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Capíturo 11

Sugestão e suscetibi{idade hipnótica


o nlaterial exposto anteriormente orienta-nos rumo às
aplicações práticas da hipnose. Arltes que essa matéria possa
ser considerada, é necessária urna melhor conlpreensão da re-
lação entre a sugestão e a suscetibilidade hipnótica. Relaciona-
do com esse contexto há um parágrafo de lUll artigo escrito por
Heron, da Universidade de Min:nesota, chamado "Princípios da
hipnose", publicado no Southem Medical Jow·nal. Resumindo,
ele diz que todo mundo, quer seja leigo, quer seja profissional,
gasta lUlla boa parte do seu tempo esforçando-se para controlar
certos aspectos do COlllportanlento das outras pessoas. Por
exemplo, os médicos e os dentistas estão interessados naqueles
aspectos do conlportarnento dos seus pacientes, que tênl impli-
cações para a saúde deles. E o que acontece a partir dai? Seus
pacientes olham para eles de uma forma amigável? Aceitam
uma cirurgia quando incUcada? Obedecem as prescrições? Des-
cansanl e dODl1enlnlais quando necessário?
Existenl apenas alguns poucos meios em que o controle
do comportanlento pode ser obtido: por recursos mecãnicos,
por meios de reconlpensas, pelo uso de punição, pelo uso da
razão e, o que é mais importante, pelo uso da sugestão. A su-
gestão é básica em hipnose.
Muitas tentativas de definição da hipnose têm sido fei-
tas, não apenas quanto aos fenônlenos envolvidos nela, mas
tanlbénl em tennos dos seus possíveis mecanisnlOS causais. No
entanto, até agora nenhuma definição respondeu satisfatoria-
mente a todas as perguntas levantadas. BenlheiIl1 adiantou o
conceito de que a sugestão é o fator básico na produção e na
utilização da hipnose. As sugestões não precisam ser apenas de
natureza verbal. Elas podem ocorrer enl qualquer nível senso-
rial, incluindo naturalmente, o olfato, a gustação, a audição, o
tato, a visão e muitos outros aspectos sensoriais.
A sugestão e a suscetibilidade hipnótica estão profun-
damente relacionadas. Em hipnose, a repetição é um fator mui-
to importante, como em muitas outras coisas, especiahnente na
aprendizagem. Na verdade, a sugestão e a repetição podem ser
consideradas de importãncia básica. Assim, ao pedir-se uma
definição do que é hipnose, pode-se dizer que ela é nada mais
nada menos do que sugestão e repetição. Tudo que se aprende
num treinanlento em hipnose pode ser considerado como modi-
ficações, amplificações, variações e explicações desses dois in-
gredientes básicos.
À sugestão e ã repetição pode ser acrescentado o monoi-
deísmo, que é a concentração em uma idéia para a exclusão de
todas as outras, como foi sugerido por Braid, ou, em outras pa-
lavras, a eliminação de todos os estímulos extemos exceto
aqueles necessários para se iniciar o comportamento desejado.
A eles podemos acrescentar a expectativa. a imagülação, a vi-
sualização e o prestígio do hipnotizador. Tudo isso representa
uma parte importante na indução inicial da hipnose. Quaisquer
fatores ou combinações desses fatores estão presentes na cria-
ção do estado hipnótico.
Bernheim assinalou que, de fato, não existem diferen-
ças marcantes entre as ações que acontecem durante o estado
hipnótico e as que acontecem durante o estado de vigília. O ter-
mo "estado nomlal" pode nos levar a crer que a hipnose é um
estado anomlal, quando na verdade, ela é uma continuação do
estado de vigília comum.

Além disso, todos os fenômenos de transe, pelo menos


em uma parte, estão presentes e podem ser demonstrados tam-
bém durante o estado de vigília. Se isso for aceito, então a hip-
nose pode ser considerada como o controle do comportamento
(considerando-se o comportamento como o pensamento e ação)
através da sugestão. Às vezes é necessário influenciar pacientes
para seu próprio bem-estar, e a sugestão pode fazer isto muito
bem. As sugestões podem incluir uma variedade de atividades,
tais como o comportamento aparentemente ingênuo de uma
mãe cantando para seu bebê dormir: o som monótono, melódi-
co e repetitivo da canção de ninar, tem um efeito sonífero sobre
a criança.
As repetições das sugestões diretas em anúncios "com-
pre isto ou aquilo, compre nas lojas tais, beba pop soda" são
eficientes na produçào do comportamento desejado pela força
da repetição. Tomando-se como exemplo uma certa marca de
refrigerantes, esta forma de anúncio tem se mostrado tão efi-
ciente que ele é de longe uma das bebidas mais consumidas em
todo mundo, depois da água.
As campanhas de propaganda das agências govema-
mentais e outras que têm a finalidade de influenciar comporta-
mentos, estão situadas dentro desta categoria. Dentistas e mé-
dicos ocasionalmente ~~~~cebq,là. Eles os oferecem aos seus
pacientes e dizem: 'Tome isto ~ fará você sentir-se melhor".
O paciente o toma e acaba melhorando. Mas, seria esta medica-
ção inócua que por si mesma teria conseguido tanto êxito? Na-
turalmente que não. Ela é apenas um exemplo da~.::-
gestiva previamente mencionada.
~
Neste ponto seria interessante adiantar algumas defini-
ções comuns da "sugestão". O dicionário Webster define suges-
tão como a apresentação de uma idéia, impulso ou crença para
a mente. Contudo, uma sugestão psicologicamente efetiva não
deve ser apenas apresentada; ela deve ser aceita incondicional-
mente - não incondicionalmente no sentido de algo que se acei-
ta sem qualquer valorização critica, mas sim com significado de
favoravelmente, o que levará à iniciação do comportamento
apropriado. Para ser efetiva a sugestão deve ser atuada pelo su-
jeito ou paciente, mesmo não havendo lógica para a sua aceita-
ção. Assim, a sugestão poderia ser definida como: uma idéia
que alguém aceita incondicional e favoravelmente e que resulta
na iniciação do comportamento apropriado.
Antes de abordar alguns princípios psicológicos relacio-
nados com sugestão, seria desejável demonstrar um fenômeno
fisiológico que pode justificar a aceitação dos fenômenos psico-
lógicos. Trata-se do fenômeno de Kohnstamm.

Demonstração 1: Fenômeno de Kohnstamm

Doutor A (demonstrando): O doutor K aceitou ajudar-nos. Dou-


tor, o senhor poderia, por favor, ficar de pé próximo à parede, a
cerca de 20 centímetros dela? Mantenha, por favor, os pés jun-
tos, os calcanhares juntos. as pontas dos pés juntas. os om-
bros para trás. o peito para fora. o estômago encaixado em po-
sição de alerta. Com sua mão esquerda, pressione-a parede
como se fosse fazer um buraco nela. Pressione-a fortemente.
até que você possa sentir a tensão que surge nos músculos do
seu braço. do seu antebraço, do seu ombro. Decorridos 20 se-
gundos: quando eu disser três, dê um grande passo para longe
da parede. (um espaço de 20 segundos) Um. dois. três. (o pa-
ciente dá um passo, da parede e seu braço es-
afastando-se
querdo eleva-se espontaneamente) Ocorre uma perseveração da
atividade muscular do braç9 que foi a causa do movimento as-
cendente. Você ajudou o braço a erguer-se voluntariamente?
Doutor K (paciente): Não.

Doutor A: Muito obrigado, Doutor K.

Doutor A: Acabamos de demonstrar uma resposta inteiramente


fisiológica. Isto pode fomecer uma base lógica para o fato de
que estas coisas podem acontecer psicogenicamente.

Muitos dos esquemas usados para ajudar pacientes psi-


cologicamente envolvem o mesmo mecanismo, exceto que ele
acontece sobre uma base psicológica. Isso leva diretamente ao
primeiro princípio psicológico, a lei da atenção concentrada.

Esse princípio estabelece que, quando a atenção está


espontaneamente concentrada numa idéia, essa idéia tende a
realizar-se. Quando a idéia envolve uma atividade muscular ou
matara, ela é conhecida como atividade ídeomotora. Quando os
órgãos dos sentidos estão envolvidos, como nos sentimentos,
mudança de temperatura etc, podemos falar em termos de uma
atividade ideosensora. Se uma pessoa mantém seu braço levan-
tado e rígido, com seus olhos fechados, e imagina que há uma
corda amarrada em seu pulso e que alguém a puxa com força
para a frente, o braço mover-se-á gradualmente para a frente
sem nenhum esforço consciente. O braço move-se, e essa movi-
mentação tem uma base psicológica, sem qualquer esforço vo-
luntário. Trata-se de uma atividade ideomotora. Quando as
sensações estão envolvidas, como as que estão relacionadas
com a mudança de temperatura e a anestesia, o processo é co-
nhecido como atividade ideossensória. Essas atividades combi-
nam-se para formar uma reintegração ou uma reorientação
neuropsicofisiológica intema, com as conseqüentes mudanças
mataras e/ ou sensoriais descritas.
o segundo princípio psicológico envolvido na sugestão é
a "lei do efeito reverso" de Coué. Segundo ela: quan.do a vontade
e a imaginação entram em conflito, a imaginação sempre ga-
nha. Quando urna pessoa pensa em fazer algo, mas sente que
não pode, quanto mais ela tenta mais difícil fica a sua realiza-
ção. Se urna pessoa fosse convidada a caminhar sobre uma tá-
bua de aproximadamente 4 metros sobre o chão, ela não teria
dificuldades em fazê-Io. Se a mesma tábua fosse apoiada sobre
duas cadeiras a mais ou menos 50 centímetros do chão, ela te-
ria alguma dificuldade. Mas, se a tábua fosse colocada na altu-
ra do 20Q andar entre dois prédios, quanta motivação seria ne-
cessária para induzi-Io a caminhar sobre a tábua? O que esta-
ria acontecendo com essa pessoa? Possivelmente ela avaliaria a
altura e pensaria consigo mesma: "eu posso cair" e, conseqüen-
temente, "eu não devo nle arriscar". Quanto mais ele pensa em
atravessar a prancha, mais difícil toma-se a travessia. Esse
princípio será usado muitas e muitas vezes durantes os proce-
dimentos de indução hipnótica.

O terceiro princípio é o da lei do efeito dominante. Aqui


nós aprendemos que ancorar uma emoção a urna sugestão tor-
na a sugestão mais efetiva. Urna emoção mais forte tende a re-
primir ou eliminar UDla outra nlais fraca. Por exemplo, se dois
amigos estão estudando e um deles sente que já não está ren-
dendo mais, ele pode dizer ao outro: "Vamos ao cinema". Ele
pode completar dizendo: "Você se lembra da última vez em que
você estudou duro e foi mal no exame?" Com isso, há urna
grande chance de seu amigo dizer: "Ok, vamos lá."

A sugestibilidade pode ser descrita corno o grau em que


urna pessoa aceita sugestões prontamente. Isto não deve ser
confundido com idiotice. Erickson descreveu a sugestibilidade
corno urna capacidade ou a indicação da capacidade de urna
pessoa de responder a idéias - o que é normal. Sugestibilioh'-:2
é uma função do comportanlento normal. Todos nós que somos
normais ·somos sugestionáveis. Se assim não fosse, passaría-
mos todo o tempo analisando as sugestões que nos são feitas:
"O que tal pessoa desejou dizer com aquilo?" e não teríamos
tempo para as respostas normais do cotidiano.

Quem é hipnotizável? Quem não o é? Em termos gerais,


não existe uma correlação estatística significativa entre a inteli-
gência e a hipnotizabilidade. A experiência clínica parece indicar
que as pessoas mais inteligentes, mais extrovertidas, mais de-
terminadas, provavelmente sejam os melhores sujeitos para a
hipnose. Quando alguém diz: "Eu não posso ser hipnotizado",
uma resposta razoável para esta declaração pode ser: "Bem, isto
é muito interessante, mas eu certamente não me vangloriaria
disso." Por que não o faria? Porque aqueles que são considera-
dos pacientes "ruins", em geral, estão por volta de 6 anos de ida-
de, são psicóticos ou retardados mentais e outros tipos de inteli-
gência situadas abaixo da média. Por que isso é assim? Porque
essas pessoas têm dificuldades com o monoideísmo e com a
concentração em uma idéia. A mente da criança divaga tal qual
a do retardado ou do psicótico e elas não conseguem se concen-
trar em uma idéia. Dessa fomla, elas encontram dificuldades
para a cooperação. Isso não quer dizer que se uma pessoa esti-
ver incapacitada para entrar em hipnose, não possam existir
outras razões para esse fracasso. Tais razões serão discutidas
mais adiante. Portanto, a incapacidade para se entrar em hip-
nose não é exatamente algo de que se possa ter orgulho.

Existem vários testes de sugestibilidade e hipnotizabili-


dade e os mais importantes serão descritos. É importante notar
a esta altura que, quanto mais uma pessoa usar hipnose, mais
treinada ela vai ficando e menos testes precisará usar. Os tes-
tes realmente dizem muita coisa. Quando as reações do indiví-
duo são positivas para qualquer teste, existirá alguma proba-
bilidade de que ele seja um bom paciente para a hipnose; se a
resposta for negativa, tudo o que pode ser deduzido é que o pa-
ciente não respondeu àquele teste ou àquele que apresentou o
teste, num momento em particular. Não há nada que indique
que o mesmo indivíduo não responderia ao mesmo teste num
outro momento, ou com outro hipnotizador num momento ou
lugar diferente. Muitos hipnólogos acreditam que a maioria das
pessoas normais é hipnotizável sob certas condições, por um
hipnotizador hábil. Em geral, o hipnólogo experimentado não
perde tempo com testes. Naturalmente que qualquer um dos
testes pode ser usado como procedimento inicial para indução
dos primeiros estágios da hipnose, mas normalmente é melhor
começar com a indução real da hipnose e analisar o progresso
do paciente sem o uso dos testes. Até que se tenha suficiente
confiança, o aprendiz pode começar a hipnose disfarçadamente,
com o pretexto de testar o paciente e então aprofundar respos-
tas positivas, até que a hipnose seja efetivada. Se uma resposta
negativa é obtida, por qualquer razão, o hipnotizador poderá di-
zer ao paciente: "Bem, até agora você não respondeu a este tes-
te" e ele pode julgar se é válido continuar com aquele paciente
naquele determinado momento. Quall.do seu procedimento for
bem-sucedido, a hipnose poderá ser 1..Ullaresposta extrema-
mente positiva à sugestão.

Um dos testes mais conlLms é o da mão entrelaçada. Ele


é freqüentem ente usado pelo hipnólogo principiante, interessa-
do em descobrir mais rapidamente aqueles que podem respon-
der mais prontamente à hipnose. Neste ponto, é importante
mencionar que o hipnotista poderá acabar construindo o falso
conceito de que tem um poder especial e que com ele poderá
impor suas vontades sobre o indivíduo. Qualquer hipnólogo ex-
perimentado sabe que isto é lill1 completo disparate. Ninguém
hipnotiza quem quer que seja. Tudo o que é possível fazer é co-
mandar ou orientar o paciente para que ele entre num estado
hipnótico. Se o paciente está relut31l.te ou incapacitado, não ha-
verá hipnose. Em outras palanRs. pode até existir hipnose sem
un1 hipnotizador, mas não há hipnose sem o consentimento ou
sem a cooperação do paciente.
Quando um paciente está usando anelou outra jóia
com bordas cortantes, há possibilidades reais de ocorrer aci-
dente. É aconselhável, antes de mais nada, a remoção do or-
namento. Se com muita precaução, alguém se decidir por
usar esse teste, o procedin1ento deve ser mais ou menos o se-
guinte:

Entre1àce as mãos, apertando os dedos. Aperte as palmas das


mãos entre si. Feche os olhos. para que você não se distraia vi-
sualmente e então possa prestar toda a atenção nas instruções
que estou dando a você. Agora. pressione as palmas das mãos
e tente expulsar todo o ar que está entre elas. Pressione os de-
dos apertando-os junto ãs costas das mãos. de tal forma que
você possa apertar mais e mais as palmas das mãos. Sinta
como as pontas dos dedos pressionam as costas das mãos e
como elas vão empalidecendo-se. Suas mãos f1carão tão forte-
mente entrelaçadas que você não poderá discernir uma da ou-
tra. Quanto mais você pressionar. mais unidas elas ficarão. A
verdade é que. quanto mais você tentar separar as suas mãos.
mais incapaz de separá-Ias você vai ser. E quanto mais você
tentar (Lei do Efeito Reuerso). mais fechadas elas flcarão. En-
tão. ao contar até três. você tentará. mas você não será capaz.
Um. dois, três. Tente. mas você não conseguirá. Pare de tentar
e agora. finalmente. você conseguirá descruzar as nIãos.

Certan1ente, que os mesnlOS processos implicados aqui


tan1bém estão envolvidos no teste da mão forçando a parede. É
um fenômeno psicológico e fisiológico. Quando um paciente
não tem dificuldade em separar as mãos. é porque ele simples-
mente as relaxou e deliberadanIente tentou separá-Ias. Contu-
do, se ele tivesse cooperado totalnlente. a mesma coisa aconte-
ceria corno aconteceu com os nllIsculos do braço na demons-
tração do fenômeno de Kohnstamm. Há LillI alargamento das
articulações de modo que existe urna clificuldade física real de
movimento e um atraso acontece antes que o paciente consiga
separar as mãos. Mas para o paciente que não conhece este fa-
tor fisiológico, a sugestão psicológica faz parecer que as instru-
ções o capacitan1 a realizar aquilo. E a aceitação das instru-
ções mais simples capacitan1-no a aceitar as mais difíceis, até
que numa progressão ele seja capaz de aceitar as instruções
mais complexas. corno as anestesias. a regressão de idade, as
alucinações negativas, a escrita automática e outras sugestões
semelhantes.

Na mesma categoria de testes está o da í1xação ocular.


As instruções são as seg.uintes:

Sente-se confortavelmente em sua cadeira. feche os olhos e,


sem movimentar a cabeça, olhe para cima como se houvesse
unIa moeda ou outro objeto colocado na linha do cabelo. Agora.
com os olhos focalizados em frente. deixe os globos oculares
moverem-se na direção daquele ponto. na junção da testa e da
linha do cabelo. Agora, aperte as pálpebras mais e mais forte,
corno se tivessem sido coladas com cimento ou suturadas com
fio de cirurgia. tão apertadas entre si que você não possa sepa-
rá-Ias. Um. dois, três, tente, mas você não pode abri-Ias. Pare
de tentar. Agora você pode fazê-Io.

Enquanto os olhos do paciente estão voltados para


cima, é-lhe fisicamente impossível abrir as pálpebras. Ele não
sabe disso. Para que abra os olhos, ele é obrigado a baixá-l os e
então as pálpebras podem abrir-se. Através desse teste, UIn
hipnólogo pode descobrir precisamente quanto seu paciente é
cooperador.

Nesses testes, é aconselhável observar o paciente muito


cuidadosamente. Se ficar evidente que não está seguindo as su-
gestões, ele acabará descruzando as mãos, abrindo os olhos ou
encontrará qualquer coisa que desafie o que está sendo feito, o
operador diz imediatamente: "Pare de tentar" ou "Agora você
pode fazê-Io". Dessa forma. o paciente se descobre seguindo as
sugestões do operador, ao invés de contrariá-Ias.

A maior objeção ao uso dos testes é que o mito do "po-


der" do hipnólogo é assim perpetuado, com a conseqüente de-
dução de que a hipnose, necessariamente, envolve Llllla relação
de dominação-submissão. O fato é que a ansiedade que advém
de tal falso conceito pode contribuir para a resistência do pa-
ciente ao processo de indução.

A aplicação das técrlicas hipnóticas na odontologia é ba-


seada no princípio científico que associa tensão com redução do
limiar de dor e relaxamento com o aurnento do limiar de dor.
Assim, o relaxamento é o mais importante procedimento na
odontologia, mas é também importante para o médico. Muito
freqüentemente, diz-se ao paciente com rupertensão de origem
emocional: "Você tem de relaxar", nlas nLUlca lhe é dito como
fazê-lo. A demonstraçãQ segui.nte trará fonnas de relaxamento
~rvirão a vários propósitos: (1) relaxar o paciente; (2) ele-
var o limiar de dor; (3) obter cooperação para outras coisas e (4)
como unla ponte para a hipnose.
Demonstração 2: teste de relaxamento com quatro dentistas
voluntários

Doutor B (demonstrando): Não usaremos esta demonstração


corno urna ponte para a hipnose. Quando eu usar a hipnose,
vocês serão os únicos que a produzirão. Eu lhes direi quando;
então, por favor, não se preocupem.

Um paciente pode vir ao consultório odontológico de-


monstrando grande temor e ansiedade. O dentista pode comen-
tar o seguinte: 'Você está fazendo as coisas certas para ter dor".
Quanto mais tenso você ficar, mais facilmente sentirá dor e,
quanto mais relaxado estiver, mais improvável será que sinta
dor. Os médicos podem ensinar suas pacientes a relaxarem tão
perfeitamente que muitas delas têm seus bebês num parto nor-
mal, sem dor; e os dentistas podem ensinar seus pacientes a
relaxar tão perfeitamente que grande parte deles pode tratar os
dentes sem dor e sem usar drogas. Você não gostaria que eu
mostrasse como relaxar para que você possa eliminar mais fa-
cilmente a dor? É raro alguém dizer "não" a esta proposta, por-
que todos desejam aprender a relaxar e desta forma você moti-
va os pacientes.

Vamos agora ficar numa posição confortável. Relaxem tão bem


quanto possível, com os pés apoiados no chão e as mãos no
colo. É um pouco difIcHensinar a vocês como relaxar o corpo
inteiro de uma só vez. então eu ensinarei como relaxar as vá-
rias partes do corpo. uma por vez. Feito isto, vocês estarão ap-
tos a relaxar todo o corpo rapidamente. Eu gostaria que cada
um achasse uma "luz" no teto e fixasse o olhar nela. Mante-
nham o olhar fixo nela até o final do exercício.

Isto leva cerca de dois minutos no má.ximo, no consultó-


rio. Em seguida, explica-se ao paciente o porquê de tal solicita-
ção.

Estou pedindo a vocês que mantenham o olhar na luz para que


não se distraiam visualmente com outras coisas e prestem
atenção, mentalmente, a tudo o que lhes pedirei a partir de
agora.
~V'€It,;..p:t DiZé!? o 'í3/(~
Híprwse Médica e Odontológica"., .
I/P/~f-l Qv""-
_• _
.j::1
,,~=:--
bX\.s I;, J 1fl4
41

DISç'';~Gí/.Jç~ !)O G'J .cv",,", t-:l-O

Pora o ooluntÓFio 1 I ~'


-
Quero que você relaxe o seu braço tanto quanto possível para
que ele caia pesada e flacidamente no colo. para que. quando
eu o levantar, ele seja como um braço de boneco de pano. Um
boneco de pano não pode levantar o braço.
Excelente, você prestou atenção.
Esse paciente não tem muito para aprender. Os braços, estão
completamente relaxados e também o paciente jã está relaxa-
do.

Permita-se relaxar verdadeiramente. Mas houve uma pequena


hesitação aí; você a notou? Há tensões que estão mantendo§)
'~~ braço duro. Deixe-o ficar pesado agora. bem pesado, Não faça
nada para ajudar-me, Está bem melhor. Nota a diferença? Ex-
celente!
Se vocês puderem fazê-Io rapidamente. ótimo! Senão. deixe-o.

Existe uma tensão definida aqui: do contrário. você não seria


capaz de manter o braço no alto. Então fixe os olhos naquela
luz. Deixe o braço ficar realmente pesado, Não faça nada para
me ajudar. Não faça nenhum esforço para relaxar. Simples-
mente deixe o braço flácido. Pense no braço como se fosse o de
um boneco de parlO e não faça nada, Você entende o que eu
falo e quer me ajudar, Está me ajudando. mas está exercendo
tensões. Relaxar consiste em não fazer nada, Então. não faça
nada, 12.eixe o braçC?,ficar pesado agora. Deixe-o cair no colo.
Isto! Deixe-o cair e mantenha-o assim. Simplesmente, deixe-o
cair. Não faça nada, Ok. rela.xe quanto puder.

Para o ooluntÓFio 4
Muito be~, ma: há uma certa tensã~ aqu~. doutor. Deixe~, O
braço caIr. MUlto melhor! Agora esta mUlto bom. nada ~
Não. não é assim. Você eSQ'!.levantando o braço. Deixe-me le-
vantá-Io. Agora deixe-o cair, Ok.

Há vários níveis de resposta. Em um trabalho com mn


grupo, temos a vantagem de poder ver várias respostas indivi-
duais.
Para os voluntáriosOs
Mantenharn ~pés apoiados no chão. Mas, enquanto fixam o
olhar naquel~z, gostaria que vocês respirassem profunda-
mente e soltassem o ar devagar. Quando isto acontecer. obser-
vem a sensação de conforto no abdômen. Aprendam a respirar
apropriadamente. Agora, aspirem profundarnente e prendam a
respiração até eu contar até cinco. Prendam agora. Um-dois-
três-quatro-cinco. Agora. soltem o ar muito lentamente e sin-
tam esta sensação gostosa no abdômen e no peito. e começarão
a apreciar o que é relaxar de fato. É tão agradável. tão confor-
tável. Com o relaxamento surge uma sensação de peso. como
no sono. Enquanto vocês ficam mais e mais relaxados. se tor-
nam mais e mais cientes desta sensação de peso. Enquanto
seus olhos estão visualmente ocupados. prestem atenção. men-
talmente, às solas dos pés e como \'ocês rela:xarn mais e mais.
Ficam cientes mais e mais da sensação de peso nas solas dos
pés. Vocês podem pensar: "Meus pés estão ficando cada vez
mais pesados". Enquanto pensam isto, eles ficam mais pesados
e vocês sentem e apreciam isto.

Dê ao paciente cerca de dez segundos entre cada suges-


tão para que ele entenda e sinta essas coisas. UnI dos erros co-
llllms é empregar sugestões muito ríspida e rapidamente.

Agora vocês se mantenharn conscientes, enquanto aumentam


seu relaxamento, daquele peso que pode subir lentamente. ele
pode subir até o abdômen. Seu corpo. da cintura para baixo.
pode tornar-se muito p-e-s-a-d-o com o relaxarnento. tão agra-
davelmente. tão confortavelmente. Aquele peso pode lentamen-
te chegar aos braços e mãos e su bir ao peito e ao pescoço. O
corpo, do pescoço para baixo. estã sentindo muito peso. Agora
deixem o relaxamento chegar à sua mandíbula. Vocês sabem
que a posição mais confortável da boca em descanso é aquela
em que os dentes estão desencostados.
Há um espaço intennaxilar. Se tiverem eliílculelaeleem manter
os dentes desencostados. podem molhar os lábios. pois isto
ajuda a mantê-los afastados.
Agora alguns elevocês estão piscando como au todefesa em face
do descanso nos olhos. Isto ê bom. É uma maneira de o corpo
defender-se do descanso nos olhos. Ele produz tensão para
manter os olhos abertos e é mais confortável quando não há
tensão. Não façam nada para manter estas tensões. Não lutem
para manter os olhos abertos. Se querem fechar, deixem que se
fechem. IstOT" ótimo. Desde que fechem, mantenham-nos fe-
chados. Muito, muito bom. Não lutem para mantê-los abertos.
Eles realmente querem fechar-se; vocês estarão mais confortá-
veis com eles fechados. Deixem fechar-se. Excelente!

Não se deve perder muito tempo nesta fase. Se a respos-


ta é muito lenta, simplesmente pede-se ao paciente que feche
os olhos.

05
Agora. enquanto 8 olhos estão fechados. visualizem a cor
preta ou a cor cinza ou qualquer outra cor para que vocês pos-
sam "limpar" a mente de pensamentos. Não pensem em nada.
Não façam nada. Este é o segi'edo do relaxamento. não fazer
nada e não pensar em nada. Visualizar um vazio para que se
possa relaxar a mente tão bem quanto se relaxa o corpo. Exce-
lente. então r-e-l-a-x-e-m t-u-d-o. corpo e mente. Ótimo. Apre-
ciem isto. Respirem vagarosa e profundamente. Agora. com
cada respiração. vocês começarão a sentir-se nlais e mais rela-
xados, profundamente. É tão confortável. É apenas um estado
agradável de estar. profundamente relaxado. tão próximo de
dormir quanto é possível estar; contudo, mantenham a cons-
ciência. ouçam o som da minha voz. sigam minhas instruções e
apreciem o relaxamento. Agora. continuem respirando profun-
da e lentamente. enquanto eu falo com a platéia. E vocês po-
dem ouvir. mas não prestem atenção. porque. de qualquer
modo. vocês se lembrarão disto.

Muitos dentistas ficam satisfeitos em realizar o relaxa-


mento ou hípnose. apenas até aqui. O que o dentista conse-
guiu. se usou o procedimento acima até este ponto? Primeiro:
com o fechamento dos olhos, ele removeu do campo visual do
paciente uma variedade ele estímulos e sugestões negativas
que, até este ponto, tinha tonlaelo a visita ao consultório muito
desconfortável para o paciente. Quando os olhos elo paciente
estão abertos, ele olha a seringa e isso o inquieta. Ele vê os ins-
trurnentos rotatórios e imagil~a: "O que será que ele vai fazer
com aquilo? ou, "Será que vai doer?" ou, "Eu já eX'Perimentei
isso antes - é honivel!". O que ele não vê não o inquieta. O den-
tista remove todas estas sugestões negativas tendo seu paciente
de olhos fechados. Segundo: relaxando o paciente, o dentista
aumenta o seu limiar de dor até tomar-se mais difícil para ele
reconhecer como dor aqueles estimulos conluns que eram con-
siderados dolorosos. Neste ponto, com um paciente que tem re-
jeição ã anestesia local, é possível obter sua aceitação daquele
procedimento com uma técnica cuidadosa. Quando um pacien-
te atinge uma hipnose muito profunda, pode desenvolver sua
auto-anestesia, não necessitando, assim, de nenhullla aneste-
sia química.

o dentista pode aconselhar aos seus pacientes que toda


vez que vierem ao consultório, poderão relaxar como estão rela-
xados agora. Eles estarão aptos a seguir suas instruções e dis-
trair a mente do ambiente da forma mais agradável que deseja-
rem. É interessante oferecer-Ihes algo a mais para pensar,
como uma cena agradável, de sua própria escolha, na qual se-
jam participantes, de tal forma que, psicologicamente, eles este-
jam ausentes do consultório. E o que acontecerá se o paciente
puder ausentar-se psicologicamente da situação? Ele poderá ir
ã praia ou ã ópera e apreciar músicas; com a cabeça em algum
lugar, ele não estará lá com o corpo, eÀ'Perimentando o desgas-
te do tratamento dentário ou do procedimento cirúrgico. Ele en-
contrará no tratamento odontológico uma experiência agradá-
vel, tão agradável quanto jamais achava ser possível, e o dentis-
ta terá pacientes vindo ao consultório para relaxar e divertir-se.
Em casa têm as crianças, o cardápio, o orçanlento e outros pro-
blelllas, mas no consultório podem esquecer de tudo e de todos.

Pode-se sugerir que o paciente desperte da seguinte ma-


neira, vagarosamente: "Eu vou contar até quatro e quero que
você se oriente para que esteja desperto e alerta, sentindo-se
confortável e feliz, desf:r;-utandoeste clescaI1SOgostoso. Toda vez
que vier aqui, você será capaz de relaxar ao meu pedido ou su-
gestão, tanto quanto está relaxado agora. Toda vez que você
vier aqui, será capaz de fazê-Io rapidanlente. Será capaz de re-
laxar mais profundamente e melhor achará a odontologia mais
e mais agradável. Não precisará achá-la terrível. Você encontra-
rá nela muito prazer e conforto".

A razão para esse comentário agora é a seguinte: um


despertar súbito de um devaneio ou cochilo pode causar uma
sensação de dor de cabeça. Se o paciente está reorientando-se,
normalmente desperta com bastante disposição e sensação de
descanso.
Senhores, vocês estão sentindo prazer e conforto. Antes que eu
peça que despertem, vou testar seu relaxamento. Não façam
nenhum esforço para ajudar-me. porque se fizerem o mínimo
de esforço, estarão saindo do relaxamento. Não façam nada
para mudar o que estão sentindo. Não façam nada para sair do
estado de relaxamento.

Quando eu o testar, deixe-me fazê-lo. Não faça nada.


Certam.ente, este colega estava muito bem relaxado. A
úníca coisa que mantém seu braço duro é o fato de eu ter segu-
rado sua manga. Quando eu soltá-Ia, não haverá mais tensão
aqui.

Não faça nada. Eu farei o que for necessário. Excelente! Mante-


nha-se apenas relaxado agora. Muito bem. muito bem.

E este colega, também, estava muito bem por ser a pri-


meira vez; mas talvez ele diga que estava aperfeiçoando um
meio de aprender a relaxar mais.

Não faça nada. Apenas se mantenha profunda e confortavel-


mente relaxado. Não faça nada agora. Veja. você quer ajudar-
me, não o faça. Deixe-me fazer o trabalho. Se você ajudar. ain-
da que só um pouquinho. estará saindo do relaxamento. Você
não quer fazer algo para mudar o que sente. Sinta seu braço
pesado como se estivesse morto: tão pesado que não consiga
erguê-lo. Sinta-o desta forma. Agora você vê que se tentar tra-
balhar, sairá do relaxamento. Solte os braços sobre as pemas.
Isto! Mantenha-se assim. Apenas mantenha-as assim. sentin-
do-os pesados. Isto! Você está entendendo agora. Sente a dife-
rença? Deixe-os pesados agora e não faça nada. Eu vou tocar
neles. Você não faz nada; muito melhor. muito melhor. Exce-
lente! Maravilhoso!
Muito bom! Desfrute esta oportunidade. esta sensação de des-
canso profundamente relaxado; respire vagarosa e profunda-
mente, vagarosa e profundamente.

Este colega realmente aprendeu alguma coisa, porque


há uma diferença óbvia entre sua resposta agora e a anterior.
Ele o fez muito, muito bem. Isto é re1.c'tXamentoreal, vocês po-
dem sentir a diferença. Quando há relaxamento ele é óbvio;
quando há tensão, qualquer um pode senti-Ia.

Numa demonstração, é possível observar as diferenças


individuais. Se observássemos o primeiro volLmtário sozinho,
não teríamos aprendido muito, pois ele não teve que se esforçar
muito. Ele já sabia um pouco sobre relaxamento.

Senhores. eu acho que todos vocês podem ficar satisfeitos con-


sigo mesmos. Estão muito bem capacitados a continuar apren-
dendo cada vez mais. Cada vez que o fizerem, o farão mais ra-
pidamente, mais facilmente e relaxarão mais profundamente. À
hora que desejarem. poderão despertar. Eu ajudarei contando
até quatro: um-dois-três-quatro.

Aqui há um ponto importante. A não ser que as suges-


tões sejam dadas em contrário, não importa quão profLmda-
mente hipnotizado esteja, você sempre saberá o que está fazen-
do. Uma pessoa em estado sonambúJico profundo pode agir e
comportar-se como se não estivesse perfeitamente acordada.
Algmnas vezes vocês terão dificuldades em saber quando o pa-
ciente está ou não em transe.

Mesmo em hipnose profunda, o indivíd uo não está mais


inconsciente do que nossos voluntários. Mesmo em hipnose
profunda, o paciente poderia interromper o processo quando
quisesse, tão facilmente como poderia fazer unI dos nossos vo-
luntários. Hipnose é diferente do sono em quase tudo. De fato,
o paciente está mais alerta, mais apto a cooperar em atividades
mentais ou físicas, do que uma pessoa completamente acorda-
da.

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