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O AUMENTO DA INCIDÊNCIA DA PARTICIPAÇÃO DE MENORES DE IDADE NA


PRÁTICA DE CRIMES NO MUNICÍPIO DE ITACOATIARA

Fábio Marcio Lopes Batista.1


Francelma Lima Ramos.2
Jander Félix da Silva.3
Nataliana de Souza Paiva.4

RESUMO

As ocorrências feitas na DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção a Criança e ao


Adolescente) do Município de Itacoatiara envolvendo menores vêm crescendo de maneira
assustadora nos últimos anos. Este artigo tem o objetivo e procura discutir a questão da
redução da maioridade penal no Brasil. Aborda as possíveis causas da violência urbana,
refutando os argumentos daqueles que defendem a redução como forma de conter a
violência, principalmente diante dos recentes fatos violentos ocorridos nas grandes cidades,
envolvendo menores. A Metodologia utilizada para colher os dados referentes a esta
problemática foram pesquisas bibliográficas em diversos autores e exploratória realizada na
Delegacia Especializada de Proteção a Criança e ao Adolescente do município de
Itacoatiara, além de jornais e revistas especializadas no assunto. Apontando algumas
soluções que poderiam ser adotadas pelas autoridades no sentido de inibir o crescimento da
violência, além de valorizar os jovens, com ênfase nas políticas sociais, bem como propõe a
revisão das sanções previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Palavras-chave: Violência. Crime. Maioridade Penal.

INTRODUÇÃO

O envolvimento de menores com o crime não é um problema apenas da Cidade de


Itacoatiara situada no interior do Amazonas, é sim um problema mundial. Hoje há mais de 1
milhão de crianças e adolescentes presos ao redor do globo, 110.000 apenas nos Estados
Unidos. Nos Estados Unidos, um em cada quatro crimes violentos tem a participação de
meninos ou meninas com menos de 18 anos. Na França, o número de adolescentes detidos
cresceu 11% em relação a 1997. O problema é praticamente o mesmo em toda parte. O que
muda é o tratamento dado pelas autoridades. Como regra geral, não partem da premissa de
que menores não podem ser submetidos às leis dos adultos. Vale o princípio do “caso a
1
Tecnólogo formado pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas e aluno
finalista do Curso de pós-graduação em Segurança Pública e Direitos Humanos da Faculdade
Metropolitana de Manaus. fabio10batista@hotmail.com
2
Administradora formada pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas e aluna
finalista do Curso de pós-graduação em Segurança Pública e Direitos Humanos da Faculdade
Metropolitana de Manaus. francelmalimaramos@hotmail.com
3
Bacharel em Ciências da Computação formado na Universidade Paulista e aluno finalista do
Curso de pós-graduação em Segurança Pública e Direitos Humanos da Faculdade Metropolitana de
Manaus. janderfelix@yahoo.com.br
4
Professora. Msc. Orientadora do Curso de pós-graduação em Segurança Pública e Direitos
Humanos da Faculdade Metropolitana de Manaus. natalianapaiva@hotmail.com.br
2

caso”. Para decidir se um menor deve ser julgado como maior de idade, os juízes procuram
descobrir se o menor infrator sabia o que estava fazendo quando cometeu o crime.
Segundo edição 1.662 de 16 de Agosto de 2000 da Revista Veja, na Inglaterra,
dependendo da gravidade do caso, uma criança de 10 anos que cometa estupro, assalto a
mão armada ou homicídio já pode ser julgada e condenada como adulto e pode ser
condenado a prisão perpétua. Na França, adolescente com mais de 13 anos podem ser
responsabilizados criminalmente. Na Itália, maiores de 14 anos não podem alegar em
hipótese alguma desconhecer as regras sociais e as implicações do que fizeram.
O Brasil mergulhou numa situação peculiar. No campo das leis, o ECA (Estatuto da
Criança e do Adolescente) dispõe de uma das mais modernas legislações para menores.
Foi o primeiro país a adequar-se à Convenção Internacional dos Direitos das Criança,
assinada por 187 países. Se fosse feito o que o ECA preconiza o menor infrator teria boas
chances de se reabilitar. Na vida real, o governo interna os menores em instituições que se
transformaram em escolas do crime – em alguns casos até piores do que a prisão de
adultos. Nos lugares acima citados, as rebeliões são frequentes e seguem um mórbido
roteiro de horror. Os internos ateiam fogo na instituição, tomam o controle do pátio interno e
agridem funcionários e outros menores. Ou seja, as autoridades estão mandando um sinal
trocado para a sociedade. O sistema protege o menor e expõe a vítima, de verdade.
A violência nas grandes cidades nos últimos tempos vem superando limites quase
inacreditáveis, se comparados aos dos anos 1990. Crimes que antes escandalizavam e
monopolizavam a opinião pública durante meses, atualmente sucedem-se com a rapidez de
uma linha de produção. A cada dia novos crimes são praticados, e ninguém mais se
assusta.
Há várias explicações para compreender o crescimento da incidência da participação
de menores de idade na prática de crimes no município de Itacoatiara, temos os fatores que
os levam à violência como a pobreza, desemprego, falta de lazer, falta de perspectivas
profissionais etc, existe também a diferença que a legislação brasileira faz entre crime e ato
infracional o que acarreta com que os menores perante a justiça brasileira não respondam
como os maiores de idade, então, percebemos que a redução da maioridade penal seria
uma das opções para começar a diminuição da incidência da participação dos menores na
pratica de crimes.

2. FATORES DA VIOLÊNCIA

No Brasil segundo KAUFMAN (2005) a pobreza, desemprego, falta de lazer, falta de


perspectivas profissionais, narcotráfico, lares desfeitos, alcoolismo e consumo de drogas
são sempre os primeiros fatores a serem lembrados como possíveis raízes, ou causas da
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violência, além da corrupção e falta de ética presente em todos os escalões do poder


público, configurando uma falha simbólica que gera a total descrença em uma possível
punição dos culpados, principalmente no caso dos menores.
Os crimes praticados por jovens são cada vez mais freqüentes e comuns, e em geral
estes são indivíduos excluídos e sem perspectiva, provando que não basta apenas prender
os menores, e sim que a função do governo seria criar medidas sócio-econômicas que
modificassem sua realidade, e não apenas os punissem.
O transtorno de conduta que leva a violência atinge não apenas pobres, mas
menores de classe alta, pois a violência, a criminalidade, o desejo por bens de consumo,
induzem à pratica delituosa, e isso somado a idéia de que por serem menores não serão
responsabilizados iguais os adultos, geram nos menores a sensação de não punição, de
liberdade. A este respeito KAUFMAN (2005) coloca que:
Entre nós, dada a relativa impunidade dos menores, é frequente que eles sejam
empregados por quadrilhas para diversos tipos de serviços escusos e também para serem
responsabilizados por crimes graves perpetrados por maiores. Seria muito interessante que
as quadrilhas que utilizam menores realmente tivessem suas penas aumentadas, prática
que serviria para coibir o uso destes em atos criminosos, conforme disposto no Código
Penal, no Art.62 :
A pena será ainda agravada em relação ao agente que: III – Instiga ou
determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não punível
em virtude de condição ou qualidade pessoal.

A tradição do Direito brasileiro sempre considerou os jovens como seres em


formação, porém crianças e adolescentes devem ser punidos pelo que façam de errado, e
sanções bem aplicadas estão na base não só da educação como da vida em sociedade, no
entanto a questão é que, tratando-se de jovens, é necessário agir com moderação e
propósitos pedagógicos, com o objetivo que tais se corrijam.
A recuperação é relativamente rara porque a sociedade e governo não se mostram
capazes de organizar não apenas Febens eficientes, mas criar outras formas de afastar os
menores da criminalidade. Como se quer mudança se não lhes oferecem uma chance real
de ressocialização que não seja verdadeira escola do crime?. FOUCAULT (2003) sobre a
privação da liberdade coloca que:
Dizem que a prisão fabrica delinquentes; é verdade que ela leva de novo,
quase fatalmente, diante dos tribunais aqueles que lhe foram confiados.
Mas ela os fabrica no outro sentido de que ela introduziu no jogo da lei e da
infração, do juiz e do infrator, do condenado e do carrasco, a realidade
incorpórea da delinquência que os liga uns aos outros e, há um século e
meio, os pegam todos juntos na mesma armadilha.

Mesmo que não sejam mandados para a prisão a que se refere FOUCAULT (2003),
as instituições onde os menores são internados atuam da forma referida por este. Muitos
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dos jovens internados que cometeram delitos menores, contra o patrimônio e não contra a
vida, nas instituições convivem com menores de alta periculosidade. Os menores
certamente passam a ter contato e a serem influenciados a práticas delituosas maiores, ou
mesmo a um sentimento de raiva da sociedade. Em geral a detenção provoca reincidência,
como diria FOUCAULT (2003) à prisão, consequentemente, em vez de devolver à liberdade
indivíduos corrigidos, espalha na população delinquentes perigosos. Com adultos isto
ocorre, com menores então caso não exista um trabalho correto, é quase certo.
Penas restritivas de direitos ou de prestação de serviços seriam uma sanção mais de
acordo, pois se o Estado tem a obrigação de oferecer meios de formar moral, intelectual e
psicologicamente um menor, não é o tipo de ambiente e serviço oferecido nas instituições
de hoje que mudará isso.
LIBERATI (2004) sobre isto coloca que o problema não esta sediado somente na
fixação do critério etário, e sim que o maior problema esta na falência do sistema de
atendimento aos jovens infratores, carentes de programas de atendimento. O Poder
executivo, detentor da obrigação de instalar esses programas e excuta-los, permanece
completamente alheio à situação, deixando para o Poder Judiciário sua solução.
A sociedade sofre, pois pais vêem seus filhos crescendo em meio à violência, e
tornando-se em geral no caso daqueles que residem em cidades grandes, próximas as
favelas, cada vez mais violentos, e mais suscetíveis a influência do crime organizado.
Hoje o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) sofre condenações da
sociedade, porque coloca a inimputabilidade de menores, como um direito. O ECA no seu
art. 3º afirma:
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

O número de crimes envolvendo  menores infratores cresceu mais de 90% nos


últimos meses em Itacoatiara, segundo dados da Delegacia Especializada do menor infrator.
No primeiro semestre de 2010, o Juizado da Infância e da Juventude Criminal  realizou 152
audiências de casos envolvendo menores e, no mesmo período deste ano, foram 299
audiências.
Entre os principais motivos  do aumento da violência está à ausência do Estado com
serviços de prevenção, além do desajuste familiar. Há muitos casos de pais que não estão
presentes na educação dos filhos. Os menores  se desligam da escola e são aliciados por
adultos para participar de delitos, o que para nós são os atos infracionais.
Segundo os dados da Delegacia do Menor Infrator de Itacoatiara, 90% dos menores
que cometem atos infracionais são filhos de pais separados. Geralmente, as mães detêm a
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guarda e perdem o controle dos filhos. Nas audiências, elas alegam ter que trabalhar para o
sustento do lar e se afastam dos menores. Os pais, principalmente da classe mais carente,
estão perdendo controle sobre seus filhos.
Em 80% dos casos de atos infracionais há o envolvimento de entorpecentes. Muitos
querem sair na noite, comprar uma roupa nova e, para isto, acabam se envolvendo com
pessoas erradas. Por isto é importante o acompanhamento e a presença dos pais.
Em relação à idade dos jovens, a maioria possui de 13 a 15 anos de idade.
Os menores são internados na Delegacia mesmo sem nenhuma condições, pois a
mesma possui infiltrações e está em péssimas condições para que eles fiquem internados
pelo prazo máximo de 40 dias determinado pelo juiz é claro, no entanto em alguns casos
mais graves como de menores homicidas o juiz determina que eles fiquem internados mais
de 40 dias o que faz com que eles sejam transferidos para o Instituto Dagmar Feitosa na
cidade de Manaus, onde eles tem todas as condições necessárias para se reabilitar e tentar
sair da vida do crime.

3. CRIME X ATO INFRACIONAL

Inicialmente, na doutrina penal brasileira, adotou-se um conceito formal do delito, no


qual o crime seria toda a conduta humana que infringisse a lei penal. Neste conceito,
verificava-se o fato do indivíduo transgredir a lei penal apenas, sem que qualquer outro fator
fosse analisado.
Posteriormente, adotou-se uma definição material de crime, cujo nascimento foi
atribuído a IHERING. Passou-se a definir o crime como sendo o fato oriundo de uma
conduta humana que lesa ou põe em perigo um bem jurídico protegido pela lei.
Por último, chegamos ao conceito dogmático ou jurídico de crime, apelidado por
muitos de "analítico". Sua origem remonta ao ano de 1906, oriunda da doutrina alemã de
Beling, através de sua obra: "Die Lehre vom Verbrechen" ("A Teoria do Crime"), que
culminou em 1930 com sua segunda obra "Die Lehre vom Tatbestand" ("A Teoria do Tipo").
O crime, portanto, passou a ser definido como: - Toda a ação ou omissão, típica,
antijurídica e culpável.
O crime é um ato uno e indivisível, como bem adverte o Prof. MACHADO (:
"Não significa que os elementos encontrados na sua definição analítica
ocorram sequencialmente, de forma cronologicamente ordenada; em
verdade acontecem todos no mesmo momento histórico, no mesmo
instante, tal como o instante da junção de duas partículas de hidrogênio com
uma de oxigênio produz a molécula da água."

Assim sendo, o fato dos elementos constitutivos do crime, serem analisados


individualmente, não descaracterizam o ato criminoso que criou, alterou ou produziu efeitos
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no mundo jurídico (fato-crime), mas, unicamente facilitam a tarefa de averiguar a conduta


humana criminosa, para uma justa aplicação da reprimenda.
Ação ou omissão: Significa que o crime sempre é praticado através de uma conduta
positiva (ação), comissiva. Ou, através de uma conduta negativa (omissão). É o não fazer. A
inércia. Tanto é criminoso o fato de o cidadão infrator esfaquear uma pessoa até matá-la
(ação), como o fato de uma mãe, por preguiça ou comodidade, não retirar de cima da mesa
de sua casa (omissão) o veneno para matar baratas, que foi posteriormente ingerido pelo
seu filho de três anos, provocando-lhe a morte, enquanto aquela, assistia sua novela
preferida.
Dentro destas condutas positivas (ação) e negativas (omissão) pertencentes à
estrutura do crime, não vamos olvidar os crimes comissivos por omissão, ou seja, aqueles
que são praticados através de uma conduta negativa (omissão), mas que produz um
resultado positivo (um fato visado e desejado pelo agente). É o clássico exemplo da mãe,
que desejando matar seu próprio filho de tenra idade, deixa de amamentá-lo, com a
finalidade de matá-lo de fome.
Conduta típica: Significa que a ação ou omissão praticada pelo sujeito, deve ser
tipificada. Isto é, descrita em lei como delito. A conduta praticada deve se ajustar a
descrição do crime criado pelo legislador e previsto em lei. Pois, pode a conduta não ser
crime, e, não sendo crime, denomina-se: conduta atípica (não punida, tendo em vista que
não existe um dispositivo penal que a incrimine).
Mas, cumpre lembrar, que uma conduta atípica como crime, pode ser tipificada como
contravenção penal. Não se pode confundir de modo algum, crime com contravenção penal.
Esta, como definia o mestre HUNGRIA, é um "crime anão", é menos grave que o delito (ou
crime) e possui legislação própria (Decreto-lei n.º 3.688/41), com tipificação e características
próprias.
Conduta antijurídica: Significa que a conduta positiva ou negativa, além de típica,
deve ser antijurídica, contrária ao direito. É a oposição ou contrariedade entre o fato e o
direito. Será antijurídica a conduta que não encontrar uma causa que venha a justificá-la.
Nas palavras do Damásio de Jesus (2004):

"A conduta descrita em norma penal incriminadora será ilícita ou antijurídica


quando não for expressamente declarada lícita. Assim, o conceito de
ilicitude de um fato típico é encontrado por exclusão: é antijurídico quando
não declarado lícito por causas de exclusão da antijuridicidade (CP, art. 23,
ou normas permissivas encontradas em sua parte especial ou em leis
especiais)."

Conduta culpável: a culpabilidade é o elemento subjetivo do autor do crime. É aquilo


que se passa na mente daquela pessoa que praticou um delito.
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Ela poderia ter desejado um resultado criminoso qualquer (agiu com dolo direto); ele
poderia ter assumido o risco de produzir um resultado criminoso (agiu com dolo indireto
eventual); ou, não desejava aquele resultado criminoso, mas deu causa a ele por
imprudência, negligência ou imperícia (agiu com culpa).
A culpabilidade, portanto, é a culpa em sentido amplo, que abrange o dolo (artigo 18,
inciso I; CP); e a culpa em sentido estrito (artigo 18, inciso II; CP).
Por outro lado, ela resulta ainda, da união de três elementos: imputabilidade,
consciência efetiva da antijuridicidade e exigibilidade de conduta conforme ao Direito. Ou
seja: deve o autor do delito ser imputável; ter conhecimento ou possibilidade de
conhecimento da antijuridicidade de sua conduta; e ter condições de, no momento da prática
daquele ato criminoso, ter agido de modo diverso do qual agiu.
Em vista disto, é oportuno lembrar de que existem excludentes de culpabilidade
previstas pelo Código Penal que determinam que o agente não deva ser punido, mesmo
sendo a sua conduta (ativa ou positiva), típica e antijurídica.
Neste caso, o legislador empregou expressões como: "é isento de pena" (artigos 26,
caput; e 28, parágrafo 1º do CP); ou de forma indireta: "só é punível o autor da coação ou da
ordem", dando a entender que o autor do fato não é punível (art. 22 do CP). Entre estas
excludentes de culpabilidade, encontramos como destaque, a menoridade (art. 27 CP).
Entretanto, existem autores que não aceitam esta definição. Enquanto alguns
pretendem retirar um dos seus elementos, outros, desejam acrescentar novos elementos.
Sobre este assunto, MACHADO (1987), esclarece que:
"o conceito analítico do crime vem sofrendo profundo reexame do mundo
jurídico-criminal. A mais ou menos pacífica e tradicional composição
tripartida (tipicidade, antijuridicidade, culpabilidade) tem trazido
inquietações, seja pela estrutura interna desses elementos, com a
transposição de fatores de um para outro, seja pela atual tentativa de
retorno a uma concepção bipartida."

O Damásio de Jesus (2004), sustenta que a culpabilidade não é elemento ou


requisito do crime. Ela somente funciona como pressuposto da pena; e que o juízo de
reprovabilidade não incidiria sobre o fato, mas sim sobre o sujeito. Não se tratando de fato
culpável, mas de sujeito culpável. Culpabilidade seria um juízo de reprovação que recairia
sobre o sujeito que praticou o delito, desta forma, a culpabilidade seria uma condição de
imposição de pena.
Devido a todas as considerações acima, podemos concluir que o conceito de crime
ainda está em evolução. Acredito que o atual conceito adotado pela doutrina prevalente não
perdurará por muito tempo. Logo, o crime como "ação ou omissão, típica, antijurídica e
culpável", passará por algumas modificações e "reformas", aliás, como tudo em nossas
vidas.
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Ato infracional é mais uma expressão que deve ser desmembrada para ser
compreendida. “Ato” significa aquilo que se faz, declaração, ação. Já a palavra “infracional”
é um adjetivo que qualifica o ato. Provém do termo “infração” que é ato ou efeito de infringir,
violação, transgressão. Consequentemente a palavra “infracional” caracteriza algo que
infringe, viola ou transgride.
Buscando o real significado da expressão, em seu sentido jurídico, percebe-se que a
própria lei se encarregou de defini-la. O artigo 103, da Lei 8.069 de 1990, conhecida como
“Estatuto da Criança e do Adolescente”, assim dispõe: “Considera-se ato infracional a
conduta descrita como crime ou contravenção penal”.
Portanto, ato infracional é a ação, praticada por crianças e adolescentes (menores de
dezoito anos), que está disposta como crime ou contravenção penal.
Definindo ato infracional, nossa legislação obedeceu ao rigor do Princípio da
Legalidade e da Anterioridade da Lei Penal. Para o primeiro princípio, não há crime sem lei
que o defina, não há pena sem previsão legal. Já, o segundo, traz que, não há crime sem lei
“anterior” que o defina e também não há pena sem anterior previsão legal. Ambos estão
dispostos no artigo primeiro do Código Penal.
A segurança jurídica foi salva e a Lei 8.069 de 1990, Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), obedeceu à integração do ordenamento.
Embora com nomenclatura diversa, o ato infracional acabou limitado a ações que
definem crimes e contravenções penais, com a peculiaridade do sujeito ativo ser o menor de
dezoito anos. Sendo o ato infracional praticado, identificado e apurado, respeitadas todas as
garantias legais, acarretará para o menor o cumprimento de medidas sócio-educativas ou
medidas de proteção.
Referindo-se às finalidades dessas medidas, LIBERATI (2003, p.100) proclama que:
Em outra oportunidade, lembramos que as medidas sócio-educativas são
aquelas atividades impostas aos adolescentes, quando considerados
autores de ato infracional. Destinam-se elas, à formação do tratamento
integral empreendido a fim de reestruturar o adolescente para atingir a
normalidade de sua integração social.

Persiste nas medidas sócio-educativas, a natureza punitiva, mas executadas com


métodos pedagógicos. O seu real fim é a integração do adolescente na família e na
comunidade, conduzindo-o a uma efetiva integração social.
Na hipótese do autor de ato infracional ser criança, com idade de até doze anos
incompletos, aplicam-se as medidas previstas no artigo 101 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, quais sejam:
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de
responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
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III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino


fundamental;
IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à
criança e ao adolescente;
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime
hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e
tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - abrigo em entidade;
VIII - colocação em família substituta.

No entanto, se aquele que pratica o ato infracional for adolescente, com idade entre
12 e 18 anos incompletos, as medidas previstas serão as do artigo 112 do mesmo Estatuto:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

Atingidos esses fins, estará cumprida a missão do Estado em recuperar o menor


infrator. Sua meta, então, passará do termo “recuperação” para o termo “manutenção”; ou
seja, manutenção dos valores morais e oportunidades ao menor.
Portanto, cumpre-se observar que o juízo de reprovação voltado ao menor infrator é
diferenciado do juízo de reprovação do maior infrator, posto que aquele possui imaturidade
mental e necessita de tratamentos que lhes dêem proteção, educação e punição em alguns
casos para que seja assegurada uma vida adulta digna. Este é o fator determinante da
diferenciação do menor.
Partindo-se do critério biológico adotado pelo legislador pátrio no artigo 27 do
CP/1940, o qual considera irrelevante o desenvolvimento mental do menor de dezoito anos
e/ou se o mesmo possui capacidade de entender a antijuridicidade da sua conduta ou de
determinar-se segundo este entendimento (BITENCOURT, 2002, p. 306), os menores
infratores são isentos de culpabilidade, submetidos a tratamentos diferenciados, regidos
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
De acordo com o Direito Penal, os menores de dezoito anos são considerados
inimputáveis e em relação ao Direito Civil são relativamente incapazes. Portanto, embora o
ato infracional e o crime sejam análogos, ambos divergem no que se refere à culpabilidade;
o juízo de reprovação das condutas do menor infrator (inimputável) é menor do que o juízo
de reprovação das condutas criminosas praticadas pelo adulto (imputável), daí o motivo dos
menores se submeterem às medidas de sócio-educativas com tratamentos específicos
fundamentais para sua ressocialização e reeducação.
Dessa forma, considerar como informação para fixação da pena-base do agente
criminoso, atos infracionais cometidos por este antes da maioridade penal, implica em
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desconsiderar a inimputabilidade do menor, prevista na Constituição Federal, no Estatuto da


Criança e do Adolescente e no Código Penal vigente. Isto porque o menor não comente
crime, não se submete às penas estabelecidas no código penal, e, portanto, não cabe a
consideração dos atos infracionais como maus antecedentes.
Ao trabalhar na delegacia de Itacoatiara diante das ocorrências, percebe-se o
aumento do uso de menores nos crimes cometidos na cidade o que torna o trabalho dos
profissionais de segurança pública bem mais complicado, pois não podemos aplicar a
legislação penal aos infratores, somos abrigados a seguir a legislação especial do Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA), o que na maioria das vezes faz com que o menor
infrator retorne a delegacia por várias vezes e que no futuro quando posteriormente
complete 18 anos acabe sendo condenado e enviado a uma penitenciária.
Em um sentido geral, crime é um ato que viola uma lei política ou moral. Num sentido
estrito, crime é uma violação da lei criminal. Juridicamente, crime é uma ação ou omissão
que se proíbe e se procura evitar, ameaçando-a com pena, porque constitui ofensa (dano ou
perigo) a um bem ou a um valor da vida social. Como conceito analítico, crime é definido
como "conduta típica, antijurídica e culpável". Informa ELIAS (2004) que de acordo com o
Estatuto da Criança e do Adolescente, somente os adolescentes que cometerem atos
catalogados como crime ou contravenção penal é que são passíveis de sofrer medidas
sócio-educativas.
Perante este são penalmente inimputáveis os menores de 18 (dezoito) anos, sujeitos
às medidas previstas no ECA, devendo ser considerada a idade do adolescente na data do
fato, constando até mesmo na Constituição Federal em seu Art.228, que menores de 18 são
penalmente inimputáveis, podendo lhes ser aplicadas somente medidas sócio-educativas.
No caso da criança, apenas medidas especificas de proteção são permitidas e tal regra é
absoluta, não admitindo exceção.

4. REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL.

Conforme o registro de Cláudio Augusto Vieira da Silva, dos crimes praticados no


Brasil somente 10% são cometidos por adolescentes infratores, e do total de crimes que
cometem 90% são contra o patrimônio. Na interessante obra “Desconstruindo o mito da
impunidade: um ensaio de direito (penal) juvenil” (2002, p. 35), o Magistrado gaúcho João
Batista Costa Saraiva observa ainda que os delitos graves como homicídios, latrocínios e
estupros constituem 19% das condutas criminosas dos adolescentes infratores, ou seja,
menos de 2% dos delitos, considerando-se que só 10% de todos os crimes são cometidos
por adolescentes. O mais comum ato infracional praticado por menores de 18 anos
relaciona-se ao patrimônio. Homicídios, latrocínios e estupros ocorrem, porém, como visto
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no parágrafo anterior, em porcentual bem pequeno dentro do quadro da criminalidade


juvenil. Até por isso, os meios de comunicação colocam como manchetes os crimes com
violência cometidos por adolescente (SARAIVA, ibidem, p. 37)
Os dados do “Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção e
Tratamento de Delinquente” ILANUD - não diferem muito dos acima vistos:
Estudos já feitos pelo Ilanud (Instituto Latino Americano das Nações Unidas
para prevenção do delito e tratamento do delinquente) mostraram que os
crimes graves atribuídos a adolescentes no Brasil não ultrapassam 10% do
total de infrações. A grande maioria (mais de 70%) dos atos infracionais é
contra o patrimônio, demonstrando que os casos de adolescentes infratores
considerados de alta periculosidade e autores de homicídios são
minoritários e o ECA já prevê tratamento específico para eles (ALVES,
2007).

De fato, na pesquisa realizada pelo referido instituto entre junho de 2000 e abril de
2001 com 2.100 adolescentes acusados da prática de ato infracional na Capital de São
Paulo, apenas 1,4% eram acusados da prática de homicídio. Os índices oficiais da
Coordenadoria de Análise e Planejamento da Secretaria de Segurança Pública de São
Paulo – CAP – revelam que no período de janeiro a outubro de 2003 os menores de 18 anos
foram autores de apenas 0,97% dos homicídios dolosos em todo o Estado de São Paulo.
Esses dados estatísticos mostram que é equivocada a ideia da redução da idade
penal como estratégia para reduzir a criminalidade violenta, pois são cometidos por menores
infratores menos de 2% de delitos que têm essa natureza e seriam atingidos por eventual
alteração no artigo 228 da Constituição Federal e artigo 27 do Código Penal. Uma reflexão
não apaixonada e mais racional das pesquisas atrás anotadas leva à conclusão de que 98%
dos crimes de mais elevada gravidade são cometidos por pessoas que contam mais de 18
anos deidade e que recebem o tratamento previsto no Código Penal e Leis Penais Especiais
Nenhum adolescente pode ser privado conforme o ECA de sua liberdade, porém
sendo isto admitido em casos de flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente. Vê-se que perante o ECA a criança
jamais será privada de sua liberdade, e que somente o adolescente é passível de tal
medida, nas circunstâncias permitidas no Art.106, que deve ser interpretado de forma
restrita .
Perante o ECA quando os menores de 18 anos praticam infração que é descrita
como um crime pelo Código Penal (furtar, atropelar, ferir ou matar) estes não são
processados e punidos pela Justiça Penal. A estes pelo que foi observado não se aplica o
Código Penal, pois, perante a lei, os menores de 18 anos são inimputáveis, incapazes de
compreender o delito que praticam e, por isso, não devem ser punidos como alguém que
pratica um crime.
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Em outras palavras a lei quer dizer, que os menores não praticam crimes, e sim
praticam infrações, mesmo quando furtam, roubam ou matam alguém.
As infrações praticadas pelos menores são julgadas pelos Juízes da Infância e da
Juventude, e em caso de infrações leves, os menores serão advertidos pelo juiz na
presença dos seus pais. No caso de infrações graves com uso de violência ou ameaça,
estes são "processados", e nesses processos, os menores possuem amplo direito de defesa
por advogado de sua família, ou por advogado nomeado pela própria justiça.
Determina o ECA que se a justiça reconhecer a culpa do menor, ele poderá até ser
"condenado" a prestar algum serviço de caráter educativo à comunidade ou até ser
"condenado" a "internação" que deve ser feita em unidade própria para menores.
Assim como ocorre com os adultos, os menores podem ser "apreendidos" quando
são pegos em flagrante cometendo algum delito, mas a diferença é que, salvo em casos
muitos graves, os menores "apreendidos" devem ser entregues aos seus pais mediante
compromisso de apresentarem os menores para responder ao "processo", estes não
recebem o mesmo tratamento dos adultos, apesar do crime ter tido o mesmo resultado do
praticado por um maior de idade.
O que a sociedade não percebe é que inimputabilidade penal difere de impunidade, e
que os menores respondem por seus atos, porém diferentemente dos adultos. A
inimputabilidade seria exclusão da responsabilidade penal, o que não significa,
absolutamente irresponsabilidade pessoal e social. Porém o que surge diante o tipo de pena
aplicada ao menor, é a sensação até certo ponto equivocada de que nada acontece ao autor
da infração penal.
Certamente esta sensação de impunidade tem sido o obstáculo à desempenho
efetivo do ECA, já que a onda de violência alcança níveis alarmantes, criando-se até mesmo
grupos de extermínio, como formas de defesa da sociedade, face esta não compreender
que a correta aplicação do ECA pode mudar algo.
A circunstância de o adolescente não responder por seus atos delituosos perante a
Corte Penal não o faz irresponsável. Ao contrário do que se diz, o sistema legal implantado
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente faz estes jovens, entre l2 e l8 anos, sujeitos de
direitos e de responsabilidades em caso de infração e prevê medidas sócio-educativas,
inclusive com privação de liberdade, porém o problema é que tais na maior parte das vezes,
não saem melhores das instituições, aprendendo algo de pior dentro destas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A questão da criminalidade que existe no município de Itacoatiara mostra uma


realidade no qual vê-se que a legislação de menores em nada contribui para que se altere
na essência a situação de indignidade vivida pelas crianças e adolescentes brasileiros, vez
que sequer os reconheceu como sujeitos dos mais elementares direitos.
Em estabelecimentos onde os infratores são colocados, ditos estabelecimentos
correcionais, não é surpreendente que as atitudes favoráveis à delinquência sejam
reforçadas e os talentos e habilidades relevantes para o crime se desenvolvam ainda mais
após um período de verdadeira reclusão, em um processo chamado criminalização.
O que não se percebe é que o problema não é o ECA punir, e não colocar o menor
como inimputável quanto sua prática criminal, e sim manter este dispositivo, porém agindo o
governo de maneira a criar meios que afastem os menores dos crimes, assim como penas
maiores para aqueles que venham a utilizá-los como instrumentos de práticas delituosas,
pois somente assim a sociedade deixará de encarar as penalidades dadas aos menores
como forma clara de impunidade.
Políticas públicas e sociais, diminuição da criminalidade nos grandes centros, e
repressão ao crime organizado, significaria a mudança nas vidas de muitas famílias e
menores envolvidos com o crime. Isto também para a sociedade traria uma outra visão de
que os menores praticam crimes ante não somente distúrbio de comportamento, mas sim
pela influência de diferentes fatores, e apenas punir não significa solução.
A aplicabilidade do Estatuto, não resta dúvida, torna-se um pouco difícil,
principalmente no que pertence à política de atendimento aos menores (art.86 e seguintes
do ECA), pois falta compromisso dos órgãos públicos da Administração, seja a nível
municipal, estadual ou federal. Punir pode ser medida a curto prazo, solução rápida para
retirar menores criminosos das ruas, porém em um futuro, tais menores serão adultos
capazes de crimes ainda maiores, já que na realidade não lhes foram oferecidas condições
de mudança, sendo este exposto ainda mais a criminalidade.
É preciso maior rigor na elaboração das leis, para que em sua aplicação tais sejam
efetivamente cumpridas, havendo fiscalização deste cumprimento pelos órgãos
competentes. Assim vê-se que no país o que preocupa não é a ausência de comandos
legais, como se observa no ECA, na legislação pátria em geral, e sim a ausência de
seriedade que certamente leva a impunidade.
Não adianta pelo que se percebe diminuir a idade de inimputabilidade, criar penas
mais rigorosas para os menores, pois cada vez mais jovens de menor idade ainda
praticaram crimes influenciados pelo meio, e mais cedo viveram a realidade das instituições
de internação de menores delinquentes, que com certeza não lhes trarão mudança de
comportamento, e ainda trará aos mesmos o estigma de marginal, já que a sociedade vê
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naqueles que saem destas instituições marginais de quem se deve temer, não confiar
apesar de ainda serem adolescentes ou crianças, imaturos psicologicamente.
Pode-se expor que sociedade e até mesmo menores, não compreenderam na
verdade a função do ECA. Pais em sua maior parte, julgam os Conselhos Tutelares, órgãos
responsáveis pela aplicação também do ECA, como aquele que retira dos mesmos o direito
de educar a seu modo seus filhos, e para os menores este se torna instrumento com os
quais ameaçam seus pais a qualquer represália. O que é visto, mostra que a função do ECA
não é bem entendida, e talvez os próprios membros dos Conselhos, não perceberam em
quais situações devem intervir.
O menor de hoje, além de exposto a criminalidade, vive em um tempo repleto de
informações, cobrança externas, de direitos, de proibições por ser menor. Pais e mães
trabalham, filhos recebem uma educação menos rígida, mas também o próprio mundo vem
gerando novos comportamentos nas gerações da atualidade. A imaturidade, somada a
maior liberdade e exposição a vida em sociedade, determina o comportamento rebelde dos
menores.
A família não mais é a única responsável pela educação dos menores. O menor
muitas vezes se expõe ao crime, face leis corretas que vêm para punir o trabalho de
menores, porém quando deveria ser para menores em condições degradantes de vida como
no nordeste, ou em outras áreas do país. Como não podem trabalhar, ou não são
contratados devido sua idade e as penalidades por sua contratação, em situação de
pobreza, sendo obrigados a ajudar na renda da família, muitos são levados as ruas, e
possivelmente ao crime, como maneira de obter aquilo que conseguiria com o trabalho.
Não basta a determinação dos atos infracionais e da inimputabilidade. A sociedade
requerer punição para menores na prática de nada adianta, porque tira os menores
delinqüentes das ruas, mas geram bandidos quando maiores. Também reprimir o trabalho
da criança e do adolescente, ante a miséria de suas famílias, não significa prática correta,
pois estudar sem comida, roupas, livros, passe para ônibus, etc., ou mesmo com a quantia
pouca do Bolsa Escola, é inútil.
Como se falar em educação, fuga da criminalidade, se sociedade e governo
posicionam-se de maneira que não oferecem meios, políticas para mudança da realidade
social das famílias. Muitos menores de classe média ou alta praticam crimes, mas numa
massa arrebatadora, a criminalidade é atitude das classes baixas, porque a situação
financeira, falta de perspectiva leva a isto. São poucos os jovens que conseguem fugir ao
crime.
O município de Itacoatiara localizado no interior do Amazonas, portanto, tem muito
que mudar e isto somente será possível com políticas de médio e longo prazo. Punição e
proibição não basta, caso não se encontre a origem do problema. Sem corrigir o erro em
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seu começo, nunca se conseguirá solucionar ou melhorar o comportamento e a vida dos


menores, assim como a situação de suas famílias.

REFERÊNCIAS

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Janeiro: Aide, 1991.

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Federativa do Brasil.

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ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. De acordo


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SILVA, Sônia Maria Teixeira da. Imputabilidade penal e a redução da idade de 18 para 16
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