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TRIBUNAL
DE JUSTIÇA
PUBLICAÇÃO OFICIAL
Revista VOLUME 265 - TOMO 1
SUPERIOR
TRIBUNAL
DE JUSTIÇA
ANO 34
JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2022
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Gabinete do Ministro Diretor da Revista
Diretor
Ministro Benedito Gonçalves
Chefe de Gabinete
Marilisa Gomes do Amaral
Servidores
Gerson Prado da Silva
Hekelson Bitencourt Viana da Costa
Maria Angélica Neves Sant’Ana
Rosa Christina Penido Alves Sturm
Técnico em Secretariado
Ruthe Wanessa Cardoso de Souza
Mensageiro
Francisco Rondinely Ferreira da Cruz
Revista do Superior Tribunal de Justiça - n. 1 (set. 1989) -. Brasília : STJ, 1989 -.Periodicidade varia:
Mensal, do n. 1 (set. 1989) ao n. 202 (jun. 2006), Trimestral a partir do n. 203 (jul/ago/set. 2006).
https://ww2.stj.jus.br/web/revista/eletronica/publicacao/?aplicacao=revista.eletronica.
ISSN 0103-4286.
1. Direito, Brasil. 2. Jurisprudência, periódico, Brasil. I. Brasil. Superior Tribunal de Justiça (STJ).
II. Título.
CDU 340.142 (81) (05)
Revista
MINISTRO BENEDITO GONÇALVES
SUPERIOR
TRIBUNAL
DE JUSTIÇA
Diretor
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Plenário
* Desembargador Convocado
COMISSÕES PERMANENTES
COMISSÃO DE COORDENAÇÃO
COMISSÃO DE DOCUMENTAÇÃO
COMISSÃO DE JURISPRUDÊNCIA
Membros Efetivos
Ministro Marco Buzzi (Vice-Corregedor)
Ministro Marco Aurélio Bellizze
Ministra Assusete Magalhães
Ministro Sérgio Kukina
Membros Suplentes
Ministro Moura Ribeiro
Ministra Regina Helena Costa
Ministro Rogerio Schietti Cruz
Ministro Gurgel de Faria
TOMO 1
TOMO 2
TERCEIRA SEÇÃO ............................................................................................................... 697
Crime contra a economia popular - Acusado foragido - CPP, art. 316, parágrafo
único - Pirâmide financeira - Prisão preventiva - Revisão periódica.
EMENTA
ACÓRDÃO
DJe 24.3.2022
RELATÓRIO
26
Jurisprudência da CORTE ESPECIAL
VOTO
EMENTA
28
Jurisprudência da CORTE ESPECIAL
ACÓRDÃO
DJe 5.4.2022
RELATÓRIO
VOTO
30
Jurisprudência da CORTE ESPECIAL
[...]
No presente caso, há que se consignar que a questão ora em análise traz
semelhança com os processos já analisados nas Suspensões de Liminar e
de Sentença n. 2.918 e 2.922, portanto já apreciada por esta presidência
recentemente.
Diferencia-se o fato de que, naqueles processos, a questão tratou sobre o
combate à pandemia causada pela covid-19, mais especificamente sobre a
destinação de leitos de UTI regulados pelo ente municipal e estadual. Já neste
caso, o pedido apresentado pelo Município de Cuiabá diz respeito à interferência
judicial na política pública de imunização da covid-19 que está sendo
implementada pela municipalidade.
A questão de fundo, portanto, refere-se à lesão ao Sistema de Saúde do
Município de Cuiabá, que, em razão da liminar judicial deferida, se vê obrigado
a alterar o plano municipal de vacinação elaborado pela autoridade sanitária
municipal, que previu a realização da referida imunização em 3 fases. Reitero
que, com relação às decisões por mim proferidas no que diz respeito à pandemia
de covid-19, entendo que não se pode permitir que seja retirada dos atos
administrativos do Poder Executivo a presunção da legitimidade ou veracidade,
sob pena de se desordenar a lógica de funcionamento regular do Estado na
prestação do serviço de saúde.
O requerente informa que atualmente o Município de Cuiabá conta com 5
polos de vacinação, funcionando de acordo com as seguintes regras; Centro de
eventos do Pantanal, destinado ao atendimento de idosos acima de 65 anos
e trabalhadores da saúde; Sesc Balneário, para atendimento de idosos acima
de 65 anos e trabalhadores da saúde no modelo tradicional; Sesi Papa, para
atendimento de idosos em veículos pelo sistema “drive thru”, com espaço pós
vacina; UFMT, para atendimento de trabalhadores da saúde pelo sistema “drive
thru”; Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, para atendimento de
idosos acima de 65 anos e trabalhadores da saúde.
Destaque ainda a informação de que, na data do requerimento, o município já
havia aplicado 107.486 doses de vacina, sendo 80.532 referentes à primeira dose
e 26.954 referentes à segunda, tendo ainda cumprido com a reserva de segunda
dose determinada pelas diretrizes e critérios técnicos para a organização do
processo de imunização.
Considerando os prejuízos à saúde ocasionados por decisões liminares que,
em razão da sua natureza unipessoal, não consideram os fatores gerais que
interferem no Sistema de Saúde como um todo, o Conselho Nacional de Justiça
editou recentemente a Recomendação n. 92/2021 com o objetivo de orientar os
magistrados, à luz da independência funcional, a atuar na pandemia de covid-19,
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Jurisprudência da CORTE ESPECIAL
EMENTA
38
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
ACÓRDÃO
DJe 17.2.2022
RELATÓRIO
40
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
VOTO
42
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
44
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
46
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
48
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
No caso dos autos, não figura em nenhum dos pólos da relação processual
ente federal indicado no art. 109, I, da Constituição Federal, o que afasta a
competência da Justiça Federal para processar e julgar a referida ação. Ademais,
não existe nenhuma manifestação de interesse em integrar o processo por
parte de ente federal e o Juízo Federal consignou que o interesse que prevalece
restringe-se à órbita do Município autor, o que atrai a competência da Justiça
Estadual para processar e julgar a demanda.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo interno.
É o voto.
EMENTA
52
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
ACÓRDÃO
DJe 29.3.2022
RELATÓRIO
VOTO
54
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
Pelo que se vê, a norma estipula que os estudos que subsidiam a metodologia
de definição do montante total da reserva de capacidade a ser contratada que serão
submetidos a consulta pública.
Como se vê, a norma não trata especificamente da fixação do valor do
Custo Variável Unitário.
De todo modo, tal consulta ocorreu, conforme assumido pela própria
impetrante, todavia, o valor da CVU foi fixado posteriormente, circunstância
que não configura o descumprimento da formalidade prevista no parágrafo
único do art. 4º do Decreto 10.707/2021.
A propósito, a manifestação da autoridade impetrada sobre a matéria (fl.
789-e), que aqui se adota como fundamento para denegar a segurança:
(...)
25. Para tal objetivo, em respeito aos princípios da publicidade, transparência
e participação na elaboração das decisões estatais, esta Pasta divulgou, em
consulta pública (n. 108/2021), minuta de Portaria de Diretrizes para a
realização do Leilão de Reserva de Capacidade, de 2021, e as notas
técnicas correlatas, para recebimento de contribuições entre 28/05/2021 e
14/06/2021.
26. Enquanto mecanismo de participação popular na gestão pública, a consulta
não tem por fim causar a submissão das decisões político-administrativas à
vontade popular, ou sequer a sua substituição, até mesmo pela dificuldade de
obtenção de consenso diante da heterogeneidade dos diversos interesses
cm jogo, mas sim possibilitar que a sociedade que participe ativamente
do processo decisório e da elaboração de políticas públicas, em legítimo
exercício de cidadania (destaquei).
Nesses termos, não prospera a tese de nulidade pela falta de debate público
a respeito do valor do CVU.
56
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
Por outro lado, não é caso de acolher a nulidade por falta de fundamentação
na fixação do valor do CVU.
Sobre a matéria, a autoridade impetrada invocou o item 4.21 da Nota
Técnica 093/2021/DPE/SPE, de 10/8/2021, emitida no âmbito da Consulta
Pública 108/2021, segundo o qual “A fixação de um limite máximo para
fins de habilitação técnica se faz necessária, de modo a impedir declarações
desarrazoadas, bem como restringir a participação de empreendimentos que
utilizem combustíveis em desacordo com os compromissos ambientais assumidos
pelo país” (fl. 789-e).
Ainda, a limitação do CVU se deu com o escopo de observar o princípio
da modicidade tarifária – sob as premissas de que, quanto maior o CVU, maior
o custo de geração e, por conseguinte, o custo total do sistema –, sendo o seu
valor fixado por meio de avaliação técnica específica realizada pela Empresa
de Pesquisa Energética - EPE que, “para estimar os valores para os custos
variáveis, considerou o histórico de preços dos combustíveis, realizou estimativas de
preços futuros para cada um dos indexadores (...) Henry Hub, Brent e JKM, bem como
utilizou a taxa de câmbio média do dólar nos últimos doze meses” (item 11 da Nota
Informativa 50/2021/DPE/SPE, reproduzida pela autoridade impetrada em
suas informações, fl. 790-e).
Consta também das informações que “o critério de seleção dos vencedores
do certame se dá por uma ponderação entre a Receita Fixa e o CVU”; e que,
“(..) a exemplo do CVU (que representa os custos variáveis), a Receita Fixa
(custos fixos) também deverá observar um preço-teto a ser definido em edital”,
resguardando-se ao menos dois objetivos voltados a atender o interesse público,
quais sejam: “maximizar a atratividade do leilão” e “estabelecer um mecanismo
de proteção aos consumidores para a eventualidade da competição ser diluída
por fatores conjunturais que não possam ser antecipados pelo regulador ou pelo
Poder Concedente” (fls. 790/791, item 36).
Outrossim, a autoridade impetrada labora com a premissa de que o CVU
mais alto, que é o caso das termelétricas, pode implicar maior emissão de gases
de efeito estufa, por isso, objetivando reduzir os danos ao meio ambiente, adotou
a política aqui controvertida.
Ainda sobre o ponto, colhem-se das informações explicações da autoridade
impetrada na linha de que a metodologia empregada no cálculo do CVU não
representa surpresa para os interessados em participar do certame, pois já empregada
anteriormente.
(...)
37. Nota-se, portanto, que, no caso, do Leilão de Reserva de Capacidade
de 2021, conforme registrado pelo MME na Nota Técnica n. 0093/2021/DPE/
SPE, o limite de valor do CVU é necessário, por razões de política energética,
inclusive para possibilitar o respeito aos compromissos ambientais assumidos
pelo Brasil no cenário internacional, tendo em visto que a tendência é que
quanto maior o CVU da usina termelétrica maior seja o seu nível de emissão
de gases de efeito estufa, sobretudo em se tratando das usinas existentes,
que justamente é o caso da Impetrante.
38. Outro aspecto importante é que a metodologia definidora do critério
de limitação do CVU não é nenhuma inovação, muito pelo contrário, é
amplamente conhecida pelos agentes interessados, inclusive, já tendo sido
aplicada em leilões de energia anteriores. Novamente, a Nota Informativa n.
0050/2021/DPE/SPE que instrui, tecnicamente, estas informações, afirma que:
58
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
contribuindo com a redução da emissão de gases de efeito estufa; além disso, consignou
que a metodologia do cálculo é a mesma utilizada nos certames anteriores.
Na realidade, o que foi evidenciado é o regular exercício da competência
do Ministro de Estado de formular a política pública a ser adotada na sua
área de atuação – inclusive sob o viés ambiental –, atualmente prevista na Lei
13.844/2019, cujo art. 41 mostra-se bastante ilustrativo:
(...)
Cumpre destacar também a Lei n. 9.478/1997, que dispõe sobre a política
energética nacional, das quais se destaca para a presente medida que se busca
implementar, as disposições previstas nos incisos I a IV do art. 1º, prescrevendo o
seguinte, veja:
60
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
admitir custos variáveis mais elevados, desde que a receita fixa percebida
pelo gerador seja menor, o que resultaria em um custo total de operação
mais equilibrado, uma vez que é desejável que os empreendimentos
estejam disponíveis para o atendimento ao SIN em situações de demanda
máxima do sistema, portanto menos frequentes. Contudo, considerando
que o valor do CVU corresponde ao valor a ser pago pela energia gerada,
é razoável uma avaliação por parte do Poder Concedente da razoabilidade
dos valores a serem pagos, com vistas a não onerar demasiadamente o
consumidor.
10. O argumento exposto alinha-se com a modicidade tarifária,
como exporemos a seguir. O Sistema Interligado Nacional (SIN) hoje
conta com empreendimentos de geração com valores de CVUs que
excursionam desde R$ 0/MWh (usinas sem CVU) até cerca de R$
2.000,00/MWh; portanto, é parte da preocupação com a modicidade
tarifária o estabelecimento de limite máximo em contratações
reguladas, de forma a limitar o custo das contratações quando da
efetiva geração pelo empreendimento, limitando, também, o custo
total de geração do sistema ao selecionar empreendimentos de menor
custo.
11. Nesse sentido, a fixação do limite do CVU utilizado no Leilão
de Reserva de Capacidade, como de praxe, foi baseado em avaliação
técnica específica realizada pela Empresa de Pesquisa Energética - EPE
que, para estimar os valores para os custos variáveis, considerou o
histórico de preços dos combustíveis, realizou estimativas de preços
futuros para cada um dos indexadores ao Henry Hub, Brent e JKM,
bem como utilizou a taxa de câmbio média do dólar nos últimos doze
meses.
12. Ademais, a EPE considera na formação dos preços: Consumo
Interno e Perdas elétricas; Fator de Perdas na Rede Básica, do ponto
de conexão até o centro de gravidade do Submercado; Encargos e
Impostos aplicáveis; e Custos variáveis de Operação e Manutenção.
Não cabe afirmar, portanto, que tal definição é desarrazoada ou
desmotivada. (original sem grifo)
(...)
55. Alega a Impetrante que o estabelecimento de um critério de qualificação
por valor de CVU afetará a competitividade do certame. Nesse ponto, vale
ressaltar que, conforme Informe de Cadastramento publicado pela EPE, para
o Leilão de Reserva de Capacidade de 2021 foram cadastrados 132 projetos,
totalizando 50.691 MW de capacidade instalada, dos quais 41.254 MW são de
novos empreendimentos de geração.
56. Para se ter uma ideia de quão grande é essa oferta, segundo o Sistema de
Informações de Geração da ANEEL - SIGA, a potência total outorgada do parque
gerador termelétrico brasileiro totaliza 54.286,5 MW de capacidade instalada.
Observa-se, portanto, que a oferta de novos empreendimentos cadastrados para
o Leilão corresponde a 76% do atual parque termelétrico brasileiro. Ora, tendo
em vista tamanho interesse de empreendimentos novos e existentes - cientes
dos limites de CVU definidos nas diretrizes - em participar do Leilão, fica evidente
que as condições para participação estabelecidas pelo Poder Concedente não
restringirão a competição no certame.
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
66
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
EMENTA
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
ACÓRDÃO
DJe 9.12.2021
RELATÓRIO
74
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
VOTO
76
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
processo judicial seja eletrônico, haja vista os demandantes nem sempre disporem
de computador e internet. Além disso, a distância geográfica pode comprometer
a produção de provas pelo jurisdicionado, o contato com seu advogado etc. Aqui,
então, assoma um dos cânones de ouro no Estado Social de Direito: o acesso à justiça
para hipossuficiente ou vulnerável - portador de debilidade jurídica, econômica,
técnica ou informativa, perdurável ou contingencial - deve, no verbo e na prática,
ser facilitado, e não embaraçado. A prerrogativa de escolha de foro processual visa
garantir a superação, ou pelo menos a mitigação, de variados obstáculos naturais,
formais, financeiros e psicológicos que impedem ou dificultam o acesso à justiça a
todos em condições de igualdade real, postura de repúdio republicano absoluto a um
Poder Judiciário de elite e a serviço da elite.
Conclusão
12. Recurso Ordinário provido.
(RMS n. 64.534/MT, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe de
1º/12/2020).
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
Nesse passo, mais que fixar uma orientação, o presente julgado vem apenas
confirmá-la, em seara qualificada, de modo simultaneamente tanto mais abrangente
quanto mais específico. Mais abrangente, por dispor sobre as diversas normas de
tutela processual das pessoas hipossuficientes afetadas por tentativas de suposta
otimização da prestação jurisdicional, bem como para confirmar as opções
legislativas quando facultam ao cidadão a eleição de foro. Mais específica, por
tratar justamente, e de forma definitiva, da Resolução n. 9/2019/TJMT.
Enfatize-se que o ato normativo secundário não pode contrariar lei ou a
Constituição. No caso específico, a resolução administrativa do Tribunal mato-
grossense, concreta e efetivamente, viola as garantias processuais dessas classes
de pessoas.
Há apenas um ponto que parece merecer atenção mais detida deste
colegiado, por haver alguma dispersão jurisprudencial sobre ele. Há que se
distinguir entre a competência dos Juizados Especiais Cíveis (Lei n. 9.099/1995)
daquela dos Juizados Especiais da Fazenda Pública (Lei n. 12.153/2009),
no que tange à faculdade do autor em manejar a ação neles ou na jurisdição
comum. Naqueles, entende esta Corte ser facultado ao autor optar pela Justiça
comum ou especial; nestes, não há tal opção. A compreensão deste Tribunal
Superior parece fundar-se na competência textualmente absoluta dos Juizados
da Fazenda, que não repetiu a flexibilidade da Lei n. 9.099/1995, mas, sim, a
rigidez da regra dos Juizados Especiais Federais (Lei n. 10.259/2001).
Tal divergência surgiu mesmo da Segunda Turma (RMS n. 65.165), em
votação unânime, mas não deve permanecer. É que os precedentes de dito
julgado invocados, no ponto, para apoiar a conclusão (REsp n. 1.726.789 e AgInt
no REsp n. 1.837.659), tratavam de Juizados Especiais Cíveis, não da Fazenda.
Ocorre que, naquele caso, abordando a mesma resolução do TJMT, o equívoco
acerca do fundamento não implicaria alteração do resultado, ao contrário, este
seria reforçado, na medida em que os Juizados Especiais da Fazenda é que têm
sido constrangidos a remeter os feitos à Vara Comum Especializada (e não de
Juizado Especial) de comarca diversa. Apenas destaco a questão por se tratar,
aqui, de precedente qualificado, em que os fundamentos importam tanto ou
mais que o próprio resultado. A seguir, indico os três posicionamentos.
Quanto aos Juizados Especiais Federais:
Processo Civil. Juizados Especiais Federais Cíveis e Juízo Federal Cível. Valor da
causa. Competência absoluta do Juizado Especial Federal. Lei n. 10.259/01, art. 3º,
caput e § 3º.
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
1. O valor dado à causa pelo autor fixa a competência absoluta dos Juizados
Especiais.
2. O Juizado Especial Federal Cível é absolutamente competente para processar
e julgar causas afetas à Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos
(art. 3º, caput e § 3º, da Lei 10.259/2001).
[...]
(REsp n. 1.257.935/PB, relatora Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe de
29/10/2012).
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
subsidiariamente à Lei 12.153, ora em exame: “Nos termos do art. 3º, caput, da Lei
10.259/2001, ‘Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e
julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários
mínimos, bem como executar as suas sentenças.’ Extrai-se do referido dispositivo
legal que a fixação da competência do JEF, no que se refere às execuções, impõe
a conjugação de duas condicionantes: (a) o valor da causa deve ser inferior a 60
(sessenta) salários mínimos; (b) o titulo executivo judicial deve ser oriundo do
próprio JEF.
[...] (REsp n. 1.804.186/SC, relator Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção,
DJe de 11/9/2020).
Processual Civil. Ação com valor a causa menor que 60 (sessenta) salários
mínimos. Juizado Especial da Fazenda Pública. Artigo 2º da Lei 12.153/2009.
Competência absoluta.
1. A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que a competência atribuída
ao Juizado Especial da Fazenda Pública é absoluta, consoante o art. 2º, § 4º, da Lei
12.153/2009, a ser determinada em conformidade com o valor da causa.
[...]
3. A ação foi ajuizada perante o Juízo da Vara Única da Comarca de Raul Soares/
MG, o qual exerce competência simultânea para o processamento e julgamento
das causas afetas tanto à Justiça Comum quanto ao Sistema dos Juizados
Especiais. Assim, nos casos em que o Juízo exerça competência simultânea para
o processamento e o julgamento das causas afetas à Justiça Comum, e também
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
Assim, importa afirmar que não há faculdade do autor em optar pelo Juízo
comum se, no local em que propõe a ação, existe Juizado Especial da Fazenda
Pública, tratando-se de matéria de sua competência e alçada. O que é faculdade
do autor é ajuizar tal ação no foro de sua residência ou, em se tratando do estado
no polo passivo, em qualquer de suas comarcas; mas, se escolher movê-la em
comarca onde há Juizado Especial da Fazenda Pública, a competência deste
não poderá ser afastada. Muito menos, como dito, em decorrência de norma
secundária ou primária local, que imponha ao autor o trâmite de seu caso
em vara comum, ainda que especializada, quando houver Juizado Especial da
Fazenda no local de eleição.
Portanto, nos termos do art. 104-A do RISTJ, tenho como fundamentos
da posição jurisprudencial desta Corte:
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
EMENTA
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
ACÓRDÃO
DJe 15.3.2022
RELATÓRIO
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
VOTO
Moldura fática.
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
Tese em abstrato.
Fundamento jurídico.
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
Art. 20. A repartição dos limites globais do art. 19 não poderá exceder os seguintes
percentuais:
I – na esfera federal:
a) 2,5% (dois inteiros e cinco décimos por cento) para o Legislativo, incluído o
Tribunal de Contas da União;
b) 6% (seis por cento) para o Judiciário;
c) 40,9% (quarenta inteiros e nove décimos por cento) para o Executivo,
destacando-se 3% (três por cento) para as despesas com pessoal decorrentes do
que dispõem os incisos XIII e XIV do art. 21 da Constituição e o art. 31 da Emenda
Constitucional n. 19, repartidos de forma proporcional à média das despesas
relativas a cada um destes dispositivos, em percentual da receita corrente líquida,
verificadas nos três exercícios financeiros imediatamente anteriores ao da
publicação desta Lei Complementar; (Vide Decreto 3.917, de 2001)
d) 0,6% (seis décimos por cento) para o Ministério Público da União;
II – na esfera estadual:
a) 3% (três por cento) para o Legislativo, incluído o Tribunal de Contas do
Estado;
b) 6% (seis por cento) para o Judiciário;
c) 49% (quarenta e nove por cento) para o Executivo;
d) 2% (dois por cento) para o Ministério Público dos Estados;
III – na esfera municipal:
a) 6% (seis por cento) para o Legislativo, incluído o Tribunal de Contas do
Município, quando houver;
b) 54% (cinquenta e quatro por cento) para o Executivo.
§ 1º Nos Poderes Legislativo e Judiciário de cada esfera, os limites serão
repartidos entre seus órgãos de forma proporcional à média das despesas com
pessoal, em percentual da receita corrente líquida, verificadas nos três exercícios
financeiros imediatamente anteriores ao da publicação desta Lei Complementar.
(...)
Art. 21. É nulo de pleno direito o ato que provoque aumento da despesa com
pessoal e não atenda:
I - as exigências dos arts. 16 e 17 desta Lei Complementar, e o disposto no
inciso XIII do art. 37 e no § 1o do art. 169 da Constituição;
II - o limite legal de comprometimento aplicado às despesas com pessoal
inativo.
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
(...)
Art. 22. A verificação do cumprimento dos limites estabelecidos nos arts. 19 e
20 será realizada ao final de cada quadrimestre.
Parágrafo único. Se a despesa total com pessoal exceder a 95% (noventa e cinco
por cento) do limite, são vedados ao Poder ou órgão referido no art. 20 que houver
incorrido no excesso:
I - concessão de vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração a
qualquer título, salvo os derivados de sentença judicial ou de determinação legal
ou contratual, ressalvada a revisão prevista no inciso X do art. 37 da Constituição;
funções quanto pela redução dos valores a eles atribuídos; 37 o segundo prevê
a “redução temporária da jornada de trabalho com adequação dos vencimentos
à nova carga horária” (art. 23, § 2º). (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito
Administrativo. Disponível em: STJ Minha Biblioteca, 34. ed. Grupo GEN, 2021.)
14. A verificação de tais limites – global e específico –, por sua vez, dar-se-á
ao final de cada quadrimestre, segundo o art. 22, caput, da LC 101/2000. Nessa
oportunidade, a LC 101/2000 determina que seja verificada se a despesa de cada
Poder ou órgão com pessoal – limite específico – se mantém inferior a 95% do
seu limite; isso porque, em caso de excesso, há um conjunto de vedações que deve
ser observado exclusivamente pelo Poder ou o órgão que houver incorrido no excesso,
como visto no art. 22 da LC 101/2000.
15. Veja que em nenhuma dessas situações a LC 101/2000 desautoriza
a progressão funcional do servidor público que atender aos requisitos legais. Assim,
nos casos em que há comprovado excesso, se global ou específico, as condutas
que são lícitas aos entes federativos estão expressamente delineadas. Ou seja, há
comandos normativos claros e específicos de mecanismos de contenção de gasto
com pessoal, os quais são taxativos, não havendo previsão legal de vedação à
104
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
106
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
30.428/RO, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, DJe 15.3.2010; RMS 20.915/MA,
Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, 8.2.2010; REsp 1.197.991/MA, Rel. Min. Eliana
Calmon, DJe 26.8.2010; REsp 935.418/AM, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta
Turma, DJe 16.3.2009.
2. A análise do pleito de progressão à parte agravada esbarra no óbice previsto
na Súmulas 280/STF por análise de legislação local, notadamente das LCE 49/1986
e 322/2006 do Estado do Rio Grande do Norte.
3. Agravo Interno do Estado do Rio Grande do Norte e do Instituto de Previdência
dos Servidores do Estado do Rio Grande do Norte a que se nega provimento (AgInt
no AREsp 1.410.389/RN, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma,
julgado em 24/08/2020, DJe 31/08/2020 - sem destaque no original).
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Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
Caso concreto.
112
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
EMENTA
114
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
ACÓRDÃO
DJe 3.3.2022
RELATÓRIO
116
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
118
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
valor venal do imóvel para fins de cálculo do ITBI e do IPTU, bem como pela
ilegitimidade da adoção do valor venal de referência previamente fixado pelo
fisco como parâmetro”.
Por meio de decisão proferida em 15/02/2022, indeferi o pedido da
Associação Brasileira de Advocacia Tributária - ABAT para ingressar no feito
como amicus curiae (e-STJ fls. 293/294).
É o relatório.
VOTO
O caso sub judice visa discutir e determinar a correta base de cálculo a ser
utilizada pelos Municípios do Estado de São Paulo, quando do lançamento
tributário do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI).
120
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
122
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
Apelação Base de cálculo de ITBI Artigo 35 do CTN dispõe que é o valor venal do
bem imóvel - Utilização, para fins de tributação, do valor venal utilizado para a
cobrança do IPTU ou valor do negócio traduzido no instrumento de transmissão,
o que for maior Precedentes Recurso procedente.” (TJSP. 14ª Câmara de Direito
Público. Apelação / Reexame Necessário n. 1001992-29.2014.8.26.0053; rel. Des.
Mônica Serrano; j. 11/12/2014).
A propósito, o Órgão Especial, no julgamento a Arguição de
Inconstitucionalidade n. 0056693-19.2014.8.26.0000, reconheceu a
inconstitucionalidade dos artigos 7º-A, 7º-B e 12, da Lei n. 11.154/91, do Município
de São Paulo, acrescido pela Lei municipal n. 14.256/2006, permanecendo a
validade do artigo 7º, conforme ementa vazada nos seguintes termos:
Por essas razões, a base de cálculo do ITBI deve corresponder ao valor venal
do bem imóvel transferido e, caso este valor seja inferior ao da negociação, deve
prevalecer este último.
Ocorrendo isto, pelo meu voto, no julgamento do incidente, fixo a tese jurídica da
base de cálculo do ITBI, devendo corresponder ao valor venal do imóvel ou ao
valor da transação, prevalecendo o que for maior.
Por derradeiro, considera-se prequestionada toda matéria infraconstitucional
e constitucional, observando-se que é pacífico no Superior Tribunal de Justiça
que, tratando-se de pré-questionamento, é desnecessária a citação numérica dos
dispositivos legais, bastando que a questão posta tenha sido decidida.
E mais, os embargos declaratórios, mesmo para fins de prequestionamento, só
são admissíveis se a decisão embargada estiver eivada de algum dos vícios que
ensejariam a oposição dessa espécie recursal (EDROMS-18.205/SP, Ministro Felix
Fischer, DJ-08.05.2006 p. 240). (Grifos no original).
Admissibilidade
124
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
Mérito
126
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
Parágrafo único. Nas transmissões causa mortis, ocorrem tantos fatos geradores
distintos quanto sejam os herdeiros quanto ou legatários.
[...] (Grifos acrescidos).
ITBI. Base de cálculo. Valor de mercado. Violação aos arts. 535, II, e 458, II, do
CPC. Inocorrência. Prequestionamento do art. 146 do CTN. Inocorrência. Reexame
de processo administrativo fiscal. Inadmissibilidade. Súmula 7/STJ.
I - Compulsando os autos, observo que todos os pontos alavancados pela
ora agravante nos embargos declaratórios perante o tribunal a quo foram
devidamente analisados pelo v. acórdão.
II - A suposta violação ao art. 146 do CTN não foi devidamente prequestionada.
O efeito devolutivo integral do reexame necessário não tem o condão de
prequestionar toda a matéria, conforme aduz a agravante. Ademais, o Município
foi sucumbente apenas no tocante à inconstitucionalidade das alíquotas
progressivas. No ponto, completamente descabida a argumentação da agravante.
Esta, em suas razões de apelação, ao não apresentar a referida matéria ao Tribunal
a quo, impossibilitou sua apreciação. Na via do apelo especial, não se pode
apreciar matéria não debatida pelo tribunal a quo, sob pena de se incorrer em
supressão de instância.
III - É cediço na doutrina majoritária e na jurisprudência dessa Corte que a base
de cálculo do ITBI é o valor real da venda do imóvel ou de mercado, sendo que até
nos casos em que não houve recolhimento, pode-se arbitrar o valor do imposto,
por meio de procedimento administrativo fiscal, com posterior lançamento de
ofício. Segundo HUGO DE BRITO MACHADO: em se tratando de imposto que
incide sobre a transmissão por ato oneroso, tem-se como ponto de partida para
128
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
Importa ressaltar que, embora seja possível dimensionar o valor médio dos
imóveis no mercado, segundo critérios, por exemplo, de localização e tamanho
(metragem), a avaliação de mercado específica de cada imóvel transacionado
pode sofrer oscilações para cima ou para baixo desse valor médio, a depender,
por exemplo, da existência de outras circunstâncias igualmente relevantes
e legítimas para a determinação do real valor da coisa, como a existência
de benfeitorias, o estado de conservação os interesses pessoais do vendedor
(necessidade da venda para despesas urgentes, mudança de investimentos, etc.)
e do comprador (escassez do imóvel na região, proximidade com o trabalho e/ou
com familiares, etc.) no ajuste do preço.
Especificamente no caso de alienação por hasta pública, salvo hipóteses
de preço vil, o valor da arrematação corresponde ao valor de mercado, pois
presume-se que esses mesmos fatores foram ponderados pelo arrematante para
a realização de seu lance.
Aqui não se está afirmando que o preço de venda necessariamente reflete
o valor de mercado, pois eventual alienação por preço nitidamente incompatível
com este (valor de mercado), independentemente de sua motivação, não permite a
adoção dele (o preço de venda) como parâmetro para definição da base de cálculo.
Dito isso, agora é possível passar para o exame da modalidade de lançamento
do ITBI, temática largamente discutida na doutrina e na jurisprudência.
Após cuidadosa reflexão, cheguei à conclusão de que o ITBI, em razão
de seu fato gerador, somente comporta duas das modalidades de lançamento
originário: por declaração ou por homologação, a depender da legislação
municipal de cada ente tributante, sendo inviável ao fisco proceder, de antemão,
ao seu lançamento de ofício.
Se a norma local exigir prévio exame das declarações do contribuinte pela
Administração para a constituição do crédito tributário, estaremos diante de um
lançamento por declaração.
Nessa modalidade de lançamento, em face do princípio da boa-fé
objetiva, presume-se que o valor da transação declarado pelo contribuinte está
condizente com o valor venal de mercado daquele específico imóvel, presunção
que somente pode ser afastada pelo fisco se esse valor se mostrar, de pronto,
incompatível com a realidade, a justificar a instauração do procedimento próprio
para o arbitramento da base de cálculo, em que assegurado ao contribuinte o
contraditório necessário para apresentação das peculiaridades que justificariam
o quantum informado.
130
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
Tributário. Execução fiscal. ITBI. Base de cálculo. Valor venal. IPTU. Vinculação.
Impossibilidade.
1. “Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a
decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos
de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas até então
pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça” (Enunciado Administrativo n.
2, sessão de 09/03/2016).
2. O entendimento de ambas as Turmas de Direito Público do STJ firmou-se no
sentido de que não há ilegalidade na dissociação entre o valor venal do imóvel
para fins de cálculo do ITBI e do IPTU, porquanto a apuração da base de cálculo e
a modalidade de lançamento deles são diversas, não havendo, pois, vinculação de
seus valores.
3. Hipótese em que restou consignado, no acórdão recorrido, a real vinculação
entre as bases de cálculo do ITBI e do IPTU - em detrimento dos valores arbitrados
pela municipalidade, ante a discrepância entre o valor declarado pelo contribuinte
e aquele considerado como de mercado pelo ente tributante.
132
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
134
Jurisprudência da PRIMEIRA SEÇÃO
Do caso concreto
136
Primeira Turma
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL N. 1.904.780-SP (2021/0160235-3)
EMENTA
ACÓRDÃO
DJe 25.2.2022
RELATÓRIO
140
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
No especial, a parte alega violação dos arts. 150, § 4º, 173, I, do CTN, bem
como a ocorrência de divergência jurisprudencial.
Sustenta, em síntese, que a contagem do prazo decadencial deve observar
a regra do art. 173, I, do CTN, e não aquela prevista no art. 150, § 4º, ante a
ausência de recolhimento do ISS aos cofres do município tributante no período
do fato gerador.
Afirma que o recolhimento do ISS feito a outro ente municipal não
tem o condão de alterar a forma de contagem do prazo decadencial, uma vez
que o município recorrente só teve conhecimento do fato gerador na data da
fiscalização.
O recurso especial foi obstaculizado pela aplicação da Súmula 7 do STJ e
por não estar corretamente demonstrado o dissídio jurisprudencial, fundamentos
impugnados no agravo.
É o relatório.
VOTO
O § 4º do sobredito artigo 150 do CTN, por sua vez, determina que “Se a lei
não fixar prazo à homologação, será ele de 5 (cinco) anos, a contar da ocorrência
do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha
pronunciado, considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto
o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.”
Assim, para que referido dispositivo legal seja aplicável, é necessário que
o contribuinte tenha efetuado o pagamento, isto é, tenha “declarado” que o
imposto era devido naquele caso e, procedido ao seu recolhimento, ainda que
tenha sido a menor, antes do lançamento e a Municipalidade tem o prazo de
cinco anos contados do fato gerador para homologar o crédito de forma tácita ou
expressa.
Pois bem, o impetrante comprovou que houve a retenção e recolhimento
referente às notas fiscais de fls. 40/127, no exercício de 2010 (período
compreendido entre janeiro a dezembro), devendo, desse modo, incidir a regra
decadencial insculpida no já mencionado artigo 150 § 4º do CTN, ou seja, o direito
da Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos,
contados da ocorrência do fato gerador.
Os fatos geradores do tributo ocorreram entre janeiro a dezembro de 2010
(esta última datada de 8/12/2010), evidenciado pela emissão das notas fiscais
aqui copiadas às fls. 40/127, nas quais a autora é identificada como tomadora dos
serviços. Ali consta o nome da autora nessa condição, com as devidas descrições
dos serviços prestados.
O fato gerador do ISS se dá na data da prestação de serviços (art. 156, III da
Constituição Federal), de modo que as notas fiscais de fls. 40/127 apontam que os
serviços foram prestados até o dia 8/12/2010.
Está, pois, demonstrado que quando o lançamento foi efetuado o crédito
tributário descrito no auto de infração n. 121/2015, de 15/12/2015, já havia sido
fulminado pela decadência.
142
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
Pois bem.
Por oportuno, anote-se a tempestividade do agravo em recurso especial,
tendo o município recorrente sido intimado da decisão de inadmissão do recurso
com sua intimação pessoal, ocorrida por meio eletrônico em 30/11/2020, data
da interposição do agravo.
Dito isso, tem-se que, para os tributos sujeitos ao lançamento por
homologação, a obrigação tributária não declarada pelo contribuinte no tempo
e modo determinados pela legislação de regência está sujeita ao procedimento
de constituição do crédito pelo fisco, por meio do lançamento substitutivo, o
qual se deve dar no prazo decadencial previsto no art. 173, I, do CTN, quando
não houver pagamento antecipado, ou no art. 150, § 4º, do CTN, quando
ocorrer o recolhimento de boa-fé, ainda que em valor menor do que aquele
que a Administração entende devido, pois, nesse caso, a atividade exercida
pelo contribuinte, de apurar, pagar e informar o crédito tributário, está sujeita à
verificação pelo ente público, sem a qual ela é tacitamente homologada.
Nesse sentido, confiram-se os seguintes julgados: AgInt no AgInt no
AREsp 1.229.609/RJ, rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma,
DJe 24/10/2018; AgInt no REsp 1.097.248/SC, rel. Ministro Sérgio Kukina,
Primeira Turma, DJe 13/05/2019; AgRg no AREsp 132.784/SP, rel. Ministro
Gurgel de Faria, Primeira Turma, DJe 01/04/2016; REsp 1.633.154/SP, rel.
Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 05/12/2017.
Vê-se que, pela própria natureza do lançamento por homologação,
faz-se necessário que a edilidade tenha conhecimento da ocorrência do fato
gerador, seja através da declaração formal promovida pelo contribuinte ou do
recolhimento do tributo aos seus cofres.
Na hipótese dos autos, é incontroverso que o contribuinte declarou e
recolheu o ISS relativo aos serviços prestados por terceiros a outros municípios
que não o município de Itapevi – SP, o qual apenas teve conhecimento dos fatos
geradores no momento da fiscalização tributária.
Não se está aqui a afirmar a competência deste ou daquele município para
a tributação, mas apenas que, para a aplicação da regra do art. 150, § 4º, do CTN
ao município de Itapevi – SP, no caso concreto, a declaração do contribuinte ou
o recolhimento, ainda que parcial, do ISSQN dos fatos geradores tributados
deveriam ter sido feitos ao ora recorrente.
EMENTA
144
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 21.3.2022
RELATÓRIO
VOTO
146
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
Ao que parece, talvez em razão do recorte parcial que fez para transcrição
nas razões recursais, não compreendeu a agravante o real fundamento da decisão
que pretende combater.
Eis o que efetivamente está posto no decisum hostilizado:
150
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
A segunda observação que faz a agravante foi vazada nos seguintes moldes:
Ainda que aqui transcrito (tão somente para que não se alegue omissão),
o argumento não merece ser conhecido, pois, a toda evidência, desborda dos
fundamentos da decisão agravada
Por tudo isso, tenho que as razões recursais declinadas pela Autora não
abalam os fundamentos sobre os quais se erige a decisão combatida, que
permanece incólume.
152
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
EMENTA
154
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 27.4.2022
RELATÓRIO
156
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
É o relatório. Decido
VOTO
158
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
Art. 3º Não é paga a despesa, ainda que atestada, enquanto houver outras
mais bem classificadas na ordem cronológica e custeadas pela mesma fonte de
recursos, ainda que sejam originárias de exercício encerrado
Art. 5º Todos os valores, preços e custos utilizados nas licitações terão como
expressão monetária a moeda corrente nacional, ressalvado o disposto no
art. 42 desta Lei, devendo cada unidade da Administração, no pagamento das
obrigações relativas ao fornecimento de bens, locações, realização de obras
e prestação de serviços, obedecer, para cada fonte diferenciada de recursos,
a estrita ordem cronológica das datas de suas exigibilidades, salvo quando
presentes relevantes razões de interesse público e mediante prévia justificativa da
autoridade competente, devidamente publicada.
160
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
subsequente, pois devem ser custeadas com recursos financeiros do exercício que
foram realizadas.
Nessa linha, são os artigos. 35 a 37 da Lei 4.320/64, que assentam
que pertencem aos exercício financeiro apenas as despesas nele legalmente
empenhadas, as quais serão consideradas restos a pagar, caso não pagas até o dia
31 de dezembro, destacando que as dívidas dos exercícios anteriores somente
poderão ser pagas por dotação específica consignada no orçamento anual:
162
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
EMENTA
Administrativo. Servidor público. Recurso em mandado de
segurança. Magistrado em gozo de licença para capacitação no exterior.
Suspensão da percepção de Gratificação por Exercício Cumulativo de
Jurisdição ou Acumulação de Acervo Processual e de Gratificação
de Direção de Fórum. Vantagens de caráter eventual e temporário.
Interrupção automática do pagamento em virtude da ausência de
preenchimento dos requisitos legais. Possibilidade. Existência de
processo administrativo no qual houve o exercício da ampla defesa.
Ausência de direito líquido e certo à manutenção das vantagens.
1. Cuida-se de recurso em mandado de segurança interposto
contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe que
denegou o writ do autor, no que tange ao pedido de manutenção
do pagamento das vantagens denominadas “Retribuição por Direção
de Fórum” e “Gratif icação pelo Exercício Cumulado de Jurisdição ou
Acumulação de Acervo Processual”, no período de 20/12/2019 a
19/9/2020, durante o qual o magistrado impetrante gozava de licença
para participar de curso de doutorado no exterior, concedendo, no
entanto, em parte a ordem apenas para isentá-lo de devolver os valores
anteriormente recebidos de boa-fé.
2. Nos termos dos arts. 1º da Lei Complementar Estadual
327/2019 e 1º da Lei Complementar Estadual 239/2014, c/c o art.
5º, II, b, c e d, da Resolução/CNJ n. 13/2006, as referidas vantagens
possuem caráter eventual e temporário, vinculando-se o seu pagamento
ao efetivo exercício das atividades a elas relacionadas.
3. No que toca especificamente à “Retribuição por Direção
de Fórum”, existindo previsão legal expressa no sentido de que o
pagamento da referida vantagem somente seria devido nos casos de
afastamentos vinculados a “férias, licença-maternidade, licenças para
tratamento da própria saúde ou de pessoa da família, ou outros afastamentos
inferiores a dez dias”, torna-se inviável estender tal comando normativo
à hipótese ali não contemplada, ante a necessidade de reverência ao
princípio de hermenêutica segundo o qual “não compete ao intérprete
distinguir onde o legislador, podendo, não o fez, sob pena de violação do
postulado da separação dos poderes” (AgInt no REsp 1.609.787/RS, Rel.
Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe 10/11/2017).
4. Recurso em mandado de segurança desprovido.
ACÓRDÃO
DJe 1º.4.2022
RELATÓRIO
164
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
166
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
[...] no caso dos autos, não se pode excluir o pagamento da verba remuneratória
em questão ao magistrado afastado para cursar doutorado em direito, a pretexto
de uma intepretação restritiva das normas de direito público – abalizadas pelo
princípio da legalidade estrita –, até porque a legalidade estrita não pode ser
empregada para relativizar a prerrogativa de estabilidade financeira conferida à
magistratura, vide art. 73, inciso I, da LOMAN.
Isto é, deve ser considerada, ao contrário do que restou consignado no V.
acórdão, como ilegal e abusiva subtração da gratificação pelo exercício de direção
de fórum da remuneração mensal do juiz estadual recorrente, notadamente
levando-se em consideração a inafastável interpretação extensiva que deve
ser conferida ao art. 1º, § 5º, da Lei Complementar Estadual n. 129/2006, a fim
de abarcar também a hipótese de gozo de licença para fins de capacitação
profissional como legítima causa de afastamento de magistrado do exercício
efetivo de suas atividades, com manutenção do pagamento da referenciada
vantagem remuneratória.
Assim, a fim de melhor adequar a aplicação do ordenamento jurídico,
especialmente nas situações em que se pretende fazer valer a proteção de
um direito individual frente ao Poder Estatal, como no caso da salvaguarda
da estabilidade financeira conferida à magistratura, exsurge como técnica
168
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
VOTO
Art. 1º...
I –...
...........................................................................................
VIII – Gratificação pelo exercício cumulativo de jurisdição ou acumulação
de acervo processual, que o magistrado deve perceber em importância
não superior a 1/3 (um terço) do subsídio para cada mês de atuação, a ser
paga proporcionalmente em caso de período inferior, observado o teto
remuneratório constitucional;
............................................................................................
170
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
Art. 5º As seguintes verbas não estão abrangidas pelo subsídio e não são por
ele extintas:
I - de caráter permanente: retribuição pelo exercício, enquanto este perdurar,
em comarca de difícil provimento;
II - de caráter eventual ou temporário:
a) exercício da Presidência de Tribunal e de Conselho de Magistratura, da Vice-
Presidência e do encargo de Corregedor;
b) investidura como Diretor de Foro;
c) exercício cumulativo de atribuições, como nos casos de atuação em comarcas
integradas, varas distintas na mesma Comarca ou circunscrição, distintas
jurisdições e juizados especiais;
d) substituições;
e) diferença de entrância;
f ) coordenação de Juizados;
g) direção de escola;
h) valores pagos em atraso, sujeitos ao cotejo com o teto junto com a
remuneração do mês de competência;
i) exercício como Juiz Auxiliar na Presidência, na Vice-Presidência, na
Corregedoria e no Segundo Grau de Jurisdição;
j) participação em Turma Recursal dos Juizados Especiais.
Parágrafo único. A soma das verbas previstas neste artigo com o subsídio
mensal não poderá exceder os tetos referidos nos artigos 1º e 2º, ressalvado o
disposto na alínea “h” deste artigo.
(Grifos nossos)
172
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
Art. 1º...
VIII — retribuição de 10% (dez por cento) do valor do respectivo subsídio
mensal, quando substituir respondendo cumulativamente com o exercício
da jurisdição que titulariza;
IX — retribuição de 5% (cinco por cento) do valor do respectivo subsídio
mensal pelo exercício da Direção do Fórum.
............................................................................................
§ 4º As vantagens descritas nos incisos III e IV não são acumuláveis com
aquela prevista no inciso VIII, prevalecendo, todavia, o maior percentual,
quando mais de uma situação vier a ocorrer.
§ 5º A retribuição de que trata o inciso IX não será devida nos afastamentos,
salvo nos casos de férias, licença-maternidade, licenças para tratamento da
própria saúde ou de pessoa da família, ou outros afastamentos inferiores a dez
dias.
§ 6º A retribuição descrita no inciso IX também não será devida em
relação aos Fóruns Distritais e nas substituições inferiores a dez dias. (NR)
EMENTA
174
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
176
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 16.3.2022
RELATÓRIO
178
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
VOTO
180
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
[...]
§ 2º O imposto previsto no inciso III:
I - será informado pelos critérios da generalidade, da universalidade e da
progressividade, na forma da lei;
[...]
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de
forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das
seguintes contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei,
incidentes sobre:
[...]
c) o lucro;
[...]
182
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
184
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
186
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
Art. 4º. Ficam isentas do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica - IRPJ e da
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL as receitas decorrentes de valores
em espécie pagos ou creditados pelos Estados, Distrito Federal e Municípios,
relativos ao Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e
sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de
Comunicação - ICMS e ao Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISS, no
âmbito de programas de concessão de crédito voltados ao estímulo à solicitação de
documento fiscal na aquisição de mercadorias e serviços. (destaquei).
188
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
190
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
192
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
O Secretário da Receita Federal, no uso da atribuição que lhe confere o inciso III
do art. 209 do Regimento Interno da Secretaria da Receita Federal, aprovado pela
Portaria MF n. 259, de 24 de agosto de 2001, e tendo em vista o disposto nos arts.
374, 377 e 443 do Decreto n. 3.000, de 26 de março de 1999 - Regulamento do
Imposto de Renda (RIR, de 1999), e o que consta do processo n. 10768.028583/98-
01, declara:
Art. 1º Os incentivos concedidos pelo Poder Público às pessoas jurídicas,
consistentes em empréstimos subsidiados ou regimes especiais de pagamento de
impostos, em que os juros e a atualização monetária, previstos contratualmente,
incidem sob condição suspensiva, não configuram subvenções para investimento,
nem subvenções correntes para custeio.
Parágrafo único. Os incentivos de que trata o caput configuram reduções de
custos ou despesas, não se aplicando o disposto no art. 443 do RIR, de 1999.
Art. 2º Os juros e a atualização monetária contratados, incidentes sob condição
suspensiva, serão considerados despesas na apuração do Lucro Real e da
base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), quando
implementada a condição.
Jorge Antonio Deher Rachid
(Publicado no DOU de 31/10/2003 – destaquei).
194
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
VOTO-VISTA
196
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
- arts. 128, 460 e 535, II, do CPC/1973, porque entende que o acórdão
recorrido deixou de se manifestar sobre todas as causas de pedir autônomas
contidas na petição inicial;
- arts. 38, § 2º do Decreto-Lei n. 1.598/77 e 443, I, do RIR/99, porque o
benefício fiscal concedido pelo Estado de Santa Catarina deve ser considerado
como subvenção para investimento e, por isso, não deve sofrer a incidência do
IRPJ e da CSLL (e-STJ fls. 820/821).
Contrarrazões apresentadas (e-STJ fls. 185/189).
Decisão de admissibilidade à e-STJ fls. 192/192.
Pois bem, após o bem-lançado voto da em. Ministra Regina Helena Costa,
em que deu provimento ao recurso especial, pedi vista dos autos para melhor
exame da controvérsia.
A questão jurídica trazida a esta Corte Superior diz respeito a definir
se o incentivo fiscal concedido pelo Estado de Santa Catarina (diferimento
do pagamento do ICMS em 36 meses, acrescido de juros simples de 4% ao
ano e sem correção monetária), deve ser classificado como subvenção para
investimento e, sendo assim, não componente da base de cálculo do do IRPJ e
da CSLL.
A ora recorrente defende que sim. Para tanto, aduz que (e-STJ fl. 167):
198
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
200
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
final são os cofres públicos. Axiologia da ratio decidendi que afasta, com ainda
mais razão, a pretensão de caracterização, como renda ou lucro, de créditos
presumidos outorgados no contexto de incentivo fiscal.
XVI - Embargos de Divergência desprovidos.
(EREsp 1.517.492/PR, Rel. p/ Acórdão Ministra Regina Helena Costa, Primeira
Seção, julgado em 08/11/2017, DJe 01/02/2018)
Ressalto que, embora a hipótese ora tratada não seja idêntica ao precedente
citado, cumpre observar que ambos os julgados tratam de incentivo fiscal
relativo ao ICMS, devendo, por isso, ser aplicado o mesmo entendimento.
Ante o exposto, nos termos da fundamentação supra, acompanho a
eminente Ministra relatora e dou provimento ao recurso especial, concedendo a
segurança para que os valores referentes ao ganho obtido com o incentivo fiscal
em referência não sofram a incidência do IRPF e da CSLL, uma vez ultimado,
ao tempo e modo, o respectivo contrato firmado com o Estado-Membro.
É como voto.
EMENTA
202
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 11.4.2022
RELATÓRIO
204
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
VOTO
206
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
208
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
210
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
212
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
tem como controlar, como não tem como controlar a passagem de um animal,
a passagem de uma pessoa, de uma criança que se largue das mãos da mãe e
atravesse a rodovia”. O voto vencedor destacou, ainda, que “o fato de não haver
sinalização luminosa, no meio-fio ou cerca nas propriedades, entendo que no
meio-fio não é obrigatório em rodovias, como também não é obrigação do DNIT
construir cercas para contenção de animais. Em um acaso como este, entendo
que não há obrigação do Estado em indenizar”.
IV. Contudo, do contexto fático, exposto pelas instâncias ordinárias, ficou
reconhecido que o acidente ocorreu em rodovia federal, em razão da presença de
animal transitando na pista, situação que denotaria negligência na manutenção e
fiscalização pelo Estado, além de restarem listados os danos causados aos autores,
afastados quaisquer indícios de culpa exclusiva da vítima e de força maior. Segundo
constou do voto vencido, “inexistem, nos autos, documentos que comprovem
que a entidades públicas têm efetivamente atuado na área com vias a erradicar
o problema. Por outro lado, pelas fotos acostadas aos autos, é claramente visível
a inexistência de contenções para impedir a travessia de animais na pista, o que
configura, sobretudo quando levado em consideração a frequência com que tais
acidentes ocorrem na localidade, a existência de uma falha no serviço prestado.
Nesse passo, a par da situação fática acima delineada e devidamente comprovada,
entendo que restou caracterizada na espécie a responsabilidade civil do Estado por
omissão, havendo nexo causal entre o acidente e a conduta estatal, consubstanciada
no dever de fiscalizar as rodovias e de impedir que animais fiquem soltos em suas
imediações e invadam a pista”. Constou, ainda, que a vítima “usava capacete e
estava com a Carteira Nacional de Habilitação regular, não havendo informações
sobre a velocidade em que conduzia a motocicleta. Afastada, portanto, a
possibilidade de alegação de culpa exclusiva da vítima”.
V. Portanto, o acórdão recorrido contraria a orientação desta Corte, no sentido
de ser dever estatal promover vigilância ostensiva e adequada, proporcionando
segurança possível àqueles que trafegam pela rodovia, razão pela qual se verifica
conduta omissiva e culposa do ente público, caracterizada pela negligência, apta à
responsabilização do Estado. Nesse sentido: STJ, REsp 1.198.534/RS, Rel. Ministra
Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe de 20/08/2010; REsp 438.831/RS, Rel. Ministro
João Otávio de Noronha, Segunda Turma, DJU de 02/08/2006; AgInt no AgInt
no REsp 1.631.507/CE, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe de
28/08/2018.
VI. Estando o acórdão recorrido em dissonância com a orientação firmada
por esta Corte, merece ser mantida a decisão ora agravada, que deu provimento
ao Recurso Especial da parte autora, para restabelecer a sentença, que havia
reconhecido a presença dos elementos configuradores da responsabilidade civil
do Estado por omissão.
VII. Agravo interno improvido (AgInt no REsp 1.658.378/PB, Rel. Ministra
Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe 02/09/2019)
214
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
Sendo assim, o acórdão de origem deve ser reformado quanto ao ponto, para
condenar o réu ao pagamento de pensão aos recorrentes no valor correspondente
a 2/3 do salário mínimo (face a ausência de parâmetro para a fixação dos ganhos
216
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
A esse respeito:
218
Jurisprudência da PRIMEIRA TURMA
EMENTA
224
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
226
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 11.4.2022
RELATÓRIO
228
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
230
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
232
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
II – Do mérito
Art. 15. A indenização criada pelo art. 16 da Lei n. 8.216, de 1991, é fixada
em nove mil cruzeiros e será reajustada pelo Poder Executivo na mesma data e
percentual de revisão dos valores de diárias.
234
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
com redação alterada pelo Decreto Federal n. 1.656/95, competia ao então Ministério
da Administração Federal e Reforma do Estado, atual Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão, rever e alterar este valor.
Com vistas à atualização do valor destinado à indenização de campo, o
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão/MP editou a Portaria n. 406,
de 02 de outubro de 2002:
236
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
238
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
240
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
Por fim, requer que “seja acolhido o presente agravo para a reconsideração
da decisão ora impugnada, com o provimento do recurso especial da FUNASA
ou que se determine o julgamento da questão em tela pela Egrégia Turma, caso
assim não se entenda” (fl. 491e).
É o relatório, no essencial.
VOTO
242
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
244
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
246
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
248
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
Não parece ser essa, data venia, a melhor exegese acerca do tema.
A indenização de campo foi criada pela Lei 8.216/2001, sendo devida aos
servidores que se afastam do local de trabalho para execução de trabalhos de campo,
porém, não chegam a pernoitar em local diverso, razão pela qual não lhes é devido o
pagamento de diárias. O dispositivo está assim redigido:
A Lei 8.270/91, no art. 15, estabelece que a indenização de campo deve ser
reajustada na mesma data e percentual de revisão dos valores das diárias. Naquela
ocasião, o valor da diária estava fixado em CR$ 19.200,00 e o valor da indenização de
campo era de CR$ 9.000,00, conforme o Decreto n. 343/91. Assim, a indenização de
campo correspondia a 46,87% da diária, percentual que deveria ser mantido dali pra
frente, diante da previsão legal de reajuste na mesma data e percentual. Confira-se:
Art. 15. A indenização criada pelo art. 16 da Lei n. 8.216, de 1991, é fixada
em nove mil cruzeiros e será reajustada pelo Poder Executivo na mesma data e
percentual de revisão dos valores de diárias.
250
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
Apesar disso, foi editado o Decreto 1.656/95, alterando o Decreto 343/91, fixando
o valor das diárias em R$ 57,28 e o da indenização em R$ 17,46, rompendo, portanto,
com a proporção estabelecida pela Lei 8.270/91. Referido Decreto previa, ainda, um
acréscimo percentual às diárias dependendo da cidade de deslocamento. Assim,
para Brasília e Manaus, a diária seria acrescida de 90%; para São Paulo, Rio de
Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre, Belém, Fortaleza e Salvador, de 80%;
para as demais Capitais de Estado, de 70%; nos deslocamentos para cidades com
mais de 200.000 habitantes, de 50%. Assim, para alguns deslocamentos, não era
devido nenhum acréscimo às diárias, sendo devida a ‘diária básica’.
Diante do rompimento da paridade prevista na Lei 8.270/91, diversas ações foram
propostas pelos servidores, firmando-se a jurisprudência desta Corte no sentido
de o Decreto 1.656/95 deveria ter reajustado a indenização de campo no mesmo
percentual que a diária, de modo a manter a proporção de 46,87%. São exemplos
dessa jurisprudência:
252
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
Ainda que assim não fosse, haveria que se manter a decisão impugnada,
quanto aos valores das diárias e da indenização de campo. Extrai-se do acórdão
recorrido a seguinte fundamentação:
254
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
256
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
258
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
260
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
262
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
EMENTA
264
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 11.3.2022
RELATÓRIO
266
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
VOTO
268
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
Por sua vez, o art. 26 da mesma Lei Federal (LOJDF) dispõe que compete
ao Juiz da Vara da Fazenda Pública processar e julgar: “III – os mandados de
segurança contra atos de autoridade do Governo do Distrito Federal e de sua
administração descentralizada.”
No caso, o Tribunal de origem decidiu que a denominação (ou status) de
Secretário de Estado do Controlador-Geral do Distrito Federal decorre de
simples Decreto (Decreto Distrital n. 36.326/2015). E, por isto, não teria o
efeito de fixar a competência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos
Territórios para fins de julgamento do mandado de segurança; muito menos de
modificar a competência da Vara da Fazenda Pública, prevista no referido art.
26, III, da LOJDF, que é lei federal, como referido.
No tocante à legislação distrital invocada e suas disposições relativas à
Controladoria, tem-se que até a edição do citado Decreto de 2015, coexistiam
os órgãos da Secretaria de Estado de Transparência e Controle - STC e da
Controladoria-Geral do Distrito Federal - CGDF, ambos como integrantes
do sistema de Correição do Distrito Federal - SICOR/DF, com a finalidade
de prevenir e apurar irregularidades no Poder Executivo - Lei n. 4.938, de
19/9/2012.
Quando da edição do Decreto Distrital n. 36.236, de 1/1/2015, a
Secretaria de Estado da Transparência foi renomeada para Controladoria-Geral
do Distrito Federal (art. 8º, § 1º). Ocorre que este órgão, conforme já relatado, já
existia, o que parece ter havido foi uma absorção de um órgão por outro.
Nesse caso, não procede o argumento da recorrente de que a Controladoria-
Geral se trata, em verdade, de uma Secretaria para o fim de alteração da
competência jurisdicional.
Assim, correto o entendimento do acórdão recorrido em limitar os efeitos
do Decreto ao âmbito do funcionamento da Administração Pública Distrital,
porque confere àquele Órgão a autonomia necessária ao desempenho das suas
atribuições; sem a possibilidade, por óbvio, de alterar a competência jurisdicional
do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios.
Verifica-se, da fundamentação apresentada no acórdão recorrido e das
razões recursais, que não foi demonstrado o direito líquido e certo e que não
houve comprovação, de plano, da violação ao direito por ato ilegal, ou abusivo,
atribuído à autoridade pública.
Ante o exposto, nego provimento ao recurso ordinário.
É o voto.
EMENTA
270
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 2.3.2022
RELATÓRIO
272
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
VOTO
274
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
[...]
Ora, o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos
previsto no art. 175 da Constituição da República, regulamentado pela Lei n.
8.987/95, prevê possibilidade de intervenção do Poder concedente, consoante
disposto em seu art. 29, ao que transcrevo: (…)
No que pertine à intervenção propriamente dita, a medida encontra-se
regulamentada nos artigos 32 a 34 do mesmo diploma, a seguir: (…)
Conforme mencionado, o regramento regente não determina a existência de
prévio contraditório, como sustenta o sindicado Impetrante, tampouco o Decreto
Municipal n. 4.503/2019 ofendeu as normas que disciplinam a intervenção,
havendo sido indicados o interventor, o prazo de duração, o objetivo e os limites
da intervenção, consoante previsão legal.
Da mesma forma, no que concerne ao Decreto Municipal n. 4.525/2019,
também não se verifica, de plano, qualquer irregularidade, pois traduz, a priori,
exercício do poder de administração derivado da própria intervenção e do poder
de polícia, prerrogativa da Administração Pública, possuindo a respeito plena
ciência o particular que contrata com o Poder Público.
Conforme frisado na decisão às fls. 1.434/1.438, a intervenção operada pelo
Decreto n. 4.525/2019 não é meramente fiscalizatória, porquanto estabelece
que a administração financeira seja gerenciada pelo interventor, bem como,
que os recursos auferidos sejam concentrados na conta da administração com
destinação para a manutenção do essencial serviço de transporte público coletivo
urbano, com o pagamento prioritário de pessoal, remetendo-se o excedente às
concessionárias, a teor do seu art. 2º.
Dos trechos acima transcritos e das razões recursais, verifica-se, pois, que
não cabe a concessão da segurança, dado que, conforme indicado pelo Tribunal
de origem, a impetração exigiria atividade instrutória mediante produção de
provas, inclusive periciais, a fim de esclarecer eventual reequilíbrio econômico-
financeiro no contrato, bem como as alegadas nulidades no curso da intervenção
no contrato de concessão firmado entre as concessionárias de transporte coletivo
e o Município de Manaus.
Portanto, tem-se que não foi demonstrado o alegado direito líquido e
certo, e não houve comprovação, de plano, da violação ao direito por ato ilegal
ou abusivo atribuído às autoridades públicas.
Nesse sentido:
276
Jurisprudência da SEGUNDA TURMA
278
Segunda Seção
AÇÃO RESCISÓRIA N. 4.590-PR (2010/0199836-2)
EMENTA
ACÓRDÃO
DJe 30.3.2022
282
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
RELATÓRIO
284
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
VOTO
II
deu provimento ao apelo de José von Stein e Companhia Ltda. para afastar a
nulidade da intimação, que fora acolhida pelo TJPR, momento em que o relator
ainda determinou o restabelecimento da sentença que julgara boas as contas por
ela apresentadas em segunda fase de ação de prestação de contas de contrato
de abertura de crédito em conta corrente, decisão que transitou livremente em
julgado na data de 28.6.2010 (fl. 584).
Como consequência, a autuação da presente rescisória em 18.11.2010
atende ao requisito da tempestividade.
As preliminares levantadas pela ré se confundem com o mérito, o qual
passo a apreciar.
O principal argumento deduzido pelo autor, Banco Banestado, é o de que o
afastamento da preliminar de nulidade da intimação impunha o conhecimento
dos demais temas que integraram a apelação, sendo indevida a restauração da
sentença, sem o retorno dos autos ao tribunal de origem para a complementação
do julgamento do recurso.
Tem razão o autor.
Com efeito, transcrevo da decisão rescindenda (fls. 577/582):
1.- José Von Stein e Companhia Ltda. ajuizou ação de prestação de contas contra
Banco do Estado do Paraná S/A. sob o argumento de que o réu havia lançado
débitos injustificados e juros capitalizados em sua conta corrente.
2.- A sentença, mantida pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, julgou
procedente o pedido, condenando o réu a prestar contas no prazo de 48 horas,
sob pena de não lhe ser lícito impugnar as contas que o autor apresentar.
3.- Em razão da não prestação de contas pelo Banco, o Juiz julgou boas as
contas prestadas pela autora, constituindo-a em título para execução forçada em
favor da autora. O réu apelou e o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (Rel.
Des. Duarte Medeiros) deu provimento ao recurso, em Acórdão ementado nos
seguintes termos (fl. 405):
286
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
5.- Irresignada, a autora interpôs Recurso Especial, com fundamento nas alíneas
a e c do artigo 105, III, da Constituição Federal. Sustenta, além de divergência
jurisprudencial, violação dos arts. 154, 214, § 1º, 244 e 249, § 1º, do Código de
Processo Civil, ao argumento de que o comparecimento espontâneo do Banco,
que em petição pede prazo para a prestação de contas, supre a falta de intimação
pessoal para a segunda fase da ação de prestação de contas.
6.- Contra-arrazoado o recurso, foi-lhe dado seguimento, vindo os autos a esta
Corte.
É o relatório.
7.- O tema já foi tratado por esta Corte, de modo que o recurso deve ser julgado
monocraticamente pelo Relator, segundo orientação firmada, com fundamento
no art. 557 do CPC, desnecessário, portanto, o envio às sobrecarregadas pautas de
julgamento deste Tribunal.
8.- Conforme se verifica nos autos, julgada procedente a primeira fase da ação
de prestação de contas movida pela empresa José Von Stein e Companhia Ltda.
contra o Banco do Estado do Paraná S/A., foi feita a intimação, para que fossem
prestadas as contas nos termos pedidos, do Banco Itaú S/A. (fls. 278/279), a pedido
da empresa autora, por ser ele sucessor do Banco do Estado do Paraná S/A. (fls.
270/271).
Transcorrido o prazo sem que fossem prestadas as contas requeridas, o Juízo
julgou boas as apresentadas pela ora recorrida, tendo o Banco interposto o
competente recurso de apelação, julgado procedente pelo Tribunal de origem,
que anulou parcialmente o processo, uma vez que intimado o Banco Itaú, que não
é parte no processo, e não o Banco réu.
A ora recorrente alega que o comparecimento espontâneo do réu aos autos
supre qualquer deficiência ou nulidade da intimação, sendo esta, portanto a
questão a ser apreciada no Recurso Especial.
9.- É incontroverso nos autos que a intimação fora dirigida ao Banco Itaú S/A.,
e não ao Banco do Estado do Paraná. Há, portanto, que ser analisada referida
irregularidade na intimação da parte e o seu alcance.
Com efeito, a intimação é um ato processual solene, cominando a legislação
processual a nulidade do ato quando não observadas as prescrições legais, nos
termos do art. 247 do CPC. Contudo, o comparecimento espontâneo da parte
supre a falta de citação (CPC – art. 214), podendo, por extensão concluir o mesmo
para eventual irregularidade na intimação da parte.
Em data posterior à da intimação (11.12.2002) – fl. 279 – do Banco Itaú S/A, e
antes da decisão que julgou boas as contas da autora (28.06.2004) – fl. 344 –, o
ora recorrido, Banco do Estado do Paraná S/A. compareceu aos autos, em petição
assinada por sua advogada (17.02.2003) – fl. 339 –, e requereu prazo para a
prestação das contas, nos seguintes termos (fl. 339):
Ação de prestação de contas. Art. 915, § 2º, do CPC. Segunda fase. Prazo
para a apresentação das contas pelo réu. Intimação pessoal. Retirada dos
autos pelo patrono da ré. Suprimento.
288
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
Convém ser transcrito trecho do voto-vista proferido pelo Min. Aldir Passarinho,
no referido processo, por elucidar com propriedade a questão:
Diversamente do que alega a parte ré nas razões finais, uma simples leitura
da apelação revela que a questão da nulidade da intimação, única enfrentada
pelo acórdão estadual, e por conseguinte pela decisão rescindenda, é apenas
a primeira das duas preliminares, seguida que foi pela “nulidade da sentença
- ausência de requisitos essenciais”, e quanto ao mérito, pela “necessidade de
realização de perícia contábil - aplicação do art. 915, § 3º, última parte, do CPC,
ante os evidentes equívocos dos cálculos apresentados”, “quanto à metodologia
de cálculo das taxas de encargos praticadas na conta corrente”, “quanto aos
encargos calculados e demonstrados pelos juntados pela apelada” e “quanto aos
questionamentos de capitalização de juros na conta corrente da apelada”.
Provida a apelação para anular a sentença pela primeira preliminar, a
nulidade da intimação, evidentemente que esse foi o único tema a que José
von Stein e Companhia Ltda. dedicou o recurso especial, inconformismo que
foi provido pela decisão rescindenda, tendo constado do fecho da decisão a
restauração da sentença.
Não pairam dúvidas, todavia, de que o conteúdo da apelação deve ser
apreciado integralmente, e de que o afastamento da primeira preliminar implica
a restituição do processo para que a Corte revisora prossiga na análise dos
demais tópicos por meio dela devolvidos, inclusive no eventual exame do
mérito, caso superada a segunda preliminar, pois ao STJ é vedado ingressar em
temas não tratados no acórdão estadual.
Como exemplo de precedente nesse sentido, destaco:
290
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
(...)
Consectariamente, a determinação do retorno dos autos à origem para apreciação
do meritum causae configura conseqüência lógico-processual da decisão, proferida
em sede de recurso especial, que afasta a preliminar de ilegitimidade ativa ad causam
da cooperativa (dantes acolhida pelo acórdão regional) para questionar a legalidade/
constitucionalidade da contribuição para o FUNRURAL, independentemente de
pedido expresso da recorrente.
Com efeito, além de se revelar inaplicável a teoria da causa madura (artigo 515,
§ 3º, do CPC) em sede extraordinária, a conclusão do julgamento, no âmbito do STJ,
com o mero afastamento da preliminar de ilegitimidade ad causam, sem a necessária
determinação do retorno dos autos à origem para exame do mérito, encerraria
prestação jurisdicional inócua, divorciada do aludido princípio constitucional.
No mesmo diapasão, confira-se a ementa do recente julgado oriundo da
Primeira Seção que versou sobre idêntica quaestio iuris:
292
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
VOTO-REVISÃO
294
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
1.- José Von Stein e Companhia Ltda. ajuizou ação de prestação de contas contra
Banco do Estado do Paraná S/A. sob o argumento de que o réu havia lançado
débitos injustificados e juros capitalizados em sua conta corrente.
2.- A sentença, mantida pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, julgou
procedente o pedido, condenando o réu a prestar contas no prazo de 48 horas,
sob pena de não lhe ser lícito impugnar as contas que o autor apresentar.
3.- Em razão da não prestação de contas pelo Banco, o Juiz julgou boas as
contas prestadas pela autora, constituindo-a em título para execução forçada em
favor da autora. O réu apelou e o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (Rel.
Des. Duarte Medeiros) deu provimento ao recurso, em Acórdão ementado nos
seguintes termos (fl. 405):
296
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
respectivo depósito judicial feito pelo Banco Itaú (fl. 337), no verso desta foi-lhe
dado carga nos autos.
Observa-se que a advogada que subscreveu a petição acima é a mesma que
subscreveu o recurso de apelação e, embora ciente da quantia a que haviam
chegado as contas apresentadas pela autora, da penhora feita em nome do Itaú,
não alegou na petição qualquer vício, vindo fazer apenas na apelação. E mesmo
transcorrido mais de um ano após o pedido de concessão de prazo, as contas não
foram prestadas pelo Banco
Há que se concluir, portanto, que se houve irregularidade na intimação da
parte, uma vez que intimada pessoa estranha à lide, mesmo com a penhora
feita em patrimônio do Banco Itaú, este não veio aos autos alegar qualquer
irregularidade. Conclui-se, ainda, que o recorrido tinha ciência do ato processual,
e compareceu ao processo para pedir prazo para a prestação de contas, ato que
nunca praticou. Sendo assim, há que se concluir, por fim, que se vício houve,
encontra-se o mesmo sanado pelos motivos acima expostos.
10.- Quanto ao fundamento do Tribunal para anular o ato, de que necessária
a intimação pessoal do réu na segunda fase do processo de prestação de contas,
esta Corte, no julgamento do REsp 658.960/SP, Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha,
a Quarta Turma concluiu ser desnecessária a intimação pessoal, em Acórdão
ementado nos seguintes termos:
Ação de prestação de contas. Art. 915, § 2º, do CPC. Segunda fase. Prazo
para a apresentação das contas pelo réu. Intimação pessoal. Retirada dos
autos pelo patrono da ré. Suprimento.
Diante das peculiaridades da espécie, em que o patrono da ré retirou os
autos e permaneceu inerte por vários meses quanto a eventual nulidade da
intimação (prevista no art. 915, § 2º, do CPC), é inoportuna a invocação da
questão quando já em fase executiva a ação. Recurso especial conhecido e
provido.
(REsp 658.960/SP, Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, Quarta Turma, julgado
em 17/10/2006, DJ 11/12/2006 p. 363)
Convém ser transcrito trecho do voto-vista proferido pelo Min. Aldir Passarinho,
no referido processo, por elucidar com propriedade a questão:
O autor alega que “o mais notório vício que macula a r. Decisão rescindenda
consiste na violação literal dos arts. 560 e 561 do CPC, 5º, XXXV, 93, IX da CF,
na medida em que o mérito da Apelação manejada pelo Banco deixou de ser
apreciado, bem como os artigos 512, 128 e 460 do CPC, vez que, ao restaurar a
sentença de primeiro grau, quando deveria ter determinado a remessa dos autos
298
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
Afirma que as partes são legítimas, que foi respeitado o prazo decadencial,
que consta dos autos a guia de pagamento do depósito de 5% sobre o valor
300
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
No que se refere aos supostos vícios na sentença, aponta “violação aos arts.
458 do CPC e art. 93, IX, da CF (vício de fundamentação), bem como aos arts.
130, 330, 332 e 915, § 2º do CPC” (e-STJ fl. 24). Argumenta que:
pelo Autor foi realizada, indicando que, possivelmente, sequer foram analisadas
pelo MM. Juiz a quo! (e-STJ fls. 25/28.)
302
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
devida ao cliente pela cobrança indevida), somente poderão incidir os juros que
decorrem expressamente da Lei, ou seja, aqueles estabelecidos nos arts. 1.062 do
Código Civil/1916, atualmente previstos no art. 406 do Código Civil de 2002”
(e-STJ fl. 35). Daí que “se requer a rescisão da parte da r. Decisão proferida pelo
Exmo. Min. Beneti, que restabeleceu a r. Sentença, ante a evidente afronta aos
dispositivos de Lei retro mencionados” (e-STJ fl. 36).
Pediu antecipação de tutela para “suspender o cumprimento da decisão
rescindenda, até o julgamento final da presente Ação Rescisória” (e-STJ fl. 38)
e, quanto ao mérito:
304
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
execução do julgado ser renovada, com o seu endereçamento contra aquele que
legalmente figura no pólo passivo da relação processual. (e-STJ fl. 460.)
306
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
[...]
3. Ademais, a decisão monocrática do Min. Benedito Gonçalves indeferiu
liminarmente a petição de Mandado de Segurança tanto pela impossibilidade
de atividade instrutória quanto pela ilegitimidade da autoridade coatora. Em
outras, palavras, a decisão rescindenda não realizou nenhum exame do mérito
da demanda apresentada no mandado de segurança. Logo, a presente ação
rescisória deve ser considerada inadmissível. Nesse sentido: AgInt na AR 5.774/
PB, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira Seção, julgado em 22/03/2017,
DJe 27/03/2017; AgInt na AR 5.613/RJ, Rel. Ministro Raul Araújo, Segunda Seção,
julgado em 23/08/2017, DJe 15/09/2017; AR 4.210/SP, Rel. Ministro Sebastião Reis
Júnior, Terceira Seção, julgado em 10/10/2012, DJe 14/05/2013.
4. Ação rescisória improcedente. (AR n. 6.008/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, Primeira Seção, DJe 12/11/2018.)
Processual Civil. Ação rescisória. Violação literal de disposição de lei. Artigo 485,
V, do CPC/1973. Acórdão rescindendo que não examinou o mérito da demanda.
Incompetência do STJ. Precedentes. Processo extinto sem resolução de mérito.
Agravo regimental não provido.
[...]
Processual Civil. Ação rescisória ajuizada contra acórdão que não decide o
mérito da causa. Não cabimento. Acórdão rescindendo em conformidade com a
jurisprudência do STJ já firmada à época. Incidência da Súmula 343 do STF.
1. Não é cabível ação rescisória dirigida contra decisão que não adentra o
mérito da causa. Precedentes.
2. Na hipótese vertente, o acórdão impugnado, que deu provimento ao recurso
especial da parte adversa, não sindicou sobre o mérito da ação, limitando-se a
decidir acerca de questão processual concernente ao cabimento dos embargos
infringentes.
[...]
4. Ação rescisória não conhecida. (AR n. 4.823/AL, Rel. Ministro Gurgel de Faria,
Terceira Seção, DJe 9/12/2015.)
308
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
310
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
VOTO-VISTA
312
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
314
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
além da divergência jurisprudencial, violação dos arts. 154, 214, § 1º, 244 e 249,
§ 1º, do CPC.
Essa é a pretensão recursal deduzida no Superior Tribunal de Justiça, ou seja, o
mérito do recurso especial.
Extrai-se do voto do relator:
316
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
O ato judicial que encerra a primeira fase da ação de exigir contas possuirá, a
depender de seu conteúdo, diferentes naturezas jurídicas: se julgada procedente
a primeira fase da ação de exigir contas, o ato judicial será decisão interlocutória
com conteúdo de decisão parcial de mérito, impugnável por agravo de
instrumento; se julgada improcedente a primeira fase da ação de exigir contas
ou se extinto o processo sem a resolução de seu mérito, o ato judicial será
sentença, impugnável por apelação”, todavia, “Havendo dúvida objetiva acerca
do cabimento do agravo de instrumento ou da apelação, consubstanciada em
sólida divergência doutrinária e em reiterado dissídio jurisprudencial no âmbito
do 2° grau de jurisdição, deve ser afastada a existência de erro grosseiro, a fim
de que se aplique o princípio da fungibilidade recursal. (REsp 1.746.337/RS,
Relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 9.4.2019, DJe de
12.4.2019.)
Art. 915. Aquele que pretender exigir a prestação de contas requererá a citação
do réu para, no prazo de 5 (cinco) dias, as apresentar ou contestar a ação.
§ 1º - Prestadas as contas, terá o autor 5 (cinco) dias para dizer sobre elas;
havendo necessidade de produzir provas, o juiz designará audiência de instrução
e julgamento; em caso contrário, proferirá desde logo a sentença.
§ 2º - Se o réu não contestar a ação ou não negar a obrigação de prestar
contas, observar-se-á o disposto no art. 330; a sentença, que julgar procedente a
ação, condenará o réu a prestar as contas no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, sob
pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar.
318
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
320
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
EMENTA
322
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
ACÓRDÃO
DJe 7.12.2021
RELATÓRIO
324
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
judicial, devendo passar pelo crivo do juízo universal a prática de qualquer ato
de execução voltado contra o patrimônio das empresas em recuperação judicial”
(e-STJ, fl. 9).
Anota haver “entendimento pacífico na jurisprudência deste Superior
Tribunal de Justiça de que compete apenas ao Juízo de Falências e Recuperações
Judiciais a prática de atos de execução em face de empresa que enfrenta
Recuperação Judicial” (e-STJ, fl. 9).
Postula, ao final (e-STJ, fls. 27-28 - sem grifos no original):
Inicialmente, observa-se que as execuções fiscais não estão sujeitas aos efeitos
da recuperação judicial da devedora e, notadamente, às suspensões e restrições
determinadas pelo art. 6º, incisos I, II e III, da Lei n. 11.101/2005, com redação dada
pela Lei n. 14.112/2020.
Entretanto, conforme a nova sistemática legal, cabe ao Juízo da recuperação
judicial determinar a substituição dos atos de constrição que recaiam sobre bens de
capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até o encerramento da
recuperação judicial, a qual será implementada mediante a cooperação jurisdicional,
conforme o art. 6º, § 7º-B, da Lei n. 11.101/2005, com redação dada pela Lei n.
14.112/2020.
326
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
VOTO
328
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
o § 7º-B do art. 6º da Lei de Recuperação e Falência, com redação dada pela Lei
n. 14.112/2020.
Registre-se, de início, que a novel legislação promoveu, a seu modo, a
conciliação dos posicionamentos divergentes entre si, perfilhados por esta
Segunda Seção e pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, o que
ensejou a desafetação do Tema 987 pela Primeira Seção (ut REsp ) e corroborou para
tornar sem relevância o julgamento do Conflito de Competência n 144.433/
GO, afetado à Corte Especial, que veio a, inclusive, perder, posteriormente,
seu objeto, em virtude do encerramento da recuperação judicial, com decisão
transitada em julgado.
Relembre-se que, antes da vigência da Lei n. 14.112/2020, as Turmas
integrantes da Primeira Seção já adotavam a compreensão de que “a execução
fiscal não se suspende pelo deferimento da recuperação judicial, permitindo-se a
realização de atos constritivos, máxime quando evidenciada a inércia da empresa
recuperanda em adotar as medidas necessárias à suspensão da exigibilidade dos
créditos tributários, em especial, por meio do parcelamento especial disciplinado
pelo art. 10-A da Lei n. 10.522/2002, incluído pela Lei 13.043/2014” (ut REsp
1.673.421/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em
17/10/2017, DJe 23/10/2017).
Citam-se, ainda: AgRg no AREsp 707.833/DF, Rel. Ministro Herman
Benjamin, Segunda Turma, julgado em 03/09/2015, DJe 10/11/2015; REsp
1.480.559/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em
03/02/2015, DJe 30/03/2015.
Por sua vez, esta Segunda Seção, diversamente, em conflito de competência
entre os Juízos da recuperação judicial e da execução fiscal, reconhecia
a competência do primeiro, assentando que, embora a execução fiscal não
se suspenda, os atos de constrição e de alienação de bens voltados contra o
patrimônio social das sociedades empresárias submetem-se ao Juízo universal,
em homenagem ao princípio da conservação da empresa. A Seção de Direito
Privado do Superior Tribunal de Justiça adotou o posicionamento, ainda,
de que a edição da Lei n. 13.043/2014 – que acrescentou o art. 10-A à Lei
n. 10.522/2002 e disciplinou o parcelamento de débitos de empresas em
recuperação judicial – não descaracterizava o conflito de competência, tampouco
tem o condão de alterar o entendimento jurisprudencial destacado, conforme
decidiu a Segunda Seção por ocasião do julgamento do AgRg no CC 136.130/
SP, Relator o Ministro Raul Araújo, Relator p/ Acórdão Ministro Antonio
Carlos Ferreira, Segunda Seção, julgado em 13/05/2015, DJe 22/06/2015.
330
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
332
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
[...]
Em outros termos, o Juízo da execução fiscal poderá determinar a constrição
de bens e valores da recuperanda, todavia, o controle de tais atos é incumbência
exclusiva do Juízo da recuperação, o qual poderá substituí-los, mantê-los ou, até
mesmo torná-los sem efeito, tudo buscando o soerguimento da empresa, haja
vista a sua elevada função social.
3. No caso sob análise, evidencia-se o conflito de competência entre o Juízo
de Direito da 2ª Vara Cível de Bebedouro - SP, que deferiu o cujo pedido de
recuperação judicial em 16/02/2018, o qual encontra-se em tramitação (fls. 224-226)
e o Juízo Federal da 1ª Vara de Ribeirão Preto - SJ/SP que determinou a constrição
de valores de titularidade da suscitante com a finalidade de quitar o débito da
execução fiscal n. 5008681- 46.2018.4.03.6102 (fl. 06), sem que tal constrição fosse
submetida ao crivo do Juízo da recuperação.
Como afirmado acima, as execuções fiscais não se suspendem com o
deferimento da recuperação judicial, nada obstante há necessidade de análise
dos constritivos pelo Juízo da recuperação.
334
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
A Lei faz ressalva expressa a respeito das aplicações dos incs. I, II e III também às
execuções fiscais, que têm seu trâmite garantido no curso da recuperação judicial.
Todavia, da mesma forma que em relação à cobrança de créditos não sujeitos,
caso seja determinada a restrição sobre bem essencial, fica assegurada a
substituição de tais bens por outros não essenciais, de valor equivalente.
Dessa forma, fica garantida a execução fiscal sem inviabilizar a recuperação
judicial da empresa devedora. Tanto no disposto no § 7º-A quanto no § 7º-B existe
disposição sobre o princípio da cooperação judicial previsto no art. 69 do CPC/2015,
que disciplina que os órgãos do Poder Judiciário devem, sempre que solicitados,
cooperar em relação a diversos atos do processo.
(Costa, Daniel Carnio. Comentários à lei de recuperação de empresas e falência:
Lei 11.101, de 09 de fevereiro de 2005 / Daniel Carnio Costa, Alexandre Correa
Nasser de Melo, 2. ed., Curitiba: Juruá, 2021, página 97)
[...]
Desse modo, de acordo com a nova sistemática legal, a atuação do juízo da
recuperação judicial ficou restrita ao juízo de essencialidade do bem constrito e
ao controle e “determinação de substituição dos atos de constrição que recaiam
336
Jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO
338
Terceira Turma
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 66.683-MG
(2021/0174707-0)
EMENTA
342
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 11.3.2022
RELATÓRIO
Ato coator: acórdão que, por maioria de votos, concedeu a ordem de habeas
corpus em favor do recorrido, A N R, devedor dos alimentos às recorrentes, ao
fundamento de que o depósito de três parcelas (que totalizavam R$ 30.132,14)
e o adimplemento das demais após o mês de outubro/2018 seria suficiente para
a subsistência das credoras, o que retiraria a urgência e contemporaneidade
dos alimentos e, consequentemente, vedaria a possibilidade de uso da medida
coercitiva da prisão civil (fls. 24/31, e-STJ).
Mandado de segurança: alega-se, em síntese, que o ato coator, acórdão que
concedeu a ordem de habeas corpus em favor do devedor de alimentos, seria
manifestamente ilegal e teratológica, na medida em que vedou a aplicação da
medida coercitiva da prisão civil em dívida de alimentos atual, contrariando os
arts. 528, caput, e 911, caput, ambos do CPC/15 (fls. 1/16, e-STJ).
Acórdão TJ/MG: denegou a ordem pretendida, nos termos do acórdão de
fls. 292/303 (e-STJ), que ficou assim ementado:
VOTO
344
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
Em uma nova e detida análise detalhada dos autos, tenho que a concessão da
ordem de Habeas Corpus é medida que se impõe, pelos motivos a seguir expostos.
346
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
348
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
15) Diante desse cenário, salta aos olhos a flagrante ilegalidade e teratologia
do acórdão do TJ/MG que concedeu a ordem de habeas corpus em favor do
devedor de alimentos, eis que fundamentado, essencialmente, na perspectiva
pessoal de que o valor depositado pelo devedor seria suf iciente para custear as
necessidades das credoras.
16) Ocorre que tais circunstâncias fáticas foram evidentemente sopesadas
por ocasião do arbitramento dos alimentos, de modo que eventuais modificações
da capacidade contributiva do devedor ou das necessidades das credoras devem
ser examinadas, em regra, sob o crivo do amplo contraditório e da ampla defesa,
em ação revisional ou exoneratória de alimentos.
17) Acrescente-se que o valor nominal do pensionamento, conquanto
possa ser visto, em um primeiro momento, como excessivo, não prescinde
do exame das circunstâncias específicas que justificaram seu arbitramento,
especialmente porque, na hipótese, trata-se de entidade familiar de elevado padrão
social e econômico, o que, por consequência, acarreta o natural incremento das
necessidades das credores para a manutenção de determinado padrão de vida.
18) Anote-se, ademais, que a dívida se avolumou por culpa exclusiva do
devedor, que deixou de depositar mensalmente o valor dos alimentos que
havia sido judicialmente arbitrado e se ocultou, sistematicamente, da citação
na execução por longo período, somente vindo a fazê-lo, e apenas parcialmente,
quando estava na iminência de sofrer constrição em sua liberdade de locomoção.
19) Finalmente, não se pode olvidar que a execução dos alimentos sob
o rito da prisão, desde que presentes os seus pressupostos, é de livre escolha
das credoras, de modo que não pode o Poder Judiciário, ressalvadas hipóteses
excepcionalíssimas, imiscuir-se na opção por elas manifestada e converter a
execução sob o rito da prisão para o rito da penhora e expropriação, sob pena de
grave ofensa ao art. 528, caput, do CPC/15.
20) Por qualquer ângulo que se examine a questão, pois, constata-se a
manifesta ilegalidade e teratologia do acórdão que concedeu a ordem de habeas corpus
e, consequentemente, do acórdão recorrido, que negou a pretendida segurança.
Conclusão
350
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
Repr. por: C W F P
Advogados: Leonardo Orsini de Castro Amarante - RJ055328
Jacqueline Tardelli Moser - RJ185862
Interes.: Silvia Regina Dain Gandelman - Inventariante
Advogados: Marco Tayah - RJ011951
Jose Marco Tayah - RJ067177
Luciano Vianna Araújo e outro(s) - RJ080725
Susana Paola Barbagelata Kleber - RJ081132
Deborah Sztajnberg - RJ086824
Leonardo Orsini de Castro Amarante - RJ055328
Rafael Barud Casqueira Pimenta - RJ142307
Flávia Leticia Henriques Paranhos Garcia - RJ197248
EMENTA
352
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 17.3.2022
RELATÓRIO
354
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
VOTO
356
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
efeitos, de modo que de prescrição não se poderia falar, porque não teria sequer
iniciado o prazo de alegada prescrição. Por essas razões, deve ser rejeitada a
preliminar de prescrição (e-STJ, fls. 1.096/1.097).
Ora, na hipótese sob análise [do art. 549 do CC/02], o legislador expressamente
previu ser nula a doação inoficiosa, e não simplesmente anulável, como o fez no
art. 550.
[...]
Tais argumentos já seriam suficientes, a nosso ver, para chegarmos à conclusão
de que a doação inoficiosa, por traduzir afronta a normas de ordem pública (do
sistema de preservação da legítima), e segundo as normas legais do próprio
Código Civil, é nula de pleno direito.
Mas a esse argumento pode-se contrapor outro: por ser imprescritível a
arguição da nulidade absoluta, isso não geraria insegurança jurídica, ante a
possibilidade de se poder atacar o ato a qualquer tempo?
De fato, o art. 169 do Código Civil dispõe que o ato nulo não convalesce pelo
decurso do tempo.
Mas os efeitos patrimoniais decorrentes da declaração de invalidade, sim.
A declaração de nulidade absoluta da doação inoficiosa, a teor desse
mencionado dispositivo de lei não se submete a prazo algum, embora o pedido
dirigido à reivindicação da coisa (pretensão de natureza real) ou ao pagamento
A teoria clássica das nulidades assenta o princípio geral de que o ato nulo não
produz qualquer efeito: “quod nullum est, nullum procucit effectum”. A nulidade
de pleno direito privaria o ato de toda eficácia.
Deste princípio deduzem-se as consequências seguintes:
[...]
Por fim é perpétua, no sentido de que, em princípio, se não extingue por
efeito da prescrição. O decurso do tempo não convalida o que nasceu inválido.
Se nenhum efeito produz desde o nascimento, nenhum produzirá para todo
o sempre. A qualquer tempo é alegável. Contudo, a perpetuidade da ação não
prejudica as situações jurídicas que se modificaram por efeitos da usucapião ou da
prescrição dos direitos que poderiam ser exercidos (Introdução do Direito Civil. 13ª
ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. pp. 474/475).
(...) se é certo que a nulidade, em si, não pode se sujeitar aos efeitos da
prescrição, das situações jurídicas em que o negócio jurídico inválido cria podem
perfeitamente decorrer pretensões que hão de sofrer os efeitos naturais da
prescrição (exemplo: restituição de bens ou preço, indenização de prejuízos, etc.,
as quais terão de submeterse aos efeitos da prescrição) (Comentários ao Novo
Código Civil. Vol. III, Tomo I. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense. p. 527)
358
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
7. Embora não haja regra legal que estabeleça prazo para o seu exercício,
o direito à resolução do contrato não é absolutamente ilimitado no tempo, na
medida em que o contrato, enquanto fonte de obrigações que vincula as partes,
é instrumento de caráter transitório, pois nasce com a finalidade de se extinguir,
preferencialmente com o adimplemento das prestações que encerra.
8. Se o pedido de resolução se funda no inadimplemento de determinada
parcela, a prescrição da pretensão de exigir o respectivo pagamento prejudica,
em consequência, o direito de exigir a extinção do contrato com base na mesma
causa, ante a ausência do elemento objetivo que dá suporte fático ao pleito.
9. Hipótese em que, ao ajuizar a ação monitória, o recorrido demonstrou,
claramente, seu interesse na preservação da avença, de tal modo que, uma vez
transitada em julgado a sentença de procedência, cabia-lhe apenas executar
o título judicial para resolver a crise de inadimplemento. Ao deixar transcorrer
o prazo prescricional da pretensão executória voltada ao adimplemento do
contrato e, depois, propor esta ação resolutória, o recorrido demonstra um
comportamento contraditório, justificado, na hipótese, pela nítida tentativa de se
esquivar dos efeitos de sua inércia e, assim, se beneficiar da própria torpeza, o que
configura o exercício abusivo de sua posição jurídica em relação ao recorrente.
10. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, provido. (REsp
1.728.372/DF, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 22/3/2019).
360
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
(...) bipartem-se, pois, os direitos autorais em dois diferentes feixes, que estão,
necessariamente, interligados, formando um todo, uno e indivisível: os direitos
morais do autor (de essência personalíssima) e os direitos patrimoniais do autor
(de índole material, produzindo efeitos na esfera dos direitos reais, por conta da
caracterização de um modelo específico de propriedade) (Curso de Direito Civil –
Parte Geral e LINDB. Vol. 1. 13ª ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 139)
Capítulo II
Dos Direitos Morais do Autor
Capítulo III
Dos Direitos Patrimoniais do Autor e de sua Duração
Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra
literária, artística ou científica.
Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da
obra, por quaisquer modalidades, tais como:
I - a reprodução parcial ou integral;
II - a edição;
III - a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações;
IV - a tradução para qualquer idioma;
V - a inclusão em fonograma ou produção audiovisual;
VI - a distribuição, quando não intrínseca ao contrato firmado pelo autor com
terceiros para uso ou exploração da obra;
VII - a distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo, fibra
ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a
seleção da obra ou produção para percebê-la em um tempo e lugar previamente
determinados por quem formula a demanda, e nos casos em que o acesso às
obras ou produções se faça por qualquer sistema que importe em pagamento
pelo usuário;
VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científica,
mediante:
362
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
Diz o art. 178, § 10, VII, que prescreve em cinco anos “a ação civil por ofensa
aos direitos de autor, contado o prazo da data da contrafação”. O art. 178, § 10,
VII, somente concerne às pretensões resultantes de ofensas ao direito autoral
de exploração [patrimoniais, portanto]. As pretensões oriundas do direito de
personalidade são imprescritíveis.
364
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
Confira-se:
366
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
Seja como for, interessante ou não para a apelada do ponto de vista mercadológico
a exploração atual das gravações em mídia analógica ou vinil, deve-se reconhecer
que, do ponto de vista jurídico, essa possibilidade de exploração ainda existe, o que
é suficiente para que se conclua que os contratos celebrados entre as partes não
se exauriram e, por conseguinte, se encontram em vigor (e-STJ, fls. 901/903 - sem
destaque no original).
368
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
370
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
Confira-se:
39. Em segundo lugar, o Exmo. Relator [Min. Sidnei Beneti] consignou que a
produção futura do CD (leia-se, dos fonogramas remasterizados) ficaria condicionada
à contratualidade futura das partes (e-STJ, fl. 13 - REsp 1.472.020/RJ - sem destaque
no original).
372
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
caras a qualquer nação. Triste a cultura mundial se não pudesse desfrutar das
obras de Mozart, Bach, Beethoven ou Villa-Lobos, gênios, qualificação em que
também se insere o nome de João Gilberto.
Para tornar simples este enfoque, o capital moral do autor João Gilberto,
que há de ser protegido, não mais lhe pertence com exclusividade, transmudou-
se num capitalismo social, que pode e deve ser acessível a todos, universalmente,
como forma de valorizar e difundir toda boa manifestação cultural.
A prevalecer a exegese defendida nas razões do recurso especial para
os REsps n. 1.098.626/RJ e 1.472.020/RJ estar-se-ia, em alguma medida,
subtraindo por decisão judicial um patrimônio imaterial de toda a coletividade,
apagando, por assim dizer, uma contribuição inestimável à cultura mundial.
Estar-se-ia, enfim, descumprindo, o art. 216, § 1º, da CF.
(2) O suporte físico da obra imaterial como extensão do direito moral do autor.
Na petição inicial do processo, João Gilberto alegou que teria direito a obter
os masters originais de suas canções e invocou, para tanto, quatro fundamentos:
(2.a) a ineficácia superveniente do contrato em razão da ausência de proveito
econômico na manutenção dos masters em poder da EMI, que por decisão
judicial transitada em julgado, não poderia mais reproduzir e comercializar os
fonogramas com suas canções; (2.b) a nulidade da cláusula contratual que previa
a transferência definitiva da propriedade dos fonogramas originais à EMI; (2.c)
a resolução do contrato operada em virtude da remasterização não autorizada de
suas canções; e, finalmente, (2.d) a necessidade de prevenir novas modificações
indevidas em sua obra.
Confira-se:
374
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
12. Logo, este Tribunal Superior está sendo chamado para responder às
seguintes questões: (i) poderia a Corte local autorizar a comercialização da obra
do artista pela gravadora, em formato vinil, apesar da vedação expressa imposta
pelo STJ em decisão definitiva e transitada em julgado? (ii) diante da proibição de
comercialização, existe alguma utilidade econômica para que a EMI mantenha sob
sua posse as fitas masters nas quais está gravada a obra artística do intérprete?;
(iii) não havendo utilidade econômica, as fitas não devem ser retornadas ao
artista, único que, de acordo com a lei, é o titular da dignidade moral da obra e o
376
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
Nas razões de seu recurso especial, João Gilberto alegou que referida
estipulação contratual violaria os arts. 22 e 24, incisos IV e V, da Lei n. 9.610/98,
nos termos dos quais ele teria direito não apenas à dimensão imaterial de sua
obra, mas também ao suporte físico no qual essa obra intelectual foi fixada.
Veja-se:
Art. 22. Pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que
criou;
[...]
Art. 24. São direitos morais do autor:
[...]
[...]
IX - fonograma - toda fixação de sons de uma execução ou interpretação ou de
outros sons, ou de uma representação de sons que não seja uma fixação incluída
em uma obra audiovisual;
378
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
380
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
jamais se cogitou afirmar que o autor das canções fixadas nessas mídias seria o
dono dessas mídias, apenas porque compôs ou executou as músicas que nelas se
continham.
Considerando, portanto, que o master tal como sucede às cópias que
podem ser extraídas a partir dele, representa, essencialmente, um meio físico
para registro da obra musical, isto é, uma forma de apresentação do fonograma,
não parece razoável afirmar que ele pertença, necessariamente, ao autor da obra
musical.
Sem prejuízo da distinção técnico-qualitativa que existe entre a matriz e as
cópias, ambas constituem, em última análise, bens corpóreos, e, na condição de
corpora mechacica podem ser livremente alienados.
Bem por isso, não se vê nenhuma ilegalidade flagrante na cláusula
contratual que estabeleceu a transferência definitiva da propriedade dos masters
para a EMI.
Não se vislumbra nenhum fundamento jurídico para afirmar que os
direitos morais do autor teriam aptidão para, nas palavras utilizadas pela petição
recursal, “transmutar a posse ou a propriedade” do meio físico no qual gravada a
criação imaterial.
O master, assim como o vinil que dele foi copiado, uma vez alienado, passa
ao patrimônio de quem o adquiriu.
Se o compositor/intérprete de uma canção não pode reivindicar a posse/
propriedade de um vinil já comercializado com fundamento em uma suposta
transmutação operada pelo seu direito moral de autor, tampouco pode fazê-lo
em relação aos masters, uma vez que estes são apenas uma forma diferenciada de
apresentação do mesmo fonograma.
Ainda com relação ao tema, vale acrescentar que os artigos de lei apontados
como violados nas razões do recurso especial não dão suporte à pretensão
formulada.
Em suma, os arts. 22 e 24, V e VI, da Lei n. 9.610/98, pelo seu conteúdo
normativo, não conferem ao autor/intérprete a possibilidade de reivindicar
masters, matrizes ou gravações originais como um desdobramento necessário
dos seus direitos de personalidade.
(...) o artista que teve a sua obra mutilada e denegrida por uma gravadora pode
ser forçado a manter a sua obra prima depositada com esta mesma gravadora
que, diga-se, reiteradamente, se mostrou indigna de exercer essa função cuja
tônica é a fidúcia? (e-STJ, fl. 1.129).
382
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
III - Uma vez desfeito judicialmente o contrato que permitia a utilização das
fitas master pela produtora, não há razões para a permanência em poder desta de
objeto do qual não possa fazer uso.
IV - A existência ou não de concurso de várias pessoas para a realização da
obra artística dependeria, no caso, do reexame das provas e da interpretação das
cláusulas contratuais, vedados a esta instância especial.
(AgRg no Ag 213.570/RJ, Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta
Turma, DJ 8/3/2000)
Mas o dissídio jurisprudencial não pode ser admitido por dois fundamentos:
primeiramente, porque o acórdão paradigma se debruça sobre artigo de lei não
examinado no aresto vergastado, o art. 98 da Lei n. 5.988/73; em segundo
lugar, porque existe uma diferença essencial entre a moldura fática dos casos
confrontados.
A partir da leitura do acórdão recorrido, é possível perceber que não
foi examinado, em nenhum momento, o art. 98 da Lei n. 5.988/73 ou o seu
conteúdo normativo. Assim, para efeito de cabimento do recurso especial pela
alínea c do permissivo constitucional, não é possível sustentar que a Corte
Fluminense tenha conferido a esse dispositivo de lei interpretação diversa
daquela conferida por esta Corte Superior no julgamento do AgRg no Ag
213.570/RJ.
Paralelamente, no caso do acórdão paradigma, houve prévia “rescisão”
judicial do contrato. Nesses termos, a devolução dos masters se apresentava,
naquela oportunidade, como um consectário natural dessa “rescisão”, uma vez
que a produtora musical não podia mais explorá-los comercialmente.
Confira-se, a propósito, as seguintes passagens do voto proferido pelo
Relator do caso, o saudoso Ministro Sálvio de Figueiredo:
No caso dos autos, o contrato firmado pelas partes, no qual o agravado cedia
todos os direitos sobre os fonogramas reconhecendo serem eles de propriedade
da agravante, foi “rescindido” judicialmente.
[...]
Finalmente, porque não há razão prática para que a produtora permaneça com
as fitas masters se não possui mais os direitos sobre a obra e, consequentemente,
não poderá mais comercializá-las.
[...]
3. Em relação à violação do art. 98 da Lei 5.988/73, o contrato que permitira
a utilização das fitas pela produtora restou desfeito por decisão judicial, não
João Gilberto alegou em sua petição que a devolução dos masters se impunha
como forma de prevenir novas violações ao seu direito de autor.
[...] a fonte da ilicitude não irá cessar enquanto os originais das gravações (os
ditos masters) permanecerem com a ré (e-STJ, fl. 8).
Nas razões do recurso especial, essa argumentação não foi reiterada ou pelo
menos não o foi de forma consistente, razão pela qual não pode ser examinada
nesta oportunidade.
Acrescente-se, apenas a título de obiter dictum, que o exame desse
argumento resvalaria, de qualquer modo, na Súmula n. 7 do STJ, pois
intrinsecamente ligado à prova dos autos. Com efeito, não há notícia de que a
EMI tenha comercializado as obras musicais de João Gilberto com modificações
não autorizadas após o trânsito em julgado do REsp n. 1.098.626/RJ. Tampouco
foi destacado pelas instâncias de origem que a melhor forma de inibir referida
conduta ilícita é determinar a devolução dos masters ao autor.
384
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
386
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
EMENTA
388
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 25.2.2022
EMENTA
390
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
RELATÓRIO
VOTO
392
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
394
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
RELATÓRIO
VOTO
Eminentes colegas, o recurso especial merece ser provido.
A polêmica central do presente recurso diz com a responsabilidade
solidária da empresa imobiliária pelo atraso da obra do empreendimento que
intermediou perante os adquirentes das unidades autônomas, ora recorridos.
O juízo e o Tribunal de origem condenaram solidariamente a incorporadora
e a imobiliária a indenizar o consumidor pelo atraso na entrega da obra, em
valor correspondente à cláusula penal moratória (0,5% do valor do contrato, por
mês de atraso).
No acórdão recorrido, constou que as empresas seriam parceiras no
empreendimento, sendo portanto solidárias na responsabilidade pelos danos
causados aos adquirentes.
396
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
398
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
Esse fato, contudo, não denota, por si só, que a parceria entre as empresas
teria extrapolado a fase de comercialização, de modo a atrair a responsabilidade
da imobiliária.
A bem da verdade, o uso das logomarcas foi uma forma de transmitir
a informação sobre qual seria a empresa responsável pela edificação do
empreendimento e qual seria a responsável pela comercialização, atendendo-se
assim ao dever de informação enunciado no art. 31, caput, do Código de Defesa
do Consumidor, abaixo transcrito:
400
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
402
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
Referências
1. Professor e desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
2. “Quando o vendedor elogia exageradamente o seu produto, realçando em
demasia suas qualidades, não atua maliciosamente. Para tanto, exige-se do
adquirente grau mediano de diligência para que possa perceber as criativas
técnicas de marketing. A despeito disso, fica claro que a indicação de qualidades
inexistentes ou a afirmação de garantias inverídicas extrapolam o limite do
razoável, podendo conf igurar publicidade enganosa, sujeitando o infrator
a sanções administrativas, civis e criminais” (GAGLIANO, Pablo Stolze;
PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. 12 ed.
São Paulo: Saraiva, 20l0. v. 1. pp. 398-399)
3. Art. 4º. As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral
do mérito, incluída a atividade satisfativa.
EMENTA
404
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 29.11.2021
RELATÓRIO
406
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
VOTO
408
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
provado o fato constitutivo do direito da parte autora, com fulcro nos elementos
de prova produzidos nos autos.
7. Nesse ponto, faz-se mister ressaltar que o princípio da persuasão racional
ou do livre convencimento motivado constitui prerrogativa concedida ao juiz,
para que, com fulcro nos elementos relevantes constantes nos autos, possa firmar
a convicção sobre a matéria debatida.
8. Com efeito, esta Corte Superior ressalta que cabe ao juiz, como
destinatário final, respeitando os limites adotados pelo Código de Processo
Civil, a interpretação da prova necessária à formação do seu convencimento.
Nesse sentido: AgRg no REsp 1.169.112/SC, Primeira Turma, DJe 2/8/2017;
AgRg no REsp 1.293.742/PA, Primeira Turma, DJe 9/11/2016; AgRg no
AREsp 282.045/DF, Quarta Turma, DJe 25/6/2013; AgRg no AREsp 189.265/
RN, Quarta Turma, DJe 22/3/2013; AgRg no AREsp 527.731/SP, Terceira
Turma, DJe 4/9/2014; AgRg no AREsp 15.400/GO, Quarta Turma, DJe
1º/2/2013; AgInt no AREsp 891.083/SP, Quarta Turma, DJe 20/9/2016; AgInt
no REsp 1.358.752/CE, Segunda Turma, DJe 20/9/2016; AgRg no AREsp
846.321/RS, Terceira Turma, DJe 1º/9/2016; AgRg no AREsp 655.945/MG,
Quarta Turma, DJe 21/10/2015; AgRg no REsp 1.301.328/RJ, Quarta Turma,
DJe 23/10/2015.
9. Em suma, como destinatário final da prova, cabe ao juiz, respeitando
os limites adotados pela civilística processual, proceder à exegese necessária à
formação do livre convencimento motivado.
10. Dessa forma, observa-se que a persuasão racional, efetivada na hipótese
em epígrafe, demonstra, conforme salientado alhures, o simples entendimento
da Corte de origem a respeito do tema, no sentido de reconhecer que o
recorrente causou acentuado sofrimento ao núcleo familiar, razão pela qual se
afasta a violação do art. 371 do CPC, já que devidamente motivada.
11. Ademais, registre-se que a questão probatória do ônus do autor é
matéria inviável de ser analisada por esta Corte Superior, em virtude do óbice
da Súmula n. 7 do STJ. A propósito: AgInt no AREsp 1.011.331/RS, Terceira
Turma, DJe 7/3/2018; AgInt no AREsp 698.414/RS, Segunda Turma, DJe
23/10/2017; REsp 741.235/PR, Terceira Turma, julgado em 03/06/2008, DJe
20/6/2008; AgInt no AREsp 876.079/PR, Quarta Turma, DJe 8/9/2016; AgRg
no AREsp 597.537/SP, Segunda Turma, DJe 30/3/2016; AgRg no AREsp
589.275/PR, Terceira Turma, DJe 27/10/2015.
410
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
412
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
fato stricto sensu ilícito absoluto e o ato-fato ilícito absoluto, o que poderia gerar
confusões terminológicas.
(ii) O dano, uma vez que todo ato ilícito stricto sensu é danoso. O dano pode
não ser apenas patrimonial; envolve também o dano moral e o dano estético. Em
qualquer espécie, porém, a sua reparação tem natureza patrimonial.
(iii) E, finalmente, a reparabilidade do dano, mediante indenização. Com a
indenização pretende-se reparar o dano, tornando o ato indene (sem dano).
(MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da existência. 12. ed.
São Paulo: Saraiva, 2003, p. 243-244)
414
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
416
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
46. Por fim, no que diz respeito à interposição do recurso especial pela alínea
“c” do permissivo constitucional, importa consignar que não se pode conhecer do
recurso, uma vez que, além de os acórdãos colacionados não possuírem similitude
com a hipótese dos autos, pretende a parte recorrente discutir idênticas teses já
afastadas, ficando prejudicada a divergência jurisprudencial aduzida.
VII. Conclusão
47. Forte nessas razões, nego provimento ao recurso especial.
48. Deixo de fixar honorários, em virtude da ausência de condenação na
instância de origem.
418
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
Recorrente: F B C
Advogado: Julio Cesar Gorrasi - SP338430
Recorrente: G B I L
Advogados: Eduardo Bastos Furtado de Mendonça - RJ130532
Felipe de Melo Fonte - RJ140467
Luna Van Brussel Barroso - RJ224281
Recorrido: Os Mesmos
EMENTA
420
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 17.12.2021
EMENTA
422
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
RELATÓRIO
424
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
Recurso especial de F B C: alega afronta aos arts. 1.022, I a III e 86, parágrafo
único, do CPC/2015, ao art. 21 da Lei 12.965/14, aos arts. 186 e 927 do CC/02,
aos arts. 14, 17 e 34 do CDC e aos arts. 102 e 103 da Lei 9.610/98, além de
divergência jurisprudencial com o REsp 1.871.191/SP. Alega que o TJ/SP
não examinou os vícios indicados nos embargos de declaração. Sustenta ser
descabida a negativa de realização de perícia em sede de liquidação de sentença
para averiguar os danos materiais. Menciona que as inúmeras visualizações
geraram e continuam gerando prejuízos patrimoniais. Acrescenta ser evidente
a violação dos direitos autorais, haja vista que o acesso às fotos é autorizado
apenas por meio do site da revista licenciada e mediante o pagamento de
R$ 167,00. Ressalta que a ata notarial juntada aos autos revela que, após o
julgamento da apelação, as 27 URLs permanecem ativas. Por fim, salienta que
deve ser reconhecida a sua sucumbência mínima, condenando-se a recorrida a
arcar com a integralidade das custas processuais e honorários advocatícios.
Juízo prévio de admissibilidade: os recursos especiais foram admitidos pelo
Tribunal local.
É o relatório.
VOTO
426
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
428
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
aquele que gerou o conteúdo ofensivo se, ao tomar conhecimento da lesão que
determinada informação causa, não tomar as providências necessárias para a sua
remoção. Precedentes.
4. Na hipótese dos autos, não houve determinação de monitoramento prévio,
mas de retirada do conteúdo de blog, nos termos da jurisprudência deste STJ.
5. Recurso especial conhecido e não provido.
(REsp 1.501.603/RN, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em
12/12/2017, DJe 18/12/2017) (grifou-se)
430
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
432
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
29. O acórdão recorrido não decidiu acerca dos arts. 102 e 103 da Lei n.
9.610/98, tampouco dos arts. 17 e 34 do CDC, razão pela qual o julgamento do
recurso especial é inadmissível quanto ao ponto (Súmula 282/STF).
30. Esclareça-se que apesar de a recorrente ter suscitado violação ao art.
1.022 do CPC/2015, não o fez com relação aos argumentos atinentes aos
436
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
III. Conclusão.
VOTO
438
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
440
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
VOTO-VISTA
442
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
444
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
controvérsia o fato de que não se pode impor a eles o dever de fiscalização prévia
dos conteúdos que são postados nas suas plataformas.
Conforme o caso, o que pode ensejar reparação civil subsidiária dos
provedores de aplicações é o descumprimento de ordem judicial de retirada do
conteúdo impróprio ou ofensivo divulgado nas suas plataformas por obra de
terceiros, ou a notificação extrajudicial do(a) ofendido(a), pois a responsabilidade,
como já dito, não é objetiva.
E nessa toada, após uma reflexão sobre o tema e a respeito dos
posicionamentos adotados nos bem elaborados votos proferidos, adianto que
estou acompanhando a divergência inaugurada pelo Ministro Marco Aurélio
Bellizze, porque tenho para mim que as fotos de nudez de F não foram
mesmo produzidas em caráter privado e o Google, quando instado a fazê-lo
judicialmente, de pronto, removeu os conteúdos divulgados ilicitamente nos
“blogs” hospedados por ele.
Antes, faço algumas considerações a respeito dos dispositivos legais objeto
da controvérsia.
Extrai-se da norma contida no art. 19 da Lei 12.965/14, que ficou a cargo
do Poder Judiciário definir o que é ou não conteúdo inapropriado ou ilícito
gerados por terceiros na rede mundial de computadores, e o que deve ou não ser
removido, de modo a buscar exercer um equilíbrio entre o que é liberdade de
expressão e de informação e o que pode violar direito constitucional de outrem,
como a proteção da intimidade e privacidade, nascendo a responsabilidade civil
do provedor se não cumprir a ordem judicial que determinou a remoção de
certo material.
A este respeito, esta Terceira Turma, no julgamento do REsp n. 1.568.935/
RJ, da relatoria do Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe de 13/4/2016,
proclamou que:
446
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
448
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
VOTO-VISTA
450
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
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Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
EMENTA
454
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 28.3.2022
RELATÓRIO
456
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
Contra esse acórdão Gusttavo interpôs recurso especial com base no art.
105, III, a, da CF, alegando ofensa aos arts. 178, II, 206, § 3º, V, do CC/2002
e aos arts. 24, I, e 27, da Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/1988), uma vez
que (1) ocorreu o decurso do prazo decadencial de quatro anos para pleitear a
anulação de negócio jurídico fundado em erro/dolo; (2) a discussão não se refere
a direito autoral, pelo contrário, se refere a negócio jurídico que resultou em
obras musicais, devendo receber a tutela do CC/2002 que prevê a decadência
do direito para pleitear a nulidade do negócio celebrado entre as partes; e (3) é
aplicável ao caso o prazo de prescrição trienal previsto no art. 206, § 3º, V, do
CC/2002 (e-STJ, fls. 457/482).
As contrarrazões foram apresentadas às e-STJ, fls. 493/494.
O recurso especial não foi admitido pelo Tribunal de Justiça do Estado de
Goiás sob o fundamento de que a conclusão sobre o acerto ou desacerto da decisão
VOTO
458
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
Bem por isso, os direitos da personalidade têm caráter absoluto, com eficácia
erga omnes (contra todos), principalmente se confrontados com os direitos
pessoais puros, como os direitos obrigacionais e contratuais (TARTUCE,
Flávio. Direito Civil. Rio de Janeiro: Ed. gen/Forense, 12ª edição, vol. 1, pág.
158).
Sobre as características dos direitos da personalidade, vem à luz a lição de
FRANCISCO AMARAL para quem eles são inerentes à pessoa, intransmissíveis,
inseparáveis do titular, e por isso se chamam, também, personalíssimos, pelo que se
extinguem com a morte do titular. Consequentemente, são absolutos, indisponíveis,
irrenunciáveis, imprescritíveis e extrapatrimoniais. [...] Indisponíveis, porque
insuscetíveis de alienação, não podendo o titular a eles renunciar, por inerentes à
pessoa, ou até limitá-los, salvo nos casos previstos em lei. Essa indisponibilidade não
é, porém, absoluta, admitindo-se, por exemplo, no acordo que tenha por objeto direito
da personalidade, como ocorre no caso de cessão do direito de imagem para fins de
publicidade. (Direito Civil - Introdução. 8ª edição. Rio de Janeiro: Ed. Renovar,
2014, pág. 303).
E não é só: CARLOS ALBERTO BITTAR ensina com lucidez e na
mesma toada sobre os direitos da personalidade que eles são inatos (originários),
absolutos, extrapatrimoniais, intransmissíveis, imprescritíveis, impenhoráveis,
vitalícios, necessários e oponíveis “erga omnes” (Os Direitos da Personalidade. 8ª
edição. São Paulo: Ed. Saraiva, 2015, pág. 43).
O art. 11 do CC/02 estabelece que os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária.
O Enunciado n. 4 do CJF/STJ, que foi aprovado na I Jornada de Direito
Civil, tem o seguinte teor: o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer
limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral.
Por seu turno, o art. 27 da Lei n. 9.610/98 afirma que os direitos morais do
autor são inalienáveis e irrenunciáveis.
Em arremate, a doutrina de ATALÁ CORREIA exemplifica a teoria
com a situação analisada no presente caso, de reivindicação de autoria de obra
artística:
462
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
usurpada, ou seja, que foi reproduzida e republicada por outrem, com atribuição
falsa de autoria. Nessa situação, além de poder pleitear a reparação de danos
materiais e morais, ele pode também pleitear que seja corrigida a falsidade, com
atribuição correta da autoria. Havendo inércia de sua parte, sua pretensão haveria
de se extinguir? Em outras palavras, mantendo-se as obras em público, com falsa
atribuição de autoria, esse ilícito haveria de se perpetuar no tempo?
A situação se passa de modo semelhante àquela que vimos quando tratamos
do direito de propriedade. Domínio sem sequela, propriedade não é. Direito de
autor sem certo poder-exigir, de igual modo, não é direito. Dito de outra maneira, o
autor não perde sua propriedade intelectual pelo não-uso. Os direitos de autor não
se extinguem por usucapião. O autor pode, mesmo após muitos anos da divulgação
de uma obra, exigir que ela passe a ser identificada como sua. (Prescrição – Entre
Passado e Futuro. São Paulo: Ed. Almedina, 2021, págs. 259/260).
464
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
pretensão de reparação civil, e (2) o art. 205, de caráter subsidiário, que fixa prazo
de 10 anos.
A Corte Especial do STJ, no julgamento do EREsp n. 1.281.594/SP,
concluiu que, nas pretensões relacionadas a responsabilidade contratual, aplica-
se a regra geral (art. 205 do CC/2002), que prevê dez anos de prazo prescricional
e, nas demandas que versem sobre responsabilidade extracontratual, aplica-se o
disposto no art. 206, § 3º, V, do mesmo diploma, com prazo prescricional de três
anos.
Confira-se a ementa do aludido julgado:
466
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
(REsp 1.159.317/SP, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, j. 11/3/2014, DJe
18/3/2014 – sem destaques no original)
[...]
No feito em tela, o autor ajuizou a presente ação declaratória c/c nulidade
de negócio jurídico c/c indenização por danos materiais e morais e obrigação
de fazer, sob a alegação de ser o único autor das músicas intituladas “Fora do
Comum” e “Armadura da Paixão”, sendo, portanto, o detentor de 100% (cem por
cento) sobre os direitos autorais dos referidos fonogramas.
Relatou, em suma, que entre os anos de 2010 e 2011, o requerido entrou em
contato com o autor, através de aplicativo da internet, momento em que teriam
formulado o seguinte acordo “o Requerido Gusttavo Lima, em troca da exploração
da canção Fora do Comum e Armadura da Paixão, propõe ao Requerente que
daria parceria a ele em duas (2) músicas de sua autoria (Amor de Poeta e Sol) em
troca da parceria nas duas (2) músicas que o Requerente havia composto, qual
seja, Fora do Comum e Armadura da Paixão.”
Alegou que o pacto não foi cumprido pelo requerido, não tendo este ofertado
a parceria nas 2 (duas) músicas de sua autoria, tendo, ainda, registrado a música
“Fora do Comum” como se fosse de sua coautoria, em 50% (cinquenta por cento).
Asseverou que o requerido enviou, por correio, toda a documentação relativa
ao registro e exploração das músicas, tendo o autor, segundo afirma, por
desconhecer a lei e estar de boa fé, assinado os papéis e devolvido ao requerido.
O requerido, na contestação (evento 26), em relação aos fatos ocorridos,
alegou que o autor entrou em contato diretamente consigo ofertando suas
canções para gravação; recebeu as músicas e fez as adequações devidas, com o
consentimento do autor; a conversa juntada pelo autor não reflete a realidade
do ocorrido; todas as músicas (“fora do comum”, “armadura da paixão” e “amor de
um poeta”, sendo esta última de exclusiva autoria do requerido, sem nenhuma
participação do autor), foram devidamente registradas junto ao ECAD na razão
de 50% para cada um; em 31/01/2011, o autor editou sua cota parte da obra “fora
do comum” junto a Editora Pantanal, outorgando-lhe poderes para negociar seus
direitos sobre a obra com terceiros; como o autor editou justamente o percentual
que lhe competia, qual seja, 50%, não há que se falar que foi surpreendido ou
que houve má-fé por parte do requerido; o autor assinou, à época, documentos
para a gravadora Som Livre, que não fixa fonograma sem a devida autorização do
compositor, concedendo autorização de gravação; os direitos autorais são pagos
a cada uma das partes pelo ECAD através de suas respectivas associações de
defesa de direitos autorais; que “ao contrário do alegado pelo Autor, o Requerido
cumpriu todo o pactuado, não restando nenhuma obrigação”.
[...]
É incontroverso o estabelecimento de acordo, principalmente após a petição
apresentada pelo apelado/requerido, que confessa a realização do negócio jurídico
entre as partes (evento 97), em relação às músicas “Fora do Comum”, “Armadura da
Paixão” e “Amor de um Poeta”, sendo controvertido apenas os limites relativos ao que
restou pactuado.
Ademais, acrescente-se que, embora se possa afirmar que o suposto registro
de obra na condição de coautor, sem a efetiva participação/permissão na sua
elaboração, constitua um ato ilícito, não é possível comparar esse ilícito, dentro do
contexto descrito nos autos, ao ato ilícito tradicionalmente associado aos danos
que dão causa à reparação civil.
Consequentemente, tratando-se de pretensão de cobrança de direitos autorais
derivada de suposto descumprimento contratual, o prazo prescricional aplicável é de
10 (dez) anos, previsto no 205 do Código Civil de 2002.
[...]
Na confluência do exposto, dou provimento ao recurso de apelação, para o
fim de afastar no caso concreto a ocorrência da prescrição e cassar a sentença
vergastada a fim de permitir a dilação probatória, em especial a realização da
audiência de instrução e julgamento, ficando afastada a ocorrência de decadência
suscitada pelo apelado, nos termos da fundamentação.
É o voto. (e-STJ, fls. 438/453)
Desse modo, tendo a Corte local apurado que a demanda diz respeito a
pretensão indenizatória em razão do descumprimento de obrigação contratual,
não é aplicável ao caso o prazo de prescrição trienal previsto no artigo 206, § 3º,
V, do CC/2002.
Observa-se, assim, que o acórdão recorrido está em sintonia com a
jurisprudência firmada nesta Corte, que reconhece a incidência da prescrição
decenal, prevista no art. 205 do CC/2002, na pretensão relacionada a
responsabilidade contratual, como é a hipótese dos autos.
Ainda que assim não fosse, a aplicação ao caso da prescrição trienal
prevista no art. 206, § 3º, V, do CPC/2015 também não atingiria a pretensão
indenizatória autoral, uma vez que os danos patrimoniais se perpetuam no
tempo, configurando lesões continuadas, cujo prazo prescricional deve ser
contado do último ato praticado ou a cada dia em que o direito é violado,
conforme precedente da minha relatoria sobre o tema:
468
Jurisprudência da TERCEIRA TURMA
470
Quarta Turma
RECURSO ESPECIAL N. 1.237.567-MT (2011/0026377-9)
EMENTA
Recurso especial (art. 105, inc. III, “a” e “c”, da CF/88). Ação
desconstitutiva (resolução de contrato de arrendamento rural) c/c
reintegração de posse e pedido condenatório (indenização por danos
patrimoniais e extrapatrimoniais). Pleitos julgados parcialmente
procedentes pelas instâncias ordinárias.
Irresignação do réu/arrendante.
Coisa julgada superveniente à interposição do recurso especial.
Resolução do compromisso de compra e venda de fração ideal de imóvel
rural no qual amparado o direito do autor da demanda subjacente a
este apelo nobre. Pressuposto lógico-jurídico para propositura da ação
desconstituído. Reconhecimento da ilegitimidade ativa ad causam.
Hipótese: cinge-se a controvérsia em decidir acerca de pedido
de resolução de contrato de arrendamento rural celebrado com o
antigo usufrutuário do imóvel, ajuizado por aquele que se diz novo
proprietário do aludido bem, considerando-se, ainda, a alegação de
fato novo (coisa julgada superveniente).
REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 1º.4.2022
RELATÓRIO
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
Por sua vez, Carlos R. R. de Souza às fls. 582-624, 627-636, 651, 710-843,
1.080-1.088 e 1.139-1.188 informou que: i) a decisão de tutela provisória
proferida pelo juízo da 1ª Vara Cível da Comarca de Comodoro/MT, nos autos
da Ação Declaratória de Inexistência de Sentença 0000535-51.2013.8.11.0046
- querela nullitatis insanabilis - foi reformada pela Sexta Câmara Cível do
TJMT ao julgar o Agravo de Instrumento 0088990-33.2013.8.11.0000, de modo
que a sentença que acolhera o pedido de resolução de contrato permanece
válida para todos os fins de direito; ii) o inquérito policial instaurado em
face das representações movidas pelo ora recorrido em detrimento de Juiz
de Direito Paulo Sérgio Romero Vicente Rodrigues foi arquivado, diante da
inexistência de indícios de sua participação no esquema de fraudes descoberto
na Comarca de São José do Rio Preto; iii) o próprio Juiz de Direito Paulo
Sérgio R. V. Rodrigues reconhece a sentença proferida nos autos da Ação de
Rescisão Contratual 0054917-41.2010.8.26.0576 como sendo de sua autoria
(fls. 1.146/1.188), inexistindo qualquer mácula ou ilegalidade; e iv) o juiz
Paulo Sérgio R. V. Rodrigues representou criminalmente Jorge Luiz Villas Boas,
em razão das alegações de que o julgamento da Ação de Rescisão Contratual
0054917-41.2010.8.26.0576 teria sido feito mediante fraude.
Reiterou, assim, seu interesse no prosseguimento do feito, defendendo a
total higidez da sentença juntada aos autos, de maneira que deverá ser dado
provimento ao seu recurso especial diante da perda de objeto da demanda, falta
de interesse de agir e ilegitimidade ativa ad causam do ora recorrido, porquanto
não mais subsiste o título que dava sustentação a sua posição de proprietário.
O recurso especial foi incluído, pela primeira vez, na pauta de julgamentos
desta Quarta Turma de 8 de março de 2016; contudo, minutos antes do
início da sessão, foi protocolada petição eletrônica (fls. 1.207-1.208, e-STJ)
de desistência do reclamo, em nome de Carlos R. R. de Souza, assinada
eletronicamente por seu advogado Charles Baccan Júnior (com número de
certificado 1196291811415876103).
Diante desse pedido, o feito foi retirado de pauta.
Às fls. 1.267-1.313, e-STJ, o advogado Charles Baccan Júnior aduziu não
ter formulado qualquer pedido de desistência do recurso, asseverando a falsidade
da petição de fls. 1.207/1.208, e-STJ, porquanto o certificado eletrônico com
número de série 1196291814151876103 não seria de sua titularidade. Postulou,
ainda, pela desconsideração do aludido petitório, bem assim pelo regular
julgamento do feito.
Em face da alegação do causídico, determinou-se que os autos fossem
encaminhados à Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação (STI)
480
Jurisprudência da QUARTA TURMA
Opostos embargos de declaração por Jorge Luiz Villas Boas (fls. 1.700-
1.725, e-STJ), esses foram rejeitados (fls. 1.831-1.843, e-STJ).
À fl. 1.847, e-STJ, em despacho, determinou-se a expedição de ofício ao
juízo da 1ª Vara Cível e Criminal da Comarca de Comodoro/MT, a fim de
obter dados acerca do andamento processual da querela nullitatis, ajuizada para
declarar a inexistência da sentença proferida pelo juízo da 4ª Vara Cível da
Comarca de São José do Rio Preto/SP - juntada por Carlos Roberto Ruvieri de
Souza, às fls. 495-516, e-STJ (alegado fato novo).
Em resposta (fls. 1.853-1.856, e-STJ; 27.06.2017), informou-se que, no
bojo da aludida demanda, fora apresentada exceção de incompetência, a qual foi
acolhida, determinando-se a remessa dos autos para a Comarca de São José do
Rio Preto/SP, ao juízo em que prolatada a sentença cuja nulidade se pretende
declarar.
Em seguida, considerando o teor da citada resposta, determinou-se (fl.
1.858, e-STJ) à Coordenadoria da Quarta Turma que expedisse ofício ao juízo
da 4ª Vara Cível da Comarca de São José do Rio Preto/SP, de modo a ter
notícias sobre o andamento processual da querela nullitatis em comento.
Em resposta (fl. 1.865, e-STJ), destacou-se que o processo n. 535-
51.2013.811.0046, oriundo da 1ª Vara da comarca de Comodoro/MT, foi
recebido naquele juízo em 06 de novembro de 2017, sendo determinada sua
distribuição em 07 de novembro de 2017, encontrando-se em fase de autuação
e conclusão.
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
VOTO
1. Agravo interno interposto às fls. 1901-1937, e-STJ, por Jorge Luiz Villas
Boas
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
2. Recurso especial interposto por Carlos Roberto Ruvieri de Souza (fls. 450-
459, e-STJ)
[...] não há dúvidas de que a Sra. Sandra Aparecida Ruvieri de Souza celebrou
contrato particular de compra e venda da parte que lhe cabia no imóvel objeto
desta lide, com o Sr. Jorge Luiz Villas Boas, autor e ora apelado, como se pode ver
do item número 2 do resumo supra.
Registra-se que Sandra Aparecida discutiu, mediante propositura de ação
declaratória de nulidade de negócio jurídico, o contrato que celebrou com o
autor/apelado, Jorge Luiz, todavia, não obteve sucesso, porquanto referida ação
foi julgada extinta, sem apreciação do mérito.
A autora da ação declaratória, Sra. Sandra Aparecida, ainda não obteve sucesso
na apelação, recurso especial e nem no agravo de instrumento que interpôs.
A apelação (n. 63.194/07) foi desprovida por este Tribunal.
O Recurso Especial (57.654/2009) teve negada a subida para o STJ e, o agravo
de instrumento (87.518/2009), cujo objetivo era fazer subir o Recurso Especial,
teve negado o seguimento pelo Superior Tribunal de Justiça.
Dessa forma, o contrato celebrado entre Sandra Aparecida e o autor/apelado,
Jorge Luiz Villas Boas, está em plena validade, fato que afasta inclusive a alegação
do recorrente, de ilegitimidade ativa de Jorge Luiz para propor a ação de rescisão
de contrato de arrendamento rural c/c reintegração de posse. (fl. 396, e-STJ).
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
Posto isto, julga-se parcialmente procedente esta ação judicial, para confirmar
a liminar, bem como rescindir o compromisso de compra e venda lavrado entre
as partes em 17/12/97, tendo como objeto a Fazenda da Prata em Poconé/MT, de
978,4 hectares, objeto das matrículas n. 3.030, 5.587, 6.853 e 8.275, todos do 1º
Cartório de Registro de Imóveis de Poconé/MT (fl. 502, e-STJ).
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
Processo Civil. Direito Civil. Recurso especial. Art. 462 do CPC. Direito
superveniente. Error in procedendo. Execução de título executivo judicial civil
decorrente da prática de ato ilícito. Penhora de bem de família. Lei 8.009/1990.
Interpretação estrita. Violação do art. 535 do CPC não configurada.
1. Não ocorre violação ao art. 535 do Código de Processo Civil quando o
Juízo, embora de forma sucinta, aprecia fundamentadamente todas as questões
relevantes ao deslinde do feito, apenas adotando fundamentos divergentes da
pretensão do recorrente. Precedentes.
2. O acórdão prolatado em agravo de instrumento torna preclusa a questão
decidida, sendo certo que a preclusão é um fenômeno endoprocessual, ou seja,
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
2.4 Partindo das referidas premissas, havendo decisão judicial, com trânsito
em julgado, reconhecendo a resolução do compromisso de compra e venda
da Fazenda Prata - título no qual se embasava o alegado direito do autor,
ora recorrido, e, por conseguinte, a sua sucessão na posição de arrendante no
contrato de arrendamento celebrado pelo usufrutuário falecido -, sobressai a sua
ilegitimidade ativa para a demanda ajuizada em face do arrendatário do imóvel
rural, Carlos Roberto Ruvieri de Souza, a fim de o compelir ao pagamento das
prestações vencidas, bem assim rescindir o contrato e ser reintegrado na posse
do bem.
É dizer, não sendo o autor/recorrido proprietário (ou promissário
comprador) da Fazenda Prata, conforme reconhecido em sentença judicial
transitada em julgado, não detém ele legitimidade para prosseguir com a ação
de resolução do contrato de arrendamento rural outrora celebrado por quem
detinha o usufruto do bem, cumulada com reintegração de posse..
3. Do exposto, não conheço do agravo interno de fls. 1.901-1.937, e-STJ e,
outrossim, conheço do recurso especial para, ao considerar o fato novo trazido aos
autos, provê-lo e extinguir o feito, sem apreciação do mérito, com fundamento
no artigo 485, inciso VI, do NCPC, em face da ilegitimidade do autor para o
ajuizamento da demanda em tela.
Em consequência, condena-se o recorrido ao pagamento das despesas
processuais, assim como de honorários aos advogados do réu/recorrente, no
importe de 20% sobre o valor atualizado da causa constante da petição inaugural
(R$ 10.000,00), nos termos do artigo 85, § 2º, do NCPC.
Saliente-se, por fim, que, diante dos eventos narrados nos autos, bem assim
das intercorrências que se deram ao longo da tramitação deste feito no âmbito
do Superior Tribunal de Justiça, já foi determinada a expedição de ofícios - ao
Ministério Público - bem assim aos demais órgão com atribuição para adoção
de providências.
É como voto.
EMENTA
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 1º.2.2022
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão: 1. Jurandir Gomes de França,
ora recorrido, ajuizou ação de reparação de danos morais em face de Globo
Comunicações e Participações S.A., ora recorrente, aduzindo que a ré o procurou
com o intuito de entrevistá-lo em programa televisivo (Linha Direta - Justiça)
que teria como tema uma série de homicídios ocorridos na cidade do Rio de
Janeiro, em 23 de julho de 1993, evento trágico mundialmente conhecido como
Chacina da Candelária. O autor teria sido um dos indiciados como coautor/
partícipe do crime, mas, após julgamento pelo Tribunal do Júri, foi absolvido por
negativa de autoria pela unanimidade dos membros do Conselho de Sentença.
Na ocasião, afirmou que teria recusado a entrevista e mencionado o desinteresse
em ter sua imagem exposta em rede nacional. Em junho de 2006, o programa
foi ao ar com referência ao autor como um dos envolvidos no evento chacina.
Entendeu o ora recorrido que a transmissão levou a público situação que
já havia sido superada, reacendendo na comunidade onde reside a imagem
de chacinador e o ódio social, ferindo, assim, seu direito à paz, anonimato e
privacidade, com prejuízos diretos também a seus familiares.
Salientou que a exposição de sua imagem e nome no mencionado programa
foi ilícita e causou-lhe intenso abalo moral. Nessa extensão, pleiteou indenização
no valor de 300 (trezentos) salários mínimos.
O juízo de piso, sopesando, de um lado, o interesse público da notícia
acerca de “evento traumático da história nacional” que repercutiu “de forma
desastrosa na imagem do país junto à comunidade internacional” e, de outro, o
“direito ao anonimato e ao esquecimento” do autor, entendeu por bem mitigar o
segundo, julgando improcedente o pedido indenizatório (fls. 130-137).
Em apelação, a sentença foi reformada, por maioria, nos termos da seguinte
ementa (fls. 195-196):
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
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da pessoa humana, segundo a qual o ser humano tem um valor em si que supera
o das “coisas humanas”.
9. Não há dúvida de que a história da sociedade é patrimônio imaterial do
povo e nela se inserem os mais variados acontecimentos e personagens capazes
de revelar, para o futuro, os traços políticos, sociais ou culturais de determinada
época. Todavia, a historicidade da notícia jornalística, em se tratando de
jornalismo policial, há de ser vista com cautela. Há, de fato, crimes históricos
e criminosos famosos; mas também há crimes e criminosos que se tornaram
artificialmente históricos e famosos, obra da exploração midiática exacerbada
e de um populismo penal satisfativo dos prazeres primários das multidões,
que simplifica o fenômeno criminal às estigmatizadas figuras do “bandido” vs.
“cidadão de bem”.
10. É que a historicidade de determinados crimes por vezes é edificada à
custa de vários desvios de legalidade, por isso não deve constituir óbice em si
intransponível ao reconhecimento de direitos como o vindicado nos presentes
autos. Na verdade, a permissão ampla e irrestrita a que um crime e as pessoas
nele envolvidas sejam retratados indefinidamente no tempo - a pretexto da
historicidade do fato - pode significar permissão de um segundo abuso
à dignidade humana, simplesmente porque o primeiro já fora cometido no
passado. Por isso, nesses casos, o reconhecimento do “direito ao esquecimento”
pode significar um corretivo - tardio, mas possível - das vicissitudes do passado,
seja de inquéritos policiais ou processos judiciais pirotécnicos e injustos, seja da
exploração populista da mídia.
11. É evidente o legítimo interesse público em que seja dada publicidade
da resposta estatal ao fenômeno criminal. Não obstante, é imperioso também
ressaltar que o interesse público - além de ser conceito de significação fluida -
não coincide com o interesse do público, que é guiado, no mais das vezes, por
sentimento de execração pública, praceamento da pessoa humana, condenação
sumária e vingança continuada.
12. Assim como é acolhido no direito estrangeiro, é imperiosa a aplicabilidade
do direito ao esquecimento no cenário interno, com base não só na principiologia
decorrente dos direitos fundamentais e da dignidade da pessoa humana, mas
também diretamente do direito positivo infraconstitucional. A assertiva de que
uma notícia lícita não se transforma em ilícita com o simples passar do tempo
não tem nenhuma base jurídica. O ordenamento é repleto de previsões em
que a significação conferida pelo Direito à passagem do tempo é exatamente o
esquecimento e a estabilização do passado, mostrando-se ilícito sim reagitar o
que a lei pretende sepultar. Precedentes de direito comparado.
13. Nesse passo, o Direito estabiliza o passado e confere previsibilidade ao
futuro por institutos bem conhecidos de todos: prescrição, decadência, perdão,
anistia, irretroatividade da lei, respeito ao direito adquirido, ato jurídico perfeito,
coisa julgada, prazo máximo para que o nome de inadimplentes figure em
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
É o relatório.
VOTO
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
efeito temporal, mas não consagram um direito a que os sujeitos não sejam
confrontados quanto às informações do passado, de modo que eventuais notícias
sobre esses sujeitos – publicadas ao tempo em que os dados e as informações
estiveram acessíveis – não são alcançadas pelo efeito de ocultamento. Elas
permanecem passíveis de circulação se os dados nelas contidos tiverem sido, a
seu tempo, licitamente obtidos e tratados. Isso porque a passagem do tempo, por
si só, não tem o condão de transmutar uma publicação ou um dado nela contido
de lícito para ilícito.
5. A previsão ou aplicação do direito ao esquecimento afronta a liberdade de
expressão. Um comando jurídico que eleja a passagem do tempo como restrição
à divulgação de informação verdadeira, licitamente obtida e com adequado
tratamento dos dados nela inseridos, precisa estar previsto em lei, de modo
pontual, clarividente e sem anulação da liberdade de expressão. Ele não pode,
ademais, ser fruto apenas de ponderação judicial.
6. O caso concreto se refere ao programa televisivo Linha Direta: Justiça, que,
revisitando alguns crimes que abalaram o Brasil, apresentou, dentre alguns casos
verídicos que envolviam vítimas de violência contra a mulher, objetos de farta
documentação social e jornalística, o caso de Aida Curi, cujos irmãos são autores
da ação que deu origem ao presente recurso. Não cabe a aplicação do direito ao
esquecimento a esse caso, tendo em vista que a exibição do referido programa
não incorreu em afronta ao nome, à imagem, à vida privada da vítima ou de seus
familiares. Recurso extraordinário não provido.
8. Fixa-se a seguinte tese: “É incompatível com a Constituição a ideia de um
direito ao esquecimento, assim entendido como o poder de obstar, em razão da
passagem do tempo, a divulgação de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos
e publicados em meios de comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais
excessos ou abusos no exercício da liberdade de expressão e de informação devem
ser analisados caso a caso, a partir dos parâmetros constitucionais - especialmente
os relativos à proteção da honra, da imagem, da privacidade e da personalidade em
geral - e das expressas e específicas previsões legais nos âmbitos penal e cível”.
(RE n. 1.010.606, rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgado em 11/2/2021,
processo eletrônico, repercussão geral, mérito, DJe-096 divulg. 19/5/2021, public.
20/5/2021.)
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
(...)
A meu ver, a resposta para tais questionamentos vai claramente no sentido da
inexistência no ordenamento jurídico brasileiro de um direito genérico com essa
conformação, seja expressa ou implicitamente.
O que existe no ordenamento são expressas e pontuais previsões em que
se admite, sob condições específicas, o decurso do tempo como razão para
supressão de dados ou informações.
Vide a previsão do Código de Defesa do Consumidor (art. 43, § 1º, da Lei n.
8.078/90) de que os cadastros de consumidores não podem “conter informações
negativas referentes a período superior a cinco anos”, ou, ainda, a previsão do
Código Penal (arts. 93 a 95) quanto à reabilitação do condenado, que “poderá ser
requerida, decorridos 2 (dois) anos do dia em que for extinta, de qualquer modo,
a pena ou terminar sua execução”, assegurando-se ao condenado “o sigilo dos
registros sobre o seu processo e condenação”. Ou, ademais, a previsão, quanto
ao universo digital, trazida pela Lei n. 12.965/14 (o Marco Civil da Internet), que
assegura como direito do usuário da rede a “exclusão definitiva dos dados pessoais
que tiver fornecido a determinada aplicação de internet a seu requerimento, ao
término da relação entre as partes”, ressalvadas apenas “as hipóteses de guarda
obrigatória de registros” (art. 7º, X).
Tais previsões, todavia, não configuram a pretensão do direito ao
esquecimento. Relacionam-se com o efeito temporal, mas não consagram um
direito a que os sujeitos não sejam confrontados quanto às informações do
passado. Desse modo, eventuais notícias que tenham sido formuladas – ao
tempo em que os dados e/ou as informações estiveram acessíveis – não são
alcançadas pelo efeito de ocultamento.
Elas permanecem passíveis de circulação se os dados nelas contidos tiverem sido,
a seu tempo, licitamente obtidos e tratados.
Não nego o impacto do tempo na percepção humana dos acontecimentos
que envolvem informações ou dados dos indivíduos, pois é certo que a mesma
informação ao tempo dos acontecimentos e anos após servirá, a cada divulgação,
a propósitos diversos. Porém, a meu ver, a passagem do tempo, por si só, não tem o
condão de transmutar a condição de uma publicação ou um dado nela contido de
lícita para ilícita.
(...)
A mudança promovida pelo tempo, porém, é de contexto social, não de fatos.
Esses se mantêm preservados e são, inclusive, objeto de estudo das ciências sociais,
tanto quanto os fenômenos da natureza são objeto das ciências naturais. E as
ciências sociais não se debruçam apenas sobre o tempo presente. Ao contrário, há
ciências que se dirigem, de modo especial, ao tempo passado. Há outras, por seu
turno, cujo objeto é exatamente o comportamento ou a psique humanos. De modo
especial, a essas últimas importa conhecer o sujeito: seus hábitos, sua vida, sua
história, seus atos.
514
Jurisprudência da QUARTA TURMA
Se não cogitamos apresentar o Sistema Solar sem indicar o Sol, como podemos
supor falar de fatos sem consideração ao comportamento humano?
Negar acesso a fatos ou dados simplesmente porque já passados é interferir, ainda
que indiretamente, na ciência, em sua independência e em seu progresso.
(...)
Entretanto, a verdade dos fatos e, no mesmo sentido, a busca por ela, nunca esteve
sob o jugo do tempo. São coisas distintas.
Não há, assim, que se confundir o cumprimento da ordem penal – do qual
pode decorrer eventual punibilidade, prescrição, anistia ou qualquer outro meio de
atendimento a suas normas -– com o intuito de divulgação dos fatos.
A reabilitação, por exemplo, é instituto penal, com requisitos específicos.
Uma vez atendidos, assegura-se ao condenado “o sigilo dos registros sobre o seu
processo e condenação”. Isso não implica, todavia, prejuízo ao conhecimento –
mesmo a posteriori – dos fatos criminosos eventualmente noticiados. A lógica não
se restringe ao âmbito penal, mas a toda ordem jurídica.
(...)
Ressalte-se que, quando se fala em verdade histórica, não se está apenas
falando em fatos atinentes a pessoas mais proeminentes da ordem social, mas
a todos os fatos que possam, de algum modo, compor o objeto de interesse das
ciências sociais ou mesmo das relações humanas.
Os homens, em suas relações, também possuem interesse em conhecer os fatos,
em apurar suas instituições e em rever seus acertos e erros como sociedade. A isso se
chama, comumente, de interesse público no conhecimento dos fatos.
Mas observe-se: é de potencial interesse público o que possa ser licitamente obtido
e divulgado. Desse modo, um dado que não possa ser objeto de divulgação não é, em
qualquer circunstância, dotado de interesse público.
Interesse público pressupõe licitude. E licitude implica respeito aos direitos da
personalidade. Nossa Constituição é rica em previsões protetivas dos direitos da
privacidade e de inviolabilidades do indivíduo.
(...)
Seguindo a autorização constitucional, o legislador brasileiro, em inúmeras
ocasiões, procedeu à ponderação entre direitos fundamentais na direção da
máxima proteção aos direitos da personalidade, restringindo, em alguma medida,
a liberdade de expressão.
O Código Penal tipificou as condutas dirigidas contra a honra nos tipos de
calúnia, injúria e difamação (arts. 138 a 145 do CP); no mesmo passo, o Código
Civil previu indenização em tais situações (art. 953 do CC/02). O mesmo Código
Civil, em seu art. 20, protege a imagem, dispondo que sua utilização pode ser
proibida e mesmo indenizada se atingir “a honra, a boa fama ou a respeitabilidade”
516
Jurisprudência da QUARTA TURMA
(...)
Nesse quadro, nota-se que um dos aspectos centrais do direito fundamental à
liberdade de expressão – aspecto esse que deve ser reforçado tanto mais democrática
for dada sociedade – é, que, como regra geral, não são admitidas restrições prévias ao
exercício dessa liberdade.
É certo, no entanto, que a liberdade de expressão deve ser exercida em harmonia
com os demais direitos e valores constitucionais.
Parafraseando o célebre juiz Oliver Wendell Holmes, grande defensor da liberdade
de expressão, o direito à manifestação do pensamento pode ceder nos casos que
impliquem perigo evidente e atual capaz de produzir males gravíssimos.
E em que situações se identificaria esse perigo? A meu ver, a manifestação do
pensamento, por mais relevante que seja, não deve respaldar a alimentação do ódio,
da intolerância e da desinformação.
Essas situações representam o exercício abusivo desse direito, por atentarem
sobretudo contra o princípio democrático, que compreende o equilíbrio dinâmico
entre as opiniões contrárias, o pluralismo, o respeito às diferenças e a tolerância.
Questiona-se, então, se a manifestação do pensamento (inclusive em âmbito
digital) pode ser restringida se dela decorrer a divulgação de fatos da vida de um
indivíduo que lhe causem profundo desgosto ou de dados que ele não deseje ver
acessados.
Ao questionamento respondo me valendo de definição de autoria do Ministro
Edson Fachin, em tudo pertinente ao caso e que sintetiza a primazia da liberdade de
expressão, ao conceituá-la no sentido de que “representa tanto o direito de não ser
arbitrariamente privado ou impedido de manifestar seu próprio pensamento quanto
o direito coletivo de receber informações e de conhecer a expressão do pensamento
alheio” (ADI n. 2.566, Rel. p/ o ac. Min. Edson Fachin, Tribunal Pleno, DJe de
23/10/18).
A liberdade de expressão protege não apenas aquele que comunica, mas
também a todos os que podem dele receber informações ou com ele partilhar
os pensamentos.
A ponderação, assim, na pretensão ao direito ao esquecimento não se faz
apenas entre o interesse do comunicante, de um lado, e o do indivíduo que
pretende ver tornados privados dados ou fatos de sua vida, de outro. Envolve
toda a coletividade, que poderá ser privada de conhecer os fatos em toda a sua
amplitude.
Embora a pretensão inserta no direito ao esquecimento não corresponda ao
intuito de propalar uma notícia falsa, ao pretender o ocultamento de elementos
pessoais constantes de informações verdadeiras em publicações lícitas, ela finda
por conduzir notícias fidedignas à incompletude, privando seus destinatários de
conhecer, na integralidade, os elementos do contexto informado.
518
Jurisprudência da QUARTA TURMA
(...)
Entendo, assim, que o ordenamento jurídico brasileiro está repleto de
previsões constitucionais e legais voltadas à proteção da personalidade, aí
inserida a proteção aos dados pessoais, com repertório jurídico suficiente a que
essa norma fundamental se efetive em consagração à dignidade humana.
Em todas essas situações legalmente definidas, é cabível a restrição, em alguma
medida, à liberdade de expressão, sempre que afetados outros direitos fundamentais,
mas não como decorrência de um pretenso e prévio direito de ver dissociados fatos ou
dados por alegada descontextualização das informações em que inseridos, por força
da passagem do tempo.
Não há dúvidas de que é preciso buscar a proteção dos direitos da
personalidade pela via da responsabilização diante do abuso no exercício da
liberdade de expressão e pela ampliação da segurança na coleta e no tratamento
dos dados, a fim de se evitarem os acessos ilegais, as condutas abusivas e a
concentração do poder informacional.
Mas não se protegem informações e dados pessoais com obscurantismo.
VII - Proposta de tese
“É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim
entendido como o poder de obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação de
fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e publicados em meios de comunicação
social analógicos ou digitais.
Eventuais excessos ou abusos no exercício da liberdade de expressão e de
informação devem ser analisados caso a caso, a partir dos parâmetros constitucionais
- especialmente os relativos à proteção da honra, da imagem, da privacidade e da
personalidade em geral - e das expressas e específicas previsões legais nos âmbitos
penal e cível”
Conforme destaquei ao longo deste voto, não reputo existente no ordenamento
jurídico brasileiro proteção constitucional ao direito ao esquecimento.
Desse modo, tenho que se afigura ilegítima a invocação pelos recorrentes de
suposto direito ao esquecimento para obstar a divulgação dos fatos que, embora
constituam uma tragédia familiar, infelizmente, são verídicos, compõem o rol dos
casos notórios de violência na sociedade brasileira e foram licitamente obtidos à
época de sua ocorrência, não tendo o decurso do tempo, por si só, tornado ilícita
ou abusiva sua (re) divulgação – ainda que sob nova roupagem jornalística –, sob
pena de se restringir, desarrazoadamente, o exercício pela ora recorrida do direito à
liberdade de expressão, de informação e de imprensa.
De outra perspectiva, dissociada da pretensão de esquecimento, também não
vislumbro abuso na forma adotada para a comunicação.
Como salientei ao longo deste voto, tenho que a veracidade da informação
e a licitude da obtenção e do tratamento dos dados pessoais importam
520
Jurisprudência da QUARTA TURMA
(...)
Porém, sem nenhuma dúvida, mais grave que a venda ou a entrega graciosa
da privacidade à arena pública, como uma nova mercadoria para o consumo da
coletividade, é sua expropriação contra a vontade do titular do direito, por vezes
um anônimo que pretende assim permanecer.
(...)
Portanto, diante dessas preocupantes constatações acerca do talvez inevitável
- mas Admirável - Mundo Novo do hiperinformacionismo, o momento é de
novas e necessárias reflexões, das quais podem mesmo advir novos direitos ou novas
perspectivas sobre velhos direitos revisitados.
8. Outro aspecto a ser analisado é a aventada censura à liberdade de imprensa.
(...)
O novo cenário jurídico subjacente à atividade da imprensa apoia-se no fato
de que a Constituição Federal, ao proclamar a liberdade de informação e de
manifestação do pensamento, assim o faz traçando as diretrizes principiológicas
de acordo com as quais essa liberdade será exercida, reafirmando, assim como a
doutrina sempre afirmou, que os direitos e garantias protegidos pela Constituição,
em regra, não são absolutos.
Desse modo, depois de a Carta da República afirmar, no seu art. 220, que “[a]
manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer
forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição”, logo cuida de explicitar
alguns princípios norteadores dessa liberdade, como a inviolabilidade da intimidade,
vida privada, honra e imagem das pessoas (art. 220, § 1º). Na mesma direção, como
que o § 3º do art. 222, em alguma medida, dirigisse o exercício de tal liberdade,
afirma-se que “[os] meios de comunicação social eletrônica, independentemente
da tecnologia utilizada para a prestação do serviço, deverão observar os princípios
enunciados no art. 221”, princípios dos quais se destaca o “respeito aos valores éticos e
sociais da pessoa e da família” (inciso IV).
(...)
Vale dizer, o cenário protetivo da atividade informativa que atualmente é extraído
diretamente da Constituição converge para a liberdade de “expressão, da atividade
intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou
licença” (art. 5º, inciso IX), mas também para a inviolabilidade da “intimidade, vida
privada, honra e imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação” (art. 5º, inciso X).
Nesse passo, a explícita contenção constitucional à liberdade de informação,
fundada na inviolabilidade da vida privada, intimidade, honra, imagem e, de
resto, nos valores da pessoa e da família, prevista no art. 220, § 1º, art. 221 e no
§ 3º do art. 222 da Carta de 88, parece sinalizar que, no conflito aparente entre
esses bens jurídicos de especialíssima grandeza, há, de regra, uma inclinação ou
524
Jurisprudência da QUARTA TURMA
526
Jurisprudência da QUARTA TURMA
528
Jurisprudência da QUARTA TURMA
VOTO VENCIDO
530
Jurisprudência da QUARTA TURMA
532
Jurisprudência da QUARTA TURMA
534
Jurisprudência da QUARTA TURMA
para internet, que desafia soluções de índole técnica, com atenção, por
exemplo, para a possibilidade de compartilhamento de informações
e circulação internacional do conteúdo, o que pode tangenciar temas
sensíveis, como a soberania dos Estados nações.
IV. Um dos danos colaterais da “modernidade líquida” tem sido a
progressiva eliminação da “divisão, antes sacrossanta, entre as esferas do
‘privado’ e do ‘público’ no que se refere à vida humana”, de modo que,
na atual sociedade da hiperinformação, parecem evidentes os “riscos
terminais à privacidade e à autonomia individual, emanados da ampla
abertura da arena pública aos interesses privados [e também o inverso],
e sua gradual mas incessante transformação numa espécie de teatro
de variedades dedicado à diversão ligeira” (BAUMAN, Zygmunt. Danos
colaterais: desigualdades sociais numa era global. Tradução de Carlos
Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013, pp. 111-113). Diante dessas
preocupantes constatações, o momento é de novas e necessárias reflexões,
das quais podem mesmo advir novos direitos ou novas perspectivas sobre
velhos direitos revisitados.
V. Há um estreito e indissolúvel vínculo entre a liberdade de imprensa
e todo e qualquer Estado de Direito que pretenda se autoafirmar como
Democrático. Uma imprensa livre galvaniza contínua e diariamente os
pilares da democracia, que, em boa verdade, é projeto para sempre
inacabado e que nunca atingirá um ápice de otimização a partir do qual
nada se terá a agregar. Esse processo interminável, do qual não se pode
descurar - nem o povo, nem as instituições democráticas -, encontra na
imprensa livre um vital combustível para sua sobrevivência, e bem por
isso que a mínima cogitação em torno de alguma limitação da imprensa
traz naturalmente consigo reminiscências de um passado sombrio de
descontinuidade democrática.
VI. Não obstante o cenário de perseguição e tolhimento pelo qual passou
a imprensa brasileira em décadas pretéritas, e a par de sua inegável virtude
histórica, a mídia do século XXI deve fincar a legitimação de sua liberdade
em valores atuais, próprios e decorrentes diretamente da importância e
nobreza da atividade. Os antigos fantasmas da liberdade de imprensa,
embora deles não se possa esquecer jamais, atualmente, não autorizam a
atuação informativa desprendida de regras e princípios a todos impostos.
VII. Assim, a liberdade de imprensa há de ser analisada a partir de
dois paradigmas jurídicos bem distantes um do outro. O primeiro, de
completo menosprezo tanto da dignidade da pessoa humana quanto da
liberdade de imprensa; e o segundo, o atual, de dupla tutela constitucional
de ambos os valores.
VIII. Nesse passo, a explícita contenção constitucional à liberdade de
informação, fundada na inviolabilidade da vida privada, intimidade,
536
Jurisprudência da QUARTA TURMA
538
Jurisprudência da QUARTA TURMA
540
Jurisprudência da QUARTA TURMA
Nem a liberdade de imprensa seria tolhida nem a honra do autor seria maculada,
caso se ocultassem o nome e a fisionomia do recorrido, ponderação de valores que,
no caso, seria a melhor solução ao conflito.
Muito embora tenham as instâncias ordinárias reconhecido que a reportagem
mostrou-se fidedigna com a realidade, a receptividade do homem médio brasileiro
a noticiários desse jaez é apta a reacender a desconfiança geral acerca da índole do
autor, o qual, certamente, não teve reforçada sua imagem de inocentado, mas sim a
de indiciado.
No caso, permitir nova veiculação do fato, com a indicação precisa do nome e
imagem do autor, significaria a permissão de uma segunda ofensa à sua dignidade,
só porque a primeira já ocorrera no passado, uma vez que, como bem reconheceu
o acórdão recorrido, além do crime em si, o inquérito policial consubstanciou uma
reconhecida “vergonha” nacional à parte. (fl. 575)
542
Jurisprudência da QUARTA TURMA
Não há como negar, com efeito, que certos episódios históricos são, ao final,
bem como seus participantes, insuscetíveis de serem esquecido. São fatos que
se prendem à própria essência de um povo ou marcaram de forma indelével a
história, que a seu turno há de ser recontada para formação da identidade cultural
do país. Não há, por exemplo, como falar da história americana sem mencionar
o assassinato de Kennedy em novembro de 1963 por um homem chamado Lee
Oswald. Tampouco é razoável supor a impossibilidade de lançar no esquecimento
as circunstâncias que levaram à morte de Euclides da Cunha e mais tarde de seu
próprio filho. Como Capitu e Bentinho, são todas estas pessoas reféns de um
momento em que saíram do anonimato e entraram na história.
Resta incontroverso que a ora embargante não faltou com a verdade ao narrar
os fatos, nem se reportou ao ora embargado de maneira desrespeitosa. Não é nesses
termos que o pedido se coloca.
Por outro lado, parece-nos de fato inquestionável que a balbúrdia que marcou
a investigação policial da “Chacina da Candelária” se tornou fato indissociável do
544
Jurisprudência da QUARTA TURMA
Daí que, num juízo de ponderação, nos pareça forçoso concluir que a omissão
do nome e imagem do autor em nada comprometeria a qualidade jornalística do
documentário; mas, por outro lado, a sua publicação repercutiu, severamente, no
âmbito da vida privada do ora embargado. (fls. 303-304)
Artigo 19
1. ninguém poderá ser molestado por suas opiniões.
2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá
a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer
546
Jurisprudência da QUARTA TURMA
dos envolvidos nos fatos descritos para publicação de obras de teor jornalístico
configuraria censura prévia, vedada pela Constituição Federal.
A propósito, transcrevo trecho do referido voto:
VOTO
548
Jurisprudência da QUARTA TURMA
Ela ganhou essa repercussão, na época dos fatos, de forma altamente negativa e
infamante, porque se viu envolvida nesse inquérito e nessa ação penal.
A parte que interessa para a narração e não esquecimento do fato histórico
não implica a exibição pública em horário nobre de televisão da sua figura e do
seu nome.
No caso em exame, considero que o excesso e o abuso não estão em
haver um fato inverídico ou alguma adjetivação a ele. O excesso, ao meu
sentir, consistiu na exibição da figura do autor e seu nome em horário nobre
de televisão, o que me parece, assim como ao Ministro Relator, inteiramente
desnecessário para que se narre o fato histórico ocorrido.
É diferente do que pode acontecer num documento, num livro de Direito,
em que se reproduza o acórdão do Tribunal do Júri em que haverá o nome de
todas as partes. Mas, a meu ver, não é necessário que se faça isso num programa
em horário nobre de televisão, cujo único escopo não é documental, mas, sim, de
deixar a população sempre lembrada daquele triste episódio.
Observo que as consequências na vida do autor de aparecer nesse programa
Linha Direta, pelo que foi trazido de matéria de fato da origem, foram nefastas.
Ele sofreu ameaças de morte, teve de mudar da comunidade onde residia. Foram
consequências seríssimas que recairam sobre ele, depois de enfrentar todo
aquele processo penal e ser absolvido. Não me parece razoável que tenha que
passar novamente pela lembrança desse calvário, uma vez que sua figura poderia
ter sido omitida, utilizando-se qualquer nome fictício e qualquer ator, sem
diminuição alguma ao caráter informativo, histórico e documental do episódio,
porque, friso, não se trata de personagem histórico.
Portanto, peço a maxima venia à divergência e acompanho o voto do
Relator.
EMENTA
ACÓRDÃO
DJe 26.10.2021
RELATÓRIO
552
Jurisprudência da QUARTA TURMA
554
Jurisprudência da QUARTA TURMA
VOTO
I - Do seguro
1.2. Assim sendo, impossível conhecer desta matéria, sob pena de violação do
princípio do duplo grau de jurisdição.
Como se vê, os temas tratados nos arts. 267, § 3º, e 515, § 1º, do CPC/1973
não foram analisados pelo Tribunal estadual.
Com efeito, não houve debate no acórdão recorrido a respeito das teses
defendidas no recurso especial relativas à carência da ação, por falta de interesse
processual, e à possibilidade de o Tribunal examinar questão não decidida pelo
Juízo de origem, mas discutida na fase instrutória e objeto de “manifestação
específica por ocasião das alegações finais” (e-STJ fl. 499). Além disso, não
foram opostos embargos de declaração com a finalidade de sanar omissão
porventura existente sobre a matéria.
Nos termos da jurisprudência pacífica desta Corte, a simples indicação
dos dispositivos legais tidos por violados, sem que o tema tenha sido enfrentado
pela decisão recorrida, impede o conhecimento do recurso especial, por falta de
prequestionamento. A insurgência, nesse ponto, encontra óbice nas Súmulas n.
282 e 356 do STF.
Nada obstante, cumpre consignar que, de fato, nem na petição inicial
dos embargos do devedor (e-STJ fls. 1/26), nem na resposta apresentada à
impugnação ofertada pelo Banco do Brasil (e-STJ fls. 155/173), os recorrentes
fizeram qualquer menção ao aludido seguro.
556
Jurisprudência da QUARTA TURMA
Art. 4º-A. Fica permitida a liquidação financeira da CPR de que trata esta Lei,
desde que observadas as seguintes condições:
I - que seja explicitado, em seu corpo, os referenciais necessários à clara
identificação do preço ou do índice de preços a ser utilizado no resgate do título, a
instituição responsável por sua apuração ou divulgação, a praça ou o mercado de
formação do preço e o nome do índice;
II - que os indicadores de preço de que trata o inciso anterior sejam apurados
por instituições idôneas e de credibilidade junto às partes contratantes, tenham
558
Jurisprudência da QUARTA TURMA
560
Jurisprudência da QUARTA TURMA
(...)
2. A jurisprudência desta Corte é pacífica em afirmar que a Teoria da Imprevisão
como forma de revisão judicial dos contratos somente será aplicada quando ficar
demonstrada a ocorrência, após a vigência do contrato, de evento imprevisível
e extraordinário que onere excessivamente uma das partes contratantes, não se
inserindo nesse contexto as intempéries climáticas.
(...)
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 155.702/MS, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado
em 16/05/2013, DJe 27/06/2013.)
EMENTA
562
Jurisprudência da QUARTA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 9.2.2022
VOTO VENCIDO
564
Jurisprudência da QUARTA TURMA
566
Jurisprudência da QUARTA TURMA
o resgate do valor das parcelas pelo tempo decorrido; (e) optou por esta e
alternativa, deixando de receber o benefício privado; (f) o pleito da Autora não
respeita direito personalíssimo, do f Réu, inerente à época da separação; (g) o
numerário aludido pela Autora consistia em frutos gerados por sua g renda,
pertencentes, portanto, exclusivamente a si; (h) pede a improcedência da
demanda. Juntou documentos (sequências 16.4-16.10).
[...]
A previdência privada enquanto não plenamente alcançada pelo segurado
(ou seja, enquanto não preenchidos os requisitos para obtê-la, , por exemplo, o
atingimento de certa idade), é considerada como in concreto , ou seja, , que
será comum se assim forem os recursos investidos (ainda aplicação financeira
investimento que em nome de um, de outro ou de ambos).
Assim, as verbas injetadas (e/ou seus frutos) em poupanças, em imóveis ou
em qualquer outro, investimento sem dúvida, são e, de corolário, . Vai daí que os
fundos de previdência privada comuns suscetíveis à partilha são personalíssimos.
Ao contrário, são e, por conseguinte, sujeitos à comunicação, sobretudo não comuns
quando há (restituição, compensação ou indenização), consoante o Réu informou na
reembolso antecipado resposta.
A propósito, se o cônjuge que governa as finanças comuns livre para aplicá-las
em previdência privada fosse que em benefício unicamente dele (o que aconteceria
se essa contratação caracterizasse haver viesse personalíssimo), decerto, o caminho
para quebra ou fraude no regime da comunhão parcial de bens estaria aberto àquele
que assim agisse, e, obviamente, em indevido prejuízo ao outro consorte.
Realce-se que há de personalíssimo nos direitos percebidos pelo Réu, pouco
importando tenham sido nada cobrados e/ou recebidos do rompimento, porque o
é que o desse direito foi depois determinante nascimento contemporâneo a então
união das partes, porque os ou aconteceram durante ela (o investimentos aplicações
que, a propósito, é fato incontroverso).
568
Jurisprudência da QUARTA TURMA
570
Jurisprudência da QUARTA TURMA
572
Jurisprudência da QUARTA TURMA
574
Jurisprudência da QUARTA TURMA
576
Jurisprudência da QUARTA TURMA
A atenção com o futuro faz parte da vida moderna. Mais que a simples
sobrevivência, homens e mulheres procuram hoje garantir seus padrões de vida, tidos
como um direito reconhecido.
No mundo inteiro, inclusive no brasil, os sistemas de previdência se desenvolveram
a partir do reconhecimento desse direito de qualquer pessoa a um nível de vida digno.
[...]
A previdência privada aberta representa a oportunidade de profissionais liberais,
desvinculados de empresas, também, assegurarem seu futuro e o de suas famílias.
[...]
Aliás, nos países mais desenvolvidos, o montante acumulado na previdência
privada se aproxima, em termos de valor, do próprio PIB da nação. Além das
vantagens inerentes aos planos previdenciários.
De efeito, como por exemplo, a previdência complementar pode amparar um
beneficiário que, devido a um acidente, não pode mais trabalhar, e passa a usufruir
dos benefícios da previdência complementar. Isto ocorre quando ele possui um plano
de previdência complementar, possibilitando preservar, a partir daquele momento, o
sustento da família.
Outro exemplo da vantagem da previdência complementar é quando um
beneficiário (filho ou esposa) que hoje usufrui dos benefícios em decorrência da morte
do participante (pai ou marido).
[...]
Previdência é, na realidade, uma garantia essencialmente voltada para um
evento futuro e, como tal, guarda uma certa semelhança com a garantia do
seguro, embora ambos tenham objetivos e princípios distintos, pois o seguro
visa proteger o segurado contra um evento futuro, incerto e imprevisível, que
é determinado com base no risco, enquanto que a previdência oferece proteção
contra um evento futuro, relativamente, certo e determinado, que é a velhice. Aqui,
velhice significa a sobrevivência ao período de vida dita ativa, ou seja, ao se contratar
um plano de previdência a principal pretensão é a manutenção do poder aquisitivo
na inatividade.
[...]
Sob o aspecto material, entretanto, não há como negar que previdência e
assistência social são institutos do mesmo gênero e, se alguma diferença existe
entre ambos, esta somente pode ser entendida como a diferença que distingue
o gênero da espécie.
A assistência social é, indubitavelmente, “uma espécie do gênero previdência.
basta que se leia o artigo 201, da Constituição de 1988 e seus incisos, que definem
578
Jurisprudência da QUARTA TURMA
o instituto da previdência social e se compare o seu teor com o do artigo 203, e seus
incisos, que dispõe, sobre a assistência social, e chegar-se-á a essa conclusão” (Reis &
Borges, 2002:12).
Oportuno se faz aqui lembrar que esta LC n. 109, de 2001 não trata do sistema
previdenciário privado brasileiro.
Considera-se sistema quando existir um princípio unificador no
relacionamento dos elementos que o compõem (ordem e unidade). Neste ponto,
a norma fundamental é o princípio unificador que dá origem à ordem constitucional.
[...]
Arion Sayão Romita (2002:2) registra que dois são os ramos em que se bifurca
a previdência social no Brasil: um, oficial e outro, privado. O primeiro, obrigatório,
é gerido pelo Estado, por intermédio de órgãos descentralizados (administração
indireta, isto é, autarquias). O outro, facultativo, é desenvolvido por pessoas jurídicas
de direito privado (sociedades anônimas, sociedades civis ou fundações).
[...]
Ora, tanto o legislador constitucional quanto o desta lei Complementar tiveram
o cuidado de resguardar os direitos dos optantes do regime de previdência
complementar quando impõem que a entidade constitua reservas conhecida
como reservas técnicas. Estas são reservas econômico-financeiras que objetivam
garantir o pagamento dos benefícios contratados.
Aliás, as chamadas Reservas Técnicas são, na verdade, Provisões Técnicas, pois
trata-se aqui de obrigações potenciais das Entidades com os seus participantes.
As entidades recolhendo uma pequena contribuição de cada participante,
correspondente à probabilidade de ocorrência e os efeitos do evento danoso
e outros elementos estatísticos, garantem o pagamento dos benefícios aos
participantes.
Contudo, para que essa garantia seja eficaz, as entidades estão obrigadas a
constituir Provisões Técnicas (SANTOS, Jerônimo Jesus dos. Previdência privada:
Lei da Previdência Complementar Comentada. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora e
Livraria Jurídica do Rio de Janeiro, 2005, p. 43-76).
580
Jurisprudência da QUARTA TURMA
582
Jurisprudência da QUARTA TURMA
art. 50 da Lei Complementar n. 109/2001. Nessa hipótese, o crédito não mais goza de
privilégio, por perder a vocação previdenciária, mas enquadra-se como quirografário.
6. Não pode ser extinto o feito por perda superveniente de interesse de agir
se ainda subsistir a possibilidade de levantamento da liquidação extrajudicial,
a exemplo da constatação de fatos posteriores que viabilizem a recuperação
da entidade de previdência complementar (art. 52 da Lei Complementar n.
109/2001). Precedentes da Quarta Turma.
7. Recurso especial provido para anular o acórdão estadual e a sentença,
devendo o processo retornar à origem e permanecer suspenso até o encerramento
ou até o levantamento da liquidação extrajudicial.
(REsp 1.326.890/RJ, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma,
julgado em 10/05/2016, DJe 23/05/2016)
584
Jurisprudência da QUARTA TURMA
586
Jurisprudência da QUARTA TURMA
VOTO-VISTA
II
588
Jurisprudência da QUARTA TURMA
590
Jurisprudência da QUARTA TURMA
O acórdão recorrido, por sua vez, decidiu que os valores referentes ao plano
de previdência privada fechada não devem integrar o conjunto de bens comuns.
Enfatizou que, na época na separação, o ora recorrido já estava recebendo os
proventos de aposentadoria complementar ao benefício pago pela Previdência
Social e que o resgate, no caso, decorrera de alterações na própria entidade, as
quais o levaram a optar por receber todo o valor da aposentadoria de uma só vez
em 26.11.2009.
III
592
Jurisprudência da QUARTA TURMA
594
Jurisprudência da QUARTA TURMA
delas (os das fechadas) foi imposta disciplina específica para tratamento
de resultado superavitário (art. 20 da lei Complementar n. 109, de 2001),
possibilidade nem sequer cogitada para planos de entidades abertas (onde,
atingidos os resultados contratados, os excedentes podem ser considerados
lucros, a serem distribuídos entre os acionistas); uma (fechada) pode existir
para administrar plano de benefícios para apenas uma empresa patrocinadora
ou entidade instituidora (entidade fechada singular), o que é inimaginável
para as abertas; uma, enfim, terá disciplina jurídica ainda mais próxima das
instituições financeiras e de seguro (é o caso das abertas), do que aquela
imposta às entidades fechadas. (PULINO, Daniel. Previdência complementar:
natureza jurídico-constitucional e seu desenvolvimento pelas entidades
fechadas. São Paulo: Conceito, 2011, p. 130-133)
Nos últimos dez anos, os recursos dos fundos abertos mais que triplicaram
em termos reais, pela incorporação desses novos funcionários de empresas que
outrora ofereciam fundos fechados, mas não apenas por isso. O que ocorre,
adicionalmente, é que esses fundos são geralmente administrados por bancos
comerciais, sendo oferecidos aos seus correntistas na forma de uma aplicação
financeira como outra qualquer. Como consequência, esses recursos não são
necessariamente encarados segundo a lógica precípua dos fundos de previdência;
qual seja, a de constituir uma poupança financeira que será utilizada apenas no
momento da aposentadoria dos participantes. Alternativamente, são vistos como
uma aplicação financeira que concorre com os demais produtos oferecidos pelo
banco. Isso acaba sendo inclusive estimulado pelos privilégios tributários incidentes
sobre alguns planos e, sobretudo, sobre a modalidade vida gerador de benefício
livre (VGBL), que apresenta o benefício da tributação exclusiva sobre os rendimentos,
enquanto em outras aplicações financeiras os tributos incidem na contribuição e no
resgate.
Diante disso, os gestores desses planos abertos de previdência têm por hábito
apresentá-los aos seus clientes como uma alternativa rentável de aplicação
financeira, ainda que na ausência de propósitos propriamente previdenciários por
parte do participante. A consequência inevitável é que esses fundos precisam
apresentar um desempenho constantemente satisfatório em relação à média das
outras aplicações financeiras, não apenas para atrair novos participantes, mas
também para mantê-los. Se a rentabilidade desses fundos não for “competitiva”
– mesmo que por um curto período –, os participantes migrarão para outras
modalidades de investimento. Esse comportamento, bastante lógico do ponto
de vista microeconômico, tem importantes implicações macro, sobretudo para
os propósitos desta pesquisa, já que a possibilidade de que esses recursos
dos fundos abertos de previdência constituam um funding de longo prazo
fica problematizada. Isso ocorre porque seus administradores se adaptam à
necessidade de obtenção de resultados constantemente competitivos, praticando
uma gestão de caráter preponderantemente “curtoprazista”. Nos fundos fechados,
por sua vez, os participantes preveem o uso desses recursos apenas no momento
de sua aposentadoria, e esse horizonte temporal permite – ou, ao menos, deveria
permitir – aos administradores uma gestão menos preocupada com os resultados
de curto prazo,
(Disponível em https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/ TDs/
td_2175.pdf ) (grifos não constantes do original).
596
Jurisprudência da QUARTA TURMA
capital social), não se mostra razoável impor ao embargante tão grave medida,
de ter decretada a indisponibilidade de todos os seus bens, inclusive do saldo
existente em fundo de previdência privada complementar - PGBL.
5. Embargos de divergência conhecidos e providos.
(Relatora Ministra Nancy Andrighi, DJ 4.4.2014)
Tenho que a primeira premissa para correto deslinde da questão, vista por
esse prisma, reside na definição acerca da impenhorabilidade ou não dos valores
depositados no mencionado PGBL.
Nesse passo, é cediça a natureza previdenciária dos planos de benefícios
instituídos e executados pelas entidades de previdência complementar (arts. 1º e
2º da LC n. 109/2001), o que, em linha de princípio, parece apontar para o caráter
alimentar desses recursos, mormente ante o teor do art. 114 da Lei n. 8.213/1991
que, dispondo sobre os planos de benefícios da previdência social, confere-lhes a
proteção da impenhorabilidade:
(...)
Não obstante, o regime da previdência privada admite não só a acumulação
de recursos e a transformação desses em renda futura, como também o resgate
antecipado dos valores depositados (art. 14, III, da LC n. 109/2001), atuando, nessa
hipótese, como uma aplicação financeira regular, o que, decerto, não parece ter
sido objeto da proteção do legislador ao elaborar a norma insculpida no art. 649,
IV, do CPC.
Com efeito, o regime de previdência complementar aberta, diversamente do que
ocorre na fechada, caracteriza-se pela livre comercialização de planos previdenciários
- via de regra, pelos canais bancários -, a cujos recursos os aderentes têm amplo
acesso a qualquer momento, a depender das regras do plano.
Essa é uma das razões a justificar o entendimento acerca da penhorabilidade
dos valores depositados nesses fundos na fase de acumulação, porquanto:
[...] não faria sentido oferecer uma ‘blindagem’ unicamente para recursos
que fossem aportados em planos de previdência privada, uma vez que é sabido
que com a profusão do fenômeno do bancassurance os “produtos financeiros”
são comercializados no mesmo balcão - sejam “produtos” de previdência, de
investimento ou do próprio banco. Permitir que tal “roupagem” fosse capaz
de afastar os efeitos danosos de uma execução seria abrir uma porta para que
os fraudadores pudessem entrar. (CASSA, Ivy. Penhorabilidade de recursos de
planos de previdência privada. In Aspectos jurídicos dos contratos de seguro.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013, p. 149). (grifos não constantes do
original).
598
Jurisprudência da QUARTA TURMA
600
Jurisprudência da QUARTA TURMA
602
Jurisprudência da QUARTA TURMA
IV
604
Jurisprudência da QUARTA TURMA
Art. 24. O resgate não será permitido caso o participante esteja em gozo de
benefício.
Em síntese:
- No segmento fechado de previdência complementar, os proventos de
complementação de aposentadoria e o resgate de reserva de poupança realizado
608
Jurisprudência da QUARTA TURMA
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
VOTO-DESEMPATE
614
Jurisprudência da QUARTA TURMA
quando não sacada durante a união, não se reverte em proveito do casal, porque
mantém a sua natureza personalíssima” (Apelação Cível n. 70047144035, Oitava
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alzir Felippe Schmitz, Julgado em
28/06/2012).
2. Recurso conhecido e provido.
616
Jurisprudência da QUARTA TURMA
Voto
Com a devida vênia do e. Relator e do Ministro Antonio Carlos, acompanho
a divergência inaugurada pela e. Ministra Isabel Gallotti e corroborada pelo
Ministro Raul Araújo, para negar provimento ao recurso especial diante da
impossibilidade de partilha dos recursos resgatados do plano de benefício de
previdência do ora recorrido junto à entidade fechada de previdência.
1. Ressalta-se que, nessa oportunidade, apenas se discute a possibilidade de
partilha em vida de patrimônio resgatado de plano de benefício previdenciário
firmado com entidade fechada de previdência, decorrente de rompimento do
vínculo conjugal no qual estabelecido o regime de comunicação universal de bens.
No caso em exame, é incontroverso que as verbas cuja partilha pretende
a autora da ação ver incluídas na meação têm por origem o resgate das
contribuições vertidas pelo ora recorrido para plano de benefício administrado
por entidade fechada de previdência complementar - Fundação Francisco
Martins Bastos, patrocinada pela Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga
(“Grupo Ipiranga”).
Conforme consta do acórdão recorrido, os contendores casaram-se
em 26/11/1977 pelo regime da comunhão universal de bens, separando-se
judicialmente em 31/08/2005, momento no qual o réu já estava aposentado e
em gozo do benefício complementar, tendo, no entanto, em momento posterior
à separação, ocorrido o “resgate” da aposentadoria em razão da perda do
patrocínio por parte da empregadora.
Pois bem, é inegável que, os planos de previdência, sejam eles firmados com
entidades fechadas ou abertas, sempre se constituem em planos de sobrevivência
618
Jurisprudência da QUARTA TURMA
620
Jurisprudência da QUARTA TURMA
EMENTA
Direito Civil, Infantojuvenil e Telemático. Provedor de aplicação.
Rede social. Danos morais e à imagem. Publicação ofensiva. Conteúdo
envolvendo menor de idade. Retirada. Ordem judicial. Desnecessidade.
Proteção integral. Dever de toda a sociedade. Omissão relevante.
Responsabilidade civil configurada.
1. O Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 18) e
a Constituição Federal (art. 227) impõem, como dever de toda a
sociedade, zelar pela dignidade da criança e do adolescente, colocando-
os a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão, com a finalidade, inclusive, de evitar
qualquer tipo de tratamento vexatório ou constrangedor.
1.1. As leis protetivas do direito da infância e da adolescência
possuem natureza especialíssima, pertencendo à categoria de diploma
legal que se propaga por todas as demais normas, com a função de
proteger sujeitos específicos, ainda que também estejam sob a tutela
de outras leis especiais.
1.2. Para atender ao princípio da proteção integral consagrado
no direito infantojuvenil, é dever do provedor de aplicação na rede
mundial de computadores (Internet) proceder à retirada de conteúdo
envolvendo menor de idade – relacionado à acusação de que seu
genitor havia praticado crimes de natureza sexual – logo após ser
formalmente comunicado da publicação ofensiva, independentemente
de ordem judicial.
2. O provedor de aplicação que, após notificado, nega-se a
excluir publicação ofensiva envolvendo menor de idade, deve ser
responsabilizado civilmente, cabendo impor-lhe o pagamento de
indenização pelos danos morais causados à vítima da ofensa.
2.1. A responsabilidade civil, em tal circunstância, deve ser
analisada sob o enfoque da relevante omissão de sua conduta, pois
ACÓRDÃO
A Quarta Turma, por maioria, negou provimento ao recurso especial, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator. Vencido o Sr. Ministro Marco Buzzi,
que dava provimento ao recurso especial. Com acréscimos de fundamentação
dos Ministros Raul Araújo e Maria Isabel Gallotti. Votou vencido o Sr. Ministro
Marco Buzzi.
Os Srs. Ministros Luis Felipe Salomão (Presidente), Raul Araújo e Maria
Isabel Gallotti votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 14 de dezembro de 2021 (data do julgamento).
Ministro Antonio Carlos Ferreira, Relator
DJe 18.2.2022
RELATÓRIO
622
Jurisprudência da QUARTA TURMA
VOTO
624
Jurisprudência da QUARTA TURMA
Pois bem, pela análise dos documentos de fls. 23 e 25 verifico que não há
dúvida quanto à existência de conteúdo que denigre a imagem do Autor e o expõe
de forma abusiva, tal como seu filho.
Não obstante, o conteúdo pejorativo repercutiu entre conhecidos dos Autores,
como se depreende das fls. 25/26, os submetendo claramente a uma situação
vexatória.
Diante do exposto, tendo em vista que a publicação que veiculou a imagem dos
Autores com conteúdo difamatório e ofensivo partiu de um perfil hospedado em site
de incumbência do Réu, este possui responsabilidade civil frente aos Autores, tendo
em vista que deixou de tomar imediatas providências para coibir o comportamento
do usuário infrator tão logo informado a respeito por meio de denúncia oferecida
pelo Autor (fl. 24).
Desse modo, deve o Réu indenizar os Autores pelos prejuízos a que deu causa,
independentemente da análise da culpa, porquanto permaneceu inerte face à
denúncia feita.
[...]
Quanto à Lei 12.965/14, é certo que o Réu se enquadra no conceito de
provedor de conteúdo, pois possibilita a seus usuários inserirem informações na
Internet através das páginas nele hospedadas.
Lado outro, é fato notório que o Réu firma contrato de adesão com seus
usuários, que o possibilita remover mensagens e fotos inapropriadas, publicadas
na página pessoal desses.
Por tal motivo, ainda que o Réu não seja obrigado a controlar, de forma prévia, o
conteúdo postado por seus usuários, é certo que, por controle posterior, pode retirar
aquele de cunho ofensivo e que causa lesão os direitos de terceiros, se assim for
notificado.
Dessa forma, descumprida esta obrigação, ou seja, quedando-se inerte o
provedor diante do uso temerário da página pelo internauta, torna-se aquele
responsável pelos eventuais danos daí decorrentes, como na hipótese dos autos,
em que a notificação ao Réu foi devidamente feita e comprovada pelos Autores
(fl. 24).
Assim, entendo que não há dúvida de que o comportamento do Réu constitui
ato ilícito e gera, não só a obrigação de corrigir o ato ofensivo, como também o
dever de indenizar os danos morais suportados pelos Autores decorrentes do
referido ato, em que a imagem dos Autores foi veiculada com graves acusações
criminais, vindo os Autores a serem identificados por diversas pessoas do seu
ciclo social.
É inquestionável o sofrimento dos Autores com a situação relatada na inicial,
ao ver seu nome exposto na internet, de maneira pública, indevida, agressiva e
desproporcional, ultrapassando, a toda evidência, o direito à livre manifestação
do pensamento.
Por conseguinte, a inércia do Réu fez com que a honra e a credibilidade dos Autores
continuassem a ser atacados, restando patente o nexo causal entre a conduta do Réu
e a lesão a direito de personalidade dos Autores.
[...]
Desse modo, por tudo o que foi exposto, deve o pedido de indenização por
danos morais ser julgado procedente.
626
Jurisprudência da QUARTA TURMA
Nas razões do recurso especial, não se contesta o fato de que houve recusa
na exclusão da publicação da imagem, com conteúdo ofensivo, em prejuízo
do genitor e de seu filho menor de idade (e-STJ, fl. 270). O propósito da
irresignação consiste apenas em afastar a responsabilidade civil do provedor
por ausência de ordem judicial, prévia e específica, determinando a retirada
do conteúdo gerado por terceiros, conforme dispõe a Lei do Marco Civil da
Internet.
Nesse contexto, verifica-se que os autores tiveram ciência da publicação
com conteúdo ofensivo em 30/9/2014 (e-STJ, fl. 3), data em que já vigorava
a Lei n. 12.965/2014, o Marco Civil da Internet. De acordo com o art. 19 da
norma em referência, o provedor somente será responsável civilmente, em razão
de publicação gerada por terceiro, se descumprir ordem judicial determinando
as providências necessárias para cessar a exibição do conteúdo ofensivo, com
a finalidade de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, nos
seguintes termos:
O que antes era uma faculdade o recurso ao poder judiciário - passa a ser uma
obrigatoriedade, invertendo-se a lógica do direito fundamental ao amplo acesso
à justiça (art. 5º XXXV da CF/88) pela obrigatoriedade de acesso à justiça, para
efeitos de configuração da responsabilidade civil do provedor que se mantém
inerte.
Enquanto a responsabilidade civil caminha rumo à erosão de seus filtros, a
responsabilidade civil no segmento da internet incorpora novos requisitos para
628
Jurisprudência da QUARTA TURMA
630
Jurisprudência da QUARTA TURMA
632
Jurisprudência da QUARTA TURMA
634
Jurisprudência da QUARTA TURMA
VOTO VENCIDO
638
Jurisprudência da QUARTA TURMA
caso de inércia após notificação judicial específica - o que sequer se cogita nos
autos.
Esta Corte, ademais, deve se abster de fazer interpretação da Lei que possa
gerar insegurança jurídica. No caso, o Marco Civil da Internet foi aprovado
após amplo debate perante o Poder Legislativo, tendo sido expressa a opção
do legislador no sentido de outorgar ao Judiciário o poder de controle dos
conteúdos que devam ser removidos.
Necessário destacar, ainda, que a notificação encaminhada ao Facebook
relatava que a publicação configuraria assédio, e não a utilização indevida de
imagem do menor.
Eventual indenização, portanto, deverá ser buscada em face do responsável
pela publicação - ressaltando-se que a sentença proferida em primeira
instância, inclusive, determinou o fornecimento dos dados necessários para sua
identificação.
Ante o exposto, renovando as vênias ao e. Ministro Relator, voto no
sentido de dar provimento ao recurso especial, para afastar a condenação por
danos morais.
É como voto.
VOTO-VOGAL
Nem sempre haverá clareza, isto é, nem sempre será possível constatar
claramente tratar-se de matéria ofensiva. Em muitos casos, haverá dúvidas se a
matéria é realmente ofensiva ou não. Fora das previsões dos arts. 19 e 21 da
Lei, poderá ocorrer a responsabilização do provedor de conteúdo ou de conexão
à internet, a depender do caso concreto.
Este caso sob exame espelha bem essa circunstância.
Como traz o voto do eminente Relator, invocando outras disposições
legais também aplicáveis numa hipótese como esta, chega-se à conclusão da
responsabilização do provedor da internet para além daquela previsão específica
do art. 19. Por quê? Porque, tratava-se da exposição da imagem de pessoa menor
de idade. Então, após advertido pela parte, deveria o provedor ter adotado uma
postura mais cautelosa, mais cuidadosa, mais sensível para com a hipótese que
lhe era denunciada. Deveria ter adotado alguma providência, pois claramente
havia indícios de conteúdo ofensivo na hipótese que temos.
De outro lado, lembro que, em tese, noutra hipótese, com outra
conformação, poderá haver utilidade pública em determinada denúncia veiculada
na internet, acerca de indivíduo dado a molestar crianças. Será possível, noutro
caso, chegarmos a resultado diferente, aplicando, aí sim, a solução mais positiva,
mais referente à lei, como sugere o voto divergente do eminente Ministro Marco
Buzzi.
Faço essas ponderações, embora acompanhando o eminente Relator
na hipótese, para destacar que, fora das previsões dos arts. 19 e 21 da Lei,
conforme o caso concreto, poderá haver a responsabilização, a excepcional
responsabilização, do provedor de conteúdo ou de conexão à internet.
É o que o faz, o voto do eminente Relator neste caso. Pondera acerca
de outros valores constitucionais, sociais, envolvidos na questão, em razão da
presença de um menor, e chega à conclusão que responsabiliza o provedor de
internet.
Estou acompanhando o eminente Relator, com a devida vênia do Ministro
Marco Buzzi, com quem também concordo, anuo parcialmente. Também
compreendo que, em regra, será mesmo de se observar as hipóteses previstas no
marco regulador da internet. Mas, quando outros fatores relevantes puderem ser
invocados, como neste caso concreto, aí poderemos chegar à responsabilização
do provedor.
São essas as minhas considerações, acompanhando o eminente Relator,
com acréscimos de fundamentação.
640
Jurisprudência da QUARTA TURMA
VOTO
A Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti: Sr. Presidente, ouvi com atenção
o debate, o voto cuidadoso do eminente Relator e a divergência trazida pelo
Ministro Marco Buzzi.
Peço vênia à divergência para aderir ao voto do Relator, também
acompanhando as ponderações feitas pelo Ministro Raul Araújo quanto à
necessidade de se examinar com cuidado as circunstâncias do caso concreto.
Penso que o art. 19 do Marco Civil da Internet deve ser interpretado de
forma teleológica e sistemática, tendo em vista a literalidade do seu comando,
mas também também o ordenamento jurídico em que se insere como um
todo. O dispositivo assegura a liberdade de expressão e também visa a impedir
a censura. Ou seja, a idéia preconizada pelo dispositivo é não cercear a livre
manifestação e debate de idéias, que encontram assento constitucional na
liberdade de expressão e na vedação à censura. Por outro lado, o ordenamento
jurídico é composto por normas de Direito Penal e por normas de proteção à
criança, essas examinadas profundamente no voto do eminente Relator.
Penso que a existência de um dispositivo legal no Marco Civil da Internet,
que, no intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura,
estabelece que o provedor de aplicações somente poderá ser responsabilizado
civilmente se, após ordem judicial específica, não tomar providências para,
no âmbito dos limites técnicos do seu serviço e, no prazo assinalado, tornar
indisponível o conteúdo apontado como infringente, não retira a força normativa
de dispositivos do Código Penal que impedem crimes contra a honra e nem
dispositivos da legislação de proteção ao menor.
O caso ora em exame é muito grave, porque mostra a imagem de um
menor em situação muito constrangedora. É intuitivo o sofrimento desse
menor na escola, por exemplo, diante da imagem de seu pai e a dele própria,
sendo o menino tido como filho estuprado pelo próprio pai. Penso que coibir
a divulgação de imagens com textos desse tipo significa evitar a propagação
do crime e, portanto, diante da flagrante ocorrência de um crime, não devem
a pessoa, que pode concorrer com o término da prática desse crime ou, pelo
menos, a sua não difusão, ficar aguardando a ordem judicial, até porque há um
tempo necessário para que se consiga essa ordem judicial. E, no ambiente da
internet, a propagação de mensagens delituosas é muito rápida.
Penso, portanto, que esse dispositivo convive com o sistema jurídico como
um todo, o qual inclui normas proteção ao menor, regras de Direito Penal,
e, diante de manifesta ilicitude do conteúdo, deve o provedor de internet,
provocado pela vítima, tomar uma atitude imediata para frear o cometimento
do crime.
Essa compreensão não tem como pressuposto a declaração de
inconstitucionalidade do art. 19 do Marco Civil da Internet, mas a interpretação
restritiva do mencionado dispositivo, para estabelecer que ele convive com
outras normas do mesmo sistema jurídico, que coíbem a prática de crimes
contra a honra e estabelecem regras de proteção dos menores.
Porquanto, tratando-se apenas de conferir à lei interpretação de cunho
restritivo, tendo em vista o conteúdo racional da norma - que é impedir o
cerceamento da liberdade de expressão e impedir a censura - e a interpretação
sistemática, pela qual a examino em cotejo com outras regras do ordenamento
jurídico de igual relevância - que também têm estatura constitucional e
não foram afetadas pelo Marco Civil da Internet - é possível darmos essa
interpretação restritiva ao dispositivo legal tal como preconizado pelo eminente
Relator.
Mas, assim como o Ministro Raul Araújo, verifico que, em algumas
situações, será útil a informação de que há um pedófilo à solta numa determinada
comunidade e isso deve merecer divulgação.
Mas não é o caso dos autos em que não houve a menor tentativa de
demonstrar que estivéssemos tratando de um alerta à comunidade contra um
criminoso.
O réu, simplesmente, mencionou que tal tipo de matéria, expondo a foto
de um menor como vítima de estupro pelo próprio pai, não fugia aos parâmetros
de controle, de conformidade do provedor de internet. Não buscou o provedor
sustentar nenhuma defesa de mérito no sentido de que fosse lícito aquilo que
parece, de prima facie, ilícito, que é mostrar o próprio filho como vítima de
estupro do próprio pai (ou tio, como constou equivocadamente do texto).
Penso que uma ilicitude de tal monta, sendo propagada pela internet, até
que se consiga uma ordem judicial, merece repulsa imediata pelo provedor,
com base em todas as outras normas do ordenamento jurídico, não apenas a lei
de proteção ao menor, mas também o Código Penal, e andou certo o Juízo de
primeira e segunda instância em conceder a indenização.
642
Jurisprudência da QUARTA TURMA
EMENTA
ACÓRDÃO
DJe 7.4.2022
RELATÓRIO
644
Jurisprudência da QUARTA TURMA
É o relatório.
VOTO
646
Jurisprudência da QUARTA TURMA
o exequente pela parte que lhe cabia na meação, tendo inserido a hipótese na
exceção estabelecida no inciso II do artigo 3º da Lei n. 8.009/90. Irresignação da
executada.
[...]
2.2 Há violação pelo acórdão local aos ditames da Lei n. 8.009/90, dada a
interpretação elastecida ao texto legal, por considerar que o crédito do exequente,
embora não seja decorrente de financiamento do imóvel ou sua construção,
mas oriundo de dívida civil estabelecida quando da meação de bens em ação
de divórcio, se enquadraria na exceção prevista no inciso II, do art. 3º da Lei n.
8.009/90.
2.3 O escopo da Lei n. 8.009/90 não é proteger o devedor contra suas dívidas,
mas visa à proteção da entidade familiar no seu conceito mais amplo, motivo pelo
qual as hipóteses de exceção à impenhorabilidade do bem de família, em virtude
do seu caráter excepcional, devem ser interpretados restritivamente. Precedentes.
[...]
3. Recurso especial conhecido em parte e, na extensão, provido. (REsp
1.862.925/SC, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 26/05/2020,
DJe 23/06/2020)
648
Jurisprudência da QUARTA TURMA
[...]
Neste contexto, a caução de imóvel não se confunde com a fiança, que possui
natureza pessoal, nem mesmo com a hipoteca, que apesar de também ser uma
garantia real, somente se formaliza por meio de escritura pública de hipoteca,
com o necessário registro na matrícula do imóvel, ao passo que a caução de
imóvel deverá ser averbada à margem da respectiva matrícula do bem dado em
garantia, nos termos do art. 38, § 1º, da LI.
[...]
Desse modo, configurada a distinção da caução de imóvel entre a fiança e a
hipoteca, não se poderia enquadrar a caução de imóvel em qualquer das hipóteses
de exceção da impenhorabilidade do bem de família descritas no art. 3º da Lei
8.009/1990, por duas simples razões: a um - apesar de ser classificada como
caução real (que a assemelha à hipoteca), sua formalização se dá pela averbação
à margem da respectiva matrícula do imóvel dado em garantia e não por meio
de escritura pública de hipoteca, além de no momento de sua constituição ainda
não existir crédito específico e determinado, afastando, portanto, a exceção
prevista no inc. V, do art. 3º, da LBF; a dois por força normativa (art. 38 da LI), a
caução, enquanto garantia locatícia, não poderá ser fidejussória, diferenciando-a
da fiança e, portanto, isolando-a da exceção contida no inc. VII, do art. 3º, da LBF.
(ARAÚJO, Abílio Manuel Mota Veloso de; Locação de Imóvel Comercial e o Bem
de Família do Fiador; Curitiba: Juruá, 2021; p. 54-55)
650
Jurisprudência da QUARTA TURMA
652
Jurisprudência da QUARTA TURMA
[...]
(EDcl no AREsp 511.486/SC, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado
em 03/03/2016, DJe 10/03/2016)
Vale destacar que não se desconhece julgados desta Quarta Turma, mais
especificamente envolvendo imóveis dados como garantia em contratos com
cláusula de alienação fiduciária, nos quais se reconheceu a possibilidade de
afastar tal entendimento diante da utilização abusiva do benefício, pautados
notadamente na vedação ao comportamento contraditório (venire contra factum
proprium) e na premissa de que que ninguém pode se beneficiar da própria
torpeza (nemo auditur propriam turpitudinem allegans). Nesse sentido, cita-se:
REsp 1.595.832/SC, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado
em 29/10/2019, DJe 04/02/2020; REsp 1.559.348/DF, Rel. Ministro Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 18/06/2019, DJe 05/08/2019.
Todavia, tais casos não se assemelham ao ora em exame, pois aqui não
está em discussão a boa-fé dos caucionantes, mas apenas se é viável alargar as
exceções à impenhorabilidade do bem de família descritas na norma.
Direito Civil. Recurso especial. Ação de despejo c/c pedido de cobrança. Fase
de cumprimento de sentença. Contrato de locação comercial. Caução. Bem de
família. Impenhorabilidade.
[...]
2. O propósito recursal consiste em dizer acerca da possibilidade de penhora
de bem de família oferecido em caução pelo locatário em contrato de locação
comercial.
3. Em se tratando de caução, em contratos de locação, não há que se falar na
possibilidade de penhora do imóvel residencial familiar.
4. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 1.887.492/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em
13/04/2021, DJe 15/04/2021)
Direito Civil. Recurso especial. Ação de execução de título executivo
extrajudicial. Contrato de locação. Caução. Bem de família. Impenhorabilidade.
1. Ação de execução de título executivo extrajudicial - contrato de locação.
[...]
3. O propósito recursal é definir se imóvel - alegadamente bem de família -
oferecido como caução imobiliária em contrato de locação pode ser objeto de
penhora.
4. Em se tratando de caução, em contratos de locação, não há que se falar na
possibilidade de penhora do imóvel residencial familiar.
5. Recurso especial conhecido e provido.
654
Jurisprudência da QUARTA TURMA
EMENTA
656
Jurisprudência da QUARTA TURMA
ACÓRDÃO
DJe 8.2.2022
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão: 1. Anielle Silva dos Reis Barboza
e Mônica Tereza Azeredo Benício, respectivamente irmã e companheira de
Marielle Francisco da Silva, conhecida como Marielle Franco, ajuizaram ação
cominatória em face de Google Brasil Internet Ltda., tendo como objeto
principal o pedido de remoção de matérias e vídeos ofensivos à honra de Marielle
das plataformas Google e Youtube, além do fornecimento de identificação dos
IPs e usuários responsáveis pela veiculação de notícias ofensivas.
658
Jurisprudência da QUARTA TURMA
VOTO
660
Jurisprudência da QUARTA TURMA
Por ora, já foi possível mapear 40 (quarenta) vídeos com conteúdos criminosos,
falsos, discursos de ódio e atentatórios à dignidade, honra e memória de Marielle
Francisco da Silva, sem prejuízo de outros que venham a ser indicados. A tabela
abaixo demonstra a quantidade de vídeos e classifica por nome do vídeo, nome
do canal que publicou o vídeo, a URL, a data das postagens (entre os dias 15 e 20
de março) e as visualizações que cada vídeo teve até o momento do ajuizamento
desta ação. Destaca-se que após o anúncio de que as autoras ingressariam com
a medida judicial cabível para proteger a honra e a memória de Marielle Franco,
dois vídeos do rol dos denunciados pelos e-mails já foram excluídos.
Segue tabela abaixo (DOC. 1):
[...]
Até agora foram contabilizadas 13.405.111 (treze milhões, quatrocentos e cinco
mil, cento e onze) visualizações, a honra e a memória de Marielle Franco foram
manchadas para quase treze milhões e meio de pessoas. É um registro sem
precedentes. É um caso sem precedentes!
[...]
Destaca-se a notícia veiculada no jornal O Globo’:
[...] Tais vídeos e áudios fizeram referência direta à Marielle, apontando-a como
vinculada a facções criminosas e tráfico ou imputações maliciosas sobre as suas
bandeiras políticas, como o aborto, fatos que podem caracterizar violação à honra
e à imagem da falecida e que certamente causam desconforto e angústia a seus
familiares. Note-se que nenhum dos divulgadores apresentou prova concreta
sobre o declarado. Ao contrário, foram meras suposições e opiniões, sem lastro
probatório identificado e que se continuarem a ser propagadas poderão atingir
de forma irrecuperável a dignidade da falecida Marielle, com repercussões
danosas a seus familiares.
São eles:
662
Jurisprudência da QUARTA TURMA
664
Jurisprudência da QUARTA TURMA
a quebra do sigilo dos dados dos usuários dos IPs identificados pela ré, além da
remoção global do conteúdo impugnado, com controle prévio das manifestações.
[...]
Além disso, a identificação e responsabilização pessoal dos responsáveis pelo
conteúdo apontado como ofensivo à honra e à imagem de Marielle deve se dar
através do procedimento judicial próprio, inclusive criminal. O réu cumpriu, nestes
autos, a determinação judicial e forneceu o número dos IPs e, com tais dados, as
autoras podem, independentemente de ordem judicial, identificar os provedores de
conexão através da própria rede mundial de computadores, como por exemplo
através do site https://registro.br/2/whois. A quebra do sigilo dos dados telefônicos
e de identificação dos usuários deve se dar através do procedimento criminal - para
tanto há no Rio de Janeiro delegacia especializada para tanto - ou até através
de nova ação judicial, esta sim com pedido indenizatório específico em face do
responsável pela postagem tida como agressora.
É claro que a liberdade de manifestação do pensamento (art. 5º, IV, da CF)
não é ilimitada, sendo vedado o anonimato, como também é evidente que os
provedores devem manter meios de identificar e excluir de suas redes usuários que
externem manifestações que configurem a prática de algum tipo de ilícito civil
ou criminal. Mas a identificação do IP é a medida adequada e suficiente para a
busca dos causadores do dano e tal conduta foi regularmente adotada pelo réu em
cumprimento às decisões proferidas nestes autos.
[...]
Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
prejudicando terceiros.
[...]
Na presente hipótese, pretende a autora, ora apelante, a expedição de oficio
para as empresas de conexão à internet, com o objetivo de que estas informem quem
são os usuários que publicaram os vídeos com conteúdo apontado como infringente
na demanda.
Entretanto, as empresas de conexão à internet não fizeram parte da presente
demanda, não havendo como impor a estas quaisquer obrigações.
A recorrente, por outro lado, defende que a identificação dos usuários pelas
empresas de conexão decorre do dever legal de guarda dos registros de conexão a
estas imposto, nos termos dos arts. 10, § 1º, e 22 da Lei 12.956/2014, revelando-
se, assim, mera consequência do processo, não havendo falar-se em condenação
de terceiro, como consignado no acórdão recorrido.
Pondera que a intervenção judicial, na hipótese, é imprescindível ao
propósito de se obterem os dados pessoais dos usuários, como “nome completo,
RG, CPF, endereço físico e demais dados capazes de identificar efetivamente
os usuários”, visando à “formação do conjunto probatório para futuro processo
judicial cível ou penal contra os usuários que publicaram conteúdo ofensivo à
honra e memória da Vereadora Marielle Franco”.
Como base fática incontroversa, sobressai, destarte, além do pedido de
remoção de conteúdo, o requerimento expresso das autoras para que a ré seja
“obrigada a fornecer a identificação dos IPs e dos usuários, para futuras ações de
reparação civil e criminal (item 6 da petição inicial)”.
Ainda, é incontroverso que a Google forneceu os IPs relacionados aos
conteúdos cuja exclusão fora determinada judicialmente (documentos dos ids.
229/267).
3. Assim delineados os fatos, a resolução da controvérsia passa pela análise
primeira dos conceitos apresentados na Lei n. 12.965/2014 (Marco Civil da
Internet), notadamente quanto ao dever de guarda dos dados pelos provedores de
internet – provedores de aplicação e de conexão ou acesso – e a responsabilidade pela
guarda dos referidos dados.
Transcrevo:
666
Jurisprudência da QUARTA TURMA
668
Jurisprudência da QUARTA TURMA
670
Jurisprudência da QUARTA TURMA
Note-se:
672
Jurisprudência da QUARTA TURMA
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Jurisprudência da QUARTA TURMA
676
Jurisprudência da QUARTA TURMA
[...]
5. Nos termos da Lei n. 12.965/2014 (art. 22), a parte interessada poderá pleitear
ao juízo, com o propósito de formar conjunto probatório em processo judicial
cível ou penal, em caráter incidental ou autônomo, que ordene ao responsável
pela guarda o fornecimento de registros de conexão ou de registros de acesso
a aplicações de internet. Para tanto, sob pena de admissibilidade, exige a norma
que haja: I - fundados indícios da ocorrência do ilícito; II - justificativa motivada
da utilidade dos registros solicitados para fins de investigação ou instrução
probatória; e III - período ao qual se referem os registros (parágrafo único).
(REsp 1.859.665/SC, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado
em 09/03/2021, DJe 20/04/2021)
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Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus
procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo:
[...]
IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou
final, e não criar embaraços à sua efetivação;
[...]
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe:
[...]
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-
rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas
ações que tenham por objeto prestação pecuniária;
princípios da boa-fé processual (art. 5º, CPC) e da cooperação (art. 6º, CPC). Não
haveria coerência normativa em pensar que essas pessoas podem ser punidas por
eventual descumprimento de ordem judicial (com a multa por contempt of court,
por exemplo), mas não podem ser compelidas ao cumprimento dessa mesma
ordem.
Daí que é possível, por exemplo, a fixação de multa para cumprimento de decisão
que imponha a terceiro, administrador de cadastro de proteção de crédito, a exclusão
do nome da parte. O administrador do cadastro não precisa ser réu no processo para
ser destinatário da ordem - e, portanto, para ser compelido a cumpri-la.
Além disso, o magistrado, no exercício do seu poder geral de efetivação, pode
impor prestação de fazer, não fazer ou dar coisa distinta de dinheiro ao ente
público e determinar medidas executivas diretamente ao agente público (pessoa
natural) responsável por tomar a providência necessária ao cumprimento da
prestação imposta.”
(DIDIER JR. Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno;
OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Direito processual civil: Execução. 7ª ed. Salvador:
JusPodivm, 2017, p. 109).
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Caio César Carvalho Lima, na mesma obra, Lei geral de proteção de dados
comentada, ressalta a inafastabilidade da apreciação pelo Poder Judiciário
nas hipóteses em que os dados pessoais possam servir como elemento para
o exercício de direitos em demandas em geral (judiciais, administrativos e
arbitrais).
Assim, a LGPD não exclui a possibilidade da quebra de sigilo.
Ao contrário, apresenta regras sobre tal ocorrência, que, no caso, , revelam-
se possíveis, considerando as espécies de dados, a finalidade da quebra e o contexto em
que apresentados.
Por fim, a prestação das informações pelas respectivas concessionárias
de serviço público (provedores de conexão com a internet) deverá observar
estritamente ao regramento previsto pela lei referida, nos termos dos arts. 23 e
seguintes.
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