português/Inglês
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Souza TO de, Silva LWS da, Dantas BT.
INTRODUÇÃO
O Sistema de saúde desde a Reforma
sanitária é um dos setores que mais passou
por modificações, nos últimos 30 anos, no
contexto brasileiro. Este processo tem
ocorrido num continuum de idas e vindas no
enlace de implementações de políticas
públicas, as quais (re)constroem-se diante das
transformações da sociedade moderna nas
suas multiversas realidades sociais,
econômicas, epidemiológicas, demográficas
entre outros.
Neste processo, impõe-se como necessário
a abertura do olhar e lançar luz para o pensar
integrador, de complexificação aos fatores
enoveladores do processo de viver humano ―
Uma nova visão de mundo que requer
mudanças de concepção, de linguagem e de
superação, sobretudo do pensar mecanicista
fragmentador para se apreender das
transformações da sociedade,1 o que exige
abertura de olhar ao paradigma social.2 Trata-
se de uma concepção que valoriza tempo-
contexto-processo de modo a aglutinar
saberes à práxis colaborativa às políticas
públicas, um enlace que fez emergir este
estudo ― a intersetorialidade no contexto do
Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com o Art. 7º da Lei Orgânica de
Saúde 8.080/90 que regulamento o SUS, as
ações e serviços públicos e privados
controlados ou conveniados devem ser
desenvolvidas a partir da integralidade da
assistência,3-4 privilegiando-se as
interconexões, a concepção de
interdependência, de sistema de sistemas ou
rede de redes – um pensar-fazer sistêmico.
O pensar sistêmico evoca as relações e
interações e possui natureza de teia
interconectada - a concepção de redes. Nestas
redes, na compreensão dos sistemas humanos,
os objetivos são traçados de maneira coletiva,
articulando pessoas e instituições, com a
finalidade de superar problemas sociais e
buscar soluções. A rede compreendida como
um conjunto de relações significativas, que ao
olhar à política pública da saúde, assinala um
conjunto coordenado de pontos de atenção
para assistir às pessoas de maneira contínua e
integral.5-6 Assim, compreende-se que a
análise das relações de rede pode ser utilizada
para o entendimento das políticas sociais,1 e,
como possibilidade de identificação de
problemas das ações que devem ser
intersetoriais.
Intersetorialidade, por seu torno não é uma
palavra de aplicabilidade simples na prática
em políticas públicas. No entanto, é consenso
na comunidade científica ser uma assertiva
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Intersetorialidade em um município do interior da Bahia...
seu uso no cotidiano das ações em saúde.4,7-12
Neste particular, assenta-se a inquietude que
originou este estudo que se ancora nas
publicações acerca da temática
intersetorialidade e nas lacunas identificadas,
e, na premissa teórica de abordagem
sistêmica.2,5,13-16 Quando elegemos essa
premissa, o fizemos ao encontro de um novo
paradigma para a gestão, e, naturalmente, ao
pretender a superação da fragmentação das
políticas, considerando o indivíduo em sua
totalidade e inteireza, no direcionamento dos
princípios da igualdade e acesso universal da
assistência à saúde.
Neste sentido, ao direcionar o olhar à
compreensão das relações intersetoriais, se
mostrou como necessário a partir de uma
pesquisa de dissertação de mestrado ir a
campo testar instrumentos na execução de um
estudo piloto para maior enriquecimento e
aprofundamento da temática. Neste
particular, este estudo tem o objetivos:
● Testar o instrumento de coleta de dados
de um trabalho de dissertação.
● Conhecer a visão dos profissionais
coordenadores da Estratégia de Saúde da
Família sobre a articulação intersetorial na
gestão do Sistema Único de Saúde.
MÉTODO
Realizou-se um teste piloto de um estudo
de método misto, não randomizado, sem
grupo equivalente e interpretativo descritivo,
em um município caso do interior da Bahia, no
âmbito da Atenção Básica, na ESF.
O teste piloto caracteriza-se por possuir um
caráter experimental, sendo aplicado a uma
pequena amostra de participantes.17 A
realização deste teste visou examinar a
confiabilidade dos instrumentos de coleta de
dados, tendo em vista a organização de rede
bipartida, buscando lançar luz sobre as
questões norteadoras do estudo para validá-
las ou reestruturá-las antes da aplicação do
instrumento à amostra selecionada para o
estudo.
O estudo piloto foi desenvolvido após
aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (UESB) sob o Certificado de
apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº
10810712.1.0000.0055. Realizado nos meses
de março e abril, de 2013, teve como cenário,
três Unidades de Saúde da Família (USF), as
quais compostas por duas Equipes da ESF,
totalizando, seis equipes. Estas foram
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sorteadas entre as equipes que não comporam
o 1º sorteio do estudo, que tratou de
selecionar entre as 27 ESF identificadas no
município caso, aquelas que comporiam
amostra do estudo, ou seja, selecionando 50%
mais uma (total de 14 equipes), e reservando
como cenário do estudo de dissertação.
Dentre as 13 ESF restantes que poderiam
entrar no sorteio para o teste piloto, apenas
04 Unidades não havia sido sorteada no
primeiro momento, então, a fim de alcançar
maior validade do sorteio, foi excluído do 2º
sorteio todas as unidades que já haviam sido
contempladas no primeiro sorteio, sendo os
entrevistados 05 coordenadores que
comporam o teste piloto, havendo a exclusão
de um, por motivo de afastando por atestado
médico. Todos os entrevistados assinaram
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
O anonimato dos entrevistados foi garantido,
sendo tratados no estudo a partir de um
código - letra “E” (Entrevistado), seguido do
número sequencial de aplicação do
questionário: E1; E2; E3; E4; e, E5.
O instrumento de coleta de dados foi um
questionário semiestruturado composto por
três seções: I – Dados sócio demográficos; II –
Dados educacionais; e, III – cinco perguntas
que procuraram identificar os conhecimentos
dos entrevistados sobre conceitos associados à
intersetorialidade; ações de articulação
intersetorial na prática e encaminhamento no
SUS; e percepções sobre o que vislumbram no
SUS nos próximos 10 anos. Tais perguntas
tinham como objetivo conhecer o nível de
conhecimento dos entrevistados em relação a
rede de elementos que formam a como critérios os entrevistados do estudo
intersetorialidade no município caso e as
potencialidades do SUS. Para complementar o
trabalho de campo, as observações foram
registradas em diário de campo visando
subsidiar as informações, o processo de
análise e compreensão dos dados. A aplicação
dos questionários ocorreu nas próprias USF.
A análise e a interpretação dos dados
orientou-se pela proposta interativa18, nessa
abordagem foi construída uma rede bipartida
de interconexões que proporcionou a
visualização do sistema de saúde do município
utilizando o software UCINET 6 de acesso livre
− um software para a análise de dados de
redes sociais, mais especificamente nos
estudos organizacionais, que inclui a
ferramenta de visualização da rede NetDraw.
As falas dos entrevistados oriunda da questão
05 foi submetida análise de conteúdo na
perspectiva dos autores supracitados, que
convergiu em uma grande dimensão, a
categoria intitulada: “Necessidade de
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Intersetorialidade em um município do interior da Bahia...
mudança, acessibilidade e transparência do
SUS”.
Como forma complementar da análise das
questões da seção III foi estabelecido escores
que auxiliaram na interpretação dos
resultados. Escore - questão 01: no caso de
assinalar a alternativa “a”, acerto de 50% da
questão; alternativa “b” 30% e “c” 20%. Para
atingir 100% dos pontos, os entrevistados
deveriam assinalar as três alternativas, pois
juntas representariam o conceito de
intersetorialidade. Assim, ao marcar apenas a
alternativa “a” classifica-o como entrevistado
que conhece moderadamente o conceito de
intersetorialidade; nos casos dos entrevistados
que assinalaram as alternativas “a” e “b”, 80%
de conhecimento do conceito; nos casos dos
respondentes assinalarem as alternativas “a”
e “c”, 70% de conhecimento do conceito, ou
seja, conhecem moderadamente; já os casos
em que os entrevistados marcaram apenas as
alternativas “b” e “c”, 30% e 20%, foram
considerados como desconhecedores do
conceito de intersetorialidade.
Dessa forma, a comparação entre as redes
ideal e a pesquisada, através de indicadores
de centralidade, intermediação, grau e
densidade, pode estabelecer relações
interessantes de estudo que represente o grau
de conhecimento ou de assimilação do
conceito de intersetorialidade. Cada um dos
indicadores da rede pode, inclusive,
estabelecer tendências regionais por grupos
de entrevistados, facilitando um programa de
imersão nos conceitos básicos deste tema.
Para análise da questão 2 estabelecemos
relacionarem o maior número de instituições
de saúde entre as 192, elencadas no Cadastro
Nacional dos Estabelecimentos de Saúde
(CNES) no município caso, bem como as
secretarias que compõem o arcabouço
administrativo da gestão municipal. Além
disso, incluímos também as Instituições de
Ensino Superior (IES) e religiosas de diversas
naturezas; associações/grupos comunitários;
auditoria; Centro de Referência da Assistência
Social (CRAS) e uma instituição de saúde não
mencionada no CNES - Clínica Odontológica da
UESB. Já para as questões 3, 4 e 5 foram
utilizados escores, com a designação:
convergência e divergência às respostas.
RESULTADOS
 Dados sócios demográficos
Participaram do teste piloto quatro
coordenadoras enfermeiras e um enfermeiro
da ESF, com idade entre 24 e 47 anos, média =
33,4, tempo de atuação na ESF 11,4 meses,
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sendo o desvio padrão de 20, 46, o que
evidencia significância no tempo de atuação
dos enfermeiros na ESF referente às suas
respostas sobre intersetorialidade.
Referente a vínculos empregatícios, todos
os entrevistados informaram não possuir outro
além da ESF. Atendendo à exigência da
Política Nacional da Atenção Básica quanto à
necessidade de trabalho de 40 horas semanais
na ESF.19
Acerca da participação em cursos de
atualização na área específica de Saúde da
Família, todos os entrevistados alegaram já
ter realizado algum aperfeiçoamento, sendo
especificados os seguintes: Sistema de
Informação (E1); Abordagem sindrômica (E2;
E3; E4; E5); Atenção Integrada de Doenças
Prevalentes na Infância (E2; E4; E5);
abordagem pré-natal (E4); manejo clínico da
Dengue (E2); Proficiência em saúde do adulto
(E2); e, atualização em imunobiológicos do
Programa Nacional de Imunização (E5).
Apenas um dos entrevistados informou está
cursando pós-graduação em nível Lato sensu
na área de urgência e emergência.
A análise e a interpretação das 05 questões
da intersetorialidade surgiram do enlace das
medidas de coesão para rede de dois modos,
também chamada de rede bipartida, na
observância de densidade, distância média,
raio, diâmetro, fragmentação, transitividade e
distância normalizada20-21, e também do
direcionamento dos indicadores de rede.
A densidade é a razão entre o número de
laços existentes pelo número de possíveis
laços da rede, representando um valor para se
certificar do nível de conhecimento percebido
em relação ao conhecimento correto ou de
densidade.22
Dessa forma, o valor da densidade que
representa a convicção correta sobre o
conceito apropriado de intersetorialidade
(densidade = 1,000), permite encontrar o
desvio do grupo de respondentes em relação
ao válido conceito de intersetorialidade.
Observou-se, entretanto, que a densidade
alcançada de 0,600 indica que este conceito
tem um desvio de 0,067 em relação à
densidade desejada na rede-resposta.
A distância média tem a finalidade de
indicar a coesão da rede pesquisada, podendo
ser comparada com a coesão da rede
desejada, formando mais um indicador do
conjunto que pode aferir o nível de
conhecimento sobre intersetorialidade, neste
caso a distância foi de 2,063 e a distância
desejada é 1,464, portanto, o desvio entre as
redes é de 0,599. O comprimento de um
caminho é o número de arestas que ele
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possui, logo a distância entre dois nós é o
comprimento do caminho mais curto entre
eles e a distância média é o comprimento do
melhor caminho da rede.20-21 Assim podemos
dizer que o caminho ótimo desejado é o
caminho médio definido pelo padrão de rede
desejado para o conceito de intersetorialidade
e o desvio desse caminho é a distância entre o
conhecimento existente e o desejado.
Outros indicadores contribuem para
estabelecer comparação entre a rede
desejada e a rede percebida pelos
entrevistados, estabelecendo um desvio que
representa a quantidade de desconhecimento
em relação à intersetorialidade, como se
apresenta na questão 01 (seção III). Os
resultados da rede considerada como a
formada pela resposta ideal ou que evidencia
o conhecimento total sobre a definição de
intersetorialidade são: fragmentação: 0,000;
densidade: 1,000; distância média: 1,464;
raio: 2,000; diâmetro: 2,000; transitividade:
1; distância normalizada: 1. É evidente que
essa comparação com a quantidade de
respondentes é simples de ser feita pela
análise das respostas, entretanto, quanto
maior for o grupo de respondentes, maior será
a dificuldade de análise, exigindo o uso desta
ferramenta.
Por raio, entende-se que é a menor
excentricidade no gráfico bipartido, dentro
dos componentes, que para esta rede
apresenta-se com o valor de 1.000. O
diâmetro representa, dentre seus
componentes o comprimento da maior
geodésica no gráfico bipartido, e nesse estudo
temos o valor de 4.000. Quanto à
fragmentação encontrada na rede, verificou-
se o valor de 0.429 que difere e muito do
valor de 0,000 desejado. A transitividade
0.842 também pode ser comparada com a
transitividade da rede considerada ideal que é
de 1,000.
Isso quer dizer que todos esses indicadores
podem ser utilizados para analisar ou
comparar a rede formada pelo conjunto de
conhecimento existente de intersetorialidade.
Essa análise, por exemplo, pode significar que
quanto menor for o raio da rede quando
comparado com a rede ideal, mais nivelados
estão os conhecimentos dos respondentes. A
fragmentação indica a proporção de pares de
nós que não podem ser associados a outros
nós, significando a fragmentação do
conhecimento. A transitividade está associada
ao compartilhamento do próprio nó por
diferentes atores, neste caso, é um indicador
de consenso em relação a resposta mais ou
menos consistente sobre intersetorialidade.
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No delineamento questão a questão temos: que representam as respostas foram as

questão 1 de múltipla escolha, a pergunta: “a seguintes:
que conceitos você associa a
intersetorialidade?”. Tendo em observância às
alternativas (a) Interdependência das ações de
saúde; (b) Intervenção nas ações de saúde, e
(c) relacionamento entre as
pessoas/profissionais de saúde. As tipologias

(a) (b)

Figura 1. Redes bipartida que representa o conhecimento sobre intersetorialidade

desejado (a) e o conhecimento dos entrevistados (b), de um município caso, acerca do
conceito da intersetorialidade.

Figura 2. Rede desdobrada da rede

bipartida que representa o
conhecimento percebido pelos
entrevistados em relação à
intersetorialidade.
As tipologias das Figuras 1 e 2 revela-nos único entrevistado a optar pela alternativa
que os entrevistados E1 e E3 possuem o “c” 20%, desconhece o conceito.
mesmo nível de conhecimento sobre A Figura 3 apresenta a tipologia da
intersetorialidade, optaram pela alternativa articulação intersetorial nos serviços
“b” que representa 30% de acerto. Tal acionados pelos entrevistados no município
alternativa foi também escolhida por E4, caso, na ESF, nela evidenciamos que E4 e E5
entretanto, também escolheu a alternativa foram os que mais elencaram ações
“a” que representa mais 50% de acerto, logo, intersetoriais em suas práticas, o que valida o
E4, totalizou 80% de conhecimento, ou seja, enunciado do parágrafo precedente, quanto
moderado. A opção “a” foi assinalada por E5, obterem conhecimento moderado acerca do
50% - conhecimento moderado sobre o conceito de intersetorialidade.
conceito de intersetorialidade. Já E-2 foi o

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Figura 3. Rede desdobrada da rede bipartida que representa o conhecimento percebido pelos (as) enfermeiros (as) em
relação a intersetorialidade.

Além da tipologia apresentada na Figura 3, de nós.23 Estes nós são também denominados
podemos fazer os cálculos dos indicadores da como “atores-pontes”. Assim, de acordo com
rede intersetorial: grau, proximidade, a Figura 4, o HGPV e associações/grupos
intermediação e indicador vetorial. Temos comunitários tem valor de 0.001, os demais
que quanto ao grau, houve uma variação entre estabelecimentos elencados na figura,
0.200 e 0.600, sendo este maior valor possuem valor 0.000, conforme destacado.
correspondente ao estabelecimento de saúde O indicador vetorial apresentou resultados
HGPV. negativos, dentre eles, o de maior
O Grau de proximidade (Closenness) trata representatividade corresponde às
da capacidade que um ator tem de alcançar associações/grupos comunitários (-0.402) e o
todos os nós da Rede.22 Calcula-se contando de menor, o das IES de -0.056.
todas as distâncias geodésicas de um ator para
se ligar aos restantes. Neste caso, o HGPV
representa o serviço que possui maior grau de
proximidade (27.400) com a ESF, seguido das
associações/grupos comunitários (22.833); já
o Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS)
Guito Guigó; Centro de Referência em Saúde
Sexual; Complexo Regulador de Jequié;
Secretaria Municipal de Saúde (SMS); Unidade
Básica de Saúde (USB) Júlia Magalhães e
auditoria possuem igual valor de grau de
proximidade (21.632). Para outros, como: o
Centro de Referências em Doenças Endêmicas
Pirajá da Silva; Núcleo de Prevenção e
Reabilitação Física de Jequié (NUPREJ);
Tratamento Fora de Domicílio (TFD);
Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Social (SMDS); Secretaria Municipal de
Educação (SME); Instituições religiosas de
diversas naturezas e o CRAS o grau de
proximidade foi de 18.682. As IES do
município também foram mencionadas pelos
entrevistados como rede de articulação
intersetorial, com grau de proximidade
12.088.
Os demais estabelecimentos presentes no
município caso não foram mencionados. O
Grau de Intermediação (Betweenness)
representa a possibilidade que um ator possui
para intermediar as comunicações entre pares

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Serviços contactados Grau Proximidade Intermediação Indicador

pelos entrevistados (Degree) (Closeness) (Betweenne) vetorial
(Eigenvect)
CAPS (GuitoGuigó) 0. 200 21.632 0.000 0.000
Centro de Referência 0. 200 18.682 0.000 -0.346
endêmicas Pirajá da Silva
Centro de Referências 0. 200 21.632 0.000 0.000
em Saúde Sexual
Complexo regulador de 0.200 21.632 0.000 0.000
Jequié
HGPV 0.600 27.400 0.001 0.000
NUPREJ 0.200 18.682 0.000 -0.346
SMS 0.200 21.632 0.000 0.000
TFD 0.200 18.682 0.000 -0.346
USB Júlia Magalhães 0.200 21.632 0.000 0.000
SMDS 0.200 18.682 0.000 -0.346
SME 0.200 18.682 0.000 -0.346
IES 0.200 12.088 0.000 -0.056
Instituições religiosas 0.200 18.682 0.000 -0.34
Associações/grupos 0.400 22.833 0.001 -0.402
comunitários
Auditoria 0.200 21.632 0.000 0.000
CRAS 0.200 18.682 0.000 -0.346
Figura 4. Indicadores da rede intersetorial para instituição indicada pelos entrevistados

No que tange os indicadores da rede intersetorial na prática e encaminhamento no

intersetorial pode-se observar na figura 5 que SUS.
os entrevistados E-4 e E-5 possuem maiores
conhecimentos sobre ações de articulação
Entrevistados Grau Proximidade Intermediação Indicador vetorial
(Degree) (Closeness) (Betweenne) (Eigenvect)
E-1 0.005 9.217 0.000 0.000
E-2 0.010 8.480 0.000 0.160
E-3 0.005 9.217 0.000 0.000
E-4 0.034 19.273 0.002 0.000
E-5 0.039 16.308 0.002 0.987

Figura 5. Indicadores da rede intersetorial para cada entrevistado.

Identificou-se as seguintes medidas de maior referência, reforçando o grau de

coesão: densidade de 1.000; distância média proximidade (27.400) exposto anteriormente.
de 1.953; raio de 2.000; diâmetro de 2.000; Contudo, emergiu das falas a palavra
fragmentação de 0.000; transitividade de ‘universalização’ com grau de proximidade
1.000; e, distância normalizada é 1.000. Essas (23.000) numa compreensão do sistema SUS
medidas obedecem aos mesmos critérios das abranger os sujeitos em sua totalidade. No
efetuadas na questão anterior, evidenciando entanto, como visto na figura 4, a práxis de
que cada uma delas completa um cenário da encaminhar dos entrevistados tem seu maior
rede percebida em relação a rede considerada direcionamento para o estabelecimento
referência para análise, dessa forma, os hospitalar.
resultados refletem a análise do conjunto de
conhecimento dos respondentes em relação ao
questionamento apresentado. É importante
destacar que a rede representa o
conhecimento no instante do tempo em que
foi aplicado o questionário, não podendo ser
projetada como o conhecimento contínuo dos
atores da rede.
Quando questionados acerca do
conhecimento do sistema para realização de
encaminhamentos dos usuários, os
entrevistados responderam conforme a figura
6, ser o HGPV o estabelecimento de saúde de

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Encaminhamento Grau Proximidade Intermediação Indicador

dos usuários na rede (Degree) (Closeness) (Betweenne) vetorial
SUS (Eigenvect)
Hospital 0.600 1.769 0.167 0.544
Universalização 0.200 23.000 0.000 0.000
Centros de DST 0.200 1.353 0.000 0.375
UBS 0.200 1.353 0.000 0.375
TFD 0.200 1.353 0.000 0.375
CAPS 0.200 1.353 0.000 0.375
USF 0.200 1.353 0.000 0.375
NUPREJ 0.200 4.600 0.000 0.000
PIEJ 0.200 4.600 0.000 0.000
CRAS 0.200 4.600 0.000 0.000
Figura 6. Encaminhamento dos usuários a rede SUS pelos entrevistados

No que refere aos encaminhamentos à rede por E5 (6.000) e E4 (1.800) como se visualiza
SUS por entrevistados, se observa na figura 7, na tipologia da rede na figura 8.
E-2 com maior proximidade (18.000); seguido
Entrevistados Grau Proximidade Intermediação Indicador
(Degree) (Closeness) (Betweenne) vetorial
(Eigenvect)
E-1 0.100 0.900 0.000 0.214
E-2 0.100 18.000 0.000 0.000
E-3 0.100 0.900 0.000 0.214
E-4 0.600 1.800 0.287 0.953
E-5 0.300 6.000 0.034 0.000
Figura 7. Encaminhamento dos usuários à rede SUS por entrevistados

Figura 8. Tipologia da rede de encaminhamento dos usuários à rede SUS por

entrevistados.

Sendo identificadas as seguintes medidas casos, contra referência HGPV e PSF, como se
de coesão: densidade de 0.240; distância visualiza na tipologia apresentada na figura 9.
média de 1.953; raio de 1.000; diâmetro de Tais respostas ao serem confrontadas as
3.000; fragmentação de 0.590; transitividade questões 02 e 03 demonstram haver nível de
de 0.844; e, distância normalizada é 1.905. conhecimento moderado para dois
Na questão 04 do instrumento fora entrevistados (E4 e E5) validando as questões
questionado: “O que você sente falta no do teste piloto.
sistema (SUS) para encaminhamento?” Tal Na figura 9 identificamos as seguintes
pergunta, visou o imbricamento das questões medidas de coesão: densidade de 0.275;
02 e 03 de forma a reforçar a avaliação do distância média de 3.375; raio de 1.000;
conhecimento dos entrevistados quanto a diâmetro de 8.000; fragmentação de 0.385;
intersetorialidade. As respostas foram: transitividade de 0.816; e, distância
respeito, organização, logística, profissionais normalizada é 0.716.
especializados, contra referência, finalizar

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Figura 9. Tipologia da rede das necessidades existentes no sistema (SUS) para
realização de encaminhamento dos usuários à rede SUS por entrevistados
A última questão do instrumento: “O que
você vislumbra no SUS daqui a 10 anos?”
orientou a análise compreensiva, interativa e
interpretativa dos dados, convergindo na
análise de uma única dimensão categórica,
intitulada: “Necessidade de mudança,
acessibilidade e transparência do SUS”. Essa
dimensão evidenciou segundo os entrevistados
que há necessidade de mudanças no SUS no
que se refere ao cumprimento de seus
princípios e diretrizes, sendo enfatizada a
universalização como eixo basilar da
acessibilidade e resolutividade ao processo
saúde-doença dos usuários do SUS. Também
teve ênfase a organização e transparência na
gestão do sistema, como enunciado:
Espero que esteja melhor, que dê mais
oportunidade de trabalhar, que seja
cumprido as normas e diretriz [...]. (E1)
Que todos possam ter participação unânime,
onde todos possam conhecer seus direitos,
deveres e diretrizes como: universalidade e
igualdade. E que as três esferas: Federal,
Estadual, Municipal possam disponibilizar
mais recursos, e que esses recursos não
sejam desviados. (E3)
[...] que possa proporcionar acessibilidade
para todos os usuários, já que essa proposta
não é garantida. [...] O sistema de saúde no
Brasil está avançando, mas com o
crescimento e envelhecimento da
população, não há vagas suficientes. (E4)
Outros aspectos abordados versam sobre a
atenção básica – a ação de promoção da saúde
como imperativo à assistência na ESF, sendo
sugerida a ampliação da equipe
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multiprofissional e sua práxis ancorada na
política de humanização.
Que haja mudança nas diretrizes; que
tenhamos uma atuação efetiva na prevenção
[...]. Que tenha mais transparência e
organização dos transplantes de órgãos;
inclusão de nutricionistas, fisioterapeutas e
psicólogos, [...] que trabalhe com as
políticas públicas voltadas para a
humanização. Enfim, quero vê uma saúde do
SUS que sirva como modelo para o mundo.
(E2)
Na literatura a universalidade é sublinhada
como um princípio estruturante das políticas
de saúde em que o Estado deve garantir aos
cidadãos o direito à saúde e não apenas o
direito de acesso ao SUS. Tais direitos evocam
os constitucionalmente adquiridos e não
podem desvencilhar-se do princípio da
universalidade.23 Esses direitos foram
enunciados pelos entrevistados que
conferiram-no grau de significância e
significado a sua execução. Assim como, à
transparência do sistema, a pactuação entre
as diferentes instâncias de poder – governo,
sociedade civil, prestadores de serviços
públicos e/ou privados e instituições
formadoras de recursos humanos em saúde.
Tratam-se de fatores que devem enredar a
política, planejamento e gestão como
processo de tomada de decisão.24
Outro ponto enunciado pelos entrevistados
assenta-se na mudança demográfica e
epidemiológica do contexto atual do Brasil,
quanto às implicações do envelhecimento e o
aumento das doenças crônicas não
transmissíveis, o que acarreta aumento das
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demandas aos serviços de saúde, o SUS. Este,
por sua vez, devendo está preparado para
atender as necessidades dos usuários, ou seja,
a integralidade da assistência à saúde das
pessoas.
CONCLUSÃO
A realização do estudo piloto como
ferramenta metodológica para o teste do
instrumento de coleta de dados à pesquisa de
dissertação de mestrado mostrou-se como
uma estratégia de mais valia para validação
das questões 01, 02, 03 e 05; e, reformulação
da questão 04. Demonstrou o quão necessário
de faz testar instrumentos de coleta, quando
o objeto do estudo é imerso em complexidade
e multidimensionalidade como se mostra o
desvelamento da intersetorialidade na práxis
profissional na ESF.
A respeito dos métodos de análise, a
ferramenta UCINET 6 junto ao NetDraw,
mostrou-se reveladora das respostas dos
entrevistados e sua visualização nas tipologias
das redes. Destaca-se, que se trata de uma
ferramenta que exige do pesquisador domínio
para manuseio adequado a sua execução.
Neste estudo, este processo permeou um ir e
vir na transversalidade dos conceitos
enunciados dessa ferramenta na interpretação
das respostas dos sujeitos, o que se mostrou
enriquecedor ao desvelamento do objetivo do
estudo; também, no cruzamento da análise de
conteúdo das falas dos sujeitos na proposta
interativa e cíclica de análise.
O teste piloto serviu para conduzir a
pesquisa de campo em sua validação. Da
experiência, recomendamos essa abordagem
quando se tratar de pesquisa de enfoque
complexificador.
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Aceito: 26/12/2013
Publicado: 01/02/2014
Correspondência
Tatiane Oliveira de Souza
Rua Costa Brito, 580 / Centro
CEP: 45200-010 ― Jequié (BA), Brasil
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