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Atualização
volume 72, (nº 1), 1999 Efeitos da reposição hormonal

Alterações Cardiovasculares e Cardiomorbidade da


Menopausa. Efeitos da Reposição Hormonal
Roberto Bassan

Rio de Janeiro, RJ

Considerações gerais e epidemiológicas portanto, na menopausa) é muito maior hoje do que em dé-
cadas passadas. Nos EUA a expectativa média de vida para
A cessação da ocorrência cíclica da ovulação e conse- as mulheres está próximo dos 80 anos, indicando não só
qüente interrupção da produção de estrogênio pelas células mais mulheres no climatério, como também, que elas passa-
foliculares dos ovários é um fato natural, que ocorre na mu- rão mais de 1/3 de suas vidas destituídas de estrogênio.
lher ao redor dos 50 anos de idade, representando o fenôme-
no da menopausa ou climatério. Entretanto, a menopausa Menopausa e doença aterosclerótica
pode resultar também de ooforectomia bilateral cirúrgica,
realizada na mulher ainda em idade fértil. Independente do Do ponto de vista anatomopatológico, a doença ate-
seu mecanismo, a menopausa causa importantes alterações rosclerótica incide mais tardiamente na mulher do que no
metabólicas e cardiovasculares na mulher, segundo diversos homem, principalmente nas artérias coronárias. Um estudo
estudos caso-controles e coortes. Estas alterações não pa- de Kayan e col 4 mostrou que uma mulher com 50 anos tem
recem ser decorrentes da diferença de idade ou de outros fa- cerca de 45% da área de sua aorta e 25% da área de suas arté-
tores, sugerindo ser a redução da estrogenemia a sua causa. rias coronárias envolvidas pelo processo aterosclerótico,
A doença arterial coronária (DAC) é bastante infreqüen- enquanto um homem da mesma idade tem 50% e 40%, res-
te na mulher durante sua vida fértil, com uma relação de mais pectivamente. Na idade de 75 anos, os valores são 75% na
de 3:1 para com os homens de mesma idade. Após a meno- aorta e 55% nas artérias coronárias na mulher e 70% e 55%
pausa, esta relação cai progressivamente até alcançar 1:1 na no homem, respectivamente, demonstrando que na mulher,
faixa etária >75 anos 1. Uma mulher de 50 anos de idade terá no período pós-menopausa, a velocidade de desenvolvi-
uma chance de quase 50% de desenvolver DAC nos anos se- mento de doença aterosclerótica coronária é mais rápida
guintes de vida e de cerca de 30% de vir a falecer de doença co- que no homem, na mesma faixa etária, apesar do envolvi-
ronária 2. Para o câncer de mama estas taxas são de 10% e 3%, e mento aórtico ser semelhante.
para o câncer de endométrio 3% e 0,3%, respectivamente. Esses dados estão em concordância com as observa-
Deste modo, a DAC é a maior causa de morte na mulher ções do estudo Framingham que demonstrou que infarto
adulta (assim como no homem), nos países desenvolvidos. agudo do miocárdio (IAM) – uma manifestação clínica de
Enquanto o câncer de mama é responsável por cerca de 43 aterosclerose coronária – foi raramente encontrado em mu-
mil óbitos anuais, e o câncer de pulmão por cerca de 51 mil lheres com menos de 45 anos de idade, com uma relação de
óbitos nas mulheres nos Estados Unidos da América 1:40 para com os homens 5. Na faixa etária de 45 aos 64 anos,
(EUA), a doença coronária causa, aproximadamente, 236 mil o número de infartos em mulheres foi 45 vezes maior do que
mortes anuais e o acidente vascular cerebral (AVC) cerca de na faixa mais jovem, enquanto nos homens foi somente 3,5
87 mil 2,3. vezes maior, gerando uma relação de 1:3 entre os sexos. Nos
Apesar de se ter observado uma redução em torno de indivíduos com mais de 65 anos, o número de infartos nas
20% na mortalidade por DAC na mulher, no período de 1979 mulheres aumentou 2,3 vezes, enquanto no homens não se
a 1989, o número absoluto de mulheres que falece por esta
observou modificação, produzindo uma relação de 1:1,2.
doença continua a crescer. Isto se deve essencialmente ao
Outro fato importante resultante do diferente envolvi-
fato de que, com o progressivo aumento da expectativa de
mento aterosclerótico coronário na mulher é a sua maior mor-
vida, o contingente de mulheres com mais de 50 anos (e,
talidade hospitalar no IAM. Diversos estudos, inclusive do
nosso grupo, têm demonstrado que o risco relativo de mor-
talidade das mulheres é 2-3 vezes maior que dos homens 6-8.
Hospital Pró-Cardíaco – Rio de Janeiro Enquanto alguns desses estudos justificam esta maior mor-
Correspondência: Roberto Bassan – Hospital Pró-Cardíaco – Rua Dona talidade pela maior prevalência de fatores de risco de morte,
Mariana, 219 – 22280-020 – Rio de Janeiro, RJ
inclusive a idade – já que a média etária das mulheres com
Recebido para publicação em 20/8/98
Aceito em 14/10/98 infarto é 6-10 anos maior que a dos homens – outros autores

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observaram que estas variáveis explicam, só parcialmente, Alguns estudos 33,34 demonstraram que mulheres no
este excesso de mortalidade 6,7, indicando que o fator bioló- período pré-menopausa têm menores níveis plasmáticos de
gico sexual possa ser uma variável independente de risco de LDL-colesterol que os homens. Entretanto, após a idade de
mortalidade hospitalar no IAM. 50 anos seus níveis se elevam consideravelmente, ultrapas-
sando inclusive aos dos homens de mesma faixa etária. Em
Menopausa e pressão arterial relação ao HDL-colesterol, nenhuma modificação significa-
tiva foi observada nas mulheres entre os períodos pré e pós-
A hipertensão arterial (HA) é reconhecida como um menopausa, mas seus níveis plasmáticos sempre foram
fator de risco para o desenvolvimento da doença ateroscle- maiores que nos homens.
rótica – principalmente a coronária - em ambos os sexos 9,10. O estudo de Framingham também demonstrou que
Estudos epidemiológicos têm demonstrado que até os 35 apesar do colesterol total aumentar progressivamente com
anos de idade a prevalência da HA é maior nos homens que a idade em ambos os sexos, o incremento foi muito mais
nas mulheres, porém, após os 60 anos, isto se inverte 11. En- acelerado nas mulheres, principalmente após os 45 anos 35.
tretanto, a morbi-mortalidade para qualquer nível de HA é
sempre menor nas mulheres, incluindo a ocorrência de Menopausa e metabolismo glicídico
AVCs 12,13.
O efeito da menopausa sobre os níveis de pressão arte- O diabetes mellitus é considerado um importante fator
rial (PA) nas mulheres ainda não está completamente claro, de risco para aterosclerose e DAC e também para mortalida-
mas alguns estudos parecem indicar uma elevação pequena de cardíaca. No estudo de Framingham o diabetes aumen-
e progressiva com os anos de climatério, principalmente da tou o risco de doença coronária em cerca de três vezes nas
pressão sistólica 14-16. Entretanto, como a idade é sabida- mulheres, o mesmo se observando para mortalidade cardía-
mente um fator responsável por aumento da PA, o papel da ca 36. O risco em homens parece ser a metade do observado
menopausa na elevação pressórica observada nas mulhe- em mulheres 37.
res ainda não pode ser quantificado. O efeito da menopausa sobre o metabolismo glicídico
O estrogênio apresenta efeito vasodilatador tanto ao nas mulheres ainda não está completamente esclarecido. Pa-
nível sistêmico como regional 17,18. Este efeito parece ser rece ocorrer um aumento plasmático da insulina, paralelamen-
dependente e também independente do endotélio. Recepto- te a uma discreta elevação da glicemia, sugerindo algum grau
res de estrogênio são encontrados nas paredes das artérias de resistência tissular à insulina 38,39. Entretanto, não foi com-
e, quando estimulados, respondem com vasodilatação 19. provado aumento da taxa de diabetes com a menopausa.
Além disso, o estrogênio parece estimular a produção endo-
telial de óxido nítrico e de prostaciclina (PGI2) 20-22, que são Reposição Hormonal na Menopausa
potentes agentes vasodilatadores, e modular a produção
endotelial de endotelina 23, um potente agente vasocons-
Efeito sobre o risco de doença cardiovascular
trictor. Por fim, o estrogênio parece ter também um efeito
Diversos estudos do tipo caso-controle sugerem uma
bloqueador dos canais de cálcio na parede arterial 24,25, o que
relação inversa entre uso de estrogênio e risco e mortalida-
resultaria em vasodilatação. As alterações na ação e produ-
de por DAC em mulheres na menopausa 40. Entretanto, este
ção dessas substancias vasoativas seriam responsáveis
tipo de estudo é passível de sofrer influências de fatores difi-
por algumas modificações vasomotoras e pressóricas ob-
cilmente controláveis e que podem se transformar em vie-
servadas na mulher na menopausa, entre elas a vasocons-
ses metodológicos ("bias"), os quais acabam influencian-
trição paradoxal coronária.
do também os resultados 2. Estudos coortes são menos
factíveis de sofrerem destes vieses, mas somente estudos
Menopausa e alterações lipídicas prospectivos, randomizados e controlados respondem
com maior fidelidade se uma forma terapêutica relaciona-se
As dislipidemias, principalmente aquelas com elevação a um evento em análise. Infelizmente, até o momento não
do colesterol de baixa densidade (LDL) e redução do coleste- existe nenhum estudo deste tipo que esteja finalizado e que
rol de alta densidade (HDL), além do aumento dos triglicerí- avalie os benefícios da reposição hormonal sobre o risco de
deos, são relacionadas com a doença aterosclerótica, IAM e doença cardiovascular na mulher no climatério.
morte cardíaca 26. Entretanto, nas mulheres, o HDL-colesterol O estudo de Framingham foi o primeiro ensaio clínico
e os triglicerídeos foram os mais fortes preditores para desen- prospectivo coorte a estabelecer uma relação de risco en-
volvimento de doença coronária tanto no estudo de Framing- tre menopausa e aparecimento de doença coronária, a
ham 27 como no estudo Lipid Research Clinics Follow-up qual era independente do mecanismo natural ou cirúrgico
Study 28, enquanto o LDL-colesterol só foi no primeiro. da menopausa 41.
Estudos de redução de lípides plasmáticos têm demons- Um pouco menos de uma década depois, Stampfer e
trado diminuição de risco de eventos coronários e também col publicaram sua primeira análise do denominado Nurses’
de progressão da aterosclerose, apesar de poucas dessas Health Study 42, posteriormente estendido para um total de
investigações terem sido realizadas em mulheres 29-32. mais de 48 mil mulheres sadias pós-menopausa seguidas por

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10 anos 43. Nesse estudo prospectivo coorte os autores de- Efeitossobreometabolismolipídicoeglicídico


monstraram que as mulheres que faziam uso de estrogênio
tinham uma significativa redução de 50% na taxa de desen- A reposição estrogênica causa significativa modifica-
volvimento de DAC (e de 50% na taxa de morte cardíaca) em ção nos níveis plasmáticos dos lipídeos na mulher no clima-
relação às mulheres que nunca haviam usado estrogênio. tério. Observam-se elevação de 5-10% do HDL-colesterol e
Pouco depois do estudo das enfermeiras, Bush e col 44 queda de 10-15% do LDL-colesterol, enquanto o VLDL-
publicaram outro estudo prospectivo coorte denominado colesterol e os triglicerídeos se elevam em 10-15% 56-58. Além
Lipid Research Clinics Study, utilizando 2.270 mulheres disso, efeitos benéficos sobre a quantidade de apolipopro-
sadias ou coronariopatas com idades entre 40 e 69 anos, e teína Lp(a) e sobre a oxidação do LDL-colesterol têm sido
observando uma redução de mais de 60% na mortalidade co- vistos em alguns estudos 59-61. Admite-se que cerca de 50%
ronária nas mulheres que usavam estrogênio em relação às do efeito protetor da terapêutica estrogênica contra o de-
que não o usavam, num seguimento médio de 8,5 anos. A senvolvimento de DAC na mulher na menopausa se deva a
redução foi mais acentuada naquelas que tinham doença estas modificações lipídicas plasmáticas 62.
coronária conhecida. Nabulsi e col observaram em um estudo coorte de qua-
Analisando todos os estudos prospectivos coortes se 5 mil mulheres no climatério, que aquelas em uso de
sobre a utilização de estrogênio em mulheres no climatério, estrogênio tinham níveis mais elevados de HDL-colesterol
Stampfer e Colditz 40 e Grodstein e Stampfer 2 concluíram que e triglicerídeos e mais baixos de LDL-colesterol do que as
aquelas em uso da reposição hormonal tiveram uma redução não usuárias, o que se traduziu numa redução de risco de
42% para o aparecimento de doença coronária 59.
do risco de desenvolvimento de doença coronária de 45%
O estudo PEPI (Postmenopausal Estrogen/Progestin
em relação às usuárias passadas e às não usuárias (interva-
Interventions) é o primeiro grande estudo prospectivo,
lo de confiança de 95% = 30%; 56%). Entretanto, devemos
randomizado, duplo-cego, placebo-controlado que analisa
lembrar que em nenhum desses estudos a utilização ou não
os efeitos da terapêutica de reposição estrogênica, com ou
de estrogênio foi feita ao acaso (randomizada).
sem a adição de progesterona, sobre a morbi-mortalidade e os
Mais recentemente, o estudo coorte Leisure World de
parâmetros clínicos e laboratoriais de 875 mulheres sadias na
Henderson e col 45 demonstrou uma significativa redução de menopausa. Os resultados iniciais mostraram que todos os
cerca de 50% na incidência de IAM em quase 9 mil mulheres esquemas de reposição hormonal produziram efeitos benéfi-
usuárias e não usuárias de reposição estrogênica. Falkeborn cos sobre os lipídeos plasmáticos 63. Não se observaram alte-
e col também demonstraram uma redução significativa de rações significativas na PA nas pacientes desse estudo.
50% na ocorrência de infarto com o uso do estrogênio asso- Os efeitos benéficos da reposição hormonal sobre o
ciado à progesterona e de 26% com o seu uso isolado 46. metabolismo glicídico nas mulheres na menopausa, obser-
O efeito da terapia de reposição hormonal sobre a in- vados por Barrett-Connor e Laakso 64, - redução da insuli-
cidência de AVC em mulheres na menopausa ainda não nemia e da glicemia, - possivelmente também contribuem
está estabelecido. A taxa deste evento não se modificou para a redução da ocorrência de doença coronária, mas até o
com o uso de estrogênio no grande estudo das enfermei- momento isto nada mais é do que uma inferência.
ras 43 e na metanálise de Grady e col 47, fato este concor- A adição de progesterona à terapêutica estrogênica em
dante com a observação de semelhantes prevalências de mulheres no climatério tende a reduzir o efeito desta no perfil
HA entre usuárias e não usuárias de estrogênio em outros lipídico 58,63. Entretanto, o estudo de Nabulsi e col mostrou
estudos 48. Entretanto, um outro estudo coorte mostrou efeito benéfico não só sobre a lipidemia, como também so-
redução de quase 50% na incidência e na mortalidade por bre a insulinemia, quando a progesterona é administrada
AVC em mulheres que usaram estrogênio 45,49, e dois ou- ciclicamente 59.
tros também mostraram redução na taxa de ocorrência de
AVC não só com o estrogênio mas também com a associa- Efeitossobreaaterosclerosecoronária
ção com progesterona 50,51.
Os efeitos crônicos da terapêutica de reposição estro- Os possíveis efeitos benéficos que a terapêutica de
gênica sobre a PA de mulheres no climatério ainda não es- reposição hormonal exerceria sobre a aterosclerose coroná-
tão claros. Enquanto alguns estudos mostram ausência de ria foram investigados por alguns autores.
modificação pressórica 16,52, outros mostram elevação 53 ou
redução 54,55. Estes resultados díspares certamente se de-
vem aos vieses metodológicos dos estudos (caso-contro- Quadro I - Mecanismos propostos para justificar os efeitos
les, coortes, retrospectivos), indicando claramente a neces- benéficos do uso de estrogênio sobre o risco de doença coronária
e morbi-mortalidade na mulher na menopausa
sidade de estudos prospectivos, randomizados e placebo-
controlados. Efeito salutar sobre os lípides plasmáticos
Os mecanismos que causam os efeitos benéficos sobre Redução da oxidação do LDL-colesterol
Redução da resistência tissular à insulina
a morbi-mortalidade cardíaca da terapêutica estrogênica em Efeito vasodilatador coronário direto (receptores de estrogênio)
mulheres na menopausa ainda não estão estabelecidos, mas Efeito vasodilatador endotélio-dependente (NO, PGI2)
existem diversas explicações para os mesmos (quadro I), Efeito vasodilatador cálcio-dependente (bloqueador dos canais)
Reversão da disfunção endotelial coronária
discutidos a seguir.

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Adams e col 65 estudaram macacas ooforectomizadas e Corroborando esses estudos experimentais, um pe-
submetidas a dieta hiperlipídica, randomizadas a uso de estro- queno estudo clínico realizado em mulheres na menopausa
gênio ou placebo, observando redução do grau de ateros- com doença coronária sintomática e resposta isquêmica ao
clerose coronária à metade naquelas em uso do hormônio. esforço demonstrou um discreto aumento no tempo para
Estudos caso-controles retrospectivos em mulheres, desenvolvimento de infradesnível de 1mm do segmento ST
utilizando cinecoronariografia, demonstraram que o uso de e no tempo total de esforço com o uso de estrogênio por via
estrogênio foi preditor independente não somente da exis- sublingual quando comparado com placebo 77.
tência de DAC 66,67 e de sua maior gravidade angiográfica 68,
como também da sobrevivência ao final de 10 anos de segui- Efeitos adversos da reposição hormonal na
mento naquelas com obstruções coronárias 69. menopausa
Esses estudos anatomopatológicos e angiográficos
fornecem evidências que fortalecem a relação de causa e Apesar de todos os efeitos benéficos que a terapia de
efeito entre as modificações benéficas observadas com o reposição estrogênica (com ou sem progesterona) exerce
uso de estrogênio no perfil lipídico das mulheres no clima- sobre o aparelho cardiovascular e o metabolismo glico-lipí-
tério e a redução da incidência de doença coronária e even- dico da mulher na menopausa, o uso deste hormônio pode
tos cardíacos observados nos estudos coortes. ter efeitos colaterais que merecem ser discutidos.
O uso de estrogênio sem a adição de progesterona na
Efeitos sobre a vasomotricidade coronária mulher não histerectomizada tem um risco dose-dependente
e duração-dependente de causar câncer do endométrio 2-4
Algumas evidências recentes sugerem que os efeitos vezes maior do que o visto em mulheres que não usam o
benéficos do uso de estrogênio na mulher na menopausa hormônio 3,78-80. Este risco relativo parece ser reduzido para
valores muito baixos com a adição de progesterona, e esta
não se devem somente ao mecanismo antiaterosclerótico.
redução também parece ser dose-dependente e duração-
Estudos têm demonstrado que o estrogênio tem um
dependente 3,81,82. Além disso, alguns estudos caso-contro-
efeito direto sobre a função vasomotora das artérias coro-
les demonstram menor agressividade e menor mortalidade
nárias, causando vasodilatação 19,70, igual à vista em outros
dos carcinomas de endométrio em mulheres usuárias de
órgãos 17,18. A injeção intracoronária de acetil-colina causa
estrogênio em relação às não usuárias 3.
efeito semelhante, que é mediado pela liberação do óxido
Não há até o momento concordância entre os pesqui-
nítrico endotelial; entretanto, esta resposta torna-se vaso- sadores em relação a um possível risco de desenvolvimento
constrictora quando existe aterosclerose coronária, caracte- de carcinoma de mama em mulheres em uso de reposição
rizando a disfunção endotelial 71. estrogênica 3,78,83-86. Enquanto uma metanálise de estudos
Experimentos realizados em macacas ooforectomiza- caso-controles não mostrou maior risco 84, outra mostrou
das e pré-alimentadas cronicamente com dieta rica em lipí- um risco relativo de 1,3 somente após 15 anos de uso conti-
deos demonstraram resposta vasoconstrictora coronária nuado de estrogênio 85. Interessante que em outro estudo
com a administração de acetil-colina 72,73. Quando essas de Bergkvist e col 87, apesar da observada maior incidência
macacas recebiam pré-tratamento com estrogênio aguda 73 de carcinoma de mama nas mulheres usuárias de reposição
ou cronicamente 72, a resposta à acetil-colina foi de vasodi- hormonal, a mortalidade pelo câncer de mama foi semelhan-
latação, sugerindo que o hormônio exerce um efeito rápido e te ou menor em relação às não usuárias, corroborando re-
possivelmente direto nas artérias coronárias com ateros- sultados de outros estudos 45,86. A adição de progesterona
clerose, revertendo a disfunção endotelial. Entretanto, um também tem mostrado resultados inconsistentes em relação
efeito mediado pela liberação de óxido nítrico (ou facilitação à incidência do câncer 3.
da sua ação) e/ou inibição de agentes vasoconstrictores Outros efeitos colaterais indesejáveis do uso do estro-
(p.ex, endotelina) não pode ser descartado 73. gênio na mulher na menopausa são o desenvolvimento (ou
Recentemente, três estudos placebo–controlados, recrudescimento) da calculose biliar e colecistite aguda e o
realizados durante cateterismo cardíaco, em mulheres na reaparecimento de cefaléias do tipo vasomotora 58.
menopausa e portadoras de aterosclerose coronária, confir- Finalmente, deve ser mencionado que o uso de estro-
maram as observações prévias em macacas, demonstrando gênio reduz significativamente a incidência de osteoporose
reversão da vasoconstrição paradoxal induzida pela acetil- e, conseqüentemente, das fraturas freqüentemente obser-
colina com o uso agudo de estrogênio 74-76. Em um desses es- vadas na mulher no climatério 58.
tudos 75 a administração do estrogênio também resultou em
vasodilatação coronária e aumento do fluxo no estado Terapêutica de reposição hormonal: riscos
basal (pré-acetil-colina). versus benefícios
Esses dados sugerem que o efeito benéfico e protetor
da reposição hormonal na mulher no climatério se deva, pelo Como foi visto previamente, todos os indícios de efei-
menos em parte, à sua ação vasodilatadora e à normalização tos benéficos e maléficos do uso de estrogênio, associado
da vasomotricidade coronária nos casos com disfunção ou não à progesterona, na mulher na menopausa, foram
endotelial. obtidos de estudos observacionais do tipo coorte ou caso-

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controle e de metanálises desses estudos. Apesar dos di- co de ocorrência seria de 15% e a mortalidade de 1,5%, e a
versos autores terem procurado evitar que vieses metodoló- reposição hormonal reduziria ambos em 25%. Para o câncer
gicos pudessem influenciar os resultados de seus estudos, de mama, sua probabilidade de ocorrer nessa mulher seria
procurando inclusive controlar algumas variáveis confundi- de 10% e a mortalidade de 3%, e a reposição hormonal au-
doras e/ou ajustar os seus resultados, é preciso usar de cau- mentaria ambos em 25%. Finalmente, a taxa de desenvolvi-
tela na interpretação destes resultados. Por isso, somente mento de câncer de endométrio seria de 2,6% e a mortalida-
com a realização de estudos prospectivos, randomizados, de de 0,3%, sendo que o uso de estrogênio sem progeste-
duplo-cegos e placebo-controlados poder-se-á saber se a rona aumentaria o risco da doença em 800% e a mortalidade
terapêutica de reposição hormonal tem realmente efeitos em 300%. Baseados nesses números, os autores estimaram
benéficos sobre a morbi-mortalidade de mulheres na meno- que uma mulher branca que entra na menopausa e não tem
pausa e quais os riscos decorrentes do seu uso. Para res- fatores de riscos cardíacos ou ginecológicos teria uma ex-
ponder a estas questões, alguns estudos já estão em anda- pectativa média de vida de 82,3 anos. Com reposição de
mento e até mesmo alguns resultados já foram divulgados estrogênio ganharia 0,9 anos. Já uma mulher com fatores de
recentemente 63 mas ainda alguns anos serão necessários risco para DAC teria uma expectativa média de vida de 79,6
para a apresentação dos efeitos sobre a morbi-mortalidade. anos e ganharia 1,5 anos com terapia com estrogênio e 1,6
Enquanto isto, alguns autores utilizam-se de informa- anos com estrogênio + progesterona. Finalmente, uma mu-
ções dos estudos coortes e valendo-se de seus dados, esti- lher sabidamente portadora de DAC teria uma expectativa
mam os efeitos da terapêutica de reposição hormonal sobre média de vida de 76,0 anos e ganharia 2,1 anos com uso de
a mortalidade. Assim, Henderson e col 88, utilizando riscos estrogênio e 2,2 anos com estrogênio + progesterona. Mes-
relativos com o uso de estrogênio de 0,5 para desenvolvi- mo uma mulher com risco de câncer de mama (forte história
mento de doença coronária, de 0,4 para fraturas osteoporó- familiar, risco ao redor de 20%) e que teria uma expectativa
ticas, de 1,1 para câncer de mama, de 1,5 para colelitíase e de média de vida de 82,3 anos ganharia 0,7 anos com a terapêu-
2,0 para câncer de endométrio, estimaram as mortalidades tica estrogênica e 0,8 anos com estrogênio e progesterona.
decorrentes desses riscos em mulheres que iniciassem o
uso diário de 0,625mg de estrogênios conjugados aos 50 Conclusõesfinais
anos de idade e que fossem seguidas até os 75 anos. A va-
riação dessa mortalidade com o uso do estrogênio em rela- Todos os dados discutidos acima sugerem fortemente
ção ao não uso foi de – 5.250 óbitos por doença coronária que a terapêutica de reposição hormonal na mulher no
para 100 mil mulheres tratadas, de –563 óbitos por fratura climatério tem importantes efeitos benéficos sobre a morbi-
osteoporótica, de +187 óbitos por câncer de mama, de +2 mortalidade, principalmente a de etiologia coronária, que se
óbitos por colelitíase e de +63 óbitos por câncer de endomé- sobrepõem aos riscos de efeitos deletérios. A dramática
trio. A soma algébrica destes números fornece uma varia- redução na mortalidade cardíaca parece causar significati-
ção da mortalidade global estimada de –5561 (ou –41%) com vo impacto na mortalidade geral, apesar das chances au-
o uso do estrogênio. Esta dramática redução na mortalidade mentadas de desenvolvimento de câncer de endométrio e
global correria por conta não só do elevado número de ca- de mama. Este impacto é máximo nas mulheres com alto ris-
sos de DAC observados nestas mulheres como também co de doença coronária ou naquelas já portadoras da
pela elevada mortalidade da própria doença coronária, fa- doença. A redução da mortalidade global manifestar-se-ia
zendo com que um risco relativo de 0,5 se traduza num enor- sob a forma de um aumento na expectativa de vida das mu-
me número de vidas salvas. O câncer de endométrio, mesmo lheres tratadas. Entretanto, é importante frisar que estes
tendo um risco relativo semelhante (apesar de inverso) ao dados estão alicerçados em conhecimentos obtidos de
da doença coronária, impõe um número de óbitos 100 vezes estudos considerados subótimos do ponto de vista me-
menor, exatamente porque a sua ocorrência, além de ser rela- todológico. Apesar disso, seus resultados são suficiente-
tivamente baixa em relação à doença coronária, tem também mente consistentes para permitir a recomendação do uso
uma menor mortalidade. da reposição hormonal estrogênica, com ou sem progeste-
De modo semelhante, fazendo uma metanálise dos di- rona, em mulheres na menopausa, principalmente para
versos estudos publicados, Grady e col 47 estimaram o gan- aquelas consideradas de alto risco cardíaco 89. Os estudos
ho em anos de vida com a terapêutica de reposição hormo- prospectivos, randomizados e controlados que estão em
nal, prevendo que uma mulher branca de 50 anos de idade andamento no momento deverão trazer, nos próximos
teria uma chance de 46% de desenvolver doença coronária anos, as informações finais tão ansiosamente aguardadas
durante o resto de sua vida e de 31% de vir a falecer dessa sobre o assunto.
doença. A terapêutica de reposição estrogênica reduziria
sua mortalidade em 45%. Esses números são comparados Adendo
com os estimados para as outras doenças relacionadas com
a menopausa e a reposição hormonal. Assim, o AVC ocorre- Após a entrega deste manuscrito, foi publicado o estu-
ria em 20% dessas mulheres e a sua mortalidade seria de 8%, do HERS (Heart and Estrogen/Progestin Replacement
mas a terapêutica estrogênica não modificaria esses núme- Study) por Hulley e col (JAMA 1998; 280: 605-13). Este en-
ros. Em relação à fratura osteoporótica (colo de fêmur), o ris- saio clínico prospectivo, randomizado, cego, placebo-con-

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trolado, testou a utilização de 0,625mg de estrogênio asso- extrapolados para uma população de mulheres pós-meno-
ciado a 2,5mg de progesterona em 2763 mulheres na meno- pausa coronariopatas mais jovens, que teriam uma expecta-
pausa e com cardiopatia coronária (idade média = 66,7 e últi- tiva de vida maior do que a das mulheres deste estudo?; 3)
ma menstruação = 18 anos) em relação ao desenvolvimento será que a tendência de menor taxa de infarto não fatal ob-
de eventos cardíacos e não cardíacos ao final de quatro servada nos últimos dois anos do estudo no grupo tratado
anos de seguimento. Nesse estudo não se observou qual- tornar-se-ia significativa com um seguimento mais longo,
quer diferença significativa nas taxas de óbitos cardíaco e modificando-se com isto também a mortalidade cardíaca?
não cardíaco, IAM não fatal e necessidade de revasculariza- O estudo HERS traz informações importantes para o
ção miocárdica entre mulheres em uso de terapia hormonal cardiologista e para o ginecologista, mas também levanta
em relação ao placebo. Além disso, não se observou aumen- questionamento acerca da validade da transposição destas
to significativo na taxa de desenvolvimento de câncer de informações para a clínica. Nesta, o médico lida geralmente
mama ou de endométrio com a terapêutica hormonal, mas com mulheres recém entradas na menopausa e por isso mais
houve um aumento significativo de quase três vezes na taxa jovens e com pouco tempo de exposição à hipoestrogene-
de eventos tromboembólicos venosos em relação ao placebo. mia (e às sua ações cardiovasculares adversas). Mesmo
O resultado negativo desse primeiro estudo randomi- que já tenham doença coronária conhecida, é bem possível
zado de prevenção secundária indica que a reposição hor- que nessas mulheres a terapêutica hormonal tenha um efei-
monal em mulheres idosas pós-menopausa não altera signi- to mais favorável do que a vista (ou não vista) nas mulheres
ficativamente a história natural de sua doença coronária ao mais idosas e com importante doença coronária do estudo
final de quatro anos de seguimento. Entretanto, algumas HERS. Até porque uma maior expectativa de vida (e, por
dúvidas podem ser levantadas: 1) teriam sido quatro anos isso, mais longo seguimento) pode ser necessário para se
de terapêutica hormonal tardia suficientes para mostrar efei- demonstrar um efeito positivo da terapêutica hormonal em
to benéfico?; 2) podem os resultados do estudo HERS ser mulheres com doença coronária.

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