TARTIGO DEREVISAO A\ DUPLA-EXCEPCIONALIDADE: RELAGOES ENTRE ALTAS HABILIDADES/. SUPERDOTAGAO COM A S{NDROME DE A\SPERGER, TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENGAO E HIPERATIVIDADE E TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM RESUMO ~ A “dupla-excepcionalidade” pode ser definida como a presenca de capacidades superiores em uma ou mais areas, que ocorre conjuntamente a deficiéncias ou condicées tidas como incompativeis a essas capacidades, O presente estudo objetivou apresentar e discutir a presenga das Altas Habilidades/Superdotacdo (AH/SD) na Sindrome de Asperger (SA), Transtorno de Déficit de Atengdo e Hiperatividade (TDAH) nos Transtornos de Aprendizagem (TA). Comportamentos sociais & criatividade mostraram-se caracteristicas fundamentais para diferencia- ‘¢80 ou diagnéstico concomitante da SA e AH/SD. Em relacao ao TDAH, verificou-se que comportamentos caracteristicos a esse translorno também podem ser observados nas AH/SD. Os TA representam o diagnéstico mais incomum de ser realizado em conjunto 4s AH/SD, pois corriqueiramente 0 bom desempenho académico ¢ atrelado a superdotacao, UNITERMOS: Inteligéncia. Criatividade. Sindrome de Asperger. Trans- torno do deficit de atencao com hiperatividade. Transtomnos de aprendizagem. Rauni Jandé Roama Alves PsicSlogo, doutorando em Psicologia, Pontificia Universidade Catolica (PUC) ~ Campinas, Campinas, SP, Brasil Tatiana de Céssia Nakano ~ Psicéloga, professora dou: {ora do programa de pés-graduagao em Psicologia, Pontificia Universidade Catélica (PUC) - Campinas, Campinas, SP, Brasil. Correspondéncia Rauni Jandé Roama Alves PUC-Campinas = Programa de Pé: Psicologia Ay. John Boyd Dunlop, sin - Jardim Ipaussurama ~ Campinas, SP, Brasil - CEP: 1060-904, E-mail: rauniroama@gmail.com raduagao em 5; 32(99): 346-60INTRODUGAO ‘A "dupla-oxcepcionalidade" pode ser definida como a presenca de alta performance, talento, habilidade ou potencial, ocorrendo em conjunto com uma desordem psiquidtrica, educacional, sensorial efisica’, Envolve, também, a ideia de que pessoas que demonstram capacidades supe- riores em uma ou mais éreas poderiam apresen- tar ao mesmo tempo deficiéncias ou condigoes incompativeis com essas caracteristicas*. Como exemplo, na érea cognitiva, pode-se citar casos tem que criancas possuem Altas Habilidades/Su- perdotacio (AH/SD) juntamente com transtomos do neurodesenvolvimento, como a Sindrome de Asperger (SA), Transtorno de Défict de Atencéo ¢ Hiporatividade (TDAH), Transtomos de Apren- dizagem (TA), dentre outros’ ‘A literatura aponta que o reconhecimento dessa dupla condigao 6, sobretudo, resultado de observagées clinicas, muito mais do que de estudos tedricos e empiricos, haje vista também que até 0 momento nenhuma teoria espectfica tenha sido elaborada para explicé-lat. Esse tema vem se constituindo cada vez mais em uma érea de grande interesse cientifico, mesmo com a escassez de estudos no Brasil, e tem sido tomado como detentor de grande potencial para a compreensio mais global da populagao com necessidade educacional especializada’ Especificamente em relacéo as AH/SD, ainda 6 comum em priticas institucionais observar-se o mito de que os individuos que as possuem nao apresentam dificuldades educativas, emocionais, comportamentais ou especiais*?, mesmo estando inclusas pela lei brasileira como uma condicéo que necessita de atendimento educacional espe- cializado?, De acordo com material isponibiliza- do pela Organizagao dos Estados Tber0 America- nos (wwrw.oei.esquipurbrasil/educ_especial pat), de 2012, & papel da educacéo especial ser "uma modalidade de ensino destinada a educandos portadores de necessidades educativas especiais no campo da aprendizagem, originadas quer de deficiéncia fisica, sensorial, mental ou mitipla, quor de caracteristicas como altas habilidades, superdotagio ou talentos” Rev Psicopedagogin 201 Faz-se notar que uma grande parcela de pro- fissionais das mais diversas éreas, desde a edu- cacao até a satide, corriqueiramente nao possui preparo teérico e/ou clinico para o reconheci- mento de que sujeitos com algum tipo de dé- ficit possam possuir melhores habilidades do que aqueles com desenvolvimento considerado normal’, Os educandos continuam sendo “cate- gorizados" e atendidos, em sua grande maiori apenas por suas dificuldades”. Os modelos prevalentes de avaliagao cognitiva, principal- mente em ambito nacional, frequentemente também apresentam foco em caracteristicas de- ficitérias (como, por exemplo, em expectativas estereotipadas de baixo desempenho, em atrasos desenvolvimentais, nos déficits em oportunida- des e experiéncias, nas visées restritas de su- perdotacio e nas preocupagées especificas com a deficiéncia), mesmo quando realizados inter- disciplinarmente*. Pouca atengao tem sido dada a0 quadro oposto, marcado pela alta habilidade em alguma érea ou mesmo para uma possivel dupla-excepcionalidade. ‘Além disso, nota-se um despreparo na ope- racionalizagio das praticas previstas nas le- gislagées, somadas & grande quantidade de concepcdes equivocadas acerca do fendmeno problemas na formacio docente, de modo que prejuizos podem ser notados nao somente no re- conhecimento, mas também na forma como rea- bilitar e estimular esses quadros". Justifica-se, assim, a importéncia do trabalho com todos os profissionais que lidam direta e principalmente com eriancas, os quais devem ser incentivados com o objetivo de ampliar seu papel na indicacdo @ atuacéo em relacdo aqueles que possuam a dupla-excepcionalidade" Neihart™ afirma que ¢ possivel se observar a existéncia de trés grandes grupos de criancas duplamente-excepcionais com AH/SD, os quais exigem caracteristicas diferentes para identifi- cacao e formas de intervencao. O primeiro gru- po engloba aqueles em que a alta capacidade Linguistica possibilita bons desempenhos no ensino infantil, mas os niveis de desempenho realizacéo diminuem conforme a elevacéo das 3299): 346-60Avs RIR & Naxaso TC exigéncias do curriculo escolar, principalmente quando relacionadas a area da dificuldade, tornando os déficits mais evidentes. O segundo grupo é referente a criancas que apresentam dificuldades percebidas precocemente, as quais, muitas vezes, acabam mascarando seus tale’ Tis criancas sdo encaminhadas frequentemente para salas de reforgos, mas ndo para as de acele- ragao de suas potencialidades ¢ talentos. Por fim, ha criancas cujos talentos mascaram as dificul- dades, atuando de forma a impedir a percepcéo e estimulacdo do seu potencial, as quais podem, inclusive, nunca serem identificadas. Ainda de acordo com 0 autor, de forma geral, 0s compor lamentos, aliludes e realizacées de criangas com essas caracteristicas no se assemelham com as ‘comumente atribuidas a pessoas com habilida- des cognitivas desenvolvidas, pelo contrério, s80 ‘comuns aspectos como: resisténcia e comporta- mentos perturbadores em sala, hiperatividade, negativismo, desempenho abaixo da média em, leitura, escrita e matemética, imaturidade social, etc. McEachern & Bornot'* verilicaram que esse Ultimo seria o grupo mais prevalente desse tipo de dupla-excepcionalidade, e atingiria cerca de 41% da populaco com esse quadro. Reconhe- ce-se, assim, a possibilidade de existéncia de diferentes modos da superdotacéo, bem como a heterogeneidade dos individuos que compoem, esse grupo" ‘Nesse sentido, Kalbileisch & Iguchi propéem que trés grandes areas devem permear 0 aten- dimento e pesquisa sobre essa dupla-excepcio- nalidade: (a) identificagéo apropriada, (b) in- tervencao e (c) suporte emocional e social. Na primeira estariam os cuidados a serem tomados na identificagéo do quadro, considerando-se principalmente que o processo de identificagao & complexo ¢ envolve, além de dados psicomé- tricos, a utilizagdo de uma variedade de recur sos'™*, os quais contemplam analises clinicas do histérico do individuo, resultados de uma bateria de conhecimentos, teste de inteligéncia ede criatividade, indicadores de processamento cognitivo e observagées comportamentais, assim como avaliagao de pais e professores. Tais infor ‘mages podem auxiliar na deciséo acerca da pre- Rev, Pscopedagogi senca de critérios indicativos da dupla excepcio- nalidade, jé que muitas vezes os testes podem nao apresentar claramente esse perfil, exigindo experiéncia dos que estiverem envolvidos na avaliagao. Entretanto, Kerr & Sodano” chamam a atengao para o fato de que, muitas vezes, in- felizmente, apés todo processo avaliativo, os resultados da avaliacao das AH/SD mostram-se inconclusivos, apontando que alteracées deve ser feitas também na propria estrutura dos ins- trumentos, cujos processos de validade preditiva e de normatizagéo deveriam ser realizados de modo a contemplar essa populacdo especifica, considerando-se suas especificidades™. Na segunda area, da intervencao, hé algumas modalidades de programas que vém sendo im- plementados e estudados em diferentes paises no atendimento as necessidades de pessoas com AH/SD, dentre eles: programas de enri- quecimento curricular, programas de aceleracéo. e programas de treinamento"™", No caso da dupla-excepcionalidade, independentemente do programa, a literatura tem reforcado a necessida- de de se investigar como realizar a estimulagio das habilidades e a superacao das dificuldades, ambas ocorrendo concomitantemente. Estra~ tégias que possam envolver as habilidades na superacao das deficiéncias sao uma das taticas que devem ser abordadas, Infelizmente, na pré- tica, essas aces nao atingiram todas as escolas ou cidades do Brasil, pois hé ainda problemas na identificagao desses alunos’. Em relagéo ao suporte emocional, deve-se tomar um grande cuidado em relacdo a esses in- dividuos duplamente excepcionais. A literatura tem apontado que grandes dificuldades emo- cionais, comportamentais e sociais podem apa- recer em comorbidade a esses casos, mas que frequentemente somente aspectos cognitivos sao levados em consideragdo em processos de avaliacdo e intervencao™24, Por outro lado, pesquisas vém investigando como a forte motivacdo, aliada a utilizacao de estratégias de coping, permite a compensacéo das dificuldades em muitos casos” Considerando-se as caracteristicas gerais que foram expostas até o momento sobre a dupla-ex- 2015; 32(99) 346-60cepcionalidade envolvendo as AH/SD, 0 pre- sente estudo, tebrico, foi proposto. Dessa forma, objetivou-se apresentar e discutir a presenca das AH/SD em transtornos que mais comumente aco- metema infancia, especificamentea SA, TDAH & nos TA", a partir de uma reviséo da literatura. METODO Foi realizada revisdo da literatura de estudos te6ricos e empiricos sobre a dupla-excepciona- lidade. Investigaram-se livros (presentes na biblioteca da Pontificia Universidade Catélica de Campinas), bases de dados cletronicas na- cionais (Scientific Electronic Library Online ¢ a base de teses e dissertacées da Coordenacao de Aperfeicoamento de Pessoal de Nivel Superior) ¢ intemacionais (American Psychological Asso- ciation, Education Resources Information Center, PubMed e Scopus). Nas bases de dados foram utilizados e cruza- dos os seguintes descritores na busca das publi- cages: dupla-excepcionalidade, inteligéncia, autismo, Sindrome de Asperger, Transtomo de Déficit de Atengao e Hiperatividade, TDAH, transtornos de aprendizagem, dificuldades de aprendizagem, superdotacao, altas habilidades; nas bases intemnacionais foram utilizadas suas respectivas tradugdes em inglés. Foi delimi- tado tempo de busca de 2000 2015. Foram selecionadas as investigacées que possuissem no titulo os descritores citados, bem como seus objetivos de analise tivessem sido a ocorréncia da dupla-excepcionalidade nesses casos. Os aspectos metodologicos e resultados que com- punham essas producdes foram brevemente Gescrilos e formaram 0 corpo das trés principals seges desse artigo: discussées sobre a dupla- -excepcionalidade na (1) SA, no (2) TDAH e nos (3) TA. Ao final de cada secéo, foi realizado um resumo dos achados encontrados considerados mais relevantes sobre cada tematica. DUPLA-EXCEPCIONALIDADE EM TRANS- TORNOS DA INFANCIA ‘Sindrome de Asperger ASA diferencia-se do autismo classico possui critérios diagnésticos préprios, sendo Rev Psicopedagogin 201 os mais evidentes: prejuizo grave e persistente na interagdo social; desenvolvimento de pa- drdes restritos e repetitivos de comportamento, interesses ¢ alividades; allo poder de memo- rizacao e velocidade de raciocinio relaciona- dos as atividades repetitivas; nenhum atraso significative no desenvolvimento da linguagem nao ha atrasos clinicamente significativos no desenvolvimento cognitive (inteligéncia) ou no desenvolvimento de habilidades de autoajuda apropriadas @ idade. Atualmente, esta inclusa dentro do Transtorno do Espectro Autista, sendo sua nomenclatura considerada em desuso pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-V}" ‘Tendo como foco estudos sobre a SA ¢ a dupla-excepcionalidade, primeiramente aqueles tebricose de levantamento bibliogréfico, pode-se citar 0 estudo realizado por Neihart®. A autora destaca aalta frequéncia de relagées feitas entre essa sindrome ¢ as AH/SD, muitas vezes sem base cienlifica, tanto na propria literatura como no senso comum, provavelmente em razao de que, em alguns casos, os individuos que apre- sentam SA também apresentam inteligéncia acima da média. A autora aponta, também, que clinicamente so verificadas dificuldades na rea- lizacdo do diagnéstico das AH/SD em criancas com SA, pois esse tipo de autismo muitas vezes est relacionado a dificuldade de aprendizagem, ao contrério do que é frequentemente pensado, sendo tal dificuldade usualmente focada na avaliagéo e no diagnéstico, nado havendo a preo- cupaco em identificar as AH/SD. Nesse sentido, a autora propée que algumas observacées mais centrais sejam realizadas para que haja o correto diagnéstico da dupla-excepcionalidade entre a SA e as AH/SD (SA/AH/SD): unidos a critérios diagnésticos para AH/SD, devem ser observadas também maiores dificuldades de mudanga de rotina e de contato social, auséncia de compreen- sdo de abstracies (considerando tudo “ao pé da letra"), maiores complicacées de ordem motora estereotipias. Outras caracteristicas que podem ser obser- vadas em sujeitos com essa dupla-excepcionali- 3299): 346-60Avs RIR & Naxaso TC dade séo apontadas por Alencar & Guimaraes”, Horn” e Norris & Dixon’: discurso fluente alia- doa um pensamento original e analitico (na SA pura haveria um discurso mais pedante e menos coeso); assim come somente ocorre na SA, nesses individuos haveria uma maior dificuldade em comportamentos que envolvam empatia e ex- pressao da afetividade; sao criativas com jogos de palavras e em trocadilhos, mas o humor estaré alterado, ndo entendendo piadas e situacées que exigiam maior abstracao (comumente isso ndo ocorre em criangas com AH/SD puramente); as dificuldades no contato social serdo frequentes, corriqueiramente esses sujeites falarao incessan- temente sobre um tema de interesse sem perce- ber a reagio do outro (0 que nao acontece com aqueles que possuem somente AH/SD} Dentro desse quadro duplamente-excepcio- nal, importante estudo foi conduzido por Vieira & Simon, tendo como objetivo o levantamento das publicagées cientificas sobre a tematica, entre ‘os anos de 2000 a 2011, em livros, artigos e teses pertencentes a diversas bases de dados nacio- nais e internacionais. A partir desse estudo, as autoras pretendiam conhecer as caracteristicas comuns ¢ diferentes dos sujeitos com SA e AH/ SD. Para tanto, agruparam as caracteristicas em quatro categorias: cognigdo, interacao social, comportamento adaplativo e comunicacao. Cate- gorias semelhantes também foram apontadas por Simées et al.” Sobre a primeira categoria, a cognicdo, as se- melhangas compartilhadas entre SA e AH/SD incia de atrasos significativos na linguagem e desenvolvimento cognitivo, assim ‘como presenca de fluéncia, precocidade em lin- quagem falada e escrita (hiperlexia), vocabulario sofisticado, linguagem sofisticada e formal, de- senvolvimento superior em determinada area de interesse e desenvolvimento nao equiparado entre cognitivo e social/afetivo. Em individuos ‘com AH/SD, diferentemente daqueles que ap: sentam SA, encontrar-se-ia um maior desenvol- vimento das seguintes habilidades: alto grau de curiosidade, atencdo concentrada, interesse por problemas filoséficos, morais, politicos e sociais, Rev, Pscopedagogi assim como originalidade para resolver proble- mas, ¢, consequentemente, criatividade - sendo essa ultima uma das principais caracteristicas que os diferenciam” Em relagao a drea da interacdo social, as au- toras destacam que, ao contrario de sujeitos que possuem ALV/SD, 0s sujeitos com SA apresentam comprometimento grave e persistente nesse quesilo, com dificuldades em se colocar no lugar do outro, rigidez de pensamento, dificuldade em discemnir a fiecao da realidade e dificuldade em perceber o porigo. Em relacao ao comporta- mento adaptativo, enquanto sujeitos com AH/SD mostram-se independentes, auténomos, perfec- cionistas, persistentes, contrarios a atividades curriculares regulares e questionares de regras, os sujeitos com SA usualmente mostram compor- tamentos restritos e estereotipados, érea tnica de interesse intenso, movimento repetitivo, contato visual minimo, respostas afetivas inadequadas, passividade, agressividade, apego a rotina™ Por fim, dentre as caracterislicas de comuni- cacao mais comumente observadas nos indivi- duos com SA, e que ndo se fazem presentes nas AHYSD, estariam as dificuldades para iniciar ou manter conversa, odiscernimento de um assunto como adequado, a falta de linguagem corporal adequada, a incapacidade de interpretar a lin- guagem corporal e expresses faciais alheias, a fala pedante e exagerada, as dificuldades em identificar diferencas e variedade de sons da lin- guagem (prosédia}®. Apesar disso, costumam-se diferenciar-se do autismo cléssico, quando hé a dupla-excepcionalidade em ambos os diagnésti- 0s, por melhores desempenhos em habilidades -verbais do que em matematica (essa iltima seria mais desenvolvida no autismo classico)"* Em relagao aos estudos especificamente em- piricos, primeiramente pode-se cilar 0 conduzido por Mettrau et al, que teve como objetivo avaliar © Quociente de Inteligéncia (QI) de 100 crian- «as diagnosticadas com SA, por meio da Escala Wechsler de Inteligéncia para Criancas - 34 Edigdo (WISC-II}. Os resultados demonstraram que 5 criangas obtiveram classificagao muito superior (QI acima de 130), tanto no Ql verbal 2015; 32(99) 346-60como no de execugéo (com excecdo de um sujeita Classificado como superior nesse timo, com 129 pontos de Ql), assim como nos indices fatoriais de velocidade de processamento, resisténcia & distracao, organizacao perceptual ¢ compreenséo verbal, todos com classificacdo muito superior As auloras conclufram que, dentre algumas poucas eriancas diagnosticadas com SA, péde-se verificar a dupla-excepcionalidade. Em estudo desenvolvido por Guimarées™, foi investigado o desenvolvimento, caracteristicas cognitivas ¢ socioemacionais de um individu com SA (sexo masculino, 11 anos, estudante do 5#ano do Ensino Fundamental na escola regular ¢ frequentador de sala de recursos para AH/SD) Os dados coletados por meio de entrevistas « documentos, assim como acompanhamento das atividades realizadas pelo sujeito, apontaram para uma inteligéncia superior, habilidades em diferentes éreas (portugués, lingua estrangeira, ciéncias, matematica, informatica e desenho), concomitantemente & presenca de dificuldades emocionais e sociais, claramente concluido como um caso de dupla-excepcionalidade. A autora finaliza argumentando que, quando ha a dupla-excepcionalidade, pode haver beneticios significativos para a melhora do nivel adaptati- vo do transtorno, principalmente por as AH/SD fornecerem bases importantes para a superagao das dificuldades apontadas. Verificou-se, de forma geral, que em relagao &SAcas AH/SD, os estudos visaram diferenciar e entender a integragdo desses diagnésticos que sao frequentemente considerados altamente correlacionados, desmistificando essa afirmacao, assim como a de que todo SA apresentaria in- teligéncia superior. O comportamento social foi um dos indicadores mais marcantes e importante de ser investigado mais detalhadamente, assim como também comportamentos de comunicagao ce emocionais, para que o diagnéstico diferencial de ambos os diagnésticos, principalmente quan- do houver suspeita de dupla-excepcionalidade, seja bem realizado. Esse comportamento se ‘mostrou em prejuizo sempre quando ha a SA, mesmo acompanhada das AH/SD. Jé a criativi- Rev Psicopedagogin 201 dade se mostrou como um indicativo cognitive importante de ser observada em um processo avaliativo, pois corriqueiramente nao estara de- senvolvida em casos puros de SA, ao contrario do que ocorreria nos casos de AH/SD. ‘Transtorno de Déficit de Atencdo ¢ Hipera- tividade OTDAH caracteriza-se por um padrao persis tente de desatencao e/ou hiperatividade, mais frequente e grave do que aquele tipicamente observado em individuos em nivel equivalente de desenvolvimento. Pode-se apresentar em trés grupos: predominantemente desatento, predominantemente hiperativo/impulsivo e com- binado. Esses sintomas interferem diretamente em atividades da vida didria, sendo um dos transtornos mais comuns da infanci Em relacdo aos estudos tedricas e de revisdo bibliogréfica que envolveram a dupla-excepcio- nalidade entre 0 TDAH eas AH/SD (TDAH/AH/ SD), pode-se citar primeiramente o realizado por Kaufmann et al”, que verificaram que, apesar de condicées diferentes, apresentam inameras habilidades semethantes, tais como uma fala ré~ pida, impulsividade, alta sensibilidade a estimu- lacéo ambiental, intensa curiosidade, tendéncia a misturar realidade ¢ ficgéo, comportamentos exacerbados, constantes queixas comportamen- tais por parte de seus cuidadores, e dificuldades de ajustamento a novos ambientes. Hosda et al* também afirmaram que os sujei- tos com AH/SD ou TDAH apresentam compor- tamentos aparentemente semelhantes, fato que causa equivocos na caracterizagéo e na identi- ficagao de ambos os quadros, Muitos compo tamentos tipicos do TDAH (tais como agitago constante, problemas em permanecer sentado, distracao, respostas impulsivas, dificuldade em terminar tarefas, desorganizagao e exposigéo a riscos) também podem scr apresentados por alu- nos com AH/SD, devido principalmente a fatores. como frustracao, atividades pouco desaliadoras, curriculo escolar insuficiente e procedimentos nadequados de ensino-aprendizagem. Como exemplo, a agitacao, principal caracteristica do 3299): 346-60Avs RIR & Naxaso TC TDAH, costuma se manifestar nas AH/SD quan- do o contetido que esta sendo desenvolvide em sala de aula jé é de conhecimento, ou quando o individuo conclui suas tarefas em sala de aula e esté em periodo ocioso. A diferenga situar-se-ia no fato de que nas criancas com TDAH a agila- ‘40 est presente na maioria dos ambientes que frequenta e naquelas com AH/SD somente em contextos que fujam da 4rea do seu interesse, sendo comum serem observados questionamen- tos relacionados a uma curiosidade ou conheci- ‘mento fora do que esta sendo debatido, Tem-se, entéo, que a impulsividade e hiperatividade possam ser caracterfsticas de ambos os quadros, mas se diferenciam principalmente em relagéo & frequéncia e intensidade, assim como as ocasives ‘em que acontecem’. ‘Ainda que semelhangas possam ser encontra- das entre ambos os quadros, Hosda & Romano- wski"”e Antshel et al" defendem a existéncia de caracteristicas especificas para quando estive- rem associados. O sujeito que apresenlar TDAH/ AHISD poderd ter um desempenho académico inconstante, 0 que corriqueiramente nao acon- tece com aqueles que possuem somente AH/SD, além de prejuizos em habilidades motoras finas e, consequentemente, na escrita, como em indi- viduos somente com TDAH. Podera ser obser- vada também area de interesse relacionada a conhecimentos nao académicos". Esses sujeitos apresentaréo maior facilidade na aquisigéo de ‘um conhecimento, mais rapidamente que um su- jeito com apenas o TDAH”. Interessantemente, ‘em estudo exploratério realizado por Silva“, foi encontrada a prevaléncia de 37,8% de sintomas de TDAH em criangas com alta inteligéncia. ‘Os sujeitos que possuem ambas as condicdes podem ser reconhecidos somente por um padrao, de comportamento durante o proceso de avalia- ‘cdo, o que sera prejudicial para um bom prognés- tico, Budding & Chidekel® apontam que um dos grandes diferenciais de uma crianga que possui apenas TDAH ou apenas AH/SD para uma crian- ‘ca que possua o TDAH/AH/SD € 0 desempenho criativo eo pensamento divergente, que tendem aestar mais desenvolvidos nesse iiltimo quadro Rev, Pscopedagogi © deverdo ser detalhadamente observados no processo avaliativo, Outro cuidado apontado efere-se a avaliacao da inteligéncia, visto que alguns autores* observaram que os testes comu- mente aplicados no grupo com TDAH tendem a no demonstrar seus verdadeiros potenciais intelectuais, de modo que o aspecto clinico deve prevalecer sobre o raciocinio nos testes a serem utilizados, sem desconsiderar como os comportamentos caracteristicos do TDAH podem influencié-los e, dessa forma, facilitar a identificagao das AH/SD. Em termos de resultados empiricos, Germa- ni estudou criancas que apresentavam AH/ SD, TDAH e TDAH/AH/SD. 0 objetivo de sua pesquisa foi investiga quais padres de compor- tamento seriam semelhantes ¢ diferentes entre os trés grupos. A metodologia utilizada foi a qua- litativa, baseada em anélise de entrevistas reali- zadas com os professores, pais e com as préprias criangas. Apés andlise de tais entrevistas, foram organizadas oilo calegorias de comportamento: (1) aprendizagem; (2) relacionamento social entre seus pares; (3) motivacéo e persisténcia; (4) criatividade; (5) organizacdo e planejamento; (6) atengio e meméria; (7) regras e comunicacao € (8) interesses e/ou habilidades. Foram verifi- cadas muitas diferencas entre os diagnésticos de AH/SD e TDAH em praticamente todas as categorias. Entre os quadros de TDAI/AH/SD AHY/SD foram verificadas maiores diferencas nas categorias 1, 5, 6 ¢ 7, com melhor desempenho do iiltimo grupo, Entre os quadros de TDAH/ AH/SD e TDAH foram vistas poucas diferencas, mais em relacao as categorias 4 e 7, com piores desempenhos das criancas com TDAH, a autora afirma que a observacéo de tais categorias po- derd ser decisiva em um processo de avaliagao. ‘Também Ourofino & Fleith" desenvolveram estudo com o objetivo de comparar alunos com AH/SD, TDAH e TDAH/AH/SD em relagéo a criatividade, inteligéncia, autoconceito, déficit de atencdo e hiperatividade/impulsividade, comportamento antissocial e dificuldades de aprendizagem. Participaram do estudo 114 criangas, sendo 52 com AH/SD, 43 com TDAH e 2015; 32(99) 346-6019 com TDAH/AH/SD. Os resultados indicaram diferencas significativas entre as criancas dos trés grupos em favor dos que possufam AH/SD em praticamente todas as habilidades investi- gadas, com diferenca estatistica significativa nas medidas de inteligéncia, autoconceito ¢ criatividade (originalidade verbal). As criancas com TDAH apresentaram um escore mais ele- vado nas medidas de desatencéo, hiperatividade/ impulsividade, comportamento antissocial ¢ dificuldades de aprendizagem, em comparagio 0s outros grupos. Especificamente em relacéo a0 grupo com dupla-excepcionalidade quando comparado ao grupo com TDAH houve somente uma diferenca: apresentaram resultado maior em inteligéncia Por outro lado, em estudo realizado por Fugate et al, foi encontrado um outro perfil de di- ferenca em criatividade. Os autores realizaram uma investigagao que teve por objetivo avaliar e comparar a meméria de trabalho e criatividade de alunos com AH/SD (n=20) TDAH/AH/SD (n=17). Foram encontradas diferencas signifi- cativas em meméria de trabalho, com os alunos TDAH/AH/SD apresentando pior desempenho. Foram encontradas diferencas significativas em criatividade também, porém com 0 grupo TDAH/ AH/SD apresentando melhores desempenhos, a0 contrario do que visto no estudo anterior, Foley-Nicpon et al.*” buscaram examinar a autoestima e autoconceito de criangas ¢ adoles- centes com TDAH/AH/SD. Os dados foram co- letados em 112 sujeitos, com idade entre 6 e 18 anos, identificadas como tendo alta capacidade cognitiva (QI de 120, percentil 91, ou superior), sendo que 54 também preenchiam critérios diagnésticos para TDAH. Os autores verifica- ram que os alunos TDAH/AH/SD apresentaram menores escores em medidas de autoestima autoconceito do que os que possufam somente AH/SD. Além disso, as criancas relataram maior felicidade geral do que os adolescentes, em ambos os grupos. Whitaker et al" realizaram uma investigagéo que buscou identificar possiveis diferencas entre processos estratégicos de meméria verbal entre Rev Psicopedagogin 201 criancas com AH/SD, TDAH/AH/SD e TDAH; 125, participantes foram avaliados por meio da Escala de Inteligéncia Wechsler para Criancas (44 Ed.) © 0 California Verbal Learning Test para criancas (CVLT-C). Os resultados revelaram diferencas significativas entre os grupos, com as criangas TDAH/AH/SD obtendo pontuagdes mais baixas no CVLT-C em comparacao as criancas que pos- sufam somente AH/SD, mas escores mais altos do que aqueles que possufam somente TDAH. Verificou-se que 0 TDAH e AH/SD, muitas vezes, compartilham comportamentos seme- Ihantes e que, corriqueiramente, do atribuiveis somente ao TDAH. A presenca contextual de com- portamentos de desatencdo, impulsividade e hi- peratividade se mostrou como um dos principais focos de investigacao no diagnéstico, tanto para diferencid-los como para considera-los conco- mitantes. No TDAH, eles tenderiam a ser mais generalizados, nas AH/SD se apresentariam quando os sujeitos so expostos a situagoes j4 conhecidas (como, por exemplo, uma atividade escolar) ¢, consequentemente, nao motivadoras, Acriatividade também se mostrou como um foco rico de investigacéo quando ocorre a dupla-ex- cepcionalidade, uma vez que, em alguns estu- dos, a identificaram como desenvolvida e outros nao, quando comparada a casos de AH/SD puros, De modo geral, tal habilidade encontrou-se mais desenvolvida em casos de TDAH/AHY/SD do que em casos puros de TDAH. Além disso, foi en- contrado um estudo sobre meméria verbal, que apontou piores desempenhos de criangas com TDAH/AH/SD quando comparadas a criancas com AH/SD. ‘Transtornos de aprendizagem Os TA caracterizam-se como dificuldades na aprendizagem e no uso de habilidades acadé- micas, com substancial desempenho abaixo do esperado para idade cronolégica, que no devem ser explicadas por deficiéncias intelec- tuais, acuidade visual ou auditiva nao corrigida, outros transtornos mentais ou neurolégicos, adversidades psicossociais, falta de proficiéncia na lingua de instrucao académica ou instrugio 3299): 346-60Avs RIR & Naxaso TC ‘educacional inadequada. Podem ser encontrados também sob as nomenclaturas de “distarbios de aprendizagem", “dislexia” (para transtorno especifico de leitura), "discalculia” (para trans- torno especifico de matematica) e “disgrafia" (para transtorno especifico de escrita)”. Em estudos tebricos e de levantamento biblio- gréficos relacionados & dupla-excepcionalidade nos TA, pode-se citar primeiramente os reali- zados por Fetzer®, Lovett e Silverman, que verificaram que os TA constituem diagnésticos que mais raramente sao reconhecidos como passiveis de acompanher um quadro de AH/SD. Atualmente, os modelos mais atuais na érea das AHV/SD permitem que sujeitos com dificulda- des académicas também possam receber esse diagnéstico!** De forma geral, autores apontam os sequintes ‘comportamentos como caracteristicos de crian- gas TNAH/SD®*"; ao contrario do que é fre- quentemente visto em criangas que possuiriam somente AH/SD, costumam ser consideradas criancas desleixadas, desorganizadas ¢ com dificuldades em meméria, dentro do ambiente escolar; frequentemente fracassam em ativida- des que exijam atividades de leitura, escrita e/ ow aritmética, esperadas para sua série e idade. escolar; apresentariam maior disposicao & de- pressdo e ansiedade que criancas que somente possuam TA; necessitam de um tempo maior para realizado de atividades académicas do que ‘uma crianca somente com AH/SD; possuem alta produco criativa; possuem facilidade em ativi- dades que envolvam processamento visual, como quebra-cabecas; apresentam facilidade em ativi- dades que envolvam pensamento abstrato; bom vocabulario; boa percepcéo de condutas sociais; so observadoras; apresentam-se motivados em tarefas que exijam a resolugao de problemas néo académicos; autoconceito mais rebaixado que ‘uma crianca com AH/SD. De acordo com Baum e Baum et al.®, as criangas com TA/AH/SD podem ser divididas ‘em trés grupos: (1) que apresentam claramente ‘um determinado talento e sutis dificuldades de aprendizagem; (2) aquelas em que nao fica clara Rev, Pscopedagogi a presenca de ambos os quadros, pois suas ha- bilidades mascarariam suas dificuldades proporcionariam um desempenho académico mediano; (3) aquelas que possuem claramente ambas as caracteristicas, desde 0 inicio de seu desenvolvimento e vida escolar. O primeiro grupo seria facilmente diagnosti- ado, em razao de seu alto desempenho, princi- palmente em testes de QI. No entanto, conforme 0s sujeitos se desenvolvem, as discrepancias entre o desempenho académico e inteligéncia comecam a ficar mais evidentes. Nos anos es- colares iniciais, nos quais hé um maior tempo para realizagao das atividades, maior énfase na independéncia e na compreenséo daquilo que esté sendo trabalhado, esses estudantes, muitas veres jé possuidores do diagnéstico de AH/ SD, apresentariam também bom desempenho escolar. No entanto, com o passar do tempo, por exemplo, costumariam impressionar seus pro- fessores por suas altas habilidades em lingua- gem oral, enquanto que, na linguagem escrita (especificamente leitura, escrita e soletracao), © desempenho ficaria cada vez mais rebaixado (quando houver um transtomo com dislexia ou disgrafia). Seus cuidadores ¢ educadores, fre~ quentemente, acreditam que, caso as criangas se desempenhem individualmente em superar as dificuldades, as fardo sem maiores problemas. Porém, se realmente possufrem algum TA, isso ndo iré ocorrer, © causaré confuséo © muitas demandas emocionais para todos os envolvidos, principalmente para as criancas***. No segundo grupo estariam aquelas criancas que nao costumam ser diagnosticadas nem com TA nem com AH/SD. Suas altas capacidades estariam constantemente trabalhando de forma a superar as dificuldades académicas, no caso o TA mascararia a AH/SD e vice-versa. Seus talentos e habilidades costumariam aparecer em alta demanda em forma de criatividade para diversos modos de aprender, ao contrario de criancas sem dificuldades de aprendizagem com AH/SD, que investiriam seu potencial em desempenhos que estariam além do esperado para seu nivel de desenvolvimento. De acordo 2015; 32(99) 346-60com Lovett & Sparks®, deve-se ainda tomar cuidado com a anilise dos testes psicométricos utilizados na avaliagao, pois essas habilidades também podem mascarar desempenhos em ins- trumentos de medida de habilidades escolares. Esses estudantes sto os mais dificeis de serem diagnosticados, pois nao necessitam tao clara- mente de atendimento especializado (sejam por suas habilidades, quanto por suas dificuldades) (Os TA frequentemente serao descobertos no en- sino médio ou quando adultos, quando ao acaso tém contato com informacdes do que seria um TA, identificando-se™***" As criancas pertencentes ao tiltimo grupo frequentemente sdo identificadas em grupos de atendimento a TA. Os profissionais que lidario com criancas com TNAHY/SD ainda nao identi- ficadas com AH/SD poderdo observar imimeras, habilidades antes nunca observadas, como na resolugdo de problemas cotidianos (inter e in- trapessoais), habilidades musicais, cientificas, filoséficas, entre outras. Em contextos fora do ambiente escolar, elas costumam ser bem mais evidenciadas. Durante um processo diagnéstico, a investigagao dessa diferenga de desempenho em diferentes contextos devera ser criteriosa- mente realizada, j4 que, muitas vezes, na escola nao ha oportunidade para que haja expressio desses potenciais. De forma geral, esse seria 0 grupo mais afctado em aspectos emocionais, pois convivem constantemente com a percepcao de suas dificuldades desde o inicio de sua vida escolar. Sentiments mais introspectivos até comportamentos inadequados no contexto escolar podem ser observados*", Infelizmente, ainda é senso comum a ideia de que quando hé AH/SD dificuldades académicas nao existirao™. Salienta-se que 0 acompanha- mento realizado por profissionais especializados em aprendizagem é recomendado também para criangas com AH/SD, por se tratar de criangas em pleno desenvolvimento e que, consequente- mente, possam vir a apresentar desempenhos incompativeis como que seja o esperado. As difi- culdades de aprendizagem num quadro de AH/ SD poderao ser decorrentes de iniimeros fatores, Rev Psicopedagogin 201 como um despreparo pedagégico para lidar com esse diagnéstico, problemas emocionais € sociais, ou mesmo a existéncia de TA. Cada um necessitard de intervencées especificas, sendo dessa forma essencial para profissionais que as acompanhardo (¢ néo menos importante para aqueles que as avaliardo) o conhecimento de que todos esses fatores possam coexistir concomi- tantemente*. Em relacao a estudos empiricos, pode-se citar primeiramente o realizado por Foley-Nicpon et al.". Os autores buscaram identificar o conhe- cimento sobre a dupla-excepcionalidade dentro da comunidade educacional e psicolégica, mais especificamente de profissionais que trabalham_ diretamente com a populagao de alunos com necessidades educacionais especializadas. Para isso, um questionério on-line, com 14 pergun- tas, foi respondido por 317 profissionais. Os re- sullados indicaram que os educadores estavamn, mais familiarizados com as legislagdes dentro da sua area de especializagéo (por exemplo, educagio de superdotados ou de deficientes), assim como demonstraram mais conhecimento empirico que tedrico sobre o tema. Por sua vez, os profissionais da Psicologia estavam mais familiarizados com o uso de programas de ava~ liacdo e intervencao, como os do modelo de Response to Intervention (Rt). Interessantemente, por meio de programas de RUi, McCallum et al." verificaram que esse mo- delo de avaliaggo/intervencao seria uma ferra- menta importante na identificagéo de criancas com TA/AH/SD. Para isso, aplicaram RtI em 1242 criangas com alta inteligéncia. Os resultados indicaram a prevaléncia de 5,48% das criancas com dificuldades em matematica e 4,83% em leitura. De modo geral, concluiram, por meio de andlises de discrepancia, que 10% da amosira necessitariam de uma avaliagéo mais aprofun- dada sobre suas dificuldades, a fim de verificar um possivel transtorno de aprendizagem. Gilger et al.®" compararam exames de imagem de ressonancia magnética funcional (fMRI) durante a realizacao de tarefas de rima, leitu- ra e processamento espacial em adultos com 3299): 346-60Avs RIR & Naxaso TC dislexia, com AH/SD, com AHY/SD e dislexia controle. Os resultados evidenciaram que o gru- po duplamente-excepcional apresentou redes neurais semelhantes as do grupo que somente possuia dislexia durante a realizado de todas as tarefas, assim como encontrado em outro es- tudo realizado Gilger & Olulade®. Por sua vez, © grupo com AH/SD apenas apresentou redes neurais semelhantes ao do grupo controle. Os autores concluiram que as AH/SD, quando em conjunto com a dislexia, néo modificam as redes de leitura corriqueiramente alteradas nesse transtorno, Berninger & Abbott’ e Viersen et al.” verificaram que, muitas vezes, as AH/SD podem mascarar o baixo desempenho em habilidades escolares de criangas com dislexia, mas que, no entanto, quando avaliadas habilidades cog- nitivo-linguistica, como de processamento fo- nolégico, so encontrados prejuizos. Foram ainda encontrados trabalhos de es- tudos de caso, Chakravarty” e Kim & Ko" apontaram para o [ato de que, de modo geral,, individuos com TA/AH/SD apresentariam como caracteristica desempenho criativo acima do que 6 observado em casos puros de AH/SD. Es- pecificamente em relacéo a dislexia, os autores afirmam que, provavelmente, esse padrao seria explicado por condicées cerebrais: hemisfério direito seria mais desenvolvido, principalmente © lobo parietal, sendo tal condicao responsavel pelo talento e por produgées criativas. Chakra- varty® cita alguns casos famosos de AH/SD, ‘como o de Leonardo Da Vincie de Albert Einstein, que provavelmente possuiam dislexia, e argu- menta que tal diferenca anat6mica cerebral po- deria estar presente. Por fim, dentre os achados mais interessantes, verificou-se que o quadro de TAAH/SD seria um dos diagnésticos mais incomuns de ocorréncia, pois a AH/SD esté comumente atrelada a um, bom desempenho académico, relagao essa des- mistificada por estudos mais atuais na area da superdotacao. Como visto, em razao da AH/SD, os TA podem se manifestar de diversos modos quando em conjunto e mascarar um ao outro, & preciso que muitas vezes acompanhamentos Rev, Pscopedagogi com carter avaliativo sejam realizados longitu- dinalmente, tanto para aquelas criancas com diagnésticos realizados transversalmente de um, quadro ou outro, Verificou-se que, quando houver TAVAH/SD, a criatividade provavelmente estaré desenvolvida, Estudos de caso, com especula- Bes ledricas sobre grandes pensadores tidos como superdolados, apontaram a criatividade frequentemente como desenvolvida quando ha a dupla-excepcionalidade TNAHY/SD, mais do que em um quadro puro de AH/SD. CONCLUSOES Os estudos apresentados aqui apontaram para diferentes padrdes de comportamentos ca- tacteristicos das AH/SD quando concomitantes a SA, TDAH eTA. Percebeu-se que as pesquisas buscaram investigar padrées cognitivos espera- dos, que possam ser semelhantes ou diferentes, em cada quadro duplamente-excepcional, sendo dado maior foco a comparagio com casos puros de AH/SD. Fez-se notar que essa dupla-condigéo 6 passivel de existéncia em termos probabilisti- cos, e que as avaliacées devem possuir extrema atencéo a detalhes, como respostas maquiadas em testes psicométricos, verificar possiveis habi- lidades em diversos ambientes, assim como ser proposta uma investigagéo mais longitudinal, sendo realizada uma intervengéo com carac- teristicas também avaliativas, como ocorre em programas de RI. Observou-se que a criatividade foi uma das habilidades mais frequentemente investigadas quando houve a comparacdo entre grupos, com resultados apontando que ela deve ser conside- rada um foco de extrema importéncia durante 0 processo avaliativo, Principalmente quando se comparou grupos puros com AH/SD com grupo de individuos duplamente-excepcionais, a criati- vidade mostrou-se estar desenvolvida em ambos, com algumas vezes melhores desempenhos no segundo grupo. Esse dado se torna importante devido ao fato de que criangas sao encaminha- das, avaliadas e passam por intervencées so- mente por suas dificuldades, e que mesmo com, testes indicando alto Ql, suas habilidades ficam 2015; 32(99) 346-60em segundo plano ou, muitas vezes, ndo séo identificadas, em todos esses procedimentos, Vale lembrar que, tanto a criatividade como a inteli- géncia so consideradas elementos constituintes das AH/SD dentro dos modelos explicativos mais atuais desse fendmeno"", eambas devem ser analisadas para que haja um diagnéstico mais completo, como o da identificagio da dupla-ex- cepcionalidade. ‘Como limitacéo do presente estudo tem-se © numero limilado de estudos e transtornos abordados. Outros transtornos ¢ deficiéncias sio passiveis de serem estudados dentro da proposta da dupla-excepcionalidade, além de também ser possivel abordar outras caracteristicas desenvol- vidas, nao somente as AH/SD. De qualquer forma, acredita-se que o presente estudo atingiu seus objetivos, e, além disso, espe- ra-se que promova ainda mais o reconhecimento de que habilidades possam estar desenvolvidas em quadros considerados debilitantes. SUMMARY ‘The twice-exceptionality: relations between giftedness with Asperger’s syndrome, attention deficit hyperactivity disorder and learning disorders The “twice-exceptionality" can be defined as a presence of high capacity in one or more areas occurring along deficiencies or conditions incompatible ‘with these capabilities. This study aimed to present and discuss the presence ofthe Giftedness (GF) taking place concurrently in Asperger Syndrome (AS), Attention Deficit Disorder and Hyperactivity Disorder (ADHD) and Learning Disorders (L.D). Social behavior and creativity proved to be as fundamental characteristics for differentiation or concomitant diagnosis of AS and GF In relation to ADHD, it was found that this characteristic behavior disorder may also be observed in GE. The LD was the most unusual diagnosis to be held in conjunction with GF, commonly due to academic performance be linked giftedness, KEY WORDS: Intelligence. Creativity. Asperger syndrome. Attention deficit disorder with hyperactivity, Learning disorders. REFERENCIAS 1. Pfeiffer $I. Serving the gifted: evidence-ba- sed clinical and psychoeducational practice, New York: Routledge; 2013, 2. Nakano TC, Siqueira LGG, Revisao de publi- cages periddicas brasileiras sobre superdo- tagdo. Rev Educ Espec. 2012;25(43):249-66, Sousa DA, How the gifted brain learns. Cali- fornia: Thousand Oaks; 2009, 4. Davis GA, Rimm SB, Siegle D, Education of the gifted and talented. New Jersey: Pearson; 2011, Rev Psicopedagogin 201 5, Kalbfleisch ML, Iguchi CM, Twice-exceptio- nal learners. In: Plucker J, Callahan CM, orgs. Critical issues and practices in gifted educa- tion. Waco: Prutrock Press; 2008, p.707-20. 8. Antipoff CA, Campos RHF. Superdotacio © ‘seus mitos. Psicol Esc Educ. 2010;14(2):301-9. 7. Fleith DS. Altas habilidades e desenvolvi- mento socioemocional. In: Fleith DS, Alen- car EMLS, eds. Desenvolvimento de talen- tos e altas habilidades: orientacdo a pais professores. Porto Alegre: Artmed; 2007, p.41-50, 3299): 346-6010. 13. 14 16. 18, 19. Avs RIR & Naxaso TC Ourofino VIAT, Fleith DS. Um estudo com- parativo sobre a dupla personalidade super- dotagdofhiperatividade. Avaliacao Psicolégi- ca. 2005;4(2):165-82. Neumeister KS, Yssel N, Burney VH. The influence of primary caregivers in fostering success in twice-exceptional children. Gifted Child Quarterly. 2013;57(4):263-74 Costa MPR, Rangni RA. Altas habilidades/ superdotacio e deficiéncia: dupla necessida- de educacional especial. Rev Tbero-America- na de Estudos em Educagao 2010;5(2). \Niepon MF, Allmon A, Sieck B, Stinson RD, Empirical investigation of twice-exceptiona lity: where have we been and where are we going? Gifted Child Quarterly. 2011;55(1) 3.17. Azevedo SML, Mettrau MB. Altas habilida- des/superdotacao: mitos e dilemas docentes na indicagao para o atendimento, Psicol Ciénc Prof, 2010;30(1):32-45. Neihart M. Identifying and providing servi- to twice exceptional children. In: Pfeiffer SI, ed. Handbook of giftedness in children: psycho-educational theory, research and best practices. New York: Springer; 2008, McEachern AG, Bornot J. Gifted students with learning disabilities: Implications and strategies for school counselors, Professional School Counseling. 2001;5:34-41. Jarosewich T, Pleiffer SI, Mortis J. Identifying gifted students using teacher rating scales: a review of existing instruments. J Psychoeduc Assess. 2002;20(4}:322-36 Pfeiffer SI, Blei S. Gifted identification beyond the IQ test: rating scales and other assess- ment procedures, In: Pfeiffer SI, ed. Hand- book of giftedness in children: psycho-edu- cational theory, research and best practices, New York: Springer; 2008. Kerr B, Sodano S. Career assessment with intellectually gifted students, J Career Assess. 2003;11(2):168-86, Sumida M. Identifying twice-exceptional chil: dren and three gifted styles in the Japane- se primary science classroom. Int J Science Educ. 2010;32(15):2097-111 ‘Melo AS, Almeida LS. Avaliagéo da precoci- dade para a entrada antecipada na escola: a negligéncia da criatividade. In: Morais MF, Bahia S, eds. Criatividade: conceito, necessida- des ¢ intervengio. Braga: Psiquilibrios; 2008, Rev, Pscopedagogi 20. 21 22. 23 24, 24, 26. 27 28 28, 30. 3h 32, 33, 2015; Pereira VLP, Guimaraes TG, Programas edu- cacionais para alunos com allas habilidades. In: Fleith DS, Alencar EMLS, eds. Desen- volvimento de talentos ¢ altas habilidades orientagio a pais e professores, Porto Alegre: Artmed; 2007. Rizza MG, Morrison WE Identifying twice ex- ceptional children: a toolkit for success. Tea- ching Exceptional Children Plus. 2007;3(3):3. Alencar EMLS. Criatividade e educagao de superdotados. Petropolis: Vozes; 2001. Barbosa MCDL, Simonetti LG, Rangel M, Relalo da vida escolar de pessoas com 0 transtorno obsessivo-compulsivo e altas ha- bilidades: a necessidade de programas de enriquecimento, Rev Bras Educ Esp. 2005; 11(2):201-22. Gross MUM. Social and emotional issues for exceptionally intellectually gifted students, In: Neihart M, Reis SM, Robinson NM, Moon, SM, eds. The social and emotional develop- ment of gifted children, Waco: Putrock; 2002. Robinson A, Shore BM, Enersen DL. Best practices in gifted education: an evidence-ba- sed guide. Texas: Sourcebooks; 2006, ‘American Psychiatric Association. Manual diagnéstico e estatistico de transtornos men- tais: texto revisado (DSM-IV-TR). Washington: Artmed; 2002. ‘American Psychiatrie Association (APA), Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-V, Washington: American Psychiatric Association; 2013, Neihart M. Gifted children with Asperger's syndrome, Gifted Child Quarterly. 2000;44(4): 222-30, Alencar EMLS, Guimarées TG, Dupla-ex- cepcionalidade, superdotacdo e transtorno de Asperger: contribuicées tedricas, Amazénica. 2012;10(3):85-108. Horn B, Gifted students with Asperger syndro- me, Gifted Education Int, 2009;25(2):165-71. Norris N, Dixon R. Twice exceptional-gifted students with Asperger syndrome, Australa- sian J Gifted Educ. 2011;20(2):34. Vieira NJW, Simon KW. Diferencas e seme- Ihangas na dupla necessidade educacional especial: altas habilidades/superdotacao x sindrome de Asperger. Rev Educ Esp, 2012; 25(43):319-32 Simoes L, Pereira M, Oliveira G. Sindrome de Asperger e sobredotacao intelectual: anélise diferencial. Sobredotacao. 2013;13/14:116-37, (99) 346-60)34 38 36. 37. 38 39. Foley-Nicpon M, Assouline SG, Stinson RD. Cognitive and academic distinctions betwe- en gifted students with autism and Asper- ger syndrome. Gifted Child Quarterly. 2012; 56(2):77-89. Mettrau MB, Macedo MME Azevedo SML, Macedo CM. Inteligéncia e superdotacao em criangas Aspexger e Savant. In: Encontro nacional do Conbrasd, encontro de eriancas @ jovens superdotados do Rio de Janeiro. ‘Anais Cultura, Ciéncia e Tecnologia: Inova- ‘cdo em Capacidade e Talentos. Niteréi: Uni- versidade Federal Fluminenso; 2012. p.1-21 Guimaraes TG. Estudo de caso de um alluno superdotado com transtorno de Asperger: desenvolvimento, caracteristicas cognitivas ¢ socioemocionais [Dissertacao de mestrado] Brasilia: Universidade de Brasilia; 2009, Kauimann FA, Kalbfleisch ML, Castellanos FX. Attention deficit disorders and gifted students: what do we really know? Storrs National Research Center on the Gifted and ‘Talented, University of Connecticut; 2000. Hosda CBK, Camargo RG, Negrini T Altas habilidades/superdotagao e hiperatividade: possiveis relacSes que podem gerar alguns equivocos. In: IX Congreso Nacional de Educacéo (PUCPR). Anais do IX Congres- so Nacional De Educagéo (PUCPR); 2009. .4393-406. Hosda CBK, Romanowski CL, As aprendiza- gens de um sujeito com caracteristicas de alas habilidades/superdotacao associadas ao transtorno de déficit de atencéo/hiperati- vidade, In: TX ANPED Sul - Semindrio de pesquisa om educacéo da regido Sul. Anais do IX ANPED Sul; 2012. p.1-15. Antshel KM, Hendricks K, Faraone SV, don M, Disorder versus disability: the challen- ge of ADHD in the context of a high 10. The ADHD Report. 2011;19(2):4-8. Zentall $8, Moon SM, Hall AM, Grskovic JA. Learning and motivational characteristies of boys with AD/HD andjor giftedness. Excep- tional Children, 2011,67(4):499-519. Silva DMA. Transtorno de deficit de atencéo € hiperatividade em superdotados: um estu do de frequéncia de sintomas e alteragées fi sicas menores [Dissertaco de mestrado]. S60 Paulo: Universidade de So Paulo; 2013 Budding D, Chidekel D. ADHD and gifted- ness: a neurocognitive consideration af twice Gor Rev Psicopedagogin 201 44. 45. 47. 48. 49. 50. 51 52. 53. 54 56. ‘exceptionality. Applied Neuropsychol, 2012; 12):145-54 Chae PK, Kim JH, Noh KS. Diagnosis of ADHD among gifted children in relation to KEDI-WISC and TOVA performance. Gifted Child Quarterly. 2003;47(3):192-201 ‘Germani LMB, Caracteristicas de altas habi- lidades/superdotacéo e de deficit de atencdo/ hiperatividade: uma contribuigao a familia © 8 escola [Dissertacéo de mestradol. Porto Alegre: Pontificia Universidade Catdlica do Rio Grande do Sul; 2006. Fugate CM, Zentall SS, Gentry M. Creativity and working memory in gifted students with land without characteristies of Attention De- ficit Hyperactive Disorder lifting the mask. Gifted Child Quarterly, 2013;571(4):234-46, Foley-Nicpon M, Rickels H, Assouline SG, Richards A. Self-esteem and self-concept exa~ mination among gifted students with ADHD. J Educ Gitted. 2012;35(3):220-40. Whitaker AM, Bell TS, Houskamp BM, (O'Callaghan ETA. Neurodevelopmental ap- proach to understanding memory processes ‘among intellectually gifled youth with atten- tion-deficit hyperactivity disorder. Applied Neuropsychol. 2015;4(1):31-40. Fetzer EA. The gifted/earning-disabled child ‘a guide for teachers and parents. Gifted Child Today. 2000;23(4):44-50, Lovelt BJ. The science and polities of gited students with learning disabilities: a social inequality perspective. Roeper Review. 2013; 35(2}:136-43 Silverman LK. The two-edged sword of com- pensation: how the gifted cope with learning disabilities. Gifted Education Int. 2009;25(2) 115-30. ‘Taucei JR, Stoltz 7, Gaberdo CV. Altas habili- Gades/superdotagao e dislexia: & possivel esta relagéo® Sobredotagio. 2013;13/14:90-115, Feldman DH. The development of creativity. In: Stemberg RU, ed. Handbook of ereativi- ty. Cambridge: Cambridge University Press; 2000. p.169-89. Li H,, Lee D, Pleiffer SI, Kamata A, Kumte- pe Al, Rosado J. Measurement invariance of the Gifted Rating Scales - School Form across five cultural groups. School Psychology Quar- tery, 2009;24(3):186, Barber C, Mueller CT: Social and selt-percep- tions of adolescents identified as gifted, lear- 3299): 346-60Avs RIR & Naxaso TC ning disabled, and twice-exceptional, Roeper Review. 2011;33(2):109-20, Gilman BJ, Lovecky DV, Kearney K, Peters DB, Wasserman JD, Silverman LK, et al Critical issues in the identification of gifted students with co-existing disabilities: the twice-exceptional. SAGE Open, 2013/1-16. Viersen S, Kroesbergen FH, Slot EM, Bree EH. High reading skills mask dyslexia in gifted children. J Learn Disabil, 2014. Baum S. ‘wice-exceptional and special popu- lations of gifted students, California: Corwin Press; 2004, Baum SM, Cooper CR, Neu TW, Dual dif ferentiation: an approach for meeting the curricular needs of gifted students with learning disabilities. Psychol Schools. 2001 38(5): 477-90. Lovett B, Sparks RL, The identification and performance of gifted students with learning disability diagnoses: a quantitative synthesis, J Learn Disabil. 2013;46(4):304-16. Foley-Nicpon M. Gifted Child Quarterly’s special issue on twice-exceptionality pro- gress on the path of empirical understanding, Gifted Child Quarterly. 2013;57(4):207-8. Montgomery D. Gifted and talented children with special educational needs: double ex- ceptionality. United Kingdom: Routledge: 2013. Reis SM, Baum SM, Burke E, An operational definition of twice-exceptional learners im- plications and applications. Gifted Child Quarterly. 2014;58(3):217-30. Nielsen ME. Gifted students with learning disabilities: recommendations for identifica tion and programming. Exceptionality. 2002 10(2):93-111 Lovett BJ, Lewandowski LJ, Gifted students with Iearning disabilities who are they? J Learn Disabil. 2006;39(6):515-27, 56. 57. 58. 59. 60. 61 62. 63. 64. 65. 66. 67. 68, 69, 70. n 72. 73, 14, Foley-Nicpon M, Assouline SG, Colangelo N. Twice-exceptional learners who needs to know what? Gifted Child Quarterly. 2013; 57(3}:169-80, Mccallum RS, Bell SM, Coles JT, Miller KC, Hopkins MB, Hilton-Prillhart A. A model for sereening twice-exceptional students (gifted with learning disabilities) within a response to intervention paradigm. Gifted Child Quar- terly. 2013;209-22. Gilger JW, Talavage TM, Olulade OA. An {MRI study of nonverbally gifted reading disabled adults: has deficit compensation effected gifted potential? Frontiers in Human Neuroscience. 2013;7. Gilger JW, Olulade OA. What happened to ‘the “superior abilities” in adults with dysle- xia and high 1Qs? A behavioral and neurolo- gical illustration, Roeper Review, 2013;35(4): 241-53 Beringer VW, Abbott RD. Differences between children with dyslexia who are and are not gifted in verbal reasoning, Gifted Child Quarterly. 2013;57(4):223-33, Chakravarty A. Artistic talent in dyslexia: a hypothesis. Medical Hypotheses. 2009;73(4): 569-71 Kim JY, Ko YG. If gifted/learning disabled students have wisdom, they have all things! Roeper Review. 2007;29(4):249-58, Chakravarty A. Taare Zameen Par and dysle- xxic savants, Ann Indian Acad Neurol. 2009; 12(2):99-103. Robinson A, Clinkenbeard PR. History of giftedness: perspectives from the past presage modem scholarship. In: Preiffer S, ed. Hand- book of giftedness in children: psycho-edu- cational theory, research and best practices, New York: Springer; 2008. p.13-31. ‘Trabalho realizado na Ponillicia Universidade Catélica (PUC) - Campinas, Campinas, SP, Brasil. Rev, Pscopedagogi Aitigo recebido: 30/6/2015 Aprovado: 21/10/2015, .- 2015; (99) 346-60)