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Antonio Magalhaes Gomes Filho A MoTivacio | DAS DECISOES PENAIS DITORA Ty y ar TTA Ye M TN) OBRAS DO AUTOR ‘As nislidades no process? penal. 7. ed. rev. € atual. Sao Paulo : p \ AN Co-autoria com Ada Pellegrin: Grinover € Antonio Scarance pe’ 200 a0 P: Perma Direito a prova no processo penal. Sio Paulo: RT, 1997 dey i o | Juizados especiais criminals. 3. ed. rev. € atual, Sio Paulo » Ry, yg | ‘Ada Pellegrini Grinover, Antonio Scarance Fer, landes @ ‘Co-autoria com Luiz. Flavio Gomes. Presungao de inocencia e prisdo cautelar. Si0 Paulo : Saraiva, ty (esgotado) . 191 ia Y prisién preventiva (Trad. Claudia Chaimoyig, Presuncidn de inocenc i r do Chile : Conosur, 1995. Guralnik), Santiago 1 penal. 3. ed. rev. e atual. Sa0 Paulo : RT, 2001. Recursos no process Pellegrini Grinover © Antonio Scarance Femandes | autoria com Ada Dados Internacionais de Catalogagio na Publicagio (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Goes Fla, Alo Maas motivaglo das decisdes is mi alhiies Gomes bd Revaa oe eae SS Filho. - Sao Paulo Bibliografia ISBN 85-203-2108-9 1. Direite That Panal 2. Julgamentos 3. Motivagto (Direito processual) 4 Processo re {indices para catélogo sistemético: 1. D enais : Motivagdo : Direito process 1 1. Decisis. i Cariruco VII REQUISITOS, VICIOS E_ARTIFICIOS DA MOTIVAGAO. A SANGAO DE NULIDADE SUMARIO: 1. Observagées introdutérias: 0 modo de motivar e 0 estilo da decisio — 2. Requisitos da motivagio: a integridade — 3. Segue: a dialeticidade — 4. Segue: a correcao — 5. Segue: a racionalidade interna — 6. Segue: a racionalidade externa (congruéncia normativa e congruéncia narrativa) ~ 7. Vicios da motivacdo: a inexisténcia de motivagao - 8. Segue: a motivacao incompleta — 9. Segue: a motivagdo “nao-dialética” ~ 10. Segue: a falta de correspondéncia com os dados existentes nos autos ~ 11, Segue: a contradigao interna — 12. Segue: a contradiga0 (incongruéncia normativa e incongruéncia narrativa) ~ 13. Artificios da motivagao: colocagao do problema ~ 14, Segue: a motivacao implicita — 15. Segue: a motivacao ad relationem — 16. A sango constitucional de nulidade. 1, Observagées introdutérias: 0 modo de motivar e o estilo da decisao Nos dois capitulos antecedentes foi apresentado um esbogo de como deve ser estruturado 0 discurso justificativo judicial, de sorte a atender as inicialmente tratadas funcdes de garantia desse mesmo discurso; cuidou-se, em resumo, de descrever aquilo que constitui o an da motivagao, a sua essén O desenvolvimento do tema requer que aquela exposigio seja 4gora complementada com algumas indicagdes sobre 0 modo da Motivacdo, ou seja, sobre os requisitos substanciais que deve apresen- tar 0 documento justificativo, igualmente para que sejam satisfeitas as mesmas exigéncias de garantia. 174 A MOTIVAGAO DAS DECISOES PENAIS Nao se trata, por isso, de examinar certas caracteristi do discurso judicial, relacionadas aos aspectos Tlsghtsticga for ou de estilo literario, que podem até apresentar alguma me Ambito do direito ¢ do processo (pense-se, por exemplo, a in concisio), mas que em geral se prestam mais a investigag as tradigdes juridicas € culturais de determinado pove: fi francés dos “attendus”, 0 estilo anglo-americano das * opinions”, e assim por diante.! Mtaticng ANCIa ny lareza ou $°€S Sobre ha 0 estity concurring O que aqui interessa, na verdade, € estabelecer os press de extensiio, adequagiio, corregao légica e a conespraaanee = justificativo com os dados processuais, de forma a routhiges ‘contrario a identificagiio dos eventuais vicios que possam ae : © atendimento daquelas funges de garantia que sio insepariveis iz dever de motivar. Em seguida, também serio objeto de eee questdes relacionadas ao reconhecimento da nulidade nos casos de infringéncia a tais requisitos do modo de motivar. 2. Requisitos da motivagao: a integridade Pela ordem de importancia, e diante da exigéncia constitucional, © primeiro requisito da motivacao 0 da integridade:? ao sublinhar que todas as decisdes serio fundamentadas, a Constituigao nao somente estabelece uma regra de extensao desse dever a qualquer tipo de provimento jurisdicional, mas igualmente prescreve que “todo” © provimento deve ser justificado?* Nao é dificil constatar, com efeito, que, salvo raras excegees prolagao de um provimento concreto exige do juiz uma at cit, ps 298-209 Bnnle i © Michele Taruffo, La motivazione.... i a Motivazione..., cit., p. 227. Sobre o estilo das decisdes, ¥- ig Pierre Minin, Le style des jugements (vocabulaire, constriction: formes juridiques), Paris, Librairies Techniques, 1978. para ica ® Na doutrina italiana, fala-se na completes - motivagao PE on poe requisito; embora literalmente 4 expressiio pu‘ less "32, iin» gués por completeza Ov completitude (Y- Aurélio, 2+ on su 440), € bem de ver que esses vocdbulos nl Penola 8 anes sendo preferfvel falar entio em imegridade, a tig inl ©) Nesse sentido, aludindo ao art. iit, § 1% 4a ‘Amodio, Motivazione... cit, Pe 194 suc bikers 0 st aint tat! | REQUISITOS, VICIOS E ARTIEICIOs ’ 175 decisdria complexa, em que se apresentam miltiplas questaes partiey les, que dever ser antes e separadamente solucionadas, de formes ce chegat i deciso sobre o tema controvertido, A vista disso, se je conceber uma fundamentacao em que nao estejam iit todas as Op¢Oes adotadas ao longo desse percurso deci de frustrar-se 0 imperativo constitucional, principale radas as fungdes de garantia que cons: as sOtio, sob pena nte se conside- gra, Assim, levando em conta o antes ressaltado vinculo entre motivagao ¢ decisiio,* © parametro para aferit-se 0 requisito de integridade é dado pelas exigéncias de justificacao que surgem a cada deliberaczo parcial, pois somente pode ser considerada completa a motivagao que cobre toda afrea decis6ria* Em outros termos, devem ser necessariamente objeto de justificagao todas os elementos estruturais de cada particular decistio, como a escolha € interpretagiio da norma, os diversos estigios do procedimento de verificagao dos fatos, a qualificacao juridica destes etc., bem como os criférios (juridicos, hermenéuticos, cognitivos, valorativos) que presidiram as escolhas do juiz em face de cada um desses compo- nentes estruturais do procedimento decisério.6 Segundo esse mesmo parametro, devem ser igualmente aferidos limites do discurso justificativo, uma vez que a integridade da motivagdo nao se confunde, em absoluto, com a sua prolixidade, seja pela excessiva utilizacdo de desnecessdrios argumentos puramente Teloricos, seja pela indicagio de fundamentos de duvidosa pertinéncia com 0 objeto da decisao: tanto uma motivacao pode ser sintética e, a0 mesmo tempo, completa, como outra pode ser superabundante © simultaneamente incompleta.’ Nesse sentido, < possivel dizer que a integridade supoe a adequa- oa do discurso justificativo aos temas que sao efetivamente objeto de lecisio.* ‘s, Ve: €specialmente Capitulo V, n. 3 3 Michele Massa, Motivazione..., cit., p- 4 Michele Taruffo, La motivazione.... cit., p. 450-451 — dem p, 52; Antonio Cristian, Profil evoluive del principio di modvazions nel nuovo. Processo penale, in Studi in onore di Giuliano Vassali- Sead © riforma del diritio ¢ delta procedura penale 1945-1990, Milano, 1991, v.2, p. 417. Michele Taruffo, Motivazione (II!) Motivazi a pel OW.. in Enciclopedia giuridica, Roma, Treccan\, 1990, p. 4 . ‘one della sentenza ~ dir. proc: A MOTIVAGAO DAS DECISORs PENAIS 3. Segue: a dialeticidade Mas nao é apenas nesse Primeiro sentido que a oo set completa: além de estar obrigado a justifies, tivaca ite Oi referidas escolhas parciais que condugen: a decigge alten i w empregados, cumpre ainda ao juiz demonstrar ue foram fey ttios | lB Consideragao todos os elementos potencialney tteis a deer tS retomando a adverténcia de Stara IS a decisis o ! retor ; Sartorius citada na epygrate desis 4, pd justificar & dizer que, con bal: sideradas todas as raze deciséo representa a melhy es or solucdio para o case's dispontyeis. Sendo fundamental 4 idéia implicagdes politicas, sociolégicas e heuristicas antes mencionadas, do procedimento nao Pode deixar de refletir-se no julgamento, até Porque as atividades dos Patticipantes do contraditério somente adquirem significacao se forem efetivamente consideradas m decis4o. Como sublinha Fazzalari, os seus resultados até podem ni0 Ser atendidos, mas jamais ignorados,"? Assim, se a decisio s6 pode surgir do exame dos elementos resultam dessas atividades contrapostas, que visam influenciar 0 convencimento do juiz, &€ evidente que 0 2 Justificativo dessa mesma decisio nao pode ser algo semelhant mondlogo, em que sio apresentados argumentos de aul Z : i uri Massimo Voglioti, La motivazione dei provvedimenti gi i lui del procedimento penate: forma e strutura, Enrico Mara ‘ UTET, 1996, p. 51; Aniello Nappi, Il controllo.» cits PE “Rolf Sartorius, The justification... cit., p. 178: “Elio Fazzalari, Istituzioni..., cit., p. 82. “ V. Capitulo I, n. 9. © Blio Fazzalari, Istituzioni.n, cit p» 83. REQUISITOS, VICIOS E ARTIF{cIOs go contrario, deve possuir um cardter dialdgico capaz de d real consideragao de todos os dados trazidos a discuss jnteressados nO provimento.'* lar conta da fio da causa pelos Dafa “centralidade” que assumem as provas ¢ alegacées fornecidas pelas partes quando se trata de examinar 0 requisito de inte gridade d justificagaio judicial: somente pode ser considerado motivado um provimento quando © juiz demonstre expressamente ter levado em conta todas essas contribuicées trazidas pelo contraditério la Isso vale especialmente no que respeita atividade probatéria realizada num processo de estrutura contradit6ria, pois o seu objetivo € exatamente fornecer elementos de confirmagao ou falsificagao das hipoteses rivais de reconstrugao dos fatos. Assim, nao basta que uma afirmagao seja confirmada por determinadas provas — é igualmente necessario submeté-ta a tentativas de falsificagao, ou seja, verificar se nao ha outras provas que a contradigam." Ignorar simplesmente as eventuais provas que poderiam levar a uma solugao diferente, deixando de dar as razGes pelas quais nao foram aceitas, significa excluir a propria atividade defensiva no julgamento.'* Tal exigéncia est muito clara na legislacio processual penal italiana de 1988, diante da previsao do art. 546, letra e, do CPP: “La Sentenza contiene: (...) ec) la concisa esposizione dei motivi di fatto e di diritto su cui la decisione é fondata, com l’indicazione delle prove Poste a base della decisione stessa e l’enunciazione delle ragioni per Je quali il giudice ritiene non attendibili le prove contrarie”. m_ semelhante Em outras legislagdes, como a nossa, mesmo sem semelf itucionais do Teferéncia, é inegével que, diante das gat antias eas : a0 Contradit6rio e da ampla defesa, a motivag4o nao sera comp! leta se 0 atendida essa mesma exigéncia de dialeticidade. 4 i ci Baldassare Pastore, °° Massimo Voglioti, La motivazione... cit, Pp» 66; Bal Giudizio..., cit., p. 263-264. i i, i 4 a posta a base di una © Francesco Mauro Iacoviello, La testimonianza audltiva re fa condanna all'ergastolo. Brevi viaggio all'interno delle Mr nal, Motivazione ¢ della logica di un processo di parti, Ce 33(2):1271, 1992. zione della decisione, © Gastino Foschini, Deduzioni della difesa ¢ motivazione Giurisprudenza aliana, 109:33-4, 1957- 178 A MOTIVACAO DAS DECIS6E5 PENAI ENAIS 4, Segue: a corregao Um terceiro requisito substancial da MOtivacao ¢, Sua corre¢do, ou seja, a correspondéncia entre os ele, = Mdecisies ¢ rados como base da decisio © aqueles efetivan eens nig: processo.'” © existentes tn ica mais formalist, yy ‘Opriamente um requisin a © a constatagao da merci. um aspecto Telacionady io vel de ser considerado ‘como, paz, portanto, de leva a0 como prevé a Constituiga, Ao contrario, e mesmo diante da dificuldade de estabelecer os precisos limites entre a mencionada corre¢do do discurso justificativo © oreexame das pr6prias questoes decididas pelo juiz ou pelo tribunal, nao € possivel deixar de constatar que a correlagdo entre os dados existentes no processo e a motivagdo € fundamental & propria validade desta, sobretudo se considerada como garantia de uma cognicio judicial efetiva.” parecer que tal exigéncia nao configura pr discurso justificativo judicial, uma vez qu nada correspondéncia representaria antes . mérito do provimento e, como tal, insusceti . Num primeiro momento e sob uma 6ti qualidade essencial da motivacio e ca reconhecimento da nulidade da decisio, A motivagao, adverte Iacoviello, é uma trama argumentativa que possui estrutura légica e também contetido empirico, pelo v y aceitagdo racional da conclusao nao depende apenas do oe légico dos argumentos, mas também da plausibilidade das pre que fundamentam o raciocinio.” contetido € que + é: ICESSO A ESSE a Assim, somente através do a¢ sica da motivasids © controle do raciocinio judicial, fungao ba (Massimo Voglioti, La motivazione..., cit., P- Si. ane “(® Essa dificuldade nao é apenas abstrata, mas tem ae a em sistemas como 0 italiano, em que o controle da a ee a motivagao tem levado a tendéncia aberta A reformulagao ex novo de decisdes. V-- Michele Taruffo, Il vertice..., city P- 140-141. “ V. Capitulo IV, n. 2. ©) Francesco Mauro Iacoviello, invalide, prove travisate, prove ignoral 4, 1994. ssazione 5 Icontrollo della cassazion te, Cassazione —- ae REQUISITOS, VicIOs E ARTIFICIOS cmirtis = Pouco importa que a exposigao de motivos seja uma obra-prima de coeréncia © fineza argumentativa se nao puder justificar a decisio, A luz dos dados que a determinaram.! Nio s¢ trata, ¢ evidente, de pretender que o juiz decida de determinado modo, que pareca ser 0 melhor do ponto de vista de quem aprecia a decisio ~ caso em que a desconformidade levaria a considerar a sentenga “mal fundamentada” e passtvel de reforma’® -, mas de exieir que na articulagio do raciocinio decisorio apenas sejam considerades elementos que efetivamente correspondam aos existentes no proceso Para exemplificar: se 0 juiz adota uma premissa normativa equivocada, ignora ou nega um fato pacificamente existente nos autos, Ui, 20 contrario, afirma fato inexistente, adota maxima de experiéncia que nao corresponde ao senso comum etc., nao ha simples erro de julgamento, passivel de correco pelas vias ordindrias de impugnacao, mas inadequacao da prépria cognicio, que, revelada pela motivagao, deve ensejar a renovacdo do julgamento. 5. Segue: a racionalidade interna O Ultimo, mas nem por isso menos importante, requisito da motivacdo € 0 de racionalidade (ou logicidade)™ A articulacdo das razées em um discurso coerente e convincente, como sublinha Taruffo, constitui a ossatura fundamental da motivacao, até porque nao basta que uma decisdo seja racional: & preciso também que essa racionalidade seja explicitada de modo a demonstrar a validade dos diversos argumentos justificativos e a coeréncia entre eles. Para tratar desse requisito é preciso antes esclarecer em que sentido (ou sentidos) deve ser entendida essa racionalidade, uma vez que somente no ambito da literatura que trata do raciocinio juridico sto correntes pelo menos cinco acepgoes do termo. Paolo Ferrua, Il sindicato di legittimita sul vizio di motivazione, in Studi sul | processo penale, Torino, Giappichelli, 1990, p. 120, ® “Athos Gusmio Cameiro, Sentenga mal fundamentada ¢ sentenga io fundamentada. Conceitos. Nulidade, Ajuris ~ Revista da Associagdo dos —“Suizesdo Rio Grande do Sul, 22(65):9, 1995- ©) Massimo Voglioti, La moti ® Michele Taruffo, Ragione:. 180 ‘A MOTIVAGAO DAS DECISOES PENals Assim, como registram Comanducci e Guastini, « der racionalidade, num primeiro sentido instrym, & DOssive ciéncias sociais, da economia e da ciéncia da desis © DrGprig thy dos meios aos fins, numa segunda acepcao, de et fone equa racionalidade & referida como fundamento dos ne oc tic, princfpios fundamentais de um sistema ético. Esse ee fins, oy dos indicar um conceito légico ou quase-légico, sits iy A desdobra em trés: em sentido forte, a racionalidade ps Wet relacao de nao-contradigao entre normas de um sistema ee de “dedutibilidade” entre normas (em conjugagio com cae factuais) e decisées; em sentido débil, racionalidade en “congruéncia” seja entre normas (ou entre principios e normadjiliag mesmo sistema normativo, seja entre motivacdo (normas aplicadas mais enunciados factuais) e decisdes; em sentido debilfssimo, racionalidade exprime a mera explicitagao de razdes ou motivos de uma decisao.* Nao interessam aqui nem 0 conceito instrumental, nemo aaxioldgico mencionados, até porque nessas acepgoes a racionalidade no constitu: requisito da motivagao, ainda que possa ser importante a valoragio da qualidade ou justiga de uma decisio judicial, 0 que, ence processual, diz respeito a andlise sobre 0 mérito do provil Também nao parece ter qualquer utilidade 20 nosso apontado conceito légico de racionalidade, em sentido 4 como simples explicitagdo dos motivos de uma deci nada acrescenta ao exame dos requisitos da motivagao} que a indicagao de singelas raz6es, condi¢io minima falar em motivagio é que tais razoes sejam validas ou ® de justificar a decisio. Diante disso, e partindo da classificagao proposti e Guastini, é possfvel indicar como requisitos da ja examinados, uma racionalidade \6gica, © caracteristica de um discurso sem contradigbes, l6gica menos forte (ou débil), entendida nao s6 motivacao ¢ decisio (de que falam os mesmost M 5 Paolo Comanducei ¢ Ricardo Guastini, BM penale, in Diritto penale, controll di rast pe (org.), Padova, Cedam, / REQUISITOS, VICIOS E ARTIFICIOs Ss 181 mente, como se vera, como o “fazer se, ntido” ‘ ormativos ¢ factuais.” 0" dos proprios enunciados Trata-se, nos dois casos, e como sublinh racionalidade que resulta da prépria argumentacao apresentada pa justificar a decisao: no primeiro, fala-se em uma racionalidade tnt ; ae para indicar somente a auséncia de contradicoes, mas taimbérn as a decisao é corretamente inferida das Proprias premissas; no se sah o que interessa € a correeao da forma pela qual foram adouale og premissas de que se extrai a conclusio (racionalidade externa)” ‘a Wroblewski, de uma O requisito de racionalidade interna (ou l6gica, em sentido forte) consiste, em primeiro lugar, na ndo contradigdo entre as varias proposicOes feitas ao longo do discurso justificativo, pois esta é a forma mais elementar de racionalidade légica; nesse sentido, como anota Taruffo, ¢ possfvel falar em um prinefpio de coeréncia contextual, segundo o qual a motivagao, globalmente, niio deve conter argumentos ou afirmagées incompativeis ou contraditérias a respeito do mesmo objeto, ainda se apresentadas em lugares distintos do discurso.* Em segundo lugar, a racionalidade interna relaciona-se a iden- tificagdo do raciocinio judicial com o silogismo, que, embora seja um €squema insuficiente para reproduzir a complexa atividade deciséria fealizada concretamente pelos juizes, nao deixa de ter um valor €nguanto instrumento apto a tornar objetivamente verificdvel a corre- g40 de uma inferéncia feita a partir de premissas aceitas como certas.” Assim, se as premissas de direito e de fato sao incontroversas, nao Somente é possivel, mas sobretudo exigivel que na motivagdo venham €xpostos, com rigor légico, os nexos entre tais premissas eaconclusio. E isso vale nao apenas no que diz respeito ao silogismo final, mas também as conclusdes parciais que vaio sendo adotadas a respeito de cada um dos pontos da decisao.” 2 @ eH 2 V.., infra, Capitulo VU, n. 6. Jerzy Wroblewski, Justification, cit., p. 277. Michele Taruffo, La motivazione.. p. 272. ¢ 566. | tT Ce Giuseppe Gianzi, Natura ¢ controllo del vizio di maine Penali, Rivista Processuale Penale, 1960, p, 500-501. csi Girolamo Bellavista, Contributo allo studio della patlogia dela motive (e della sentenza penale, Ml Tommaso Natale ~ Bollenino a we Dirito Processuale Penale dell"Universita di Paterma, 1975. Py 1 00, 182 M“MSTIVACAO DAS) De cies DES PENAlg i, o externa (Congruéne; } ‘Ncia Normari Ya @ On. externo, a yr 6. Segue: a racionalidade &ruéncia narrativa) Do ponto de yj ta a apresentada para j conalidade da bya tificar a decisa im J ATEumen, psig partir das regras rigidas da légica orale rau Ser afer : Yes "e te de uma atividade de escolha entre ar acne 4 om eae ‘ ; justificadas; isso nao significa, entret of M stf AnlO, que essa eseo) Dee te iracional, mas sim que deve atender a Outros Pardmetrog de . if it Tacionali Como ressaltado,3! a constataca | Fi eX é ¢ . latagdo de que i . ; gta Ul insuficiente Para fornecer um modelo a see ett | oe io tt decisao judicial, especialmente nos chamados hard cases, feat s 68 cido a aceitacao pela dogmitica juridica de e ee ‘squemas de Tacionalidade bi menos rigidos, como o da chamada logica fuzzy, em ue a validade dus st Oe: tegras de inferéncia é mais aproximativa do que exata, ; test 2 3 dec Dai a apropriada formulagdo de MacCormick dos conceitos de sss ss congruéncia normativa e congruéncia narrativa®® como critétis de aferigéo da racionalidade externa do discurso juridico, Segundo esse autor, nao basta que o raciocinio juridico nio contenha contradigGes, pois aquilo que se diz pode nao conter nenhurs incoeréncia interna mas, apesar disso, nao “fazer sentido’ a todo. No contexto da justificacao juridica, isso vale tanto pars quest6es de direito, quando se discute o-que ae normativa, como no ambito das inferéncias referents a se trata da chamada congruéncia narrativa. reo’ ce cia Para ilustrar 0 que entende por congruén' MacCormick propée como exemplo uma lei que estabe tes limites de velocidade para automéveis, e) ¥, Capitulo V, n. 7. ot riginal inglés, Mac! ‘ Gh oe a ido literalmente como ee de corregao do ponto de vistt islear oh ruéncia, adotada nas obras ee Het Sones expressa a idéia desenvolvi sy @» Neil MacCormick, La cad ere run corso di analisi aN a ea Cedam, 1994, P- 115. REQUISITOS, ViCIOS © ARTIECIos 183 ssa regra nao faria qualquer Sentido, pois nao existe ne, comum cuja consecugao seja funcional a emanagi raeitainee além disso, a alvitrada lei subverteria Outros Valores relevantes sistema juridico, como a igualdade ¢ a justiga no tebnatinereg proptictarios de automéveis. Assim, conclui que a conaradh cape normas € questao de seu “fazer sentido”, em Virtude de sie i racionalmente correlatas, instrumental ou intrinsecamente. ong ie conjunto, ou para a realizagao de um ou mais valores camuiie to aa mM valor io de tal normativa; : Em seguida, estendendo esse mesmo raciocinio a justificagao das decisdes judiciais que interpretam as disposigdes emanadas do legis- lador, MacCormick cita um exemplo da jurisprudéncia inglesa, 0 caso Sweet v. Parsley, em que se tratava de interpretar uma disposigao do Dangerous Drugs Act de 1965: Miss Sweet fora condenada em primeira e segunda instancias, com base numa disposigao da referida lei, simplesmente por haver sublocado um quarto a pessoas que teriam ali fumado maconha; nas duas decisées, mesmo sendo admitido que a ré nao tinha nenhum conhecimento disso, concluiram os juizes que tal disposigao estabelecia validamente uma hipstese de responsabilidade objetiva; numa terceira decisio, entretanto, a Camara dos Lords repeliu ¢ssa interpretagao, afirmando, em sintese e dentre outros argumentos, que, ao editar a lei, o Parlamento “no pode ter querido um resultado {Zo injusto”, ou seja, nao poderia ter legislado de forma incongruente.® A partir desse exemplo, mostra o autor que na tarefa de aplicagio do direito a mencionada exigéncia de congruéncia apresenta-se sob um 4specto duplo: primeiro, ao selecionar as normas ¢ precedentes rele- Vantes para a decisao, € preciso que o juiz verifique se os valores & Principios do ordenamento conferem um sentido as regras relevantes Para a soluedo do caso; depois, quando estas tiltimas sio utilizadas es Justificar a decisio, tem-se na verdade uma aplicagao analégica Tesmos principios ¢ valores, e, portanto, uma decisio ean ieee Tela¢do 40 conjunto do ordenamento. Isso vale especialment ti siluacées em que cabe ao juiz interpretar uma disposgo he Justificacao se apresenta como um argumento que atribui ao leg! “intengio de legislar de forma congruente.” o = ee P. 116-119. ; lem, p. 119-124. G6 Nem, p. 124, diretamente: le; esse fest justi Speuueons est justifica crencas e, portanto, justifica deiies ee 's relativas a fatos passados, uma vez que possitilita om i eligivel 0 mundo fenoménico; permite, enfim, uma visio raciral lo mundo em que os eventos que a percepgdo n revela st explicaveis.*® adhe O apelo a esse critério de congruén especialmente com a atividade probatoria sistema anglo-americano, em que cada u cer o jliri, com argumentos ret6rico-pers sibilidade da sua story, apresentada coma: fatos discutidos no processo. Daf as notadamente por Taruffo, enquanto cone a uma reconstrugao verdadeira tore, Giudizio-» @» Baldassare Pas! a congruell 8 Neil MacCormick, Lé dem, p- 128-130. ; i Taruffo, La prove REQUISITOS, VICIOS E ARTIFICIOs 185 No entanto, como reconhece o Proprio Taruffo, congy eongruéncia (coherence) isoladamente nao garanta 4 sverclade, ate : assergao, SC entendida como. justificagdo racional, pode constituir um bom critério de escolha entre versées diferentes dos fatos, desde jue gsigjam amparadas por provas.*! . + com este tiltimo sentido, de justificagao racion sobre os fatos, que a congruéncia narrativa deve ser requisito da motivagao, até porque no exame do discu nao se trata nem mesmo de constatar a idoneidade das provas nas quais esti assentada a decisio (0 que constitui matéria de mérito), mas yerificar se a versao adotada faz sentido em face dos fatos considerados provados pela mesma decisao. ‘al do julgamento entendida como Urso justificative 7. Vicios da motivacao: a inexisténcia de motivacio Areferéncia a esses requisitos da motivagio sugere e autoriza que, em seguida e correlativamente, sejam examinados os Possiveis vicios que ela pode apresentar. O primeiro e mais grave deles é, sem dtivida, a inexisténcia de um discurso ~ minimo que seja — em que o juiz enuncie as razdes do Provimento: a propria omissio grifica de qualquer documento sobre o iter do raciocinio decis6rio constitui a forma mais evidente de violagao do dever constitucional, pois revela que a decisiio nao foi fruto de uma Ponderada reflexfio sobre os elementos de fato e de direito disponiveis 0S autos, mas representa ato de pura vontade pessoal do seu autor. Tamanha é a aberragdo de uma semelhante desidia na justificagio um provimento que, em geral, tanto na doutrina como na pritica, ©ssa situacfo é considerada hipotética, no que se refere 4 sentenga civil ®U penal. Se for levado em conta, porém, que o dever de motivar se ende a todas as decisées, como prescreve textualmente a Constitui- $0. € bem de ver que A a pritica judiciaria mostra que esse = infrequiente, até mesmo em relagio a decisoes sobre & ate OULLOs direitos fundamentais. x oot” “ " Idem, p. 290, nota 205. No. mesmo sentido, Paolo -Comanducci a co tivatione iy cit p, 242, le Massa, Motivazione..., cit, p: 7+ 186 A MOTIVACAO DAS DECISOEs PENAIS. Mas € importante também observar, a en . Propésito, & motivagao nao ocorre somente na apontada sity, cue * faa wy omissao de um discurso Justificativo minimo; até de Tepercusse: a ? i sérias, porque enganosos, sao os casos em que, sob a “paréne; Or motivagao, sdo apresentados textos que nada dizem, ou até neal oe dolosamente ocultam as efetivas razdes de decidir, lesmg Sem pretender exaurir as hipsteses em que a MOtivacao ¢ a ; ee aparente (0 que equivale a dizer iexistente, pois falta é + Na reali um documento com fungao justificati va), basta lembrar aS as f6y pré-fabricadas, em que o juiz teproduz afirmacées Senéricas coma ae de contetido, que podem ser aplicadas de modo. indiscriminadg auma a série de situagdes, independentemente da efetiva andlise dos elementos si concretos que se apresentam no caso decidido (o modulo di Stampq 4 Teferido na literatura italiana), ou as bem conhecidas Motivacdeg os i Sy tautolégicas ou que envolvem uma peti¢do de Principio, muito comuns. aps Nos provimentos cautelares, nas quais s4o apresentadas falaciosament é elt como se fossem razdes, as préprias Palavras do legislador; nesses bas casos, como mostrou Tornaghi, o juiz toma Por base exatamente aquilo os ue Que deveria demonstrar.* i 8. Segue: a motivacao incompleta grdafica ou, ainda, quando um texto justificativo apenas aparente —, também 1 «| Ennio Amodio, Motivazione... “ ‘Assim, por exemplo, demonstrado 0 fato » cit., p. 241, quando © juiz afirma “das provas produzidas atribuido a0 acusado”; v. Girolamo B Sli hep 25; (Chandos) Colsees 6 Francesco P moduli per le misure cautelari preconfezionate, Critica del Dit 1994; no mesmo sentido, consignouo STF, relator Min, Sepilved “A melhor prova da auséncia de motivagao: lada, a pretexto de fundamenti-la, sirva, por! ualquer outro caso” (RTY 167;598). i na constataglio de mM a prisio preventi |, do texto do Hélio Toma, ugdo, total ou Pareial, do te: Ros Manual de processo penal (prisdo ¢ Aneiro, Freitas Bastos, 1963, v. 2, P. 619-620, PO oe ee ee REQUISITOS, VICIOS E ARTIFIcI05 187 deixar de ser caracterizados como casos de falta de eles em que, embora documentalmente exista um discursi atende Aquela exigéncia de integridade antes mencion: termos, @ motivagao 86 existe como tal quando nel, ‘os seus requisitos estruturais.47 motivacao 10, este naio ada. Em outros a Se encontram todos Considerada sobretudo a exigéncia de Correlagto entre motiva ai edecisio, é a estrutura de cada tipo de provimento €, ainda, 0 eA decisério existente NO processo que irdo indicar quais as questdes que devem ser necessariamente enfrentadas pelo juiz para chegar a conclu- so e que devem merecer, portanto, uma adequada justificagio a propésito das escolhas realizadas. . Assim, ainda que nao se possa estabelecer in abstracto um modelo estrutural de decisao e de motivacao que indique exaustivamente todos Qs pontos nos quais a justificagao é necesséria, num Primeiro esbogo é vidvel sugerir que tal estrutura é determinada pelos préprios textos legais que disciplinam 0 tema objeto da decisiio, com as possiveis ‘opedes que possam surgir a propésito da identificagao da norma, sua interpretacdo, ¢ sua ulterior utilizagao para qualificar os fatos da causa, pelos dados probat6rios existentes nos autos — ou que deveriam existir —, para o acertamento dos fatos e, principalmente, fanto na apreciacao da matéria de direito como na de fato, pelos pedidos # alegacdes das partes, Em conseqiiéncia, ser incompleta a motivagdo sempre que no seu fexto nao se apresentem justificadas as variadas escolhas que: sio Accessdrias para se chegar A conclusio, segundo as caracterfsticas €struturais do provimento examinado. Ou, como ressalta Michele Massa, falta motivagdo sempre que *sla ndo se coneretiza na integral justificagaio da decisio, seja pela a atencdo 40 momento justificativo relacionado a um ou mais pontos dispositive, seja pela auséncia de mengiio ao valor dos ee Probat6rios por meio dos quais se chegou a decisiio, ou some 2 a 08 dados fornecidos pela prova foram valorados de determinado a a % ainda, sobre as razdes do néo-atendimento de uma espec is Motivada postulacio das partes.* m™ Enni yinlo Amodio, Motivazione..., cit., p. 242. Michele Massa, Motivazione... cit p- 7 A MOTIVAGAO DAS DECISOES PENAIS 188 vacdio “nio-dialética” Segue: a motivagao 9, Segue: a tiltima referéneia traz A tona aspecto especig} ee io discurso justificativo, relacionado a an gridade do : “i049 ee ia de dialeticidade da motivacao, exigencia de dit a falta gg tes @POntads Como observado, a estrutura dialética do Processo nao pode eisar :refletirnojulgamento, na medida em que as atividades dos partcipgy de ref : aditério sé tém significado se forem efetivamente Consideradas err Dai a correspondente exigéneia de que a motiy, 20 possua na apaz de dar conta da real consideracao de fodog sa pelas partes. um caniter dialdgico, os dados trazidos 4 discussiio da io-atendimento desse imperativo constitui vicio de Particular de, pois o siléncio do discurso justificativo quanto as provas ¢ es das partes revela nao s6 a falta de uma adequada cognicao, sobretudo a violagao de um principio natural do processo, prudéncia nacional, nesse ponto, tem sido incisiva: a falta c20, na motivacao da sentenga, das alegagGes apresentadas =nte pela defesa caracteriza nulidade absoluta do ato decisério lacao da efetividade do contraditério.® Isso nao significa, entretanto, admitir que na motivagao deva “ssariamente uma resposta a todo e qualquer argumento Porque isso poderia estimular a apresentagao de alega- goes Yazias ou descabidas, com o tinico propésito de dificultar a tarefa Assim. € mais correto e a dialeticidade da motiv vam efetivamel te 4 di dequado entender que a exigéncia de ‘cdo diz respeito as atividades defensivas que nte provocar a decisio sobre uma questo pertinen- © que resultam, portanto, na ampliagio da atividade copnitiva judicial.3 supra, wn. 3 suscitaas ia 0 STE, “a decisio judicial deve pnallaae tadae of ie ae 997, bs defo do réu" (HC74.073-R3, rel, Min, Colin de Melia ie io 4/971), V. ainda Ada Pellegrini Grinoy. sip a P. 52-58 © 269.993 al Ma iho Vogliot, La monivagione, tchele Tartuffo, La motivazione, p. 63, ‘a City pe 492-433, i, REQUISITOS, VICIOS F ARTIFICIOs 189 4, “ ambém ¢ admisstvel nesse tema a motivagiio implicita, com as tes a jcoes que adiante serio mencionadas, sempre que 0 acolhimento entado da pretensio de uma das partes contiver, necessariamen- Be usitica;S0 da rejeigao de pedido formulado pelo adversario. tea ils 10, Segue: @ falta de correspondéncia com os dados existentes nos Song Sob aspecto diverso, ligado ao requisito da corre¢do, também ig deve ser considerada viciada a motivagio quando pelo seu texto se yerificar a nao-correspondéncia entre os elementos considerados como. base da decisio ¢ aqueles efetivamente existentes nos autos. Trata-se Bin, deum problema que diz respeito a relaco do discurso justificativo com ‘Pia, ‘conjunto de dados resultantes da instrugdo probatria e das dedugoes bt, das partes; em resumo, aqui 0 vicio ocorre Porque a motivagio indica mM que © juiz nio levou em conta tudo aquilo que deveria ter sido i afi ‘considerado. Como sublinhado supra, nao se trata nessa hipétese de realizar uma reapreciagdo sobre 0 conteiido da decisao, para verificar se a Proferida € a melhor solugdo para a causa, mas de constatar se na Segni¢o judicial foram examinados todos os elementos que cabia | Sonhecer para formular essa mesma decisiio; ou, ao contririo, se foram uiilizados como base da decisdo dados inexistentes ou que, de outro modo, ndo deveriam ter servido para a formulago do julgamento No dircito processual penal italiano anterior A reforma de 19: situagdes eram consideradas pela doutrina e p. pela Ge ncia da Cassazione como vicios de motivagao, sob o titulo don ae del fano, Configurava-se essa alteragdo ou distorcc. i mee me em duas situagdes: pela omissiio do juiz na in nt? de wma prova existente nos autos ou, ao contrario, pela Mehisio 0 racioetnig decisério de uma prova inexistente2* ‘ it a nn. 14, ? 1M controtio..,, cits, p. 1,261, es Ho Vita, tsetse im onda, 11 “tavisamento del fatto” * Bollentina delt'Istinuto di Diritto Proces » 5(1-3):269, 1977; G. Bellavista e G.’ 190 A MOTIVAGAO Das DECISOES PE SPENAIS O Cédigo atual, embora refor fung6es de garantia da motiva ¢ando e| a ™ diversas ge ¢40, Notadam a ae lente qua os fatos,*” procurou restringir esse exame mle 20 jue limitando o controle da Senten¢a aos casos emq -Orle de bre préprio texto do provimento impugnado, . procurou evitar que aquele 6rgio, cuja fungao constity ° legislador pela correta aplicacao e interpretagao da lei, aa uma nova instancia de reexame da avaliagao d, Se ery aon aS prov, trugao dos fatos.** meee a recon. ‘= & ° < & & i Pudesse ‘ransformarce No entanto, e apesar da persisténcia de Brandes divergéng} o real alcance das modificagdes, a doutrina mais avisada tem ae nao ser possivel confundir 0 controle sobre o mérito do provi que deve ser efetivamente vedado no juizo de cassagao, com 3 permissdo para que seja verificada a Correspondéncia entre 0 texto dg sentenga e o contetido do processo. Seria paradoxal, ressalta Gilberto Lozzi, admitir, por exemplo, que a Corte de Cassagdo pudesse reconhecer um vicio de ‘motivagio quando 0 tribunal de apelagdo, fazendo referéncia 4 prova de um alibi, deixasse de justificar as razdes por que ndo considera i essa, prova, €, num caso muito mais grave, que seria a total omissio. referéncia a tal prova, nao se pudesse constatar 0 vicio de Sobre esse ponto e com a habitual clareza, Tacoviello mo deve ser feita uma distingdo fundamental entre travisamento be Lezioni di dirinto processuale penale, 9. ed., Milano, Giuftré, 482; D. Siracusano, In tema di travisamento del fatto, if ‘ Diritto e Procedura Penale, 2:534-6, 1959. 3.8 ® V. especialmente Alfredo Bargi, Procedimento.... City 29 © Sobre o tema, v. Marco Boschi, Controllo di motivazioni, H Foro Ihaliano, 113(111):474-80, 19 Corte di Cassazione tra vecchio e nuovo process. 113(111):454-60, 1988; idem, Controtlo del dirittas Cassazione Penale 32:813-9, 1992; Domenico Cate € sindacato sulla motivazione, Cassasione © Gilberto Lozzi, Sulle condizioni per sindaci Giurisprudenza ttaliana, 2:521-4, 1993; Pt riconsiderazione del trayisamento del {att cassazione, Cassazione Penale, 36:552 “© Gilberto Lozzi, Sulle condizioni..., cits P. REQUISITOS, VICIOS E ARTIEICIOS 191 sravisamento da prova As im, na primeira situacio, se Para afirmar um é preciso verificar nao s6 se hd provas Positivas de sua exista; 5 ” também se faltam provas negativas, esse julgamento implica 4 consideragao de todo 0 conjunto probatério, op. ‘agdo que confina com 0 juizo de mérito. Outra coisa, no entanto, é a Omissao ou invengio de uma prova (fravisamento da prova), cuja Constatagao surge do simples confronto entre um documento Processual (0 ato Probatério) ¢ a sentenga examinada; aqui 0 juiz nao harmoniza_provas, nao reconstitui fatos, mas realiza uma operacio quase mec&nica de com- parar textos.@ Daf nao ser possfvel deixar de reconhecer um vicio de motivagao quando esse singelo confronto mostra ter 0 raciocinio judicial partido das premissas que nao resultam da realidade dos autos, mas de dados incorreta ou ficticiamente formulados.*! Omesmo deve ser ditoem telagao aos casos em que 0 juiz formula © seu julgamento a partir de provas vedadas pelo ordenamento, pois Oefeito tiltimo dessas proibigdes é impedir que o juiz, na formacio do seu convencimento, utilize elementos que nao deveriam ter tido ingresso no processo. Aqui também o vicio sera de Motivagdo, na medida em que esta reflete uma cogni¢ao realizada com base em dados que, embora existentes nos autos, eram inadmissiveis no processo e, Porlanto, igualmente inadmisstveis no raciocinio decis6rio.° a Francesco Mauro Iacoviello, I controllo..., cit., p. 1.245. Na jurisprudéncia nacional, sugestivo exemplo disso € encontrado no Julgamento da Apelagio 284.085, comarca de Salto, em que a 5 Camara 0 Tribunal de Alcada Criminal, relator Silva Franco, reconheceu a inexis- de fundamentagao de sentenga apoiada em conclusio pericial alo Gurisivae também imotivada, que servira de base para a condenacio, m consequéncia o apelante (cf, Ada Pellegrini Grinover (org.), wo Oprocesto,,, cit., p. 267-269). “ne No sentido do texto, Franco Cordero, Il procedimento probatorio, in Tre dell'atta processuale penale, Milano, Giulee, 1968, p. Be arses divers, verhraterrso A ouivepbo tus ened inocd £880 e'sentenga condenatdria haveria violagio da presungio de hi octncia, autorizano © recurso de amparo perante 0 Tribunal soni fiona, Manuel Miranda Estrampes, El concepto de prueba ilfcita e st ) ido. Proceso penal, Barcelona, Bosch, 1999, p. 100; em senti Taille prove penali, Milano, Giutf®, 1963, p. 142-143; Guido Gal, ue 192 A MOTIVAGAO DAS DECISOES PENaIs ae Essa conclusao € aplic4vel tanto aos casos em que a prov s J : é expressamente reputada inadmissivel por motivos Politicos eS i : a LVI, da CF) como 4s situa¢Ges anteriormente Mencionadas, em 58 * o proibigdo tem um fundamento episiemoldgico, visando ovine it ( determinados meios de prova, reputados inidéneos para a Teconsi ue 9 es e de certos fatos, sejam utilizados na decisao, rug, ' oe Alias, embora criticada® (pelo que ora se afirma, injustificad mente), essa é a solugao dada pelo sistema brasileiro, a 0 estabel 4 a sangio de nulidade na falta de exame de corpo de del - ye z = I ito, direto gy indireto, nos casos em que a infragao penal deixa vestigios (art. 564. III, letra b, do CPP). Trata-se de vicio da decisio ( rectius, da motivacdg da deciséo), que nao poderia reconhecer a materialidade do fato. sem essa base probatéria reputada essencial pelo legislador. b Concluindo: em todas as situagGes mencionadas, a niio-correspors déncia da motivacao com os dados que estdo no processo—ou deveriam, estar, ou nao estar — representa um vicio do discurso judicial, na medi em que este nao reflete a cogni¢éo adequada que a garantia da motivagdo visa a exatamente assegurar. Nao se trata, portanto, de um simples erro de apreciagio dos dados disponfveis pelo juiz, qu Contririo, sustentando ser incabfvel falar em invalidade da motivas quando esta evidencia os defeitos do raciocinio do juiz, Ennio Amotio, Motivazione..., cit., p. 243; também contra, sob o fundamento de que @ Sangao pela violagdo da proibigo probatéria possui centralitd, tomando supérflua a alegacao de vicio de motivagao, Novella Galantini, L'inutilizzabilita..., cit., p. 278. ; do Essa afirmagio contrasta com o que foi dito em trabalho anterior, ee este autor afirmou tratar-se de hipotese de erro de julgamento, que ee aid levar & reforma da sentenga em grau de apelagio. Na verdade, jf a texto, a mengéo a uma mera possibilidade, diante de outras S° : impostas por outros principios processuais, deixava entrever — hesitagao, que agora é superada, especialmente tendo em conta 0 4 desenvolvido quando forem tratadas as questées relativas & muli e Fente do vicio de motivagao (Capitulo VII, n. 16) (v- Antonio M38 Gomes Filho, Direito..., cit., p. 168). Sobre essa distingao, y. especialmente Capitulo VI, n- 7: José Frederico Marques, Elementosin, cit. v. 2, p- 364-365 Scarance:e Magalhiies, As nulidades no processo penal, 6 RT, 1997, p. 147. @ re ) REQUISITOS, VICIOS E ARTIFICIOS 1a em grau de jurisdigao superior. Entender as comport ies desnaturar aquela fungao de garantia da moti pio somone $m, especialmente, violar o duplo grau de jurisdicao, agdo, mas "5, no assegura simplesmente um segundo exame da come Wambém o primeiro; se este nao foi realizado corretamer devise, Matin. de premissas inexistentes, falsas ou inadmiss Bee ser renovado. 41. Segue: @ contradigao interna Em correspondéncia ao que foi dito com relagiio ao requisito da racionalidade interna, do ponto de vista légico, o mais sério defeitc apresentar 0 discurso justificativo € a contradicdo interna. pu seja, a falta de compatibilidade entre as suas diversas assergoes £ preciso esclarecer, a propésito, que a contradig&o que aqui inleressa nao é apenas a que resulta da violagao do principio Iégico d ‘nio-contradigio, pois, como observam Perelman e Olbrechts-Tyteca ‘ao.contrario do que ocorre nos sistemas formais, em que os enunciad ‘sao perfeitamente univocos — e, portanto, a assergao de uma proposi¢ao de sua negacao torna o sistema incoerente e inutilizivel —, no campo Ga argumentacio, em que as premissas sao raramente explicitadas ou, Guando 0 sao, nao sao definidas de um modo unfyoco, é mais falar em incompatibilidade, conceito semelhante ao de contradi¢io, Mas que nao resulta de uma razdo exclusivamente formal: entre duas ssereoes incompativeis, cumpre escolher uma, a menos Tenuncie a ambas.% quado __ De qualquer modo, trata-se de vicio gravissimo, que, além de ae 4 falta de correo no desenyolyimento do raciocinio deciséric : trole deste, pois uma argumentaciio que veis impede aos destinatarios da motiva- nite a ratio decidendi, frustrando a sua fungaio de 0 aponta trés hipéteses fundamentais em que o livo judicial pode ser considerado contraditério. in ¢ Lucie Olbrechts-Tyteca, Tratado da argumentagao, trad. Galvio, Sio Paulo, Martins Fontes, 1999, p, 221-229, Motivazione..., cit., p. 250. A MOTIVAGAO DAS DECISOES PENAIS 194 ra & aquela em que ocorre uma contradicao entre 9 tido no dispositive € as conclus6es adotadas ng acai. Isso pode suceder tanto em termos de uma verdadeira fat. Jégica, no sentido formal (0 dispositivo afirma A, enquany a aes A 4 como quando as conclus6es afirmadas na motiy, See ame diferentes do que vem expresso no dispositiyg’ sispositivo declara A, a0 passo que da motivagao resulta B).* A. primeil promunciamento con Esse esquema mais singelo pode, ainda, ser ampliado para compreender também as situagdes em que a contradi¢a iO se manifesta entre as varias conclusdes resultantes da motivacao (por exemplo, sobre a questio de fato, sobre a quaestio iuris ou a Tespeito de uma prejudicial) e as respectivas afirmac6es contidas no dispositivo.? & up No processo penal, nao sao raros os exemplos praticos em que isso pode ocorrer, bastando lembrar as situagdes em que 0 juiz, depois de reconhecer a inexisténcia do pr6prio fato ou a atipicidade da conduta imputada, absolve o acusado por insuficiéncia de provas. Uma segunda forma de manifestar-se a contradi¢ao no ambito discurso judicial consiste na incompatibilidade entre diversas argu tages apresentadas no mesmo contexto justificativo: assim, por exe! plo, ao motivar um ponto da decisao, relacionado a aplicagao da pend, © juiz afirma a primariedade © os bons antecedentes do réu, para, Seguida, invocando a reincidéncia, negar 0 direito ao recurso en liberdade: ou, ainda, quando diante de um mesmo conjunto probatori oe um fato em favor de um acusado e nega em relagao ao Co a Finalmente, ides Winn Podem ainda viciar a motivacao as incompatibill ioicas verificadas em relacio A justificagio de um mest t6pico da decisio, | ‘ 4 . 1850 pode a . ‘4 direit Como nas de fato, P ' Suceder tanto nas questdes de ‘enbe- ‘§ numa afirmagio he lei e, em seguida, Posta; Ou na valorago positiva de uma prova Concluit-se, em seoyi, Por diane.» “ti44, nto estar provada o fato respective, & io, Michele Tarutfo, ta oy Mem, p, 562, Wdem, p, 56, motivazione, REQUISITOS, VICIOS E ARTIFICIOS 195 pmo.conclusto, & preciso ressaltar que em todas essas situagbes _ Come fade I6gica da argumentacao apresentada equivale a uma a improprfalta de motivacao, na medida em que 0 discurso judicial ae 9 seu objetivo primeiro de justificar a decisio. nao al 9, Segue: a contradi¢ao externa (incongruéneia normativa © in- ve ongruéncia narrativa) Para completar o quadro dos casos em que a motivagao deve ser considerada viciada, e retomando 0 que ficou dito em relagao A racionalidade externa, cabe fazer uma referéncia as situagdes em que discurso justificativo nao atende as apontadas exigéncias de con- qruéncia normativa ou congruéncia narrativa." Nao se trata, como mencionado e de acordo com as observagdes de MacCormick, de constatar nenhuma contradigao ou incompatibili- dade entre as diversas assergOes utilizadas na argumentacao apresen- tada pelo juiz para justificar a decisio, mas de examinar se as conclusoes Telativas as questOes de direito e de fato “fazem sentido”, respectivamente, em fun¢do dos princfpios e valores do ordenamento ou dianté de uma visdo racional do mundo que explique os eventos revelados pela percepciio. A opedo pela inclusio dessas exigéncias entre os requisitos substanciais da motivacao esta relacionada, essencialmente, & atribui- §0 de um sentido garantista mais amplo ao discurso justificativo Judicial, que envolve também a tutela de uma cognicao adequada a Cada caso, que constitui nao s6 o pressuposto de um julgamento justo, fe eialente um meio de autocontrole do Judicidrio pela avaliagao Ws; nivel ae Preparagio de seus juizes, na arguta visio de Kazuo Assim entendida a garantia da motivagao, parece natural que 0 ingiteatimento das mencionadas exigéncias de congruéncia norma- briprin va deva ser incluido entre os vécios que comprometem a “no facam, Cacao da decisio, até porque razdes que eventualmente Sentido” nao podem ser consideradas boas ou validas. ad % m BN, ity a ee Caplio VI, n, 6, 2 » Da cognigao..., cit, p. 46 € 50. 6 A MOTIVAGAO DAS DECISOES FENAIS 1 no entanto, fazer aqui uma distingao entre cad yicios anteriormente examinados, que conduzem, de rng, diversos de outra, a propria falta de motivagio, © os defeiy forma Oe juas formas de incongruéncia tratadas: & que coil wets nao powde™ (na maioria dos casos, pelo menos) ser equiparadgg a uma falta de motivagao, jd que esta existe, ainda que a Justificagag, nao seja a melhor. ‘0 ser possivel afirmar, categoricamente, que a constatagaig de tais incongruéncias deve levar a invalidagao da decisao: 6 mais. sensato, salvo casos aberrantes, falar nessas situagdes em decisdio mal fundamentada, seguindo a terminologia de. Athos Carneiro, e admi “que se faca uma possfvel corregao pelos meios normais de impugna E. necessario, os. Daf na $30. 13. Artificios da motivacao: colocagao do problema j t O tratamento dos requisitos e correspondentes defeitos da moti-. vago nao estaria completo sem uma referéncia a certos modos de_ fundamentar — consagrados pela pratica judicidria e discutidos na doutrina e na jurisprudéncia —, nos quais nem sempre é possivel falar propriamente em um vicio do discurso justificativo, mas que este” apresenta caracteristicas capazes de colocar em risco aquelas fungdes de garantia antes examinadas. Na literatura italiana, essas formas de motivar vém tratadas sob | 2 sugestiva denominacio de teeniche di salvattagio, com as quais ® Cone de Cassacto, diante da resisténcia dos jufzes em atender 40s requisitos mencionados, procura evitar um ntimero exagerado os recursos em que se alega a nulidade da decisiio por vicio de motivags- estabelecendo pardmetros de apreciagaio que possam “salvar” desst *an¢4o um consideravel ndmero de sentengas impugnadas.”* ee 6s, © mesmo fendmeno é uma constante na Aiseer apes lambém nio tem merecido reprovagdo pelos tribu 4 te chegam, na verdade, a consagrar a uti izago de 10 nenos loxas de atendimento ao preceito constitucional.” ™ Athos Gusmao C; i - ameiro, Senteng: J Ennio Amodio, Motivazione.. : el motivazione..., cit,, p. 68, Gri - Never, Scarance © Magalies, Ay mulidades.., cit p> 211-21 tp. P 4 Pe 228; Massimo Vos equisiTos, vICIOS E ARTIFICIOS 197 ae icas sio basicamente duas: a motivagao implicita e a ad relationem, que do ponto de vista do autor da ivagao nee \y chamada eee consideradas artificios, estratégias, expedientes, ou 4 decisio r meio dos quais o empenho justificativo é significa~ sie 0 em nome de outros valores como a economia ;yamente . al e a rapidez na solugdo dos litigios. nte ressaltar que nao se cuida, nessas situagdes, de mera sstilo ou de técnica de redagdo do discurso justificativo ee “i y.g., no caso da motivacio concisa), que interessa ee ecco dos costumes judiciarios, e cujas repercussdes sao jyridicamente neutras, mas sim de um problema relacionado a eventual ee de uma /Jacuna justificativa, envolvendo, portanto, a at validade do ato decis6rio.” Alids, o trago comum que recomenda tratar conjuntamente as duas figuras examinadas € a constatagdio de que em ambas existe, sem divida, uma omissao relevante no discurso judicial, mas que pode ser superada pela integragéio de dados extraidos do prdéprio contexto |usiifcativo ou nele indicados.” # importa Ba 6S Dai a necessidade de examinar, em cada caso, se 0 recurso a tais 19 recurso da acusagio, ressalvados os caso, de

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