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RESUMO
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Carina Prates Alves é acadêmica do curso de Pós Graduação em Design de Superfície da
Universidade Feevale de Novo Hamburgo, RS, Brasil. Designer de Moda formada pela
Universidade Feevale.
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Professor orientador. Luis Henrique Rauber é mestre em Inclusão Social e Acessibilidade e
publicitário. E-mail: luishenrique@feevale.br.
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ABSTRACT
The present article aims to analyze the pottery of the Waurá indigenous tribe in
order to develop a surface design. This tribe mostly inhabits the vicinity of the
right bank of the lower Batovi River, belonging to the Xingu Indigenous Park,
north of the State of Mato Grosso. Holders of advanced technologies are
recognized for their pottery art, being considered the most elaborate class of
artifacts of objects of the Upper Xingu, many of these utensils are specially
made for their rituals, where they are covered with careful paintings, ensuring
the refinement required in their ceremonials . From the data generated in the
research, a capsule collection will be developed, composed of three party
fashion looks, where a look will be made with reference to the briefing of the
collection, where alternatives were generated for the construction of the same.
1 INTRODUÇÃO
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Denominação dada ao indígena americano, para distingui-lo do asiático.
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cerâmica indígena da tribo Waurá, visando o desenvolvimento de uma coleção
de moda para a marca Balmain, apresentando uma peça finalizada inspirado
na arte gráfica Waurá, encontrada em sua cerâmica. Como objetivos
específicos, propôs-se verificar a origem e localização dos Waurá; investigar o
grafismo indígena e a arte oleira da tribo Waurá e posteriormente, desenvolver
a coleção de moda – com uma peça finalizada – baseada no estudo realizado.
Para contribuir no entendimento da arte estética da tribo Waurá para o
desenvolvimento de uma coleção de moda tendo o design de superfície como
foco principal. Serão definidos alguns conceitos por meio de breve pesquisa
bibliográfica. Segundo Prodanov e Freitas (2013), a metodologia fundamenta-
se na compreensão, estudo e análise dos vários processos e métodos para a
elaboração de uma pesquisa, visando à solução de um problema através de
uma coleta de informações, sendo “elaborada a partir de materiais já
publicados, constituído principalmente de livros, revistas, publicações em
periódico, artigos científicos, jornais, monografias, dissertações, internet [...]”
(PRODANOV; FREITAS, 2013, p.54).
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Waurá, no alto Xingu, é bem antiga, sendo que pesquisas arqueológicas
recentes apontam a chegada de seus ancestrais à região por volta do século IX
d.C. Já estudos etno-históricos indicam que sua civilização supostamente teve
início no século XVIII.
Os Waurá são índios de língua Arawak que habitam o Alto Xingu. Os
primeiros relatos da tribo foram feitos nos anos de 1884 e 1887, quando
expedições foram feitas por Karl von den Steinen com o apoio do governo
brasileiro. A família Aruaque, é composta por 10 etnias, todas ocupantes de
uma mesma área geográfica que, pela frequência de casamentos entre tribos
diferentes, resultou em um padrão cultural muito similar, denominado de
Cultura do Alto Xingu, demonstrado na estrutura de suas aldeias e das casas,
dieta alimentar, crenças, festas, cerimônias, pinturas e adornos corporais
(PAGLIARO; MENDAÑA; RODRIGUES; BARUZZI).
O estilo de vida, datado no ano de 2001 refere-se que os Waurá viviam
em três aldeias, as margens dos rios Batovi e Steinen do qual tiram seus
pescados. As aldeias são compostas por casas que estão distribuídas ao redor
de um pátio central, tendo a casa de flautas (kuwakuho) no centro, sendo o
local onde os homens de reúnem para tratar os negócios do dia. A maior
aldeia, denominada Piyulaga, tinha uma população de 268 pessoas em 2001.
Atualmente o número de Waurás é de 529 indivíduos (SIASI/SESAI 2012).
Entre os Waurá as casas são autossuficientes na produção doméstica, onde
cada adulto tem uma roça cultivada por ele e seus filhos solteiros4. Os Waurá
são divididos em grupos que servem o anumaw – os donos do poder do ritual –
são indivíduos de status e de poder tanto com o sobrenatural quanto no ritual
na comunidade. Destaca-se que estes poderes são passados para seus
descendentes após seus atos fúnebres.
Para Van Velthem (2010), os artefatos indígenas são apreciados pela
sociedade contemporânea, mas somente como artefato classificado com
artesanato, pois em sua grande maioria é comercializado em lojas de suvenir
ou de artigos para decoração, tornando a arte indígena desprovida de autoria
individual. Alguns detalhes são reconhecidos como de maior estima perante a
sociedade contemporânea, como as plumas e os objetos de rituais, pois
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www.brasil.antropos.org.uk
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representam um maior impacto visual. A arte indígena transcende a barreira de
ser apenas decorativa, sua representatividade é revestida de expressivas
particularidades que constituem, em sua grande parte, como veículo de
transmissão de percepções de cunho social ou cosmológico, correspondendo
aos objetos celestes utilizados em seus rituais. Possuem funções utilitárias e
representativas, sendo veículo transmissor de conhecimento e de valores
sociais.
Na Figura 1 é possível observar os grafismos indígenas representados
na pintura corporal Waurá feminina e masculina. Van Velthem (2010) afirma
que as expressões artísticas indígenas são vistas com certa estranheza pelo
povo da cidade, pois não correspondem a um critério gráfico predominante a
uma tribo. Isso se deve ao fato de as diversificadas manifestações artísticas
dos índios são sempre mencionadas, no singular, sendo denominada “arte
indígena”, sendo que se deve diferenciar a origem estética de um artefato ou
grafismo corporal, levando em consideração sua localização, materiais,
palavras, hábitos e crenças. A referência solicita sempre uma menção à
pluralidade, referindo-se a “artes indígenas” para a exata denominação.
Figura 1 - Trajes e pintura corporal Waurá
Fonte: indigenasbrasileiros.blogspot.com.br
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Para Vidal (1976) a decoração do corpo, através de estampas,
representa na sociedade indígena uma ligação, uma manifestação estética e
serve também como veículo de comunicação entre grupos, com o meio
ambiente e com o sobrenatural.
Quando se pensa em estamparia no contexto indígena, o que vem em
mente primeiramente são artefatos táteis, não têxteis, esquecendo que a
técnica aplicada a tecidos é praticada desde os tempos antigos. Para
Ruthschilling (2008) as civilizações antigas foram responsáveis por ampliar o
desenvolvimento do design de superfície nos artefatos têxteis, devido ao seu
gosto pela decoração de superfícies. Destaca-se portanto, a tecelagem como
um dos pilares essenciais na história do design de superfície.
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atribuir qualidades a superfície. Desta maneira a superfície abandona a função
de ser apenas um revestimento ou aplicação, para compor o próprio objeto.
Para Barcelos Neto (2005) foi a partir do final do século XIX, que teve
início o colecionamento etnográfico no Alto Xingu, onde a arte oleira Waurá tem
sido a categoria de artefatos mais coletada. A cerâmica Waurá corresponde a
mais elaborada classe de objetos do Alto Xingu, com uma vasta gama de
opções, variando desde minúsculas panelinhas, do tamanho da palma da mão,
chamadas de tsaktsaktãitsãi, até panelas kamalupo weke com 115cm de
diâmetros, conforme mostra a Figura 2. Estas são destinadas a rituais, sendo
recobertas com refinadas camadas de pintura. Tais ações afirmam a estética e
requinte que tais objetos devem ter em tais contextos.
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de seus artefatos cerâmicos, inclusive a falta de contato com uma das argilas
mais desejadas por eles, pois:
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Que tem forma de animal.
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plumaria e tecelagem, sendo muito apreciado nas grandes cidades e museus.
Os artefatos cerâmicos Waurá ultrapassam a classificação de ser meramente
um utensilio doméstico. Atualmente, grande parte da produção destina-se ao
comércio, suprindo uma necessidade do mercado indígena.
Para Barcelos e Neto (2005) o sistema gráfico da tribo Waurá, utilizado
em sua cerâmica, está composto a partir da combinação de cinco reproduções
visuais, sendo elas: pontos, círculos, quadriláteros (losangos, quadrados,
retângulos e trapézio), linhas (retas e curvas), triângulos (retângulos e
isósceles). O sistema gráfico da arte Waurá é criado a partir das combinações
das reproduções visuais mencionadas, determinando a formação de um motivo
(Barcelos e Neto, 2005). Na Figura 4 é possível visualizar os 13 principais
motivos gráficos dos Waurá, oriundos de um total de 45 motivos. Desta seleção
destaca-se o Kulupienê como um dos mais utilizados, sendo visto em diversas
superfícies.
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gigantesco universo de expressões visuais, capaz de romper as barreiras do
espaço e do tempo.
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Figura 5 – Rainha Sirikit e Brigitte Bardot usando Balmain.
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Escola privada francesa de moda. Foi fundada em Paris em 1841.
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Figura 6 – Primeira Coleção de Olivier Rousteing.
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Marca que tem em seus desfiles um dos maiores públicos de celebridades em sua plateia.
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É uma personalidade de televisão, socialite, empresária, modelo, produtora, estilista e
apresentadora americana.
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Rapper, produtor musical e estilista americano. West ficou famoso como produtor de grandes
estrelas da música como Jay-Z e Alicia Keys.
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Figura 7 – Parceria Balmain x H&M.
Segundo Aaker (2007), uma marca precisa ter uma grande organização
e larga penetração comercial, fatores estes bem consolidados pela marca
Balmain e deu diretor criativo. Reconhecida por sua opulência e riqueza, a
marca é sinônimo de brilho, aplicações, tachas com cintura e ombros
marcados, sendo estas características que elevam a Balmain como uma das
maiores marcas da atualidade.
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Segundo Frings (2009), é essencial conservar a identidade da marca
nas coleções para fidelizar seu público, é importante que a identidade seja
mantida, criando assim um vínculo, mas não esquecendo de se renovar,
surpreendendo a cada coleção. Ao analisar a marca Balmain foi possível
perceber grande destaque para o design de superfície têxtil, utilizando de
elementos recorrentes, como a aplicação de paetês, tachas, silhuetas
ajustadas, ombros marcados, drapeados e tecidos brilhosos.
Na Figura 8 é apresentado o Moodboard 10 com os elementos de estilo
retirados dos looks apresentados pela marca Balmain. Como elementos de
estilo cabem destacar a cintura alta; a transparência, na coleção será utilizado
o efeito de lazer no tecido dando a impressão de que o tecido é uma pintura na
pele, o efeito laser vai ser utilizado tanto como recorte como efeito devorê que
consiste em deixar o tecido com relevo com a estampa desejada. O outro
elemento é o ombro marcado, detalhe presente nas peças Balmain.
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É um tipo de cartaz de projeto que pode ser composto de imagens, texto ou amostras de
objetos para ilustrar a composição da escolha do criador.
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como a estação a ser trabalhada originou-se a cartela de cores apresentada na
Figura 9, a identificação das cores é apresentada através do sistema
Pantone11. As cores da foram definidas a partir do moodboard.
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Pantone: é uma empresa fundada em 1962 em New Jersey, Estados Unidos. A Pantone Inc.
é famosa pela “Escala de Cores Pantone” (“Pantone Matching System” ou PMS), um sistema
de cor utilizado em uma variedade de indústrias especialmente a indústria gráfica, na indústria
têxtil, de tintas e plásticos.
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Figura 10 – Tecidos e Materiais.
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Figura 11 – Design de Superfície.
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Na Figura 13 é possível visualizar o colete desenvolvido com o efeito
laser devorê, dando ao tecido a textura de relevo com o design de superfície
inspirado na tribo Waurá. Com duas carreiras de botões de metal, somente
como enfeite.
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Figura 13 – Peça Desenvolvida Laser Corte.
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É um termo usado em economia para indicar quanto, do preço, do produto está acima do seu
custo de produção e distribuição.
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Tabela 1 – Planilha de Custos.
4 CONCLUSÃO
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de que os grafismos da tribo Waurá forneceram subsídios suficientes para
desenvolver uma proposta de coleção.
Para realização deste estudo a marca Balmain foi de extrema
importância visto que utilizam em suas coleções cores, estampas e bordados.
Tomando como base os motivos indígenas trabalhados no design de
superfície, a utilização do laser veio com a intenção de fazer com que a peça
fosse vestida, quase como uma pintura corporal indígena, deixando a pele
aparente ou dando ao tecido relevos, conferindo uma ideia de sobreposição e
na aplicação de pedras e penas, requinte este já consagrado pela marca, para
isto optou-se em desenvolver duas peças, abrangendo todos os processos e
etapas de criação do processo criativo para a materialização das peças.
Por fim salienta-se que para a peça de moda feminina é imprescindível
considerar a estética da peça relacionada às tendências de moda, assim a
realização deste trabalho englobou as diversas etapas da produção têxtil, como
permitiu conhecer, entender e desenvolver na prática as etapas envolvidas
durante o curso. Cabe salientar que a cultura indígena foi usada apenas como
inspiração, e de que maneira alguma se utilizou com a intenção de apropriar-se
de uma cultura tão rica e pouco reconhecida por nós brasileiros.
REFERÊNCIAS
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JONES, Sue Jenkyn. Fashion Design: Manual do Estilista. Novo Hamburgo.
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