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Fascículo Semanal nº 17 Ano XLVII 2013

FECHAMENTO: 26/04/2013 EXPEDIÇÃO: 28/04/2013 PÁGINAS: 148/141

Sumário

DOUTRINA Empregado público


– Consolidação das Leis do Trabalho – 70 anos depois:
– O ingresso da empregada no regime estatutário
Reforma trabalhista, desregulamentação e flexibilização –
Gustavo Filipe Barbosa Garcia........................................147 não autoriza a liberação dos depósitos efetuados
em sua conta vinculada do FGTS.......................................144
JURISPRUDÊNCIA
Destaques Estabilidade provisória

– O acidente do trabalho ocorrido ao longo do


Aposentadoria espontânea contrato temporário assegura ao empregado
– A aposentadoria espontânea do empregado o direito à estabilidade provisória .......................................144
não se inclui entre as causas legais de
extinção do contrato de trabalho.........................................145
Execução de sentença
Contrato de experiência
– O sócio retirante da sociedade somente
– O contrato de experiência é de natureza formal,
responde pelos débitos da pessoa jurídica
sendo imprescindível a pactuação escrita
até dois anos depois de averbada
de tal tipo de contrato com a anuência
a modificação do contrato...................................................144
do empregado e do empregador ........................................145

Dano moral Fundo de garantia do tempo de serviço


– A rescisão do contrato de parceria agrícola
por ato unilateral da empresa não constitui, – O empregado que comprovadamente foi
por si só, ato capaz de atentar contra a aposentado por invalidez não tem direito
honra ou a integridade do trabalhador................................145 aos depósitos do FGTS porque o contrato
de trabalho está suspenso .................................................144
Deficiente físico
– A reserva legal de vagas para pessoas ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
portadoras de deficiência e reabilitados é
de ordem pública, não excetuando atividade – Jornada de Trabalho – Desrespeito ao Intervalo
alguma do seu âmbito de aplicação ...................................144 Interjornadas – Horas Extras e Seus Reflexos ...................143

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Doutrina
CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO – 70 ANOS DEPOIS:
REFORMA TRABALHISTA, DESREGULAMENTAÇÃO E FLEXIBILIZAÇÃO
GUSTAVO FILIPE BARBOSA GARCIA
Livre-Docente pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – Doutor em Direito pela Faculdade
de Direito da Universidade de São Paulo – Pós-Doutorado em Direito – Professor Universitário em Cursos
de Graduação e Pós-Graduação em Direito – Procurador do Trabalho do Ministério Público do Trabalho
da 2ª Região – Ex-Juiz do Trabalho das 2ª, 8ª e 24ª Regiões – Ex-Auditor Fiscal do Trabalho –
Membro Pesquisador do IBDSCJ – Membro da Academia Nacional de Direito do Trabalho, Titular da Cadeira nº 27

No universo das relações de trabalho, um dos principais verso, no sentido de acarretarem dificuldades econômicas às
temas em debate é saber se as leis trabalhistas, positivadas pelo empresas, o que, no entender de certa corrente de pensamento,
Estado, devem ceder espaço para as normas decorrentes da teria como consequência a cessação de contratos de trabalho,
negociação pelas entidades sindicais, com vistas a se fomentar o gerando, assim, o desemprego.
desenvolvimento social, bem como o emprego para os desempre- Nessa visão, a legislação criada pelo Estado, para proteger
gados e, ao mesmo tempo, evitar o desemprego para os emprega- o trabalhador, representada, em especial, pela Consolidação das
dos. Leis do Trabalho, acabaria tendo o efeito perverso de, por vezes,
A Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada em 1º de retirar-lhe a sua própria fonte de renda, vale dizer, o seu emprego,
maio de 1943, ao completar 70 anos de existência em 1º de maio isto é, a possibilidade de trabalhar para obter o seu sustento.
de 2013, segundo alguns, já não mais se coaduna com o mundo A solução, segundo certa corrente de entendimento, seria
globalizado em que vivemos, no qual a concorrência, inclusive de relativamente simples.
âmbito internacional, exige maior flexibilidade das normas traba- Primeiramente, seria imperioso flexibilizar as normas que
lhistas ali previstas, para a própria sobrevivência das empresas. disciplinam as relações de trabalho, possibilitando ao emprega-
A rigidez das normas postas pelo Estado, ainda na visão dor, ao invés de dispensar os seus empregados, em momentos,
acima, ao invés de proteger o trabalhador, acaba acarretando, por exemplo, de dificuldade financeira, reduzir ou mesmo excluir
contraditoriamente, dispensas individuais, e mesmo despedidas determinados direitos, que não integrem o núcleo mínimo neces-
coletivas, por motivos econômicos, tecnológicos e estruturais. sário, ainda que com a participação dos sindicatos das catego-
Argumenta-se que as empresas e os demais entes aptos a rias profissionais, de modo a adaptar o Direito do Trabalho à
contratar os empregados estão expostos às incontáveis e conhe- atual situação econômica.
cidas adversidades econômico-financeiras, alastradas pelo mun- Além disso, seria necessário desregulamentar certos as-
do atual, regido pelo sistema de produção capitalista, e nitida- pectos da disciplina legal da relação de emprego, prevista na CLT,
mente globalizado. os quais passariam a ser regidos por normas decorrentes da nego-
É comum ocorrerem crises, em princípio localizadas, ou ciação coletiva de trabalho.
restritas à esfera interna de certos países, mas que acabam alcan- Nesse entendimento, argumenta-se que, nos temos atuais,
çando outras regiões, todo o território nacional, e mesmo outros de crises locais, regionais e mundiais, é melhor manter o emprego,
Estados nacionais, em curto espaço de tempo. ainda que com o recebimento de um salário inferior, principal-
A própria crise econômica interna, por si, muitas vezes mente nos momentos de dificuldades econômicas e financeiras
impede o maior desenvolvimento econômico nacional. que atinjam os empregadores.
O cenário atual, embora acima descrito de forma sucinta, De todo modo, para que os trabalhadores não fiquem em
produz, frequentemente, veementes críticas ao modelo trabalhista posição de inferioridade, sem a devida proteção nesses processos
previsto na Consolidação das Leis do Trabalho, ou ao chamado de flexibilização e desregulamentação da legislação trabalhista,
Direito do Trabalho tradicional, fundado no princípio da proteção entendidos como necessários para a sobrevivência das empre-
ao empregado, que privilegia a norma mais favorável, a condição sas, assevera-se que somente havendo a participação das entida-
mais benéfica e o in dubio pro operario (Cf. GARCIA, Gustavo des sindicais profissionais é que essa adaptação e modificação do
Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 7. ed. Rio de Janeiro: Direito do Trabalho seriam admitidas.
Forense, 2013. p. 94-98). Os entes sindicais de cada categoria profissional e locali-
Argumenta-se que a legislação trabalhista, em especial a dade, representando os trabalhadores abrangidos, em defesa do
CLT, não permite às empresas flexibilizar as condições de traba- bem maior, qual seja, o emprego, teriam legitimidade para nego-
lho, de forma abrangente e necessária para a sua própria sobrevi- ciar com as empresas e sindicatos patronais correspondentes,
vência, tendo em vista o atual capitalismo, caracterizado pela acir- podendo reduzir não só salários, como outros direitos e garantias
rada concorrência, cujo alcance chega a superar os limites inter- trabalhistas.
nos ou nacionais. Ainda nessa linha de pensamento, diversos aspectos relati-
Nesse enfoque, assevera-se que a rigidez e o protecio- vos ao contrato de trabalho, deixando de ser rigidamente previstos
nismo das normas que disciplinam as relações jurídicas entre nas leis estatais, com destaque à Consolidação das Leis do Traba-
empregadores e empregados acabam gerando certo efeito in- lho, devem passar a ter previsão, preponderantemente, em nor-
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mas decorrentes da negociação coletiva, dando origem às con- a chamada “questão social”, no século XIX, na qual o empregador,
venções e acordos coletivos de trabalho, operando-se a mencio- titular dos meios de produção, e economicamente mais forte,
nada desregulamentação (negociada) do Direito do Trabalho. acabava impondo as condições que entendia necessárias à ma-
Salienta-se, ainda, o tempo necessário para qualquer mu- nutenção de seus lucros, ainda que a consequência fosse a
dança na legislação trabalhista, como de um dispositivo da CLT, “precarização” cada vez maior do labor, sob a justificativa, nem
tornando praticamente impossível atender às necessidades e sempre verdadeira, de ser um imperativo para a manutenção do
urgências inerentes ao mundo do trabalho atual, cuja dinâmica, emprego.
além de superar as previsões que são feitas, é mais célere do que Questiona-se, ainda, se todos os sindicatos de trabalhado-
os atuais processos legislativos, normalmente formais e burocráti- res têm efetiva representatividade (que não se confunde com a
cos. mera representação) para negociar em nome dos trabalhadores,
Como se não bastasse, as entidades sindicais, por meio de principalmente porque o sistema constitucional brasileiro ainda
procedimentos mais rápidos e informais, de natureza negociada, exige a unicidade sindical.
estariam mais aptas a criar e adaptar as normas específicas para Uma vez ausente a necessária representatividade dos
cada circunstância e setor da economia, por meio da negociação entes sindicais, certamente não haverá legitimidade para que
coletiva de trabalho, procedimento democrático que disciplina as estes decidam sobre a redução, exclusão ou modificação de direi-
relações de trabalho e pacifica os conflitos trabalhistas. tos trabalhistas, ainda que por meio da negociação coletiva de
Diferentemente da lei, normalmente genérica e abstrata, a adaptação.
norma coletiva de natureza privada pode ser criada para discipli- Ademais, tendo em vista a problemática do desemprego, os
nar, com maior adequação, relações sociais específicas, mantidas sindicatos de trabalhadores, mesmo que tenham legitimidade,
entre certos trabalhadores e empresas, de determinados locais. podem nem sequer ter meios aptos a negociar, em efetiva posição
É certo que as negociações de natureza coletiva, entre de igualdade, com os empregadores.
empresas e sindicatos profissionais, ou entre entidades sindicais, Como se pode notar, cada um dos posicionamentos, confli-
já estão cada vez mais presentes nas relações de trabalho. tantes a respeito do tema aqui examinado, possui argumentos
O que se discute, na atualidade, é se devem ser aprofunda- respeitáveis, merecendo o amplo debate na sociedade, com vistas
das e expandidas, bem como, especialmente, se os seus limites a se alcançar a melhor solução.
devem ser ampliados, quando se trata de flexibilização, redução e
Pode-se defender, ainda, uma solução intermediária,
adaptação dos direitos trabalhistas às condições da atualidade.
acompanhada da exigência de se realizar uma reforma, no sentido
Vista a questão sob outro prisma, a posição contrária ao da adoção da liberdade sindical, tal como prevista na Convenção
movimento de flexibilização e desregulamentação assevera que 87 da Organização Internacional do Trabalho.
os direitos previstos na legislação trabalhista, com destaque à
Com isso, reconhece-se ser necessário fomentar a criação,
Consolidação das Leis do Trabalho, são uma relevante conquista
por meio da negociação coletiva, de normas privadas, mais benéfi-
histórica de toda a humanidade.
cas aos trabalhadores do que a própria lei estatal, incorporada,
Ao se permitir que os empregadores deixem de obser-
principalmente, na Consolidação das Leis do Trabalho.
vá-los, estaria ocorrendo, na realidade, um inadmissível retro-
cesso social, contrário a toda a evolução histórica de conquista de Por outro lado, os direitos e garantias mínimas e essenciais,
direitos e de melhoria das condições sociais. ou seja, fundamentais aos trabalhadores, devem ser expressa-
mente garantidos pelo Estado; vale dizer, não podem ser modifica-
A união dos trabalhadores, dando origem a greves e ao
dos ou reduzidos, nem mesmo com a participação ou a anuência
movimento sindical, permitiu a construção de um arcabouço nor-
dos sindicatos.
mativo protetor, tutelado pelo Estado, o qual só foi alcançado com
grande esforço e luta, possibilitando a positivação de leis proteto- A delimitação do qual seja esse patamar mínimo, por sua
ras contra o capitalismo mais selvagem, cujo fim principal é o lucro, vez, requer amplo debate na doutrina e na jurisprudência, com a
ainda que a custo da miséria da classe trabalhadora. participação de toda a sociedade, em cumprimento do manda-
Nesse enfoque, a própria evolução histórica, inclusive na mento constitucional da Democracia.
esfera internacional, com destaque à OIT, indica a necessidade de Logo, as normas estatais, previstas inclusive na Consolida-
se ampliar os direitos e as garantias dos trabalhadores, não se ção das Leis do Trabalho, voltadas, por exemplo, à medicina, à
podendo aceitar a sua exclusão, redução ou mudança para pior. saúde e à segurança no trabalho não podem ser modificadas em
Mesmo havendo crises econômicas, de diferentes dimen- prejuízo dos empregados, por garantirem os direitos fundamentais
sões e consequências, elas não justificam que a parte mais vulne- à vida e à integridade física e psíquica.
rável e necessitada seja sacrificada para a manutenção de lucros Cabe lembrar, ainda, que nem sempre o patamar mínimo
empresariais, devendo, assim, ser solucionadas pelo Estado e de direitos em certo Estado coincide com a realidade nacional,
pelos diversos organismos sociais. devendo-se tomar a devida cautela com a aplicação automática,
O que não se pode admitir é o retorno ao trabalho degra- no Brasil, de medidas adotadas em países cujas condições sociais
dante, próximo ao existente na época da Revolução Industrial, ou são amplamente diferentes e superiores.
mesmo do labor em condições precárias. Deve-se ter a cautela de comparar e, se for o caso, realizar
A realidade nacional, ainda nesse enfoque de defesa do a devida compatibilização quanto à aplicação de institutos estran-
Direito do Trabalho rigidamente garantido pelo Estado, revela, geiros, em face da análise mais atenta das condições sociais
ademais, que nem todos os sindicatos profissionais têm força sufi- brasileiras.
ciente para lutar por melhores condições de trabalho. Além disso, a redução pontual e temporária de alguns direi-
Portanto, mesmo na esfera da negociação coletiva, há sério tos somente é possível se efetivamente existentes circunstâncias
risco de retorno a condições similares àquelas verificadas durante que justificassem a medida, devendo ser vista como exceção.
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Evidentemente, há situações em que a crise verdadeira- apenas, de alterações na legislação trabalhista, como da Consoli-
mente existe, refletindo nas relações de trabalho. dação das Leis do Trabalho.
Vale dizer, há casos que realmente demandam medidas A melhoria das condições sociais e de trabalho é o reflexo
para que se possa preservar o emprego, autorizando, temporaria- da situação econômico-social global do País, a qual decorre de
mente, determinadas normas coletivas negociadas que aparen- medidas voltadas ao crescimento e ao desenvolvimento nacional.
tem a redução de direitos trabalhistas (art. 7º, incisos VI, XIII e XIV, O Direito do Trabalho é uma verdadeira conquista obtida ao
da Constituição da República Federativa do Brasil), mas que, na longo da história da humanidade, exercendo papel fundamental,
realidade, têm como objetivo principal a manutenção do bem ao garantir condições mínimas de vida, assegurando a dignidade
maior, qual seja, o emprego. da pessoa humana e evitando abusos que o capital e a busca pelo
Todos esses aspectos, evidentemente, devem ser obser- lucro pudessem causar aos membros da sociedade, em especial
vados, cuidadosamente, em cada caso em concreto. àqueles que não detêm o poder econômico.
Portanto, primeiramente, deve-se fortalecer o sistema sin- O sistema capitalista, por sua própria natureza, acarreta a
necessidade de que certas limitações e exigências sejam fixadas
dical brasileiro, de modo a conferir maior legitimidade aos que
no que se refere à utilização do trabalho humano, especialmente
representam os grupos de trabalhadores e empregadores, com a
quanto àqueles que não detêm os meios de produção.
concretização do princípio da liberdade sindical.
O Direito do Trabalho, portanto, exerce o relevante papel de
Há necessidade, ainda, de efetiva condição de igualdade assegurar patamares mínimos de dignidade e justiça social, impe-
entre os atores sociais que participam da negociação coletiva, dindo que a busca pela obtenção de lucros e a concorrência
viabilizando a equivalência de forças entre os lados patronal e acabem impondo níveis inaceitáveis de exploração do trabalho
profissional. humano, em afronta aos valores magnos da liberdade, justiça,
Somente com esses pré-requisitos preenchidos é que se solidariedade e bem comum.
torna possível discutir a possibilidade de alteração da legislação Em conclusão, por qualquer ângulo que se analise a ques-
trabalhista, representada pela CLT, no sentido da ampliação da tão, deve-se assegurar a dignidade da pessoa humana, por meio
disciplina das condições de trabalho pelos próprios atores sociais da construção de uma sociedade livre, justa e solidária, com a
interessados. necessária a valorização social do trabalho e o respeito à livre
Digno de realce, por fim, que o desenvolvimento econômico iniciativa (arts. 1º, inciso III, e 3º, inciso I, e 170 da Constituição
e social, bem como o fomento ao emprego, não dependem, da República Federativa do Brasil).

Jurisprudência
AÇÃO CONSIGNATÓRIA – BENEFICIÁRIO MENOR DE CONTRATO DE EXPERIÊNCIA – FORMA – AUSÊNCIA
IDADE – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE ASSINATURA – INEXISTÊNCIA
– Nos termos do § 4º do art. 22 da Lei nº 8.906/94, para que – O contrato de experiência, por excelência, é de natureza
ocorra o levantamento dos honorários advocatícios nos próprios formal, sendo imprescindível a pactuação escrita de tal tipo de
autos da ação de consignação em pagamento movida em favor de contrato com a anuência do empregado e empregador. Desta
menor de idade, o advogado do consignado deve, em tempo hábil, forma, a ausência de assinatura torna-o inexistente, transmudan-
proceder à juntada do contrato prevendo tais proventos, visto que do-se para contrato por tempo indeterminado. (TRT-3ª R. – RO
o juiz deve ordenar a dedução do montante antes da transferência 311-2012-109-03-00-0 – Rel. Convocado Juiz Oswaldo Tadeu B.
do valor à conta poupança prevista no § 1º da Lei nº 6.858/80. Guedes – Publ. em 4-3-2013) @ 143323
(TRT-12ª R. – RO 833-93.2012.5.12.0048 – Rel. Des. Amarildo
Carlos de Lima – Publ. em 25-2-2013) @ 143456 CONTRATO DE TRABALHO – PRÉ-CONTRATO – AU-
SÊNCIA DE PROVA – REPARAÇÃO INDEVIDA
APOSENTADORIA ESPONTÂNEA – EMPREGADO PÚ-
BLICO – CUMULAÇÃO DE REMUNERAÇÃO E PROVEN- – Ausente prova de que as partes tenham estabelecido um
TOS – ADMISSIBILIDADE pré-contrato, que, saliente-se, tem início a partir da aceitação da
proposta feita pela parte interessada, não se cogita de reparação
– Conforme decidiu o STF na ADI nº 1.721, a aposentadoria e, tanto mais, de pagamento de verbas próprias de vinculação
espontânea do empregado não se inclui entre as causas legais de empregatícia. (TRT-3ª R. – RO 1472-2011-060-03-00-8 – Relª
extinção do contrato de trabalho. Tampouco resiste a resilição do Desª Emilia Facchini – Publ. em 4-3-2013) @ 143329
contrato a pretexto da vedação de acumulação de remuneração
de emprego público com proventos de aposentadoria, quando DANO MORAL – RESCISÃO UNILATERAL DE CONTRA-
essa decorre do regime geral, sabendo-se que a vedação, con- TO DE PARCERIA AGRÍCOLA – LEGITIMIDADE – INDE-
forme a exegese da Lei Maior, alcança os servidores cuja aposen- NIZAÇÃO INDEVIDA
tação ocorre pelo regime especial. (TRT-12ª R. – RO 1440-45.
2012.5.12.0036 – Relª Desª Lourdes Dreyer – Publ. em – A rescisão do contrato de parceria agrícola por ato unilate-
28-2-2013) @ 143454 ral da empresa não constitui, por si só, ato capaz de atentar contra
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a honra ou a integridade moral do trabalhador e, por isso, não EXECUÇÃO DE SENTENÇA – EX-SÓCIO – RESPON-
configura dano de ordem moral a ser reparado por meio de indeni- SABILIDADE POR DÉBITOS DA SOCIEDADE – LIMITA-
zação. Para o caso, deve a empresa ressarcir o trabalhador em ÇÃO
eventuais danos materiais gerados. (TRT-12ª R. – RO
383-20.2011.5.12.0038 – Relª Desª Lília Leonor Abreu – Publ. em – Por força do disposto no parágrafo único do art. 1.003 do
28-2-2013) @ 143453 Código Civil, o sócio retirante da sociedade somente responde
pelos débitos da pessoa jurídica até dois anos depois de averbada
DEFICIENTE FÍSICO – HABILITAÇÃO E REABILITAÇÃO a modificação do contrato. (TRT-12ª R. – MS 536-36.2012.5.
PROFISSIONAL – RESERVA LEGAL DE VAGAS 12.0000 – Relª Desª Ligia M. Teixeira Gouvêa – Publ. em
22-2-2013) @ 143459
– A reserva legal de vagas para pessoas com deficiência e
reabilitados prevista no art. 93 da Lei 8.213/91 é de ordem pública
e esse dispositivo não excetua atividade alguma do seu âmbito de FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO – APO-
aplicação. (TRT-12ª R. – RO 2507-45.2012.5.12.0036 – Rel. Des. SENTADORIA POR INVALIDEZ – SUSPENSÃO DO CON-
Gilmar Cavalieri – Publ. em 23-1-2013) @ 143452 TRATO – DEPÓSITOS INDEVIDOS
– O empregado que comprovadamente foi aposentado por
DOENÇA OCUPACIONAL – HÉRNIA DE DISCO – NEXO invalidez não tem direito aos depósitos do FGTS porque o contrato
CAUSAL de trabalho está suspenso, não tendo as partes, no caso o empre-
gador, que cumprir as cláusulas pactuadas. (TRT-12ª R. – RO
– Se o trabalho exige esforço físico do membro superior e 401-89.2012.5.12.0043 – Relª Desª Águeda Maria L. Pereira –
da coluna vertebral, quando essa dinâmica é confrontada com o Publ. em 15-2-2013)
horário diário e semanal e o tempo de vigência do contrato, há @ 143468
elementos suficientes para comprovar o nexo causal entre a
atividade e a doença hérnia de disco, o que é reforçado se na JORNADA DE TRABALHO – CONTROLE PARALELO –
admissão o empregado foi considerado apto e se na ficha CONSEQUÊNCIAS
médica há o registro de queixa de dor. (TRT-12ª R. – RO
269-2007-046-12-85-5 – Relª Desª Maria de Lourdes Leiria – Publ. – Se, a mera utilização da jornada britânica implica na invali-
em 20-2-2013) @ 143461 dade dos controles de horário, a fortiori a demonstração da existên-
cia de controle paralelo, oficioso e unilateral de jornada, implica na
inversão do ônus da prova com relação à jornada de trabalho,
EMPREGADO PÚBLICO – TRANSPOSIÇÃO DE REGIME
JURÍDICO – LIBERAÇÃO DO FGTS – AUSÊNCIA DE passando a ser do empregador o ônus de demonstrar que a jornada
PREVISÃO LEGAL alegada na petição inicial é inverídica. A obrigação de manter
controle de horário, para empresas com mais de dez empregados,
– O ingresso da empregada no regime estatutário não não é meramente formal, mas também de índole material, ou seja, o
autoriza a liberação dos depósitos efetuados em sua conta controle deve ser fidedigno, na proteção de ambas as partes do
vinculada, na medida em que não existe, na hipótese, dispensa contrato de trabalho e da lisura que deve imperar nas relações jurídi-
sem justa causa, mas, simples alteração da natureza do vínculo cas. (TRT-12ª R. – RO 2125-46.2012. 5.12. 0038 – Rel. Des. José
existente. Neste caso, o inciso VIII, do art. 20, da Lei 8.036, com a Ernesto Manzi – Publ. em 19-2-2013) @ 143465
alteração dada pela Lei 8.678/93, apenas permitiu o levanta-
mento dos depósitos quando o trabalhador permanecer três
anos ininterruptos excluído do regime do FGTS. É que, embora o RECURSO DE REVISTA – PRINCÍPIO DA TRANSCEN-
Colendo TST, através da Súmula 382 do TST, tenha adotado o DÊNCIA – AUSÊNCIA DE REGULAMENTAÇÃO – INAPLI-
entendimento de que a mudança do regime jurídico de celetista CABILIDADE
para estatutário extingue o contrato de trabalho para efeito de
marco prescricional, não existe previsão legal que possibilite a – A aplicação do princípio da transcendência, previsto no
imediata liberação do FGTS nesta hipótese. (TRT-3ª R. – RO art. 896-A da CLT, ainda não foi regulamentada no âmbito deste
379-2012-045-03-00-4 – Rel. Convocado Juiz Vitor Salino de M. Tribunal, providência que se faz necessária em face do comando
Eca – Publ. em 4-3-2013) @ 143333 do art. 2º da Medida Provisória 2.226/2001 – DOU 5-9-2001 –, que
dispõe: \"O Tribunal Superior do Trabalho regulamentará, em seu
regimento interno, o processamento da transcendência do recurso
ESTABILIDADE PROVISÓRIA – ACIDENTE DO TRABA-
de revista, assegurada a apreciação da transcendência em ses-
LHO – CONTRATO A TERMO
são pública, com direito a sustentação oral e fundamentação da
– Em conformidade com o item III da Súmula 378 do TST, o decisão\", razão pela qual o exame da admissibilidade do recurso
acidente de trabalho ocorrido ao longo do contrato temporário de revista se restringe aos pressupostos do artigo 896 da CLT.
assegura ao empregado a estabilidade provisória prevista no art. Recurso de revista não conhecido. (TST – RR 229900-74.2007.5.
118 da Lei 8.213/91. (TRT-3ª R. – RO 2905-2012-091-03-00-1 – 09.0664 – Rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho – Publ. em
Relª Desª Monica Sette Lopes – Publ. em 8-3-2013) @ 143318 15-3-2013) @ 143524
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RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA – CONTRATO DE não se pode generalizar a aplicação da Súmula 331 do TST,
FRANQUIA – BURLA À LEGISLAÇÃO TRABALHISTA devendo ser investigado com mais rigor se a inadimplência tem
como causa principal a falha ou falta de fiscalização pelo órgão
– Um contrato típico de franquia entre duas empresas, de público contratante, vez que constitucional o artigo 71 da Lei
ordinário, não importa responsabilidade solidária ou subsidiária da 8.666, de 1993. Essa decisão foi incorporada pelo item V da
franqueadora com relação aos empregados da franqueada, em Súmula nº 331 do TST. Dentro do contexto de uma terceirização
face de ausência de amparo legal ou por inadequação da hipótese tolerada, a de serviços de vigilância, não basta a regularidade da
nas malhas da Súmula 331 do TST. Entretanto, se aquela relação terceirização, pois há que se perquirir sobre o cumprimento das
comercial constitui apenas tentativa de burla à legislação traba- obrigações trabalhistas durante a vigência do contrato. E sob
lhista, o caso é de aplicação do art. 9º da CLT e inciso IV da Súmula esse aspecto, atribui-se ao tomador dos serviços a culpa in
331 do TST. (TRT-3ª R. – RO 512-2012-109-03-00-7 – Rel. Convo- eligendo e a culpa in vigilando, ensejadoras da responsabilidade
cado Juiz Marcio Jose Zebende – Publ. em 4-3-2013) @ 143325 civil, que gera o dever de reparação pelo ato ilícito. Assim, o
Banco do Brasil deve responder subsidiariamente pelos créditos
RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA – BANCO DO BRA- devidos ao reclamante enquanto empresa tomadora dos servi-
SIL – CRÉDITO TRABALHISTA – CULPA IN VIGILANDO ços, uma vez evidenciada sua culpa in vigilando. Recurso a que
se nega provimento. (TRT-3ª R. – RO 189-2012-129-03-00-6 –
– Conforme decidiu o Excelso Supremo Tribunal Federal Rel. Convocado Juiz Milton V. Thibau de Almeida – Publ. em
nos autos da Ação Declaratória de Constitucionalidade nº 16, 4-3-2013) @ 143331

Acórdão na Íntegra
JORNADA DE TRABALHO – DESRESPEITO AO INTERVALO
INTERJORNADAS – HORAS EXTRAS E SEUS REFLEXOS
TST – PROC. RR 896-44.2010.5.03.0047, publ. em 15-2-2013

ACÓRDÃO Recurso de Revista de que se conhece em parte e a que se


dá provimento.
SALÁRIO EXTRA-FOLHA. A pretensão recursal, nos ter- Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de
mos em que exposta, demandaria o revolvimento do conjunto Revista nº TST-RR-896-44.2010.5.03.0047, em que é Recorrente
probatório dos autos, procedimento vedado nesta fase recursal, a ARAGUARI LOGÍSTICA LTDA. e Recorridos IDAEL BUENO e
teor da Súmula 126 desta Corte, cuja incidência, por si só, torna TRANSPORTADORA RIO ARAGUARI LTDA. E OUTRA.
inviável o exame da arguida violação a preceito de lei. HORAS Irresignada, a reclamada interpõe Recurso de Revista,
EXTRAS. TRABALHO EXTERNO. O conhecimento do Recurso buscando reformar a decisão proferida pelo Tribunal Regional.
encontra óbice na Súmula 126 do TST. INTERVALO INTER- Aponta ofensa a dispositivos de lei federal e da Constituição da
JORNADAS – HORAS EXTRAS – REFLEXOS. INOBSERVÂN- República (fls. 596/611).
CIA. “O desrespeito ao intervalo mínimo interjornadas previsto no O Recurso foi admitido mediante o despacho de
art. 66 da CLT acarreta, por analogia, os mesmos efeitos previstos fls.614/617.
no § 4º do art. 71 da CLT e na Súmula 110 do TST, devendo-se
Não foram oferecidas contrarrazões.
pagar a integralidade das horas que foram subtraídas do intervalo,
acrescidas do respectivo adicional”(Orientação Jurisprudencial O Recurso não foi submetido a parecer do Ministério Pú-
355 da SDI-1 do TST). blico do Trabalho.
DIÁRIAS DE VIAGEM. A pretensão recursal, nos termos É o relatório.
em que exposta, demandaria o revolvimento do conjunto probató-
rio dos autos, procedimento vedado nesta fase recursal, a teor da VOTO
Súmula 126 desta Corte. DANO MORAL – RESCISÃO INDIRETA.
O conhecimento do Recurso encontra óbice na Súmula 126 do Satisfeitos os pressupostos comuns de admissibilidade do
TST. RETIFICAÇÃO DA CARTEIRA DE TRABALHO. O conheci- Recurso de Revista, examino os específicos.
mento do Recurso encontra óbice na Súmula 126 do TST. HO- 1. CONHECIMENTO
NORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Nas demandas decorrentes da 1.1. SALÁRIO EXTRA-FOLHA
relação de emprego, a condenação ao pagamento de honorários O Tribunal de origem consignou o seguinte entendimento
advocatícios não decorre pura e simplesmente da sucumbência, quanto ao tema em destaque:
devendo a parte estar assistida por sindicato da sua categoria “Os aludidos extratos bancários em nada contribuem para o
profissional e comprovar a percepção de salário inferior ao dobro deslinde da controvérsia, uma vez que neles não constam impor-
do salário-mínimo ou declarar encontrar-se em situação econô- tâncias efetivamente discriminadas como salário.
mica que não lhe permita demandar sem prejuízo do próprio Por outro lado, as testemunhas foram unânimes em afirmar
sustento ou da respectiva família. Inteligência da Súmula 219 do a existência de pagamento de comissões calculadas sobre o frete.
TST. .......................................................................................................
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Destarte, é inquestionável que o autor, além da importância A reclamada aponta violação aos arts. 62, inc. I, e 66 da
fixa discriminada nos recibos de pagamento, recebia comissões CLT.
calculadas sobre o frete, não contabilizadas, sendo devidos, via de A inobservância do intervalo de onze horas entre duas
consequência, seus reflexos" (fls. 572). jornadas, previsto no art. 66 da CLT, implica no reconhecimento de
A reclamada sustenta serem indevidas as comissões por que o empregado esteve à disposição do empregador por tempo
fretes com os reflexos. Argumenta que os depoimentos não reve- superior ao de sua jornada. Nessa circunstância, deve o emprega-
lam a existência do pagamento das referidas comissões. Aponta dor pagar-lhe, como extras, as horas que faltarem para completar
ofensa ao art. 457, § 1º, da CLT. o intervalo interjornadas.
A pretensão recursal, nos termos em que exposta, deman- Esta Corte pacificou esse entendimento, conforme se de-
daria o revolvimento do conjunto probatório dos autos, procedi- preende da Orientação Jurisprudencial 355 da SDI-1, verbis:
mento vedado nesta fase recursal, a teor da Súmula 126 desta “INTERVALO INTERJORNADAS – INOBSERVÂNCIA –
Corte, cuja incidência, por si só, torna inviável o exame da arguida HORAS EXTRAS – PERÍODO PAGO COMO SOBREJORNADA
violação a preceito de lei. – ART. 66 DA CLT – APLICAÇÃO ANALÓGICA DO § 4º DO ART.
NÃO CONHEÇO. 71 DA CLT – DJ 14-3-2008. O desrespeito ao intervalo mínimo
1.2. HORAS EXTRAS – TRABALHO EXTERNO. interjornadas previsto no art. 66 da CLT acarreta, por analogia, os
O Tribunal Regional, no que concerne ao tema em desta- mesmos efeitos previstos no § 4º do art. 71 da CLT e na Súmula nº
que, consignou: 110 do TST, devendo-se pagar a integralidade das horas que
“E certo que o tacógrafo e o rastreador via satélite não se foram subtraídas do intervalo, acrescidas do respectivo adicional.”
destinam ao controle de jornada, pois o primeiro registra a veloci- Dessa forma, verifica-se que a decisão proferida pelo Tribu-
dade e o movimento do veículo, enquanto o segundo consigna sua nal Regional está em consonância com a Orientação Jurispruden-
localização através de coordenadas de latitude e longitude. Acres- cial 355 da SDI-1. A adoção do entendimento pacífico desta Corte
cente-se que, em relação ao tacógrafo, a questão se acha pacifi- afasta de pronto a aferição das violações apontadas, exatamente
cada pela OJ 332 da SDI-1 do c. TST. porque aquele reflete a interpretação dos dispositivos que regem a
Todavia, no caso em exame, mesmo que não se conside- matéria em questão, já se encontrando, portanto, superado o
rem esses instrumentos como formas de controle da jornada, debate a respeito.
restou fartamente provado que a jornada de trabalho do recla- NÃO CONHEÇO.
mante era efetivamente fiscalizada pela ré, o que afasta a aplica- 1.4. DIÁRIAS DE VIAGEM
ção da norma contida no artigo 62, inciso I, da CLT. O Tribunal de origem consignou o seguinte entendimento
...................................................................................................... quanto ao tema em destaque:
Destarte, comprovado está que havia o efetivo controle de “Como bem salientado na origem, não restou provado que
jornada do reclamante. as partes avençaram forma diversa à estabelecida nos instrumen-
Irrelevante a questão relativa à aplicabilidade ou não das tos coletivos da categoria, para atender aos gastos de alimenta-
normas coletivas juntadas, eis que apenas repetem o texto da lei ção, pelo que não há que se cogitar, em comprovação dos gastos,
quanto aos trabalhadores que cumprem jornada de trabalho ex- devendo prevalecer o teor da cláusula convencional que disciplina
terna, sem possibilidade de controle pelo empregador" (fls. 573). a matéria, que prevê o pagamento de 1,10% do piso para motoris-
A reclamada sustenta que devem ser observadas as con- tas de Carreta.
venções coletivas de trabalho que reconhecem a atividade ex- Quanto ao número de refeições, tendo em vista as afirma-
terna de seus motoristas, sem controle de jornada. Aponta viola- ções feitas pela testemunha Ivone (t. 293), no sentido de que eram
ção aos arts. 7º, inc. XXVI, da Constituição da República e 62, inc. 04 pausas para alimentação (café da manhã, almoço, café da
I, da CLT. tarde e jantar), provejo o apelo do autor para acrescer à condena-
O Tribunal Regional concluiu ter ficado comprovado que o ção mais duas diárias por dia" (fls. 575).
reclamante não estava inserido na exceção prevista no art. 62, inc. I, A reclamada sustenta estar incontroverso nos autos o
da CLT, dada a realização de controle de sua jornada de trabalho. ajuste entre as partes sobre a forma de pagamento das diárias de
Portanto, para se decidir de forma diversa, como pretende a recla- viagem. Assim, segundo afirma, o reclamante deveria comprovar
mada, seria necessário o reexame de fatos e provas, o que é os gastos com alimentação. Aponta ofensa ao art. 7º, inc. XXVI, da
vedado nesta fase recursal, nos termos da Súmula 126 desta Corte. Constituição da República.
Diante da aplicação da Súmula 126 desta Corte, resta inviá- Conforme consignado no acórdão recorrido, “não restou
vel o exame das violações de leis apontadas. provado que as partes avençaram forma diversa à estabelecida
NÃO CONHEÇO. nos instrumentos coletivos da categoria, para atender aos gastos
1.3. INTERVALO INTERJORNADAS de alimentação, pelo que não há que se cogitar, em comprovação
O Tribunal Regional deu provimento ao Recurso Ordinário dos gastos” (fls. 575). Nesse sentido, não se configura a violação
interposto pelo reclamante, quanto ao tema em destaque, sob os apontada ao art. 7º, inc. XXVI, da Constituição da República.
seguintes fundamentos: A pretensão recursal, nos termos em que exposta, demanda-
“O tempo do intervalo interjornadas não concedido implica ria o revolvimento do conjunto probatório dos autos, procedimento
prestação de serviço em período destinado ao descanso e, como vedado nesta fase recursal, a teor da Súmula 126 desta Corte.
tal, deve ser remunerado como extra, pois, assim como a pausa NÃO CONHEÇO.
intrajornada, a concessão do intervalo entre uma jornada e outra é 1.5. DANO MORAL – RESCISÃO INDIRETA.
obrigatória, por decorrer de norma pública e cogente e se tratar de O Tribunal de origem consignou os seguintes fundamentos
medida de saúde, higiene e segurança do trabalho (artigo 66 da quanto ao tema em destaque:
CLT). “E incontroverso que o reclamante, ao retornar das férias,
Assim, são devidas, como extras, as horas laboradas no teve seu caminhão trocado, o que, no entanto, conforme afirma-
curso de tal intervalo, ou seja, as horas suprimidas, nos termos da ção da testemunha Breno (f. 296), era comum. Consta, ainda, do
OJ nº 355 da SDI-1 do TST" (fls. 578). depoimento da referida testemunha, que ela presenciou o autor
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dormindo no pátio da empresa em um caminhão precário, sem A reclamada sustenta que não foram preenchidos os requi-
condições para viajar ou sequer repousar. sitos para concessão dos honorários advocatícios. Aponta viola-
A conduta da reclamada, ao deixar o reclamante fora da ção aos arts. 389, 404 e 944 do Código Civil e 14 e 16 da Lei
escala, impedindo de exercer a sua função e deixando-o dormir 5.584/70.
dentro de um caminhão sem condições para tal, no pátio da A assistência judiciária no âmbito da Justiça do Trabalho se
empresa, realmente causou-lhe constrangimento e sofrimento, rege pelas disposições da Lei 5.584/70, nos termos de seu art. 14.
sendo reprovável, não se justificando ainda que o obreiro tenha se Trata-se de honorários contraprestativos da assistência judiciária
recusado a dirigir o caminhão que lhe fora disponibilizado. que somente beneficia a parte que atender, cumulativamente, aos
...................................................................................................... seguintes requisitos: estar assistida por seu sindicato de classe e
No caso em exame, encontram-se presentes os requisitos comprovar perceber mensalmente importância inferior ao dobro
caracterizadores do dano moral. do salário-mínimo legal ou encontrar-se em situação econômica
Destarte, incensurável a reversão da justa causa em resci- que não lhe permita o custeio do processo sem prejuízo do
são indireta, com o pagamento das verbas dela decorrentes, inclu- sustento próprio ou de sua família.
sive FGTS com 40% e aviso-prévio, bem como o reconhecimento Assim, somente poderiam ser deferidos os honorários se
do direito do autor à indenização por dano moral" (fls. 576). tivessem sido preenchidos os pressupostos inscritos na Súmula
A reclamada insurge-se contra a condenação ao paga- 219 desta Corte, do seguinte teor:
mento da indenização por danos morais, sustentando que não “HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – HIPÓTESE DE CA-
houve qualquer menção sobre o estado precário do caminhão e BIMENTO. Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento
que o reclamante recusou-se a dirigir o caminhão que foi colocado de honorários advocatícios, nunca superiores a 15% (quinze por
à disposição dele após as férias. Afirma ter havido ato de insubor- cento), não decorre pura e simplesmente da sucumbência, de-
dinação pelo reclamante, por recusar-se a cumprir ordens da vendo a parte estar assistida por sindicato da categoria profissio-
empresa. Aponta ofensa aos arts. 482, alínea “h”, da CLT, 186 do nal e comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do salá-
Código Civil de 2002 e 5º, inc. X, da Constituição da República. rio-mínimo ou encontrar-se em situação econômica que não lhe
Depreende-se que a parte pretende o reexame do conjunto permita demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respec-
probatório descrito pelo Tribunal Regional, que foi contundente no tiva família”
sentido da caracterização do dano moral sofrido pelo reclamante. Esta Corte, a fim de uniformizar a jurisprudência trabalhista,
Portanto, qualquer decisão contrária, de forma a perquirir as ponde- confirmou a aplicação desse entendimento, editando a Súmula
rações deste e aferir a veracidade da assertiva do Tribunal Regional 329, do seguinte teor: “HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – ART.
ou da parte depende do reexame do quadro fático descrito pelo 133 DA CF/88. Mesmo após a promulgação da CF/88, permanece
Tribunal Regional, procedimento defeso nesta fase recursal. válido o entendimento consubstanciado no Enunciado nº 219 do
Sublinhe-se, por oportuno, que a incidência da Súmula 126 Tribunal Superior do Trabalho”.
desta Corte, por si só, afasta o cabimento do Recurso de Revista, Esclareça-se, ainda, que se encontra consagrado neste
por violação a lei. Tribunal, por meio da Orientação Jurisprudencial 305, o entendi-
O art. 5º, inc. X, da Constituição da República assegura o direi- mento de que, na Justiça do Trabalho, o deferimento de honorá-
to à indenização por dano material ou moral decorrente da violação do rios advocatícios se sujeita à constatação do atendimento conco-
direito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas. mitante a dois requisitos: o benefício da justiça gratuita e a assis-
Nesse sentido, está ileso o referido dispositivo da Constituição da tência por sindicato.
República, pois o Tribunal Regional, com base nas provas constantes
Dessa forma, considerando os termos da Lei 5.584/70 e da
dos autos, se convenceu de que ocorreu o dano moral.
Súmula 219 desta Corte, a condenação ao pagamento de honorá-
Assim, NÃO CONHEÇO.
rios advocatícios apenas poderia ocorrer se a parte estivesse
1.6. RETIFICAÇÃO DA CARTEIRA DE TRABALHO assistida por sindicato da sua categoria profissional e compro-
O Tribunal Regional asseverou os seguintes fundamentos vasse a percepção de salário inferior ao dobro do salário-mínimo
quanto ao tema em destaque: ou declarasse encontrar-se em situação econômica que não lhe
“A decisão tem por suporte a afirmação da testemunha permitisse demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da
Marcelino (f.294), no sentido de que a admissão do autor se verifi- respectiva família.
cou no início de 2006.
Logo, CONHEÇO, por violação ao art. 14 da Lei 5.584/70.
Ademais, conforme consta do depoimento da mesma teste-
munha, ela também teve sua CTPS anotada depois de transcorridos 2. MÉRITO
cerca de três meses do início efetivo do contrato de trabalho (f. 295), o 2.1. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
que deixa patenteado ser essa uma prática da empresa" (fls. 577). Em face do conhecimento do Recurso de Revista por viola-
A reclamada argumenta que “a versão dos fatos definida no ção ao art. 14 da Lei 5.584/70, DOU-LHE PROVIMENTO para
julgado não sustenta a admissão do Reclamante em período ante- excluir da condenação o pagamento de honorários advocatícios.
rior ao registro” (fls. 607). Aponta ofensa ao art. 818 da CLT.
A pretensão recursal, nos termos em que exposta, deman- ISTO POSTO
daria o revolvimento do conjunto probatório dos autos, procedi-
mento vedado nesta fase recursal, a teor da Súmula 126 desta ACORDAM os Ministros da Quinta Turma do Tribunal Su-
Corte, cuja incidência, por si só, torna inviável o exame da arguida perior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do Recurso de
violação a preceito de lei. Revista apenas quanto ao tema “Honorários Advocatícios”, por
NÃO CONHEÇO. violação ao art. 14 da Lei 5.584/70, e, no mérito, dar-lhe provi-
1.7. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS mento para excluir da condenação o pagamento de honorários
O Tribunal Regional deu provimento ao Recurso Ordinário advocatícios.
interposto pelo reclamante, deferindo o pagamento de honorários Brasília, 6 de fevereiro de 2013.(João Batista Brito Pereira –
advocatícios, em decorrência da sucumbência (fls. 579/581). Ministro Relator)
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