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Apontamentos sobre o uso da

calculadora em sala de aula na Educação


Básica

Unidade 1 - História da Calculadora

Professora: Michelle F. de Azevedo Bonfim de Freitas

Realização: Secretaria Geral de Educação a Distância da Universidade Federal de São Carlos


Unidade 1 - História da calculadora.

Nesta unidade abordaremos a história da contagem e do cálculo, passando pelos primeiros


registros de contagem até chegarmos às calculadoras modernas.
Ifrah (1992) considera a mão humana o mais antigo acessório de contagem e de cálculo encontrado
nas mais diferentes regiões do mundo.

Pelo número considerável de seus ossos e de suas articulações correspondentes, pela disposição
assimétrica de seus dedos e sua relativa autonomia, pelo diálogo que ela mantém, enfim,
permanentemente com o cérebro, a mão do homem constitui seguramente a mais espantosa
concentração natural de recursos a esse respeito. E o ser humano soube tirar dela o máximo
proveito, a partir do momento em que foi capaz de contar de modo abstrato e de assimilar o
princípio da base... (IFRAH, 1992, p. 79).

Além de utilizar a mão para contagem, o homem passou a utilizá-la para calcular, ou seja, efetuar
operações aritméticas. De acordo com Ifrah (1992), há vestígios dessas técnicas na Índia, Iraque, Síria,
Sérvia, norte da África, entre outros. Esse uso das mãos data pelo menos desde o século XXVIII a.C.

Figura 1: Multiplicação de números utilizando os dedos.

Fonte: IFRAH, 1992, p. 97.


A civilização inca (início do século XII) já utilizava uma técnica de contabilidade precisa, fazendo uso
de cordões em nós. O dispositivo era denominado quipo ou quipu e possuía uma corda principal de
aproximadamente 60 centímetros de comprimento na qual estavam amarrados vários cordões coloridos
mais finos, formando diferentes grupos com amarras em intervalos regulares utilizando diferentes tipos de
nós. No quipu era utilizada a base dez.

Figura 2: Quipu inca.

Fonte: IFRAH, 1992, p. 99.

O processo mais conhecido para registros numéricos é o entalhe em osso ou pedaço de madeira. Os
registros no entalhe eram feitos sobre a base cinco.

Figura 3: Exemplos de entalhes.

Fonte: IFRAH, 1992, p. 104.

Várias civilizações utilizaram entalhes de diversas formas para registro de números, sendo a mais
comum, uma marca para cada unidade a ser registrada. Ifrah (1992) descreve um processo para registro de
crédito que era usado na França em padarias para se vender fiado pelo menos até o início do século XX. O
padeiro e o freguês possuíam pedaços de madeiras entalhados com um símbolo para o nome e entalhes
que eram colocados a cada compra, fossem eles traços ou cruzes. Ao final do mês era conferida a
quantidade de pães vendida e efetuado o pagamento.

Figura 4: Entalhes feitos por padeiros franceses.

Fonte: IFRAH, 1992, p. 113.

A arte do cálculo foi iniciada com a utilização de pedras para contar. Tais pedras originaram
posteriormente os ábacos e contadores mecânicos. “Para os povos ocidentais, os ábacos mais correntes
foram as tábuas ou pranchas com divisões e diversas linhas ou colunas paralelas separando as diferentes
ordens de numeração” (IFRAH, 1992, p. 118). No ábaco romano, cada uma das colunas enfileiradas
equivalia a potências de 10, partindo da direita para a esquerda.
A primeira calculadora portátil era uma pequena placa metálica com ranhuras paralelas nas quais
eram colocados botões móveis que se deslizavam. A prova da sua existência é um baixo-relevo feito em
um sarcófago romano do século I. Cada uma das ranhuras correspondia a uma ordem decimal, exceto a
primeira e a segunda à direita que eram reservadas às frações.
Os contadores ainda hoje são muito utilizados pelos povos orientais. Ele é chamado de suan pan
pelos chineses, soroban pelos japoneses e stchoty pelos russos. Possuem algumas diferenças entre eles,
sendo que o contador chinês possui sete bolas em cada haste, o japonês, seis e o russo possui dez bolas
em cada haste.
Figura 5: Contadores chinês, russo e japonês.

Fonte: IFRAH, 1992, p. 125, 126 e 129.

Após a utilização dos contadores como principal ferramenta de cálculo, no ano de 1638, através de
pesquisas sobre logaritmos realizadas por John Napier, um padre inglês chamado William Oughtred criou
uma tabela para efetuar multiplicações muito grandes. “O mecanismo do William era consistido de uma
régua que já possuía uma boa quantidade de valores pré-calculados, organizados em forma que os
resultados fossem acessados automaticamente. Uma espécie de ponteiro indicava o resultado do valor
desejado” (GUGIK, 2009, p. 2).
A primeira calculadora mecânica da história foi criada por Pascal no ano de 1642 e foi denominada
a máquina de Pascal. Ela funcionava através de rodas interligadas que giravam para realizar os cálculos. A
ideia inicial era que a máquina fizesse as quatro operações básicas (adição, subtração, multiplicação e
divisão), porém ela só efetuava operações de adição e subtração. Posteriormente, o alemão Leibnitz
conseguiu, em 1672, uma máquina que efetuava adição, divisão e raiz quadrada (GUGIK, 2009).
Até esse período as máquinas eram pré-programadas. Em 1801, o costureiro Joseph Marie Jacquard
desenvolveu um sistema para recortar tecidos de forma automática que podia ser programado. Esse
mecanismo foi chamado de Tear Programável e consistia em inserir um cartão perfurado na máquina com
o desenho que se desejava reproduzir. Esse avanço influenciou em novas criações (GUGIK, 2009).
Charles Babbage fez importantes descobertas para o avanço das máquinas de calcular, apesar de
muitas de suas ideias não terem sido desenvolvidas na época devido à falta de recursos técnicos e
financeiros. Sua primeira invenção foi a Máquina de Diferenças (1822), que calculava funções de diferentes
naturezas, como trigonometria e logaritmos de forma muito simples. Posteriormente, em 1837, ele
idealizou uma máquina denominada de Engenho Analítico (Máquina Analítica), que utilizava das ideias do
Tear Programável, incluindo o uso dos cartões. Sua precisão chegava a 50 casas decimais (GUGIK, 2009).
Outra importante contribuição foi feita pelo matemático George Boole que desenvolveu, em 1847,
um sistema que reduzia a representação dos valores em dois algarismos: 0 e 1. Esse sistema lógico é
utilizado até hoje nos computadores.

Em sua teoria, o número “1” tem significados como: ativo, ligado, existente, verdadeiro. Por outro
lado, o “0” representava o inverso: não ativo, desligado, não existente, falso. Para representar
valores intermediários, como “mais ou menos” ativo, é possível usar dois ou mais algarismos (bits)
para a representação. Por exemplo:
 00 – desligado
 01 – carga baixa
 10 – carga moderada
 11 – carga alta (GUGIK, 2009, p. 3).

A máquina de Tear Programável também contribuiu para a realização do censo de 1890 nos Estados
Unidos. Hermann Hollerith desenvolveu uma máquina que acelerava o processo de computação dos
dados, reduzindo para 1/3 do tempo o processo de computação da informação. Em 1896, devido ao
sucesso da sua máquina, Hollerith fundou sua própria empresa, a Tabulation Machine Company. Hollerith
ficou até seu falecimento no comando do empreendimento e fez algumas fusões com outras empresas.
Quando foi substituído em 1916, a empresa mudou seu nome para International Business Machine, a
famosa IBM (GUGIK, 2009).
Com o passar do tempo, diferentes computadores mecânicos foram desenvolvidos. Em 1931, foi
implementado o primeiro computador com arquitetura binária por Vannevar Bush. Com a Segunda Guerra
Mundial, as máquinas passaram a ser muito úteis para desencriptar mensagens inimigas e criar novas
armas, mais inteligentes. Nesse período foram desenvolvidos diferentes projetos, mas os que mais se
destacaram foram os desenvolvidos pela Universidade de Harvard no ano de 1941 (Mark I) e por Allan
Turing em 1946 (Colossus). Turing ficou famoso pela sua teoria da Máquina de Turing que resolvia diversos
problemas computacionais através de um número finito de operações. Através do Computador Colossus
foi possível colocar em prática a Máquina de Turing (GUGIK, 2009).
Com esse percurso histórico é possível compreender que os primeiros computadores foram
calculadoras que conseguiam calcular mais rápido que as máquinas de calcular até então criadas. A história
da computação moderna pode ser dividida em 4 gerações: Primeira Geração (1946 - 1959); Segunda
Geração (1959 - 1964); Terceira geração (1964 - 1970) e Quarta geração (1970 até hoje) (GUGIK, 2009).
Na primeira geração se destaca o ENIAC (Electrical Numerical Integrator and Calculator),
desenvolvido em 1946 pelos cientistas John Eckert e John Mauchly. Essa máquina era 1000 vezes mais
rápida que as demais e a maioria das operações não precisava movimentar peças de forma manual, mas
sim entrar com dados pelo painel de controle. As dimensões da máquina eram aproximadamente 25
metros de comprimento por 5,5 de altura, pesando 30 toneladas (GUGIK, 2009).
Na segunda geração as válvulas eletrônicas foram substituídas por transistores, diminuindo muito o
tamanho do hardware. Os computadores desta geração podem ser divididos em duas categorias:
supercomputadores e minicomputadores. Um dos supercomputadores mais conhecidos foi o IBM 7030,
também conhecido como Strech, que fazia cálculos na casa dos microssegundos. Um dos
minicomputadores que se destacou nessa época foi o PDP-8, uma versão compacta do supercomputador e
atrativa financeiramente. Apesar do nome minicomputador, ainda ocupava um bom lugar no cômodo
(GUGIK, 2009).
Na terceira geração, os computadores passaram a ter circuitos integrados que se comunicavam
com vários hardwares distintos ao mesmo tempo. As máquinas ficaram mais rápidas e o preço menor. O
único problema desse período é que se preocupou mais com o hardware e não se desenvolveu softwares
de qualidade para serem utilizados (GUGIK, 2009).
Finalmente, a quarta geração é marcada pela drástica diminuição no tamanho e preço dos
computadores, surgindo os computadores pessoais. O primeiro computador a se destacar foi o Altair 8800,
lançado em 1975 e que usava o processador 8080 da Intel. A seguir, Steve Jobs lançou um computador
mais fácil de ser utilizado por pessoas comuns, o Apple I, lançado em 1976. A seguir, em 1979, foi lançado
o Apple II, devido ao sucesso do Apple I e seguia a mesma ideia deste. Nessa mesma linha ainda foram
criados os computadores Lisa (1983) e Macintosh (1984) (GUGIK, 2009).
A primeira calculadora de bolso, chamada de Pocketronic e criada pelo engenheiro Jack St. Clair
Kilby foi patenteada em setembro de 1967 e começou a ser produzida em abril de 1970 pela Texas
Instruments em associação com a Canon. Em 1972 a HP entrou nesse mercado, com a HP-35, em
referência as 35 teclas que possuía. Em agosto desse mesmo ano, a Casio também entrou nesse mercado
com a Casio Mini (MOON, 2007).
De acordo com Coelho (2009), a partir dos anos 1980 começaram a surgir diferentes calculadoras
de mesa e de bolso, tendo sido aperfeiçoadas com o passar do tempo, diminuindo o preço e o tamanho.
Dessa forma, a população passou a ter acesso a esse equipamento, utilizando-o em tarefas particulares e
profissionais.

Referências.
COELHO, T. T. Calculadora em sala de aula: vilã ou coadjuvante?. Portal Só Pedagogia. Internet, 2009.
Disponível em <http://www.pedagogia.com.br/artigos/calculadora>. Acesso em: 25 mar. 2018.
GUGIK, G. A História dos computadores e da computação. Internet, 2009. Disponível em:
<http://www.tecmundo.com.br/1697-A-Historia-dos-computadores-e-da-computacao.htm>. Acesso em
25 mar. 2018.
IFRAH, G. Os números – História de Uma Grande Invenção. São Paulo: Globo, 1992.
MOON, P. Primeira calculadora eletrônica portátil comemora 40 anos. Internet, 2007. Disponível em:
<http://idgnow.com.br/ti-pessoal/2007/04/20/idgnoticia.2007-04-20.6917282098/>. Acesso em: 25 mar.
2018.

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