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SocioLogia

CAPíTULO

1
O que é Sociologia?
OBJETOS DE
CONHECIMENTO Objetivos do capítulo
• Estimular a observação objetiva da realidade social.
• Treinar a capacidade de generalização dos fenômenos sociais.
• Objetos de estudo da
Sociologia. • Facilitar o reconhecimento da relação entre o indivíduo e a realidade social
próxima.
• Linguagem e perspectiva
sociológica. • Notar como o contexto histórico possibilitou a emergência da Sociologia.
• Relação entre mudanças • Conhecer Auguste Comte e suas principais ideias.
históricas e ideias
sociológicas. Podemos observar o mundo por meio do funcionamento de átomos e moléculas,
• Formas de encarar e de princípios matemáticos, dos aspectos naturais das paisagens e da interação entre
estudar a sociedade. seres vivos e seu ambiente. As estratégias para realizar tais observações são desenvol-
vidas pela Química, Matemática, Geografia e Biologia, respectivamente. Mas e quanto
a nós, as pessoas?
Nós também somos formados por átomos e moléculas, assim como interagimos
com nosso meio ambiente natural. No entanto, nos relacionamos uns com os ou-
tros e, ao fazê-lo, construímos diversas formas de coletividade, criamos instituições,
estabelecemos valores, crenças e costumes, construímos cidades e desenvolvemos
tecnologia. A Sociologia é a disciplina na qual estratégias de observação, de ex-
plicação e de interpretação desses fenômenos são desenvolvidas. Existe todo um
aparato teórico e técnicas de pesquisa empírica à disposição e em constante
desenvolvimento.

TEORIA PESQUISA EMPÍRICA


• É uma explicação bem fundamentada • É baseada em fenômenos observados
de um aspecto do mundo natural ou e medidos, obtendo o conhecimento
social, composta por conceitos (uma da experiência. As pesquisas
representação simbólica sobre algo, empíricas devem expor claramente
como uma árvore) e por princípios (a a metodologia aplicada para que
relação entre um ou mais conceitos). possam ser replicadas e, assim, terem
As teorias permitem a realização seus resultados testados.
de previsões, como é o caso da
de gravitação, que possibilita aos
astronautas saberem o que esperar ao
flutuarem no espaço.

O SOCIAL SE EXPLICA PELO SOCIAL


Para pensarmos sobre a perspectiva sociológica, podemos partir de um exemplo.
Você já parou para pensar como a noção de ser uma pessoa “jovem” ou “velha” mudou no
último século? Esta é uma noção que muda de acordo com a expectativa de vida de uma
sociedade. É por isso que, para a Sociologia, há uma relação complexa entre idade social
e idade biológica. Pierre Bourdieu diz que:

Sociologia 1
a idade é um dado biológico socialmente manipulado e manipulável; e
que o fato de falar dos jovens como se fossem uma unidade social, um gru-
po constituído, dotado de interesses comuns, e relacionar estes interesses a
uma idade definida biologicamente já constitui uma manipulação evidente.
Seria preciso pelo menos analisar as diferenças entre as juventudes, ou,
para encurtar, entre as duas juventudes [a biológica e a social].
BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Disponível em: http://www.observatoriodoensinomedio.ufpr.br/
wp-content/uploads/2014/04/a-juventude-e-apenas-uma-palavra-bourdieu.pdf. Acesso em: 12 jun. 2021.

A Sociologia, afirmou Émile Durkheim (1858-1917), explica o social pelo social.


Isso quer dizer que os valores, costumes, tradições, comportamentos e instituições
devem ser entendidos com base em suas causas (ou funções) sociais. Pode-se
dizer que elementos do âmbito biológico também se explicam pelo social, porque
são manipulados por ele.
Assim, em uma perspectiva sociológica e antropológica, a velhice e o envelheci-
mento, por exemplo, deixam de ser encarados como fatos naturais, para serem consi-
derados fenômenos profundamente influenciados pela cultura.

Senso comum e investigação sociológica


Consideramos senso comum aquilo que todo mundo acredita que sabe. Por exem-
plo, quase todos sabemos que a evasão escolar é alta no Brasil – essa situação, de acordo
Senso comum implica com o senso comum mais recorrente, tem duas explicações: os jovens não gostam de
em um conjunto estudar ou são preguiçosos. No entanto, se optamos por olhar o mundo pelas “lentes”
compartilhado de valores da Sociologia, é preciso uma constante vigilância sobre a influência que nossas crenças,
e crenças, que orientam valores, hábitos e costumes exercem em nossa forma de interpretar o mundo.
as decisões e a prática. Diante disso, para explicar mais precisamente os motivadores de um fenômeno como
Portanto, ele é útil para o da evasão escolar, dependemos de trabalhos de pesquisa realizados com regularidade
a vida social e para o e conduzidos por pesquisadores de instituições governamentais ou acadêmicos.
desenvolvimento da
Uma pesquisa empírica pode mapear, por exemplo, o perfil do aluno (renda
ciência na medida em que
serve de ponto de partida
familiar, gênero, cor da pele), as características das instituições que mais sofrem
ou de contraste. Nesse
evasão (rural, urbana, equipamentos disponíveis no local) e realizar um levanta-
sentido, a Sociologia pode mento das razões desse fenômeno dadas pelos alunos que abandonam os estudos
utilizá-lo como um recurso (dificuldades financeiras ou familiares, falta de interesse). Pode-se perceber as
científico para entender representações acionadas pelos alunos quando eles falam de sua relação com a
por que as pessoas fazem educação (possibilidade de mobilidade social ascendente, perda de tempo, obri-
o que fazem. gação penosa e atividade desestimulante).
Além dos resultados de uma pesquisa empírica, existe a teoria sociológica referen-
te ao problema da evasão escolar. Ela nos ajuda a interpretar nossos achados empíricos
ao mesmo tempo que é reforçada ou refutada por eles. Por exemplo, a percepção da
importância da educação para a vida em sociedade é mais fácil para quem experi-
mentou a educação escolar cercado de condições favoráveis, com mais experiências
familiares de sucesso provindos do estudo.

Imaginação sociológica
O reconhecimento das determinações sociais nos comportamentos individuais
exige a introjeção de um modo peculiar de ver o mundo, como qualquer outra habi-
lidade, treino e técnica. Isso exige, principalmente, desenvolver e aprimorar a nossa
capacidade de abstração, considerando isoladamente os elementos.
O sociólogo estadunidense Charles Wright Mills (1916-1962) propôs a utilização
da imaginação sociológica para designar nossa capacidade de reflexão e de análise
do cenário histórico mais amplo da sociedade e, assim, auxiliar a desmitificar os fatos
mais simples de nossa vida íntima e pessoal. Na imaginação sociológica, realizamos
o exercício de abstrair nossa posição na sociedade sem nos desvincularmos social-
mente de nossas relações mais cotidianas.

2 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 1
Nesse sentido, retomando a reflexão já apresentada a respeito da educação e da
evasão escolar, não se pode alegar que os jovens que mais abandonam a escola o
fazem porque veem a educação com menos interesse. Você compreende que “desin-
teressado”, nesse contexto, tem um valor moral embutido? Há dezenas de questões
sociais a serem contempladas a respeito deste fenômeno social para que ele seja
A Sociologia explora
compreendido. a relação entre
os indivíduos e a
Contexto do surgimento da Sociologia sociedade em que
vivem. Assim, a definição
Consideremos três grandes mudanças ocorridas a partir do século XVII que de nossa identidade
influenciaram diretamente no surgimento da Sociologia: a Revolução Científica, a individual e de nosso
Revolução Industrial e a Revolução Francesa. lugar no mundo passam
A Revolução Francesa foi o evento mais importante no surgimento da Sociologia. por fatores como nossa
classe social, etnia, idade,
No decorrer do século XVIII, o conjunto dos princípios que organizavam a sociedade gênero, profissão, entre
francesa – os privilégios da nobreza, a sociedade dividida com base em “ordens” outros atributos sociais.
hereditárias e o poder absoluto do rei – perdeu legitimidade em virtude da ação dos A Sociologia pode,
filósofos e dos escritores iluministas. portanto, nos ajudar a
entender melhor nosso
Esses princípios não eram mais vistos como aceitáveis ou justos, pois almejava- lugar no mundo e a nós
-se uma sociedade mais livre, mais igualitária e mais fraterna. A Revolução Francesa mesmos.
foi objeto direto de análise de vários sociólogos, como Auguste Comte (1798-1857),
que, com base nela, desenvolveu suas ideias; Alexis de Tocqueville (1805-1859),
o qual procurou entender a passagem do Antigo Regime para a nova sociedade;
e Karl Marx (1818-1883), que interpretou esse evento político e social em termos
materialistas.

AUGUSTE COMTE E O MÉTODO CIENTÍFICO


Comte desenvolveu seu pensamento em um conjunto de ideias que ele chamou
de positivismo. Sua proposta, então, não era de um conhecimento desinteressado ou
neutro – ou seja, Comte via o conhecimento científico como necessário para ações
preventivas, evitando injustiças e carências sociais.
A sociologia comtiana considerava que a sociedade deveria ser estudada usando
procedimentos gerais (negando explicações teológicas e metafísicas), como fazem as
demais ciências para explicar o mundo natural. Cada ciência deve aplicar esses princí-
pios gerais aos seus fenômenos específicos e elaborar seus procedimentos particulares.
No estudo da sociedade, há três elementos específicos:

RELATIVISMO

• O conhecimento que o ser humano pode obter é sempre parcial e condicionado


pelos sentidos sensoriais e por sua capacidade de articular ideias.

HOLISMO

• O ponto de partida para o estudo da sociedade deve ser a sociedade como um


todo: sua lógica específica, seus elementos componentes e a forma como eles se
relacionam entre si.

HISTORICIDADE

• A visão de conjunto não pode se restringir a um único momento no tempo,


devendo abarcar também o conjunto da história humana: daí a preocupação com
a historicidade.

Sociologia 3
Sociologia comtiana
Comte propõe que o ser humano percebeu a realidade e explicou-a conforme três concepções diferentes e
sucessivas:
1. Teleológica – tinha por base às vontades sobrenaturais dos deuses. 
2. Metafísica – usava abstrações puras (“natureza”, “morte”, “vida”, etc.) que teriam vontades próprias. 
Nas duas, o ser humano busca o absoluto ao perguntar por que as coisas acontecem, de onde viemos e para
onde vamos. 
3. Positiva: buscava as leis naturais, isto é, as relações que podem ser observadas entre os fenômenos de sucessão
(uma coisa vem depois de outra, por exemplo, depois de me queimar, sinto dor) ou de coexistência (quando duas
coisas existem sempre ao mesmo tempo e, no caso de haver dois corpos próximos, ocorre a atração gravitacional). 

Atenção
O termo positivismo pode ter várias acepções. Aqui, nós o entendemos como a filosofia e o movimento político
e social derivados de Auguste Comte.

Na fase positivista, busca-se pesquisar como as coisas acontecem. Não importa mais o porquê. 

Na sociologia comtiana, quanto mais simples for o fenômeno estudado, mais rapidamente ele passará pelas
três fases. Quanto maior for a quantidade de variáveis que se deve considerar para explicá-lo, mais demorada será
a passagem da interpretação teológica para a positiva.

Com base na complicação crescente dos tipos de fenômenos estudados, Comte estabeleceu uma classificação das
ciências, conforme a tabela a seguir.

CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS PARA AUGUSTE COMTE


Especificidade
+ Matemática –
Astronomia
Física
Química
Biologia
Sociologia
– Psicologia positiva +
Generalidade

4 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 1

ATIVIDADES
4. (UNICENTRO – PR) A doutrina de Auguste Comte (1798-
1857), que buscava leis universais para os fenômenos sociais,
Assimilação é denominada
a) Fenomenologia.
1. (UECE) Sob o ponto de vista da Sociologia, a juventude não
b) Positivismo.
é homogênea, é plural, pois os grupos juvenis da sociedade
se distinguem tanto pelas desigualdades sociais, de raça e de c) Psicologia.
gênero quanto pela diferenciação cultural. d) Marxismo.
De acordo com a proposição acima, é correto afirmar que e) Sociologismo.
a) a juventude é definida como um segmento social que partilha 5. O sujeito é encarado de forma passiva e reativa, em uma
uma mesma faixa de idade e expectativas de vida semelhantes. crença fervorosa da separação entre ele e o objeto. Essa é a
b) juventude é o momento de entrar no mercado de tra- definição de
balho para garantir o futuro, pois é logo cedo que se a) orientação psicológica.
aprende uma profissão.
b) orientação científica.
c) os jovens, na sociedade atual, configuram o futuro do Brasil
c) metafísica.
e todos têm igualdade de oportunidades na sociedade,
dependendo apenas do esforço individual para alcançar d) instrumentalismo.
sucesso na vida.
d) não se pode falar em juventude, mas em juventudes, de- Aperfeiçoamento
vido à diversidade e pluralidade de situações que definem
o lugar e a pertença dos jovens na sociedade.
6. (ENEM)
2. A Revolução Francesa foi o evento mais importante no
surgimento da Sociologia. Quais mudanças sociais e de pen- Nossas vidas são dominadas não só pelas inutilidades de
samento esta Revolução trouxe para o mundo Ocidental? nossos contemporâneos, como também pelas de homens que
já morreram há várias gerações. Além disso, cada inutilidade
ganha credibilidade e reverência com cada década passada
desde sua promulgação. Isso significa que cada situação
social em que nos encontramos não só é definida por nos-
sos contemporâneos, como ainda predefinida por nossos
predecessores. Esse fato é expresso no aforismo segundo o
qual os mortos são mais poderosos que os vivos.

BERGER, P. Perspectivas sociológicas: uma visão


humanística. Petrópolis: Vozes, 1986 (adaptado).

Segundo a perspectiva apresentada no texto, os indivíduos


de diferentes gerações convivem, numa mesma sociedade,
com tradições que
a) Permanecem como determinações da organização social.
3. (CESMAC – AL) Um coletivo de cidadãos que, su-
jeitos à mesma autoridade e normas de conduta, b) Promovem o esquecimento dos costumes.
está organizado comunitariamente, visando, conscientemente, c) Configuram a superação dos valores.
os mesmos interesses e bem-estar, é o que se entende por: d) Sobrevivem como heranças sociais.
a) determinado conjunto de cientistas que, pela investigação e) Atuam como aptidões instintivas.
e pesquisa, visa o bem da sociedade na qual está inserido.
b) agrupamento de pessoas duma mesma etnia, em torno
de crenças religiosas comuns e dogmas inalteráveis.
c) conjunto de cidadãos, com idênticos ideais políticos, que
se unem para formar novo partido político.
d) conjunto de indivíduos, com idêntico patamar econômico,
que se reúne em torno de uma cooperativa empresarial.
e) sociedade, enquanto objeto específico de estudo da
disciplina acadêmica chamada ‘Sociologia’.

Sociologia 5
7. Leia o texto a seguir. 9. (UNIMONTES – MG) O lema adotado na bandeira brasileira
– Ordem e Progresso – teve influências positivistas.
[...] não se deve achar um paralelismo completo quando Considerando as características do Positivismo, julgue as
se compara a concepção sistemática do organismo cole- afirmativas a seguir:
tivo [ou seja, a teoria sociológica] com a do organismo
individual [a teoria do corpo humano], pois a natureza I. O Estado positivo constitui-se pela predominância da
composta de um difere profundamente da indivisível observação. A sociedade busca respostas científicas para
constituição do outro. [...] Assim, deve saber-se restringir todos os fenômenos.
sabiamente uma tal comparação, para que, no lugar de II. O termo “positivismo” designa o pensamento do filósofo
preciosas indicações, ela não suscite aproximações vicio- francês Auguste Comte (1798-1857) e tem como afir-
sas. Por outro lado, ainda que a Biologia deva preceder
mação básica que todo conhecimento, em termos de
e preparar a Sociologia [...], [minha teoria] estabeleceu
suficientemente que a segunda [a Sociologia] deve, ao realidade, se baseia nos dados “positivos” da história da
contrário, servir hoje de tipo [isto é, de modelo] para a humanidade.
sistematização final da primeira [da Biologia]. [...] Essa III. O Positivismo baseia-se em dados empíricos da realidade
subordinação necessária caracteriza sempre o método cotidiana, no “mundo da vida”, e busca no método dialé-
subjetivo, única fonte de toda verdadeira síntese. tico a compreensão da complexidade social.
Está(ão) CORRETA(S) as afirmativas:
COMTE, Auguste. Sistema de política positiva. 4.
ed. Paris: Larousse, 1929. p. 288-289. v. 2. a) I, apenas.
Com base no texto, assinale a alternativa incorreta. b) I e II, apenas.
a) Para Auguste Comte, é legítimo usar metáforas basea- c) II e III, apenas.
das na Biologia para estudar a Sociologia, desde que se d) III e I, apenas.
tenha consciência das diferenças entre os fenômenos
10. (ENEM)
biológicos e os sociais.
b) Um dos problemas em exagerar as comparações entre a
O rapaz que pretende se casar não nasceu com esse im-
Biologia e a Sociologia é não entender o que há de espe- perativo. Ele foi insuflado pela sociedade, reforçado pelas
cífico nos fenômenos sociais. incontáveis pressões de histórias de família, educação, mo-
c) O uso da metáfora biológica na Sociologia ajuda a enten- ral, religião, dos meios de comunicação e da publicidade.
der que os seres humanos são dependentes uns dos outros Em outras palavras, o casamento não é um instinto, e sim
(precisando da colaboração para viver). uma instituição.
d) Uma das diferenças entre a Biologia e a Sociologia é que
BERGER, P. Perspectivas sociológicas: uma visão
os órgãos do corpo humano podem viver isolados, ao humanística. Petrópolis: Vozes, 1986 (adaptado).
contrário dos indivíduos.
O casamento, conforme é tratado no texto, possui como
e) A síntese subjetiva consiste em subordinar teorica-
mente os estudos das Ciências Naturais à perspectiva característica o(a)
humanista, ou seja, na linguagem atual, deve haver uma a) consolidação da igualdade sexual.
perspectiva transdisciplinar. b) ordenamento das relações sociais.
8. (ENEM) c) conservação dos direitos naturais.
d) superação das tradições culturais.
Após ter examinado cuidadosamente todas as coisas, cum-
pre enfim concluir e ter por constante que esta proposição, e) questionamento dos valores cristãos.
eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira toda s as 11. (UECE) Considerando o contexto histórico do surgimento
vezes que a enuncio ou que a concebo em meu espírito.
da Sociologia, assinale a afirmação verdadeira.
DESCARTES, R. Meditações. Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
a) A Sociologia surge no século XVI em decorrência direta
A proposição “eu sou, eu existo” corresponde a um dos mo- das mudanças trazidas pelo desenvolvimento das gran-
mentos mais importantes na ruptura da filosofia do século des navegações.
XVII com os padrões da reflexão medieval, por b) A Sociologia surge a partir da Revolução Russa, no ano
a) estabelecer o ceticismo como opção legítima. de 1917.
b) utilizar silogismos linguísticos como prova ontológica. c) A Sociologia resulta dos estudos sobre o modo de produ-
c) inaugurar a posição teórica conhecida como empirismo. ção desenvolvido na Ásia.
d) estabelecer um princípio indubitável para o conhecimento. d) É no século XIX, já com a consolidação do sistema capi-
e) questionar a relação entre a filosofia e o tema da existência talista na Europa, que se encontra a herança intelectual
de Deus. mais próxima da Sociologia como ciência particular.

6 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 1
12.(UNICENTRO – PR) Com base nos conhecimentos sobre 15. (UEG – GO) Ao discutir o surgimento das Ciências Sociais,
o significado sociológico de instituição social, assinale a o sociólogo Florestan Fernandes desenvolve sua análise par-
alternativa correta. tindo do princípio da multicausalidade. Assim, não é possível
atribuirmos uma única causa que explique o surgimento da
a) Assume independência e distância da história da vida social.
sociologia no séc. XIX, mas uma combinação de vários fatores,
b) Desestrutura e inviabiliza relações estáveis entre indiví- que começam a se definir na transição da idade média para a
duos e grupos. era moderna e que tornaram possíveis as condições para o sur-
c) Expressa a soma das vontades e dos valores individuais. gimento dessa ciência. Dentre os fatores a seguir, identifique
d) Impõe padrões de controle e de normas de comportamento. os que se relacionam ao surgimento da sociologia e assinale
a alternativa correspondente:
e) Impede mudanças coletivas e individuais pelo seu caráter
a) O Relativismo e a Revolução Científica expressam a cre-
imutável.
dibilidade que as ciências assumem, a partir de então,
13. (UEG – GO) A sociologia surge como ciência no século XIX. Ela contribuindo para o surgimento da sociologia.
nasce numa época marcada pela ideia de criar ciências positivas b) O Antropocentrismo e a Escolástica contribuem para uma
da sociedade, período em que são criadas as ciências humanas. nova perspectiva religiosa que estimula a análise científica,
Alguns sociólogos discutem a relação entre a sociologia e filosofia. favorecendo o surgimento da sociologia.
Durkheim, por exemplo, apresenta Montesquieu e Rousseau c) A Revolução Industrial e o Êxodo Rural provocaram pro-
como precursores da sociologia. Nesse sentido, a sociologia fundas modificações na estrutura econômica e social da
a) surge no interior de um movimento intelectual que nasce época, criando problemas que exigiam uma explicação
com o racionalismo e o iluminismo, visando negar a filo- científica.
sofia e ocupar o seu lugar. d) O Iluminismo e a Revolução Francesa reforçam o ideário
b) abarca a filosofia e as ciências naturais, criando uma síntese da burguesia, criando assim a necessidade de explicações
que supera ambas, ao mostrar que a fonte do conhecimento de ordem racional para os novos fenômenos que se apre-
é a sociedade. sentam no séc. XIX.
c) objetiva ser uma ciência particular e, por isso, necessita e) A Reforma Protestante e a Expansão Marítima foram
distinguir-se de outras ciências e da filosofia, criando responsáveis pela instabilidade econômica que gerou a
objeto e método próprios. crise social, levando à necessidade de desenvolvimento
da sociologia.
d) busca juntar filosofia e sociologia para criar uma nova
ciência, a física social, que seria o positivismo inspirado
em Augusto Comte e Durkheim. Aprofundamento
14. (UFSM – RS) O biólogo Edward Wilson sustenta que a
teoria da evolução explica não apenas a evolução das caracte-
16. (UECE)
rísticas físicas predominantes em uma espécie, mas também a
evolução de traços sociais (como a divisão social do trabalho, Há reconhecimento nas pautas públicas de um novo sujeito
a evolução da linguagem e da moralidade). Se isso é verdade, de direitos, os jovens. As políticas públicas juvenis têm um
então aquilo que hoje tendemos a considerar moralmente papel importante na construção desses direitos. Porém,
correto pode ser um produto de nosso passado evolutivo. avançar da afirmação deste princípio democrático para a
garantia efetiva da participação juvenil, em todas as etapas
Se nosso passado evolutivo tivesse sido diferente, é possível
das políticas em curso, constitui, ainda, um grande desafio.
que nossa sensibilidade moral hoje também fosse diferente.
Observe as afirmações a seguir, considerando as que são RIBEIRO, Eliane. MACEDO, Severine. Notas sobre políticas públicas de
juventude no Brasil: conquistas e desafios.
compatíveis com o enunciado da questão. Disponível em:http://www.scielo.edu.uy/scielo.php?script=sci_
arttext&pid =S0797-55382018000100107.
I. O fato de hoje tendermos a valorizar atos de bondade e
compaixão e a desvalorizar atos de crueldade é um traço Considerando as políticas públicas de juventude no Brasil,
biológico de nossa espécie que deve ter trazido vantagens assinale a afirmação verdadeira.
adaptativas aos nossos antepassados. a) As políticas públicas para os jovens no Brasil são eficazes
II. Há um conjunto de normas morais que não mudam e que por atender as demandas dessa população, com ações
sempre foram adotadas universalmente. de fortalecimento das identidades juvenis e, sobretudo,
III. A evolução moral está correlacionada com a capacidade pela inserção universal dos jovens pobres no mercado de
adaptativa dos indivíduos e grupos ao ambiente em que trabalho.
vivem. b) As políticas públicas juvenis afirmam o princípio democrá-
Está(ão) correta(s): tico da juventude como sujeitos de direitos e, consequen-
a) apenas I. d) apenas II e III. temente, revelam o compromisso do Estado brasileiro com
b) apenas II. e) I, II e III. o bem-estar de todos os jovens do Brasil, principalmente os
das periferias urbanas.
c) apenas I e III.

Sociologia 7
c) Por ser uma população homogênea, os jovens, inde- a) a comemoração ao divórcio.
pendentemente de políticas públicas juvenis no Brasil, b) o casamento religioso entre viúvos.
participam de todas as instâncias de planejamento, exe-
cução e avaliação das ações voltadas para sua afirmação c) a união estável para os casais idosos.
identitária e social. d) a adoção de crianças por casais do mesmo sexo.
d) Muitos programas, projetos e políticas, em geral, não e) a perda da guarda dos filhos por abandono de incapaz.
provêm de diálogos com os jovens, podendo-se neles se
19. (ENEM)
observar improvisação, desconhecimento de suas pro-
blemáticas, descontinuidades, em especial para os jovens
Só num sentido muito restrito, o indivíduo cria com seus
pobres que mais necessitam de políticas públicas.
próprios recursos o modo de falar e de pensar que lhe são
atribuídos. Fala o idioma de seu grupo; pensa à maneira de
seu grupo. Encontra a sua disposição apenas determinadas
17. (UEMA) palavras e significados. Estas não só determinam, em grau
A Sociologia como ciência da modernidade foi influenciada considerável, as vias de acesso mental ao mundo circun-
por várias mudanças decorrentes das revoluções burgue- dante, mas também mostram, ao mesmo tempo, sob que
sas, especialmente na Europa nos séculos XVIII e XIX. Para ângulo e em que contexto de atividade os objetos foram até
Bourdieu, a singularidade dos estudos sociológicos ocorre agora perceptíveis ao grupo ou ao indivíduo.
porque MANNHEIM, K. Ideologia e utopia.
Porto Alegre: Globo, 1950 (adaptado).
A sociologia descobre o arbitrário, a contingência, ali Ilustrando uma proposição básica da sociologia do conhe-
onde as pessoas gostam de ver a necessidade ou natureza. cimento, o argumento de Karl Mannheim defende que o(a)
Descobre a necessidade, a coação social, ali onde se gostaria
de ver a escolha, o livre arbítrio. Uma das características das a) conhecimento sobre a realidade é condicionado socialmente.
realidades históricas é que sempre é possível estabelecer b) submissão ao grupo manipula o conhecimento do mundo.
que as coisas poderiam ser diferentes, que são diferentes em c) divergência é um privilégio de indivíduos excepcionais.
outros lugares, em outras condições. O que se quer dizer é d) educação formal determina o conhecimento do idioma.
que, ao historicizar, a Sociologia desnaturaliza, desfataliza.
e) domínio das línguas universaliza o conhecimento.
Fonte: BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica ao
julgamento social. São Paulo: Edusp, 2007. 20. (ENEM)
A partir das singularidades dos estudos sociológicos expressos
na assertiva de Bourdieu, as correntes de pensamento que O filósofo Auguste Comte (1789-1857) preenche sua
doutrina com uma imagem do progresso social na qual se
determinaram o aparecimento da Sociologia como ciência
conjugam ciência e política: a ação política deve assumir o
da modernidade são conhecidas como aspecto de uma ação científica e a política deve ser estudada
a) Nazismo, Criticismo, Anarquismo e Marxismo. de maneira científica (a física social). Desde que a Revolução
b) Socialismo, Idealismo, Comunismo e Empirismo. Francesa favoreceu a integração do povo na vida social, o
positivismo obstina-se no programa de uma comunidade
c) Cristianismo, Naturalismo, Capitalismo e Fascismo. pacífica. E o Estado, instituição do “reino absoluto da lei”,
d) Iluminismo, Liberalismo, Racionalismo e Positivismo. é a garantia da ordem que impede o retorno potencial das
e) Materialismo Histórico, Democracia, Feudalismo e revoluções e engendra o progresso.
Utilitarismo. RUBY, C. Introdução à filosofia política.
São Paulo: Unesp, 1998 (adaptado).
18. (UEMA)
A característica do Estado positivo que lhe permite garantir
não só a ordem, como também o desejado progresso das
Um dos fenômenos sociais de destaque nos estudos so-
nações, é ser
ciológicos são as instituições sociais. Conceituadas como
“toda forma ou estrutura social estabelecida, constituída a) espaço coletivo, onde as carências e desejos da população
sedimentada na sociedade e com caráter normativo – ou se realizam por meio das leis.
seja, ela define regras e exerce formas de controle social”. b) produto científico da física social, transcendendo e trans-
Por isso, mudanças nas instituições sociais geralmente formando as exigências da realidade.
envolvem disputas entre conservadores e progressistas.
c) elemento unificador, organizando e reprimindo, se neces-
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à sário, as ações dos membros da comunidade.
Sociologia. São Paulo: Ática, 2008.
d) programa necessário, tal como a Revolução Francesa,
A situação que tem gerado disputa ideológica na socieda- devendo, portanto se manter aberto a novas insurreições.
de brasileira tanto no discurso de senso comum como nas e) agente repressor, tendo um papel importante a cada
instâncias de poder, em virtude do processo de mudança na revolução, por impor pelo menos um curto período
formatação da instituição social denominada de família, é de ordem.

8 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 1
21. (UEL – PR) Leia o texto a seguir. sob o risco de ficar cada vez mais distante a meta de alcançar
um país mais justo.
A sociedade, com sua regularidade, não é nada externa
Disponível em http://dssbr.org/site/2012/01/
aos indivíduos; tampouco é simplesmente um “objeto fator‐previdenciario‐fator‐de‐discriminacao‐racial/.
oposto” ao indivíduo; ela é aquilo que todo indivíduo quer
dizer quando diz “nós”. Mas esse “nós” não passa a existir
porque um grande número de pessoas isoladas que dizem
“eu” a si mesmas posteriormente se une e resolve formar
uma associação. As funções e as relações interpessoais que
expressamos com partículas gramaticais como “eu”, “você”,
“ele” e “ela”, “nós” e “eles” são interdependentes. Nenhuma
delas existe sem as outras e a função do “nós” inclui todas
as demais. Comparado àquilo a que ela se refere, tudo o
que podemos chamar “eu”, ou até “você”, é apenas parte.
(ELIAS, N. A Sociedade dos Indivíduos. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p.57.)

O modo como as diferentes perspectivas teóricas tratam da


noção de identidade vincula-se à clássica preocupação das
Ciências Sociais com a questão da relação entre indivíduo e so-
ciedade. Com base no texto e nos conhecimentos da sociologia
histórica, de Norbert Elias, assinale a alternativa que apresenta,
corretamente, a noção de origem do indivíduo e da sociedade.
a) O indivíduo forma-se em seu “eu” interior e todos os outros
são externos a ele, seguindo cada um deles o seu caminho
autonomamente.
b) A origem do indivíduo encontra-se na racionalidade,
conforme a perspectiva cartesiana, segundo a qual “penso,
logo existo”.
c) A sociedade origina-se do resultado diretamente per-
ceptível das concepções, planejamentos e criações do a) Numa pirâmide etária, que aspecto visual (em relação à
somatório de indivíduos ou organismos. sua forma) permite estimar a proporção da população
idosa em relação ao total da população?
d) A sociedade forma-se a partir da livre decisão de muitos
indivíduos, quando racional e deliberadamente decide-se
pela elaboração de um contrato social.
e) A sociedade é formada por redes de funções que as pes-
soas desempenham umas em relação às outras por meio b) Cite e explique dois fatores de natureza socioeconômica
de sucessivos elos. que contribuem para a diferenciação entre as pirâmides
etárias.
22. (FUVEST – SP)

Introduzido nos anos 1990, o fator previdenciário vinculou


o acesso à aposentadoria ao envelhecimento da população,
visando à sustentabilidade financeira da previdência. Assim,
cada aumento da expectativa de vida implica em aumento c) Usando dados da comparação entre as pirâmides etárias,
do tempo necessário de contribuição para manutenção explique por que o texto afirma que “o fator previdenciário
do mesmo valor do benefício. (...) Ao desconsiderar as é um fator de discriminação racial no Brasil”.
diferenças raciais em relação à expectativa de vida, o fator
previdenciário é um fator de discriminação racial no Brasil.
Tal evidência não pode ser ignorada pelas políticas públicas,

Gabarito
1. d 3. e 8. d 13. c 18. d 22. a) Topo largo, maior a quantidade expectativa de vida. Em países
2. O poder político e eclesiástico 4. b 9. b 14. c 19. a de idosos. subdesenvolvidos, é o contrário.
existente perdeu sua legitimidade, a 5. a 10. b 15. c 20. a b) Nos países desenvolvidos, a base c) Mesmo trabalhando igual (ou
cultura política atual se define no que da pirâmide é mais estreita — mais) que os brancos, a expec-
6. d 11. d 16. d 21. e
diz respeito a essa revolução. baixa taxa de natalidade. O meio tativa de vida da população
7. d 12. d 17. d e o topo são mais largos — maior negra é menor.

Sociologia 9
SocioLogia
CAPíTULO

2
Sociologia e método de pesquisa
OBJETOS DE Objetivos do capítulo
CONHECIMENTO
• Compreender os fundamentos da atividade científica.
• Perceber a Sociologia como uma disciplina científica.
• Pensamento científico.
• Entender a relação entre teoria e pesquisa social.
• Método e teoria de
• Entender a diferença entre perspectiva macro e micro.
pesquisa social.
• Perspectivas micro e • Identificar os três maiores paradigmas de pensamento da Sociologia.
macrossociológicas.
• Paradigmas de
pensamento da Todo fenômeno social pode ser explicado, e isso é o principal desafio da Sociologia.
Sociologia. A felicidade, por exemplo, é algo subjetivo, pois, dependendo das sociedades, esse
• Conceitos para entender a sentimento é desencadeado por motivos diferentes e apresenta-se em diversas inten-
Sociologia. sidades e por meio de manifestações distintas. Inclusive, em uma mesma sociedade
pode haver diferenças, uma vez que ela tem grupos sociais distintos, como os das
crianças e o dos adolescentes.
Felicidade é um conceito, uma abstração. Para medi-la, necessitamos de um indi-
cador. Indicadores são usados por plataformas de músicas via streaming, por exemplo.
Na edição de 8 de fevereiro de 2020, o jornal The Economist criou uma medida
quantitativa de felicidade sazonal por meio da análise do consumo de música, uma
variável proxy, correlacionada com a variável principal, que é a felicidade. Na análise
destes dados, os especialistas concluíram sobre uma intrínseca relação entre felicidade
e o clima: nos meses mais gelados no hemisfério norte (fevereiro, por exemplo), a
tristeza é maior de acordo com o perfil das músicas mais ouvidas na plataforma Spotify.

©Shutterstock/StratfordProductions

Podemos pensar sobre a importância de métodos de pesquisa a partir da felicidade.

10 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 2
1. As teorias podem inspirar problemas de pesquisa,
TEORIA E PESQUISA SOCIAL identificando o que até agora estava oculto, mal
O termo teoria tem significados de senso comum e compreendido ou mal interpretado.
técnicos. No primeiro caso, teoria pode significar ideias, Nem todas as questões de pesquisa são necessaria-
proposições e explicações que chegam ao essencial, à mente abertas por meio da teoria social, mas muitas são.
“verdade” por trás de algo que, muitas vezes, está oculto. As teorias oferecem maneiras de olhar para o mundo
Pense, por exemplo, em expressões como “eu tenho uma social e as diferentes teorias sociais, frequentemente,
teoria sobre você”. A afirmação, geralmente, é entendida explicam novos domínios, revisam compreensões dos já
de forma normativa, revelando uma verdade considerada existentes e oferecem interpretações concorrentes sobre
desejável, algo que “deveria ser assim”. Outra forma de o eles infundindo a prática de pesquisa social.
senso comum tomar a teoria é como o oposto ou como a
2. As teorias podem reunir fragmentos não relaciona-
negação do que está “na prática”, na vida concreta, real; em
dos de evidências empíricas e inspirar uma pesquisa.
outras palavras, é aquilo que “só existe na teoria”.
As ideias e proposições que compõem a teoria podem
Atenção fornecer saltos imaginativos na compreensão, conec-
tando situações, dados ou pesquisas não relacionadas
O significado técnico de teoria, ou seja, a teoria anteriormente. A teoria pode, assim, destacar e explicar as
científica, abarca um conjunto inter-relacionado regularidades empíricas que aparecem no mundo social.
de ideias e proposições. Suas explicações não
3. A pesquisa depende da teoria.
são normativas e seu conhecimento é condicional,
pois, à medida que ele avança, as teorias são revisa- Toda pesquisa envolve alguma teoria. No entanto, a forma
das; assim, elas são condicionadas e relacionadas ao como isso assume pode variar. Às vezes, essa relação de de-
nível de conhecimento disponível. pendência não é reconhecida, mas suposições e proposições
teóricas estão contidas na escolha dos métodos de pesquisa
ou na forma como o problema de pesquisa é definido. Em ou-
Nesse sentido, as teorias sociais não são sobre o estabe- tras ocasiões, a teoria está presente desde o início, e a pesquisa
lecimento de uma “verdade” em seu sentido normativo (“isso é planejada para testar ou operacionalizar suas ideias. Quando
deveria ser assim”), porque não é esse o objetivo das ciências isso ocorre, temos a pesquisa dedutiva, que é conduzida à
sociais. As teorias sociais são divididas em dois grupos: luz da teoria e usada para verificar as ideias teóricas.
• Teoria geral: são conjuntos inter-relacionados de ideias Às vezes, uma teoria é esperada como o resultado de
e proposições em grande escala, que procuram abran- pesquisas, na forma de inferências teóricas ou na de uma
ger explicações muito gerais do mundo social como teoria totalmente fundamentada. Isso é chamado de pes-
todo. Para alcançar uma explicação da sociedade no quisa indutiva e descreve uma abordagem pela qual as
passado, no presente e, ocasionalmente, no futuro, elas teorias se desenvolvem com base na pesquisa. Em ambas
vão além do que pode ser visto, observado ou medido. as visões, a pesquisa depende da teoria. Esta dependência
Os primeiros grandes sociólogos, ou os chamados clás- é principalmente intencional e deliberada, mas existe im-
sicos – Karl Marx e Émile Durkheim –, desenvolveram plicitamente mesmo onde a teoria não é reconhecida pelo
teorias gerais da sociedade. Embora Durkheim tenha pesquisador social. A dependência da teoria é uma virtude e
operacionalizado uma pesquisa empírica, com uso de não algo a ser negado. As boas investigações empíricas não
estatística, ele a baseou em sua teoria geral. gerarão uma boa pesquisa a menos que questões teóricas
• Teorias de médio alcance: são ideias e proposições também sejam feitas. Questões sociais profundas requerem
inter-relacionadas que podem ser traduzidas em pro- teoria, a fim de interpretar as observações empíricas.
posições empíricas, mensuráveis e mais facilmente
testáveis em pesquisa social. Frequentemente, essas
teorias direcionam-se a problemáticas mais abran- teoria empiria
gentes ( por exemplo, o que mantém a sociedade
coesa?), buscando explicar algumas das regularidades
presentes no mundo social. Para isso, elas referem-se
Algumas teorias são melhores do que outras a depender
a domínios menores da sociedade (por exemplo, o
do que se pretende observar; os pesquisadores empíricos
que é o crime) em proporções mais administráveis
devem se manter atentos aos debates teóricos, e os
pelo pesquisador. teóricos devem considerar as questões levantadas pela
pesquisa empírica. Isso é o que faz o conhecimento
A relevância da teoria avançar: a associação entre os trabalhos teóricos e os
empíricos por eles orientados. Os primeiros tentam extrair
para a pesquisa social um sentido maior dos fenômenos observados, realizando
generalizações e abstrações, já os segundos visam testar
Existem três maneiras pelas quais a teoria é relevante essas ideias, contrastando previsões e evidências.
para a pesquisa social.

Sociologia 11
METODOLOGIAS CIENTÍFICAS
DE PESQUISA SOCIAL
As metodologias de pesquisa são ferramentas essenciais para a ciência. Aliás, sem
método, não há ciência. Elas são conjuntos de regras e procedimentos que objetivam
orientar a pesquisa científica e avaliar seus resultados. Embora seja uma aproximação
simplista, ao considerá-las um conjunto de diretrizes a serem seguidas, podemos
compará-las a uma receita. Diferentemente do que diz o senso comum, os fatos não
falam por si, eles devem ser fundamentados teoricamente e metodologicamente.
Podemos pensar na metodologia de duas maneiras:
1) Como um conjunto de regras, de procedimentos de raciocínio e de estruturas
lógicas para analisar os fatos. São convenções que permitem prosseguir um estudo
de maneira sistemática, por meio de evidências.
2) Como uma forma de comunicação, uma linguagem. Para ser capaz de se comunicar
com outras pessoas, segue-se certas convenções.
Nesse sentido, a metodologia deve fornecer não apenas uma maneira de organizar
ideias e evidências, mas também uma linguagem para comunicar o que se encontrou
na pesquisa. Todo esse processo é essencial no estabelecimento de legitimidade para
o campo científico.

Existem duas abordagens metodológicas gerais nas ciências sociais: a quanti-


tativa e a qualitativa. Embora não sejam totalmente compreensíveis como opos-
tas, essas abordagens adotam posições muito diferentes sobre os fundamentos da
relação entre ideias e evidências.

• A metodologia quantitativa traduz fenômenos sociais em dados numéricos que


podem ser explorados estatisticamente e produzir resultados generalizáveis para
uma população maior. O objetivo final é explicar o máximo possível de fenômenos
com o menor número possível de variáveis. Sendo assim, a principal razão pela qual
o pesquisador está interessado em estabelecer relações é demonstrar que estes são
características gerais da vida social. Esse tipo de abordagem é adequado para testar
teorias, identificar padrões gerais e fazer previsões. É, portanto, de natureza dedutiva.
• A metodologia qualitativa é baseada no estudo intensivo de tantos recursos quanto
possível de um único ou um pequeno número de fenômenos. Ao invés de condensar
informações, busca construir compreensão em profundidade. Essa metodologia não
está interessada na amplitude, mas sim em buscar o significado dos fenômenos. Nesse
sentido, ela não visa a generalidade como a quantitativa. Na qualitativa, observa-se
todos os aspectos do mesmo fenômeno para ver suas inter-relações e como se unem
para formar um todo. O fenômeno é estudado em seu contexto, com a visão de que
é impossível entendê-lo fora desse âmbito. Ela é indutiva à medida que tem mais
possibilidade de contribuir para o desenvolvimento da teoria.
Observação
A Sociologia enfrenta dificuldades características, já que o comportamento
humano pode ser, de certa forma, imprevisível. Nas ciências naturais, o ambiente
de pesquisa é mais bem controlado, os microrganismos da placa de petri, por
exemplo, não desenvolvem livre vontade e alteram seu experimento planejado
minuciosamente. Em pesquisa social é mais difícil controlar o ambiente e como o
objeto interage com ele, uma vez que há a influência da subjetividade humana.

12 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 2
PERSPECTIVAS MICRO E MACROSSOCIOLÓGICAS
Observar as estruturas sociais, as mudanças sociais e explicar diferenças, igualdades e desigualdades nas diversas
sociedades e nos momentos históricos exige estratégias que mostrem diversos ângulos.
É por isso que para Thomas Kuhn (1922-1996) é importante refletirmos sobre os paradigmas, pois eles propor-
cionam modelos, são padrões que orientam em determinada época a construção do conhecimento e das tradições
de pesquisa científica. Eles orientam a maneira como os cientistas sociais desenvolvem teorias, conduzem pesquisas
e avaliam evidências.
A diferença entre os paradigmas está na escala de observação, isto é, na porção da sociedade em que se concentram.
Perspectivas macro olham para processos sociais amplos, como o sistema de produção e o sistema escolar, já as micro
perspectivas focam nos padrões de interação cotidiana. As duas perspectivas não estão completamente separadas,
porque o grande e o pequeno estão interligados, mas, para fins de operacionalização da pesquisa, elas são essenciais.

NÍVEIS DE
PARADIGMAS ARGUMENTOS QUESTÕES SOCIOLÓGICAS
ANÁLISE
Como a sociedade funciona?
Estrutural-funcionalismo A sociedade funciona como um sistema
ou um organismo com partes inter- De que forma as partes da
Remete à Emile Durkheim Macro sociedade se relacionam
relacionadas trabalhando juntas para
(1858-1917) manter sua estabilidade e solidariedade. umas com as outras e com a
sociedade como um todo?
A sociedade é composta de grupos Quem está se beneficiando?
Conflito social distintos, com diferentes posições
Qual é a fonte dos conflitos
no sistema de produção, que
Remete à Karl Marx (1818- Macro entre os grupos?
perseguem seus próprios interesses.
1883) As relações sociais se caracterizam por Como isso pode ser
desigualdades e lutas. resolvido?
Qual é o sentido das
É por meio das ações sociais e interações ações dos indivíduos em
Teoria da ação Social/
que as estruturas sociais são criadas. O sociedade?
Sociologia compreensiva
Micro trabalho da Sociologia é compreender os Como as relações
Remete à Max Weber (1864- sentidos dados pelo agente às suas ações interindividuais explicam os
1920) em um contexto social. grandes temas/problemas
da sociedade?
A sociedade e as instituições são frutos
de interações interpessoais (face a face)
Interacionismo simbólico cotidianas. Os indivíduos orientam a sua
Remete à Max Weber (1864- Micro ação ao outro e à sociedade. O elemento Qual é o sentido do que as
1920) e George Herbert principal na interação é o símbolo, pessoas dizem e fazem?
Mead (1863-1931) pois as intenções são transmitidas por
meio de atos simbólicos passíveis de
interpretação.
STOLLEY, Kathy S. The basics of sociology. Greenwood Press, Londres, 2005, p. 29. Tradução nossa.

Assim, as disciplinas científicas observam o mundo usando diferentes pontos de vista, ou perspectivas: na física, uma
bola de tênis quicando pode ser interpretada como um número quase infinito de partículas, com funções de onda, man-
tidas juntas por diferentes tipos de força. Pode também ser compreendida como um número x de gramas de borracha
se deslocando no espaço.
O ponto de vista muda conforme o tipo de pergunta feita. Contudo, essa metáfora dos pontos de vista é incompleta
sem a ideia de níveis de análise. Considerar o nível de aproximação do objeto de estudo (se é micro ou macro) é
essencial, porque nós vemos as coisas de forma diferente, dependendo da distância.

Sociologia 13
ATIVIDADES
5. (UFMS) Émile Durkheim é um pensador de grande
Assimilação importância na Sociologia, pois considera que o estudo da
sociedade deve ser realizado por meio da aplicação de um
método específico aos moldes das ciências.
1. O que é uma teoria científica? O método sociológico proposto por este pensador é referente
à(ao):
a) subjetividade na análise do fato social, visto que as socieda-
des são diferentes e a mesma regra não pode ser aplicada
da mesma forma em diferentes formas de organização.
2. Explique a diferença entre os objetos de estudo das ciências
sociais e os das ciências naturais. Foque nas dificuldades extras b) estudo da sociedade como elemento mutável e que pode
encontradas pelas ciências sociais com relação a seu objeto. ser transformado de acordo com as influências externas
na amplitude da aplicação do método sociológico.
c) indivíduo, que isoladamente não serve como parâmetro
de análise, pois ele pode fazer parte de vários fatos sociais
ou de várias realidades sociais, apresentando condições e
3. (ENEM) resultados diferentes.
d) refutação ao ideal comteano de que a sociedade deve ser
O conhecimento é sempre aproximado, falível e, por isso
mesmo, suscetível de contínuas correções. Uma justificação compreendida como um organismo vivo; para Durkheim,
pode parecer boa, num certo momento, até aparecer um a sociedade deve ser ideal e dispor de todas as patologias
conhecimento melhor. O que define a ciência não será então sociais para que o método sociológico possa ser aplicado
a ilusória obtenção de verdades definitivas. Ela será antes aos indivíduos.
definível pela prevalência da utilização, por parte dos seus e) abstenção de valores pré-estabelecidos ou preconceitos,
praticantes, de instrumentalidades que o campo científico visto que cada sociedade será moldada a partir de senti-
forjou e tornou disponíveis. Ou seja, cada progressão no mentos coletivos e não crenças individuais.
conhecimento que mostre o caráter errôneo ou insuficiente
de conhecimentos anteriores não remete estes últimos para 5. (CESMAC – AL) A disciplina Sociologia é importante nas
as trevas exteriores da não ciência, mas apenas para o estágio grades curriculares porque:
de conhecimentos científicos historicamente ultrapassados.
a) tendo em vista que o homem é um ser social por natureza,
ALMEIDA, J. F. Velhos e novos aspectos da epistemologia das ciências somente no estudo dessa disciplina encontra os caminhos
sociais. Sociologia: problemas e práticas, n. 55, 2007 (adaptado). para atingir sua perfeição moral.
O texto desmistifica uma visão do senso comum segundo a b) sendo o seu objetivo principal o ordenamento jurídico
qual a ciência consiste no(a) de um povo, só mediante esse estudo consegue garantir
a) conjunto de teorias imutáveis. a indispensável convivência pacífica.
b) consenso de áreas diferentes. c) sendo a metodologia adotada na Sociologia um modelo
c) coexistência de teses antagônicas. usado para as demais ciências, ficariam essas sem norma-
tização no âmbito da pesquisa.
d) avanço das pesquisas interdisciplinares.
d) visando a Sociologia, especificamente, o conhecimento
e) preeminência dos saberes empíricos.
psíquico de cada indivíduo em seu interior, mais facilmen-
4. Hipócrates (460-377 a.C.) popularizou o para- te o habilita para viver em sociedade.
digma de que a doença era um processo natural. e) sendo a Sociologia o estudo aprofundado do homem em
Ele explicou-a como um desequilíbrio de quatro humores: sociedade, leva o aluno a conhecer melhor a sociabilidade
quente, frio, seco e úmido. Os tratamentos deviam reequilibrar enquanto característica essencial de todo ser humano.
esses humores – por exemplo, refrescar alguém com doença
relacionada ao calor. Esse paradigma dominou por séculos.
Na atualidade, nas sociedades ocidentais, o paradigma
médico predominante se baseia nas pesquisas do químico Aperfeiçoamento
francês Louis Pasteur (1822-1895) e, desde o final do século
XIX, concentra seus tratamentos no combate a bactérias. Os
paradigmas médicos apresentados representam perspectivas
6. Relacione os conceitos com suas respectivas definições.
micro ou macro?
(1) Teoria normativa
(2) Teoria positivista

14 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 2
( ) Está preocupada com o que deve ser. É um conjunto de c) a ciência existe para confirmar nossas certezas cotidianas,
ideias e de proposições que incorporam um valor de utilizando um pensamento assistemático que despreza o
preferência explícito ou implícito. trabalho da razão.
( ) Está preocupada em demonstrar como é. Vale-se de con- d) a rigor, a ciência complementa o senso comum, mas ba-
clusões tomadas com base na descrição do fenômeno tal nindo os obstáculos e problemas observados por nossa
como é de fato: como se relacionam suas variáveis, como percepção imediata das coisas.
as hipóteses foram testadas.
10. (ENEM)
7. (UEG – GO) No contexto do séc. XIX, a atitude científica
das ciências naturais mais aceita mostra que diante dos fatos,
acontecimentos, diferenças e descontinuidades testemunha- Assentado, portanto, que a Escritura, em muitas passagens,
das pelos sentidos, existem regularidades que podem ser não apenas admite, mas necessita de exposições diferentes
transformadas em leis que sustentam teorias que possuem do significado aparente das palavras, parece-me que, nas
caráter objetivo, quantitativo, homogeneizador, generalizador, discussões naturais, deveria ser deixada em último lugar.
e que chegam até mesmo a reconstruir os fenômenos em GALILEI, G. Carta a Dom Benedetto Castelli. In: Ciência e
condições de laboratório. Considerando esses aspectos do fé: cartas de Galileu sobre o acordo do sistema copernicano
conhecimento científico, que problemas tiveram de enfrentar com a Bíblia. São Paulo: Unesp, 2009 (adaptado).
as Ciências Humanas em sua origem no sec. XIX?
O texto, extraído da carta escrita por Galileu (1564-1642) cerca
a) Ao nascerem, as ciências humanas tentaram copiar o mo- de trinta anos antes de sua condenação pelo Tribunal do Santo
delo metodológico das ciências naturais, reconhecendo Ofício, discute a relação entre ciência e fé, problemática cara
que o fenômeno social pode ser analisado cientificamente no século XVII. A declaração de Galileu defende que
por ser um dado objetivo.
a) a bíblia, por registrar literalmente a palavra divina, apre-
b) Ao surgirem no séc. XIX, as Ciências humanas dispensaram senta a verdade dos fatos naturais, tornando-se guia para
as contribuições das ciências naturais, voltando-se mais a ciência.
para a arte, a política e a filosofia utilizando-se de outros
b) o significado aparente daquilo que é lido acerca da natu-
métodos não científicos.
reza na bíblia constitui uma referência primeira.
c) As Ciências humanas nunca demonstraram a pretensão de
c) as diferentes exposições quanto ao significado das palavras
distinguir o fenômeno físico do fenômeno humano, pois
bíblicas devem evitar confrontos com os dogmas da Igreja.
aceitaram sem discussão o método das ciências naturais.
d) a bíblia deve receber uma interpretação literal porque,
d) As ciências humanas, como a sociologia, procuram conhe-
desse modo, não será desviada a verdade natural.
cer os fenômenos humanos recorrendo a abordagens que
dispensam o método experimental científico das ciências e) os intérpretes precisam propor, para as passagens bí-
naturais, valorizando a introspecção. blicas, sentidos que ultrapassem o significado imediato
das palavras.
8. Não se considera como pressuposto do conhecimento
Científico a 11. (ENEM)

a) verificabilidade. c) mensurabilidade. A sociologia ainda não ultrapassou a era das construções e a


b) objetividade. d) infalibilidade. das sínteses filosóficas. Em vez de assumir a tarefa de lançar
luz sobre uma parcela restrita do campo social, ela prefere
9. (UEG – GO) buscar as brilhantes generalidades em que todas as questões
são levantadas sem que nenhuma seja expressamente tratada.
Não é com exames sumários e por meio de intuições rápidas
A ciência desconfia da veracidade de nossas certezas, de que se pode chegar a descobrir as leis de uma realidade tão
nossa adesão imediata às coisas, da ausência de crítica e complexa. Sobretudo, generalizações às vezes tão amplas e
da falta de curiosidade. Por isso, onde vemos coisas, fatos tão apressadas não são suscetíveis de nenhum tipo de prova.
e acontecimentos, a atitude científica vê problemas e obs-
táculos, aparências que precisam ser explicadas. DURKHEIM, E. O suicídio: estudo de sociologia.
São Paulo: Martins Fontes, 2000.
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2003. p. 218. O texto expressa o esforço de Èmile Durkheim em construir
Com base na afirmação precedente pode-se afirmar que: uma sociologia com base na
a) a ciência, ao contrário do senso comum, é um conheci- a) vinculação com a filosofia como saber unificado.
mento objetivo, quantitativo e generalizador, que se opõe b) reunião de percepções intuitivas para demonstração.
ao caráter dogmático e subjetivo do senso comum. c) formulação de hipóteses subjetivas sobre a vida social.
b) a ciência domina o imaginário contemporâneo. Isso d) adesão aos padrões de investigação típicos das ciências
significa que, cada vez mais, confiamos no testemunho naturais.
de nossos sentidos que promovem uma adesão acrítica à e) incorporação de um conhecimento alimentado pelo
realidade dada. engajamento político.

Sociologia 15
12. (ENEM) 14. (UNESP – SP)
TEXTO I
Diariamente somos inundados por inúmeras promessas de curas
Não é sem razão que o ser humano procura de boa vontade milagrosas, métodos de leitura ultrarrápidos, dietas infalíveis,
juntar-se em sociedade com outros que estão já unidos, ou riqueza sem esforço. Basta abrir o jornal, ver televisão, escutar
pretendem unir-se, para a mútua conservação da vida, da o rádio, ou simplesmente abrir a caixa de correio eletrônico.
liberdade e dos bens a que chamo de propriedade. A grande maioria desses milagres cotidianos é vestida com algu-
ma roupagem científica: linguagem um pouco mais rebuscada,
LOCKE, J. Segundo tratado sobre governo: ensaio relativo à verdadeira origem, aparente comprovação experimental, depoimentos de “renoma-
extensão e objetivo do governo civil. São Paulo: Abril Cultural, 1978 (adaptado). dos” pesquisadores, utilização em grandes universidades. São
TEXTO II casos típicos do que se costuma definir como “pseudociência”.
(Marcelo Knobel. “Ciência e pseudociência”. In:
Física na escola, vol. 9, no 1, 2008.)
Para que essas classes com interesses econômicos em con-
flitos não destruam a si mesmas e à sociedade numa luta Pode-se elaborar a crítica filosófica aos conhecimentos pseu-
estéril, surge a necessidade de um poder que, na aparência, docientíficos por meio
esteja acima da sociedade, que atenue o conflito, mantenha- a) da imposição de novos sistemas ideológicos.
-o dentro dos limites da ordem.
b) da confiança em teorias fundamentadas no senso comum.
ENGELS, F. In: GALLINO, L. Dicionário de sociologia.
c) da ampla divulgação de ideias individuais.
São Paulo: Paulus, 2005 (adaptado). d) da preservação de saberes populares.
Os textos expressam duas visões sobre a forma como os e) da demonstração de ausência de evidências empíricas.
indivíduos se organizam socialmente. Tais visões apontam, 15. (FUVEST – SP) O tema “Teoria da Evolução” tem provocado
respectivamente, para as concepções: debates em certos locais dos Estados Unidos da América, com
a) Liberal, em defesa da liberdade e da propriedade privada algumas entidades contestando seu ensino nas escolas. Nos
– Conflituosa, exemplificada pela luta de classes. últimos tempos, a polêmica está centrada no termo teoria,
b) Heterogênea, favorável à propriedade privada – Consen- que, no entanto, tem significado bem definido para os cien-
sual, sob o controle de classes com interesses comuns. tistas. Sob o ponto de vista da ciência, teoria é:
c) Igualitária, baseada na filantropia – Complementar, com a) sinônimo de lei científica, que descreve regularidade de fenô-
objetivos comuns unindo classes antagônicas. menos naturais, mas não permite fazer previsões sobre eles;
b) sinônimo de hipótese, ou seja, uma suposição ainda sem
d) Compulsória, na qual as pessoas possuem papéis que se
comprovação experimental;
complementam – Individualista, na qual as pessoas lutam
c) uma ideia sem base em observação e experimentação, que
por seus interesses.
usa o senso comum para explicar fatos do cotidiano;
e) Libertária, em defesa da razão humana – Contraditória, d) uma ideia apoiada pelo conhecimento científico, que tenta
na qual vigora o estado de natureza. explicar fenômenos naturais relacionados, permitindo fazer
13. (UNEMAT – MT) A Sociologia é uma ciência que se con- previsões sobre eles;
solidou no século XIX. Vários autores contribuíram para o seu e) uma ideia apoiada pelo conhecimento científico, que, de tão
desenvolvimento, porém há alguns que se destacaram como comprovada pelos cientistas, já é considerada uma verdade
clássicos. Dentre eles estão: incontestável.
a) Émile Durkheim, com o funcionalismo; Karl Marx com a so-
ciologia crítica e Max Weber, com a sociologia compreensiva.
b) Adorno, com a sociologia psicanalítica; Berger e Luckman, Aprofundamento
com a sociologia interacionista e Habermas, com sua teoria
da comunicação. 16. (ENEM)
c) Anthony Giddens, com a sociologia estrutural; Niklas Luh-
mann, com a sociologia da comunicação e Norbert Elias, A moralidade, Bentham exortava, não é uma questão de
com o individualismo metodológico. agradar a Deus, muito menos de fidelidade a regras abstra-
d) Octávio Ianni e sua sociologia do desenvolvimento; Flores- tas. A moralidade é a tentativa de criar a maior quantidade
tam Fernandes e a sociologia do negro e Fernando Henrique de felicidade possível neste mundo. Ao decidir o que fazer,
Cardoso, com a teoria da dependência. deveríamos, portanto, perguntar qual curso de conduta
e) Manuel Castells e a sociedade em rede; Max Weber e a socio- promoveria a maior quantidade de felicidade para todos
aqueles que serão afetados.
logia compreensiva e Émile Durkheim, com sua sociologia
das instituições. RACHELS, J. Os elementos da filosofia moral. Barueri-SP: Manole, 2006.

16 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 2
Os parâmetros da ação indicados no texto estão em confor- d) Estabelecer rigorosa correspondência entre princípios
midade com uma explicativos e fatos observados.
a) fundamentação científica de viés positivista. e) Constituir-se como saber organizado ao permitir classifi-
b) convenção social de orientação normativa. cações deduzidas da realidade.
c) transgressão comportamental religiosa. 19. (ENEM)
d) racionalidade de caráter pragmático.
O Heliocentrismo não é o “meu sistema”, mas a Ordem
e) inclinação de natureza passional.
de Deus.
17. (UECE) Emile Durkheim, Karl Marx e Max Weber interpre- TEXTO I
taram, de diferentes modos, o papel da religião na sociedade. COPÉRNICO, N. As revoluções dos orbes celestes [1543].
Tendo em mente os diferentes conteúdos propostos por estes Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984.
três autores, numere as proposições, abaixo apresentadas, de
Não vejo nenhum motivo para que as ideias expostas
acordo com a seguinte indicação:
neste livro (A origem das espécies) se choquem com as
1. Emile Durkheim; 2. Karl Marx; 3. Max Weber. ideias religiosas.
( ) Religião consiste em um sistema de crenças e de práticas TEXTO II
relativas ao sagrado. Une os indivíduos em uma comuni- DARWIN, C. A origem das espécies [1859]. São Paulo: Escala, 2009.
dade moral.
( ) Religião é depositária de significados culturais, por meio Os textos expressam a visão de dois pensadores – Copérnico
dos quais indivíduos e coletividades interpretam suas e Darwin – sobre a questão religiosa e suas relações com a
condições de vida. ciência, no contexto histórico de construção e consolidação
da Modernidade. A comparação entre essas visões expressa,
( ) Religião compreende a alienação do indivíduo na estru-
respectivamente:
tura da produção material da sociedade capitalista.
( ) Secularização é a passagem de fenômenos de domínio a) Articulação entre ciência e fé – pensamento científico
religioso para a esfera mundana. independente.
A sequência correta, de cima para baixo, é b) Poder secular acima do poder religioso – defesa dos dog-
a) 3, 2, 3, 1. c) 2, 1, 3, 2. mas católicos.
b) 1, 3, 2, 3. d) 1, 2, 3, 3. c) Ciência como área autônoma do saber – razão humana
submetida à fé.
18. (ENEM) d) Moral católica acima da protestante – subordinação da
ciência à religião.
A atividade atualmente chamada de ciência tem se mos-
trado fator importante no desenvolvimento da civilização 20. (UFSM – RS) Segundo o filósofo e historiador da ciência
liberal: serviu para eliminar crenças e práticas supersti- Thomas Kuhn, revoluções científicas são episódios de mudança
ciosas, para afastar temores brotados da ignorância e para radical do paradigma de uma disciplina. Considere as afirmações
fornecer base intelectual de avaliação de costumes herdados a seguir sobre a concepção de paradigma de Thomas Kuhn.
e de normas tradicionais de conduta. I. Paradigmas são maneiras de resolver problemas cien-
NAGEL, E. et al. Ciência: natureza e objetivo. tíficos adotados numa disciplina durante certo período
São Paulo: Cultrix, 1975 (adaptado). histórico.
Quais características permitem conceber a ciência com os II. Paradigmas são ensinados aos estudantes de uma disci-
aspectos críticos mencionados? plina por meio de manuais e livros-textos.
a) Apresentar explicações em uma linguagem determinada III. Paradigmas contêm maneiras de ver a natureza ou visões
e isenta de erros. de mundo.
Está(ão) correta(s)
b) Possuir proposições que são reconhecidas como inques-
tionáveis e necessárias. a) apenas I. d) apenas I e II.
c) Ser fundamentada em um corpo de conhecimento autoe- b) apenas II. e) I, II e III.
vidente e verdadeiro. c) apenas III.

Gabarito
1. É uma explicação ampla abstrato ou de constata- 3. a 9. a 15. d
sobre os motivos pelos ções empíricas. 4. Macro 10. e 16. d
quais certas coisas acon- 2. Em pesquisa social, é 5. e 11. d 17. b
tecem e que incorporam mais difícil controlar o am-
várias hipóteses e obser- 6. 1-2 12. a 18. d
biente e como o objeto in-
vações. São construídas terage com ele. 7. a 13. a 19. a
por meio do raciocínio 8. d 14. e 20. e

Sociologia 17
SocioLogia
CAPíTULO

12
3
Um organismo funcional
OBJETOS DE
CONHECIMENTO Objetivos do capítulo
• Compreender o que produz coesão social.
• Conceitos fundamentais • Perceber causas e consequências da desintegração social.
do pensamento de Émile • Operacionalizar conceitos sociológicos.
Durkheim.
• Uso da estatística em
Sociologia. Morrer é um fenômeno biológico. Conforme os médicos aprendem em sua forma-
• Criação de tipos em ção, a morte ocorre quando cessam as funções vitais. No entanto, os acontecimentos
Sociologia. em torno dela, como suas causas, interpretações, os rituais de despedida e o processo
de luto, são influenciados ou determinados culturalmente. Dependendo do contexto, a
morte pode ser interpretada como o fim ou o começo de um ciclo, uma passagem ou
uma transformação. Além disso, ela pode ser chorada, lamentada ou, até mesmo, feste-
jada. Nesse sentido, a morte movimenta ações, pensamentos e sentimentos humanos;
por isso, configura-se como um objeto de estudo para a Sociologia.
Como Vai Você? Em seu livro O suicídio: estudo de sociologia (1897), Émile Durkheim (1858-1917)
O CVV [Centro de realiza uma análise sociológica do suicídio. O autor define essa ação como qualquer
Valorização da Vida] morte que resulte, direta ou indiretamente, de um ato positivo ou negativo desempe-
é uma das ONGs nhado pela própria vítima quando sabe que a morte será o resultado de seu ato.
mais antigas do país. Ele considerava importantes os estudos psicológicos sobre esse fenômeno, mas
Fundado em São
insistiu no fato de que o suicídio poderia ser observado independentemente de suas
Paulo em 1962, atua
manifestações individuais. Segundo ele, o suicídio é uma questão social que varia de
no apoio emocional
acordo com a razão inversa do grau de integração social dos indivíduos com a socieda-
e na prevenção
de. Dessa forma, o elemento central é a coesão social – quanto mais integração social,
do suicídio por
menor a taxa de suicídio.
meio do telefone
188, e também
por chat, e-mail e O QUE MANTÉM A SOCIEDADE COESA?
pessoalmente. [...]
O fato de sermos tão diferentes e, ainda assim, vivermos em sociedade é um tanto
Após a implantação
curioso, não é? Existem várias subculturas, diversas condições socioeconômicas e inte-
do telefone 188,
resses múltiplos. Sendo assim, o que nos mantém juntos, afinal?
por meio de acordo
com o Ministério da Essa é a questão fundamental de Émile Durkheim. O pensador viveu entre 1858 e
Saúde que garantiu 1917, portanto, testemunhou a Terceira República Francesa, um período de estabilida-
gratuidade da de iniciado em 1871, depois de muitos tumultos. Nesse contexto, além das questões
tarifação telefônica, políticas, havia as mudanças econômicas e tecnológicas, como as trazidas pela indus-
registramos cerca trialização, as transformações culturais, a deslegitimação da autoridade tradicional, a
de 3 milhões de urbanização, etc. Diante disso, Durkheim quis entender o funcionamento tanto normal
atendimentos por quanto anormal de sua sociedade para que ela não sofresse um novo colapso.
ano.
COMO vai você? Para Durkheim, a Sociologia estaria para a sociedade como a Biologia e a Medicina
Disponível em: https:// estariam para o corpo humano. Durkheim, que inaugurou o paradigma estrutural
www.setembroamarelo.
org.br/cvv/. Acesso funcionalista, compreendia a sociedade como uma espécie de organismo feito de
em: 26 jul. 2021. diferentes partes e estruturas, que teriam de funcionar juntas para mantê-lo saudável.

18 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 3
Em 1897, Durkheim escreveu O suicídio: estudo de sociologia, livro no qual usou métodos estatísticos – ele coletou
taxas de suicídio do final do século XIX em diversos países da Europa. Além da preocupação com a empiria, ele também
pensou em termos que hoje são considerados padrões na Sociologia, como a necessidade de operacionalizar variáveis e
conceitos abstratos, tornando-os mensuráveis.
O ato do suicídio não foi não foi tratado por Durkheim como algo puramente psicológico, mas sim como um fenôme-
no social. Ele notou que o crescimento nas porcentagens de suicídio coincidia com a diminuição da integração social.
Para desenvolver sua análise sobre o suicídio, Durkheim usou a técnica da criação de tipos sociais, muito utilizada nas
Ciências Sociais. Ele especificou quatro tipos de suicídio e determinou suas respectivas causas sociais. São eles:
• Egoísta – há uma individualização desmesurada. Quanto mais fraco for o grupo ao qual pertence, mais o indivíduo
dependerá de si próprio, por não reconhecer outras regras de conduta que não as suas. Dessa forma, há uma falta de
integração, na relação entre o indivíduo e o grupo.
• Anômico – ocorre em uma situação de anomia social, isto é, quando não há regras na sociedade. Nessas circuns-
tâncias, a normalidade social não é mantida. Imagine uma situação econômica em que uma parcela imensa da
população perde bruscamente sua riqueza e seu poder, ou uma sociedade com taxas muito altas de desemprego.
• Altruísta – acontece quando as normas e as regras sociais são incorporadas pelo indivíduo de tal forma que ele
se coloca à disposição da sociedade. Nesse sentido, o suicida sufoca seu instinto de preservação, age por meio de
imperativos sociais interiorizados, sacrificando-se em nome do que considera um bem maior. Os kamikazes são um
exemplo típico desse tipo de suicídio.
• Fatalista – ocorre quando não há esperança de que a normalidade seja retomada.
Apesar do declínio das crenças morais tradicionais que Durkheim verificava na sociedade moderna, ele não acredi-
tava que esta, inevitavelmente, tendesse à desintegração. A forma de coesão social pelo consenso, a solidariedade
mecânica, é substituída por aquela produzida pela divisão do trabalho: a solidariedade orgânica.

É O INDIVÍDUO QUEM NASCE DA SOCIEDADE, NÃO O CONTRÁRIO


Para Durkheim, o objeto de estudo da Sociologia é o fato social, que o autor define como:

toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então
ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das
manifestações individuais que possa ter.

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Companhia Nacional, 2002. p. 11.

©Shutterstock/Prostock-studio

O Natal é um fato social. Ele é externo, não foi você quem o inventou: essa data já existia quando
você nasceu e, provavelmente, continuará existindo depois de sua morte. Além disso, mesmo que
não seja celebrado por você e sua família, ele irá acontecer em muitos lares pelo mundo afora,
e nesse fato está sua generalidade. Ele também é coercitivo – se sua família é cristã, há uma
expectativa social de que o Natal seja importante no calendário anual, uma data em que os ritos
devem ser cumpridos, sejam eles religiosos (a celebração do nascimento de Jesus) ou não religiosos
(troca de presentes).

Sociologia 19
Durkheim afirmou que os fatos sociais são externos ao indivíduo. Essa afirmação pode parecer meio confusa,
pois como uma maneira de pensar pode ser externa a uma pessoa? O sociólogo explicou que o fato social tem uma
vida exterior. Assim, os valores nos quais acreditamos não foram inventados por nós. Individualmente, apreendemos
essas informações do mundo exterior – nossa família, amigos, professores e meios de comunicação.
Émile Durkheim afirma que os fatos sociais devem ser estudados como coisas, ou seja, analisados com o mesmo
rigor empregado no estudo dos eventos da natureza.

A complexa divisão social do trabalho gera solidariedade


No livro A divisão social do trabalho (1893), Durkheim afirmou que a divisão do trabalho tinha uma função social. Com
base nessa reflexão, ele descreveu dois “padrões morfológicos” de sociedade. Veja as características de cada um deles na
tabela a seguir.

PADRÕES MORFOLÓGICOS DA SOCIEDADE, CONFORME DURKHEIM


SOLIDARIEDADE MECÂNICA SOLIDARIEDADE ORGÂNICA
O contexto é o de uma pequena população, com baixa Com o aumento da densidade demográfica, há uma
densidade demográfica, que vive em um território crescente demanda e competição por recursos. Os
relativamente grande, explorando seus recursos territórios passam a ser usados de forma mais intensa;
extensivamente por meio de práticas muito simples, diferentes habilidades e tecnologias são desenvolvidas; e
auxiliada apenas por tecnologias primitivas. Trata-se de a divisão do trabalho se intensifica. Apenas uma pequena
sociedades segmentadas em subunidades menores e parte da consciência coletiva é compartilhada por todos.
muito semelhantes – cada uma incorporando a mesma As crenças e normas se diversificam e agora ativam e
cultura e aparato moral (crenças e valores): a consciência orientam a diferenciação dos indivíduos. Isso não conduz
coletiva. As pessoas interagem entre si, principalmente em a sociedade à desintegração social. A interdependência
ocasiões rituais, que renovam em todos a consciência e a entre os indivíduos e grupos estimula o consenso
dedicação a crenças e práticas sagradas compartilhadas. e a realização pessoal, evitando uma competição
Nessas condições, a sociedade se mantém unida desagregadora. As diferentes partes interagem entre si,
mecanicamente, porque é altamente homogênea. entregando bens e serviços umas às outras.

Para Durkheim, o conceito de anomia se refere à ausência ou à desintegração das normas sociais. Assim, se a divisão
social do trabalho gerada pela industrialização não tem produzido solidariedade social, é porque está em estado anô-
mico. Para reverter isso, a divisão do trabalho – que, nesses casos, é forçada – precisa ser feita de acordo com os talentos
e capacidades individuais.

20 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 3

ATIVIDADES
Assimilação Aperfeiçoamento

1. Assinale a alternativa que traz um exemplo do 6. (UECE) Leia os seguintes trechos relacionados com as pro-
poder coercitivo de um fato social. posições sociológicas de Émile Durkheim, e assinale a opção
a) Preferir guardanapo à ponta da toalha de mesa. que os completa correta e respectivamente:
1
b) Coçar-se ao sentir coceira. “ prevalece(m) naquelas sociedades ditas
c) Correr ao ver um animal perigoso. primitivas ou arcaicas, ou seja, em agrupamentos humanos
do tipo tribal ou formado por clãs”.
d) Bocejar ao sentir sono. 2
“A solidariedade social é um(a) ”.
2. (UNICENTRO – PR) Émile Durkheim (1858-1917) definiu “Um dos elementos que compõe o fenômeno moral é o Direito.
duas morfologias diferentes para as formas de solidariedade Outro elemento diz respeito a 3
”.
nas sociedades. Assinale a alternativa correta.
DURKHEIM, Émile. A Ciência Social e a ação.
a) Solidariedade espiritual e solidariedade laica. São Paulo: Difel, 1975. Adaptados.

b) Solidariedade moderna e solidariedade tradicional. a) Fenômeno moral1 – solidariedade orgânica2 – costumes3


c) Solidariedade liberal e solidariedade totalitária. b) Costumes1 – solidariedade mecânica2 – solidariedade
d) Solidariedade e individualismo. orgânica3
e) Solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. c) Solidariedade mecânica1 – fenômeno moral2 – costumes3
3. A lógica do mercado capitalista, baseada na competição d) Solidariedade orgânica1 – solidariedade mecânica2 – fe-
individualista em busca do lucro, pode corromper os vínculos nômeno moral3
de solidariedade que asseguram a coesão social e conduzir a 7.
uma situação de anomia. De acordo com a teoria de Durkheim,
é correto dizer que o conceito de anomia indica: Uma sociedade salarial é sobretudo uma sociedade na
a) a solidariedade que as pessoas demonstram quando qual a maioria dos sujeitos sociais têm sua inserção social
cantam o hino nacional em manifestações esportivas. relacionada ao lugar que ocupam no salariado, ou seja, não
b) uma situação na qual os indivíduos de senso moral supe- somente sua renda mas, também, seu status, sua proteção,
rior se colocam como líderes do grupo. sua identidade.
c) a condição na qual as regras e normas gerais não orientam
CASTEL, Robert. As transformações da questão social. In: CASTEL,
mais o comportamento dos indivíduos do grupo. Robert. Desigualdade e questão social. São Paulo: Educ, 2004. p. 243.
d) a necessidade de todos demonstrarem solidariedade com
Na atualidade, a questão do trabalho e do emprego se baseia
os mais necessitados.
na produção e distribuição de riquezas. No entanto, a citação
4. Para Durkheim, cerimônias como casamentos, batismos e do sociólogo Robert Castel chama atenção para outra fun-
festas de aniversário têm a função de intensificar a vida social, ção fundamental que se remete ao pensamento de Émile
de reafirmar a unidade. A fotografia eterniza e soleniza esses Durkheim. Que função seria essa?
momentos da vida social, captando comportamentos que são a) Distopia social.
socialmente aceitos e regulados. Pense na postura corporal b) Coercitividade.
e na expressão facial exigidas de quem é fotografado em
c) Anomia.
cerimônias. Que ideia melhor descreve a cena da fotografia?
d) Funcionalismo estrutural.
a) Anomia.
b) Solidariedade e integração social. 8. (UFU – MG) Leia o excerto abaixo.
c) Estruturalismo.
“[...] O centro dos primeiros sistemas da natureza não é o indi-
d) Corporativismo.
víduo, é a sociedade. É ela que se objetiva e não mais o homem.”
5. Entre os fenômenos que podemos considerar fatos sociais,
RODRIGUES, J. A. (Org.) Durkheim. São Paulo:
está: Ática, 1978. p.201-202.
a) alimentar-se. Nesse trecho, Durkheim propõe romper com o humanismo
b) dormir, descansar. antropocêntrico dos modernos em favor de um novo modelo
c) vestir-se. de conhecimento baseado no sociocentrismo. Não mais o ho-
mem, mas a sociedade aparece como centro do conhecimento
d) responder a estímulos.
porque, para Durkheim,

Sociologia 21
a) a sociedade é o modelo dos primeiros sistemas lógicos. A partir dessa definição do conceito de fato social, assinale o
b) os primeiros sistemas lógicos se fundem com a natureza. que for correto.
c) a consciência coletiva corresponde à totalidade dos co- 01)Os indivíduos escolhem livremente as suas formas de
nhecimentos individuais. pensar.
d) a proeminência da estrutura social se realiza em detrimen- 02)Os fatos sociais possuem uma origem social e coletiva e
to do acontecimento. não se originam das vontades dos indivíduos.
04)Os fatos sociais, como as crenças e ideias morais, por
9. (IFPR) Émile Durkheim (1858-1917), tendo como referência
exemplo, são fenômenos psicológicos, já que a sociedade
o positivismo, desenvolveu uma visão funcionalista da socie-
é composta de indivíduos.
dade, e para isso partiu do pressuposto de que a sociedade em
que vivia passava por uma crise que era, antes de tudo, moral, 08)As ações sociais dos indivíduos são subjetivas e racionais.
dado o processo de desestruturação dos valores até então 16)Quando nascemos, encontramos já prontos os fatos sociais
estabelecidos. Sua teoria fundamentou-se em conceitos como como a língua, as leis, a religião e as concepções morais
fato social, consciência coletiva, coerção do trabalho social, da sociedade.
entre outros. Para o sociólogo, os fatos sociais são fenômenos
12. (UEL – PR) A cidade desempenha papel fundamental
coletivos, formam uma realidade específica e transcendem a
no pensamento de Émile Durkheim, tanto por exprimir o
consciência individual, por isso têm por características:
desenvolvimento das formas de integração quanto por in-
a) Causalidade, interioridade e coercitividade. tensificar a divisão do trabalho social a ela ligada. Com base
b) Causalidade, exterioridade e liberdade. nos conhecimentos acerca da divisão de trabalho social nesse
c) Generalidade, interioridade e liberdade. autor, assinale a alternativa correta.
d) Generalidade, exterioridade e coercitividade. a) A crescente divisão do trabalho com o intercâmbio livre
10. (UECE) Leia atentamente o seguinte excerto: de funções no espaço urbano torna obsoleta a presença
de instituições.
“[...] as oportunidades entre as quais a pessoa assim se vê b) A solidariedade orgânica é compatível com a sociedade
forçada a optar não são, em si mesmas, criadas por essa de classes, pois a vida social necessita de trabalhos dife-
pessoa. São prescritas e limitadas pela estrutura específica renciados.
de sua sociedade e pela natureza das funções que as pessoas
c) Ao criar seres indiferenciados socialmente, o “homem
exercem dentro dela”.
massa”, as cidades recriam a solidariedade mecânica em
ELIAS, N. A sociedade dos indivíduos. Rio de detrimento da solidariedade orgânica.
Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p. 48.
d) O efeito principal da divisão do trabalho é o aumento da
Considerando o texto e as várias possibilidades sociológicas desintegração social em razão de trabalhos parcelares e
de compreender a sociedade, assinale a afirmação verdadeira. independentes.
a) Para entender o comportamento das pessoas, é bastante e) O equilíbrio e a coesão social produzidos pela crescente
estudar a sociedade, pois a sociedade está acima dos divisão do trabalho decorrem das vontades e das cons-
indivíduos. ciências individuais.
b) A sociedade e os indivíduos constituem-se por relações
de interdependência entre o individual e o coletivo, 13. Para Durkheim, o Estado é um órgão superior às demais
configurando, desta forma, uma rede de pessoas que se instituições sociais, sendo sua função moral assegurar as
relacionam e interagem umas com as outras. normas de funcionamento destas. Assinale as alternativas
c) O estudo da sociedade mostra que os indivíduos apenas corretas acerca da ideia de Estado durkheimiano.
existem em função da sociedade e das normas impostas ( ) I. Para Émile Durkheim, o Estado é a entidade social mais
pelas instituições sociais. importante a serviço das classes dominantes.
d) Cada indivíduo é dono do seu destino e de suas escolhas ( ) II. O Estado tem uma função moralizadora sobre os
de vida na coletividade. indivíduos.
( ) III. Por ser uma instituição de âmbito privado, os membros
11. (UEM – PR) Segundo o conceito sociológico de fato
da família podem fazer o que quiser.
social elaborado pelo sociólogo francês Émile Durkheim
(1858-1917), as formas de pensar e de agir dos indivíduos ( ) IV. O Estado concentra e expressa as representações da
são impostas pela educação, pela religião e pela moral, que vida coletiva.
se originam na sociedade e no meio social específico em a) V, F, V, F
que eles vivem. b) F, F, V, F
c) F, V, F, V
d) F, V, V, V

22 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 3
14. (EMESCAM – ES)
Aprofundamento
Ora, parece-nos difícil que, de cada página deste livro,
por assim dizer, não se extraia, ao contrário, a impressão
de que o indivíduo é dominado por uma realidade moral 16. (UFPR)
que o ultrapassa: é a realidade coletiva. [...] sentiremos
que são forças reais, vivas e atuantes, que, pela maneira
“[Em Durkheim,] o respeito pelo princípio que manda tratar
como determinam o indivíduo, comprovam que não
dependem dele; pelo menos, se ele entra como elemento os fatos sociais como coisas [...] exige da parte do investigador
na combinação de que elas resultam, elas se impõem a uma atitude de distanciamento em relação à realidade social.
ele à medida que se formam. O que não quer dizer que este não possa abordar um deter-
minado campo de investigação de um certo ponto de vista,
DURKHEIM, Émile. O suicídio. Estudo de sociologia. mas apenas que tem de adotar uma atitude emocionalmente
São Paulo: Martins Fontes, 2000, p.6.
neutra em relação ao que se propõe a investigar. Este tipo de
Émile Durkheim (1858 – 1917) estudou o suicídio, definido atitude só se torna por sua vez possível mediante a formulação
como “todo o caso de morte que resulta, direta ou indireta- de conceitos bem precisos que permitam evitar a terminologia
mente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria confusa e imprecisa do pensamento popular”
vítima, e que ela sabia que deveria produzir esse resultado”,
como sendo um fato social e o classificou em quatro tipos. (GIDDENS, A. Capitalismo e moderna teoria social).
Qual é o tipo de suicídio, dos que estão abaixo relacionados, Pela regra fundamental de considerar os fatos sociais como
que não faz parte dos tipos elencados por Durkheim: coisas – regras relativas à observação dos fatos sociais, de
a) Alienado: acontece sob condições de delírio, de alienações Durkheim –, é correto afirmar que é preciso:
mentais... 1. afastar da ciência todas as pré-noções (neutralidade).
b) Egoísta: acontece quando o indivíduo é colocado à mar- 2. agrupar os fatos sociais segundo as suas características
gem de seu grupo... exteriores comuns (positividade).
c) Altruísta: acontece sob condições de um apego excessivo 3. apreender os fatos sociais pelo aspecto em que se
a um grupo... apresentam isolados de suas manifestações individuais
d) Anômico: acontece quando as diretrizes para o compor- (objetividade).
tamento desmoronam... 4. compreender o sentido visado pelos atores sociais no
e) Fatalista: acontece nos grupos sociais que são controlados curso de sua ação (intencionalidade).
emocionalmente... Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.
15. (ENEM)
b) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras.
17. Durkheim afirma que o comportamento econômico requer
a existência de confiança entre os participantes. Para que haja
cooperação em uma troca econômica, como na relação entre
empregado e empregador, as pessoas precisam entender
o que é permitido e esperado. É necessário que haja uma
estrutura compartilhada de sentidos, para que as pessoas
contem com um “estoque de conhecimento” sobre a situação
e, assim, determinem como será sua atitude. Em uma situação
de rápida mudança social em que há ausência ou carência da
O cartum faz uma crítica social. A figura destacada está em normalização das condutas, Durkheim diz que entramos em
oposição às outras e representa a um estado de
a) opressão das minorias sociais. a) solidariedade orgânica.
b) carência de recursos tecnológicos. b) funcionalidade estrutural.
c) falta de liberdade de expressão. c) anomia.
d) defesa da qualificação profissional. d) costume.
e) reação ao controle do pensamento coletivo.

Sociologia 23
18. (UNICENTRO – PR) A questão dos Direitos Civis, Políticos Texto II
e Sociais é interpretado de maneira diferente por inúmeros
pensadores. Muitos deles defenderam que os seres humanos O “gostar de futebol” no Brasil existe fora das consciências
nascem livres e iguais, e têm garantidos determinados direi- individuais dos brasileiros. O gosto ou a paixão por um deter-
tos inalienáveis. A ideia de Cidadania, por exemplo, recebeu minado esporte não existe naturalmente em nosso “sangue”,
variadas interpretações dos chamados teóricos clássicos da como supõe o senso comum. Ele existe na coletividade, em
Sociologia, entre eles Émile Durkheim o qual defendia que nosso meio social, que nos transmite esse sentimento da mes-
ma forma que a escola nos ensina a ler e a escrever.
a) o trabalhador, como membro de uma classe, não se iden-
tificaria como cidadão, que seria somente a representação HELAL, R. O que é Sociologia do Esporte? São Paulo: Brasiliense, 1990.
burguesa do indivíduo. Chamado de ópio do povo por uns, paixão nacional por outros,
b) a cidadania só tem sentido se for baseada na liberdade. o futebol, além de esporte mais praticado no Brasil, pode ser
Para ele, a cidadania só pode ser jurídica. considerado fato social, culturalmente apreendido, seja por
c) a cidadania está intimamente relacionada à formação do seus praticantes, seja pelos torcedores. Nesse sentido, as fontes
Estado Democrático representativo e envolvem direitos acima apresentam ideias semelhantes, pois o
eleitorais assentado no princípio da igualdade considerada a) futebol aparece como elemento integrante da cultura
universal. brasileira.
d) a cidadania se desenvolve plenamente quando o indiví- b) lazer aparece em ambos como a principal função social
duo deixa transparecer suas vontades transformando-as do futebol.
em necessidade geral para todos. A ação cidadã deve ser
motivada por um desejo pessoal. c) “tapete verde” e a “bola-sol” são metáforas do naciona-
lismo.
e) ideia de cidadania está vinculada à questão da coesão
social estabelecida com base na solidariedade orgânica, d) esporte é visto como instrumento de divulgação de valores
que é gerada pela divisão do trabalho e se expressa no sociais.
direito civil. e) futebol é visto como um instante de supressão da desi-
gualdade social.
19. Em seu livro As formas elementares da vida religiosa (1912),
Durkheim discute as noções de sagrado e profano, separando-as 21. (Unichristus – CE) Assim disse Durkheim (2010, p. 32):
em dois universos ou meios distintos. Para o autor,
Não há dúvida de que, quando a ela me conformo de boa
Uma religião é um sistema solidário de crenças e de práticas vontade, esta coerção não se faz, ou faz-se pouco, sentir,
relativas às coisas sagradas, isto é, separadas, interditas, de por inútil. Porém não é por isso uma característica menos
crenças e práticas que unem em uma mesma comunidade intrínseca de tais fatos, e a prova é que ela se afirma logo
moral, chamada Igreja, todos aqueles que a ela aderem. que eu procuro resistir. Caso tento violar as regras do di-
reito, elas reagem contra mim de modo a impedir o meu
DURKHEIM, E. Les formes elementaires de la vie religieuse. Paris:
ato, se ainda for possível, ou a anulá-lo e a restabelecê-lo
Presses Universitaires de France, 1968. p. 65. (Tradução nossa). sob a sua forma normal, se já executado e reparável, ou a
fazer-me expiá-lo se não tiver outra forma de reparação.
Considerando seus conhecimentos sobre a teoria de
Durkheim, assinale a alternativa que expressa a função da O fato social também é caracterizado pela
religião, segundo o autor.
a) generalidade, que coloca o fato social para a coletividade
a) Coerção social. e não para um único indivíduo.
b) Alienação social. b) coercitividade, que será constituída pelas crenças, pelas
c) Coesão social. tendências e pelas práticas do grupo tomadas coletiva-
d) Justificação social. mente.
c) exterioridade, que está relacionada ao poder ou à força a
20. (ENEM) que os padrões de uma sociedade são impostos.
Texto I d) generalidade, característica que denomina os fatos sociais
exteriores ao indivíduo e que já estão organizados quando
A bandeira no estádio é um estandarte/A flâmula pendurada ele nasce.
na parede do quarto/ O distintivo na camisa do uniforme/ Que
coisa linda é uma partida de futebol/ Posso morrer pelo meu e) coercitividade, essa característica obriga os indivíduos a
time/ Se ele perder, que dor, imenso crime/ Posso chorar se ele cumprir os padrões culturais.
não ganhar/ Mas se ele ganha, não adianta/ Não há garganta
que não pare de berrar/ A chuteira veste o pé descalço/ O
tapete da realeza é verde/ Olhando para a bola eu vejo o sol/
Está rolando agora, é uma partida de futebol
SKANK. Uma partida de futebol. Disponível em: www.
letras.terra.com.br. Acesso em: 27 abr. 2010 (fragmento).

24 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 3
22. (UFU – MG) b) Durkheim demonstrou que o fato social está desconectado
dos padrões de comportamento culturais do indivíduo em
A concepção da Sociologia de Durkheim se baseia em uma sociedade e, portanto, deve ser usado para explicar apenas
teoria do fato social. Seu objetivo é demonstrar que pode e alguns tipos de sociedade.
deve existir uma Sociologia objetiva e científica, conforme o c) O estado normal da sociedade para Durkheim é o estado
modelo das outras ciências, tendo por objeto o fato social.
de anomia, quando todos os indivíduos exercem bem os
<referência> ARON, R. As etapas do pensamento fatos sociais.
sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 336
d) A solidariedade orgânica, para Durkheim, possui pequena
Em vista do exposto, assinale a alternativa correta. divisão do trabalho social, como pode ser demonstrada
a) Segundo Durkheim, a primeira regra, e a mais fundamen- pela análise dos fatos sociais da sociedade.
tal, é considerar os fatos sociais como coisas para serem
analisadas.

Lembrete!

Gabarito
1. a 7. d 13. c 19. c
2. e 8. a 14. a 20. a
3. c 9. d 15. e 21. a
4. b 10. b 16. a 22. a
5. c 11. 18 (02+16) 17. c
6. c 12. b 18. e

Sociologia 25
SocioLogia
CAPíTULO

12
4
Marxismo como ciência social
OBJETOS DE
CONHECIMENTO Objetivos do capítulo
• Compreender a visão materialista da história.
• Reconhecer a explicação marxista sobre capitalismo e Estado.
• História do pensamento • Identificar elementos constitutivos das relações capitalistas de produção.
econômico: a questão da
liberdade em Marx.
Para Karl Marx (1818-1893), a única maneira de sobrevivermos na natureza é traba-
• Forças de produção e
lhando juntos para transformá-la. Marx nomeia essa ação coletiva de trabalho. Segundo
relações de produção.
ele, devemos trabalhar cooperativamente para sobreviver, pois, à medida que isso ocorre,
• Método materialista de transformamos o mundo ao nosso redor e, gradualmente, nos libertamos de nossas
observação da história. restrições naturais e nos enredamos em restrições sociais, que são determinadas pelas
• Relações capitalistas, relações de produção.
produção e distribuição Podemos fazer um exercício reflexivo para pensar sobre o trabalho. Há milhares de
da mais-valia. anos, todos passavam o dia tentando, basicamente, conseguir comida. Nesse “comu-
nismo primitivo”, como Marx denominava, as pessoas estavam fortemente presas às
restrições naturais, mas eram socialmente iguais. Milhares de anos depois, na Idade
Média, durante o feudalismo, havia uma classe – a nobreza – que não precisava se
preocupar com sua próxima refeição. Isso era possível porque uma outra classe – o
campesinato – trabalhava constantemente para alimentar esses nobres. Nesse período,
as pessoas produziam mais do que precisavam para sobreviver, mas o excedente não
era distribuído igualmente.

©Fotoarena/Alamy/funkyfood London - Paul Williams


Ainda que trabalhar
em conjunto permita
transcender nossas
restrições naturais,
a organização
do trabalho em Afresco reconstruído do original encontrado no Sítio Arqueológico de Catalhoyuk, Turquia. Os homens
estão caçando um cervo e puxando sua língua para incapacitá-lo.
nossa sociedade
conduz a enormes As relações de produção determinam como o excedente é retirado das pessoas que
desigualdades. Nesse o produzem e quem decide como esse excedente é usado. Ao observar essas relações,
sentido, para Marx, Marx definiu que a sociedade era dividida em classes sociais. Para elaborar essa reflexão,
o centro da questão o autor voltou seu olhar para o capitalismo industrial e identificou duas classes principais:
da liberdade é o os trabalhadores (proletariado) e os capitalistas (burguesia). Para o autor, os modos de
trabalho – a quem produção são definidos pela combinação das forças e das relações de produção.
ele beneficia, sua Forças de produção: são as partes técnicas, científicas e materiais da economia,
organização e como como matérias-primas, tecnologias e o trabalho humano, que faz tudo isso funcionar.
ele se transforma ao Relações de produção: definem como as pessoas se organizam em relação ao tra-
longo do tempo. balho. As pessoas produzem e vendem seus próprios produtos? Trabalham por salário?
Como funciona a posse da propriedade? O comércio é uma parte central da economia?

26 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 4

Classes sociais segundo Karl Marx


Proletariado: classe social que vende sua mão de obra em troca de salário.
Burguesia: classe detentora dos meios de produção.

Método materialista de observação da história


O método de observação da história na perspectiva marxista é chamado de método
materialista. Isso significa que o marxismo interpreta a realidade por meio da análise
das relações dos indivíduos entre si e com as condições materiais de produção dos bens
necessários à vida.
No marxismo, a economia – isto é, a organização do trabalho e dos recursos em
uma sociedade – é a base de tudo: da política, da estrutura, da religião e, até mesmo,
das famílias. Em virtude disso, Marx a chamou de superestrutura, sendo ela construída
sobre a realidade material.

Análise marxista das forças de produção


As diferentes forças de produção variam não pelo que produzem, mas pela
forma como produzem, ou seja, pelos diferentes engendramentos das relações de
produção. Desse modo, à medida que são alteradas as forças produtivas de uma
sociedade, também ocorrem mudanças significativas nas relações de produção.
Essas alterações podem ocorrer por fatores como a modificação dos processos de
trabalho (diferentes estratégias de gestão – por exemplo, fordismo e taylorismo), a
invenção e a exploração de novas fontes energéticas (vapor, petróleo, gás, eletri-
cidade) ou o desenvolvimento de maquinário (incluindo, agora, além dos robôs, a
inteligência artificial).
Assim fica mais claro o modelo de história de Marx: uma série de modos de produção,
compostos por diferentes modelos de relações de produção. Essas forças e relações se
desenvolvem juntas até que, eventualmente, entrem em conflito. Marx identificou, no
descompasso e na contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, as
possíveis causas da substituição de um modo de produção por outro, que é acompanha-
da por um processo de mudança social.

Modo de produção capitalista e mais-valia


Karl Marx observou que, no capitalismo, a força de trabalho da classe proletária
transforma-se em mercadoria, em um produto, uma vez que é comprada e vendida no
mercado. Essa força humana de trabalho implica o gasto de energia física, que deve ser
compensado. O tempo de trabalho necessário para produzir aquilo que a manutenção
da vida do trabalhador requer é o valor de sua força de trabalho. Esse tempo deve
ser calculado em função dos padrões de vida culturalmente determinados em cada
sociedade, não sendo um cálculo biológico.
Apenas uma parte do dia trabalhado na produção é equivalente ao valor do trabalhador.
O excedente do que ele produz é a mais-valia, que está na origem do lucro, ou melhor, é
a forma disfarçada da mais-valia – apesar de parecer que o lucro ocorre no processo de cir-
culação de mercadorias, Marx demonstrou que ele ocorre ainda no processo de produção.
Segundo Marx, existem duas formas distintas de o empresário capitalista extrair a
mais-valia do trabalho de seus funcionários: a absoluta e a relativa.

MAIS-VALIA ABSOLUTA MAIS-VALIA RELATIVA


Aumento da jornada de trabalho diária Uso de outros mecanismos que
ou semanal do trabalhador – quando proporcionem o aumento da
o capitalista aumenta a carga horária produtividade, como a incorporação de
dos trabalhadores e, por consequência, novas tecnologias.
concentra maior valor excedente ou lucro.

Sociologia 27
Na sociedade capitalista, a relação de produção visa uma engrenagem, um mecanismo que atua como parte
à concentração de capital, que é novamente incorpo- do processo produtivo, perdendo seu valor como ser
rado aos meios de produção por meio do investimento humano. Ele se desumaniza, deixa de ser sujeito e assume
em maquinários, novas tecnologias e contratação de apenas a função de produzir objetos, da mesma forma que
funcionários, gerando ainda mais capital. Nessa socie- as máquinas e ferramentas.
dade, o objetivo central da produção e da circulação de
mercadorias é o lucro.
Alienação: corresponde à separação entre o
trabalhador, o conjunto do processo produtivo e o
Capital: toda riqueza, patrimônio ou bem eco- produto de seu trabalho.
nômico que possa ser utilizado para financiamento
ou uso efetivo dos meios de produção com o
É como se o produto tivesse surgido independente-
objetivo de gerar lucro.
mente do homem, como uma espécie de feitiço; por isso,
o termo utilizado por Marx: fetichismo da mercadoria.
Como é a burguesia quem decide o destino do Esse fenômeno oculta a relação social entre a participação
lucro, Marx acreditava que ela sempre buscará obter os individual dos trabalhadores e o trabalho social total.
maiores rendimentos possíveis, muitas vezes reduzindo A mercadoria produz um feitiço que oculta as relações
os salários à medida que aumenta a produtividade. Essa sociais de exploração do trabalho.
situação leva a um dos grandes problemas do capitalis-
A alienação é uma das forças que contribui para a
mo: as crises, especialmente de superprodução. Vários
manutenção do modo de produção capitalista; a outra é
modos de produção – outra maneira de chamar a forma
a imposição da ideologia dominante pela classe domi-
de organização das forças produtivas, como escravismo,
nante, a burguesia. Para Marx, é a imposição da ideologia
feudalismo e capitalismo – também tiveram crises, mas
dominante, com sua moralidade, conservadorismo e de-
causadas pela carência de recursos. No capitalismo, pela
fesa dos interesses de poucos (como se fossem de todos),
primeira vez na história, houve crises de superprodução.
que permite a manutenção do sistema capitalista.

Alienação do trabalho GLOSSÁRIO

Segundo Marx, a dissociação entre trabalhador, produ- Fetichismo


Refere-se a fetiche, que quer dizer feitiço. O fetiche é, na definição
tos do trabalho e meios de produção gerou a alienação do Dicionário Aurélio (2008, p. 247), um “objeto animado ou inani-
do próprio homem: o trabalhador passou a ser um objeto, mado, feito pelo homem ou produzido pela natureza, ao qual se
atribui poder sobrenatural e se presta culto”.

ATIVIDADES
a) Benefício do lucro e aceitação dos riscos.
b) Otimização da produção.
Assimilação
c) Disparidade de produção e de remuneração.
d) Jornada exaustiva e exploração.
1. Karl Marx via o homem inserido na natureza. Assim, a
relação entre natureza e história no materialismo histórico, 3. (UEMA) Uma das condições imprescindíveis, em Karl
especialmente sob o modo de produção capitalista, é Marx, para que a mercadoria como força de trabalho possa
a) de alienação. ser vendida e comprada no mercado é:
b) de condição imaterial. a) A separação entre os meios de produção e o produtor direto.
c) de incapacidade material. b) A unidade entre o meio de produção e o produtor direto.
d) de crítica natural.
c) A relação entre a produção, consumo e distribuição.
e) de habilidade material.
d) O intercâmbio entre homem e natureza.
2. Preencha o quadro com o conceito marxista adequado. Depois,
e) A separação entre campo e cidade.
assinale a alternativa que corresponde corretamente à explicação.
4. (UEMA) As sociedades modernas são complexas e multi-
R$ 60.000,00 – Ganho bruto mensal da fábrica de relógio. facetadas. Mas é com o capitalismo que as divisões sociais se
R$ 3.000,00 – Salário do trabalhador. tornam mais desiguais e excludentes. Marx já observara que
só o conflito entre as classes pode mover a história. Assim
R$ 27.000,00 – Gasto bruto mensal da fábrica.
sendo, para o referido autor, em qual das opções se evidencia
R$ 30.000,00 –
uma característica de classe social?

28 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 4
a) O status social e cultural dos indivíduos. a) em apontar e discutir as contradições do capitalismo, a
b) A função social exercida pelos indivíduos na sociedade. partir da ideia de que seria necessária a ação revolucionária
dos trabalhadores.
c) A ação política dos indivíduos nas sociedades hierarquizadas.
d) A identidade social, cultural e coletiva. b) na perspectiva de que seria urgente a redução do papel
do Estado na economia.
e) A posição que os indivíduos ocupam nas relações de
produção. c) em redefinir o movimento sindical, por considerar que ele
estaria ultrapassado após a Revolução Russa.
5. (UFT – TO) Em 1848, foi editada uma obra de Karl Marx
e Friedrich Engels em que os autores difundiram as bases d) no desenvolvimento e execução de sucessivas reformas
políticas e ideológicas da chamada “Luta de Classes.” Trata-se em diferentes modelos econômicos, visando ao aperfei-
do livro: çoamento do Liberalismo:
a) Manifesto do Partido Comunista, no qual os autores e) na difusão da ideia de que a liberdade é um direito natural,
conclamam os trabalhadores a se unirem para derrubar a portanto, os direitos individuais e de propriedade privada
burguesia e o capitalismo, por meio de uma revolução. deveriam ser sempre defendidos.
b) A Origem da Família, da Propriedade e do Estado, que
8. (UFPA) Uma das importantes preocupações sociológicas é a
definiu o conceito de comunas e soviets.
questão a respeito dos fatores que tornam possível a existência
c) 18 Brumário, obra que retrata o retorno do sistema imperial e a evolução das sociedades. A ideia de “conflito” assume uma
na França após o Governo do Diretório. posição contraditória, por este ser considerado ora como “motor
d) Manifesto do Partido Comunista, no qual os autores das transformações”, ora como fator que “deixa a sociedade
conclamam os trabalhadores a se unirem para implantar estagnada” e impede a evolução. Em relação às consequências
o socialismo na Rússia. do conflito para a sociedade, é CORRETO afirmar:
e) A Origem da Família, da Propriedade e do Estado, que a) Para Karl Marx, o regime capitalista é capaz de produzir
definiu o conceito de comunismo. cada vez mais. A despeito desse aumento das riquezas, a
miséria continua sendo a sorte da maioria. Essa contra-
dição irá gerar conflitos que, mais cedo ou mais tarde,
Aperfeiçoamento desencadearão um processo de reforma da sociedade que
a reorganizará com critérios científicos.
6. (ENEM) b) Para Karl Marx, a supressão das contradições de classe deve
levar logicamente ao desaparecimento do Estado, pois este
Na produção social que os homens realizam, eles entram em é um dos subprodutos ou a expressão dos conflitos sociais.
determinadas relações indispensáveis e independentes de c) O marxismo exclui a possibilidade de haver um parale-
sua vontade; tais relações de produção correspondem a um lismo entre o desenvolvimento das forças produtivas, a
estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais transformação das relações de produção, a intensificação
de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura
da luta de classes e dos conflitos que marcam a marcha
econômica da sociedade – fundamento real, sobre o qual se
erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual corres- para a revolução.
pondem determinadas formas de consciência social. d) Durkheim diz que os conflitos entre trabalhadores e empresá-
rios demonstram a falta de organização ou a anomia parcial
MARX, K. Prefácio à Crítica da economia política. In. Marx, K. da sociedade moderna, que deve ser corrigida com uma
ENGELS, F. Textos 3. São Paulo. Edições Sociais, 1977 (adaptado)
revolução do proletariado, que restaure o consenso social.
Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida e) Durkheim acredita que a forma como os indivíduos se or-
no sistema capitalista faz com que ganizam socialmente para produzir determina a sua visão
a) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia. de mundo. Ou seja, ele acredita que não é a consciência
b) o trabalho se constitua como o fundamento real da pro- dos homens que determina a realidade, mas, ao contrário,
dução material. é a realidade social e principalmente seus conflitos que
determina a consciência coletiva.
c) a consolidação das forças produtivas seja compatível com
o progresso humano. 9. (UEA – AM) Leia o texto para responder à questão.
d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao de-
senvolvimento econômico. O melhor método de análise social deve começar pelo real e pelo
concreto. Em economia, começar-se-ia pela população, que é a
e) a burguesia revolucione o processo social de formação da base da produção como um todo. Mas, numa observação atenta,
consciência de classe. apercebemo-nos de que há aqui um erro. A população é uma
abstração se desprezarmos as classes de que a compõe. Entretanto,
7. (UFGD – MS) Karl Marx e Friedrich Engels são importantes essas classes são uma palavra oca se ignorarmos os elementos
e destacados autores das teses do socialismo científico, cuja em que repousam, como o trabalho assalariado, o capital etc.
proposição se baseou

Sociologia 29
O capital, sem o trabalho assalariado, sem o dinheiro, não é duo e a natureza, no intuito de satisfazer as necessidades
nada. Assim, se começássemos pela população teríamos uma individuais e sociais, não pode ser vinculado ao conceito
visão caótica do todo e, através de uma análise, chegaríamos a de práxis concebido por Karl Marx.
conceitos e a determinações mais simples. Partindo daqui, seria
d) A sedentarização levou a primeira divisão do trabalho: a
necessário caminhar em sentido contrário até chegar finalmente
de novo à população, que será, desta vez, uma totalidade de divisão técnica. Posteriormente, com o avanço das forças
relações numerosas. produtivas, ela foi substituída pela divisão sexual e, mais
adiante, pela divisão social.
(Karl Marx. “Introdução à crítica da economia política”. e) Na visão marxiana, a luta de classes não se refere de nenhu-
Contribuição à crítica da economia política, 2015. Adaptado.)
ma forma ou grau ao trabalho enquanto atividade social que
A perspectiva metodológica do marxismo recebeu a deno- satisfaz as necessidades coletivas e socializa os indivíduos.
minação de
a) idealismo materialista. 12. (UFU – MG) Marx e Engels em seu Manifesto do Partido
Comunista, consideram que “a nossa época, a época da bur-
b) fenomenologia espiritual.
guesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de
c) apriorismo transcendental. classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos
d) empirismo lógico. campos opostos, em duas grandes classes diametralmente
e) materialismo histórico. opostas: a burguesia e o proletariado.”
10. Em seu livro A sociedade do espetáculo (2003), Guy Debord Em vista disso, assinale a alternativa que define corretamente
faz as seguintes afirmações: a burguesia e o proletariado.
a) Os burgueses utilizam o trabalho escravo para a produção,
O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma
e o proletariado é desprovido de liberdade para vender
relação social entre pessoas, mediatizadas por imagens.
sua força de trabalho.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Disponível em: http://www. b) Os burgueses são proprietários que utilizam da manufatura
cisc.org.br/portal/biblioteca/socespetaculo.pdf. Acesso em: 17 fev. 2021.
do proletariado para a produção de mercadorias, e o prole-
No mundo realmente invertido, o verdadeiro é um mo- tariado impulsiona o desenvolvimento da manufatura.
mento do falso. c) Os burgueses são os grandes proprietários de terras, e o
proletariado detém o poder social e econômico.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Disponível em: http://www. d) Os burgueses são os detentores dos meios de produção,
cisc.org.br/portal/biblioteca/socespetaculo.pdf. Acesso em: 17 fev. 2021.
e o proletariado vende sua força de trabalho.
Quais ideias de Marx e de Debord sobre as relações sociais no
modo de produção capitalista podem estar associadas aos 13. (UFU – MG) Conforme Marx e Engels:
fragmentos acima?
a) Mais-valia e terceirização do trabalho. O modo pelo qual os homens produzem seus meios de vida
b) Alienação e redes sociais. depende, antes de tudo, da própria constituição dos meios
de vida já encontrados e que eles têm de reproduzir. Esse
c) Luta de classes e terceirização do trabalho.
modo de produção não deve ser considerado meramente
d) Alienação e consumo. sob o aspecto de ser a reprodução da existência física dos
e) Alienação e terceirização do trabalho. indivíduos. Ele é, muito mais, uma forma determinada de
sua atividade, uma forma determinada de exteriorizar sua
11. (UNCISAL – AL)
vida, um determinado modo de vida desses indivíduos.
Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia
o homem e a natureza, processo em que o ser humano alemã. São Paulo: Huitec, 1999, p. 27.
com sua própria ação impulsiona, regula e controla seu
intercâmbio material com a Natureza. Da leitura do trecho, conclui-se que:
a) As ideologias políticas possuem autonomia em relação ao
MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Abril Cultural, 1983. v. I. p. 149.
desenvolvimento das forças produtivas.
Partindo das concepções marxianas sobre o trabalho, assinale
b) A base da estrutura social reside no seu modo de produção
a alternativa correta.
material.
a) Na luta pela sobrevivência ou na busca por controlar os
c) O modo de produção é determinado pela ideologia
recursos naturais, a história da humanidade sempre esteve
dominante.
ligada ao trabalho.
d) Toda atividade produtiva é uma forma de desumanização.
b) Toda atividade relacionada com o trabalho está desvincu-
lada das relações de produção e independe do desenvol- 14. (UFU – MG) Em uma passagem de As aventuras do Barão
vimento das forças produtivas. de Munchausem, personagem do folclore alemão, ele e
c) A concepção de trabalho coletivo, exterior ao ser humano, seu cavalo encontram-se atolados em um pantanal e, para
atividade criativa e autocriativa, que transforma o indiví- sair dessa situação, o Barão puxa a si mesmo pelo cabelo,

30 Prepara Positivo – Intensivo 1


Capítulo 4
levantando-se, com sua montaria, do terreno movediço. Em 17. (UFPR) Considere o seguinte excerto da obra
mais de uma ocasião, os sociólogos usaram essa metáfora O povo brasileiro, do antropólogo Darcy Ribeiro:
para aludir ao modo pelo qual os positivistas procuravam um
método objetivo, neutro, livre das ideologias. A classe dominante empresarial-burocrático-eclesiástica,
Em oposição a essa suposta objetividade, Marx criticou vee- embora exercendo-se como agente de sua própria pros-
peridade, atuou também, subsidiariamente, como reitora
mentemente os positivistas, uma vez que, para o autor,
do processo de formação do povo brasileiro. Somos, tal
a) o método possui uma objetividade parcial, pois na escolha qual somos, pela forma que ela imprimiu em nós, ao nos
do objeto entra em ação a ideologia do autor, que não configurar, segundo correspondia a sua cultura e a seus
interfere, entretanto, na análise dos acontecimentos. interesses. Inclusive, reduzindo o que seria o povo bra-
sileiro, como entidade cívica e política, a uma oferta de
b) a análise social, a partir da perspectiva do operariado, deve
mão-de-obra servil. Foi sempre nada menos que prodigiosa
contribuir para a harmonia das relações sociais de produção. a capacidade dessa classe dominante para recrutar, desfazer
c) a análise das condições de vida do proletariado europeu e reformar gentes aos milhões. Isso foi feito no curso de
do século XIX deve incidir sobre a crítica social, com vistas um empreendimento econômico secular, o mais próspero
à reforma da sociedade burguesa. de seu tempo, em que o objetivo jamais foi criar um povo
autônomo, mas cujo resultado principal foi fazer surgir
d) o método deve contribuir não só para a interpretação, mas como entidade étnica e configuração cultural um povo
igualmente para a transformação social. novo, destribalizando índios, desafricanizando negros e
deseuropeizando brancos. Ao desgarrá-los de suas matrizes,
15. Leia o fragmento a seguir para responder à questão. para cruzá-los racialmente e transfigurá-los culturalmente,
o que se estava fazendo era gestar a nós brasileiros tal qual
É o materialismo histórico, uma das componentes fundamen- fomos e somos em essência. Uma classe dominante de ca-
tais da filosofia marxista-leninista, que elabora a teoria geral e o ráter consular-gerencial, socialmente irresponsável, frente
método de conhecimento da sociedade humana como sistema, a um povo-massa tratado como escravaria, que produz o
estuda as leis da sua evolução e a sua utilização pelos homens. que não consome e só se exerce culturalmente como uma
marginália, fora da civilização letrada em que está imerso.
SPIRKINE, Alexander; YAKHOT, Yehoshua. Princípios do
materialismo histórico. São Paulo: Estampa, 1975. p. 10. (RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido
do Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1995. p.178-179.)
Com base no texto de Spirkine e Yakhot, o que é o materialismo
histórico de Karl Marx? Levando em consideração a hipótese do autor, em relação à
a) É a crítica ao consumo. formação da sociedade brasileira, às dinâmicas sociais e às
b) É uma explicação dos fundamentos do capitalismo. formas de dominação, é correto afirmar:
c) É uma análise do processo produtivo e da luta de classes. a) O fortalecimento das elites empresarial, burocrática e
d) É a história da produção industrial e uma crítica ao liberalismo. eclesiástica se deu num processo de correlação de forças
que visaram, num processo histórico de longa duração,
e) É a maneira pela qual se deve implantar o comunismo nas a constituir um domínio econômico, a partir do qual as
sociedades. classes inferiores, por não disporem de poder e capital,
foram alijadas do processo de dominação.
Aprofundamento b) A igreja teve papel central na organização da vida colonial
e imprimiu um sentido sagrado à dominação por longo
tempo. Sua importância em relação à burocracia civil e
16. (Unichristus – CE) Ao contrário da maioria dos outros mem- às elites econômicas no Brasil foi de tal maneira prepon-
bros da Escola da Frankfurt, Benjamin apostou – até seu último derante, que a Inquisição se fez presente como forma de
suspiro – nas classes oprimidas como força emancipadora da manutenção da ordem e do domínio dos portugueses
humanidade. Profundamente pessimista, mas nunca resig- sobre nativos indígenas e escravos africanos.
nado, considera a “última classe subjugada” – o proletariado c) As mudanças sociais que ocorreram no Brasil desde sua
– aquela que, “em nome das gerações vencidas, leva a cabo colonização produziram um tipo de dominação secular,
a obra de libertação” (Tese XII). Apesar de não compartilhar o que associou as elites empresarial, burocrática e eclesiás-
otimismo míope dos partidos do movimento operário sobre tica a um processo civilizacional intimamente associado
sua “base de massa”, ele vê, nas classes dominadas, a única a um estado de barbárie, em que as camadas subalternas
força capaz de derrubar o sistema de dominação. sempre cumpriram um papel marginal no seu processo
A postura política descrita de Walter Benjamin indica uma análise emancipação e esclarecimento.
a) marxista. d) O objetivo principal da cúpula patricial, toda ela oriun-
b) anarquista. da da metrópole, era formar uma sociedade que fosse
capaz de contribuir com a expansão dos limites terri-
c) positivista. toriais da Coroa Portuguesa. Em contrapartida, essas
d) liberalista. populações nativas teriam o direito ao reconhecimento
e) capitalista. da cidadania lusitana.

Sociologia 31
e) O autor frisa que, apesar da dominação severa, ainda a) o Estado intenta os interesses da classe dominada e estaria
assim havia algum senso de solidariedade por parte a serviço da democracia.
das elites empresarial, burocrática e eclesiástica, b) o Estado representa a síntese do que tende a superar os
sendo esses três grupos sociais responsáveis pela interesses contraditos da sociedade civil.
colonização do Brasil e possibilitando que camadas
c) o Estado é um meio suplementar de exploração das classes
sociais inferiores, o povo, as massas, participassem da
oprimidas, ou seja, o instrumento de dominação da classe
construção do país, de sua cultura e de sua unidade
economicamente mais poderosa.
como povo brasileiro.
d) o Estado é decisivo para defesa de um modo de produção.
18. (ACAFE – SC) Karl Marx, mediante análise dos mecanis- Trata-se de um instrumento de conciliação e democrati-
mos econômicos e sociais do capitalismo, criou uma série de zação da sociedade.
conceitos econômicos, políticos e sociais que foram a base da
ideologia socialista. Acerca do Marxismo, todas as alternativas e) o Estado não oprime, mas concilia os meios de produção
estão corretas, exceto a: para a democratização da sociedade civil.
20. Leia, a seguir, o trecho de um texto de Ricardo Antunes
a) Para Marx, a exploração do operariado ficava evidente no
para responder à questão.
conceito de mais-valia.
b) O Marxismo defende que os meios de produção sejam Além do  saber  operário, que o fordismo expropriou e
controlados pela iniciativa privada, deixando ao Estado a transferiu para a esfera da gerência científica, para os níveis
administração das empresas públicas. de elaboração, a nova face do capital, da qual o toyotismo
c) O Socialismo Científico de Marx defendia uma proposta é a melhor expressão, retransfere o  savoir faire  para o
revolucionária para o proletariado. trabalho, mas o faz visando apropriar-se crescentemente
da sua dimensão  intelectual,  das suas capacidades cog-
d) Para a Revolução Socialista, o comunismo representaria o nitivas,  procurando envolver mais forte e intensamente a
fim das desigualdades econômicas e sociais. subjetividade operária.
19. (UPE) Leia o texto a seguir sobre a concepção do Estado
ANTUNES, Ricardo. As novas formas de acumulação de capital e as formas
Democrático. contemporâneas de estranhamento (alienação). Caderno CRH: Centro
de Recursos Humanos, Salvador, n. 37, p. 23-46, jul./dez. 2002.
Segundo Karl Marx, o Estado é o organismo de dominação Considerando o fragmento de Antunes, o conceito marxista de
de classe, de opressão de uma classe por outra. O Estado
alienação pode ser empregado para descrever o trabalhador
representa a violência estabelecida e organizada, a violência
legal. Ele é um instrumento, não de conciliação, mas sim no contexto do fordismo?
de luta das classes. a) Sim, pois corrobora o pensamento de Comte sobre a
praticidade.
(POLITZER, Georges. Princípios Fundamentais de
Filosofia. São Paulo: Hemus, 1954, p. 328.) b) Não, visto que compactua com uma visão fatídica crítica.

Na citação acima, o autor configura uma leitura crítico- c) Sim, porque mostra o distanciamento de quem trabalha
-reflexiva sobre a concepção do Estado na perspectiva no produto final.
da filosofia de Karl Marx. Com relação a essa temática, é d) Não, uma vez que o trabalhador se insere em todo o pro-
CORRETO afirmar que cesso produtivo.

Lembrete!

Gabarito
1. a 6. b 11. a 16. a
2. c 7. a 12. d 17. c
3. a 8. b 13. b 18. b
4. e 9. e 14. d 19. c
5. a 10. b 15. c 20. c

32 Prepara Positivo – Intensivo 1

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