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A UTILIZAÇÃO DA PSICOEDUCAÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO-

APRENDIZAGEM SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADE NO ENSINO


FUNDAMENTAL

João Paulo Rocha Ribeiro1

Resumo: Este estudo objetivou compreender e discutir como na atualidade os temas gênero e
sexualidade são abordados por professoras e professores, com ênfase no ensino fundamental,
segunda fase – que compreende do 6º ao 9º ano. Através das discussões, foi possível formular
estratégias para se abordar tais temas em sala de aula e construir formas – sejam elas teóricas,
técnicas ou lúdicas de se discutir e desmistificar as sexualidades, trabalhando com a técnica de
psicoeducação da terapia cognitivo-comportamental, abordagem da psicologia. Foi realizada uma
revisão de bibliografias (artigos, livros e alguns meios eletrônicos) para fomentar e contribuir com
as discussões. A partir das análises, foi possível concluir uma possibilidade de intervenção pelos
professores com seus alunos, mas se percebe haver grandes barreiras, estas que devem ser
quebradas através da transmissão de conhecimentos diversificados e desmistificados, a partir de um
processo de formação mais crítico e discussões saudáveis, com possibilidades de desenvolver um
senso autocrítico na criança ou adolescente.

Palavras-chave: Gênero. Sexualidade. Escola. Ensino Fundamental. Psicoeducação.

Este trabalho busca compreender e discutir como na atualidade os temas gênero, sexualidade
e diversidade sexual são abordados por educadoras/es – com ênfase no ensino fundamental, visto
que é nesta fase da vida da criança/adolescente que surgem as modificações corporais, desperta-se
então o desejo sexual, se estabelecem as relações de orientação/condição sexual (homossexual ou
heterossexual ou bissexual) e que o sujeito se descobre e se constrói – se adequando ou não ao seu
corpo biológico (cisgênero ou transgênero).
A partir das revisões bibliográficas, será investigada a utilização da técnica de
Psicoeducação – ferramenta da abordagem da Terapia Cognitivo-Comportamental – para mediar e
fomentar possibilidades de discussão na prática de ensino-aprendizagem dentro da sala de aula para
se trabalhar temas como gênero e sexualidade.
Compreendendo o contexto do ensino e o que ele pode produzir na educação da criança e
da/do adolescente, em tempos onde o ataque as minorias está mais evidente do que nunca e que a
política nacional em sua grande maioria tende a seguir rumo ao conservadorismo, é clara a

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Psicólogo, Especializando em Infância e Direitos Humanos pela Universidade Federal de Goiás – UFG & em
Psicologia Hospitalar e da Saúde pela Universidade Cândido Mendes – UCAM, Especialista em Terapia Cognitivo-
Comportamental pelo Centro Universitário Amparense – UNIFIA. Psicólogo Coordenador do Núcleo de Apoio à Saúde
da Família (NASF) da cidade de Professor Jamil/GO e Psicólogo Social do Centro de Referência de Assistência Social
(CRAS) da cidade de Cromínia/GO.

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percepção da necessidade da qualidade de conhecimento e de ensino que gere senso crítico e
estimulem as crianças e as/os adolescentes a pensarem no bom convivo social, que preze pela
diversidade e que respeite o limite e as escolhas do outro (MAAR, 2003; RIBEIRO et al., 2004).
Nas discussões que fomentaram a construção do Plano Nacional de Educação – PNE de
2014-2024 (BRASIL, 2014), políticos conservadores polemizaram e pressionaram a retirada de
termos como ‘gênero’, ‘sexualidade’, ‘diversidade sexual’, ‘mulheres’, dentre outros, e isso é
preocupante, uma vez que gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais não estão contemplados
pelo PNE, deve-se então buscar outras maneiras de se abordar e levar tais temas para a sala de aula.
Sendo abordados ou não pelo PNE, tal população existe e está inserida no contexto da sala de aula,
e se não há um respaldo ao/a educador/a, estes devem se preparar de alguma forma para não
continuar um processo de exclusão desta população.
Ribeiro et al. (2004) remetem ao conceito de que trazendo essa discussão para dentro da sala
de aula, possibilitaria a produção de valores para se conviver com as diferenças e a quebra de
julgamentos machistas. Altmann (2003), também traz a ideia que de a escola e a sala de aula tem
sido apontadas como um importante espaço de intervenção e discussão sobre a sexualidade e
relações de gênero. Então, a possibilidade de formar jovens autocríticos, que respeitem a
individualidade e os direitos de outras pessoas é estimular essa discussão desde sua formação
escolar.
Apesar das oposições em se reconhecer a diversidade das sexualidades e de gêneros como
dimensões fundamentais das relações humanas e sociais, existem algumas políticas que passaram a
incorporar essa diversidade, além disso, elas têm buscado inserir a educação básica no campo da
educação em sexualidade, são elas: os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN de 1997 e 1999, o
Saúde e Prevenção nas Escolas – SPE de 2003, o Programa Brasil sem Homofobia – Programa de
Combate à Violência e à Discriminação contra LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transgêneros) e de Promoção da Cidadania Homossexual de 2004 e o Gênero e Diversidade na
Escola – GDE de 2006 (UNESCO, 2014).
Maar (2003) postula que quando a educação é voltada para a emancipação, que produza
questionamentos críticos e uma autorreflexão, ela evitaria assim a barbárie, o que favoreceria a
liberdade individual das pessoas, fazendo assim diminuir as chances do preconceito. Neste caso,
quando se há espaços na escola para a discussão e orientação sobre as possibilidades sexuais e há o
empedramento dessa criança/adolescente sobre os seus corpos, sobre suas escolhas e que favoreça a

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quebra de tabus e desmistificação das sexualidades, há então a diminuição do preconceito
(ALTMANN, 2003).
Neste momento de educação sexual, a escola se adequa a um grupo social influente na vida
dos adolescentes. Como o diálogo sobre sexualidade em casa é difícil, esta educação sexual pode
vir através da escola, uma vez que esta é o primeiro contato social extrafamiliar. Assim, todas as
informações obtidas pela criança e pela/pelo adolescente, não só com amigos como também na
mídia, sejam discutidas em um espaço aberto a questionamentos críticos, a resoluções de dúvidas e
esclarecimentos (BRASIL et al., 2000).
Mesmo com toda a adversidade, essa população existe no contexto escolar e deve ser
respeitada e não excluída. Louro et al. (2010) evidencia que muitas vezes professoras e professores
se equivocam em achar que não encarar e não trabalhar a sexualidade em sala de aula, estes
“problemas” ficariam fora da escola, o que remete ao senso comum de que se não é falado, não
existe, ou mesmo achar que esconder debaixo dos panos algo que é considerado um tabu, não
incitaria a prática. Pensamentos retrógrados como estes impedem o bom desenvolvimento da
criança/adolescente, faz com que eles produzam estereótipos, preconceitos e mais violências contra
a população LGBT, mulheres e outras minorias fora do padrão heteronormativo.
Quando ocorre a educação sexual na escola, o aluno poderá desmistificar e desestabilizar as
informações tidas como únicas verdades que infelizmente ainda existem em nossa sociedade,
poderá também a partir disso compreender as várias possibilidades sexuais, não somente o
binarismo sexual. Discutir a diversidade sexual é de suma importância, pois essa discussão
possibilita o questionando desse padrão e o que ele [re]produz sobre nosso comportamento e como
influencia nosso modo de viver e ser (FURLANI, 2010).
Então de acordo com Altmann (2003), a escola sendo o lugar em que os adolescentes
passam a maior parte do seu tempo, cria-se então a possibilidade de ela ser um importante espaço de
intervenção sobre as temáticas, um espaço aberto a diálogos saudáveis e construtivos.

Terapia cognitivo-comportamental e a psicoeducação


Cabe trazer em um breve resumo que a Terapia Cognitivo-Comportamental é uma
abordagem da psicologia muito flexível e tem sido utilizada em vários setores da sociedade por essa
versatilidade, seja na clínica, na área da saúde, na área social, no esporte, nas organizações e no
trabalho, e, como também, na educação, fazendo-a alcançar as metas propostas (SERRA, [201-?]).

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Pela versatilidade da abordagem, há várias técnicas utilizadas dentro da TCC, uma delas é a
Psicoeducação. No contexto da clínica, a psicoeducação é uma ferramenta que, usada pelo
psicólogo, possibilita simplificar e expandir o conhecimento sobre a queixa do paciente.
Aprendendo sobre seu adoecimento e entendendo esse processo, permitirá ao paciente evitar seus
sintomas e/ou crises, assim, possibilitando cuidar melhor de si (BROTTO, [201-?]).
Na definição de Glick et al. (1994, p. 104), "psicoeducação como uma técnica na prática
clínica é a administração sistemática, pelo médico, de informações sobre sintomas, etiologia,
tratamento e curso da doença, com os objetivos de aumentar o conhecimento e modificar
comportamentos”. Em resumo, a psicoeducação é a explicação de um determinado tema de forma a
ensinar ao paciente (ou outro público) a compreender todo o processo ao qual foi proposto.
A psicoeducação não se restringe somente a clínica, ela pode ser aplicada de diversas
maneiras e em diversas áreas. Segundo Brotto (201?), várias são as possibilidades, pode ser
utilizada através de imagens (textos, slides, fotos, flyers), através de artifícios auditivos (áudios,
músicas) ou audiovisuais (filmes, desenhos, documentários). Cabe a quem a utilizar descobrir qual
o perfil e o que se adéqua ao público, a fim de aplicar da melhor maneira possível à explicação da
temática.
Após a execução da técnica, é preciso que quem tenha sido submetido a ela, consiga realizar
uma difusão do conhecimento obtido para todas as áreas de sua vida, produzindo uma manutenção
dos seus ganhos e conhecimentos, pois assim a eficácia do que foi proposto atingirá o ideal.

Gênero e sexualidade – definições e conceitos


Gênero e sexualidade possuem conceitos que podem ser abordados de várias formas e que
possuem várias definições. Butler conceitua gênero como sendo um conjunto de atributos – em
constante transformação – que visibilizam a pessoa na sociedade. É a forma com que ela se vê
diante do mundo, como se comporta, como se veste, se expressa e se relaciona (PIMENTA, 2015).
Louro (2003) postula que diversos autores trabalham com a definição de que as construções
de gênero dependem não somente de fatores biológicos, mas de diversos valores e normas de cada
cultura, assim fazendo parte desse processo, fazer-se homem ou mulher, depende dos
comportamentos, marcas, gestos, preferências, gostos e desgostos, e vivências.
Para uma melhor compreensão das temáticas trabalhadas nesse estudo, se faz necessário
realizar um esclarecimento de alguns termos. Para facilitar a compreensão, Pimenta (2015) divide

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as explicações de gênero em quatro tópicos, sendo: a) Identidade de Gênero, b) Expressão de
Gênero, c) Sexo Biológico, d) Orientação Sexual,
a) Identidade de Gênero se caracteriza pela forma como uma pessoa se vê na sua cabeça, como
pensa sobre ela mesma. É a química que compõe você e como você interpreta isso;
b) Expressão de Gênero é como a pessoa demonstra seu gênero (baseado em papéis de gênero
tradicionais: masculinidade e feminilidade) através da forma como ela age, veste, se
comporta e interage;
c) Sexo Biológico se refere às características mensuráveis do indivíduo como órgãos,
hormônios e cromossomos, a biologia do corpo da pessoa (vagina, ovário e pênis,
testículos);
d) Orientação Sexual refere-se por quem a pessoa é fisicamente e emocionalmente atraída,
baseado na relação entre o seu sexo/gênero e o da outra pessoa: homossexual, heterossexual
ou bissexual.
Já a sexualidade em seu contexto global se define como sendo um fenômeno da existência
humana, portanto, presente em todas as pessoas e abrangendo também um conjunto de atitudes e de
significados atribuídos por cada pessoa. Saber o significado da sexualidade implica em
compreender algo que abriga aquilo que somos, o nosso ser, único, que se relaciona com o outro,
por intermédio do corpo (GRASSI, 1996; FREITAS e DIAS, 2010).

Discutindo gênero e sexualidade na sala de aula


A importância de se discutir e trabalhar com a temática junto a crianças e adolescentes, se
dá, pois é nessa fase em que ocorre uma série de transformações biológicas e psicológicas, tais
temas devem ser abordados, desmistificados e esclarecidos, assim, como estão em sua formação,
adquiram conhecimento e se eximam de preconceitos. Osório (1992) aponta que a adolescência tem
características bastante peculiares conforme o ambiente sociocultural do indivíduo, e a sexualidade
se insere nesse processo como um aspecto que estrutura a identidade do adolescente.
Essa possibilidade de discussão na escola é citada por Brasil et al. (2000) como sendo muito
rica, pois todas as informações alcançadas pela criança ou adolescente, quando obtidas por meios
não tão confiáveis (como internet, conversa com amigos), sejam discutidas em um espaço
científico, aberto a críticas e a resoluções de dúvidas.
Outro meio possível para levar uma orientação sobre sexualidades para dentro da sala de
aula é o PSE (Programa Saúde na Escola). Segundo Mano et al. (2009), o PSE constitui uma

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proposta com avanços efetivos no campo da educação em saúde na escola e na oferta de serviços à
população adolescente. Este programa favorece o debate sobre o tema dentro do contexto escolar,
possibilitando ações voltadas à promoção da saúde sexual, fortalecendo também a participação
social destes/as adolescentes, propiciando um desenvolvimento de uma vida sadia.
Uma ideia errônea evidenciada por Louro et al. (2010) é a de que professoras e professores
se equivocam em achar que não encarar e trabalhar a sexualidade em sala de aula, estes
“problemas” ficariam fora da escola, o que remete ao senso comum de que se não é falado, não
existe, ou mesmo achar que esconder debaixo dos panos algo que é considerado um tabu, não
incitaria a prática.
Pensamentos retrógrados como estes impedem o bom desenvolvimento da
criança/adolescente, faz com que eles produzam estereótipos e preconceitos, favorecendo a
exclusão de pessoas LGBT’s e gerando bullying, Furlani (2010) postula que na educação sexual o
seu principal papel é
Desestabilizar as “verdades únicas”, os restritos modelos hegemônicos da sexualidade
normal, mostrando o jogo de poder e interesse envolvidos na intencionalidade de sua
construção; e, depois, apresentar as várias possibilidades sexuais presentes no social, na
cultura e na política da vida humana, problematizando o modo como são significadas e
como produzem seus efeitos sobre a existência das pessoas (p. 69).

É significativo que a educação sexual deve ser abordada pela escola, em conjunto com a
família, assim envolverá vários aspectos da evolução psíquica. A escola considera que a família por
vezes está alheia à realidade vivenciada dos adolescentes, delegando exclusivamente ao ambiente
escolar a formação de caráter. É certo que a escola possui parcela significativa para a formação
moral, ética e social, mas ainda é da família a maior responsabilidade (STEIGENBERG, 2007).
Segundo os autores Chaves et al. (2004) o interesse sobre este assunto no contexto escolar reforça a
característica multidimensional do processo ensino aprendizagem.
Cabe ressaltar que a/o profissional que abordará este tema seja desprovido de preconceitos e
prejulgamentos, agindo como intermediário nas discussões sobre a sexualidade, construindo com as
crianças ou com os adolescentes, algumas alternativas e opiniões sobre o tema citado (FREITAS e
DIAS, 2010). A forma como esse profissional – professora/professor – lida com seus alunos pode
favorecer o desenvolvimento de aspectos importantes para a promoção ou a ampliação de
habilidades sociais nos mesmos, mas quando tratado algum tema de maneira errônea ou
equivocada, pode propiciar a manifestação de comportamentos-problema no aluno, como
[pré]conceitos e [pré]julgamentos (MARIANO et al., 2011).

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Estratégias para a prática
Para abordar os temas em sala de aula, não é necessário que o/a professor/a tenham domínio
sobre o conteúdo, porém, devem possuir confiança e conformo para se trabalhar com tais temáticas,
pois se trata de um processo de construção e aprofundamento, pautados na perspectiva dos direitos
humanos (UNESCO, 2014).
Em alguns estudos é apontado que uma boa maneira de se trabalhar os temas em sala de aula
é de forma lúdica e simplificada, tratando os assuntos sem taxação, sem preconceitos e sem tabus. O
estudo de Epstein e Johnson (2000) evidencia o preconceito arraigado que alguns/as professores/as
tem em trabalhar o tema em sala de aula, pois, de acordo com tais profissionais, estariam
despertando precocemente as práticas sexuais. Porém, pesquisas realizadas pela OMS (Organização
Mundial de Saúde) postulam o contrário, quanto mais cedo se trabalha temas ligados à sexualidade,
o trabalho realizado poderá contribuir com a aprendizagem desta criança, uma vez que estas
compreenderiam melhor os papeis de gênero, as diferentes sexualidades, a prevenção de gravidez
indesejada, a proteção contra DST’s [IST’s] e AIDS, fomentariam também comportamentos mais
responsáveis e sem estimular as práticas sexuais – precocemente (UNAIDS, 1999).
Furlani (2010) expõe que uma forma assertiva para se trabalhar o tema sexualidade em sala
de aula não é através de eventos pontuais ou esporádicos, mas sim em forma de educação
continuada, através de processos permanentes e rotineiros, podendo estar ligados e inseridos nos
conteúdos escolares – trabalhando com a interdisciplinaridade. Furlani ainda propõe que trabalhar
as relações de gênero, objetiva desconstruir padrões rígidos e fixos que remetem,
preconceituosamente, a sexualidade com o caráter das pessoas.
No quadro abaixo é apresentado um exemplo claro da utilização da psicoeducação com
relação à temática, o trabalho foi apresentado em uma conferência na Universidade do Estado do
Rio de Janeiro – UERJ por Ribeiro (2016):

Quadro 01: Exemplo da utilização da psicoeducação trabalhando gênero e sexualidade


Em uma atividade que apresentava sexualidade e gênero a estudantes do ensino
fundamental, desenvolvido em uma escola pública estadual no interior de Goiás, com o intuito de
abordar as diferentes sexualidades, a identidade de gênero e suas possibilidades, expressões de
gênero, orientação sexual, sexo biológico, o respeito mútuo entre as pessoas, o empoderamento
do corpo da menina/mulher e a autonomia destas crianças/adolescentes em serem respeitados
quando não pertencerem ao padrão heteronormativo (homem/hetero/cisgênero).
Foi proposto trabalhar de forma dinâmica e lúdica a fim de despertar interesse nas
crianças/adolescentes sobre a temática, além de algumas teorias básicas sobre o que é
sexualidade, foi apresentado um vídeo do desenho animado Flap Jack que transmite essa

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sensação de não pertencimento ao “padrão” cis-heteronormativo, demonstra que o corpo nem
sempre estará em conformidade com aquilo que realmente somos. Foi realizada também uma
atividade que consistia em debater a possibilidade de igualdade entre homens e mulheres – em
um quadro foi solicitado características de cada sexo, após concluir, foi trocado os papeis de
homem e mulher e demonstrado que fora as características biológicas (pênis, vagina, seios), os
dois sexos podem tanto possuir características um do outro sem taxação.
Através das oficinas realizadas percebeu-se como é indispensável se discutir com
educadoras/es temas como estes, a muitas barreiras a serem quebradas, grades curriculares em
universidades extremamente fechadas e arcaicas, arraigadas no princípio heteronormativo, não há
qualquer menção das diversidades possíveis e como abordá-las, percebe-se que educadores não
estão preparados para abordar temas com alunos, e quando não abordam, mas em suas salas há
um LGBT, não sabem como lidar, principalmente se tratando de um gay afeminado, ou de uma
lésbica masculina, ou ainda um transgênero.
É indispensável haver uma preparação destes profissionais, é necessário, ações para
desmistificar tabus, tratar com simplicidade e afirmatividade este público, deve estes estar
preparados para abrir espaços a esta população, e não reproduzir [pré]conceitos e “achismos”, em
muitas vezes embasados na religião. A pessoa em si pode ter suas convicções, mas a/o
profissional professor/a deve se eximis de concepções errôneas e/ou transgressoras, para não
perpetuar o ciclo da exclusão.

O relato de experiência apresentado foi proposto para se trabalhar com alunos, porém, com
os resultados do autor, percebe-se que é indispensável se trabalhar com as/os professoras/es
também, visto que ao final da atividade, houveram relatos do tipo: “Qual a necessidade de se incitar
a prática sexual?”, “Não vejo necessidade de se discutir isso na escola, isso é dever dos pais.”,
“Aqui não tem nenhum alugo gay ou trans, não precisaria disso.”. Essas falas apenas reforçam o
que Louro et al. (2010) pontuaram, que o preconceito às vezes está arraigado nos próprios
professores em achar que não discutir o tema, os ditos ‘problemas’ ficariam fora da sala de aula.
Como dito, trabalhar com temas considerados tabus exige do facilitador certa flexibilização.
Utilizando a psicoeducação, cabe ao profissional produzir um roteiro das principais informações a
serem repassadas, como também de algumas atividades mais lúdicas e que sejam de fácil
entendimento.

Conclusão
É evidente o descaso que determinados assuntos e temas sofrem diante da população, são
taxados como tabus e grupos minoritários sofrem sem amparo e sem suporte, sem alguém que lhe
forneça um acolhimento e diga que ‘vai ficar tudo bem’.
Com as discussões, percebe-se a necessidade urgente de se discutir as diferenças,
principalmente entre os próprios educadores que em muitas vezes estão reproduzindo discursos de

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ódio (talvez por não conhecimento do assunto ou mesmo por implicações religiosas) para então se
evitar o ódio e exclusão.
Os LGBT’s compõem um grupo populacional que, diariamente, tem seu direito fundamental
à educação violada, com altas taxas de evasão escolar. Em razão da total invisibilidade dada ao
problema, órgãos governamentais ainda não dispõem de indicadores que possam medir o tamanho
estatístico dessa exclusão escolar (VIEIRA et al., 2015). Isso reforça mais ainda a necessidade
urgente em se abrir espaços na sala de aula para falar das diferenças, é preciso haver respeito e
aceitação com o diferente.
Outro pronto importante que deve ser considerado é que a escola é o lugar em que as
crianças e os adolescentes passam a maior parte do seu tempo depois de suas casas, por isso, ela é
apontada como um importante espaço de intervenção sobre a temática sexualidade e a diversidade e
deve ser considerada (ALTMANN, 2003).
A utilização da psicoeducação pode produzir bons resultados em sala de aula, cabe o
profissional que a utilizará, se estruturar e preparar os conteúdos pautados no conhecimento
científico e transmiti-los de forma dinâmica e não rígida, possibilitando assim uma interação entre o
profissional e o público-alvo.
Os tempos estão mudando, mas ainda há um caminho longo a se percorrer, cabe desde agora
cada um fazer a sua parte, mesmo que tal realidade esteja longe de si. Compete a cada um ajudar no
que puder para desconstruir esse padrão arraigado em nossa sociedade e construir novos horizontes
para nossas crianças.

Referências

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The use of psychoeducation in the teaching-learning process on gender and sexuality in


elementary education

Astract: This study aimed to understand and discuss how currently gender and sexuality are
addressed by teachers and teachers, with emphasis on elementary education, second phase - which
comprises the 6th to 9th grade. Through the discussions, it was possible to formulate strategies to
address such topics in the classroom and to construct forms - be they theoretical, technical or
playful to discuss and demystify sexualities, working with the psychoeducation technique of
cognitive-behavioral therapy, approach to psychology. A review of bibliographies (articles, books
and some electronic media) was carried out to encourage and contribute to the discussions. From
the analysis, it was possible to conclude a possibility of intervention by the teachers with their
students, but if they perceive there are great barriers, which must be broken through the
transmission of diversified and demystified knowledge, from a more critical formation process and
discussions Healthy, with possibilities to develop a self-critical sense in the child or adolescent.
Keywords: Gender. Sexuality. School. Elementary School. Psychoeducation.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

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