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Trabalho entregue ao
Professor Paulo Henrique
Vaz na disciplina
Fundamentos Sociológicos
da Educação.
Faculdade de Letras
Rio de Janeiro, 2020.1
A grande luta do século XX foi a universalização do ensino escolar, visando a expansão
dos sistemas escolares, a ampliação dos anos da escolarização obrigatória e a garantia
do acesso de todas as crianças e jovens a uma educação de qualidade. Apesar dos
grandes avanços alcançados nesta área, essas metas ainda não foram plenamente
conquistadas.
Neste contexto, particularmente a partir dos anos 90, a palavra inclusão vem
se afirmando cada vez com maior força no âmbito principalmente das
políticas públicas de caráter social. Políticas inclusivas, inclusão digital,
escola inclusiva etc. As expressões se multiplicam. Ao mesmo tempo, as
palavras justiça social, dignidade e igualdade, palavras-força, que em décadas
anteriores foram fortemente mobilizadoras de muitas buscas e propostas no
âmbito socioeducativo, são minimizadas nas discussões e perdem vigor no
espaço simbólico. (CANDAU, 2012, p.226).
Candau (2008, p.22) vai dizer que: “Nas sociedades em que vivemos, os processos de
hibridização cultural são intensos e mobilizadores da construção de identidades abertas
em construção permanente, o que supõe que as culturas não são puras.” Sendo assim, a
perspectiva intercultural tem como objetivo romper com a ideia de que as identidades
culturais possuem uma essência intrínseca a elas, mas que estão em contínuo processo
de elaboração, construção e reconstrução.
Para isso, precisamos primeiramente ter consciência das relações de poder que
permeiam o ambiente escolar e, consequentemente, o processo de ensino. Por conta
dessa ênfase do aspecto cultural na educação, as lutas pelo poder estão se tornando cada
vez mais simbólicas e discursivas. Em segundo lugar, é preciso desnaturalizar
preconceitos e discriminações que permeiam o contexto escolar que dificultam uma
abordagem mais ampla e intercultural na educação.
Desta forma, cabe a nós como educadores, capacitar o aluno a compreender o papel que
ele tem na mudança da sua realidade e da sociedade em que ele está inserido, bem como
ajudá-lo a adquirir conhecimentos e habilidades necessárias para que isso aconteça,
formando, assim, sujeitos críticos e autônomos.
Sendo assim, a visão do conhecimento por nós adotada, bem como o reconhecimento de
que devemos trabalhar com conhecimentos significativos e relevantes terão certamente
efeitos no processo de elaboração do currículo escolar e consequentemente na
elaboração do Projeto Político-Pedagógico da escola. Além disso, faz-se necessário
promover uma educação que visa o reconhecimento do “outro”, porém esse olhar para o
outro não deve partir da nossa própria perspectiva, mas deve partir da perspectiva do
outro.
Candau (2014, apud. Candau, 2018, p.5) vai dizer que precisamos ver as diferenças não
como problemas a serem resolvidos, mas como riqueza, ou ainda, utilizando a
terminologia utilizada pela educadora argentina Emília Ferreiro (2001, apud. Candau,
2018, p.7) como vantagem pedagógica.
A Educação Intercultural parte da afirmação da diferença como riqueza.
Promove processos sistemáticos de diálogos entre diversos sujeitos
individuais e coletivos-, saberes e práticas na perspectiva da afirmação da
justiça - social, econômica, cognitiva e cultural -, assim como da construção
de relações igualitárias entre grupos socioculturais e da democratização da
sociedade, através de políticas que articulam direitos de igualdade e da
diferença (CANDAU, 2014, apud. CANDAU, 2018, p.5).
Em muitas escolas ainda prevalece o que Stoer e Cortesão (1999; apud. Moreira e
Candau, 2008) vão chamar de Daltonismo Cultural. Segundo essa perspectiva, o mundo
é um arco-íris de culturas. Porém, da mesma forma que o daltônico não consegue
perceber as cores, existem pessoas que não conseguem perceber a pluralidade de
culturas. Desta forma, dada as diferentes realidades que se apresentam no âmbito
escolar, temos que levar em consideração o contexto em que o processo educativo se dá,
contudo, para se tornarem conhecimentos escolares, os diversos saberes passam por um
processo de descontextualização e, a seguir, por um processo de recontextualização.
Esse processo de descontextualização/recontextualização dos saberes dá a impressão de
que o conhecimento escolar se constitui em algo “pronto”, “acabado”, não passível à
críticas e debates. O processo de produção do conhecimento, com todos os seus
interesses e conflitos, tende neste processo de descontextualização a ser omitido e, por
conseguinte, acabam perdendo a conexão com o mundo social em que os mesmos são
construídos. Desta forma, tornar o conteúdo significativo para o aluno requer respostas
às necessidades e interesses deste.
Sendo assim, a ciência é uma construção cultural que nos permite interpretar o mundo.
E como uma perspectiva cultural, ela pode vir de múltiplas realidades culturais. Sendo
assim, a sala de aula deve se apresentar como um lugar de intercâmbio cultural e não de
exclusão.
Conclusão
A prática pedagógica deve ser orientada para a atividade intelectual dos alunos por meio
da problematização, análise e confronto da experiência social desses sujeitos com os
conteúdos escolares. Segundo Farias (2009, p.120), “a avaliação, portanto, precisa ser
abrangente, tomando o indivíduo como um todo. Seus critérios não devem contemplar
só a habilidade de reter conhecimentos, mas de processá-lo, construí-lo, utilizá-lo em
situações reais de vida”. Só assim, poderemos construir experiências e espaços
avaliativos democráticos.
Nós como educadores devemos considerar a ideia de inclusão partindo de uma ideia
dialética de que há diferenças e de que há igualdades, não apenas as relações
identitárias, tão pouco apenas, as relações de diferença, pois a inclusão se dá tanto na
coletividade quanto na individualidade. Sendo assim, a educação intercultural favorece
processos de “empoderamento” que contribuem para a reconstrução da dinâmica
educacional.
Neste sentido, a vida escolar deve ser compreendida não como um sistema
unitário, monolítico e inflexível de regras e relações, mas como uma arena na
que surgem e acontecem lutas, afirmações, contestações e resistências. Esse
espaço também pode ser visto como uma pluralidade de discursos que se
cruzam, estabelecendo interrelações, confluências, tensões e conflitos. Como
um terreno móvel onde a cultura interna da escola se confronta, hibridiza e
dialoga com a cultura social, da rua, da comunidade, da cidade, dos meios de
comunicação e informação, onde educadores/as e educandos/as ratificam,
negociam, rejeitam e reconstroem as formas como as experiências e práticas
educacionais são nomeadas e concretizadas. (CANDAU, 2012, p. 233)
Por último, devemos também olhar o processo de inclusão escolar não apenas como a
ação da matrícula, mas como uma ação plena que vai levar a potencialização desse
indivíduo e que ele possa se tornar uma pessoa plena dentro da sociedade. Essa
potencialização deve se dar por meio da qualificação, através do reconhecimento das
habilidades desses indivíduos, por meio da socialização, levando os alunos a
interagirem com a sua cultura e com seu meio e, finalmente, por meio da subjetivação,
através da construção de uma relação dialética com o aluno de forma que o mesmo se
transforme num sujeito questionador, político, pleno, em condições de exercer por conta
própria sua cidadania.
BIBLIOGRAFIA