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CERÂMICA WAURÁ: PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO EM UM

DESIGN DE SUPERFÍCIE CONTEMPORÂNEO

CERAMICS WAURÁ: BRAZILIAN CULTURAL HERITAGE IN A


CONTEMPORARY SURFACE DESIGN

Carina Prates Alves1


Prof. Me. Luis Henrique Rauber 2

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar a cerâmica da tribo


indígena Waurá com o intuito de desenvolver um design de
superfície. Esta tribo em sua grande maioria habita as proximidades
da margem direita do baixo rio Batovi, pertencente ao Parque
Indígena do Xingu, ao norte do Estado de Mato Grosso. Detentores
de tecnologias avançadas são reconhecidos por sua arte oleira,
sendo considerada a mais elaborada classe de artefatos de objetos
do Alto Xingu, muitos destes utensílios são confeccionados
especialmente para seus rituais, onde são recobertas com cuidadosas
pinturas, assegurando o refinamento exigido em seus cerimoniais.
Através da análise citada, baseada na metodologia do trabalho
cientifico de Prodanov & Freitas (2009), a partir dos dados gerados
na pesquisa, será desenvolvida uma coleção cápsula para a marca
Balmain, composta de três looks de moda festa, onde um look será
confeccionado tendo como referência o briefing da coleção, onde
foram geradas alternativas para a construção da mesma.

PALAVRAS-CHAVE: Design de Superfície, Tribo Waurá, Cerâmica, Moda,


Projeto de Coleção.

1
Carina Prates Alves é acadêmica do curso de Pós Graduação em Design de Superfície da
Universidade Feevale de Novo Hamburgo, RS, Brasil. Designer de Moda formada pela
Universidade Feevale.
2
Professor orientador. Luis Henrique Rauber é mestre em Inclusão Social e Acessibilidade e
publicitário. E-mail: luishenrique@feevale.br.

1
ABSTRACT

The present article aims to analyze the pottery of the Waurá indigenous tribe in
order to develop a surface design. This tribe mostly inhabits the vicinity of the
right bank of the lower Batovi River, belonging to the Xingu Indigenous Park,
north of the State of Mato Grosso. Holders of advanced technologies are
recognized for their pottery art, being considered the most elaborate class of
artifacts of objects of the Upper Xingu, many of these utensils are specially
made for their rituals, where they are covered with careful paintings, ensuring
the refinement required in their ceremonials . From the data generated in the
research, a capsule collection will be developed, composed of three party
fashion looks, where a look will be made with reference to the briefing of the
collection, where alternatives were generated for the construction of the same.

KEYWORDS: Surface Design, Waurá Tribe, Ceramics, Fashion, Collection


Design.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como foco a Cerâmica Waurá, que é patrimônio


cultural brasileiro, sendo usada como inspiração para a criação de um design
de superfície contemporâneo. Justifica-se a escolha do tema pela curiosidade e
aspiração particular da autora em explorar e conhecer diferentes culturas e
costumes, também por sua própria importância histórica e social. Assim, houve
a oportunidade de desvendar particularidades da cultura ameríndia 3 brasileira,
tendo o Parque Indígena do Xingu como fonte de referência para a escolha da
tribo a ser estudada.
Como questão norteadora questiona-se: de que forma a estética
indígena da tribo Waurá pode servir de inspiração para a criação do design de
superfície de uma coleção de moda? Como resposta provisória, designou-se a
hipótese de que o a estética Waurá pode servir de inspiração através de seus
grafismos e cores, elementos estes retirados de sua cerâmica.
Com aprofundamento em relação a este tema, o projeto em questão
foca-se no design de superfície, com objetivo de realizar um resgate sobre a

3
Denominação dada ao indígena americano, para distingui-lo do asiático.

2
cerâmica indígena da tribo Waurá, visando o desenvolvimento de uma coleção
de moda para a marca Balmain, apresentando uma peça finalizada inspirado
na arte gráfica Waurá, encontrada em sua cerâmica. Como objetivos
específicos, propôs-se verificar a origem e localização dos Waurá; investigar o
grafismo indígena e a arte oleira da tribo Waurá e posteriormente, desenvolver
a coleção de moda – com uma peça finalizada – baseada no estudo realizado.
Para contribuir no entendimento da arte estética da tribo Waurá para o
desenvolvimento de uma coleção de moda tendo o design de superfície como
foco principal. Serão definidos alguns conceitos por meio de breve pesquisa
bibliográfica. Segundo Prodanov e Freitas (2013), a metodologia fundamenta-
se na compreensão, estudo e análise dos vários processos e métodos para a
elaboração de uma pesquisa, visando à solução de um problema através de
uma coleta de informações, sendo “elaborada a partir de materiais já
publicados, constituído principalmente de livros, revistas, publicações em
periódico, artigos científicos, jornais, monografias, dissertações, internet [...]”
(PRODANOV; FREITAS, 2013, p.54).

2.1 TRIBO WAURÁ: PATRIMÔNIO DO PARQUE INDÍGENA DO XINGU

De acordo com Villas Boas (1975) o Parque Indígena do Xingu constitui


uma reserva federal, com uma área aproximada de 200.000 km², situada ao
norte do Estado de Mato Grosso, entre o Planalto Central e a Amazônia, criada
em 1961 pelo Governo Brasileiro. Na região predominam matas altas e
superfície plana, entre cerrados e campos, cortado pelos rios formadores
Kaluene, Ronuro e Batoví, com a finalidade de constituir uma reserva natural,
preservando a fauna e a flora. Atualmente, vivem, na área do Xingu,
aproximadamente 5.500 índios de quatorze etnias diferentes todas
pertencentes aos quatro grandes troncos linguísticos indígenas do Brasil,
sendo eles: caribe, aruaque, tupi e macro-jê.
Tendo em vista os povos que lá habitam, pode-se dividir o Parque
Indígena do Xingu em três partes: Baixo Xingu, localizado ao norte; Médio
Xingu, localizado na região central e Alto Xingu localizado ao sul. Visando o
entendimento de um povo, torna-se essencial o conhecimento de sua
localização e pesquisa histórica. Para Barcelos Neto (2005) a história dos

3
Waurá, no alto Xingu, é bem antiga, sendo que pesquisas arqueológicas
recentes apontam a chegada de seus ancestrais à região por volta do século IX
d.C. Já estudos etno-históricos indicam que sua civilização supostamente teve
início no século XVIII.
Os Waurá são índios de língua Arawak que habitam o Alto Xingu. Os
primeiros relatos da tribo foram feitos nos anos de 1884 e 1887, quando
expedições foram feitas por Karl von den Steinen com o apoio do governo
brasileiro. A família Aruaque, é composta por 10 etnias, todas ocupantes de
uma mesma área geográfica que, pela frequência de casamentos entre tribos
diferentes, resultou em um padrão cultural muito similar, denominado de
Cultura do Alto Xingu, demonstrado na estrutura de suas aldeias e das casas,
dieta alimentar, crenças, festas, cerimônias, pinturas e adornos corporais
(PAGLIARO; MENDAÑA; RODRIGUES; BARUZZI).
O estilo de vida, datado no ano de 2001 refere-se que os Waurá viviam
em três aldeias, as margens dos rios Batovi e Steinen do qual tiram seus
pescados. As aldeias são compostas por casas que estão distribuídas ao redor
de um pátio central, tendo a casa de flautas (kuwakuho) no centro, sendo o
local onde os homens de reúnem para tratar os negócios do dia. A maior
aldeia, denominada Piyulaga, tinha uma população de 268 pessoas em 2001.
Atualmente o número de Waurás é de 529 indivíduos (SIASI/SESAI 2012).
Entre os Waurá as casas são autossuficientes na produção doméstica, onde
cada adulto tem uma roça cultivada por ele e seus filhos solteiros4. Os Waurá
são divididos em grupos que servem o anumaw – os donos do poder do ritual –
são indivíduos de status e de poder tanto com o sobrenatural quanto no ritual
na comunidade. Destaca-se que estes poderes são passados para seus
descendentes após seus atos fúnebres.
Para Van Velthem (2010), os artefatos indígenas são apreciados pela
sociedade contemporânea, mas somente como artefato classificado com
artesanato, pois em sua grande maioria é comercializado em lojas de suvenir
ou de artigos para decoração, tornando a arte indígena desprovida de autoria
individual. Alguns detalhes são reconhecidos como de maior estima perante a
sociedade contemporânea, como as plumas e os objetos de rituais, pois

4
www.brasil.antropos.org.uk

4
representam um maior impacto visual. A arte indígena transcende a barreira de
ser apenas decorativa, sua representatividade é revestida de expressivas
particularidades que constituem, em sua grande parte, como veículo de
transmissão de percepções de cunho social ou cosmológico, correspondendo
aos objetos celestes utilizados em seus rituais. Possuem funções utilitárias e
representativas, sendo veículo transmissor de conhecimento e de valores
sociais.
Na Figura 1 é possível observar os grafismos indígenas representados
na pintura corporal Waurá feminina e masculina. Van Velthem (2010) afirma
que as expressões artísticas indígenas são vistas com certa estranheza pelo
povo da cidade, pois não correspondem a um critério gráfico predominante a
uma tribo. Isso se deve ao fato de as diversificadas manifestações artísticas
dos índios são sempre mencionadas, no singular, sendo denominada “arte
indígena”, sendo que se deve diferenciar a origem estética de um artefato ou
grafismo corporal, levando em consideração sua localização, materiais,
palavras, hábitos e crenças. A referência solicita sempre uma menção à
pluralidade, referindo-se a “artes indígenas” para a exata denominação.
Figura 1 - Trajes e pintura corporal Waurá

Fonte: indigenasbrasileiros.blogspot.com.br

5
Para Vidal (1976) a decoração do corpo, através de estampas,
representa na sociedade indígena uma ligação, uma manifestação estética e
serve também como veículo de comunicação entre grupos, com o meio
ambiente e com o sobrenatural.
Quando se pensa em estamparia no contexto indígena, o que vem em
mente primeiramente são artefatos táteis, não têxteis, esquecendo que a
técnica aplicada a tecidos é praticada desde os tempos antigos. Para
Ruthschilling (2008) as civilizações antigas foram responsáveis por ampliar o
desenvolvimento do design de superfície nos artefatos têxteis, devido ao seu
gosto pela decoração de superfícies. Destaca-se portanto, a tecelagem como
um dos pilares essenciais na história do design de superfície.

2.1 A CERÂMICA DA TRIBO WAURÁ E O DESIGN DE SUPERFÍCIE

O homem começou a vestir-se por volta de 10.000 anos a.C. com a


intenção, primeiramente, de proteger seu corpo das baixas temperaturas após
a era glacial (RUTHSCHILLING, 2008). Em paralelo, como forma de garantir a
sobrevivência, buscando autoridade e poder, o homem desenvolveu roupas e
ornamentos para sobrepor ao seu corpo, com a intenção de se identificar com
seus heróis, crendo que ao vestir roupas com as imagens de animais e deuses,
poderiam assumir poderes mágicos. Foi esta crença que estimulou o avanço
das pinturas em cavernas, exibindo caçadas de sucesso. Nestas pinturas
encontrava-se a repetições de figuras e traços, gerando padrões visuais, sendo
característica da representação, que passou a ser chamada de design de
superfície. Foi no período Neolítico em que houve uma preocupação com a
aparência estética dos artefatos de cerâmica, onde os utensílios receberam
tratamentos em sua superfície, onde:

As cerâmicas passam a ter suas superfícies tratadas com cores


(vermelho, preto sobre engobe branco ou vermelho) e texturas táteis
conseguidas com técnicas primitivas de prensagem sobre o barro
úmido, além de acabamentos polidos. (RUTHSCHILLING, 2008,
p.15).

A utilização do design de superfície não se limita somente a inserção de


cores, desenhos e texturas sobre uma base, onde a principal função seria

6
atribuir qualidades a superfície. Desta maneira a superfície abandona a função
de ser apenas um revestimento ou aplicação, para compor o próprio objeto.
Para Barcelos Neto (2005) foi a partir do final do século XIX, que teve
início o colecionamento etnográfico no Alto Xingu, onde a arte oleira Waurá tem
sido a categoria de artefatos mais coletada. A cerâmica Waurá corresponde a
mais elaborada classe de objetos do Alto Xingu, com uma vasta gama de
opções, variando desde minúsculas panelinhas, do tamanho da palma da mão,
chamadas de tsaktsaktãitsãi, até panelas kamalupo weke com 115cm de
diâmetros, conforme mostra a Figura 2. Estas são destinadas a rituais, sendo
recobertas com refinadas camadas de pintura. Tais ações afirmam a estética e
requinte que tais objetos devem ter em tais contextos.

Figura 2 – Panelas tsaktsaktãitsãi e kamalupo.

Fonte: Barcelos Neto (2005)

A técnica utilizada na fabricação da cerâmica é a de modelagem,


trabalhando manualmente a argila, dando diversas formas a seus utensílios.
Para os Waurá o conhecimento da arte oleira vem do mito da grande cobra-
canoa chamada Kamalu Hai que lhes concedeu conhecimento exclusivo a eles,
o mito fala que antes de ir embora ela defecou grandes quantidades de argila
ao longo do rio Batovi, conferindo somente aos Waurá tal agilidade. Com a
delimitação do Parque Nacional do Xingu, os Waurás perderam acesso a um
dos pontos mais importantes de obtenção de matéria prima para a confecção

7
de seus artefatos cerâmicos, inclusive a falta de contato com uma das argilas
mais desejadas por eles, pois:

...a delimitação do Parque deixou fora uma parte significativa de seu


território tradicional. Essa área inclui a caverna sagrada Kamukuaka,
ao lado de uma queda d'água no rio Batovi-Tamitatoala. Foi tomada
pelos fazendeiros de gado. À boca da caverna estão esculpidas
imagens das partes do corpo da mulher que geram a vida. Acreditam
que essas esculturas têm o poder de aumentar a fertilidade.
(Indigenasbrasileiros.blogspot.com.br).

De acordo com Barcelos Neto, a categorização da cerâmica Waurá é


feita por classificação, e a partir de cada classe, se divide por tamanho
decrescente. Há cinco classes, que se denominam: kamalupo, makula, héjé,
tsaktsak e panelas zoomorfas. Os artefatos cerâmicos que não se enquadram
na classificação citada acima não possuem classificação e não são agrupáveis.
Muitas destes utensílios são zoomorfo 5 , conforme Figura 3, panela arara,
destinados a criança, logo após darem seus primeiros passos.

Figura 3 – Utensilio zoomorfo – Panela arara.

Fonte: Barcelos Neto (2005)

De acordo com Van Velthem (2010) os artefatos indígenas são


resultantes de variadas técnicas, sendo classificadas como entalhe, cerâmica,

5
Que tem forma de animal.

8
plumaria e tecelagem, sendo muito apreciado nas grandes cidades e museus.
Os artefatos cerâmicos Waurá ultrapassam a classificação de ser meramente
um utensilio doméstico. Atualmente, grande parte da produção destina-se ao
comércio, suprindo uma necessidade do mercado indígena.
Para Barcelos e Neto (2005) o sistema gráfico da tribo Waurá, utilizado
em sua cerâmica, está composto a partir da combinação de cinco reproduções
visuais, sendo elas: pontos, círculos, quadriláteros (losangos, quadrados,
retângulos e trapézio), linhas (retas e curvas), triângulos (retângulos e
isósceles). O sistema gráfico da arte Waurá é criado a partir das combinações
das reproduções visuais mencionadas, determinando a formação de um motivo
(Barcelos e Neto, 2005). Na Figura 4 é possível visualizar os 13 principais
motivos gráficos dos Waurá, oriundos de um total de 45 motivos. Desta seleção
destaca-se o Kulupienê como um dos mais utilizados, sendo visto em diversas
superfícies.

Figura 4 – Motivos Graficos Waurá.

Fonte: Barcelos Neto (2005)

O sistema gráfico Waurá possui uma extensa abertura a interpretações


estéticas, tornando-o suscetível a renovação de seus motivos. Neste contexto é
possível afirmar a riqueza dos grafismos Waurá, considerado por eles como um

9
gigantesco universo de expressões visuais, capaz de romper as barreiras do
espaço e do tempo.

2.3 MARCA DE MODA: BALMAIN

Tendo como embasamento os dados estudados anteriormente, foi


realizado o levantamento de uma marca de moda feminina que se enquadrasse
no requinte e detalhamento proposto pela autora e que fosse possível
desenvolver uma coleção de moda utilizando as diversas técnicas de design de
superfície voltadas para a área têxtil. A partir deste levantamento selecionou-se
a marca Balmain, que servirá de base para o desenvolvimento de uma peça de
moda, tendo como referência os grafismos da tribo Waurá, buscando trabalhar
o design de superfície através do acabamento de bordado, sendo uma
característica muito forte da marca escolhida.
Ruthschilling (2008) comenta que no Brasil o termo design de superfície
é designado para especificar vários tipos superfícies, podendo ser utilizado na:
papelaria, estamparia, têxtil, cerâmica, tecelagem, jacquard, malharia, matérias
sintéticos e outros matérias. Para este trabalho, por se tratar de uma coleção
de moda festa, o enfoque ao design de superfície será um projeto de design
têxtil, cujo termo pode ser explicado da seguinte forma:

Têxtil: área de produtos que tem na sua constituição o emprego de


fibras. Abrange todos os tipos de tecidos e nãotecidos gerados a
partir de diferentes métodos de entrelaçamento de fios (tecelagem,
malharia, rendas, felpados, tapeçaria, etc.) e suas formas de
acabamento e embelezamento (tinturaria, estamparia, bordados,
etc.). (Ruthschilling, 2008, p.31).

De acordo com o site Penso Moda (2015), a origem da Maison Balmain


data de 1945, por Pierre Balmain, formado em arquitetura, costumava dizer que
criar roupas era a arquitetura do movimento. Destinada ao público de extremo
luxo da época, tornando-se o estilista exclusivo da nobreza Tailandesa e de
diversas celebridades como Marlene Dietrich, Brigitte Bardot e Audrey Hepburn
(figura 5).

10
Figura 5 – Rainha Sirikit e Brigitte Bardot usando Balmain.

Fonte: Site Penso Moda – adaptado pela autora.

Após a morte de seu fundador, em 1982, a marca passou por diversos


diretores criativos, sendo eles: Erik Mortensen, Oscar de la Renta, Christophe
Decarnin de 2002 até 2011. A partir de 2011 seu diretor criativo é Olivier
Rousteing, considerado um fenômeno, pois através de seu direcionamento
tornou suas roupas motivo de desejo mundial. Formado em 2003 pela
ESMOD 6 , começou sua carreia como assistente de designer na Roberto
Cavalli. De acordo com o próprio, foi na Cavalli que ele aprendeu a ser
comercial. Na Figura 6 é possível ver sua primeira coleção como diretor criativo
da Balmain em 2011, tendo como inspiração o estilo mexicano com o glamour
de Vegas.

6
Escola privada francesa de moda. Foi fundada em Paris em 1841.

11
Figura 6 – Primeira Coleção de Olivier Rousteing.

Fonte: Site Penso Moda – adaptado pela autora.

Considerado por muitos, como um superstar, Rousteing mantém


amizades com a realeza Hollywoodiana, dando a ele o status de “designer que
todos querem vestir” 7 . Ele teve grande destaque na mídia, graças a sua
proximidade com Kim Kardashian 8 e Kanye West 9 , presença constante em
seus desfiles. Com desfiles repletos de nome cobiçados, Rousteing fez uma
coleção em parceria com a rede de lojas H&M, chamada de “Balmain x H&M” e
considerada por muitos como a coleção mais esperada do ano de 2015.
Na Figura 7 é possível visualizar o requinte da coleção, com muita
estampa, bordado, pérolas e com toque asiática, não esquecendo o ar sexy e
rock que Rousteing consagrou na Balmain.

7
Marca que tem em seus desfiles um dos maiores públicos de celebridades em sua plateia.
8
É uma personalidade de televisão, socialite, empresária, modelo, produtora, estilista e
apresentadora americana.
9
Rapper, produtor musical e estilista americano. West ficou famoso como produtor de grandes
estrelas da música como Jay-Z e Alicia Keys.

12
Figura 7 – Parceria Balmain x H&M.

Fonte: Site Penso Moda – adaptado pela autora.

Segundo Aaker (2007), uma marca precisa ter uma grande organização
e larga penetração comercial, fatores estes bem consolidados pela marca
Balmain e deu diretor criativo. Reconhecida por sua opulência e riqueza, a
marca é sinônimo de brilho, aplicações, tachas com cintura e ombros
marcados, sendo estas características que elevam a Balmain como uma das
maiores marcas da atualidade.

3 COLEÇÃO WAURÁ PARA BALMAIN

Para Renfrew e Renfrew (2010) coleção é um conjunto de produtos,


sendo eles: roupas e ou acessórios, geralmente são apresentadas para uma
temporada, que pode ser inspirado por um tema, tendência, ou referência de
design, refletindo influências sociais ou culturais. A partir das relações
mencionadas nos capítulos anteriores é possível estabelecer os conceitos
abordados para o desenvolvimento de uma coleção de moda. Os aspectos de
maior importância são elucidados no transcorrer do desenvolvimento da
coleção hipoteticamente desenvolvida para a marca de moda Balmain, que terá
como tema os grafismos utilizados pela tribo Waurá, patrimônio da cultural
brasileiro, Jones (2011) comenta que a originalidade do tema é o aspecto de
maior importância para o desenvolvimento de uma coleção, devendo este estar
ligado a percepções futuras. A temporada escolhida para o desenvolvimento da
coleção é a estação Outono Inverno 2019.

13
Segundo Frings (2009), é essencial conservar a identidade da marca
nas coleções para fidelizar seu público, é importante que a identidade seja
mantida, criando assim um vínculo, mas não esquecendo de se renovar,
surpreendendo a cada coleção. Ao analisar a marca Balmain foi possível
perceber grande destaque para o design de superfície têxtil, utilizando de
elementos recorrentes, como a aplicação de paetês, tachas, silhuetas
ajustadas, ombros marcados, drapeados e tecidos brilhosos.
Na Figura 8 é apresentado o Moodboard 10 com os elementos de estilo
retirados dos looks apresentados pela marca Balmain. Como elementos de
estilo cabem destacar a cintura alta; a transparência, na coleção será utilizado
o efeito de lazer no tecido dando a impressão de que o tecido é uma pintura na
pele, o efeito laser vai ser utilizado tanto como recorte como efeito devorê que
consiste em deixar o tecido com relevo com a estampa desejada. O outro
elemento é o ombro marcado, detalhe presente nas peças Balmain.

Figura 8 – Moodboard Painel temático.

Fonte: Painel elaborado pela autora

Segundo Frings (2009), é essencial conservar a identidade da marca


nas coleções para fidelizar seu público, é importante que a identidade seja
mantida. Levando em consideração a temática escolhida para a coleção, assim

10
É um tipo de cartaz de projeto que pode ser composto de imagens, texto ou amostras de
objetos para ilustrar a composição da escolha do criador.

14
como a estação a ser trabalhada originou-se a cartela de cores apresentada na
Figura 9, a identificação das cores é apresentada através do sistema
Pantone11. As cores da foram definidas a partir do moodboard.

Figura 9 – Moodboard Painel temático.

Fonte: Painel elaborado pela autora

3.1 DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO

Definida a cartela de cores inicia-se o desenvolvimento de materiais para


a coleção denominada Waurá By Balmain a fim de aproximar ao máximo a
coleção do estudo, comenta-se que pode haver divergências nas tonalidades
dependendo da base a ser utilizada. Os materiais a ser utilizados na coleção
conforme, Figura 10, o tecido escolhido é o veludo, optou-se por um veludo
plano para suportar o efeito do laser a ser aplicado e também devido a marca
Balmain ter em suas coleções peças estruturadas com ar de alfaiataria. É
possível visualizar os aviamentos sendo eles: linhas de costura para unir as
peças e pedrarias para aplicar nas peças, conferindo-lhe requinte e brilho,
característica da marca Balmain.

11
Pantone: é uma empresa fundada em 1962 em New Jersey, Estados Unidos. A Pantone Inc.
é famosa pela “Escala de Cores Pantone” (“Pantone Matching System” ou PMS), um sistema
de cor utilizado em uma variedade de indústrias especialmente a indústria gráfica, na indústria
têxtil, de tintas e plásticos.

15
Figura 10 – Tecidos e Materiais.

Fonte: Painel elaborado pela autora

Juntamente com o tema o design de superfície tem papel essencial para


reafirmar a proposta da coleção, caracterizando-se por qualquer interferência
que possa ser realizada pela autora nos materiais selecionados. Na Figura 11 é
possível visualizar o motivo Waurá escolhido para o desenvolvimento da
coleção, sendo o: Kulupienê – Motivo de peixe.
A partir do motivo selecionado, trabalhou-se de maneira que fosse
possível aplicar ao tecido, com o efeito laser, sendo um com laser cortado,
deixando a pele aparente, remetendo a pintura corporal dos Waurá. O outro
efeito laser aplicado na superfície foi o devorê, onde o laser devora partes do
tecido deixando a superfície com relevos. O laser foi escolhido como técnica
para trabalhar o design de superfície, pois realiza o corte em diversos tecidos
com facilidade e rapidez. A gravação a laser também permite conferir um
acabamento de alta qualidade ao material, o feixe de laser promove a fusão
das arestas de corte em tecidos de poliéster, evitando seu desfiamento.

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Figura 11 – Design de Superfície.

Fonte: Painel elaborado pela autora

A coleção proposta é composta por 3 looks (Figura 12), sendo 2 vestidos


(looks 2 e 3) e 1 look composto de colete e calça (looks 1 e 2). A peça
escolhida para confecção foi o colete de veludo, onde ele será apresentado de
duas maneiras, tendo o efeito laser como diferencial em cada peça.

Figura 12 – Design de Superfície.

Fonte: Painel elaborado pela autora

17
Na Figura 13 é possível visualizar o colete desenvolvido com o efeito
laser devorê, dando ao tecido a textura de relevo com o design de superfície
inspirado na tribo Waurá. Com duas carreiras de botões de metal, somente
como enfeite.

Figura 13 – Peça Desenvolvida Laser Devorê.

Fonte: Painel elaborado pela autora

Na Figura 14 é possível visualizar o colete desenvolvido com o efeito


laser, cortando o tecido, os acabamentos foram feitos com a fita de veludo, a
gola e as lapelas foram confeccionadas com o veludo sem efeito laser para que
os detalhes da modelagem pudessem ficar visíveis conferindo mais requinte a
peça e para que também fosse possível aplicar as pedras de acrílico conferindo
brilho à peça.

18
Figura 13 – Peça Desenvolvida Laser Corte.

Fonte: Painel elaborado pela autora.

Na tabela 1 é possível visualizar a planilha de custos das duas peças


confeccionadas. A planilha ajudou a autora a precificar as peças para
comercialização das amostras, onde se optou trabalhar com um markup12 1,5
onde cada peça será comercializada pelo valor de R$460,92.

12
É um termo usado em economia para indicar quanto, do preço, do produto está acima do seu
custo de produção e distribuição.

19
Tabela 1 – Planilha de Custos.

Fonte: Painel elaborado pela autora.

Para Kotler (1994) a estratégia de preços competitivos consiste em


praticar preços semelhantes ao dos concorrentes, justificando o valor agregado
as peças por se tratar de um mercado de luxo, onde os materiais utilizados e
todos os processos utilizados na confecção das peças exigem uma qualidade
maior.

4 CONCLUSÃO

O artigo em questão realiza um resgate aprofundado sobre o Parque


Indígena do Xingu e a tribo Waurá através de um estudo bibliográfico
enriqueceu de forma abrangente o conhecimento da autora para a inspiração e
o embasamento teórico para o desenvolvimento prático de uma coleção com
um design de superfície inédito.
Para isso, o objetivo geral do trabalho foi o de realizar um resgate sobre
a arte da tribo indígena Waurá, tendo como foco central os grafismos
impressos na cerâmica e na pintura corporal, considerada como a arte oleira
mais desenvolvida entre as tribos indígenas localizada no Parque Indígena do
Xingu.
Com isso tomou-se como inspiração os grafismos, compostos por
diversos motivos, formando sistemas gráficos, criado a partir das combinações
das reproduções visuais. Sendo de grande valia, pois se confirmou a hipótese

20
de que os grafismos da tribo Waurá forneceram subsídios suficientes para
desenvolver uma proposta de coleção.
Para realização deste estudo a marca Balmain foi de extrema
importância visto que utilizam em suas coleções cores, estampas e bordados.
Tomando como base os motivos indígenas trabalhados no design de
superfície, a utilização do laser veio com a intenção de fazer com que a peça
fosse vestida, quase como uma pintura corporal indígena, deixando a pele
aparente ou dando ao tecido relevos, conferindo uma ideia de sobreposição e
na aplicação de pedras e penas, requinte este já consagrado pela marca, para
isto optou-se em desenvolver duas peças, abrangendo todos os processos e
etapas de criação do processo criativo para a materialização das peças.
Por fim salienta-se que para a peça de moda feminina é imprescindível
considerar a estética da peça relacionada às tendências de moda, assim a
realização deste trabalho englobou as diversas etapas da produção têxtil, como
permitiu conhecer, entender e desenvolver na prática as etapas envolvidas
durante o curso. Cabe salientar que a cultura indígena foi usada apenas como
inspiração, e de que maneira alguma se utilizou com a intenção de apropriar-se
de uma cultura tão rica e pouco reconhecida por nós brasileiros.

REFERÊNCIAS

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BALMAIN E SUA HISTORIA ATÉ O ATUAL FENOMENO OLIVIER


ROUSTEING: Disponível em:
https://pensomodafannylittmann.wordpress.com/2015/10/30/balmain-e-sua-
historia-ate-o-atual-fenomeno-olivier-rousteing/

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primas e processos técnicos. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia,
São Paulo, 15-16: 357-370, 2005-2006.

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trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico.
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