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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Faculdade Mineira de Direito

Fabiana Teixeira Costa


Laureano Flávio Wolinska Leandro
Virgínia Laís Sales do Amaral

SÚMULA VINCULANTE

Belo Horizonte
2016
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................3

2 JURISPRUDÊNCIA...................................................................................................4
2.1 Breve notícia histórica..........................................................................................4

2.2 A jurisprudência no sistema Romano-Germânico.............................................6

3 DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL.......................................................................8

4 SÚMULA VINCULANTE............................................................................................9

4.1 Conceito.................................................................................................................9

4.2 O responsável pela edição da Súmula Vinculante..........................................10

4.3 Como se dá o processo de edição....................................................................10

4.4 Vantagens............................................................................................................12

4.5 Críticas.................................................................................................................13

CONCLUSÃO.........................................................................................................14

REFERÊNCIAS.......................................................................................................15
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1 INTRODUÇÃO

É cediço que no mundo jurídico um dos temas de maior relevância é o que


concerne à segurança jurídica, tendo em vista que a previsibilidade de uma decisão
é de suma importância tanto para o demandante quanto para o demandado.
Em que pese os princípios processuais que sobrelevam a imparcialidade do
julgador, especialmente enfatizados com o advento do Código de Processo Civil de
2015, é inegável que a condução imparcial do processo é utópica.
Ao se considerar a impossibilidade de se garantir um mínimo de segurança
jurídica aos seus tutelados, gerando um absoluto caos jurídico, o Estado cria
mecanismos que conferem maior antevisão de como serão decididas questões de
interesse público.
O presente trabalho tem o escopo de tratar, de modo não exaustivo, de um
desses mecanismos que conferem segurança jurídica, qual seja, a determinada
“súmula vinculante”.
O objetivo deste estudo é compreender, através da análise histórica e
procedimental da edição da súmula vinculante, o seu conceito e, também, sua
abrangência.
Cabe ressaltar que os dados aqui trabalhados se restringem à análise da
jurisprudência brasileira, tendo em vista a natureza do trabalho.
Para a elaboração deste estudo adotou-se uma estrutura metodológica
baseada na pesquisa em textos doutrinários nacionais, utilizando-se de bibliografia
geral acerca do Direito do Constitucional, realizada junto à Biblioteca da Pontifícia
Universidade Católica do Estado de Minas Gerais - Campus Betim, além de textos
técnicos de outras disciplinas e jurisprudências nacionais.
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2 JURISPRUDÊNCIA

A compreensão do conceito de súmula vinculante se torna inatingível sem que


antes seja esclarecido o que é a jurisprudência.
Por este motivo, faz-se mister um capítulo introdutório, com informações
históricas e conceituais acerca da jurisprudência, conferindo ao leitor uma melhor e
mais ampla capacidade de compreensão do tema a ser esmiuçado neste trabalho.

2.1 Breve notícia histórica

Como é sabido o direito tal como se conhece contemporaneamente é uma


herança cultural da sociedade, formado e reestruturado durante muitas eras,
adequando-se as necessidades de cada povo em um determinado período de
tempo.
Cada sociedade organiza seu próprio sistema judiciário de acordo com suas
crenças, usos e costumes, de modo a garantir a ordem social e bom desempenho
das funções de cada cidadão.
Os romanos assim o fizeram e, tendo em vista a organização e capacidade de
documentar esse direito escrito, possibilitaram a utilização de muitos de seus
princípios jurídicos pelas futuras gerações.
Graças a primordialidade de a sociedade romana criar mecanismos para
administrar seus cidadãos e os gentios, houve, consequentemente, a criação de
normas jurídicas que, até o presente momento, estão presentes na estrutura jurídica
ocidental.
Sobre o tema, afirma Costa:

Nenhum outro direito influenciou tanto o direito ocidental como o Direito


Romano. Temos, no Brasil, diversos institutos, oriundos do Direito Romano.

(...)

Esse direito foi uma das bases de toda a legislação europeia, sendo
estudado em todas as universidades, proliferando rapidamente por outros
rincões mundiais, sendo de fato um direito, presente em várias nações do
mundo (COSTA. 2007. pg. 38 e 44)

Não se pode olvidar que foi a sociedade romana quem idealizou e


confeccionou a chamada Lei das XII Tábuas, rompendo com o primitivismo da
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oralidade da norma jurídica e positivando-a através de registro escrito ou jus


scriptum (JÚNIOR. 2009. pg. 22)
Pela primeira vez a noção de segurança jurídica se expressa através de um
direito escrito e rígido, favorecendo os tutelados de Roma com uma interpretação
mais próxima do que a própria sociedade considerava justo.
Quanto maior se tornava Roma, mais complexamente se estruturavam suas
leis, bem como surgiram as figuras dos magistrados, questores, pretores e os
jurisconsultos.
Sobre o tema, comenta Costa:

A evolução do direito clássico ocorreu com as atividades dos jurisconsultos


e magistrados. Interessante, nesse aspecto, é que os juízes não
modificavam as regras, mas exerciam uma atividade inteligível de
interpretação da lei para os casos concretos, fazendo uma interpretação
atual.

Daí afirmamos que, com essa interpretação das leis e costumes, inicia-se o
que conhecemos, hoje, como jurisprudência. (COSTA. 2007. pg. 48)

Um dos meios pelos quais as atividades de interpretação se dava era


justamente a análise da jurisprudência.
Nas palavras de Tércio Sampaio Ferraz Júnior, para os romanos, o significado
mais próximo de jurisprudência era:

A palavra jurisprudência (juris) prudenria, uma das expressões usadas


pelos romanos, ao lado de disciplina, scientia, ars, notitia, para designar o
saber jurídico liga se, nesse sentido, ao que a filosofia grega chamava de
fronesis (discernimento). Tal palavra era entendida, entre os gregos, como
uma virtude. Fronesis, uma espécie de sabedoria e capacidade de julgar, a
verdade consistia numa virtude desenvolvida pelo homem prudente, capaz,
então, de sopesar soluções, apreciar situações e tomar decisões. (FERRAZ
JUNIOR, 2003. pg. 51)

Roma era um império em ascensão, contudo, dotada de um direito rudimentar


que se valia de parcas normas para manter a ordem social entre seus cidadãos,
escravos e gentios.
Por mais notáveis que fossem as obras jurídicas do período no qual o referido
império triunfou, era inevitável que o julgador se deparasse com lacunas legais e um
meio encontrado para suprir esta deficiência foi justamente a utilização dos
pareceres emitidos pelos jurisconsultos para sopesar soluções, apreciar situações e
tomar decisões. Assim nasceu a jurisprudência.
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2.2 A jurisprudência no sistema Romano-Germânico

O ordenamento jurídico nacional se amolda às características do sistema


Romano-Germânico, ou Civil Law. Neste sistema as normas são escritas e
organizadas em códigos.
Conferir ao julgador a inteira responsabilidade de apreciar e julgar o caso,
sem um suporte normativo adequado, para este sistema, poderia gerar a tão temida
insegurança jurídica.
A codificação é o processo de coleta e organização de normas em um
sistema legal, apesar dos países no qual vigora o sistema de Common Law
organizarem-se de modo distinto, ou seja, não existem normas positivadas, é
inegável o fato de que possuímos tratados internacionais sobre os mais diversos
assuntos que também inserem normas escritas nestes ordenamentos.
Ressalva-se que não há uma expectativa que preveja a existência de uma
codificação autossuficiente para antever todos os possíveis casos concretos. É de
notório conhecimento que a mencionada experiência foi um fracasso quando
relembrada a interpretação de que o Código Napoleônico, em 1850, seria por si só
capaz de conter a solução de qualquer conflito.
É indiscutível o fato que nos sistemas de Common Law o valor do precedente
jurídico é muito maior que nos sistemas de Civil Law. Em alguns ordenamentos
jurídicos, como o estadunidense, a existência de um único precedente tem o poder
de vincular a decisão do julgador, de modo a denotar previsibilidade da demanda no
caso concreto. O Civil Law, como mencionado, supervaloriza a norma escrita em
detrimento do precedente.
Entretanto, tal como ocorria no Direito Romano, a existência de uma norma
escrita não é capaz de prever todos os fatos jurídicos que a ela estariam sujeitos.
Desta feita, ainda que o sistema Romano-Germânico exista a primazia pela
codificação da norma, as lacunas sempre estarão presentes quando o caso concreto
extrapola a visão restrita do legislador.
Justamente por visualizar esta deficiência que o direito pátrio absorve e utiliza
as demais fontes de direito, podendo ser citados como exemplo o uso, os costumes,
a doutrina e, notavelmente, a jurisprudência.
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Cabe ressaltar que está previsto no art. 4º da Lei de Introdução às normas


do Direito Brasileiro que “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. ” (BRASIL. 1942)
Exceto nos casos que serão posteriormente estudados, o conjunto das
decisões judiciais repetitivas, em casos análogos, sobre determinada questão
jurídica não tem força de lei para vincular o julgador, mas pode orientá-lo a tomar a
decisão de modo a conferir maior segurança jurídica.
Assim como na Roma Clássica, a jurisprudência tem o poder de nortear o juiz
a tomar decisão que melhor representa a sociedade.
É exatamente isto que ocorre no Brasil. Apesar de notavelmente se tratar de
um ordenamento alicerçado no Civil Law, os precedentes começam a denotar uma
maneira de fundamentar o decisum.
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3 DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL

A despeito da norma positivada e da necessidade de que esta seja


interpretada com a maior homogenia possível da mens legislatoris, em alguns casos
o julgador pode enxergar na mesma norma, diante de caso concreto idêntico,
solução contrária ou diversa de outro julgador.
Neste caso, existem dois precedentes de caso idêntico, entretanto, com
elucidações conflitantes entre si.
Não é desejável que o julgador tenha liberdade de escolher a decisão que
melhor representa a sua consciência, e sim que fundamente a sentença nos termos
do art. 93, IX da Carta Magna, ao dispor que “todos os julgamentos dos órgãos do
Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de
nulidade. ” (BRASIL. 1988)
Por este motivo, quando a jurisprudência é conflitante há que encontrar
recursos para que um único resultado seja a fonte do direito em questão.
A datar de o Brasil Colônia se tem notícia da utilização de casos precedentes
para a resolução de conflitos, desde os tempos nos quais vigoravam Assentos da
Casa da Suplicação até as atuais Cortes Superiores e Tribunais.
Sobre o tema, afirma Da Luz:

Seguiram-se as Ordenações Manuelinas, em 1512, quando se estabeleceu


que, em caso de dúvida sobre o entendimento de alguma Ordenação, os
desembargadores deveriam submetê-la à Mesa Grande e dar a sentença
conforme o entendimento desta, o qual seria colocado no livro (assentos)
para não se pôr mais em dúvida. (LUZ. 2013)

No ordenamento brasileiro existem diversos mecanismos para solucionar a


divergência jurisprudencial. Ad exemplum, Dissídio Jurisprudencial, o Incidente de
Assunção de Competência, os Embargos de Divergência, Incidente de Resolução de
Demandas Repetitivas e demais meios.
Ressalta-se que o papel de solucionar a divergência jurisprudencial extrapola
o interesse particular do caso concreto visando, também, diminuir o número de
demandas repetitivas e desafogar o Sistema Judiciário.
No próximo capítulo será dado maior enfoque a Uniformização de
Jurisprudência através da edição de Súmula Vinculante, uma espécie de precedente
cuja sujeição da sentença se torna obrigatória.
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4 SÚMULA VINCULANTE

Conforme outrora mencionado, a jurisprudência tem um enorme papel na


influência dos julgamentos desde as eras antigas.
Ainda que adotado o Sistema de Civil Law, o precedente não pode ser
ignorado, dado a sua relevância para suprir anomias e lacunas, bem como para
conferir interpretação ao dispositivo de lei.
No Brasil, desde os seus primórdios, se faz uso das decisões anteriores para
a análise do caso concreto, como tentativa de aproximação do sentimento de
segurança jurídica.
Neste capitulo será abordado um dos meios mais notórios de manutenção da
segurança jurídica, a edição de Súmula Vinculante.

4.1 Conceito

Após muito se dissertar sobre a jurisprudência, é preciso diferenciá-la da


súmula, viabilizando o entendimento deste estudo.
Ao tratar do assunto, LUZ apud Figueredo, pontua:

Jurisprudência, para Leonardo Vizeu Figueredo, é fruto de uma


interpretação reiterada que as cortes dão à lei, nos casos concretos
submetidos a seu julgamento. Enquanto súmula é uma síntese da
Jurisprudência sobre determinado tema jurídico. (LUZ. 2013)

Para Martins, o conceito de Súmula:

Súmula em sentido lato, nada mais é que o resumo do resultado dos


julgamentos e resultante de teses jurídicas que demonstram o
posicionamento da jurisprudência reiterada e predominante dos Tribunais.
(MARTINS. 2012)

Das citações supra, compreende-se que a súmula é, nada mais, que a pura
essência da jurisprudência, sendo esta reduzida a um pequeno texto interpretativo
da norma em estudo.
Por conseguinte, a Súmula Vinculante é uma síntese de decisões reiteradas
que tem poder de subordinar as diretrizes das decisões futuras ao seu mesmo
entendimento.
Para Kildare “o efeito vinculativo interpretativo, embora inexistente sanção
jurídica, acarreta uma vinculação moral para o juiz que a ele fica vinculado”
(CARVALHO. 2004. Pg. 677)
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Não se pode deixar de afirmar que a vinculação da súmula vai além dos
órgãos do Sistema Judiciário, estendendo-se para Administração Pública direta e
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

4.2 O responsável pela edição da Súmula Vinculante

A responsabilização pela edição da Súmula Vinculante é advinda de


dispositivo constitucional.
É importante salientar que a Carta Magna de 1988 sofreu alteração com a
incorporação da Emenda Constitucional nº 45, de 2004, incluindo o art. 103-A em
seu texto.
Determina o mencionado artigo, in verbis:

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por


provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após
reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a
partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em
relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como
proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
(BRASIL. 1988)

Como se pode extrair da própria norma constitucional, cabe ao Supremo


Tribunal Federal (STF) o dever de aprovar a súmula, tendo em vista seu papel único
como guarda supremo da Constituição.
Após essa inclusão, de certo modo, ao STF foi garantido o poder de legislar.
Razão das diversas críticas apontadas a inclusão do art. 103-A na Lei Maior.

4.3 Como se dá o processo de edição

O próprio art. 103-A da Constituição Federal afirma que sua edição pode
ocorrer por provocação ou de ofício do Supremo Tribunal Federal.
Para deliberar acerca do tema, é necessário que haja votação favorável de
dois terços dos seus membros. Por ser munido de onze ministros, os votos
favoráveis devem ser maiores que sete.
A inteligência do art. 3º da Lei 11.417/06, são legitimados para propor a
edição:
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I - o Presidente da República;

II - a Mesa do Senado Federal;

III - a Mesa da Câmara dos Deputados;

IV - o Procurador-Geral da República;

V - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

VI - o Defensor Público-Geral da União;

VII - partido político com representação no Congresso Nacional;

VIII - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional;

IX - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito


Federal;

X - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;

XI - os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça de Estados ou do


Distrito Federal e Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais
Regionais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais
Militares. (BRASIL. 2006)

Quanto a natureza jurídica do procedimento de edição, considera Pinheiro:

Trata-se de procedimento de natureza objetiva, uma vez que versará


exclusivamente sobre a validade, eficácia e de normas em face do texto
constitucional, de competência originária e exclusiva do STF.

Havendo a possibilidade de manifestação de terceiros não há que se falar


em discussão sobre interesses pessoais, uma vez que o Pretório Excelso
objetivará a fundamentação de seus julgados, exercida em sede de controle
difuso de constitucionalidade ou no exercício de sua competência originária,
nos termos estabelecidos no Art. 102 da C.F., a ser compendiada nos
enunciados vinculantes que compõem sua súmula. (PINHEIRO. 2007)

A subjetividade da questão em tela não é importante, vez que o objetivo


central é conferir interpretação à norma que se estuda. Apesar disso, não se pode
obliterar que o resultado interpretativo pode favorecer o proponente quando este se
tratar de quaisquer dos legitimados do art. art. 3º da Lei 11.417/06, sendo a
interpretação favorável aos seus anseios.
Validando o entendimento supra, o § 1º do art. 103-A dispõe, ipsis litteris:

§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de


normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos
judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave
insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão
idêntica. (BRASIL. 1988)

A Súmula Vinculante, após editada, pode ser revisada ou cancelada caso não
seja mais de interesse social a sua aplicação no ordenamento jurídico. Sua
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ocorrência se dará pela provocação dos mesmos legitimados para a edição ou, de
ofício, pela Suprema Corte.

§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação,


revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que
podem propor a ação direta de inconstitucionalidade. (BRASIL. 1988)

Deve ser enfatizado que os legitimados para propor a Ação Direta De


Inconstitucionalidade se confundem com os legitimados para versar sobre a
proposição de edição de súmula vinculante.

§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula


aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo
Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou
cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida
com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso. (BRASIL. 1988)

Como o próprio artigo afirma, em caso de descumprimento do texto sumular


há a possibilidade de se formular uma reclamação ao Supremo Tribunal Federal
que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão
judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação
da súmula.
José Tarcízio de Almeida Melo ensina:

O poder do Supre Tribunal passa a valer, nesses casos, como verdadeira


avocatória. Com a única diferença que não fará, diretamente, a decisão,
porém, prescreverá sua efetivação ao órgão do poder Judiciário a que
couber. Em termos práticos, o resultado será o da avocatória, sem
responsabilidade por autoria. (MELO. 2008 pg. 905)

Novamente demonstra-se que a súmula é de seguimento obrigatório para os


órgãos do Judiciário e da Administração Pública, tendo em vista que se demonstra a
possibilidade de anular o ato que a contraria. (SILVA. 2014. Pg. 905)

4.4 Vantagens

Em tese há uma guarda suprema da interpretação constitucional da lei, pois o


STF é denominado “guardião da Constituição”.
A vantagem mais expressiva da existência das súmulas é o desafogamento
do Sistema Judiciário. Basta pensar que facilita a fundamentação do julgador,
diminuindo expressivamente o tempo com o qual este se debruça sobre o caso.
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Ademais, a existência de precedente vinculante evita que demandas


improcedentes sejam realizadas, pois o resultado é previsível. A celeridade, tão
almejada nos dias atuais, é um dos fundamentos para a manutenção da súmula
vinculante no ordenamento nacional.

4.5 Críticas

Afirma José Afonso da Silva que a Emenda Constitucional nº 45 precisou


vencer a forte resistência de seus opositores para acrescer no ordenamento a
Súmula Vinculante. (SILVA. 2014. Pg. 895)
As críticas mais expressivas e convincentes quanto ao tema são as que
questionam o papel do Sistema Judiciário como editor de uma norma jurídica, em
total desconformidade com a divisão dos três poderes.
Para os defensores dessa corrente, há um enorme desrespeito ao processo
legislativo, seja pela ausência do rígido sistema de criação das leis ou porque até
mesmo as normas de menor abrangência possuem quórum mínimo superior aos 2/3
de votos do STF na edição da súmula vinculante.
Outra crítica se fundamenta na valorização excessiva do judiciário por
dominar dois poderes, que deveriam ser distintos: o de julgar e o de legislar.
Também deve ser pontuado o fator do Princípio da Persuasão Racional do
Juiz, que perde um pouco de sua luz ao se vincular a um precedente obrigatório.
Observa-se, identicamente, que há um engessamento do judiciário, visto que
não mais será a questão discutida e analisada para alterar o precedente, exceto se
houver edição ou cancelamento da súmula.
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CONCLUSÃO

Conforme a melhor doutrina histórico-jurídica há muitas eras Roma criou um


modelo jurídico notável, que inspira até a atualidade diversos ordenamentos
nacionais.
Por mais bem elaboradas que fossem as normas para o seu período de
ascensão, sempre existiram lacunas e anomias que encontravam sua solução na
jurisprudência.
O modelo jurídico romano se modificou através dos tempos sem, contudo,
perder sua essência, existindo até os dias de hoje jurisprudência como meio de
possibilitar ao julgador a resolução de conflitos.
Ainda que o sistema de Civil Law tenha a norma em primeiro plano, não se
pode negar que os precedentes são fontes de direito e que, inclusive, possuem
inestimado valor.
A existência de decisões reiteradas sobre mesmo assunto faz com que, em
alguns casos, exista uma expressiva diferença no modo com o qual a decisão é
prolatada, causando a chamada divergência jurisprudencial.
No Brasil, uma das formas de coibir que fatos idênticos sejam alvo de
decisões divergentes é a edição de Súmula Vinculante.
A Súmula Vinculante é um precedente obrigatório que deve ser seguido pelo
julgador quando está diante de fato já deliberado pela Corte Suprema Brasileira.
O STF é o legitimado para sua edição, ficando a seu encargo reduzir em
síntese a interpretação constitucional das decisões reiteradas de determinada
questão.
Cabe salientar que, apesar de ser o STF do único legitimado para edição da
Súmula Vinculante, existem os legitimados legais para propor a edição deste
precedente obrigatório.
Dentre as vantagens existentes para que se continue a editar precedentes
obrigatórios estão a celeridade, a interpretação constitucional pelo próprio guardião
da Constituição e o desafogamento do Sistema Judiciário.
Já as críticas giram acerca de sua inconstitucionalidade por engessar o
Sistema Judiciário, ferir a tripartição dos poderes e o processo legislativo.
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REFERÊNCIAS

1 Costa, Elder Lisbôa Ferreira da História do Direito: de Roma à história do povo


hebreu muçulmano: a evolução do direito antigo à compreensão do pensamento
jurídico contemporâneo / Elder Lisbôa Ferreira da Costa . – Belém: Unama, 2007.
2 CRETELLA JR., José, Curso de Direito Romano. O direito romano e o Direito
civil brasileiro no novo código civil, 31ª ed., Editora forense (2009).
3 FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio, Introdução ao estudo do direito: técnica,
decisão, dominação 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
4 BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às
normas do Direito Brasileiro. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 4 de setembro
de 1942. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm> acesso em
07.06.2016.
5 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial
da União, Brasília, 5 out. 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso
em: 07.06.2016.
6 LUZ, Vanessa Lilian da. A súmula vinculante: análise crítica. In: Âmbito Jurídico,
Rio Grande, XVI, n. 118, nov 2013. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php/mnt/?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13814&revista_caderno=9>. Acesso em 05
jun 2016.
7 MARTINS, Marina. Súmula vinculante. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 17,
n. 3320, 3 ago. 2012. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/22228>. Acesso em:
8 jun. 2016.
8 BRASIL. Lei nº 11.417, de 19 de dezembro de 2006. Regulamenta o art. 103-A
da Constituição Federal e altera a Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999,
disciplinando a edição, a revisão e o cancelamento de enunciado de súmula
vinculante pelo Supremo Tribunal Federal, e dá outras providências. Diário Oficial da
União. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11417.htm>. Acesso
em 08.06.2016.
16

9 PALADINO PINHEIRO, Rodrigo. A Súmula Vinculante. In: Âmbito Jurídico, Rio


Grande, X, n. 46, out 2007. Disponível em:
<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2375>. Acesso em 07 jun 2016
10 CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional. 20 ed. São Paulo: Atlas,
2004.
11 MELO, José Tarcízio de Almeida, Curso de Direito Constitucional do Brasil. Belo
Horizonte: Del Rey. 2008
12 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37º ed. São
Paulo: Malheiros, 2014.

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