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comercio

Publicado em NOVA ESCOLA 02 de Setembro | 2017

Arte

Arte e Comércio
professor

Objetivo(s)

- Conhecer as relações entre Arte e mercado em diferentes momentos da


História da Arte.
- Entender os valores estéticos e subjetivos das obras de Arte.

Conteúdo(s)

- Mercado de Arte.
- Financiamento da Arte ao longo da História.
- História da Arte.

Ano(s)

Tempo estimado

Duas aulas.

Material necessário

Vídeo documentário sobre o assunto

Desenvolvimento

1ª etapa

Introdução
A reportagem "O mercado virou curador" apresenta a Feira Internacional de
Arte de São Paulo, a SP-Arte, como um marco transformador da cena artística
no país e uma grande exposição de arte moderna e contemporânea. A revista
mostra ainda um pouco dos bastidores do evento, as negociações, a logística e
os investimentos envolvidos. Este é um bom ponto de partida para mostrar a
importância deste empreendimento, estudar o mercado de arte e entender
como o valor das obras é determinado.

Inicie dizendo aos alunos que nas próximas aulas eles vão estudar o mercado
de obras de arte. Questione como acham que o preço de um quadro, de uma
escultura ou de qualquer outra obra artística, é determinado. Fique atento
para o que já conhecem e para os equívocos mais comuns. Ao longo da
exposição, deixe espaço para que tirem dúvidas e façam comentários.

Explique o sistema de circulação de obras na história e as mudanças na


autonomia do artista, conforme a figura que financiava seu trabalho. Diga que
o mercado de arte pode ser considerado tão remoto quanto à própria Arte.
Antes do estabelecimento da concepção liberal de mercado, guiado pelas leis
da oferta e da procura, homens livres já trocavam seus produtos ou
mercadorias na esfera pública. Com isso, o artista já recebia e tinha um público
para seu trabalho.

Diga que, por muito tempo, a produção de obras esteve ligada a instituições
importantes. Na Grécia, a Cidade-Estado monopolizava a demanda de obras.
Durante o Império Romano, tanto a corte quanto particulares financiavam a
produção artística. A Igreja Católica dominou quase totalmente as encomendas
na Idade Média e até o século 17 permaneceu como um dos mais importantes
financiadores.

Na última metade da Idade Média, muitos membros ricos da burguesia, a nova


classe ascendente, demonstravam prestígio e poder pagando a produção de
músicos, pintores, arquitetos, escultores e escritores em uma prática
conhecida como mecenato. A atividade era impulsionada pelo
desenvolvimento das cidades, quando muitos edifícios precisavam ser
projetados e decorados para a camada social que crescia. O pleno
desenvolvimento desta situação ocorreu no Renascimento, quando o mercado
de arte se ampliou. Os lares de quem tinha mais dinheiro, assim como os
castelos da nobreza - que nesta época mantinha seu prestígio com base no
nome e na linhagem, não necessariamente na riqueza material - começaram a
ser decorados com pinturas e esculturas. Aqui começa a se delinear outra
figura importante: o connoisseur, ou colecionador. Diferentemente de quem
encomenda, ele escolhe comprar o que lhe é oferecido. Com isso, a autonomia
na produção do artista muda e ele passa a trabalhar conforme sua clientela.

No período Barraco, ao lado do mecenato eclesiástico, muito presente na


Itália, a monarquia absolutista na França tornou-se promotora e consumidora
de obras, inaugurando um modelo de produção via Estado que até então não
existia. A fundação da Academia Real de Belas Artes, no século 17, marca a
iniciativa do governo de se tornar intermediário das relações entre público e
artista. A instituição tornou-se responsável por garantir o aprendizado, a
circulação das obras e principalmente, a hegemonia dos estilos.
Para continuar explicando a circulação das obras, diga que na Holanda
protestante surgiu o comércio de Arte de modo semelhante ao que temos
hoje. Lá, a burguesia estava no centro do poder e investia em artigos de
mobiliário e decoração, sobretudo quadros. Mesmo quem não tinha dinheiro
para comprar participava do comércio, pois os artistas vendiam seus trabalhos
em feiras, através dos merchands. Neste momento, a História da Arte ocidental
vislumbra uma crise por causa do excedente de artistas e da superprodução. O
"boom" deste mercado, que não era regulamentado por intermediários como
o Estado, leva a uma situação de concorrência que atinge talentos importantes
do período. Observa-se que para um artista ser bem sucedido vários fatores
são levados em conta: a qualidade das obras, a mera especulação do mercado
e as mudanças no gosto de quem compra.

Um bom exemplo é Rembrandt (1606 - 1669), que passou pelas consequências


desta nova ordem no século 18. A relação conflituosa entre o artista e o
mercado alcançou um novo patamar no século seguinte, quando o capitalismo
virou o sistema econômico dominante e a burguesia tomou o poder em vários
lugares do mundo. Fica mais claro aí que o valor artístico de uma obra e o seu
valor de mercado não são a mesma coisa. Os pintores impressionistas, por
exemplo, foram negligenciados por seus contemporâneos e durante todo o
século 20 foram alvo de especulações no mercado.

Hoje o artista é um profissional livre, mas que produz uma mercadoria e


precisa, como os demais, sobreviver. A estrutura de compra e venda de obras
foi incrementada com instâncias que mediam e orientam o comprador.
Atualmente, galerias, revistas especializadas, a crítica de arte, os curadores e os
museus são elementos que atuam entre público e artista. O mercado de arte,
apesar de suas especificidades, está ligado à economia como um todo. Na
prática, isso significa que há momentos vulneráveis, como em outros setores.
Apesar disso, ele se mantêm como fundamental para a circulação de obras ao
redor do mundo.
Apresente algumas obras aos alunos e oriente-os a perceber qual o valor que
tinha na época de sua produção e hoje:

Comece pela imagem da esquerda, A incredulidade de São Tomé, de


Caravaggio (1601/1602) . Comente a prevalência dos temas religiosos, devido à
situação política, frente à Reforma Protestante. Cite que o Naturalismo afasta o
tema da espiritualidade, apresentando uma verdade carnal. Apóstolos,
historicamente representados como santos, aqui se assemelham a homens
comuns. Segundo o pintor, eram trabalhadores, assim como seus modelos.
Podemos afirmar que esta autonomia em sua representação afastou suas
obras do mercado. Caravaggio teve obras recusadas, foi perseguido por
grupos de artistas e religiosos, mas também teve defensores em ambos os
campos e hoje é uma referência na pintura.

Leia mais A inspiração vive solta no ar ou mora na memória?

Em contrapartida, projete Mulher de azul lendo uma carta (1662-1664) de


Vermeer. O artista trabalhava por encomendas particulares nos Países Baixos,
onde o protestantismo era a religião vigente. Nesta imagem vemos uma
mulher lendo, indício da sociedade letrada anunciada pela Reforma.Conte aos
alunos que o Impressionismo não estava ligado a nenhuma ideologia ou
política. O interesse comum era a própria pintura. Os artistas queriam fazer
algo completamente diferente da pintura acadêmica. Havia singularidades em
suas técnicas. Em 1874, o grupo fez sua primeira exposição, o "O Salão dos
independentes", historicamente conhecido como "Salão dos Recusados". O
desenvolvimento da fotografia e a pesquisa ótica tornavam o ambiente
favorável às inovações do grupo, por outro lado despertou o interesse da
burguesia, acostumada a técnicas de representação mais naturalistas, que não
aprovou o trabalho do grupo, e, em busca de retratos, recorria aos fotógrafos.

2ª etapa

Comece explicando que há variações nos critérios de avaliação das obras


produzidas em momentos históricos diferentes. Algumas técnicas podem estar
diretamente associadas à sua época, dadas as condições sociais ou
tecnológicas.Muitas vezes os alunos querem saber a relação entre o nome do
artista e o valor de suas obras. Apresente Cézanne, suas relações com o
Cubismo e com o Grupo dos impressionistas. Mostre também as
particularidades de sua pesquisa e sua influência sobre outros artistas e
explique porque é tão conceituado. Recentemente, uma aquarela dos estudos
que precederam sua série "Os jogadores de cartas" (1980-02), foi vendida por
19,12 milhões de dólares, sendo considerada uma das obras de arte mais caras
da história dos leilões.

Leia mais Com Cézanne, o sentimento vence a forma

Muitos processos da arte contemporânea demandam equipe, logística e até


mesmo matéria prima de alto valor, enquanto outros parecem ser inegociáveis.
Projete imagens de trabalho dos artistas Christo e sua já finada companheira
Jeanne-Claude e evidencie o uso da arte como empreendimento. A dupla tinha
a colaboração de voluntários e sem patrocínios ou investimento público,
capitalizavam recursos vendendo esboços dos projetos.

Por fim, apresente o documentário Cildo, de Gustavo Rosa de Moura, Brasil,


2008. O filme aborda a trajetória do artista Cildo Meireles, mostra valores
subjetivos de sua obra e o reconhecimento internacional de seu trabalho. Se o
tempo for insuficiente, escolha trechos do filme que está disponível na
internet, como a exposição na Tate Modern e permita pausas para
comentários dos alunos.

3ª etapa

Realize um debate com a classe para que juntos estabeleçam critérios para a
avaliação de obras de arte. Divida a classe em grupos e criem um sistema de
classificação, que pode ser feito por estrelas. Cada grupo deve escolher uma
obra de arte e pesquisá-la para avaliação, considerando, a importância do
artista, o caráter subjetivo, a importância histórica e a técnica. Para ajudar a
turma, releia parte da matéria de Bravo! que trata da forma como as galerias
expõem e atraem interesse para suas obras.

4ª etapa

Os grupos deverão trazer suas pesquisas, que serão avaliadas em seu


conteúdo. Para a apresentação da defesa do valor das obras escolhidas, monte
um pequeno stand em sala de aula. Cada grupo, durante sua apresentação,
poderá usar o stand como quiser.
É importante que o público - isto é, o resto da turma -, participe da classificação
final de cada trabalho. Você pode ajudá-los a estabelecer relações entre as
obras escolhidas e, juntos, chegarem a uma avaliação final de cada uma.

Avaliação

Durante a exposição do conteúdo, deixe espaço para as dúvidas e comentários


dos alunos. Observe se compreenderam que os critérios do mercado para
valorar as obras de Arte mudam conforme a época e que o valor artístico é
diferente do valor financeiro. Avalie estes pontos também durante a atividade
de classificação das peças e note se reconheceram os valores estéticos e
subjetivos das obras.

Créditos: Jaqueline Jacques Formação: Professora de Arte do Colégio Marista


Arquidiocesano

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