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’ Cartas Patrimoniais 34 EDICAO - REVISTA E AUMENTADA ISABELLE CURY ORGANIZADORA do patriménio Normas de Quito Reunido sobre conservagao e utilizagdo de monumentos e sitios de interesse histérico e artistico OEA - ORGANIZACAO DOS ESTADOS AMERICANOS QUITO, NOVENBRO/DEZEMBRO DE 1967 INFORME FINAL 1. Introdugao ‘A inclusto do problema representado pela necessdria conserva 40 ¢ utilizagio do patriménio monumental na relacao de esforgos multinacionais que se comprometem a realizar os governos da ‘América resulta alentador num duplo sentido. Primeiramente, por que com isso os chefes de Estado deixam reconhecida, de maneira expressa, a existencia de uma situagio de urgéncia que reclama a cooperagio interamericana; e em segundo porque, sendo raza0 fun- damental da Reuniao de Punta del Leste o propésito comum de dar tum novo impulso ao desenvolvimento do continente, estd-se acei- tando implicitamente que esses bens do patriménio cultural repre- uscetiveis de constituir-se em 106 maioria dos pafses americanos, como conseqiiéncia do estado d abandono e da falta de defesa em que se encontra sua riqueza m. : numental e artfstica, demanda a adogao de medidas de emer aes a nivel nacional quanto internacional, mas sua elon a tica dependerd, em tiltimo caso, de sua adequada formulagao a tro de um plano sistematico de revalorizagao dos bens patrimoniai: em fungao do desenvolvimento econdmico-social. ; aie As recomendagées do presente informe séo dirigidas nesse sent do ese limitam, especificamente, & adequada conservagio ¢ vine sa as monumentos ¢ sitios de interesse arqueoldgico, histérico e artistic, de conformidade com o que dispbe 0 Capitulo V, Esfor Multinacionais, letra d, da Declarac&o dos Presidentes Ree 4 B preciso reconhecer, entretanto, que, dada a intima relacgao = tte 0 continente arquiteténico ¢ 0 contetido artistico, ae e Btescindivel estender a devida protegio a outros ie mévei: a objetos valiosos do patriménio cultural, para evitar sua te deteriorago e subtragio impune e conseguir que contribuam obtengao dos fins pretendidos, mediante sua adequada exibiga eo acordo com a moderna técnica museogréfica, a II. Consideragées gerais 1. A iidéia do espaco ¢ insepardvel do conceito de monument. €, portanto, a tutela do Estado pode e deve estendet-se 20 contex 4 urbano, ao ambiente natural que o emolduta e aos bens ail que encerra. Mas pode existir uma zona, recinto ou sftio de carate monumental, sem que nenhum dos elementos que o constitui, i 4 ladamente considerados, merega essa designacao. a 2. Os lugares pitorescos e outras belezas naturais, objeto de defesa e protegio por parte do Estado, nao sao propriamente monu- ments or A marca histérica ou artistica do homem é essen- cial para imprimir a uma paisagem ou a um recinto determinado essa categoria especifica, 3. Qualquer que seja o valor intrfnseco de cunstincias que concorram para co a Pepi het oe ee ein eee ee ae nificagio histérica ou artistica, ele nao se constituird em um monu- mento a ndo ser que haja uma expressa declaracio do Estado nesse sentido. A declara¢ao de monumento nacional implica a sua identi- ficacéo e registro oficiais. A partir dese momento o bem em ques- tio estard submetido ao regime de excegio assinalado pela lei. 4. ‘Todo monumento nacional est4 implicitamente destinado a cumprir uma fungao social. Cabe a0 Estado fazer com que ela prevalega e determinar, nos diferentes casos, a medida em que a re- ferida funcao social é compativel com a propriedade privada e com o interesse dos particulares. TIL. O patriménio monumental e 0 momento americano 1. fe uma tealidade evidente que a América, ¢ em especial a ‘Amética Ibérica, constitui uma regido extraordinariamente rica em re- cursos monumentais. Aos grandiosos testemunhos das culturas pré-co- lombianas se agregam as expresses monumentais, s0 perfodo colonial, numa exuberante vatie- arquitetdnicas, ar- tisticas e histéricas do exten: dade de formas. Um acento proprio, produto do fendmeno da acultu- para imprimir aos estilos importados um sentido ge- ragio, contribui anifestag6es locais que os carac- nuinamente americano de multiplas m: e distingue. Ruinas arqueolégicas de capital importincia, nem teriza 1 exploradas, sealternam com surpreenden- sempre acessiveis ou de tod: tes sobrevivencias do passado; complexos urban: de se tornarem centros de maior interesse € atracio. os povoados inteiros sio suscetiveis 2, Ecerto também que grande parte desse patriménio se arrui- nou irremediavelmente no curso das tiltimas décadas ou se acha hoje Miltiplos facores tém contribufdo e em perigo iminente de perder-se. as reservas de bens culturais continuam contribuindo para diminuir da maiotia dos paises da América Ibérica, mas € necessério reconhecer destruigio progressivamente acelerada que a razio fundamental da tica oficial capaz desse potencial de riqueza reside na falta de uma poll de imprimir eficdcia pratica ds medidas protecionistas vigentes ¢ de romover a revalorizagio do patriménio monumental em fungio do pram 107 108 By ; Nos momentos criticos em que a América se encontra com- prometida em um grande empenho progressista, que implica aexplora- So exaustiva de seus recursos naturais ¢ a transformacio progressiva das suas estruturas econdmico-sociais, os problemas que se relacionam com a defesa, conservagio e utilizagio dos monumentos, sitios e conjuntos monumentais adquirem excepcional importincia e atualidade, 4, Todo proceso de acelerado desenvolvimento traz consigo a maultiplicagso de obras de infra-estrutura ¢ a ocupacao de ne dreas por instalagdes industriais e construgées imobilidtias que ndo apenas alteram, mas deformam por completo a paisagem, apagando as marcas ¢ expresses do passado, testemunhos de uma tradica hist6rica de inestimavel valor, ia 5. Grande niimero de cidades ibero-americanas que entesou- ravam, num passado ainda préximo, um rico patriménio monu- mental, evidéncia de sua grandeza passada — templos, pragas Peal e vielas, quis, em conjunto, acentuavam sua personalidade e ee ~ tom softido tais mucilagées e degradagdes no seu perfil arquitetd- nico que se tornam irreconheciveis. Tudo isso em nome de um mal entendido e pior administrado progresso urbano, i 6. Niio € exagerado afirmar que © potencial de riqueza des- truida com esses atos irresponsdveis de vandalismo urban(stico em ees cidades do continente excede em muito os beneficios alvindes para a economia nacional através das instalagées e melho- rias de infra-estrutura com que se pretendem justificar. IV.A solugao conciliatéria 1. Anecessidade de conciliar as exigéncias do progresso urba- no com a salvaguarda dos valores ambientais jé é hoje em dia uma norma inviolavel na formulagao dos planos urbanos, em n{vel tanto ae como nacional. Nesse sentido, todo planejamento fisico ida torial deverd realizar-se de forma que permita integrar ao conjui urbanjstico os centros ou complexos hist6ricos de intevesse sali 2. Adefesae valorizagio do patrimdnie monui nh Seiten ene eke amento urbano cientificamente desenvolvido. Longe disso, de- planej; mento. Confirmando este critério, trans- ve constituir 0 seu comple: creve-se o seguinte pargrafo do Informe Weiss, apresentado & Comisséo Cultural e Cientffica do Conselho da Europa (1963): ‘EB possivel equipar um pais sem desfiguré-los preparar e servir a0 futu- ro sem destruit o pasado. A elevacao do nivel de vida nao deve limitar-se & realizacdo de um bem-estar material progressivo; deve ser associado a criago de um quadro de vida digno do homem”. 3, A continuidade do horizonte histérico e cultural da América, gravemente comprometido pela entronizagio de um pro- cesso andrquico de modernizacio, exige 2 adogéo de medidas de defesa, recuperacao e revalorizagao do patriménio monumental da regido ¢ a formulagao de planos nacionais ¢ multinacionais a curto e a longo prazo. 4, E preciso admitir que os organismos internacionais espe- cializados tém reconhecido a dimensio do problema ¢ vém traba- Ihando com afinco, nos iltimos anos, para conseguir solugdes satis- fatdrias, Esta a disposigéo da América a experiéncia acumulada. 5. Apartir da Carta de Atenas, de 1932, muitos foram os con- pressos internacionais que se sucederam até consolidar-se o atual critério dominance. Entre os que mais se aprofundaram no proble- ina, contribuindo com recomendagées concretas, figuram o da Unio Internacional de Arquitetos (Moscou, 1958); 0 Congreso da Federagao Internacional da Habitagio e Urbanismo (Santiago de Compostela, 1961), que teve como tema o problema dos conjuntos histdricos; 0 Congresso de Veneza (1964); e 0 mais recente, 0 do ICOMOS, em Ciceres (1967), que trazem a esse tema de tanto interesse americano um ponto de vista eminentemente pratico. V, Valorizagao econdmica dos monumentos 1, Partimos do pressuposto de que os monumentos de inte- fesse arqueoldgico, histdrico e artfstico constituem também recur- sou econdmicos, da mesma forma que as riquezas naturais do pals, eqdlenrement ’ mw suit preservagto ¢ ade- Bess Sk nt seclic 109 110 quada utilizagao nao s6 guardam relagéo com os planos de desen- volvimento, mas fazem ou devem fazer parte deles. 2. Na mais ampla esfera das relagdes interamericanas, reitera- das recomendagGes e resolucées de diferentes organismos do siste- ma levaram progressivamente o problema ao mais alto nivel de con- sideragio: a Reunifo dos Chefes de Estado (Punta del Este, 1967). 3. Eevidente que a inclusio do problema relativo 4 adequada preservacio e utilizacao do patriménio monumental na citada reu- nig corresponde as mesmas razdes fundamentais que levaram os presidentes da América a convocé-la: a necessidade de dar 4 Alianga para o Progresso um novo € mais vigoroso impulso e de oferecer, através da cooperagio continental, a ajuda necessdria a0 desenvolvi- mento econdmico dos pafses membros da OEA. 4, Isso explica o emprego do termo “utilizagio”, que figura no ponto 2, Capftulo V, da Declaragao dos Presidentes: “Esforgos Multinacionais... 2. encomendar aos organismos competentes da OBA que: ... d) _ estendam a cooperagao interamericana 4 conservagio ¢ uti- lizagao dos monumentos arqueolégicos, histéricos e artisticos.” 5 Mais concretamente, na resolucio n* 2 da segunda reuniao extraordindria do Conselho Interamericano Cultural, convocada com a finalidade unica de dar cumprimento ao disposto na Declaragéo dos Presidentes, dentro da area de competéncia do conselho, diz-se: “.. A extensio da assisténcia técnica ¢ a ajuda financeira ao pax triménio cultural dos Estados-membros seré cumprida em funcéo de seu desenvolvimento econdmico e turfstico, 6. Em suma, trata-se de mobilizar os esforcos nacionais no sentido de procurar 0 melhor aproveitamento dos recursos monu- mentais de que se disponha, como meio indireto de favorecer o de« senvolvimento econdmico do pals. Isso implica uma tarefa prévia de planejamento em nivel nacional, ou seja, a avaliagao dos recursos disponiveis ea formulagio de projetos espectficos dentro de um pla- no de ordenagio geral. 7. Acxtenstio da cooperagio interamerie do desenyolyin ee) - plantaglio de uma conserugio de especial interesse torna-se compro~ cional nao é por si sé suficiente para empreender uma aae que, na maioria dos casos, excede suas atuais possibilidades. ff unicamente através da ago multinacional que muitos Estados-membros em pro- cesso de desenvolvimento podem prover-se dos servigos técnicos dos recursos financeiros indispensdveis. VI. A valorizagao do patriménio cultural 1, O termo “valorizacao”, que tende a tornar-se cada dia mais freqiiente entre os especialistas, adquire no momento Ben uma especial aplicagio. Se algo caracteriza este momento é, precisamen- te, a urgente necessidade de utilizar ao maximo ° opal de seus recursos ¢ é evidente que entre eles figura o patriménio monumen- das nagées. C 2s ae um bem histérico ou art{stico equivale a habilita- lo com as condigées objetivas e ambientais que, sem desvirtuar sua natureza, ressaltem suas caracteristicas ¢ permitam seu dtimo apro- veitamento. Deve-se entender que a valorizagao se realiza my fun 40 de um fim transcendente, que, no caso da América Dae seria o de contribuir para o desenvolvimento econdmico da regido, 3. Em outras palavras, trata-se de incorporar a um potencial econémico um valor atual; de pér em produtividade uma riqueza inexplorada, mediante um processo de revalorizacao que, longe de diminuir sua significagéo puramente hist6rica ou artistica, a ensi- quece, passando-a do dominio exclusivo de minorias eruditas a0 conhecimento ¢ fruigao de maiorias populares. 4, Em sintese, a valorizagio do patim6nio monumental ¢ ar- t{stico implica uma agao sistematica, eminentemente técnica, diri- widda no sentido de utilizar todos ¢ cada um desses bens conforme a sua natureza, destacando e exaltando suas caracteristicas ¢ pes até colocd-los em condigées de cumprir plenamente a nova fungaoa que estilo destinados. i a 5, fi preciso destacar que, em alguma medida, a Area de im- sa un r rent, © que equi iL 1 i2, vale a dizer que, de certa maneira, passaré a ser parte dele quando for valorizado. As normas protecionistas e os planos de revaloriza- Ao tém que estender-se, portanto, a todo o Ambito do monumento. 6. De outra parte, a valorizagio de um monumento exerce uma benefica ago reflexa sobre 0 perimetro urbano em que se en- contra implantado e ainda transborda dessa area imediata, esten- dendo seus efeitos a zonas mais distantes. Esse incremento de valor real de um bem por ago reflexa constitui uma forma de mais-valia que hé de se levar em consideragao. 7. Bevidente que, na medida em que um monumento atrai a atengao do visitante, aumentard a demanda de comerciantes interes- sados em instalar estabelecimentos apropriados 4 sua sombra proteto- ra. Essa € outra conseqiiéncia previsivel da valorizagao ¢ implica a prévia adosio de medidas reguladoras que, ao mesmo tempo em que facilitem e estimulem a iniciativa privada, impecam a desnaturaliza- fo do lugar e a perda das finalidades primordiais que se perseguem. 8. Do exposto se depreende que a diversidade de monumen- tos e edificagdes de marcado interesse histérico e artistico, situados dentro do nticleo de valor ambiental, se relacionam entre si ¢ exer- cem um efeito multiplicador sobre o resto da drea, que ficaria reva- lorizada em conjunto como conseqiiéncia de um plano de valoriza- 80 ¢ de saneamento de suas principais construgées, VII. Os monumentos em fungao do turismo 1. Os valores propriamente culturais nfo se desnaturalizam nem s¢ comprometem ao vincular-se aos interesses turisticos; longe disso: a maior atracao exercida pelos monumentos ¢ a fluéncia cres~ cente de visitantes contribuem para afirmar a consciéncia de sua importincia ¢ significacéo nacionais. Um monumento adequada- mente restaurado, um conjunto urbano valorizado, constituem nao sé uma ligao viva de histéria como uma legitima razio de dignidade nacional. No mais amplo marco das relagdes internacionais, esses testemunhos do passado estimulam ox sentimentay lasarapresne tém rivalidade politica. Tudo quanto contribuir para exaltar os valo- res do espirito, mesmo que a intengio original nada tenha a ver com acultura, h4 de derivar em seu beneficio. A Europa deve ao turismo, direta ou indiretamente, a salvaguarda de uma grande parte de seu patriménio cultural, condenado A completa ¢ irremedidvel destrui- 40, ea sensibilidade contemporanea, mais visual que literéria, tem oportunidade de se enriquecer com a contemplagio de novos exem- plos da civilizagao ocidental, resgatados tecnicamente gragas ao po- deroso estimulo turistico. 2. Se os bens do patriménio cultural desempenham papel tio importante na promogao do turismo, ¢ légico que os investimentos exigidos para sua devida restauragio e habilitago espectfica devem ser feitos simultaneamente aos que reclama o equipamento turfstico ¢, mais propriamente, integrar-se num s6 plano econdmico de de- senyolvimento regional. 3. AConferéncia das Nacées Unidas sobre Viagens Internacionais e Turismo (Roma, 1963) ndo somente recomendou que se desse alta prioridade aos investimentos em turismo dentro dos planos nacionais, como fez ressaltar que, “do ponto de vista turfstico, o patriménio cultu- ral, histérico e natural das nagGes, constitui um valor substancialmente importante”; e que, em conseqiiéncia, seria urgente “a adogio de medi- das adequadas ditigidas a assegurar a conservagio € protesao desse pa- triménio” (Informe Final, Doc. 4). Por sua vez, a Conferéncia sobre Comércio ¢ Desenvolvimento das Nagées Unidas (1964) recomendou as agéncias ¢ organismos de financiamento, tanto governamentais co- mo ptivados, “oferecer assisténcia, na forma mais apropriada, para obras de conservagio, restauragao ¢ utilizagao vantajosa de sitios arqueolégi- cos, histéricos e de beleza natural” (Resolugao, Anexo A, IV. 24). Ultimamente, o Conselho Econémico e Social do citado organismo mundial, depois de recomendar & Assemblia Geral designar 0 ano de 1967 como “Ano do Turismo Internacional”, resolveu solicitar aos or- ganismos das Nagées Unidas e as agéncias especializadas que dessem “parecer favordvel ds solicitagbes cle assisténcia técnica ¢ financeira dos bore em see aa aa amelhoria dos seus recur 113 114 4, Em relacao a esse tema, que ver sendo objeto de especial atengao por parte da Secretaria Geral da UNESCO, empreendeu-se um exaustivo estudo, com a colaboracao de um organismo nio-go- vernamental de grande prestigio, a Unigo Internacional de Organizag6es Oficiais de Turismo. Esse estudo confirma os critérios expostos e, depois de analisar as razes culturais, educativas e sociais que justificam 0 uso da riqueza monumental em fungao do turismo, insiste nos beneficios econdmicos que derivam dessa politica para as areas territoriais correspondentes. Dois pontos de particular interesse merecem ser destacados: a) a afluéncia turistica determinada pela re- valorizagao adequada de um monumento assegura a rapida recupera- 40 do capital investido nesse fim; b) a atividade turistica que se origi- na da adequada apresentacao de um monumento e que, abandonada, determinaria sua extingo, traz consigo uma profunda transformagéo econémica da regio em que esse monumento se acha inserido. 5. Dentro do sistema interamericano, além das numerosas re- comendagdes ¢ acordos que enfatizam a importancia a ser concedi- da, tanto em nfvel nacional como regional, ao problema do abando- no em que se encontra boa parte do patriménio cultural dos paises do continente, recentes reunides especializadas tém abordado o te- ma especifico da fung4o que os monumentos de interesse artistico ¢ histérico representam no desenvolvimento da industria turfstica. A Comissao Técnica de Fomento do Turismo, na sua quarta reuniao (julho-agosto de 1967), resolveu solidarizar-se com as conclusdes adotadas pela correspondente Comissio de Equipamento Turistico, entre as quais figuram as seguintes: “Que 0s monumentos ¢ outros bens de natureza arqueolégica, histérica e artfstica podem e devem ser devidamente preservados utilizados em fungio do desenvolvimento, como principais incenti- vos A afluéncia turistica.” “Que, nos paises de grande riqueza patrimonial de bens de inte« ressc arqueolégico, histérico ¢ artistico, esse patrimdnio constitui um fator decisivo em seu equipamento turistico ¢, em eonseqiléncia, deve set levado em conta na formalizagio dos planos e1 o Que of interesses propriame eee conjugam no que diz respeito & devida preservagio ¢ utilizacéo do patti- ménio monumental ¢ artistico dos povos da América, pelo que se faz aconselhavel que os organismos e unidades técnicas de uma ¢ ourra érea daatividade interamericana trabalhem nesse sentido de forma coordenada.” 6. Do ponto de vista exclusivamente turistico, os monumentos so parte do equipamento de que se disp6e para operar essa indiistria numa regio determinada, mas, 4 medida em que o menumento possa servit ao uso a que se lhe destina, jf nao dependeré apenas de seu valor intrinseco, quer dizer, da sua significagao ou interesse arqueolégico, his- tético ou artfstico, mas também das circunstdncias adjetivas que con- corram para cle ¢ facilitem sua adequada wilizagao. Daf queas obras de restauracéo nem sempre sejam suficientes, por si s6, para que um mo- numento possa ser explorado ¢ passe a fazer parte do equipamento tu- tfstico de uma regio. Podem ser necessérias outras obras de infra-estru- tura, tais como um caminho que facilite o acesso ao monumento ou um albergue que aloje os visitantes ao término de uma jornada de via- gem. Tudo isso, mantido o carter ambiental da regio. 7. As vantagens econdmicas ¢ sociais do turismo monumental figuram nas mais modernas estatfsticas, especialmente nas dos pai- ses europeus, que devem sua presente prosperidade ao turismo in- ternacional ¢ que contam, entre suas principais fontes de riqueza, com a reserva de bens culturais. VIII. O interesse social e a agio civica 1. E presumivel que os primeiros esforgos dirigidos & revaloriza- go do patriménio monumental encontrem uma ampla zona de resis- téncia na érbita dos interesses privados. Anos de inctiria oficial e um impulsivo afi de renovagio, que caracteriza as nacées em processo de desenvolvimento, contribuem para difundir 0 menosprezo por todas as manifestagdes do passado que no se ajustam ao molde ideal de um moderno estilo de vida. Carentes da suficiente formagio cfyica para julgaro interesse social como uma expresso decantada do prdprio inte- dual, incapazes de apreciar o que mais convém a comunida: ee uma populagao contagiada pela “febre do progresso” no podem medir as conseqiiéncias dos atos de vandalismo urbanistico que realizam ale- gremente, com a indiferenga ou a cumplicidade das autoridades locais. 2. Do seio de cada comunidade pode e deve surgir a voz de alarme ¢ a aco vigilante e preventiva. O estimulo a agrupamentos clvicos de defesa do patriménio, qualquer que seja sua denominagio ¢ composi¢io, tem dado excelentes resultados, especialmente em loca- lidades que nao dispéem ainda de diretrizes urban{sticas onde a ago protetora em nivel nacional é débil ou nem sempre eficaz. 3. Nada pode contribuir melhor para a tomada de conscién- cia desejada do que a contemplagao do préprio exemplo. Observando-se os resultados de certas obras de restauragao e de re- vitalizagao de edificios, pragas ¢ sitios, costuma ocorrer uma reagio favordvel de cidadania que paralisa a agéo destrutiva e permite a consecugio de objetivos mais ambiciosos. 4, Em qualquer caso, a colaboragio espontanea e miiltipla dos particulares nos planos de valorizagio do patriménio histérico e artis- tico ¢ absolutamente imprescindivel, muito especialmente nas peque- nas comunidades. Daj que, na preparacio desses planos, deve-se levar em conta a conveniéncia de um programa paralelo de educagio clvi- ca, desenvolvido sistematica ¢ simultaneamente a execugao do projeto. IX. Os instrumentos da valorizagéo 1. A adequada utilizagao dos monumentos de principal inte- resse hist6rico e artistico implica primeiramente a coordenagao de iniciativas e esforgos de cardter cultural ¢ econdmico-turfsticos, Na medida em que esses interesses coincidentes se unam e se identifi- quem, os resultados perseguidos serio mais satisfatérios, 2. Nao pode haver essa necessiria coordenagio se nfo existem no pais em questao as condigées legais ¢ os instrumentos técnicos que a tornem possfvel. 3. Do ponto de vista cultural, sio requisitos prévios a qualquer propdsito oficial dirigido para revalorizar seu paulindnie monuimen 4, A integracdo dos projetos culturais e econémicos deve pro- duzir-se em nivel nacional como medida prévia a toda gestio de assisténcia ou cooperagao exterior. Essa integragao, tanto em termos técnicos como financeiros, é 0 complemento do esforgo nacional. ‘Aos governos dos diferentes Estados-membros cabe a iniciativas aos paises corresponde a tarefa prévia de formular seus projetos ¢ inte- gréclos com os planos gerais para o desenvolvimento, As medidas ¢ procedimentos que se seguem destinam-se a essa finalidade. RECOMENDACOES (EM NIVEL NACIONAL) 1. Os projetos de valorizacio do patriménio monumental fa- zem parte dos planos de desenvolvimento nacional e, conseqtiente- mente, devem a eles se integrar. Os investimentos requeridos para a execugio dos referidos projetos devem ser feitos simultaneamente com os que sao necessdrios para o equipamento turfstico da zona ou repido objeto de revalorizagio. 2. Compete ao governo dotar o pats das condigées que tornem posstvel a formulacio e execugo de projetos especificos de valorizacio. 3. Sdo requisitos indispenséveis aos efeitos citados, os seguintes: a) reconhecimento de uma excepcional prioridade dos proje- tos de valorizacéo da riqueza monumental, dentro do Plano Nacional para o Desenvolvimento; b) _ legislagdo adequada ou, em sua falta, outras disposigdes go- vernamentais que facilitem o projeto de valorizagao, fazendo pre- valecer, em todas as circunstancias, o interesse publico; ©) diregdo coordenada do projeto através de uma instituigéo idénea, capaz de centralizar sua execugao em todas as etapas; d) designagao de uma equipe técnica que possa contar com assisténcia exterior para elaboragio dos projetos especificos ou durante sua execugao. 4, A yalorizagao da riqueza monumental s6 pode ser levada a efeito dentro de um quadro de agio planificada, quer dizer, na con- _formidade com um plano diretor de alcance nacional ou regional, nprescindivel a Inispsio dos picles 117 ug cidade ou na regiao de que se trate. A falta desses planos, proceder- sed no sentido de estabelecé-los de forma adequada. 5. Anecessria coordenagao dos interesses propriamente cultu- rais relativos aos monumentos ou conjuntos ambientais, ¢ dos de ca- réter turfstico, deverd produzir-se no Amago da diego coordenada do projeto a que se refere a letta cdo item 3, como medida prévia de toda a gestao relativa a assisténcia técnica ou A ajuda financeira externa. 6. A cooperagao dos interesses privados e 0 respaldo da opi- nigo publica sao indispensdveis para a realizagao de qualquer proje- to de valorizagio. Nesse sentido, deve-se ter presente, durante a sua formulagio, o desenvolvimento de uma campanha cfvica que possi- bilite a formagéo de uma consciéncia ptiblica favordvel, RECOMENDACOES (EM NIVEL INTERAMERICANO) 1. Reiterar a conveniéncia de que os paises da América ado« tem a Carta de Veneza como norma mundial em matéria de preser- vagio de sitios e monumentos histéricos e artisticos, sem prejuzo de adotarem outros compromissos ¢ acordos que se tornem reco mendaveis dentro do sistema interamericano. 2. Estender o conceito generalizado de monumento as mani- festagées prdprias da cultura dos séculos XIX ¢ XX. 3. Vincular a necessdria revalorizacao do pattiménio monumen+ tal e artfstico das nagdes da América a outros paises extracontinentais ¢, de maneira muito especial, 4 Espanha ¢ a Portugal, dada a participagao_ histérica de ambos na formagao desse patriménio e a comunhio do valores culturais que os mantém unidos aos povos deste continente. 4, Recomendar & Organizagao dos Estados Americanos qué estenda a coopera¢ao que se propés prestar a revalorizacao dos mo numentos de interesse arqueoldgico, histérico e artistico a outro bens do patriménio cultural, constitufdos do acervo de museus: arquivos, bem como do acervo socioldgico do folclore nacional, 5. A restauragao termina onde comega a hipdtese, tornando- por isso, absolutamente necessdrio em todo ty da América, fortalezas e grande mimero de edificios, juntamente com copiosissima documentacio oficial; e dado que a catalogacao desses documentos imprescindiveis foi interrompida em data anterior & da maioria das construgées coloniais — o que dificulta extremamente sua utilizagZo — torna-se altamente necessdrio que a OEA coopere com a Espanha no trabalho de atualizar e facilitar as investigagées nos arqui- vos espanhéis e, especialmente, nos das Indias, em Sevilha. 6. Recomendar que seja redigido um novo documento hemis- férico que substitua o ‘Tratado Interamericano sobre a Protegao de Méveis de Valor Histérico (1935), capaz de proteger de maneira mais ampla c efetiva essa parte importantissima do patriménio cul- tural do continente dos multiplos riscos que a ameagam. 7. Enquanto nao se ultima o estabelecido no item anterior, recomenda-se que o Conselho Interamericano Cultural providen- cie, na sua préxima reuniao, obter dos Estados-membros a adogio de medidas de emergéncia capazes de eliminar os riscos do comér- cio ilfcito de pegas do patriménio cultural e que se ative a sua devo- lugdo ao pais de origem, uma vez provada sua exportacao clandesti- na ou aquisigo ilegal. 8. Tendo em vista que a escassez de recursos humanos consti- tui um grave inconveniente para a realizagao de planos de valoriza- go, torna-se recomendavel tomar as providéncias adequadas para a ctiagZo de um centro ou instituto especializado em matéria de res- quragdo, de caréter interamericano. Da mesma forma, torna-se re- comendavel satisfazer as necessidades em matéria de restauragao de bens méveis, mediante o fortalecimento dos Srgaos existentes e a criagao de outros novos. 9, Sem prejutzo do estabelecido anteriormente e a fim de satis- fazer imediatamente tao imperiosas necessidades, recomenda-se & Secretaria Geral da OEA utilizar as facilidades que oferecem seus atuais programas de Bolsas ¢ Habilicagao Extracontinental ¢, bem assim, celebrar com o Instituto de Cultura Hispanica, do i téenica da ORA-Espanha ¢ com o Centro Regional pie Estudos para a aiarrete e Restauragiio de amparado pelo acor- 119 120 10. Toda vez que se torne necessdrio o intercimbio de expe- rigncias sobre os problemas préprios da América, bem como man- ter-se uma adequada unidade de critérios relativos 4 matéria, reco- menda-se reconhecer a Sociedade de Arquitetos Especializados em Restauragao de Monumentos, com sede proviséria no Instituto de Cultura Hispanica, Madri, e proporcionar sua instalagao definitiva num dos Estados-membros. NEDIDAS LEGATS 1. E necessdrio atualizar a legislagio de protegao vigente nos Estados americanos, a fim de tornar eficaz sua aplicagao aos efeitos pretendidos. 2, Bnecessario revisar as disposigées regulamentares locais que se aplicam & matéria de publicidade, com o objetivo de controlar toda forma publicitéria que tenda a alterar as caracteristicas am- bientais das zonas urbanas de interesse histérico. 3. Para os efeitos da legislagio de protegio, o espago urbano ocupado pelos nticleos ou conjuntos monumentais e de interesse ambiental deve limitar-se da seguinte forma: a) zona de protecao rigorosa, que corresponderd a de maior densidade monumental ou de ambiente; b) zona de protegio ou respeito, com maior tolerancia; c) zona de protegao da paisagem urbana, a fim de procurar. integeé-la com a natureza circundante. 4, Ao atualizar a legislagio vigente, os pafses deverio ter em conta o maior valor obtido por bens iméveis incluidos na zona de valorizagio, assim como, até certo ponto, nas lim{trofes. Ds lidade de estimular a iniciativa privada, mediante a implantagio de Da mesma forma, deve-se levar em consideracao a possibix um regime de isengfo fiscal nos edificios restaurados com capita particular ¢ dentro dos regulamentos estabelecidos pelos drgiios com= petentes. Outros beneficios fiscais podem também ser estabelecidos como compensagio as limitagées impostas & proprledade privada por motivo de utilidade publica, 5 : MEDIDAS TECNICAS 1. Avaloriza¢ao de um monumento ou conjunto urbano de interesse ambiental é 0 resultado de um processo eminentemente técnico e, conseqiientemente, sua execugao oficial deve ser confiada diretamente a um 6rgio de cardter especializado, que centralize to- das as atividades. 2. Cada projeto de valorizacao constitui um problema especi- fico e requer uma solugio também especifica. ‘A colaboracio técnica dos peritos nas diversas disciplinas que deverao intervir na execugio de um projeto é absolutamente essencial, Da acertada coordenagio dos especialistas ira depender, em boa parte, o resultado final. 4. A priotidade dos projetos fica subordinada a estimativa dos beneficios econdmicos que derivariam de sua execugo para uma de- terminada regido. Entretanto, em tudo que for possivel, deve-se ter em conta a importancia intrinseca dos bens objeto de restauragio ou revalorizacdo € a situagéo de emergéncia em que eles se encontram. 5. Em geral, todo projeto de valorizacéo envolve problemas de cardter econémico, histérico, técnico ¢ administrativo. Os pro- 121 blemas técnicos de conservagio, restauracdo e reconstrugao variam segundo a natureza do bem cultural. Os monumentos arqueolégi- cos, por exemplo, exigem a colaboragao de especialistas na maréria. 6. A natureza e 0 alcance dos trabalhos que é preciso realizar em um monument exigem decisées prévias, produto do exaustivo exame das condicées ¢ circunstincias que nele concorrem. Decidida a forma de intervengao a que deverd ser submetido o monumento, 0 trabalhos subseqiientes deverio prosseguir com absoluto respeito go que evidencia sua substancia ou ao que apontam, indubitavel- mente, os documentos auténticos em que se baseia a restauragao. 7. Nos trabalhos de revalorizagao de zonas ambientais, torna- se necessiria a prévia definigao de seus limites e valores. 8, A yalorizagiio de uma zona histérica ambiental, ja definida avaliada, implica: ae oc determinagiio de seu uso eventual e das atividades 4 anes ; b) — estudo da magnitude dos investimentos e das etapas neces- sdrias até o término dos trabalhos de restaurag4o e conservacio, incluidas as obras de infra-estrutura e adaptagGes exigidas pelo equipamento turfstico para sua valorizagao; ©) estudo analitico do regime especial a que a zona ficard sub- metida, a fim de que as construgées existentes ¢ as futuras pos- sam ser efetivamente controladas; d) quearegulamentagio das zonas adjacentes 20 nticleo hist6- tico, deve estabelecer, além do uso da terra e densidade da res- pectiva ocupagio, a relacao volumétrica como fator determinan- te da paisagem urbana e natural; e) estudo do montante dos investimentos necessérios para 0 adequado saneamento da zona a set valorizada; f) — estudo das medidas preventivas necessdrias para a manu- tengfo permanente da zona a valorizar. 9. A limitagio dos recursos dispontveis e o necessdrio ades- tramento das equipes técnicas exigidas pelos planos de valorizagao tornam aconselh4vel a prévia formulagao de um projeto piloro no local em que melhor se conjuguem os interesses econdmicos € as facilidades técnicas. 10. A valorizagao de um nticleo urbano de interesse histérico- ambiental de extensio, que exceda as possibilidades econdmicas ime- diatas, pode e deve ser projetado em duas ou mais etapas, que se- riam executadas progressivamente, de acordo com as conveniéncias do equipamento turistico. Nao obstante, 0 projeto deve ser conce- bido em sua totalidade, sem que se interrompam ou diminuam os trabalhos de classificacao, pesquisa e inventério. Recomendagio sobre a conservacao dos bens culturais ameacados pela execucao de obras puibicas ou privadas Conferéncia Geral da UNESCO — 15? sessao PARIS - 19 DE NOVEMBRO DE 1968 A Conferéncia Geral da Organizagio das Nagées Unidas para a Educagao, a Ciéncia ¢ a Cultura, em sua 15* sessao, realizada em Paris, de 15 de outubro a 20 de novembro de 1968: Considerando que a civilizagio contemporinea e sua evolugio futura repousam nas tradigGes culturais dos povos e nas forgas cria- doras da humanidade, assim como em seu desenvolvimento social e econdmico; Considerando que os bens culturais so 0 produto e o testemunho das diferentes tradig6es € realizag6es intelectuais do passado e consti- tuem, portanto, um elemento essencial da personalidade dos povos; Considerando que ¢ indispensével preservé-los, na medida do pos- sivel e, de acordo com sua importancia histérica e artistica, valorizé-los de modo que os povos se compenetrem de sua significagio e de sua mensagem ¢, assim, fortalecam a consciéncia de sua prépria dignidades Considerando que essa preservagiio ¢ valorizagio dos bens cul- {pios da 1966, durante a 14* sessio, favorecem uma melhor compreensao = entre os povos e, conseqiientemente, servem A causa da paz; a Considerando também que o bem-estar de todos os povos de- pende, entre outras coisas, de que sua vida se desenvolva em um meio favordvel e estimulante, e que a preservacao dos bens culturais de todos os perfodos de sua histéria contribui diretamente para isso; Reconhecendo, por outro lado, o papel desempenhado pela in- dustrializagio ¢ urbanizacio a que tende a civilizacao mundial no desenvolvimento dos povos e em sua completa realizagao espiritual e nacional; Considerando, entretanto, que os monumentos, testemunhos ¢ vestigios do passado pré-histérico, proto-histérico ¢ histérico, assim como intimeras construgées recentes que tém uma importAncia ar- ustica, histérica ou cientifica, estio cada vez mais ameagados pelas obras ptiblicas ou privadas resultantes do desenvolvimento da in- : diistria e da urbanizagios = Considerando que é dever dos governos assegurar a protegio ca 124 preservacio da heranca cultural da humanidade, tanto quanto pro- ; mover o desenvolvimento social e econdmico; Considerando, portanto, que € necessdrio harmonizar a pre- servagéo do patriménio cultural com as transformagées exigidas pelo desenvolvimento social e econdmico, e que urge desenvolver os maiores esforgos para responder a essas duas exigéncias em ‘um espftito de ampla compreensio ¢ com referéncia a um planeja- mento apropriado; Considerando, igualmente, que a adequada preservagao e expo- sigdo dos bens culcurais contribuem poderosamente para o desen- volvimento social ¢ econdmico dos paises ¢ das regides que possuem esse género de tesouros da humanidade, através do estimulo ao tu- rismo nacional e internacional; Considerando, enfim, que, em matéria de preservagio de bens culturais, a garantia mais segura é constitufda pelo respeito e pela vinculagao que a prépria populagio experimenta em relagio a esses bens, e que os Estados-membros poderiam coi cer vais sentimentos ¢ Sendo-lhe apresentadas propostas relativas 4 preservacio dos bens culturais ameagados por obras ptiblicas ou privadas, questio que constitui o item 16 da ordem do dia da sessio; Apés haver decidido, em sua décima terceira sesso, que as pro- postas sobre esse assunto seriam objeto de uma regulamentagao in- ternacional através de uma recomendaco aos Estados-membros; ‘Adota, neste décimo nono dia de novembro de 1968, a presente recomendagao: ‘AConferéncia Geral recomenda aos Estados-membros que apli- quem as disposigdes seguintes, adotando as medidas legislativas ou de outra natureza, necessarias para levar a efeito nos respectivos ter- ritérios as normas e prinefpios formulados na presente recomendacio, ‘A Conferéncia Geral recomenda aos Estados-membros que le- vem a presente recomendagéo ao conhecimento das autoridades érgiios encarregados das obras piiblicas ou privadas, assim como ao dos érgios responséveis pela conservacao ¢ pela protecao dos monu- mentos histéricos, artisticos, arqueolégicos e cientificos. Recomenda que as autoridades ¢ drgios encartegados do planejamento dos pro- gramas de educacao ¢ de desenvolvimento do turismo sejam igual- mente informados. A Conferéncia Geral recomenda aos Estados-membros que lhe apresentem, nas datas e na forma a ser por ela determinada, relaté- rios que digam respeito as medidas adotadas para levar a efeito a presente recomendagio. I. Definigao 1. Paraos efeitos da presente recomendagio, a expressfio “bens culturais” se aplicara a: a) _ bensiméveis, como o05 sitios arqueoldgicos, histéricos ou cien- tfficos, edificages ou outros elementos de valor histérico, cientffi- €0, artistico ou arquitetdnico, religiosos ou seculares, inclufdos os conjuntos tradicionais, 08 bairros histéricos das zonas urbanas ¢ rurald @ o8 vestigion d Ses anteriores que possuam valor i 125 126 constituam rufnas ao nivel do solo como aos vestigios arqueolégi- cos ou histéricos descobertos sob a superficie da terra. A expresso “bens culturais” se estende também ao entorno desses bens; b) bens méveis de importancia cultural, incluidos os que exis- tem ou tenham sido encontrados dentro dos bens iméveis e os que esto enterrados e possam vir a ser descobertos em sitios arqueoldgicos ou histéricos ou em quaisquer outros lugares. 2. A expressao “bens culturais” engloba nfo sé os sitios e mo- numentos arquiteténicos, arqueoldgicos e histéricos reconhecidos ¢ protegidos por lei, mas também os vestigios do passado nfo reco- nhecidos nem protegidos, assim como os sitios e monumentos re- centes de importancia artistica ou histérica. Il. Principios gerais 3. As medidas de preservagao dos bens culturais deveriam es- tender-se a totalidade do territério do Estado e nao se limitar a de- terminados monumentos e sitios. 4. Deveriam ser mantidos inventarios atualizados de bens cul- turais importantes, protegidos por lei ou nao. No caso de nao exis- tirem esses inventarios, seria preciso crid-los, cabendo a prioridade a um levantamento minucioso e completo dos bens culturais situados em locais em que obras publicas ou privadas os ameacem. 5. Dever-se-ia ter na devida conta a importancia relativa dos bens culturais em causa ao se determinazem medidas necessétias para assegurar: a) _apreservacéo do conjunto de um sitio, de um monumento ou de outros tipos de bens culturais iméveis contra os efeitos das obras ptiblicas ¢ privadas; b) 0 salvamento ow o resgate dos bens culturais situados em local que deva ser transformado pela execugio de obras piblicas ou privadas, e que deverao ser preservados e trasladados, no todo ou em parte. 6. As medidas a serem adotadas deveriam variar em fungiio da natureza, das dimens6es e da cn dos bens euleurnls, aualin co. Be do iis dos patios gue sed a rais deveriam ter cardter preventivo e corretivo. As medidas destinadas a preservar ow a salvar os bens cultu- 8. As medidas preventivas e corretivas deveriam ter por finali- dade assegurar a protegao ou o salvamento dos bens culturais amea- sados por obras ptiblicas ou privadas, tais como: a) _ 0s projetos de expansio ou de renovacio urbana, ainda que respeitem monumentos protegidos por lei, mas possam vir a mo- dificar estruturas de menor importanciae, assim, destruir as vin- culagSes € 0 quadto que envolve 0s monumentos nos bairros histéricos; b) obras similares em locais onde conjuntos tradicionais de valor cultural possam correr perigo de destruigao por nao se cons- titufrem em monumentos protegidos por lei; ©) modificagées ou reparos inoportunos de edificacées histé- ricas isoladas; d) aconstrugio ou alterago de vias de grande circulacao, 0 que constitui um perigo especialmente grave para os s{tios, monumentos ou conjuntos de monumentos de importancia histérica; ©) aconstrugao de barragens para irrigacio, produgao de ener- gia hidrelétrica, ou controle de inundagées; f) a construgio de oleodutos e de linhas de transmissio de energia elétrica; 2) os trabalhos agricolas, como a aradura profunda da terra, as operagées de ressecagio ¢ de irrigagao, desmatamento e nivela- mento de terras e reflorestamento; h) _ os trabalhos exigidos pelo desenvolvimento da industria ¢ pelos progressos técnicos das sociedades industrializadas, como a construgao de aerédromos, a exploragéo de minas e pedreiras ea dragagem ¢ recuperagao de canais ¢ de portos etc. 9. Os Estados-membros deveriam dar a devida prioridade as medidas necessdrias para garantir a conservagao in situ dos bens cul- turais ameagados por obras ptiblicas ou privadas e manter-lhes, as- OE Beehtinuldeds e sien feast isritic, Bizndo uma imperio- 127 ou a destruicao de bens culturais, os trabalhos de salvamento deve- riam sempre compreender um estudo minucioso desscs bens ¢ 0 registro completo dos dados de interesse. 10. Deveriam ser publicados ou, de algum outro modo, postos A disposi¢ao dos futuros pesquisadores os resultados dos estudos de interesse cientifico ¢ histérico empreendidos em relagao aos traba- thos de salvamento de bens culturais, especialmente quando os bens culturais iméveis, em grande parte ou na totalidade, tenham sido abandonados ou destrufdos. 11. As edificages ¢ outros monumentos culturais importantes que tenham sido trasladados para evitar sua destruigao por obras ptiblicas ou privadas deveriam ser reinstalados em um s{tio ou am- biente semelhante ao de sua implantagio primitiva ¢ ao de suas vin- culagées naturais, histéricas ou artisticas. 12. Os bens culturais méveis de grande interesse, ¢ especial- mente os espécimes representativos de objetos procedentes de esca- vagGes arqueolégicas ou encontrados durante trabalhos de salvamen- to, deveriam ser preservados para estudos ou expostos em muscus, inclusive os museus dos sitios ou das universidades. IIL. Medidas de preservagio e salvamento 13. A preservagio, ou o salvamento, dos bens culturais ameaga- dos por obras piiblicas ou privadas deveria ser assegurada pelos meios abaixo relacionados, cabendo & legislagao ¢ & organizacéo de cada Estado precisar as medidas: a) legislagao; b) financiamento; c) medidas administrativas; d) _ métodos de preservagio e salvamento dos bens culturais; €) — sangGes; f) reparagées; g) recompensas; h) _ assessoramento; ') programas educative site abe art sick aoe dope eee haa LEGISLAGRO 14. Os Estados-membros deveriam promulgar ou manter em vigor, tanto em escala nacional quanto regional, uma legislagao que assegure a preservacao ou o salvamento dos bens culturais ameaga- dios pela realizagéo de obras ptiblicas ou privadas, de acordo com as normas ¢ principios definidos nesta recomendagio. FINANCTAMENTO 15. Os Estados-membros deveriam prever 0 estabelecimento de créditos necessdrios para as operagées de preservacao de salvamento dos bens culturais ameacados pela realizagio de obras ptiblicas ou privadas. Ainda que a diversidade dos sistemas juridicos e das tradi- ges, assim como a desigualdade dos recursos, nfo permitam a ado- fo de medidas uniformes, deveriam ser levadas em consideragio as seguintes possibilidades: a) as autoridades nacionais ou regionais encarregadas da sal- vaguarda dos bens culturais deveriam dispor de um orgamento suficiente para poderem assegurar a preservacao ou o salvamento dos bens culturais ameagados por obras ptiblicas ou privadas; ou b) as despesas referentes & preservaciio ou ao salvamento dos bens culturais ameacados pela realizagao de obras puiblicas ou privadas, inclusive as pesquisas arqueoldgicas preliminares, de- vetiam constar do orgamento dessas obras; ou ©) deveria ser possivel combinar os dois métodos menciona- dos nas alineas a ¢ b acima. 16, Sea extensio ou a complexidade dos trabalhos necessirios tornarem o montante das despesas excepcionalmente elevado, deve- ria ser posstvel obter créditos suplementares através de legislagao competente, mediante a concessio de subvengdes especiais ou a cria- gio de um fundo nacional para a salvaguarda dos monumentos, ou por qualquer outro meio apropriado. Os servigos responsiveis pela salvaguarda dos bens culturais deveriam estar habilitados a adminis- trav ou utilizar os erédivos extra-orgamentérios necessdrios para a preservagiio ou para o salvamento dos bens culturais ameagados pela ss zg 17. Os Estados-membros deveriam encorajar os proprietdrios de edificagées que tenham importancia artistica ou histérica, inclu- sive as que fagam parte de um conjunto tradicional, assim como os habitantes de bairros histéricos, de reas urbanas ou rurais, a preser- varem o cardter ¢ a beleza dos bens culturais de que dispdem e que possam vir a sofrer danos em conseqiiéncia de obras publicas ou privadas, através das medidas que se seguem: j = a) — diminuigao de impostos; ou | b) estabelecimento, através de uma legislacio adequada, de um = orgamento destinado a ajudar, mediante subvengdes, emprésti- mos ou outras medidas, as autoridades locais, as instituigées e os ‘ proprietdrios privados de edificagdes que tenham um interesse artistico, arquiteténico, cientifico ou histérico, inclusive os con- juntos tradicionais, a garantirem a manutengio ou a adequada adaptagao dessas edificagdes ou conjuntos a fungSes que respon- dam as necessidades da sociedade contemporanea; ou == 3) = 130 deveria ser possivel combinar os dois métodos menciona- dos nas alineas a ¢ b acima. | 18. Se os bens culturais nao sio protegidos por lei ou de outro modo, o proprietério deveria ter a oportunidade de requisitar a aju- da necessdria das autoridades competentes. 19. As autoridades nacionais ou locais, assim como os proprietd- tios privados, deveriam levar em conta, para fixar 0 montante dos fun- dos destinados & conservag4o dos bens culturais ameacados por obras piiblicas ou privadas, o valor intrinseco de tais bens ea contribuicao que podem proporcionar & economia como pélos de atragio turistica. MEDIDAS ADMINISTRATIVAS 20. A responsabilidade pela preservagao ¢ pelo salvamento dos bens culturais ameagados por obras ptiblicas ou privadas deveria com- petir a organismos oficiais apropriados. Onde ja funcionem érgios ou servigos oficiais de protegio dos bens culturais, deveria compe tir-lhes a protegio dos ameagados por tais obras, Se nilo existirem esses servigos, érgios especiais deveriam ser eneatt vagto dos bens culturais am Embora a diversidade dos dispositivos constitucionais € da tradigao dos Estados-membros impega a adogéo de um sistema uniforme, alguns prinefpios comuns deveriam ser adotados: 2) um érgio consultivo ou de coordenagao, composto de re- presentantes das autoridades encarregadas da salvaguarda dos bens culturais, das empresas de obras piiblicas ou privadas, do plane- | jamento urbano ¢ das insticuigdes de pesquisa e educagio, deve- ria estar habilitado a prestar assessoria em matéria de preservagao dos bens culturais ameacados por obras piiblicas ou privadas e, em especial, cada vez que entrarem em conflito as necessidades da execucio de obras puiblicas ou privadas ¢ os trabalhos de pre- servacao ¢ salvamento dos bens culturais; i b) _ as autoridades locais (estaduais, municipais ou outras) de- veriam também dispor de servigos encarregados da preservacao do salvamento dos bens culturais ameagados por obras ptiblicas ou privadas. Esses seryigos deveriam dispor da possibilidade de obter ajuda dos servigos nacionais, ou de outros érgios apropria- dos, de acordo com suas atribuigées ¢ necessidades; By ©) _ osservigos de salvaguarda dos bens culturais deveriam con- | tar com pessoal qualificado, especialistas competentes em maté- ria de preservacéo dos bens culturais ameacados por obras publi- cas ou privadas: arquitetos, urbanistas, arquedlogos, historiado- res, inspetores ¢ outros especialistas e técnicoss d) deveriam ser tomadas medidas administrativas para coor- denar as atividades dos diversos servicos responsaveis pela salva guarda dos bens culturais e as de outros setvigos encarregados de obras puiblicas ow privadas ¢ as dos demais servigos cujas fungoes tenham relago com o problema de preservar ou salvar os bens culturais ameagados por obras publicas ou privadas; c) deveriam ser adotadas medidas administrativas para desig- nar uma autoridade ou uma comissao encarregada dos progra- mas de desenvolvimento urbano em todas as comunidades que posstiam bairtos histéricos, sitios ¢ monumentos de interesse, os ou nfo pélaclelanuasasi preciso defender contra a 132 nais, dos vestigios etnoldgic [ 21. Por ocasio dos estudos preliminares sobre projetos de cons- trug4o em um local de reconhecido interesse cultural, ou no qual seja provavel encontrar objetos de valor arqueolégico ou histérico, conviria, antes que uma decis4o fosse tomada, que se elaborassem diversas variantes desses projetos, em escala regional ou local. A es- colha entre essas variantes deveria basear-se em uma andlise compa- rativa de todos os elementos, com o objetivo de adotar a solugao mais vantajosa, tanto do ponto de vista econdmico quanto no que diz respeito a preservagio ¢ ao salvamento dos bens culturais. NETODOS DE PRESERVACAO € SALVAMENTO DOS BENS CULTURAIS 22, Com a devida antecedéncia & tealizagio de obras piblicas ou privadas que ameacem os bens culturais, deveriam ser realizados aprofundados estudos para determinar: a) as medidas a serem adotadas para assegurar a protesio in situ dos bens culturais importantes; b) aextensao dos trabalhos de salvamento necessdrios, tais co- mo a escolha dos sitios arqueoldgicos a serem escavados, 0s edi- icios a serem trasladados ¢ os bens culturais mdveis cujo salva- mento seja necessdrio garantir, 23. As medidas destinadas a preservar ou a salvar os bens cultu- rais deveriam ser tomadas com suficiente antecipagio ao inicio de obras ptiblicas ou privadas. Nas regiées importantes do ponto de vista arqueolégico ou cultural, tais como cidades, aldeias, sitios e bairros histéricos, que deveriam estar protegidos pela legislagao de cada pafs, qualquer nova construgéo deveria ser obrigatoriamente precedida de escavacoes arqueoldgicas de cardter preliminar. Se ne- cessario, os trabalhos de construgio deveriam ser retardados a fim de permitir a adogio de medidas indispenséveis para assegurar a pre- servacao ou o salvamento dos bens culturais. Ee: Deveria ser assegurada a salvaguarda dos sitios arqueoldgi- cos importantes, sobretudo os sitios pré-histéricos que esto parti= cularmente ameagados por serem dificcis de reeonheeer, dos balsvos histéricos dos centros urbanos ou rurais, dos 2 ca bens culturais iméveis que, sem isso, seriam ameagados por obras publicas ou privadas. A salvaguarda desses bens seria assegurada atra- vés de medidas estabelecendo a protecao legal ou a criagio de zonas protegidas, na forma seguinte: a) _asteservas arqueolégicas deveriam ser objeto de medidas de zoneamento ou de protecao legal e, eventualmente, de aquisigao imobilidria, para que seja possivel efetuar escavagées profundas ou preservar os vestigios descobertoss b) _ os bairros histéricos dos centros urbanos ou rurais e os con- juntos tradicionais deveriam estar registrados como zonas protegi- das e uma regulamentagio adequada para preservar 0 entorno e seu cardter deveria ser adotada, permitindo, por exemplo, deter- minar e decidir em que medida poderiam ser reformados os edifi- cios de importancia histérica ou artistica e a natureza € 0 estilo das novas construc6es. A preservagéo dos monumentos deveria ser uma condicao essencial,em qualquer plano de urbanizacao, especial- mente quando se tratar de cidades ou bairros histéricos. Os arre- dores ¢ o entorno de um monumento ou de um sitio protegido por lei deveriam também ser objeto de disposig6es andlogas, para que seja preservado 0 conjunto de que fazem parte ¢ seu cardter. Deveriam ser permitidas modificagdes na regulamentagao ordiné- tia relativa As novas construgSes, que poderia ser suspensa quando se tratar de edificagées a serem erigidas em uma zona de interesse histérico, Deveria ser proibida a publicidade comercial através de cartazes ou antincios luminosos, mas as empresas comerciais po- deriam ser autorizadas a indicar sua presenga por meio de uma sinalizagdo corretamente apresentada. 25, OsEstados-membros deveriam impor a qualquer pessoa que encontre vest(gios arqueolégicos durante a realizagiio de obras pti- blicas ou privadas a obrigagao de comunicar seu achado mais répi- do possfvel ao servigo competente. Esse servico submeteria a desco- berta a um detido exame ¢, se 0 sftio se revelasse importante, deve- riam ser suspensas as obras de construgio para permitir as escava- sfien completass previstas Indenizagbes ou compensagies adequadas 26. Os Estados-membros deveriam adotar disposigBes que per- mitam &s autoridades nacionais ou locais ou aos érgios competen- tes adquirir os bens culturais importantes que corram perigo em conseqiiéncia de obras piblicas ow privadas, Caso necessdrio, essas aquisig6es poderiam ser feitas através de expropriagio. SANCOES ; 27. Os Estados-membros deveriam adotar as medidas necess4- rias para que as infragSes cometidas intencionalmente ou por negli- géncia, em relagao & preservacao ou ao salvamento de bens culturais ameagados por obras piblicas ou privadas, sejam severamente puni- das por seus cddigos penais, que deveriam prever penas de multa ou de prisio, ou ambas. Poder-se-iam adotar, além disso, as seguintes medidas: a) quando for possivel, restauragio do sitio ou do monumen- to as expensas dos responsaveis pelos danos causados; » em caso de achado arqueoldgico fortuito, pagamento de indenizacio por perdas e danos ao Estado quando hajam sido deteriorados, destrufdos, mal conservados ou abandonados bens culturais iméveis; confisco sem indenizagio, de bens méveis que tenham sido ocultados. i REPARACOES 28. Os Estados-membros deveriam adotar, quando a natureza do bem o permitir, as medidas necessérias para assegurar a reparacio, a restauragao ou a reconstrugao dos bens culturais deteriorados por obras ptiblicas ou privadas, Deveriam prever também a possibilidade de obrigar as autoridades locais e os proprietatios particulates de bens culturais importantes a procederem as reparagbes ou as restaurag6es, sendo-lhes concedida assisténcia técnica ou financeira, se necessétio. RECONPENSAS 29. Os Estados-membros deveriam encorajar og particulares, as associag6es ¢ as municipalidades a partielpar dos prograt publicas ou privadas. Para isso, entre outras, poder-se-iam adotar as seguintes medidas: a) efetuar pagamentos, a titulo de gratificagao, as pessoas que notificarem achados arqueolégicos ou entregarem os objetos descobertos; b) outorgar certificados, medalhas ou outras formas de reco- nhecimento as pessoas — inclusive as que desempenhem funges nos drgios de governo, em associages, em instituigdes ou nas municipalidades — que tenham prestado eminente colaboragao aos programas de preservacao € salvamento de bens culturais ameacados por obras puiblicas ou privadas. ASSESSORANENTO 30. Os Estados-membros deveriam proporcionar aos partici- pantes, a associagées ou a prefeituras que nao dispdem de experién- cia ou de pessoal necessfrio, assessoramento técnico ou superviso que Ihes permitam assegurar a manutengao de normas adequadas em relagéo & preservagio ot ao salvamento de bens culturais amea~ cados por obras ptiblicas ou privadas. PROGRAMAS EDUCATIVOS 31. Em espltito de colaboracio internacional, os Estados-mem- bros deveriam empenhar-se em estimular e fomentar entre seus nacio- nais o interesse ¢ 0 respeito pelo scu préprio patriménio cultural e pelo de outtos povos, com o objetivo de assegurar a preservagio ou o salva- mento dos bens culturais ameagados por obras ptiblicas ou privadas. 32, Publicagdes especializadas, artigos na imprensa € progra- mas de rédio ¢ de televisio deveriam divulgar a natureza dos perigos que obras publicas ou privadas mal concebidas podem ocasionar aos bens culturais, assim como exemplos de casos em que bens cul- turais hajam sido eficazmente preservados ou salvos. 33, Estabelecimentos de ensino, associagoes histéricas ¢ cultu- cos que se ocupam do desenvolvimento do turis- educagiio popular deyeriam desenvolver progta- os que as obras priblicas rais, drgiios pub mo ¢ assoclagées de ou pri i rT p pr ps realizadas sem a devida preparaao podem ocasionar aos ens ii i ivi s culturais ea enfatizar que as atividades destinadas a presetvar r : ; bens culturais contribuem para a compreensao internacional. Ba acter se 4. Museus, instituigdes educacionais ou outras organizacdes interessadas deveriam preparar exposicdes especiais para ilustrar os Preparar exposigi para ilustrat perigos que as obras ptiblicas ou privadas nao controladas represen- tam para os bens culturais ¢ as medidas que tenham sido adotadas ara garantil 4 para garantir a preservacao ou o salvamento dos bens culturais amea- gados por essas obras. Compromisso de Brasilia 1° Encontro dos governadores de Estado, secretarios estaduais da 4rea cultural, prefeitos de municfpios interessados, presidentes e representantes de instituigdes culturais BRASILIA - ABRIL DE 1970 Os governadores de estado presentes ao encontro promovido pe- lo Ministério da Educagao e Cultura, para o estudo da complemen- tagio das medidas necessdrias & defesa do patriménio histérico € artistico nacional; os secretarios de estado e demais representantes dos governadores que, para 0 mesmo efeito, os credenciaram; os prefeitos de municipios interessadoss os presidentes e representantes de instituigées culturais igualmente convocadas, em unido de pro- pésito, integralmente solidérios com a orientagao tragada pelo mi- nistro Jarbas Passarinho, na sua exposi¢io ao abrit-se a reuniao, ¢ manifestando todo apoio a politica de proteso aos monumentos, & cultura tradicional eA natureza, resumida no relatério apresentado pelo diretor do rgao superior, a Direroria do Patrimdnio Histérico © Artistico Nacional (DPHAN), a quem incumbe executé-la, nas recomendagées que nele se contém, do Conselho Federal de Cultura, lidar, através de undnime aprovagio, as resolugbes yra por todos subserito ¢ que se chamara 138 1, Reconhecem a inadidvel necessidade de ago supletiva dos estados ¢ dos municipios & atuagio federal, no que se refere & prote- io dos bens culturais de valor nacional. 2. Aos estados ¢ municipios também compete, com a orienta- fo técnica da DPHAN, a protegio dos bens culeurais de valor regional. 2 Para a obtengo dos resultados em vista, serao criados, on- de ainda nao houver, érgios estaduais e municipais adequados, arti- culados devidamente com os Conselhos Estaduais de Cultura Z com a DPHAN, para fins de uniformidade da legislago em vista, aten- dido 0 que dispée 0 art. 23 do Decreto-Lei n# 25, de 1937. 4, No plano da protegao da natureza, recomenda-se a criagdo de servigos estaduais, em articulag3o com o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal e, bem assim, que os estados e municf- pios secundem o esfor¢o pelo mesmo instituto empreendido para a implantagao territorial definitiva dos parques nacionais. 5. De acordo com a disposigao legal acima citada, colaborar4 a DPHAN com os estados ¢ municfpios que ainda nao tiverem le- gislacdo especifica, fornecendo-lhes as diretrizes tendentes & deseja- da uniformidade. a 6. —Impée-se complementar os recursos orcamentétios normais com o apelo a novas fontes de receita de valor real. 7. Para remediar a caréncia de mio-de-obra especializada nos niveis superior, médio ¢ artesanal, é indispensavel criar cursos visan- do a formagio de arquitetos, restauradores, conservadores de pintu- ra, escultura e documentos, arquivologistas ¢ musedlogos de dife- rentes especialidades, orientados pela DPHAN e pelo Arquivo Nacional os cursos de nfvel superior. _ 8. Nao s6 a Unito, mas também os estados e municfpios se dispdem a manter os demais cursos, devidamente estruturados segundo a orientagao geral da DPHAN, atendidas as pecullaens des regionais, 9. Sendo 0 culto ao passado elemento bisico da formagio da consciéncia nacional, devero ser inclusdas nos curticulos eseolares, de nivel fundamental, médio e superion, maté nhecimento ¢ a preservagio do il slides «atest eS das arqueoldgicas e pré-hist6ricas, das riquezas naturais € da cultura popular, adotado o seguinte critério: no nivel elementar, nogdes que estimulem a atengao para os monumentos representativos da tradi- 40 nacional; no nivel médio, através da disciplina de Educacao Moral ¢ Civica; no nivel superior (a exemplo do que ja existe no curso de Arquitetura, com a disciplina de Arquitetura no Brasil), a introdu- co, no curriculo das escolas de Arte, da disciplina de Histéria da Arte no Brasil; e nos cursos nao especializados, a de Estudos Brasileiros, parte destes consagrados aos bens culturais ligados & tra- digio nacional. 10. Caberd as universidades 0 entrosamento com bibliotecas ¢ arquivos piblicos nacionais, estaduais ¢ municipais, bem assim os arquivos eclesidsticos e de instituigdes de alta cultura, no sentido de incentivar a pesquisa quanto & melhor elucidagao do passado ¢ & avaliagdo de inventérios dos bens regionais cuja defesa se propugna. 11. Recomenda-se a defesa do acervo arquivistico, de modo a ser evitada a destruigdo de documentos, ou tendo por fim preserva-los con- venientemente, para cujo efeito serd aprecidvel a colaboragiio do Arquivo Nacional com as conggneres repartigGes estaduais e municipais. 12. Recomenda-se a instituigéo de museus regionais, que do- cumentem a formacao histérica, tendo em vista a educagio civica ¢ o respeito da tradigao. 13. Recomenda-se a conservacio do acervo bibliografico, ob- servadas as normas técnicas oferecidas pelos drgios federais especia- lizados na defesa, instrumentacio e valorizacéo desse pattiménio. 14. Recomenda-se a preservasiio do patriménio paisagistico € arqueolégico dos terrenos de marinha, sugerindo-se oportuna legis- lacéo que subordine as concessées nessas Areas & audiéncia prévia dos érgdos incumbidos da defesa dos bens histéricos ¢ artisticos. 15, Como mesmo objetivo, é de se desejar que nos estados seja confiada a especialistas a elaboragio de monografias acerca dos as- pectos sécio-econdmicos regionais e valores compreendidos no res- pectivo patriménio histérico e artistico; também que, em cursos eapeciais para professores do ensino fundamental e médio, se lhes " 0 is problemas, de manel~ f r 140 raa habilité-los a transmitir &s novas geragGes a consciéncia e o inte- resse pelo ambiente histérico-cultural. 16. Caberé as secretarias competentes dos estados a promocéo e divulgagao do acervo dos bens culturais da respectiva 4rea, utili- zando-se, para este fim, os varios meios de comunicagéo de massa, tais como a imprensa, o rédio, 0 cinema, a televisio. 17. Hi, outrossim, necessidade premente do entrosamento com a hierarquia eclesidstica e superiores de ordens religiosas e confra- rias, para que todas as obras que se venham a efetuar em iméveis de valor histérico ou artistico de sua posse, guarda ou serventia, sejam precedidas da audiéncia dos érgios responsiveis pela protesao dos monumentos, nas diversas regides do pais. 18. Que a mesma cautela prevista no item anterior seja to- mada junto as autoridades militares, em relago aos antigos for- tes, instalag6es e equipamentos castrenses, para a sua convenien- te preservagio. 19. Urge legislacéo defensiva dos antigos cemitérios e especial: mente dos timulos histéricos e artisticos e monumentos funerérios. 20. Recomenda-se utilizacio preferencial para casas de cultura ou reparticées de atividades culturais, dos imdveis de valor histérico e artistico cuja protec4o incumbe ao poder puiblico. 21, Recomenda-se aos poderes ptiblicos estaduais ¢ municipais colaboracio com a DPHAN, no sentido de efetivar-se 0 controle do comércio de obras de arte antiga, 22. Os participantes do encontro ouviram com muito agradoa manifestagao do ministto de Estado, sensfvel conveniéncia da cria- sfo do Ministério da Cultura, e consideram chegada esta oportuni- dade, tendo em vista a crescente complexidade e o vulto das ativida- des culturais no pais. 23. O Conselho Federal de Cultura e os Conselhos Estaduais de Cultura opinarao sobre as demais propostas apresentadas con- feréncia, conforme o seu carter, para 0 efeito de as encaminhar oportunamente a autoridade competente, E por terem assim deliberado, considerande « resies da culrura nacional, a ANEXO O problema da recuperacio ¢ restauracao de monumentos, trate-se de uma casa seiscentista como esta de S4o"Paulo, ou das rufnas desta igreja de Sao Miguel, no Rio Grande do Sul, é extremamente complexo. Primeiro, porque depende de técnicos qualificados, cuja forma- gio édemorada e dificil, pois requer, além do tirocinio de obras ¢ de familiaridade com os processos construtivos antigos, sensibilidade artistica, conhecimentos histéricos, acuidade investigadora, capac dade de organizagio, iniciativa e comando ¢, ainda, finalmente, desprendimento. Pes ae ? . Segundo, porque implica providéncias igualmente demoracas, como 0 inventétio hist6rico-artistico do que exista na regido, o estu- do da documentagio recolhida, o tombamento daquilo que deve ser preservado, a eleigio do que merega restauro prioritario, a apropriar cao de verbas para esse fim, a escolha de técnicos, 0 eu prelimi- nar na base de investigagio historica e das pesquisas i foc, a docu- mentagio € 0 registro das fases da obra e, por fim, a manutencao ¢ 0 destino do bem recuperado. sei oe Apesar da deficiéncia dos meios, a Diretoria do Patrimdnio Histérico ¢ Art{stico Nacional — obra da vida de Rodrigo M. E. Ce Andrade tem procedido ao sestauro de monumentos ~ tala, Bie rura, arquitetura — em todo o pais; mas no acervo de au an A obras significativas e valiosas cuja preservagso escapa dalgada fede- ral; é, pois, chegado o momento de cada estado cua ° a Te servico de protegio vinculado & universidade local, As municipalida- des 3 DPHAN, para que assim participe direramente da obra pe- nosa e benemérita de preservar os tiltimos testemunhos desse passa- éa rait —€ seremos. ie é a raiz do que somos — € og ; Liicio Costa 1970 141 Compromisso de Salvador II Encontro de governadores para preservagao do patriménio histérico, artistico, arqueolégico e natural do Brasil MINISTERIO DA EDUCACAO E CULTURA IPHAN - INSTITUTO DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL SALVADOR, OUTUBRO DE 1971 Os governadores de estado presentes ao encontro promoyido pe- lo Ministério da Educagao e Cultura, para o estudo da complemen- tagao das medidas necessérias 4 defesa do patriménio histérico, ar- t{stico, arqueoldgico e natural do pals; Os secretarios de estado ¢ demais representantes dos governado- res que, para o mesmo efeito, os credenciaram; Os prefeitos de municfpios interessados; Os presidentes ¢ representantes de instituigdes culturais igual- mente convocadas; Em unio de propésitos, integralmente solidérios com a orien tagdo que vem sendo tragada pelo ministro Jarbas Passarinho des- de o I Encontro de Brasilia, em abril de 1970, ¢ manifestando apoio & politica de protegao aos bens naturais de valor cultural, principalmente paisagens, parques naturais, praias, acervos arqueo- légicos, conjuntos urbanos, monumentos arquiteténicos, bens mé- veis, documentos e livros, politica definida no relatério apresenta- a cultura brasileira alcangado como conseqiiéncia do referido en- contro de Brasilia, I. _ ratificam, em todos os seus itens, 0 “Compromisso de Brasflia”, cujo alto significado reconhecem, aplaudem apdiam Il. na presente oportunidade encaminham & consideragao dos responsaveis as seguintes proposig6es adotadas no documento ora assinado, que se chamaré “Compromisso de Salvado' 1. Recomenda-se a criagao do Ministério da Cultura, e de se- cretarias ou fundagées de cultura no Ambito estadual. 2. Recomenda-se a criagio de legislagio complementar, no sen- tido de ampliar o conceito de visibilidade de bem tombado, para atendimento do conceito de ambiéncia. 3. Recomenda-se a criago de legislacio complementar, no sen- tido de protegéo mais eficiente dos conjuntos paisagfsticos, arquite- ténicos e urbanos de valor cultural e de suas ambiéncias, 4, Recomenda-se que os planos diretores ¢ urbanos, bem co- mo os projetos de obras ptiblicas e particulares que afetem Areas de interesse referentes aos bens naturais e aos de valor cultural especial- mente protegidos por lei, contem com a orientacao do IPHAN, do IBDF e dos érgios estaduais e municipais da mesma Area, a partir de estudos iniciais de qualquer natureza. 5. Recomenda-se que também sejam considerados priorité- rios, para obtencao de financiamento, os planos urbanos e regionais de areas ricas em bens naturais ¢ de valor cultural especialmente protegidos por lei. 6. Recomenda-se a convocagiéo do Banco Nacional de Habitagao e dos demais érgios financiadores de habitacao, para co- laborarem no custeio de todas as operagdes necessirias & realizacéo de obras em ediffcios tombados. 7. Recomenda-se, nos aimbitos nacional e estadual, a criagdo de fundos provenientes de dotagées orcamentérias, doagées, receitas de loterias, descontos de impostos e taxas, ou outros incentivos fis» cais, para fins de atendimento a protegio dos bens naturals e de valor cultural especialmente protegidos par Tei, jam dadas condigées especiais em recursos financeiros ¢ humanos, capazes de permitir 0 pleno atendimento de seus objetivos. 9, Recomenda-se que os estados e municfpios utilizem, na pro- tecao dos bens culturais e de valor cultural, as percentagens do Fundo de Participagao dos Estados e Municfpios definidas pelo Tribunal de Contas da Unido. 10. Recomenda-se que se pleiteie do Tribunal de Contas da Unio sejam extensivas aos museus, bibliotecas ¢ arquivos, com acer- vos de importincia comprovada, as percentagens a que alude a reco- mendagfo anterior. 11. Recomenda-se, por meio de acordos ou convénios, uma agio conjunta entre a administragao publica ¢ as autoridades eclesidsti- cas, para fins de restauragao e valorizagao dos bens de valor cultural. 12. Recomenda-se a convocagio dos érgaos responsdveis pelo planejamento do turismo, no sentido de que voltem suas atengdes para os problemas da valorizagio, utilizagio ¢ divulgaco dos bens naturais ¢ de valor cultural especialmente protegidos por lei. 13. Recomenda-se a convocagio da FINEP e de érgfos congéne- res, para o desenvolvimento da indistria do turismo, com especial atengao para planos que visem & preservagio e valotizagao dos mionu- mentos naturais ¢ de valor cultural especialmente protegidos por lei. 14, Recomendarse que os drgaos responsiveis pela politica de turismo estudem medidas que facilitem a implantagao de pousadas, com utilizagio preferencial de iméyeis tombados. 15. Recomenda-se a instituigéo de normas para inscrigo compul- soria dos bens méveis de valor cultural, bem assim de certificado de au- tenticidadee propriedade obrigatérios para transferéncia ou fins comerciais. 16. Recomenda-se a adogao de convénios entre o IPHAN ¢ as universidades, com 0 objetivo de proceder ao inventitio sistematico dos bens méveis de valor cultural, inclusive dos arquivos notariais. 17. Recomenda:se 0 aproveitamento remunerado de estudan- tes de arquitetura, museologia ¢ arte, para a formagio de corpo de fiseais na Area de comércio de bens méveis de valor cultural. 18, Recomenda-se a spapuccacko do Conselho Nacional de nto. te saacon de pesqui- 146 sas e de formagao de pessoal especializado, com vistas ao estudo ¢ & protego dos acervos naturais ¢ de valor cultural. 19. Recomenda-se que sejam criados, no ambito das universi- dades brasileiras, centros de estudo dedicados & investigagao do acervo natural ¢ de valor cultural em suas respectivas areas de influéncia, com a planificagao, em sentido nacional, do Departamento de Assuntos Culturais do MEC, através dos seus drgios especificos. 20. Recomenda-se aos governos estaduais que incluam no ensi- no de 2° grau curso complementar de estudos brasileiros ¢ museolo- gia, que permita aos diplomados a prestacao de servicos nos museus do interior, onde nao haja profissional de nivel superior. 21. Recomenda-se que seja complementada a legislacdo vigen- te, com vistas a disciplinar as pesquisas trabalhos arqueolégicos. 22. Recomenda-se que, na organizagio do DAC, sejam previs- tas maiores possibilidades de apoio ¢ estimulo as manifestacdes de cardter popular ¢ folclérico, através do érgéo espectfico federal. 23. Recomenda-se que os governos estaduais promovam, atra- vés de érgio competente, a elaboragio do calendario das diferentes festas tradicionais ¢ folcléricas, dando igualmente inteiro apoio & realizago de festivais, exibigdes ou apresentagdes que visem a di- fundir e preservar as tradig&es folcléricas de seus respectivos estados. 24, Recomenda-se que se pleiteie dos poderes competentes a necessidade de diploma legal que confira aos governos estaduais a responsabilidade pela administrago das cidades consideradas mo- numento nacional, para fins de atendimento da legislagio especifica. Sugerem, outrossim: * a inscrigéo, como monumento de valor cultural, do acervo urbano de Lengéis, Bahia; * a ctiagéo do Parque Histérico da Independéncia da Bahia, em Piraja, Bahia; + actiagio do Museu do Mate, no municipio de Campo Largo, Paran; * a publicacao pelas administragées estaduais ¢ municipais de livros ¢ documentos referentes & histéria da independéneia brasilei- Ta, nas suas respectivas dreas, por ocasiflo do Carta do Restauro Ministério da Instrugao Publica Governo da Italia CIRCULAR N® 117, DE 6 DE ABRIL DE 1972 Através da circular ntimero 117, de 6 de abril de 1972, 0 Ministério da Instrugao Publica da Irdlia divulgou 0 Documento sobre Restauragao de 1972 (Carta do Restauro, 1972) entre os dire- tores ¢ chefes de institutos auténomos, para que se atenham, escru- pulosa ¢ obrigatoriamente, em todas as intervengdes de resautagao em qualquer obra de arte, as normas por cla estabelecidas ¢ as ins- trugdes anexas, aqui publicadas na {ntegra. ‘Arclt Todas as obras de arte de qualquer época, na acep¢io mais ampla, que compreende desde os monumentos arquiteténicos até as de pintura e escultura, inclusive fragmentados, e desde o perfo- do paleoltico até as expresses figurativas das culruras populares eda arte contemporanea, pertencentes a qualquer pessoa ou instituigao, para efeito de sua salvaguarda ¢ restauracao, sao objeto das presentes instrugdes, que adotam o nome de “Carta do Restauro 1972”. ‘Att.2® — Além das obras mencionadas no artigo precedente, fi- cam assimiladas a essas, para assegurar sua salyaguarda ¢ restaura- SO ee 148, ou ambiental, particularmente os centros histéricos; as colecdes ar- tisticas e as decoragées conservadas em sua disposicao tradicional; 08 jardins e parques considerados de especial importancia. Art.3* _ Ficam submetidas A disciplina das presentes instrugdes, além das obras incluidas nos artigos 12 22, as operacdes destinadas a assegurar a salvaguarda ¢ a restauragao dos vestigios antigos rela- cionados com as pesquisas subterraneas ¢ subaquiticas. Art.4* — Entende-se por salvaguarda qualquer medida de con- servagao que no implique a intervengao direta sobre a obra; enten- de-se por restauragéo qualquer intervengdo destinada a manter em funcionamento, a facilitar a leitura e a transmitir integralmente ao futuro as obras e os objetos definidos nos artigos precedentes. Art.5¢ Cada uma das superintendéncias de instituig6es res- ponséveis pela conservagio do patriménio histérico, artistico ¢ cul- tural elaboraré um programa anual ¢ especifico dos trabalhos de salvaguarda ¢ restauragio, assim como das prospec¢Ges subterraneas ¢ subaquaticas a serem empreendidas, seja por conta do Estado ou de outras instituig6es ou pessoas, que serd aprovado pelo Ministério da Instrugéo Piiblica, mediante parecer favorével do Conselho Superior de Antigiiidades ¢ Belas Artes. No ambito do programa, ou depois de sua apresentagao, qual- quer intervengio nas obras referidas no artigo 1 deverd ser ilustrada e justificada por um parecer técnico em que constardo, além do de- talhamento sobre a conseryagao da obra, seu estado atual, a nature- za das intervengdes consideradas necessdrias ¢ as despesas necessé- rias para Ihes fazer frente. Esse informe serd igualmente aprovado pelo Ministério da Instrugio Publica com parecer prévio do Conselho Superior de Antigiiidades ¢ Belas Artes, nos casos de emergéncia ou chivida pre- vistos na lei. Art.6* De acordo com as finalidades a que, segundo 0 artigo 4, devem corresponder as operagées de salvaguarda ¢ restauragio, proibem-se indistintamente para todas as obras de ria a qua se tefe- rem os artigos 1%, 2° e 3% 1. adinmenodee plificada, aitida quando existirem documentos gréficos ou plasticos que possam jndicar como tenha sido ou deva resultar o aspecto da obra acabad a; 2. remogbes ou demoligées que apaguem a trajetéria da obra através do tempo, a menos que se trate de alteragGes limitadas que debilitem oxy alterem os valores histéricos da obra, ou de aditamen- tos de estilo que a falsifiquem; 3. ter ro¢io, reconstrugao ou traslado para locais diferentes dos originais, a menos que isso seja determinado por razbes superiores de conserva go; 4, alteracdo das condig6es de acesso ou ambientais em que chegou até Os nossos dias a obra de arte, 0 conjunto monumental ou ambiental, © conjunto decorativo, o jardim, o parque etc. 5. alteracao ou eliminagao das patinas. Art.7® Em relacdo as mesmas finalidades a que se refere o ar- tigo 6° e imdistintamente para todas as obras a que se referem os artigos 12, 2 ¢ 3, admitem-se as seguintes operagbes ou reintegracbes: 1. adi tamentos de partes acessdrias de fungao sustentante ¢ reintegracd es de pequenas partes verificadas historicamente, execu- tadas, se for 0 caso, com clara determinagio do contorno das reinte- gragdes, ou com adogao de material diferenciado, embora harméni- co, facilmenate distingufvel ao olhar, particularmente nos pontos de enlace com as partes antigas e, além disso, com marcas ¢ datas onde for possivel; 2. lim peza de pinturas e esculturas, que jamais deverd alean- Gar o estrate da cor, respeitados a patina e eventuais vernizes antigos; para todas as outras categorias de obras, nunca deverd chegar 4 su- perficie nua da matéria de que sio constitufdas as obras; pi obras que se tiverem fragmentado, assentamento de obras parcialmente mastilose”, documentada com seguranca, recomposicao de perdidas, reconstruindo as lacunas de pouca identidade com técnica claramente distingutvel ao olhar ou com zonas neutras aplicadas em nivel difere re do das partes originais, ou deixando A vista o suports 149 150 4, modificagdes ou insergdes de cardter sustentante e de con- | servagio da estrutura interna ou no substrato ou suporte, desde que, uma vez realizada a operagao, na aparéncia da obra vista da superfi- cie nao resulte alterag3o nem cromatica nem de matéria; 5. nova ambientago ou instalacéo da obra, quando j4 nao existi- rem ou houverem sido destrufdas a ambientagao ou instalasao tradicio- nais, ou quando as condigdes de conservagéo exigitem sua transferéncia, Art.8? — Qualquer intervengio na obra ou em seu entorno, pax ra os efeitos do disposto no artigo 4%, deve ser realizada de tal modo com tais técnicas e materiais que fique assegurado que, no futuro, no ficaré inviabilizada outra eventual intervengao para salvaguarda ou restauragio. Além disso, qualquer intervencao deve ser previa- mente estudada e justificada por escrito (tiltimo pardgrafo do artigo 52) e deverd ser organizado um didrio de seu desenvolvimento, aque se anexard a documentagao fotogréfica de antes, durante ¢ depois da intervengao. Serio documentadas, ainda, todas as eventuais pesqui- sas ¢ andlises realizadas com o auxilio da fisica, da quimica, da mi- crobiologia e de outras ciéncias. De toda essa documentagao haverd cépia no arquivo da superintendéncia competente e outta cépia se- r4 enviada ao Instituto Central de Restauragao. No caso das limpezas, se possivel em lugar préximo 4 zona inter- ventiva, deverd ser deixado um testemunho do estado anterior 4 ope- rao, enquanto que no caso das adicées, as partes climinadas deve- rao, sempre que possivel, ser conservadas ou documentadas em um arquivo-depésito especial das superintendéncias competentes. Art.92 A utilizagao de novos procedimentos de restauragio e de novos materiais em relacio aos procedimentos e matérias de uso vigente ou de algum modo accitos, deverd ser autorizada pelo Ministro da Instrugao Publica, de acordo com parecer justificado do Instituto Central de Restauragio, a quem também competird atuar junto ao mesmo ministério no que disser respeito a desaconses lhar materiais ou métodos antiquados, nocivos ou niio comprova> dos, a sugerir novos métodos ¢ ao uso de ee a flats as pesquisas que se devam prays com equij ‘Art.10. As medidas destinadas a preservar dos agentes conta- minadores ou das variagGes atmosféricas, térmicas ou higrométricas as obras a que se referem os artigos 12, 28 ¢ 38 nao deverao alterar sensivelmente 0 aspecto da matéria e a cor das superficies, nem exi- gir modificagdes substanciais e permanentes do ambiente em que as obras tiverem sido transmitidas historicamente. Se, contudo, forem indispensdveis modificages de tal género, com vistas ao fim supe- rior de sua conservagao, essas modificagées deverao ser realizadas de modo que evitem qualquer diivida sobre a época em que foram em- preendidas e de maneira mais discreta possivel. Art.11. Os métodos especificos utilizados como procedimen- to de restauragao especialmente para monumentos arquitetdnicos, pictéricos, esculturais, para os conjuntos histéricos e, até mesmo, para a realizagio de escavages, estao especificados nos anexos A, B, Ce D das presentes instrugGes. Art.12. Nos casos em que houver diivida sobre a atribuigéo das competéncias técnicas, ou em que surgitem conflitos a respeito do assunto, decidird o ministro, a partir dos pareceres dos superin- tendentes ou chefes de instituigées interessados, ouvido o Conselho Superior de Antigitidades e Belas Artes. ANEXO A Instrugées para a salvaguarda ea restauragio dos objetos arqueolégicos Além das regras gerais contidas nos artigos da Carta do Restauro, énecessério, no campo da arqueologia, ter presentes exigéncias par- ticulares relativas & salvaguarda do subsolo arqueolégico € A conser yagiio e restauracio dos achados durante as prospecgGes terrestres € subaquaticas relacionadas no artigo 3%, © problema de maior importincia da salvaguarda do subsolo arqueoldgico estd necessariamente ligado & série de disposigées & leis referentes & sspronEl a A aplicagto de weulos especiais, & 151

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