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"Meu nome, pois, é Ninguém;

É sempre assim que me chamam

Os que me odeiam ou amam,

Todos que a mim vão e vem:

Agora sabes também.

Boa noite, monstro fero!

Até amanhã, assim espero!

E obrigado pelo prazo,

Por adiar meu ocaso,

Por este dom tão sincero."

Isto Odisseu assim disse.

E deitou-se Polifemo

Embriagado ao extremo...

Desperta então a tolice,

Como se escura caísse,

E cega os olhos do intelecto

Dos homens de ânimo reto,

Mas tão ansiosos e afoitos

Por nem pensar nos efeitos

Da morte de um monstro abjeto.

"Silêncio, não o matemos!"

Impera Odisseu aos homens


Que as almas têm nos abdomens.

"Nós somos muito pequenos

Para que a pedra rolemos!

Já tenho feito um bom plano!"

Cheio de orgulho de humano

Odisseu se põe a agir,

E os homens põem-se a seguir

As ideias do paisano.

Pegam num tronco comprido

E dele afiam a ponta

Queimada com fogo, e se apronta

A turba de ânimo erguido.

Silêncio! nem o balido

Se ouve de ovelhas, pois dorme

Seu pastor feroz e enorme

Que ronca, vomita e sonha.

Oh, que imagem medonha,

Que criatura disforme

É o Ciclope de um só olho!

Este filho de Netuno,

De ânimo atroz e reiuno,

Que usa pedra de ferrolho,


Que come homens crus, sem molho…

Quem diria que é um pastor?

Mais parece-se ao senhor

Destas trevas infernais

Cujos ataques brutais

Trazem a peste e o terror.

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