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Crupe Viral e Bacteriano
vias aéreas, por ser esta região de fácil colapso, A doença também pode ser classificada de
tornando-as letais. acordo com o grau de extensão do acometimento
das vias aéreas pelos vírus respiratórios. Assim,
se a doença se restringir à laringe, denomina-se
Vias aéreas glótica e subglótica
laringite, sendo caracterizada principalmente
As vias aéreas glótica e subglótica estendem- por rouquidão e tosse ladrante. Se a inflamação
-se das cordas vocais à traqueia, antes de entrar comprometer laringe e traqueia, é denominada
na cavidade torácica. Esta parte da via aérea não laringotraqueíte, com sintomas característicos
sofre tanto colapso quanto a via aérea supra- de síndrome do crupe. Se houver comprometi-
glótica, porque é sustentada por cartilagem na mento de bronquíolos associado ao de laringe
maior parte de seu trajeto: cartilagem cricoide e e traqueia, além dos sintomas de crupe, haverá
anéis cartilaginosos da traqueia. tempo expiratório prolongado e sibilos, caracte-
rizando laringotraqueobronquite.
A causa mais comum de obstrução desta
região é a síndrome do crupe. A inflamação ou Quando a criança com crupe tem quadros
obstrução da glote gera rouquidão, devido ao recorrentes da doença, outras etiologias devem
comprometimento das cordas vocais, e não aba- ser afastadas, como refuxo gastroesofágico, pa-
famento da voz, como nas doenças da região su- pilomatose recorrente de laringe, estenose la-
praglótica. O estridor ocorre durante a inspira- ringotraqueal e anormalidades congênitas.
ção, ou durante a inspiração e a expiração.
Etiologia e epidemiologia
Via aérea intratorácica
Laringotraqueobronquite é a causa mais co-
A via aérea intratorácica compreende a tra- mum de obstrução de vias aéreas superiores em
queia alojada dentro da cavidade torácica e os crianças, respondendo por 90% dos casos de
brônquios principais. Obstrução desta porção da estridor. A doença responde por 1,5% a 6% das
via aérea gera estridor mais audível durante a doenças do trato respiratório na infância.
expiração. Na expiração a pressão intratorácica
A etiologia viral de crupe é a mais comum,
aumenta e causa o colapso da via aérea intrato-
sendo os principais agentes os vírus parain-
rácica. Na inspiração, a via aérea intratorácica
fluenza (tipos 1,2 e 3), influenza A e B e vírus
tende a expandir-se, diminuindo a ausculta dos
respiratório sincicial. Em crianças maiores de
ruídos respiratórios.
5 anos tem importância etiológica Mycoplasma
pneumoniae.
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mococo, grupo A e não grupo A beta hemolítico, goscopia, a presença de exsudato purulento e
alfa hemolítico e viridans), Moraxella catarrhalis malcheiroso bloqueando a luz da traqueia, de
e Haemophilus sp. Há evidência de coinfecção vi- fácil remoção e sem hemorragia. As culturas ob-
ral, sendo isolados vírus influenza A e B, parain- tidas deste material revelam os microrganismos.
fluenza, enterovírus, VRS e sarampo. As culturas Os resultados de hemocultura são, geralmente,
mostram flora bacteriana mista e coinfecção viral. negativos.
Patogênese Tratamento
Há infecção bacteriana direta da mucosa tra- Se há suspeita de traqueíte bacteriana, o pa-
queal, causando processo inflamatório difuso da ciente deve ser admitido em UTI. É recomendado
laringe, traqueia e brônquios, com produção de realizar a intubação traqueal em centro cirúrgico,
exsudato mucopurulento e formação de mem- com endoscopia. O procedimento promove diag-
branas semiaderentes dentro da traqueia. Estas nóstico e tratamento da traqueíte bacteriana e
membranas contêm neutrófilos e restos celula- permite coleta de secreção para análise micro-
res responsáveis pela obstrução das vias aéreas. biológica. A intubação geralmente é necessária
Sugere-se que a infecção viral pregressa favore- por 3 a 7 dias.
ça a colonização bacteriana da traqueia.
A taxa de internação em UTI é de 94%, de
intubação 83% e em 28% dos casos há compli-
Apresentação clínica
cações graves. O cuidado com a cânula traqueal
A doença combina manifestações clínicas de deve ser meticuloso, já que a obstrução desta
crupe viral e epiglotite. Após o pródromo viral pelas membranas é comum. Deve ser adminis-
breve há aparecimento de tosse ladrante, rou- trado antibiótico endovenoso para cobertura dos
quidão, estridor inspiratório e insuficiência res- principais agentes, com o uso de cefalosporina
piratória. A estes sinais de síndrome do crupe de segunda (Cefuroxime) ou de terceira gerações
grave, associam-se febre alta (superior a 38,5°C) (Ceftriaxone) como drogas únicas. Não há lugar
e toxemia. O paciente com traqueíte bacteriana para uso de corticosteroides ou epinefrina ina-
tem sintomas respiratórios mais prolongados latória.
que na epiglotite. O desconforto respiratório
As complicações mais frequentes são falên-
pode progredir rapidamente, com obstrução to-
cia respiratória, obstrução das vias aéreas, pneu-
tal da via aérea. Não há resposta terapêutica ao
motórax e síndrome do choque tóxico. Esses
tratamento inicial com epinefrina inalatória e
pacientes frequentemente têm outros sítios de
corticosteroides, ajudando a diferenciar o crupe
infecção associados.
bacteriano do viral.
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cial da traqueia extratorácica. A pressão intra- abrupto da pressão intersticial forçará a entrada
traqueal subatmosférica durante a inspiração de líquido para dentro dos alvéolos antes que o
causa estreitamento da via aérea extratorácica líquido seja absorvido pelas veias ou vasos linfá-
parcialmente obstruída. Assim, o fluxo de ar ticos pulmonares, gerando edema pulmonar.
inspiratório é mais prejudicado que o expira-
tório, resultando em pressão inspiratória intra-
traqueal e pressões médias negativas de vias Conclusão
aéreas durante o esforço respiratório. A pressão
pleural fica mais negativa que a pressão nas
vias aéreas. A pressão negativa se transmite
Na abordagem inicial das obstruções das
vias aéreas superiores a história e o exame físico
ao interstício pulmonar reduzindo a pressão ao
são fundamentais e, associados à faixa etária da
redor dos vasos. Um aumento no gradiente de
criança, podem direcionar o diagnóstico (Tabe-
pressão hidrostática gera acúmulo de água no
la 3). A oximetria de pulso é muito importante
interstício pulmonar.
quando está alterada, porém quando está nor-
A intubação da traqueia elimina a obstru- mal não previne o risco de falência respiratória.
ção inspiratória, prevenindo grandes mudanças A radiografia cervical normal não exclui aspira-
da pressão pleural negativa. A pressão intersti- ção de corpo estranho, supraglotite e a alterada
cial pulmonar imediatamente aumenta, como não diagnostica crupe, e não deve ser realizada
resultado da pressão pleural maior. Se houver em crianças com obstrução das vias aéreas su-
acúmulo de líquido no interstício, esse aumento periores.
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