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CAPÍTULO 4 MÉTODO DOS RESÍDUOS PONDERADOS

1. Os Métodos de Resíduos Ponderados

Os Métodos de Resíduos Ponderados constituem um conjunto de


metodologias que se aplicam à resolução aproximada de um Problema de
Valor de Contorno expresso em forma variacional direta, isto é, gerado a partir
de ponderação sobre a equação diferencial do problema. Cada método
distingue-se dos outros pela construção das funções-peso.

A forma variacional direta também envolve uma forma bilinear e outra linear.
Portanto, como visto no capítulo sobre soluções aproximativas, a mesma pode
ser representada em termos gerais como:

B(u , w)  F ( w)  w (1)

onde u deve obedecer às condições de contorno (todas) e w deve ser


homogênea nas condições de contorno essenciais.

Neste capítulo detalham-se melhor as formas bilinear e linear, indicadas na


(1), responsáveis, como se verá, pelas diferenças entre os Métodos de
Resíduos Ponderados.

Considere-se, então, a seguinte representação da equação diferencial de certo


problema a ser estudado:

A  u   q ( x) (2)

aonde A representa um operador sobre a função u(x), que gera as parcelas


contendo as diferentes ordens de derivadas, daquela função, que aparecem na
equação diferencial. Sob um ponto de vista geral um operador desta natureza
pode ser linear ou não-linear, entretanto, neste texto serão considerados
somente os operadores lineares. Ainda na (2), q(x) reúne os termos
independentes de u (normalmente associados ao carregamento aplicado, nos
problemas estruturais).

Assim sendo, a forma forte do P.V.C. resulta expressa pela (2) mais as
condições de contorno, essenciais e naturais, do problema a ser analisado.
64 -Os Métodos de Resíduos Ponderados-
Sergio P.B.Proença

Uma solução aproximativa (‘função–teste’) para a forma forte pode ser


definida analogamente como a descrita pela relação (16) do capítulo anterior,
aqui convenientemente reescrita, considerando-se um número finito de termos,
por:

u  x    i i ( x )  uo  x  c/ i  1, ,n (3)

Dado que a aproximação é para a forma forte, é importante lembrar que uo  x 
é uma solução que atende a todas as condições de contorno do problema (o
que não implica que seja solução particular para a (1)), enquanto que as i ( x )
são homogêneas naquelas condições.

Impondo-se a solução aproximativa na (2), e uma vez que a aproximação não


coincide com a solução exata, define-se o resíduo gerado pela aproximação
como:

R  u   A  u   q (4)

O Método dos Resíduos Ponderados propõe que os coeficientes  i da


aproximação sejam determinados mediante a condição de anulação do resíduo
expresso em forma ponderada:

 Ru  w d   0
~ (5)

aonde  é o domínio do problema e w é uma função-peso homogênea nas


condições de contorno essenciais. Portanto, com a (4) na (5) recupera-se a
forma variacional direta implicitamente indicada na (1), neste caso já
empregando a função aproximativa.

No que segue, apresenta-se a dedução da forma geral do sistema que permite a


determinação dos coeficientes  i .

A função-peso, como se sabe, pode também ser colocada na forma de uma


combinação linear de funções-base:

w x   j f j c/ j  1, ,n (6)
-Os Métodos de Resíduos Ponderados- 65
Sergio P.B.Proença

Substituindo-se a (6) na (5), resulta:

 j  R  u  f j d   0 c/ j  1, ,n (7)

representando uma somatória de n parcelas com coeficientes  j quaisquer.

Repete-se, então, o desenvolvimento do capítulo anterior. Dada à


arbitrariedade dos coeficientes, a nulidade indicada fica garantida se cada
integral da somatória se anular, independentemente, ou seja:

 R  u  f

j
d   0 c/ j  1, ,n (8)

É importante observar que os f j devem constituir uma base linearmente


independente de tal modo que o sistema (8) apresente solução única.

A forma mais geral do Método dos Resíduos Ponderados resulta da


substituição das (3) e (4) na relação (8).

Explorando-se o fato que também A(u ) é um operador linear, segue que:

 i  A i  f j d    A  uo  f j d    q f j d 
  

 i  A i  f j d     q  A  uo   f j d  (9)


 

Observa-se na (9) que à esquerda da igualdade tem-se uma forma bilinear e à


direita uma forma linear. Definindo-se:

K ij   A i  f j d  ; Fj    q  A  uo   f j d  (10)


 

resulta a seguinte expressão indicial para o sistema que permite determinar os


coeficientes  i :

 i K ij  Fj (11)
66 -Os Métodos de Resíduos Ponderados-
Sergio P.B.Proença

Finalmente, reunindo-se os coeficientes  i num vetor coluna  , os Fj num


outro vetor coluna F e os K ij nas posições de linha i e coluna j de uma matriz
K , segue a representação matricial do sistema (11):

K  F
T
(12)

Os chamados Métodos de Resíduos Ponderados diferem entre si pela maneira


como são definidas as funções f j .

1.1 Método de Galerkin

Este método propõe que se adote a mesma base da função aproximativa da


solução para compor a base da função-peso, isto é: f j   j . Nessas condições,
as (10) passam às formas:

K ij   A i  j d  ; Fj    q  A  uo    j d  (13)


 

1.2 Método de Petrov-Galerkin

Neste método mantém-se a generalidade para a definição da função-peso, isto


é, f j   j , evidentemente com a restrição que a mesma seja homogênea nas
condições de contorno essenciais.

1.3 Método dos Mínimos Quadrados

Classicamente este método propõe que a aproximação seja obtida por


minimização de uma medida representativa do erro médio de aproximação
sobre todo o domínio da solução. Essa medida é definida pela norma ao
quadrado do resíduo e representada por:

  Ru~  d   R j j  u~o  d 


2 2 2
R (14)
 

É possível mostrar que a relação resultante da minimização do resíduo se


enquadra na forma geral dos Métodos de Resíduos Ponderados explicitada
pela relação (8). De fato, impondo-se a minimização da norma, segue que:
-Os Métodos de Resíduos Ponderados- 67
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d R
2
 d R  j  j  uo  
0  2  R  u   d   0 (15)
dj  d  


 
j

fj

Ainda da (15) resulta que:

d R  j  j  uo  d  A  j  j  uo   q 
fj    A  j  (16)
dj dj

Portanto, neste método a (8) assume a forma:


~  
 Ru  A  j d   0 (17)

Por conseqüência, as (10) passam a ser dadas por:

K ij   A i  A  j  d  ; Fj    q  A  uo   A  j  d  (18)


 

Observa-se que no Método dos Mínimos Quadrados a matriz K é simétrica!

1.4 Método da Colocação

Em sua proposição fundamental, o método da colocação impõe que o resíduo


seja anulado num número n de pontos do domínio, o que se exprime pela
relação:

Ru~ x j   0 c / j  1,, n (19)

É possível mostrar que também este método se enquadra na forma geral dos
métodos de resíduos ponderados. De fato, explorando-se a propriedade do
Delta de Dirac(*), a relação anterior pode ser expressa numa relação integral
como:

R u  x j     R  u    x  x j  d  0 c / j  1,, n (20)


  
fj

(*)
A observação é que o Delta de Dirac não é uma função!
68 -Os Métodos de Resíduos Ponderados-
Sergio P.B.Proença

Tendo-se em vista a definição de R  u  segue ainda que:

  A  u   q    x  x  d   0

j
(21)

de onde resultam as seguintes formas particulares para K ij e Fj :

K ij   A i  f j d    A i    x  x j  d   A i  xj


 

Fj    q  A  uo     x  x j  d    q  A  uo   (22 a,b)


xj

2. Aplicação ao caso das barras sob força normal

O exemplo consiste em encontrar uma solução aproximada para o campo de


deslocamentos da barra indicada na Figura 1, segundo os Métodos de
Resíduos Ponderados descritos.

Figura 1 – Barra sob carga axial

A formulação em forma forte do problema em questão já foi apresentada no


primeiro capítulo e, levando-se em conta as condições de contorno
evidenciadas na Figura 1, se resume às seguintes relações:

q P
u  x    ; u  0   0; u  L  
ES ES
-Os Métodos de Resíduos Ponderados- 69
Sergio P.B.Proença

Portanto, comparando-se com a forma genérica da equação diferencial dada


pela (2), conclui-se que o operador A realiza a segunda derivada da função
q
argumento e q   .
ES

Considerando-se as características da forma forte, uma função-teste, candidata


à aproximação, deve ter segunda derivada contínua e respeitar as duas
condições de contorno: essencial e natural. Um polinômio cúbico possui
segunda derivada contínua e pode ser adotado como função aproximativa:

u~  x   1 x 3   2 x 2   3 x   4

Impondo-se as condições de contorno, a expressão anterior assume a forma:

u  x   1  x 3  3 L2 x    2  x 2  2 L x  
Px
ES

Comparando-se essa relação com a forma geral da função aproximativa dada


pela (3), conclui-se que:

Px
1  x 3  3 L2 x ; 2  x 2  2 L x ; uo 
ES

Observa-se que 1 e 2 resultaram homogêneas em todas as condições de


contorno.

Com a base de funções aproximativas definida, segue que: A1   1  6 x ,


A2   2  2 e Au~o   0 .

Trata-se agora de aplicar os diferentes métodos para a determinação dos


coeficientes  1 e  2 .

a) Resolução por Galerkin:

Segundo esse método as componentes do sistema resolvente ficam


determinadas pelas relações (13) e, portanto:
70 -Os Métodos de Resíduos Ponderados-
Sergio P.B.Proença

L
24 L5
K11   L A 1 1 dx   6 x  x 3  3 L2 x  dx  
o o 5

L
5 L4
K 21   L A 2 1 dx   2  x 3  3 L2 x  dx  
o o 2

L
4 L3
K 22   L
A 2 2 dx   2  x  2 L x  dx  
2

o o 3

L
5 L4
K12   L
A 1 2 dx   6 x  x  2 L x  dx  
2

o o 2

L
5 q L4
 x  3L x d x  4 E S
q
F1   L
 q  A  uo   1 dx    3 2

o o ES

L
2 q L3
 
q
F2   L  q  A  uo   2 dx    x 2
 2 L x d x 
o o ES 3E S

Resolvendo o sistema (12), obtêm-se as seguintes respostas:

q
1  0 ;  2  
2E S

Finalmente a solução aproximativa assume a forma:

P x q L2   x   x   P x
2

 x  2 L x   E S  2 E S 2  L    L    E S
q
u  x    2

2E S      

b) Resolução por Petrov-Galerkin:

Neste método é preciso definir as funções-peso de modo a serem linearmente


independentes e homogêneas nas condições de contorno essenciais. No caso
adotam-se:

f1  x 2 e f 2  x
-Os Métodos de Resíduos Ponderados- 71
Sergio P.B.Proença

As componentes do sistema resolvente ficam determinadas pelas relações (10)


e assumem as formas:

L
3 L4
K11   L
A 1  f1 dx   6 x  x  dx 2

o o 2
L

K12   A 1  f 2 dx   6 x x dx  2 L3
L

o o

L
2 L3
K 21   L
A 2  f1 dx   2 x dx 
2

o o 3

K 22   L A 2  f 2 dx   2 x dx  L2
o o

L
q 2 q L3
F1   L
 q  A  uo   f1 dx    x dx
o o ES 3E S

L
q q L2
F2   L
 q  A  uo   f 2 dx    xd x  
o o ES 2E S

Resolvendo, então, o sistema (12), obtém-se as seguintes respostas para os


coeficientes:

q
1  0 ;  2  
2E S

Finalmente a solução aproximativa assume a forma:

P x q L2   x   x   P x
2

 x  2 L x   E S  2 E S 2  L    L    E S
q
u  x    2

2E S      

c) Resolução por Mínimos Quadrados:

Segundo esse método as componentes do sistema resolvente ficam


determinadas pelas relações (18) e, portanto:
72 -Os Métodos de Resíduos Ponderados-
Sergio P.B.Proença

K11   L A 1  A 1  dx   6 x 6 x dx  12 L3


o o
L

K 21   L A 2  A 1  dx   2.6 x dx  6 L2


o o
L

K 22   L A 2  A 2  dx   2.2 dx  4 L


o o

K12  K 21

L
q 3 q L2
F1    q  A  uo   A 1  dx   
L
6xd x  
o o ES ES
L
q 2q L
F2   L  q  A  uo   A 2  dx    .2 d x  
o o ES ES

Resolvendo o sistema, obtêm-se as seguintes respostas para os coeficientes:

q
1  0 ;  2  
2E S

Finalmente a solução aproximativa assume a forma:

P x q L2   x   x   P x
2

 x  2 L x   E S  2 E S 2  L    L    E S
q
u  x    2

2E S      

d) Resolução por Colocação:

Para a resolução por este método, escolhem-se, por exemplo, dois pontos de
L 3L
colocação no domínio: x1  e x 2  . O sistema resolvente fica definido a
4 4
partir das relações (22):

L 3L
K11  A 1  x1
 6. 
4 2

3L 9 L
K12  A 1  x2
 6. 
4 2
-Os Métodos de Resíduos Ponderados- 73
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K 21  A 2  x1
2

K 22  A 2  x2
2

q
F1  F2  
ES

Resolvendo o sistema, obtêm-se as seguintes respostas para os coeficientes:


q
1  0 ;  2   .
2E S

Finalmente a solução aproximativa assume a forma:

P x q L2   x   x   P x
2

 x  2 L x   E S  2 E S 2  L    L    E S
q
u  x    2

2E S      

3. Vigas em flexão: modelo clássico

O modelo clássico para a análise de vigas planas foi apresentado no item 3.2
do capítulo 2. Neste item resumem-se as relações de interesse lá apresentadas
(basicamente aquelas que descrevem a condição de compatibilidade) e
complementa-se o modelo explicitando a equação diferencial fundamental, de
interesse para a aplicação dos Métodos de Resíduos Ponderados.

Na Figura 2 ilustra-se a deformação relativa entre duas seções vizinhas de um


trecho de viga.

Figura 2 – Deformação de um elemento de viga


74 -Os Métodos de Resíduos Ponderados-
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Com os elementos da figura, a deformação específica longitudinal fica dada


por:

AB  AB
x  (23)
AB

Considerando-se que giros e deslocamentos são pequenos, pode-se exprimir o


comprimento atual da fibra envolvendo o giro relativo entre seções:

x 
 d x  d y   d x  y d 
dx dx

dv d 2v
Como    , segue que  x   y 2   y v (24)
dx dx

A (24) caracteriza-se como uma relação de compatibilidade. Dentro dos


limites dos pequenos deslocamentos e giros, v pode ser confundido com a
curvatura do eixo na posição x.

Por outro lado, tendo-se em vista a relação linear entre tensão e deformação,
segue que:

 ( x)   E y v (25)

De uma forma geral, o momento de flexão, ou fletor na seção, é definido a


partir dos momentos das tensões normais em relação ao centro de gravidade
da seção. Assim sendo:

M ( x)    x y dA (26)
A

onde A representa a área da seção transversal. Combinando-se as relações (25)


e (26), obtém-se:

M ( x)    E v y 2 dA   E I v (27)


A
-Os Métodos de Resíduos Ponderados- 75
Sergio P.B.Proença

sendo I o momento de inércia da seção em relação a um eixo ortogonal ao


plano da viga e que passa pelo centro de gravidade da seção transversal. Nota-
se que no caso das vigas em flexão, a hipótese cinemática permite
convenientemente interpretar o momento M e a curvatura v como variáveis
generalizadas de tensão e deformação. Nesse sentido, a (27) caracteriza-se
como uma relação constitutiva.

Por outro lado, admitindo-se que o elemento de viga em questão esteja


submetido a uma força externa aplicada de forma distribuída ao longo do seu
comprimento, um estado de equilíbrio deve prevalecer. Na Figura 3,
representa-se o diagrama de corpo livre do elemento, destacando-se os
esforços internos necessários para estabelecer o equilíbrio.

p(x)
M M+dM

V dx V+dV

Figura 3 – Equilíbrio de um elemento de viga

Da imposição de somatória nula tanto de forças verticais quanto dos


momentos em torno de um ponto qualquer, decorrem as seguintes relações:

dV dM
  p ( x); V ( x)  (28)
dx dx

Nota-se que a força cortante aparece no modelo somente via condição de


equilíbrio, pois o modelo cinemático não permite levar em conta as
deformações por distorção angular associadas à força cortante.

As duas relações anteriores podem ser combinadas, resultando em:

d 2M
  p ( x) (29)
dx 2
76 -Os Métodos de Resíduos Ponderados-
Sergio P.B.Proença

Finalmente, as relações de equilíbrio, (29), compatibilidade, (24), e


constitutiva, (27), podem ser combinadas de modo a eliminar as variáveis
generalizadas. Para a situação de produto EI constante ao longo do
comprimento da viga, a combinação em questão resulta em:

d2
 p 2
E I v  0   p  E I v IV  0 (30)
dx

A equação diferencial do problema apresenta a seguinte solução geral:

p x4
v( x)  C1  C2 x  C3 x 2  C4 x 3  (31)
24 E I

As constantes da função solução ficam determinadas, em cada problema


específico, pela imposição de condições de contorno. No caso da viga bi-
engastada, por exemplo, as condições de contorno consistem em impor a
nulidade para o deslocamento transversal e para os giros da seção nas duas
extremidades. Para tanto, é interessante escrever a expressão de v ( x ) :

p x3
v( x)  C2  2 C3 x  3 C4 x 
2
(32)
6E I

Impondo-se, então, as condições de contorno, obtêm-se:

p L2 pL
C1  C2  0; C3  ; C4  
24 E I 12 E I

e, finalmente:

p L4  x  2 x x 
3 4

v( x)     2       (33)
24 E I  L  L L 

Uma análise de interesse, que decorre da solução obtida, é relativa à obtenção


dos momentos fletores e forças cortantes nas extremidades vinculadas.

Como visto pela condição de equilíbrio, a força cortante se relaciona com a


derivada do momento fletor, valendo, então, a expressão:
-Os Métodos de Resíduos Ponderados- 77
Sergio P.B.Proença

dx
Q( x)   y dA (34)
A d x

Considerando-se a relação linear entre tensão e deformação e a (25), segue


que:

Q( x)   E I v (36)

Tomando-se, então, as derivadas da solução indicada na (33), da (27) e da (35)


resultam:

p L2   x   x 2 
M ( x)  6    6    1 (37)
12 E I  L L 

p
Q( x)   L  2 x (38)
2

Impondo-se x = 0 ou x = L, determinam-se os valores nas extremidades. Os


sinais resultantes devem ser interpretados à luz da convenção clássica:
momentos positivos tracionam as fibras abaixo do eixo da viga, enquanto que
forças cortantes positivas formam um binário com sentido horário quando
representadas à esquerda e à direita, respectivamente, de duas seções vizinhas
em relação ao eixo longitudinal.

4. Aplicação dos Métodos de Resíduos Ponderados às vigas em flexão

Considerando-se a equação diferencial do problema da viga em flexão, dada


pela (30), sua representação genérica resulta:

A  v   q ( x) (39)

Seja, também, uma solução aproximativa, aqui convenientemente reescrita:

v  x    i i  vo  x  c/ i  1,, n (40)


78 -Os Métodos de Resíduos Ponderados-
Sergio P.B.Proença

Também para este problema os Métodos de Resíduos Ponderados podem ser


aplicados para a determinação dos coeficientes  i , conforme ilustra o exemplo
seguinte.

Exemplo. Determinar uma aproximação para os deslocamentos transversais da


viga bi-apoiada indicada na Figura 4. As condições de contorno são: v(0)=
v(L)=0 e EI v’’(0)= EI v’’(L)=0, exprimindo as condições essenciais em
deslocamentos e as naturais em momentos, nulos nas extremidades.

Figura 4 – Viga bi-apoiada

A equação diferencial do problema é indicada pela (30). Portanto,


comparando-se com a forma genérica da equação diferencial dada pela (39),
conclui-se que o operador A realiza a quarta derivada da função argumento e
p
q .
EI

Considerando-se as características da forma forte, uma função candidata à


aproximação deve ter quarta derivada contínua e respeitar as condições de
contorno explicitadas nas duas extremidades.

Funções trigonométricas, como por exemplo, as que compõem as séries de


 i x 
Fourier ( sen   , i  1,3,5,7, ), apresentam continuidade nas suas ordens
 L 
de derivadas e permitem satisfazer condições de contorno como as
correspondentes aos apoios simples. Para o exemplo em questão, considere-se
a seguinte aproximação:
-Os Métodos de Resíduos Ponderados- 79
Sergio P.B.Proença

x 3 x
v  x   1 sen   2 sen
L L

A segunda derivada apresenta-se na forma:

2  x 9 2 3 x
v  x    2
1 sen   2 sen
L L L2 L

Nota-se, claramente, que todas as condições de contorno são satisfeitas para


quaisquer que sejam os valores dos parâmetros 1 e  2 .

A quarta derivada também tem interesse para a resolução deste exemplo:

4 x 81 4 3 x
v IV  x   4
1 sen  4
 2 sen
L L L L

Comparando-se a aproximação adotada com a forma geral da função


aproximativa dada pela (39), conclui-se que:

x 3 x
1  sen ; 2  sen ; vo  0
L L

Com a base de funções aproximativas definida, segue que:

4 x 81 4 3 x
A 1   4 sen , A 2   4 sen .
L L L L

Trata-se agora de aplicar os diferentes métodos para a determinação dos


coeficientes  1 e  2 .

e) Resolução por Galerkin:

Segundo esse método as componentes do sistema resolvente ficam


determinadas impondo-se f j   j nas (10). Assim sendo, resultam:

L
4 x 4
K11   A 1 1 dx  
L
sen 2
dx 
o o L4 L 2 L3
80 -Os Métodos de Resíduos Ponderados-
Sergio P.B.Proença

L
81 4 3 x x
K 21   L A 2 1 dx   4
sen sen dx  0
o o L L L

L
81 4 2 3 x 81 4
K 22   L A 2 2 dx   sen dx 
o o L4 L 2 L3

L
4 x 3 x
K12   A 1 2 dx  
L
sen sen dx  0
o o L4 L L

L
p x 2pL
F1   L  q  A  uo   1 dx   sen d x 
o o EI L  EI

p L
3 x 2pL
F2    q  A  uo   2 dx  
L
sen dx
o o EI L 3 E I

Resolvendo-se o sistema indicado na (12), obtêm-se as seguintes respostas


para os coeficientes:

4 p L4 4 p L4
1  ;  
5 EI 2
243 5 E I

Finalmente a solução aproximativa assume a forma:

4 p L4 x 4 p L4 3 x
v  x   5 sen  sen
 EI L 243 E I
5
L

Em particular, os valores para o deslocamento e momento no meio do vão


resultam:

0,013 p L4
v  L / 2   ; M ( L / 2)  0,1242 p L2
EI

os quais podem ser confrontados com os valores exatos:

5 p L4
v  L / 2  ; M ( L / 2)  0,125 p L2
384 E I
-Os Métodos de Resíduos Ponderados- 81
Sergio P.B.Proença

f) Resolução por Petrov-Galerkin:

Neste método é preciso definir as funções peso de modo a serem linearmente


independentes e homogêneas nas condições de contorno essenciais. Uma
opção é trabalhar com funções polinomiais. Porque neste exemplo a solução
apresenta simetria em relação ao meio do vão, há que se tomar um cuidado
adicional para não serem criadas dependências na matriz do sistema fruto das
integrais que envolvem o produto das funções trigonométricas e polinomiais.
Uma boa opção neste sentido consiste em adotar graus pares ou ímpares para
os polinômios da base para a função peso.

No caso adotam-se:

f1  x 2  L x e f 2  x 4  L3 x

As componentes do sistema resolvente ficam determinadas pelas relações (10)


e assumem as formas:

L
4 x 4
K11   L A 1  f1 dx  
L4
sen
L
x 2
 L x  dx  
L
o o

L
4 x 12 L( 2  4)
K12   A 1  f 2 dx  
L

L4
sen
L
x 4
 L x  dx  
3


o o

L
81 4 3 x 2 12
K 21   L
A 2  f1 dx   4 sen
L L
 x  L x  dx  
L
o o

L
81 4 3 x 4 4 L(9 2  4)
K 22   L
A 2  f 2 dx   4 sen
L L
 x  L x  dx  
3


o o

L
pL3
 x  L x  d x   6 EI
p 2
F1   L
 q  A  uo   f1 dx  
o o EI

L
3 pL5
 x  L x  d x   10 EI
p 4
F2   L
 q  A  uo   f 2 dx   3

o o EI
82 -Os Métodos de Resíduos Ponderados-
Sergio P.B.Proença

Resolvendo-se, então, o sistema correspondente, obtém-se as seguintes


respostas para os coeficientes:
4
pL4 5 pL
1  0,01307 ;  2  6,485.10
EI EI

Finalmente a solução aproximativa assume a forma:

0,01307 p L4  x 6, 485.105 p L4 3 x
v  x   sen  sen
EI L EI L

Os valores para o deslocamento e momento no meio do vão resultam:

0,013 p L4
v  L / 2   ; M ( L / 2)  0,1226 p L2
EI

g) Resolução por Mínimos Quadrados:

Segundo esse método as componentes do sistema resolvente ficam


determinadas impondo-se f j  A  j  nas (10). Assim sendo, resultam:

L
8 x 8
K11   A 1  A 1  dx  
L
sen 2
dx 
o o L8 L 2 L7

L
81 4 3 x  4 x
K 21   L
A 2  A 1  dx   4 sen sen dx  0
o o L L L4 L

81  3 x 81 
2 8 2 8
L

K 22   A 2  A 2  dx  
L
sen 2
dx 
o o L8 L 2 L7

L
4  x 81 4 3 x
K12   A 1  A 2  dx  
L
4
sen 4
sen dx  0
o o L L L L

L
p 4 x 2 p 3
F1   L  q  A  uo   A 1  dx   4
sen d x 
o o EI L L L3 E I
-Os Métodos de Resíduos Ponderados- 83
Sergio P.B.Proença

L
p 81 4 3 x 54 p  3
F2   L  q  A  uo   A 2  dx   sen d x 
o o EI L4 L E I L3

A solução do sistema de equações lineares fornece as seguintes respostas para


os coeficientes:

4 p L4 4 p L4
1  5 ; 2 
 EI 243 5 E I

Neste caso a solução aproximativa assume a forma:

4 p L4 x 4 p L4 3 x
v  x   5 sen  sen
 EI L 243 E I
5
L

E os valores para o deslocamento e momento no meio do vão resultam:

0,013 p L4
v  L / 2   ; M ( L / 2)  0,1242 p L2
EI

h) Resolução por Colocação:

Para a resolução por este método, há também que se tomar cuidado com
possíveis dependências criadas a partir de escolha inadequada dos pontos de
colocação (por exemplo, os pontos onde as funções trigonométricas da base
aproximativa passam por zero). Escolhendo-se, por exemplo, os pontos de
L 3L
colocação no domínio: x1  e x 2  , o sistema resolvente fica definido a
3 4
partir das relações:

4  4 3
K11  A 1   sen 
x1
L4 3 L4 2

4 3  4 2
K12  A 1  x2
 4 sen  4
L 4 L 2

81 4
K 21  A 2  x1
 4 sen   0
L
84 -Os Métodos de Resíduos Ponderados-
Sergio P.B.Proença

81 4 9  81 4 2
K 22  A 2  x2
 4 sen  4
L 4 L 2

p
F1  F2 
EI

Resolvendo-se o sistema, obtêm-se as seguintes respostas para os coeficientes:

1 
2 3 p L4
; 2 

2 3  6 p L4 
3 4 E I 243 4 E I
.
Finalmente a solução aproximativa assume a forma:

v  x  
2 3 p L4
sen
x


2 3  6 p L4
sen

3 x
3 4 E I L 243 4 E I L

E os valores para o deslocamento e momento no meio do vão resultam:

0,0118 p L4
v  L / 2   ; M ( L / 2)  0,114 p L2
EI

5. Aplicação do Método de Galerkin ao problema de flambagem de Euler

Barras sob compressão centrada, como na situação ilustrada na Figura 5,


configuram-se como problemas de estabilidade elástica. Uma categoria desses
problemas se caracteriza pela existência de uma carga crítica, a partir da qual,
para valores crescentes de P, às soluções estáveis correspondem configurações
de equilíbrio com eixo fletido (indicado em tracejado na Figura 5).

P
v(x)

P
v(x) M(x)

Figura 5 – Barra sob compressão centrada


-Os Métodos de Resíduos Ponderados- 85
Sergio P.B.Proença

Para a determinação da carga crítica é indispensável descrever o equilíbrio na


posição deslocada. Nesse sentido, considerando-se o segmento de barra
ilustrado na figura, a relação de equilíbrio escreve-se na forma:

P v( x )  M ( x )  0 (41)

Levando-se em conta a relação constitutiva dada pela (27), a condição anterior


passa a ser escrita como:

P
v  k 2v  0 c / k 2  (42)
EI

Em termos do operador diferencial, a (42) pode ser simplesmente indicada


por:

A( v )  0 (43)

d2
onde: A(.)  2
(.)  k 2 (.) .
dx

Neste caso, porque não existe um termo independente de v(x), o sistema


resolutivo para a determinação dos parâmetros da aproximação, expresso
genericamente pela (12), particulariza-se para:

K  0
T
(44)

Considere-se, então, que para a solução aproximativa seja adotado um


polinômio cúbico:

 x )  1 x 3   2 x 2   3 x   4
v(

 0) 0 e
Impondo-se as condições de contorno, evidenciadas pela Figura 5, v(
 L )  0 , a aproximação passa a ser expressa como:
v(

 x )  1  x 3  L2 x    2  x 2  L x 
v(
  
1 ( x ) 2 ( x )
86 -Os Métodos de Resíduos Ponderados-
Sergio P.B.Proença

Aplicando-se o método de Galerkin, as componentes do sistema resolvente


ficam determinadas por:
L

K11   A 1 1 dx    6 x  k 2 x 3  k 2 L2 x  x 3  L2 x  dx 


L

o o
5

 2 k 2 L2  21
4L

105
L

K12   A 1 2 dx    6 x  k 2 x 3  k 2 L2 x  x 2  L x  dx 


L

o o
4

 k 2 L2  10 
L

20
L

K 21   L A 2 1 dx    2  k 2 x 2  k 2 L x  x 3  L2 x  dx 
o o
4

 k 2 L2  10 
L

20
L

K 22   L A 2 2 dx    2  k 2 x 2  k 2 L x  x 2  L x  dx 
o o
3

 k 2 L2  10 
L

30

Como o sistema resultante é homogêneo, a condição de existência de uma


solução diferente da trivial para os parâmetros é dada pela nulidade do
determinante da matriz dos coeficientes. Tal condição resulta em:

k 4 L4  52 k 2 L2  420  0

Para soluções da equação anterior, encontram-se:

10 41
k2  ; ou k2  .
L2 L2

O menor desses valores, juntamente com a definição de k 2 , permite


determinar o menor valor aproximado de carga crítica:
-Os Métodos de Resíduos Ponderados- 87
Sergio P.B.Proença

P 10 10 E I
k2   2  Pcr 
EI L L2

Lembrando que a solução exata para a carga crítica é dada por:

2EI
Pcr 
L2

o erro obtido com a aproximação é da ordem de 1,3%. Naturalmente,


aproximações de grau superior, ou mesmo do tipo trigonométrico, podem ser
adotadas no sentido de reduzir ainda mais o erro de aproximação.

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