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22/03/2018 Ernesto Che Guevara: Carta de Despedida de Che a Fidel

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Carta de Despedida de Che a


Fidel
Ernesto 'Che' Guevara

1965

Origem: Carta lida por Fidel Castro em Outubro de 1965


Fonte: Gentilmente cedido pela primeiralinha.org.
HTML por José Braz para o Marxists Internet Archive

A Fidel Castro

Havana. "Ano da Agricultura"

Fidel:

Neste momento recordo muitas cousas: quando te conhecim em casa da


Maria Antónia, quando me propugeche acompanhar-te, toda a tensom dos
preparativos.

Um dia passárom perguntando a quem se devia avisar em caso de morte, e a


possibilidade real do facto chocou-nos a todos. Depois soubemos que era certo,
que numha revoluçom se triunfa ou se morre, se é verdadeira, e muitos
companheiros ficárom ao longo do caminho para a vitória.

Hoje todo tem um tom menos dramático porque estamos mais maduros, mas
o facto repete-se. Sinto que cumprim a minha parte do dever que me ligava à
revoluçom Cubana no seu território e despido-me de ti, dos companheiros, do
teu povo, que é já o meu.

Renuncio formalmente aos meus cargos na Direcçom do Partido, ao meu


posto de ministro, ao meu grau de comandante, à minha condiçom de cubano.
Nada legal me liga a Cuba, só laços de outra classe, que nom se podem partir
como as nomeaçons.

Ao rever a minha vida passada, creio ter trabalhado com suficiente


honestidade e dedicaçom para consolidar o triunfo revolucionário. O meu único
erro com algumha gravidade foi nom ter confiado mais em ti desde os primeiros
momentos da Sierra Maestra, e nom ter compreendido com celeridade suficiente
as tuas qualidades de dirigente e de revolucionário.

Vivim dias magníficos e sentim ao teu lado o orgulho de pertencer ao nosso


povo nos dias luminosos e tristes da Crise das Caraíbas. Poucas vezes brilhou
mais alto um estadista que nesses dias; orgulho-me também de te ter seguido
https://www.marxists.org/portugues/guevara/1965/10/carta_ga.htm 1/2
22/03/2018 Ernesto Che Guevara: Carta de Despedida de Che a Fidel

sem vacilar, identificado com a tua maneira de pensar e de ver e apreciar os


perigos e os princípios.

Outras serras do mundo reclamam o concurso dos meus modestos esforços.


Eu podo fazer o que te está negado pola tua responsabilidade à frente de Cuba e
chegou a hora de separar-nos.

Saiba-se que o fago com umha mescla de alegria e dor: aqui deixo o mais
puro das minhas esperanças de construtor e o mais querido entre os meus seres
queridos, e deixo um povo que me admitiu como um filho; isso lacera umha
parte do meu espíritu; aos novos campos de batalha levarei a fé que me
inculcache, o espírito revolucinário do meu povo, a sensaçom de cumprir com o
mais sagrado dos deveres: luitar contra o imperialismo onde quer que se
encontre; isto reconforta e cura amplamente qualquer afliçom.

Repito mais umha vez que liberto Cuba de qualquer responsabilidade, salvo a
que emana do seu exemplo; que se a hora definitiva me chega sob outros céus,
o meu último pensamento será para este povo e especialmente para ti; que che
digo obrigado polos teus ensinamentos e polo teu exemplo, ao que tentarei ser
fiel até as últimas conseqüências dos meus actos; que estivem sempre
identificado com a política externa da nossa Revoluçom, e continuo a estar; que
onde quer que me detenha sentirei a responsabilidade de ser revolucionário
cubano, e como tal actuarei; que nom deixo aos meus filhos e à minha mulher
nada material e nom me apena: alegra-me que assim seja. Que nada pido para
eles, pois o estado dará-lhes o suficiente para viver e educar-se.

Teria muitas cousas que dizer a ti e ao nosso povo, mas sinto que nom som
necessárias as palavras e nom podem expressar o que eu desejaria; nom vale a
pena deitar mais borrons no papel.

Até a vitória sempre. Pátria ou morte!

Abraça-te com todo o fervor revolucionário,

Che

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Inclusão 03/11/2004

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