Tomando como pressuposto que o conhecimento não se produz na escola, mas nas relações
sociais em seu conjunto, torna-se necessário diferenciar dois tipos de processo pedagógico:
Estes processos têm por finalidade possibilitar a transição do senso comum, dos saberes tácitos
originados das experiências empíricas porém destituídos de sistematização teórica, pelo domínio
do conhecimento científico-tecnológico e sócio-histórico, o que supõe o domínio do método
científico.
A partir deste pressuposto, uma primeira questão se coloca: em uma sociedade dividida em
classes, os homens vivem em espaços culturais que, embora se cruzem, são diferenciados,
promovendo diferentes oportunidades de acesso aos bens culturais. Estas diferenças culturais,
que resultam da desigualdade de classe, têm que ser consideradas nos processos de ensino. Os
alunos têm universos diferenciados de significados, nem sempre contemplados na linguagem e
nas práticas pedagógicas, que na maioria das vezes supõe uma uniformidade conceitual que não
existe no ponto de partida dos processos de ensino; aproximar estes universos de significados é
fundamental para assegurar o desenvolvimento do conhecimento científico-tecnológico e sócio-
histórico.
Em seguida, se coloca um segundo questionamento: como cada indivíduo, com seu universo
próprio de significados e com suas formas próprias de se relacionar com o conhecimento, mais
ou menos lógico-formais (abstratas), mais ou menos caóticas (concretas), internaliza tais formas
simbólicas disponibilizadas pela cultura, de modo a transitar do senso comum, do conhecimento
cotidiano, do saber tácito, para o conhecimento científico, de modo a ser capaz de fundamentar e
compreender teoricamente a sua prática, “atuando intelectualmente” e “refletindo praticamente”.
Estas relações entre o objeto a ser aprendido e o sujeito da aprendizagem, para o mesmo autor,
são sempre mediadas por outros indivíduos; a interação do sujeito com o mundo se dá pela
mediação de outros sujeitos, não ocorrendo a aprendizagem como resultado de uma relação
espontânea entre o aprendiz e o meio; da mesma forma, é sempre uma relação social, resultante
de processos de produção que o homem coletivo foi construindo ao longo da história. Mesmo
quando a aprendizagem parece resultar de uma acção individual, ela sintetiza a trajectória
humana no processo de produção cultural.
A primeira constatação a fazer é que o processo cognitivo a ser desencadeado por quem aprende,
o saber que se pretende ensinar e a ação pedagógica a ser desenvolvida pelo professor são
categorias que estão em permanente relação, que por sua vez sintetiza as relações sociais em seu
conjunto; não podem, portanto, ser tratadas isoladamente ou descontextualizadas, pois encerram
uma função social determinada por um projeto de sociedade e por uma dada concepção de
homem. Assim, não há conteúdos ou procedimentos que sejam bons em si mesmos; eles
demonstrarão sua eficácia na medida em que respondam a uma dada situação em que se
articulam o contexto social, o aprendiz e o professor. Apreender esta relação e trabalhar
competentemente com ela é a primeira preocupação a pautar a intervenção pedagógica.
A segunda sintetiza os pressupostos que foram analisados ao longo do texto: ensinar é colocar
problemas, propor desafios, a partir dos quais seja possível reelaborar conhecimentos e
experiências anteriores, sejam conceitos científicos, conhecimentos cotidianos (senso comum) ou
saberes tácitos; para isto é necessário disponibilizar todas as informações que sejam necessárias
através de todos os meios disponíveis, orientando para o manuseio destas informações, em
termos de localização, interpretação, estabelecimento de relações e interações, as mais ricas e
variadas possíveis; a multimídia pode contribuir significativamente neste processo, sem que se
secundarize a importância das fontes tradicionais.
Este tratamento metodológico que responde aos princípios expostos, tem seu fundamento na
concepção de práxis, que se constitui no movimento através do qual o homem e todos os
homens, no trabalho, ao articular reflexão e ação, teoria e prática, transitam do senso comum ao
conhecimento científico e assim transformam a realidade, produzem sua consciência e fazem a
história.