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Escola de Capacitação Bíblica

Cursos bíblicos para os obreiros da Seara de Cristo

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Teologia Própria
A
(A Doutrina de Deus)
ECB 1

Escola de Capacitação Bíblica

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Editor Geral: Jair Alves de Sousa


Obs. Fundador Presidente da ECB.
ECB – Escola de Capacitação Bíblica
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Disciplina: Teologia Própria
ECB 2

Escola de Capacitação Bíblica

SUMÁRIO
Introdução.................................................................................................. 3
Capítulo 1 - Quem é Deus ........................................................................... 4
Capítulo 2 - Deus não é uma energia impessoal ....................................... 12
Capítulo 3 - Provas da Existência de Deus ................................................ 16
Capítulo 4 - A Existência de Deus negada. ................................................ 23
Capítulo 5 - Tomás de Aquino e a existência de Deus ............................... 27
Capítulo 6 - Evidências do Criador na obra criada .................................... 30
Capítulo 7 - Nomes de Deus ..................................................................... 36
Capítulo 8 - Revelação e Conhecimento de Deus ..................................... 43
Capítulo 9 - Os atributos de Deus ............................................................ 48
Capítulo 10 - As Obras de Deus ............................................................... 96
Capítulo 11 - A Soberania de Deus ........................................................ 107
Capítulo 12 - A Ira de Deus .................................................................... 116
Capítulo 13 – A Dignidade de Deus ........................................................ 125
Capítulo 14 - A Graça de Deus ............................................................... 129
Capítulo 15 - A Providência Divina ......................................................... 140
Capítulo 16 - Ideias sobre Deus .............................................................. 147
Conclusão ............................................................................................... 158
Bibliografia ............................................................................................. 160
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Introdução
Teologia (da palavra grega Theós — Deus e logos — ciência,
tratado, isto é, "tratado sobre Deus") uma exposição da ciência de
Deus e as relações entre Deus e o Universo. Deus existe. Ele criou
os céus e a terra, e o homem conforme a sua imagem (Gn 1.26).
Deus quer ter relações com o homem. O homem, criado por Deus,
tem condições de ter contato com Ele. A Teologia é a ciência que
tem por objetivo fazer-nos conhecer a pessoa de Deus, isto é, Deus
Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, e a sua vontade para com os
homens.
A Doutrina de Deus pode ser chamada de “teontologia” e/ou
“teologia própria”. Teologia própria é a área de estudo da teologia
sistemática que trata do estudo de Deus e, especificamente, de
Deus Pai.
O doutor Lewis Sperry Chafer criou o neologismo “teontologia” a fim
de definir melhor a doutrina de Deus e evitar interpretações
ambíguas. De acordo com Chafer, como o termo grego on/ontos
significa “ser”, a ênfase de tal estudo recai sobre o Ser de Deus.
Ou, ainda, segundo Charles Hodge, trata-se da “teologia
propriamente dita”.
Nesta matéria estudaremos assuntos tais quais:
A existência de Deus, os atributos de Deus, nomes, decretos, graça
e providencia divina. Entre outros peculiares a esta doutrina.
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Capítulo 1 - Quem é Deus


A Bíblia toma por certo a existência de Deus e supomos que
o leitor fará o mesmo.
E xistem tantas provas de Sua existência que a Bíblia não tenta prová-la. Existe o
testemunho exterior da natureza: "Os céus declaram a glória de Deus e o
firmamento anuncia a obra de suas mãos" (Salmos 19.1).

Ouve-se a voz destas testemunhas em todas as línguas e em todos


os lugares. É verdade que em tempos passados Deus deixou que
as nações andassem em suas próprias maneiras (Atos 14.16).

Sua graça não operou na salvação delas, mas ao mesmo tempo,


Ele não deixou sem testemunha, fazendo o bem, dando-lhes a
chuva e as estações produtivas (Atos 14.17).

Seu eterno poder e divindade são claramente vistos nas coisas


visíveis que Ele criou (Romanos 1.20).

Existe também o testemunho interno da consciência: "Porque,


quando os gentios, que não têm a lei, fazem naturalmente as coisas
que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmo são lei; os quais
mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando
juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer
acusando-os, quer defendendo-os" (Romanos 2.14-15). A natureza
e a consciência proclamam em voz alta a existência do verdadeiro
Deus vivo. Portanto, por motivos práticos não há necessidade de se
provar a existência de Deus. Deus é um espírito infinito e perfeito
em quem todas as coisas têm sua origem, sustentação e fim (Jo.
4.24; Ne 9.6; Ap.1.8; Is 48.12; Ap1. 17).

As expressões "Deus é Espírito" (Jo. 4.24) e "Deus é Luz” (1 Jo.


1.5), são expressões da natureza essencial de Deus, enquanto que
a expressão "Deus é amor" (1 Jo. 4.7) é expressão de Sua
personalidade. (1 Tm. 6.16).

1. Deus é um ser pessoal


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A pessoa de Deus é bem distinta do panteísmo, que diz que “tudo o
que é agregado é Deus. Deus é tudo e tudo é Deus”.

Como um ser pessoal, Deus é imanente e transcendente, isto


significa que, Ele está na Sua criação e ao mesmo tempo acima de
Sua criação.

Ele é uma pessoa na Sua criação e ao mesmo tempo Ele está


separado e bem distinto dela. Ele também está acima de Sua
criação, isto é, Ele é maior que Sua criação, distinto dela e não faz
parte dela.

Na oração de Salomão por ocasião da dedicação do templo, ele


prestou tributos à grandeza transcendental de Deus com estas
palavras: "Mas na verdade habitará Deus na terra? Eis que os céus
e até o céu dos céus, te não poderiam conter, quanto menos esta
casa que eu tenho edificado". 1 Reis 8.27.

A Bíblia revela Deus como uma Pessoa divina que possui todas as
características de uma pessoa.
Se Deus não tivesse personalidade com a qual pudesse comunicar-
se, os homens não teriam jamais a sua sede do Deus vivo saciada
porque jamais entrariam em contato com Ele. Mas o nosso Deus é
vivo e tem personalidade.
(a) Deus fala de si mesmo como de uma personalidade
Quando Moisés perguntou: "Qual é o teu nome?" Deus disse:' 'Eu
sou o que sou". E disse mais: 'Assim dirás aos filhos de Israel: EU
SOU me enviou a vós" (Êx 3.14). É impossível imaginar uma
expressão mais forte de uma personalidade do que esta!
(b) Jesus veio revelar aos homens o seu Pai (Lc 10.22)
Vejamos alguma coisa que Jesus revelou a respeito da
personalidade de seu Pai!

(c) Jesus falou de Deus muitas vezes como sendo o seu Pai.
Ele disse: "Meu Pai e vosso Pai" (Jo 20.17).
Foi Jesus que nos ensinou a orar: "Pai nosso" (Mt 6.9). Quem é Pai
é uma personalidade.
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(d) Jesus usou, quando centenas de vezes falou de seu Pai,
pronomes pessoais.
Ele disse: "Todas as tuas coisas são minhas e as minhas são tuas".
"Vou para ti" (Jo 17.10,11).
O uso de pronomes pessoais subentendem a personalidade de
Deus.

(e) Jesus falou de atividades de seu Pai que só são atribuídas a


uma pessoa.
Ele disse:
“Meu Pai trabalha” (Jo 5.17);
 O meu Pai ama (Jo 3.35);
 O meu Pai me enviou (Jo 6.29);
 O Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo (Jo 5.20).
 Falou da vontade de seu Pai (Jo 6.39,40), expressões que só
se atribuem a uma pessoa. Assim necessariamente Ele é uma
pessoa.

Jesus disse: "Meu Pai é o Lavrador" (Jo 15.1)


Nome que só é atribuído a uma pessoa, a um ser com
personalidade.

2. Deus é um ser espiritual

Deus é exclusivamente Espírito. João 4.24. O leitor deverá


reconhecer esta verdade ou terá problema para entender as três
pessoas da trindade. Como espírito Deus não pode ser dividido ou
composto. Como espírito Ele é invisível e intangível. "Deus nunca
foi visto por alguém. O Filho unigênito que está no seio do Pai, esse
o fez conhecer". João 1.18.
(a) A essência de Deus
Sendo Deus espírito, Ele não tem um corpo de substância material,
com sangue, carne. Ele tem um corpo espiritual (1 Co 15.44).
Embora o corpo espiritual tenha forma, porque Jesus veio em
"forma de Deus" ( Fp 2.6) e foi à expressa imagem da sua pessoa (
Hb 1.3; 2 Co 4.4; Cl 1.15), não podemos imaginar qual seja esta
forma! Embora a Bíblia fale do rosto de Deus (Êx 33.20) e de sua
boca (Nm 12.8) e de seus lábios (Is 30.27), olhos (Sl 11.4 e 18.24),
ouvidos (Is 59.1), mãos e dedos (SI 8.3-6), pés (Ez 1.27), não
devemos por isso procurar materializar Deus e em nossa mente
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criar uma imagem divina correspondente a essas expressões,
comparando-a com um corpo humano!

A Bíblia diz que nós não devemos nos preocupar se a divindade


deve possuir a forma que lhe é dada pela imaginação dos homens
(At 17.29). É por isso que Deus adverte: "Para que não vos
corrompais e vos laçais alguma escultura, semelhança de imagem,
figura de macho ou de fêmea" (Dt 4.16). Essa tentação provém do
desejo de procurar materializar Deus.

Deus é espírito e a sua natureza é essencialmente espiritual. Ele


jamais está sujeito à matéria. Nós também não devemos procurar
chegar a alguma imagem ou visão física de Deus, mas esperar
aquele grande dia quando nós o veremos como Ele é (1 Jo 3.2; 1
Co 13.12).

ARGUMENTO
1. Ele é o criador dos espíritos, e desde que o ser espiritual é o
nível mais alto de ser, Ele deve ter a natureza pertencente a este
nível.

2. As Escrituras atribuem espiritualidade a Deus. João 4.24,


Hebreus 12. 9.

3. Sua espiritualidade pode ser argumentada do ponto de Sua


imensidade e eternidade. Ele é infinito quanto a espaço e tempo. A
matéria é limitada ao tempo e espaço, mas Deus é onipresente e
eterno.

4. Sua espiritualidade pode ser argumentada através de Sua


independência e imutabilidade. Tudo o que é matéria pode ser
dividido, somado ou diminuído. A matéria é sujeita as mudanças,
mas Deus é imutável.

5. Sua espiritualidade pode também ser argumentada através de


Suas perfeições absolutas.
A matéria impõe limitações e não é sistemática nem consistente
com a perfeição absoluta.

A palavra perfeição é usada aqui com um significado amplo e não


só no sentido de não ter pecado. O Salvador, em Seu corpo
humano tinha Seus limites ainda que sem pecado. Ele não podia
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estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Ele não estava imune
à fome, sede, cansaço e dor.

OBJEÇÃO

Muitas passagens nas Escrituras atribuem partes do corpo a Deus.


Falam de Seus olhos, Sua face, Suas mãos e Seus braços. Em
réplica podemos dizer que a linguagem é figurativa e é usada de
modo conveniente ao entendimento humano. Tal linguagem é
chamada de antropomorfismo, isto é atribuição de características
humanas a seres que não são humanos.

3. Deus é incomensurável
Incomensurabilidade é o infinito quando aplicado ao espaço. Assim
como é impossível imaginar a forma de Deus, também é impossível
medir, pesar ou fazer algum cálculo a respeito de Deus.

Não existe números ou expressões que possam nos fazer


compreender Deus (Sl 71.15, 40.5 e 139.6,17,18). Medida nenhuma
pode dar uma ideia da sua grandeza (Jó 11.9; 1 Rs 8.27). Nenhum
cálculo de peso pode fazer-nos compreender o seu "peso de glória"
(2 Co 4.17). Deus é espírito, e na sua imensidade não está sujeito
ao espaço.
4. Deus é invisível (Rm 1.20; Cl 1.15)
Sendo Deus espírito, a matéria não pode vê-lo. Isto não impede que
Ele esteja presente no meio do seu povo. Não somente Noé (Gn
5.29) ou Enoque (Gn 5.24) andavam com o Deus invisível. É o
privilégio de cada crente (Cl 2.6; 1 Ts 4.1), "Porque andamos por fé
e não por vista" (2 Co 5.7).

5. Deus é um ser triúno

Esta é uma das grandes doutrinas da Bíblia. A palavra "triunidade"


ou "Trindade" não existe na Bíblia, mas a verdade sobre o único
Deus, que é o Pai, ó Filho e o Espírito, se encontra em toda a
Escritura, desde os primeiros versículos (Gn 1.1-3) até o último
capítulo (Ap 22.3,17). Nos últimos tempos surgirão falsos
ensinamentos que negarão essa doutrina ( 1 Jo 2.18-23), motivo
porque devemos conhecer bem o que a Bíblia ensina sobre isso.
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Existe uma essência Divina de ser que subsiste em três pessoas:
Pai, Filho e Espírito Santo.

Na primeira parte do século IV quando o arianismo ameaçava


dominar o setor religioso, um jovem teólogo, Atanásio, formulou
uma declaração que foi incorporada no credo Nicenos. Dizia: "Nós
adoramos um Deus na trindade e trindade em união, não
confundindo as pessoas nem dividindo a substância".

Deus não é três pessoas no mesmo sentido que um pai, mãe e filho
são três pessoas de uma só família. Deus tem três modos de ser,
três centros de consciência pessoal. Essencialmente Ele é um, mas
relativamente Ele é três pessoas. E nestas relações, Ele existe
como o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

A Bíblia fala que "O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor" (Dt
6.4). Jesus disse: "Deus é o único Senhor" (Mc 12.29). A doutrina
monoteísta (crença em um só Deus) é intocável na Bíblia. Aparece
como o primeiro mandamento da Lei (Êx 20.2,3). Existem muitos
deuses e muitos senhores, mas um só Deus (1 Co 8.5,6).

A Bíblia usa, em Gênesis 1.1 e em mais 2.700 outras passagens, a


palavra Elohim para expressar Deus. Elohim é um substantivo na
forma plural, isto é, que inclui uma pluralidade de personalidades
em uma só pessoa. Também a palavra "único", ligada a Deus (Dt
6.4), vem da palavra hebraica achad, que indica uma unidade
composta (quando essa palavra é usada no sentido absoluto, é
empregada a palavra yacheed). Quando Deus fala de si, em várias
ocasiões, usa a forma plural. "Façamos o homem" (Gn 1.26); "Eia,
desçamos" (Gn 11.7); "Quem há de ir por nós?" (Is 6.8).

O Doutor Strong resume o fato da seguinte maneira: Na questão da


fonte, origem e autoridade, Ele é Pai: Na questão de expressão,
meio e revelação, Ele é Filho. E na questão de compreensão,
realização e concepção, Ele é Espírito.

O Doutor Strong em quatro pensamentos faz um resumo da


diferença entre o trabalho do Filho e do Espírito Santo.

1. O semear parece ser obra de Cristo, e a ceifa é obra do Espírito


Santo.
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2. Cristo é o órgão de revelação exterior, o Espírito Santo é o órgão
de revelação interior.
3. Cristo é nosso advogado no céu, o Espírito Santo, advogado na
alma.
4. Na obra de Cristo somos passivos, mas na obra do Espírito
Santo somos ativos.

a) A trindade revelada

Nós temos a Trindade nas expressões plurais usadas por Deus


quando fala de Si mesmo: "Façamos o homem". Gênesis 1.26;
"Desçamos e confundamos". Gênesis 11.7.
A Trindade foi mostrada no batismo de Jesus. O Filho encarnado
sendo batizado; O Pai manifesto em voz alta e o Espírito Santo na
forma de uma pomba. Mateus 3.16-17.

Temos ainda a Trindade na fórmula batismal em Mateus 28.19.

As Escrituras não dizem: "batizando-os nos nomes (plural) do Pai e


do Filho e do Espírito Santo". Do mesmo modo não encontramos o
equivalente do plural, pois não lemos: "no nome do Pai, e no nome
do Filho, e no nome do Espírito". Ao mesmo tempo as Escrituras
não nos dão a ideia de que os três nomes são somente diferentes
designações de um mesmo ser, como teríamos se as Escrituras
dissessem: "No nome do Pai, Filho e Espírito". As Escrituras dizem:
"Batizando-os no nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo".

Nós temos a Trindade no plural dos nomes de Deus. O primeiro


nome de Deus que encontramos na Bíblia está no plural: "No
princípio criou (singular) Deus (Eloim, plural) os céus e a terra".
Gênesis 1:1. O substantivo plural com o verbo no singular mostra a
Trindade trabalhando em união.

(b) As três Pessoas divinas são um só Deus


A Bíblia afirma que os três são um (1 Jo 5.7). Ensina que estas três
pessoas estão unidas reciprocamente. A união entre o Pai e o Filho
(Jo 10.30; 14.11;17.11,22,23; 2 Co 5.19). A união entre o Pai e o
Espírito Santo, expressado cm "Espírito de Deus" (Rm 8.9). A união
entre o Filho e o Espírito Santo: Espírito de Cristo (Rm 8.9; Gl 4.6).
As três Pessoas são mencionadas de uma só vez como Pessoas
distintas:
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• Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt 28.19).
• Um só Espírito, ...um só Senhor, ...um só Deus" (Ef 4.4-6).
• "A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus, e a
comunhão do Espírito Santo" (2 Co 13.13).
• "O Espírito... o Senhor... é o mesmo Deus" (1 Co 12.4-6).
• "Porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um mesmo
Espírito" (Ef 2.18).
• “Eleitos segundo a presciência de Deus, em santificação do
Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus
Cristo" (1 Pe 1.2).
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Capítulo 2 - Deus não é uma


energia impessoal

A s religiões orientais (que têm nos postulados da Nova Era a


sintetização de suas crenças) e o liberalismo teológico possuem
algo em comum. Ambos compartilham da crença de Deus não é um
ser pessoal como demonstra a Bíblia (Is 42.8; Gn 1.1; Jo1. 1; Sl
20.1; Sl 30.2; Is 42.5; Mt 6.30; 22.30).
Vejamos o que ensinam sobre algumas religiões e filosofia
orientais:

SEICHO-NO-IÊ
“Não se tem uma noção clara sobre Deus. Ele é panteísta, uma vez
que se encontra em cada pessoa, em cada coisa deste mundo"
(Seitas Orientais Tácito da Gama).

MEDITAÇÃO TRANSCENDENTA
Essencialmente panteísta, assim como o hinduísmo. Deus é um
com o universo" (Dicionário de Religiões, Seitas e Ocultismo).

NOVA ERA
Este movimento não tem o mesmo conceito de Deus que o
cristianismo.

“A primeira busca a Deus é dentro do próprio ser e no universo”


(Dicionário de Religiões, Seitas e Ocultismo). Essa foi a razão que
levou a atriz Shirley MacLaine a se colocar em frente ao mar e
cantar: "Eu sou Deus, eu sou Deus, eu sou Deus". O bruxo indiano
Sathya Sai Baba, guru da Nova Era, afirma que "você é o Deus
deste universo" (John Weldon, 1988, pág.19).

Os exemplos poderiam ser muitos, mas esses já são


representativos e atendem a nosso propósito: mostrar que o Deus
dessas religiões ou filosofias religiosas não é o mesmo do
cristianismo bíblico.

O Deus cristão é pessoal e se revela ao Homem


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O Deus cristão é pessoal e se revela ao Homem, enquanto esse
"deus" dessas correntes religiosas não passa de uma energia que
vaga pelo universo. Dessa forma, é comum encontrarmos em
consultórios, escritórios ou casas dos adeptos dessas crenças
cristais, pirâmides e outros instrumentos de captação de energia
com o fim de "canalizar" essa força que flutua no espaço.

Por ser um ser impessoal, que não exige a observância de


princípios e normas morais, esse "deus", que pode ser canalizado e
até mesmo engarrafado, é o preferido das celebridades e artistas de
Hollywood.

Mas como já sublinhamos, esse conceito que despersonaliza o


nosso Criador não é exclusividade das seitas e religiões orientais.
Uma corrente teológica, conhecida dentro do protestantismo como
liberalismo teológico, ou ainda Teologia Liberal, possui crença
semelhante.

É evidente que as duas formas de pensar partem de pressupostos


diferentes na exposição de suas crenças sobre a divindade, mas a
conclusão é essencialmente a mesma. O "deus" delas não passa
de um fluido cósmico a vagar pelo universo.

A Enciclopédia Histórica-teológica da Igreja Cristã observa que


"o liberalismo teológico, conhecido também como
modernismo, é a grande mudança no pensamento teológico,
ocorrida em fins do século 19. É um conceito extremamente
enganoso".

A doutrina liberal tem suas raízes fincadas no iluminismo, também


denominado de Idade da Razão. Esse movimento surgiu com os
pensadores ocidentais entre os séculos 17 e 18. Esse movimento
pregava a "emancipação da humanidade" ao rejeitar as autoridades
externas como fontes de conhecimento.

A autoridade da igreja e, consequentemente, a autoridade bíblica


foram duramente questionadas pelos iluministas. Essa forma de
entender o homem e o mundo lançaria as bases daquilo que a
filosofia chama de modernidade.

Na modernidade, somente aquilo que podia passar pelo crivo da


razão (ciência) era digno de crédito. As verdades bíblicas, por
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serem fruto de uma revelação e não podendo ser comprovadas,
deveriam ser postas de lado. Essa nova maneira de pensar iria
influenciar grandemente a Teologia Liberal do século 19.

Champlin ainda observa que "o liberalismo religioso, ou talvez mais


apropriadamente o neoprotestantismo, foi um desenvolvimento da
teologia alemã posterior ao iluminismo. De fato, um produto do
iluminismo".

Um dos mais destacados teólogos liberais foi Rudolf Bultman (1884-


1976). Bultman foi quem introduziu na Teologia Liberal o conceito
de demitização. Para ele, o Novo Testamento estava impregnado
de linguagem mitológica.

Os próprios milagres operados por Cristo e narrados nas páginas


neotestamentárias careciam ser demitizados para que fossem
entendidas as lições teológicas que eles traziam. Em palavras mais
simples, Bultman acreditava que as crenças bíblicas em anjos, céu,
milagres, demônios, não passavam de mitos que careciam ser
interpretados ou "demitizados".

Stanley J. Grenz observa ainda que "o liberalismo deseja adaptar


a religião ao pensamento e à cultura moderna". Com essa
perspectiva puramente humanística, a Teologia Liberal acabou por
confundir dois importantes pressupostos da teologia cristã: os
conceitos de transcendência e imanência.

Enquanto o primeiro afirma que Deus é um ser totalmente distinto e


separado da criação, o segundo diz que Deus está constantemente
envolvido com a criação, mas sem se confundir com ela. R. V.
Pierard observa que "uma ideia central da Teologia Liberal é a
imanência divina.

Deus é considerado presente, habitando dentro do mundo, e não à


parte do mundo nem elevado acima deste como Ser transcendente.
Ele é a alma ávida do mundo, bem como o seu Criador. Dessa
forma, Deus é encontrado na totalidade da vida e não somente na
Bíblia ou em alguns poucos eventos reveladores. Por Ele estar
presente e operando em tudo quanto acontece, não pode haver
distinção alguma entre o natural e o sobrenatural.
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Trocando em miúdos, o "deus" da Teologia Liberal, a exemplo da
divindade da Nova Era, passa a ser um ser impessoal, uma forma
de energia que preenche o universo.

Tanto o Movimento da Nova Era como o liberalismo teológico


caíram no mesmo erro.

O primeiro, querendo se ajustar a todas as formas de


espiritualismo existentes, transformou Deus em um fluido;
enquanto o segundo, querendo se ajustar aos pressupostos da
ciência positiva, transformou Deus apenas em uma ideia vaga e
distante. Todavia, devemos destacar que “o cristianismo sustenta
que as comunidades cientificas e humanísticas têm se equivocado
no conceito de Deus”. Para a ciência, somente a matéria e real.
Para as numerosas religiões que compõem o pensamento da Nova
Era, somente o espírito é real.

O cristianismo faz uma discriminação entre as duas realidades: a


espiritual è a física. Deus é parte integral de ambas as esferas.
"Deus é espírito" (Jo 4.24). Apesar disso, também 'se fez carne e
habitou entre nós' (Jo 1.14)" (George A Mather, 1993, pág. 326).
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Capítulo 3 - Provas da Existência


de Deus

I. ARGUMENTOS A CERCA DA EXISTÊNCIA DE DEUS

A Bíblia em ponto algum argumenta a esse respeito. Em toda parte


as Escrituras assumem sua existência como um fato aceito.

 O primeiro “versículo da Palavra de Deus” afirma: "No


principio criou Deus os céus e a terra", Gn 1.1.

 O salmista proclama mais adiante: "Diz o insensato no seu


coração: Não há Deus", SI 14.1.

 O cristão e todos os adoradores de Deus aceitaram a


existência de Deus como um ato de fé. Todavia, a fé possuída
pelo crente não é cega nem irracional. A fé é um dom de Deus
(Rm 10.17), mas ela e sustentada por evidências claras para
a mente imparcial.

O salmista diz: "Os céus proclamam a glória de Deus e o


firmamento anuncia as obras das suas mãos", SI 19.1.

Paulo destaca em Romanos que mesmo aqueles que não têm uma
revelação da Escritura não possuem uma justificativa para a sua
incredulidade (Rm 1.19-21).

A ideia mais grandiosa e mais profunda que a mente humana pode


conceber refere-se à possibilidade da existência de um Deus
pessoal. A importância da reação do homem a essa ideia não
significa um exagero, já que isso não apenas governará a sua vida
aqui na terra, mas também determinará o seu destino final.
Ao longo dos séculos, alguns argumentos extra bíblicos têm sido
defendidos para confirmar a existência de um ser supremo.

1. O argumento da crença universal.


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Este argumento diz que todos os povos têm em comum alguma
ideia relativa a um ser supremo. Esse argumento tem sido
desafiado com frequência, mas jamais foi refutado. Embora os
conceitos de Deus encontrados entre as diversas culturas e
civilizações difiram muito no tocante ao número, ao nome e à
natureza desses seres supremos, ainda assim, a ideia permanece.

Um exemplo clássico disso é a incrível história de Helen Keller


(1880-1968). Com a idade de dois anos, a senhorita Keller ficou
cega, surda e perdeu o sentido do olfato. Depois de dois meses de
tentativas agonizantes e infrutíferas por parte de sua professora
para comunicar-se com a menina, um milagre aconteceu. Um dia,
Helen entendeu, subitamente, o conceito e o significado da água
corrente. A partir desse humilde alicerce, a senhorita Keller
construiu uma grandiosa torre de pensamentos, incluindo a
habilidade de usar a própria voz para falar. Ela tornou-se uma
pessoa educada e articulada. Algum tempo depois de haver
progredido a ponto de poder participar de uma conversa, Helen foi
ensinada a respeito de Deus e do Seu amor ao enviar Cristo para
morrer na cruz. Relata-se que ela respondeu com alegria: “Eu
sempre soube que Ele existia, mas não sabia o Seu nome!”.

2. O argumento cosmológico.
Este argumento afirma que todo efeito precisa de uma causa
adequada. Um dos grandes nomes britânicos da ciência,
matemática e filosofia é Sir Isaac Newton (1642-1727). Newton
mandou fazer um modelo do Sistema Solar em miniatura.

No centro, havia uma grande bola dourada representando o sol, em


volta da qual giravam esferas menores que representavam os
planetas — Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e os demais.
Cada um [desses planetas] ficava em uma órbita proporcionalmente
equivalente às que existem no Sistema Solar verdadeiro. Per meio
de varetas, engrenagens e correias, todos os planetas moviam-se
em torno da bola dourada central com precisão absoluta. Um
amigo, certa vez, chamou a atenção do cientista enquanto este
estudava o modelo.

O amigo não cria na doutrina bíblica da criação divina. De acordo


com os relatos [históricos], esta foi à conversa dos dois:
Amigo: “Puxa, Sir Isaac, que dispositivo extraordinário! Quem o
construiu para o senhor?”.
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Newton: “Ninguém”.
Amigo: “Ninguém?”.
Newton: “Isso mesmo! Eu disse ninguém!
Todas estas bolas, rodas, correias e engrenagens simplesmente se
juntaram sem mais nem menos e, na maior das maravilhas, por
acaso, começaram a girar em suas próprias órbitas com precisão
absoluta!”. E claro que o visitante entendeu o argumento
subentendido: No princípio, criou Deus os céus e a terra. (CULVER,
Robert. The Living God. p. 29,30).

3. O argumento teleológico.
Este afirma que todo design precisa de um designer. O universo
inteiro é caracterizado pela ordem e por um sistema eficaz. Isso
pode ser visto facilmente pela velocidade constante da luz, pelas
leis da gravidade, pela ordem dos planetas ao redor do sol, pela
complexidade do ínfimo átomo e pela composição extraordinária do
corpo humano. Todo esse design declara a existência de um
designer divino.

4. O argumento ontológico afirma:


O ser humano possui a noção do Ser mais perfeito. Esse conceito
inclui a ideia de existência, já que um ser perfeito que não existisse
não seria tão perfeito quanto um ser perfeito que existisse. Portanto,
como a ideia de existência está contida no conceito do Ser mais
perfeito, o Ser mais perfeito deve existir (RYRIE, Charles. Basic
Theology. p. 32).

5. O argumento antológico afirma que a consciência e a


natureza moral do homem demandam um Criador
autoconsciente e moral. Esse barômetro interno não fornece
informação alguma, e as informações nas quais o homem baseia o
seu julgamento podem estar incorretas. Porém, ainda assim, a
consciência diz-nos que devemos fazer o que é certo, independente
das informações que possuirmos.

Robert Culver acredita que a moralidade foi plantada no coração


dos homens por Deus:

O sentido de dever pode ser fraco (1 Co 8.12), bom (1 Pe 3.16),


contaminado (1 Co 8.7), cauterizado (1 Tm 4.2), forte ou puro (1 Co
8.7,9). Mas ele jamais está ausente. A única explicação acurada é
que o grande Ser moral, que criou todos nós, plantou esse sentido
ECB 19

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moral em nós. Nenhuma outra explicação é adequada (The Living
God. p. 31).

Embora esses cinco argumentos filosóficos sejam válidos de certa


forma, devemos lembrar-nos de que a única forma aceitável de
relacionarmo-nos com Deus é pela fé, e tão somente pela fé (Hb
11.6).

Portanto, esses argumentos, na verdade, aplicam-se mais aos


crentes do que aos incrédulos, servindo para confirmar aquilo que já
foi aceito pela fé.

II. A VISÃO BÍBLICA DA EXISTÊNCIA DE DEUS

Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que


aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é
galardoador dos que o buscam (Hb 11.6)”.

A Bíblia não procura oferecer-nos qualquer prova racional quanto à


existência de Deus. Pelo contrário: ela já começa tomando a sua
existência como pressuposição básica: "No princípio, Deus” (Gn
1.1). Deus existe por si mesmo, pois não depende de nenhuma
fonte originária para existir.

Deus existe! Ele é o ponto de partida. Por toda a Bíblia, há


evidências substanciais em favor de sua existência. Se de um lado
"disseram os néscios no seu coração: Não há Deus" (SI 14.1); por
outro: "os céus manifestam a glória de Deus, e o firmamento
anuncia as obras das suas mãos" (SI 19.1).

1. A existência de Deus é estabelecida pela razão

O universo deve ter uma Primeira Causa ou um Criador.


(Argumento cosmológico, da palavra grega "cosmos", que significa
"mundo".).

(a) O argumento da criação. A razão argumenta que o


universo deve ter tido um princípio. Todo efeito deve ter uma
causa suficiente. O universo, sendo o efeito, por conseguinte deve
ter uma causa.

Consideremos a extensão do universo. Nas palavras de Jorge W.


Grey: "O universo, como o imaginamos, é um sistema de milhares e
ECB 20

Escola de Capacitação Bíblica


milhões de galáxias. Cada uma delas se compõe de milhares e
milhões de estrelas. Perto da circunferência de uma dessas
galáxias — a Via Láctea — existe uma estrela de tamanho médio e
temperatura moderada, já amarelada pela velhice — que é o nosso
Sol."

E imaginem que o Sol é milhões de vezes maior que a nossa


pequena Terra! Prossegue o mesmo escritor: “O Sol está girando
numa” orbita vertiginosa em direção à circunferência da Via Láctea
a 19.300 metros por segundo, levando consigo a Terra e todos os
planetas, e ao mesmo tempo todo o sistema solar está girando num
gigantesco circuito à velocidade incrível de 321 quilômetros por
segundo, enquanto a própria galáxia gira, qual colossal roda gigante
estelar. Fotografando-se algumas seções dos céus, é possível fazer
a contagem das estrelas.

No observatório de Harvard College eu vi uma fotografia que


inclui as imagens de mais de 200 Vias Lácteas — todas
registradas numa chapa fotográfica de 35 x 42 cm. “Calcula-se que
o número de galáxias de que se compõe o universo é da ordem de
500 milhões de milhões.”

Consideremos nosso pequeno planeta e nele as várias formas de


vida existentes, as quais revelam inteligência e desígnio divinos.

Naturalmente surge a questão: "Como se originou tudo isso?"


A pergunta é natural, pois as nossas mentes são constituídas de tal
forma que esperam que todo efeito tenha uma causa.
Logo, concluímos que o universo deve ter tido uma Primeira Causa,
ou um Criador. "No princípio — Deus" (Gn. 1.1).

2. A criação do mundo
Fala da existência de um Criador. "Os céus manifestam a glória de
Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos" (SI 19.1). O
seu eterno poder como a sua divindade se entendem, e claramente
se veem pelas coisas que estão criadas (Rm 1.20). Como um
relógio fala da existência de um relojoeiro, assim a criação fala de
um Criador que é poderoso.
3. A Bíblia
A revelação divina escrita revela claramente a existência de Deus.
Na Bíblia temos um documento autenticado, que nos faz conhecer a
ECB 21

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Deus através da sua própria revelação. Assim como alguém que
quiser conhecer história, ciência ou qualquer outra matéria, procura
estudar a literatura adequada para conseguir o conhecimento
desejado, assim também aquele que verdadeiramente quer fazer a
vontade de Deus, ele conhecerá, se esta doutrina é de Deus ou não
(Jo 7.17).
4. Jesus, o Filho de Deus
Sua existência e vida neste mundo estão historicamente
comprovadas. Veio para revelar Deus aos homens (Lc 10.22), e o
fazer conhecer (Jo 1.16). Jesus disse: "...Quem me vê a mim, vê o
Pai..." (Jo 14.9b). O caminho mais curto para conhecer a Deus é
aceitar a Jesus como o seu Salvador, porque ele é o caminho para
Deus (Jo 14.6).
5. Uma experiência pessoal da salvação
Por meio do sangue de Jesus Cristo, chegamos perto de Deus (Ef
2.13), e temos então uma absoluta certeza da existência de Deus,
porque o Espírito do seu Filho clama em nós: Abba Pai (Gl 4.6), e
nós podemos com toda a tranquilidade no coração orar: Pai nosso,
que estás nos céus..." (Mt 6.9a).

A Bíblia não é uma apologia à existência de Deus; não há nela a


preocupação em comprovar que Deus existe. A existência de Deus
é um fato consumado, uma verdade primária que não necessita ser
provada, pois Ele transcende à existência.
O conhecimento humano sobre a existência do Criador está na
própria intuição e razão no interior das pessoas (Rm 1.20, 21; 2.14,
15). A Bíblia é a única fonte confiável e confirma a experiência
humana.
6. Os principais credos ecumênicos apresentam características
especiais existentes em Deus
O Credo dos Apóstolos declara: “Creio em Deus Pai Todo-
poderoso, Criador do céu e da terra”; da mesma forma o Credo
Niceno afirma: “Cremos em um só Deus, Pai Onipotente, Criador de
todas as coisas visíveis e invisíveis”; e o Credo Niceno-
Constantinopolitano reafirma a fórmula nicena: “Cremos em um só
Deus, o Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as
coisas, visíveis e invisíveis”.
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Alguns dos antigos credos locais dos primeiros cinco séculos da
história da Igreja serviram como a base dessas formulações
ecumênicas. Todas essas declarações a respeito de Deus afirmam
que Ele é um, exceto o Credo dos Apóstolos, que é Pai Onipotente
ou Todo-Poderoso e Criador de todas as coisas. Trata-se da
revelação bíblica posta de maneira sistemática.
Há nas Escrituras provas abundantes que fundamentam essas
declarações dos credos. Muitos outros credos regionais dos cinco
primeiros séculos dizem a mesma coisa, empregando, às vezes,
fraseologia similar. São informações importantes, pois falam que o
nosso Deus é único, que é Pai, que é o Todo-poderoso e Criador de
tudo o que há no Universo. Tais declarações nada mais são do que
interpretações precisas das Escrituras que serviram para proteger a
fé cristã do politeísmo e da idolatria dos gentios e os cristãos das
heresias. Isso se reveste de uma importância especial na época,
quando os gnósticos ganhavam espaço no seio da Igreja.
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Capítulo 4 – A existência Deus


negada

1. A existência de Deus é negada pelo ateísmo.

O ateísmo consiste na negação absoluta da ideia de Deus.


Alguns duvidam que haja verdadeiros ateus; mas se os houver, é
impossível provar que estejam sinceramente buscando a Deus ou
que sejam logicamente coerentes.

Visto que são os ateus que se opõem às convicções mais


profundas e mais fundamentais da raça humana, a
responsabilidade de provar a não existência de Deus recai sobre
eles. Não podem sincera e logicamente dizerem-se ateus enquanto
não apresentarem provas irrefutáveis de que de fato Deus não
existe.

2. Antes de afirmarmos que não há Deus temos quatro deveres


a cumprir.

 Antes que se diga que não há Deus, devem-se analisar todos


os elementos do universo;
 Devem-se investigar todas as forças mecânicas, elétricas,
biológicas, mentais e espirituais;
 Deve-se ter conhecimento de todos os seres e compreendê-
los completamente;
 Deve-se estar em todos os pontos do espaço a um só tempo,
para que possivelmente Deus não esteja em alguma outra
parte e assim escape à sua atenção.

Essa pessoa deve ser onipotente, onipresente, eterna; de fato, essa


mesma pessoa deve ser Deus antes que ela afirme
dogmaticamente que não há Deus. Por muito estranho que pareça
somente Deus, cuja existência o ateu nega, teria essa capacidade
de provar que não há Deus!

Deus existe independente de alguém crer ou não em sua existência.


Não existe outra opção: ou Deus existe ou nada existe.
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A ciência não pode provar a existência de Deus. Isto por que Deus
é infinito. A ciência é finita. Deus é incompreensível à mente finita
do homem (Jó 11.7). A falta de capacidade da ciência de provar a
existência de Deus não Significa que Deus não existe, e sim que os
cientistas com sua ciência são limitados.

3. A auto existência e existência autônoma de Deus

"Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o


mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus (Salmos 90.2)”.

Deus é auto existente, isto é, ele tem em Si mesmo a base da


Sua existência.

As crianças, às vezes, perguntam: "Quem fez Deus?”.

A resposta mais clara é que Deus nunca precisou ser feito, porque
sempre existiu. Ele existe de um modo diferente do nosso: nós
existimos de uma forma derivada, finita e frágil, mas nosso Criador
existe como eterno, autossustentado e necessário. Sua existência é
necessária no sentido de que não há possibilidade de ele cessar de
existir.

A Auto existência de Deus é uma verdade básica. Na apresentação


que faz do "Deus Desconhecido" aos atenienses, Paulo explica que
o Criador do mundo "nem é servido por mãos humanas, como se de
alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida,
respiração e tudo mais” (Atos 17.23-25).

O Criador tem vida em si mesmo e tira de si mesmo a energia


infindável e de nada necessita. A independente auto existência de
Deus é uma verdade claramente afirmada na Bíblia (Ver Salmos 90.
1-4, 102.25-27; Isaías 40.28-31; João 5.26; Apocalipse 4.10).

Saber que a existência de Deus é independente protege a nossa


compreensão a respeito da grandeza dele e, portanto, tem claro
valor prático para a nossa saúde espiritual.

4. O cristão e a existência de Deus

a) O Cristão aceita a verdade da existência de Deus pela fé.

O Cristão aceita a verdade da existência de Deus pela fé. Mas esta


fé não é uma fé cega, mas fé baseada em provas, e as provas se
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acham, primariamente, na Escritura como a Palavra de Deus
inspirada, e, secundariamente, na revelação de Deus na natureza.

Lemos em Hebreus 11:6 “... é necessário que aquele que se


aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador
dos que o buscam”.

b) O cristão sabe que a Bíblia pressupõe a existência de Deus.

A Bíblia pressupõe a existência de Deus em sua declaração inicial,


“No principio criou Deus os céus e a terra (Gn 1.1)”.

Ela não somente descreve a Deus como o Criador de todas as


coisas, mas também como o Sustentador de todas as Suas
criaturas.

E como o Governador de indivíduos e nações. Ela testifica o fato de


que Deus opera todas as coisas de acordo com o conselho da Sua
vontade, e revela a gradativa realização do Seu grandioso propósito
de redenção.

c) Deus nas páginas da bíblia

Vê-se Deus em quase todas as páginas da Escritura Sagrada em


que Ele se revela em palavras e atos. Esta revelação de Deus
constitui a base da nossa fé na existência de Deus, e a torna uma fé
inteiramente razoável.

Deve-se notar, contudo, que é somente pela fé que aceitamos a


revelação de Deus e que obtemos uma real compreensão do seu
conteúdo. Disse Jesus, “Se alguém quiser fazer a vontade dele,
conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo
por mim mesmo”, João 7.17.

É este conhecimento intensivo, resultante de íntima comunhão com


Deus, que Oséias tem em mente quando diz, “Conheçamos, e
prossigamos em conhecer ao Senhor”, Oséias 6.3.

d) O incrédulo não tem nenhuma real compreensão da palavra de


Deus.

O incrédulo não tem nenhuma real compreensão da palavra de


Deus.
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As palavras de Paulo são pertinentes nesta conexão: “Onde está o
sábio?
Onde o escriba?
Onde o inquiridor deste século?
Porventura não tornou Deus louca a sabedoria do mundo?

Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por


sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem, pela
loucura da pregação (1 Coríntios 1.20, 21).

Se você crer Deus existe! Se você não acreditar ele ainda assim
continua existido. A ideia de Deus é praticamente universal na raça
humana. É encontrada até mesmo entre as mais atrasadas nações
e tribos do mundo.
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Capítulo 5 - Tomás de Aquino e a


existência de Deus

A quino foi um teólogo dedicado à meditação e ao estudo. Ele foi


trabalhador incansável e de um espírito metódico. Ele nasceu no
castelo de Roccasecca, perto de Aquino (Reino das duas Sicílias),
em 1225. Em 1259 obtém o título de doutor em teologia. De 1269 a
1272 ele exerceu em Paris as funções de professor. São Tomás de
Aquino morreu na cidade de Fossanova (Itália) em 7 de março de
1274.

Frase a atribuídas a Aquino.


Frases:

 "O primeiro degrau para a sabedoria é a humildade”.


 "Tenho medo do homem de um só livro".

 "Para aqueles que têm fé, nenhuma explicação é necessária.


Para aqueles sem fé, nenhuma explicação é possível."

Deus, na vida e obra de Tomás

Se, fiéis aos textos tomasianos e aos seus principais comentadores,


buscarmos o lugar que Deus ocupa na vida e na obra do Frade de
Rocassecca, teremos que admitir que tal lugar é nada menos do
que o centro. De fato, Deus é o centro, tanto da vida quanto da obra
do Aquinate. Aliás, é o centro da sua obra, porque, antes, sempre
fora o centro da sua vida. Com efeito, de Tomás, diz-se que, ainda
pequerrucho, oblato no mosteiro de Monte Cassino, teria
perguntado a um Abade: "Quem é Deus?" Doravante, como
acentua importante estudioso da obra do Aquinate no Brasil: "Sua
vida foi dedicada, inteiramente, de ponta a ponta, a responder esta
pergunta”.

Pode-se dizer, sem nenhum exagero que, desta pergunta, nascera


toda a sua obra, como uma tentativa de responder a ela: "A questão
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'quem é Deus' foi o motivo e o lema que caracterizaram toda a obra
de Tomás de Aquino.

Em suas duas portentosas Sumas, ele declara expressamente que


Deus é o sujeito (subiectum) da toda a sua ciência teológica.

No princípio da Contra Gentiles, fazendo suas as palavras de santo


Hilário, diz: "Estou consciente de que o principal ofício da minha
vida é referente a Deus, de modo que toda palavra minha e todos
os meus sentidos dele falem (I Sobre a Trindade 37; PL 10, 48D. E,
na Summae Theologiae), também declara: "Ora, na doutrina
sagrada, tudo é tratado sob a razão de Deus, ou porque se trata do
próprio Deus ou de algo que a Ele se refere como a seu princípio ou
a seu fim".

"Se se trata de física, de fisiologia ou meteoros, santo Tomás é


apenas aluno de Aristóteles; mas se se trata dê Deus, da génese
das coisas e de seu retorno ao criador, santo Tomás é ele mesmo
(Étienne Gilson)".

Quem é a causa motora de todas as coisas?

Quanto à unidade da essência divina, a primeira coisa a crer é que


Deus existe, o que, aliás, é óbvio à própria razão. Efetivamente,
observamos que tudo quanto se move é movido por outros. Assim,
os seres inferiores são movidos pelos superiores, da mesma forma
como os elementos são movidos pelos corpos celestes.

Nos elementos terrestres, por sua vez, o que é mais forte move o
que é mais fraco. Também nos corpos celestes, os inferiores são
movidos pelos superiores. Ora, é impossível que este processo se
prolongue até ao infinito. Com efeito, se tudo aquilo que é movido
por outro é como que um instrumento da primeira causa movente,
caso não existisse uma primeira causa movente, todas as causas
motoras seriam instrumentos.

Se procedermos até ao infinito na sucessão das causas motoras,


não existe uma primeira causa motora. Nesta hipótese, todos os
infinitos que movem e que são movidos serão instrumentos. Ora,
até mesmo o não letrado percebe que seria irrisório afirmar que os
instrumentos não são movidos por algum agente principal. Equi-
valeria isto aproximadamente a afirmar a possibilidade de fazer uma
ECB 29

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caixa ou uma cama com a serra e o machado, porém sem a
intervenção de um carpinteiro. Em consequência, é indispensável
que haja uma primeira causa motora, superior a todas as outras. A
esta causa motora denominamos Deus.

Disto se conclui que Deus existe sempre. Pois tudo quanto existe
necessariamente existe sempre, já que uma coisa cuja não
existência é impossível não pode existir, e por consequência nunca
pode deixar de existir. Portanto, Deus existe sempre. Além disso,
nada começa ou deixa de existir a não ser em virtude de algum
movimento ou de alguma alteração. Deus é absolutamente imutável
e em consequência, é impossível que tenha uma vez começado a
existir, ou que um dia deixe de existir.

Há mais. Tudo aquilo que não existiu sempre, se um dia começa a


existir, carece de uma outra causa que o traga à existência, visto
que nada pode passar por si mesmo da potência ao ato do não-ser
ao ser. Deus, porém, não pode ter nenhuma causa fora de si
mesmo, por ser o primeiro ente, e a causa é anterior ao efeito. E
portanto necessário que Deus tenha existido sempre.

Finalmente, alguém que não existe em virtude de alguma causa


extrínseca, existe por si mesmo. Ora, Deus não tem a causa do seu
existir fora de si mesmo, pois se assim fosse esta causa lhe seria
anterior. Logo, Deus tem o ser de si mesmo e por si mesmo. Ora, o
que existe por si mesmo existe sempre e necessariamente.
Consequentemente, Deus existe sempre.

Tudo aquilo que uma vez pode existir e outra vez não existir, é
mutável. Porém, Deus é totalmente imutável. Portanto, não é
possível que Deus uma vez exista e outra vez não exista. Ora, tudo
aquilo que existe sem possibilidade de não existir, existe
necessariamente, visto ser a mesma coisa o existir
necessariamente e o ser impossível não existir.
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Capítulo 6 - Evidências do Criador


na obra criada

E screver e falar a respeito de Deus é algo muito interessante, pois


não O vemos, todavia, quando 'olhamos para tudo que está ao
nosso redor, sabemos que há um ser muito poderoso que é o
responsável pela existência de tudo que existe, Deus (Rm 1.19, 20).
Não podemos vê-Lo fisicamente, porém Ele deixou evidências
fortíssimas de Sua existência, pois estas evidências são tão claras
e patentes que não se pode negar Sua maravilhosa existência.

Existem no universo várias evidências que mostram que existe um


Criador de todas as coisas tanto visíveis quanto invisíveis (Cl 1.16,
17).

Portanto, o universo não veio à existência de modo irresponsável,


como acreditam muitos. Ele foi programado por um ser de uma
inteligência rara. A própria complexidade da vida e a criação do
universo indicam isso. Matéria e energia que são inanimados não
poderiam produzir a vida e um mundo tão perfeito.

Deus deixou uma série de evidências que sugerem que somente


um ser de uma inteligência altamente superior, criou tudo a nossa
volta.

Para entendermos as provas da existência de Deus precisamos


primeiro saber o que os seres humanos dizem como a vida e o
universo vieram à existência?

Nos livros de ciências é ensinado no meio escolar que a teoria da


evolução é o conceito mais digno de confiança sobre a origem do
universo e da vida.

Segundo alguns cientistas o universo teria surgido logo após a


Grande Explosão, esta teoria também é conhecida como Big Bang.
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Escola de Capacitação Bíblica


Tudo que há no universo hoje originou dessa explosão. Segundo os
cientistas, essa explosão aconteceu há 15 bilhões de anos.

O mais interessante é que no meio acadêmico-científico o que


prevalece são os fatos que podem set provados por meio de uma
observação inicial. Logo tal explosão não foi vista por ninguém,
apenas foi formulada uma hipótese a chamada "A Grande
Explosão" ninguém viu este "acontecimento". Isso é um tipo de "fé",
pois eles acreditam em algo que não viram acontecer. E além do
mais, não passa de uma teoria apenas para justificar a “Teoria da
Evolução”.

Uma incerteza ensinada como se fosse um fato. Ensinar uma


incerteza nas escolas é simplesmente um absurdo. Li isso em um
livro de ciências para alunos do 3° ano. A Bíblia não diz nada a
respeito da Teoria do Big Bang. O Texto Sagrado afirma que foi
Deus quem criou tudo lá no princípio (Gn 1.1).

O mais interessante é que tudo que foi criado por Deus segue uma
perfeição lógica em tudo que existe. Observe a perfeição do Criador
como o grande cientista, engenheiro e arquiteto de todo o universo:
a Terra está na posição exata para que haja vida no planeta. O
mais interessante é que os outros planetas poderiam ocupar a
posição da Terra, mas não estão. Somente o planeta Terra possui
vida.

A Terra, o planeta da vida humana, sua temperatura varia entre -


50°C e 58°C. A temperatura da Terra é amena e capaz de abrigar a
vida humana e outras formas de vida como, vegetais, animais,
insetos e vida microscópica.

Nosso planeta possui vida de animais que voam pelo céu, animais
andam, ou rastejam na Terra, e animais que nadam na água. Por
este motivo é conhecido como o planeta da vida.

A Terra possui uma imensa camada de ar chamada de atmosfera.


Essa camada imensa que envolve a Terra atua na absorção da
energia do Sol, criando um efeito estufa natural mantendo a
temperatura estável.

A atmosfera é composta por cerca de 78% de nitrogénio, 21% de


oxigénio, 1% de argônio, além de uma quantidade mínima de outros
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Escola de Capacitação Bíblica


gases como: dióxido de carbono, neônio, hélio e metano. Ela possui
também um papel fundamental para o planeta Terra.

Ela protege o planeta de pequenos; choques de corpos celestes


que, em contato com ela, se queimam e se desintegram. A
atmosfera permite a redistribuição dos elementos, por meio das
massas de ar e de água evaporada dos mares, assim acontece o
chamado ciclo da água.

Nosso planeta possui cinco camadas em sua atmosfera, e se


estende por mais de mil quilómetros de altitude.

As cinco camadas são troposfera, estratosfera, mesosfera,


termosfera e exosfera.

A troposfera é a mais próxima do solo, ela possui 10 km de


altitude. É nesta camada que se concentra os eventos climáticos,
como ventos, tempestades, geadas e neve.

A estratosfera tem cerca de 50 km de altitude. Suas temperaturas


são muito baixas, chegando a atingir a -50°C. Nela se localiza a
camada de ozônio, gás que protege a Terra dos raios ultravioletas
do Sol.

A mesosfera atinge até 80 km de altitude. E nela se registra a


temperatura média mais baixa, cerca de -95°C. A mesosfera
também é chamada de ionosfera.

Por fim a exosfera marca a fronteira entre atmosfera e o espaço


cósmico. Ali a temperatura apresenta variações extremas, entre
2000°C durante o dia e -270°C à noite.

Água: elemento essencial para existência de vida no planeta. Mais


de 70% do planeta Terra é composto por água, e os outros 30% é
composto de terra firme. Dentro da combinação de fatores
responsáveis pela ocorrência de vida no planeta, destaca-se a
presença abundante deste elemento vital, em estado líquido.

Um feto muito interessante é o nosso satélite natural conhecido


como Lua. Ela está a 384.000 km de distância da Terra, distância
exata para ela exercer seu papel fundamental: exercer influência
sobre os oceanos terrestres.
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Escola de Capacitação Bíblica


A atração gravitacional interfere no movimento das marés, por
consequência, na vida dos seres vivos nas áreas litorâneas, já que
a variação do nível dos mares influencia esse habitat.
Se a distância entre a Lua e a Terra fosse outra haveria um total
descontrole das marés.
 Tudo isso apresentado nesse artigo á obra do acaso?
 Ou de uma explosão?
Por que a ciência não admite que para tudo isso funcionar muito e
corretamente só pode ser resultado de uma mente brilhante e muito
superior a nossa.

Algumas evidências científicas apresentadas pela Bíblia


Sagrada.

Ao longo dos anos a ciência sempre buscou fatos de como tudo


começou o que a levou sempre a descoberta de fatos novos. E
essas descobertas, muitas delas contribuíram e muito para
confirmar a veracidade da narrativa bíblica.

Fatos científicos confirmados pela Bíblia

1°) Ciclo de Hidrológico.1

Na Bíblia esse fato foi registrado no livro de Jó: "Porque faz miúdas
as gotas das águas que, do seu vapor, derramam a chuva, a qual
as nuvens destilam e gotejam sobre o homem abundantemente" (Jó
36.27-28);

2°) O Curso os Rios. "Todos os rios vão para o mar, e, contudo, o


mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam
eles a correr" (Eclesiastes 1.7);

3°) O Ar tem Peso. "Quando deu peso ao vento, e tomou a medida


das águas" (Jó 28.25). A pressão barométrica foi descoberta pelo
cientista italiano Torricelli em 1643;

4°) A Terra esta suspensa em um vazio.

1
O ciclo hidrológico, ou ciclo da água, é o movimento contínuo da água presente nos oceanos,
continentes (superfície, solo e rocha) e na atmosfera. Esse movimento é alimentado pela força da
gravidade e pela energia do Sol, que provocam a evaporação das águas dos oceanos e dos continentes.
ECB 34

Escola de Capacitação Bíblica


Havia várias crenças e uma delas que a terra era chata e imóvel,
enquanto a Bíblia há muito tempo dizia que o planeta estava
suspenso no espaço.

"O norte estende sobre o vazio; e suspende a terra sobre o nada"


(Jó 26.7);

5°) O tempo, espaço e matéria tiveram um começo.


Há milénios a Bíblia ensinava que Deus criou tudo dando inicio a
espaço, tempo e matéria.

A ciência só descobriu isso no começo do século XX.


Basta abrir a Bíblia no livro de Gênesis 1.1, e encontraremos uma
das frases mais famosas da Palavra de Deus: "No princípio criou
Deus o céus e terra";

6°) As leis da termodinâmica.2


A lei da conservação de energia que indica que a matéria e a
energia não podem ser criadas ou destruídas. Isso aponta que elas
só podem ser convertidas. A outra lei da termodinâmica diz que as
coisas passam de um estado de ordem para desordem. Os
exemplos mais comuns para isso é que quase tudo se estraga, ou
se desgasta ao longo do tempo.

As estrelas morrem, o ferro enferruja, o calor se dissipa (Salmos


102.25-26; Is 51.6);

7°) A Terra é uma esfera.


Há 700 anos a Bíblia já informava que a Terra é um círculo (Is
40.22);

8°) As estrelas são incontáveis. (Jr 33.22; Gn 15.5). Só para se


ter uma ideia sobre a quantidade de estrelas no universo, apenas
em nossa galáxia, a Via-Láctea existem cerca de 200 bilhões de
estrelas e o universo possui cerca de entre 100 bilhões e 200
bilhões de galáxias.

2
Termodinâmica. O nome vem do grego em que therme significa calor e dynamis significa movimento.
É o ramo da física que estuda as relações de troca entre o calor e o trabalho realizado na transformação
de um sistema físico, quando esse interage com o meio externo. Ou seja, ela estuda como a variação da
temperatura, da pressão e do volume interfere nos sistemas físicos.
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Devemos sempre ter em mente que a Bíblia não é um livro de
ciências e sim um livro que se interessa na salvação da
humanidade, porém, ela possui muitos escritos que não
contradizem as ciências, aliás, o autor da Bíblia é o Criador do
universo e de todas as leis que o regem. Se no universo possui leis
é porque ele tem um legislador. Com tantas evidências que nos
cercam, só posso dizer uma coisa, "A complexidade da vida e de
um universo tão perfeito exigem que nada surgiu por meio de um
simples acaso, há por de trás de tudo isso alguém que possui uma
inteligência muita além da nossa que projetou e fez tudo que está a
nossa volta, Deus".
ECB 36

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Capítulo 7 - Nomes de Deus

I. OS NOMES ESPECÍFICOS DE DEUS

Os nomes de Deus constituem uma dificuldade para o intelecto


humano. Deus é O Incompreensível, infinitamente exaltado acima
de tudo o que é temporal; mas em Seus nomes Ele desce a tudo
que é finito, e se assemelha ao homem. Por um lado, não Lhe
podemos dar nome e, por outro lado, Ele tem muitos nomes.
 Como se pode explicar isto?
 Com que base estes nomes são aplicados ao Deus infinito e
incompreensível?
Deve-se Ter em mente que eles não foram inventados pelo homem
e não atestam sua compreensão do Ser de Deus propriamente dito.
Foram dados por Deus com a certeza de que contém, em certa
medida, uma revelação do Ser divino. O que possibilitou isso foi o
fato de que o mundo, com todas as suas relações, é e teve o
objetivo de ser uma revelação de Deus.

Dado o que O Incompreensível revelou-se em Suas criaturas, é


possível ao homem dar-lhe nome à maneira de uma criatura. A fim
de fazer-se conhecido ao homem, Deus teve que condescender em
nivelar-se ao homem, acomodar-se à limitada e finita faculdade
cognitiva e psíquica humana, e falar em língua humana.

Nós conhecemos Deus por ‘Deus’, mas será que é assim que Ele é
chamado na Bíblia? O nome de Deus é Jeová como dizem os
“Testemunhas de Jeová”?
1. Quem é, e que é Deus?
Uma boa definição se encontra no Catecismo de Westminster:
"Deus é Espírito, infinito, eterno e imutável em seu ser, sabedoria,
poder, santidade, justiça, bondade e verdade".
Definição teológica. Deus: “Ser Supremo, absoluto e infinito por
excelência; criador dos céus e da terra (Gn 1.1); eterno e imutável
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(Is 26.4); onipotente, onisciente e onipresente (Jó 42.2; Sl 139).
Deus é espírito (Jo 4.24). Ser incriado é a razão primeira de tudo
quanto existe”.
A definição bíblica pode formular-se pelo estudo dos nomes de
Deus. O "nome" de Deus, nas Escrituras, significa mais do que uma
combinação de sons; representa seu caráter revelado.
Deus revela-se a si mesmo fazendo-se conhecer ou proclamando o
seu nome. (Êx 6.3; 33.19; 34.5, 6.) Adorar a Deus é invocar seu
nome (Gn 12:8); temê-lo (Dt 28.58); louvá-lo (2 Sm 22.50); glorificá-
lo (Sl 86.9); é sacrilégio tomar seu nome em vão. (Êx 20.7), ou
profaná-lo ou blasfemá-lo (Lv 18.21; 24.16). Reverenciar a Deus é
santificar ou bendizer seu nome (Mt 6.9). O nome do Senhor
defende o seu povo (Sl 20.1), e por amor do seu nome não os
abandonará (1 Sm 12.22).
“O nome de Deus representa o próprio Deus, é inerente à sua
natureza e revela suas obras e atributos. Não é um apelativo, nem
simplesmente uma identificação pessoal ou uma distinção dos
deuses das nações pagãs. A Bíblia revela vários nomes divinos que
podemos classificar em dois grupos: genéricos e específicos”
(Ezequias Soares).

2. Nomes genéricos (¹).

São três os nomes genéricos que o Antigo Testamento aplica além


do "Deus de Israel". Na sua tradução do hebraico para a nossa
língua só aparecem dois nomes, "Deus" e "Altíssimo".

O nome "Deus" em nossas bíblias é tradução do hebraico El (Nm


23.8) ou Eloah (Dt 32.15), ou seu plural, Elohim (Gn 1.1).

“EL”.
O nome mais simples pelo qual Deus é designado no Velho
Testamento é o nome ‘El’, possivelmente derivado de ‘ul’, quer no
sentido de ser primeiro, ser senhor, quer no de ser forte e poderoso.

Elohim

O nome ‘Elohim’ deriva provavelmente da mesma raiz ou de alahh,


estar ferido pelo temor; portanto, mostra Deus como o Ser forte e
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poderoso, ou como objeto de temor. O nome raramente ocorre no
singular, exceto na poesia. O plural deve ser considerado como
intensivo e, portanto, serve para indicar plenitude de poder.

3. São três os nomes específicos.


São três os nomes específicos que o Antigo Testamento aplica
somente para o Deus verdadeiro: Shadday, Adonaye e YHWH.
Adonay, El-Shaday, Iahweh (IHWH). Estes são nomes que nas
Escrituras aparecem aplicados somente ao Deus verdadeiro.
Adonay (Gn. 18: 3; Is. 3: 18; 6:1). Significa o Senhor; o Soberano, a
quem tudo está sujeito, e com quem o ser humano se relaciona
como servo.

El-Shaday (Gn 17:1; Êx 6:3). Descreve Deus como o possuidor de


todo poder na terra e no céu. A natureza, a criação, tudo está sob
seu controle.

Iahweh (IHWH)

“O outro nome é o tetragrama (as quatro consoantes do nome


divino, YHWH, Yahweh, Iavé ). A versão Almeida Corrigida, nas
edições de 1995 e 2009, emprega "SENHOR", com todas as letras
maiúsculas, onde consta o tetragrama no Antigo Testamento
hebraico para distinguir de Adonay (Jz 6.22). (¹)
IHWH (‫( )יהוה‬Êx 6:3). Este é o nome que mais vezes aparece na
Bíblia aplicado a Deus (6.828 vezes na Bíblia Hebraica de Kittel e
na Bíblia Hebraica Stuttgartensia). O apologista Esequias Soares
nos diz que este nome “indica que Deus é imutável e existe por si
mesmo; é auto existente, autossuficiente e que causa todas as
coisas”.
O hebraico bíblico do A.T. é composto apenas de consoantes não
tendo vogais, e YHWH são as letras hebraicas que compõem o
nome pessoal de Deus no A.T.
Temendo descumprir o terceiro mandamento: “Não tomarás o nome
do Senhor (YHWH), teu Deus em vão” (Êx 20:7), os leitores antigos
da Bíblia evitavam pronunciá-lo, substituindo o mesmo na leitura
pala palavra Adonay (Senhor).
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Obs.: Muitos estudiosos entendem que a pronúncia das letras
YHWH, é IAVÉ, e não Jeová.
4. Sobre o nome Jeová.
O nome Jeová, nunca foi à transliteração ou tradução do nome
de Deus (YHWH) no Antigo Testamento, esta palavra é uma
invenção da Idade Média.
Esse (Jeová) não é, portanto, o nome do Deus de Israel. O Jerome
Biblical Comentary chama “Jeová” de um “não-nome” (77:11), e o
Interpreter’s Dictionary of the Bible o chama de “nome artificial”(s.v
Jehovah). O Lexicon in Veteris Testamenti Libros, de Kochler –
Baumgartner (s.v YHWH), chama a grafia “Jeová” de “errada”, e
defende como “correta e original’ a pronúncia “Yahweh”.
Vimos aqui os três nomes pessoais de Deus. Os quais são: Adonay,
El-Shaday, Iahweh.
Na Idade Média, especificamente no século XIV, foram inseridas no
tetragrama as vogais de Adonay (o "y" é semiconsoante no alfabeto
hebraico). O resultado é a pronúncia "YeHoWaH isso para lembrar,
na leitura, que esse nome é inefável e, dessa forma, pronunciar
"Adonai". Esse enxerto no tetragrama resultou na forma "Jeová",
que não aparece no Antigo Testamento hebraico. Estudos
acadêmicos confirmam o que a maioria dos expositores do Antigo
Testamento vinham ensinando, que a pronúncia antiga do nome é
Yahweh, e na forma aportuguesada é Iavé ou Javé.3

5. O que é usar o nome de Deus em vão (Êx 20.7; Dt 5.11)?


O termo hebraico lashaw, "em vão, inutilmente, à toa", indica algo
sem valor, irreal no aspecto material e moral.
O substantivo shaw (pronuncia-se "chav") significa "vaidade,
vacuidade". Corresponde a usar o nome de Deus de forma
superficial, em conversas triviais, e faltar com a verdade em seu
nome, como ao pronunciar um juramento falso (Lv 19.12) ou fazer
um voto e não o cumprir (Ec 5.4).
USAR O NOME DE DEUS EM VÃO É:

3
Lições Bíblicas, adultos, 1° trimestre de 2015, CPAD. Comentarista, pastor Esequias Soares, um dos
mais renomados biblistas do pentecostalismo brasileiro, líder da Assembleia de Deus em Jundaí (SP).
ECB 40

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1) Fazer falsas promessas (juramentos) usando seu nome - Lv
19.12; Mt 5.33-37;
2) Pronunciá-lo de modo hipócrita, desrespeitoso - Êx 20.7;
3) Amaldiçoar a Deus - Lv 24.10-16;
4) Mentir em nome de Deus.
5) Utilizar o nome de Deus em conversas tolas, junto com
palavrões.

Em outras palavras, tomar o nome de Deus em vão é usar seu


divino nome em relação a coisas desimportantes, fúteis e
insignificantes.

No Antigo Testamento, o nome não era empregado para


simplesmente distinguir as pessoas. Eles eram colocados pelos
pais com o objetivo de revelar alguma característica física ou do
caráter da pessoa. Tomemos como exemplo o caso de Esaú e Jacó
(Gn 25.24-26). Esaú significa "cabeludo" e Jacó, "suplantador".

“Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão” (Êx 20.7). O


nome de Deus representa Ele mesmo; sua divina natureza; seu
infinito poder e seu santo caráter. Este mandamento, portanto, diz
respeito à santidade do Senhor. Tomar o nome do Todo-Poderoso
em vão é mencioná-lo de modo banal, profano, secular e
irreverente.

Na Bíblia, Deus se revela ao Seu povo mediante vários nomes:


Elohim (Is 54.5), Yahweh-Nissi (O Senhor é a minha Bandeira - Êx
17.5). Esses nomes revelam Seus atributos. O nome de Deus é
santo e deve ser reverenciado pelo homem.

II. OS NOMES DE DEUS NO ANTIGO E NO NOVO TESTAMENTO


1. Antigo Testamento.

O nome do SENHOR é muitas vezes usado de modo composto


com outros nomes para apresentar o verdadeiro Deus em algum
aspecto de Seu caráter, satisfazendo certas necessidades de Seu
povo. Teremos que nos satisfazer com uma apresentação dos
títulos e algumas referências onde são usados:

1) ELOHIM: Está no original no plural e significa Deus (Gn 1.1).


2) EL-SHADAI: O Deus Todo-Poderoso (Gn 17.1).
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3) EL-ELYON: O Deus-Altíssimo (Gn 14.19).
4) EL-OLAM: O Deus Eterno (Gn 21.33).
5) ADONAI: É também como ELOHIM uma palavra plural. ADONAI
significa Senhor (Gn 15.2,8).
6) IAVÉ: O Senhor proverá (Gn 22.8 – 14).
7) IAVÉ NISSI: O Senhor é minha bandeira (Êx 17.15).
8) IAVÉ SHALOM: O Senhor é Paz (Jz 6.24)
9) IAVÉ SABAOTH: O Senhor dos Exércitos (1Sm 1.3; 17.45; Sl
24.10; 46.7,11).
10) IAVÉ MACADESHÉM: O Senhor é vosso santificador (Êx
31.13).
11) IAVÉ RAAH: O Senhor é meu pastor (Sl 23.1).
12) IAVÉ TSIDKÊNU: O Senhor é nossa justiça (Jr 23.6; 33.16).
13) IAVÉ EL GEMOLAH: O Senhor é o Deus da retribuição (Jr
51.56).
14) IAVÉ NAKEH: O Senhor que fere (Ez 7.9).
15) IAVÉ SHAMÁ: O Senhor que está presente (Ez 48.35).
16) IAVÉ RAFÁ: O Senhor que sara (Êx 15.26).
17) EL OLAM: Deus Eterno ou Deus da Eternidade (Gn 21.33; Is
40.28).
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2. Novo Testamento.

 THEOS: Equivale a EL, ELOHIM e ELYON. É o mais aplicado


a Deus (Mc 5.7; Lc 1.32,35; At 7.48, 16.17; Hb 7.1).

 KYRIOS: Designa Deus como Senhor, o Possuidor, o


Poderoso.
E empregado ao Deus Pai como também ao Filho (Fp 2.11).

A natureza e o caráter de Deus foram manifestados através dos


seus nomes e atributos. Os nomes de Deus revelam a sua natureza
singular, enquanto os seus atributos, o seu caráter santíssimo (Gn
22.14; Êx 15.26; Sl 139).
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Capítulo 8 - Revelação e
Conhecimento de Deus

I. AS FONTES DAS REVELAÇÕES DE DEUS


Vejamos duas definições para “revelação”.
 Definição linguística. A palavra revelação provém do latim
revelatione e significa: revelar, tirar o véu, descobrir (2 Co
3.16).
 Definição teológica. Ação divina que comunica aos homens
os desígnios de Deus e as verdades que estes envolvem (1
Co 2.10).
As Escrituras Sagradas afirmam que a natureza essencial de Deus
não pode ser plenamente conhecida pela criatura (Êx 33.20; Jó
11.7; Is 40.28; Jo 1.18; 1 Tm 6.16; 1 Jo 3.2). No entanto, Deus se
auto revelou por meio da criação — Revelação Geral (Sl 8; 19; 148;
Rm 1.19-21; 2.25,16); através do Verbo Encarnado (Jo 1.1, 14, 17,
18; 14.8,9; Hb 1.1-3) e pelas Escrituras — Revelação Especial (2
Tm 3.16; Sl 119.33-40).
H. C. Thiessem relaciona as fontes da revelação da seguinte forma:
1) Revelação geral de Deus: Na natureza, história e na
consciência do homem. Esta revelação é dirigida de modo geral a
todas as criaturas inteligentes, e, portanto, é acessível a todos os
homens.
A bíblia a testa a REVELAÇÃO GERAL em passagens como as
seguintes; “Os céus manifestam a Glória de Deus e o firmamento
anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia e
uma noite revela conhecimento à outra noite” (Salmos 19.1, 2).
“Contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo,
fazendo o bem, dando-vos dos céus chuvas e estações frutíferas,
enchendo os vossos corações de fartura e de alegria” Atos 14.17.
“porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles,
porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de
Deus, assim como o seu eterno poder como também a sua própria
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divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo,
sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas”,
Romanos 1.19, 20.
2) Revelação especial de Deus: Em milagres, profecia e Jesus
Cristo. Esta última fonte, Cristo, como o centro da história e da
revelação (Palestras em Teologia Sistemática, H. C. Thiessen
páginas 10-18).
Da revelação especial temos abundante prova no Velho e no Novo
testamento. “O Senhor advertiu a Israel e a Judá por intermédio de
todos os profetas e de todos os videntes, dizendo: Voltai-vos dos
vossos maus caminhos, e guardai os meus mandamentos e os
meus estatutos, segundo toda a lei que prescrevi a vossos pais e
que vos enviei por intermédio dos meus servos, os profetas” 2 Reis
17.13. “manifestou os seus caminhos a Moisés, e os seus feitos,
aos filhos de Israel” (Salmos 103.7). “ninguém jamais viu a Deus: o
Deus unigênito, que está no seio do pai, é quem o revelou” João
1.18. “havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas
maneiras aos pais, nos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo
filho” (Hebreus 1.1, 2).
A revelação especial está arraigada no plano de redenção de
Deus, é dirigida ao homem na qualidade de pecador, pode ser
adequadamente compreendida e assimilada somente pela fé, e
serve ao propósito de assegurar o fim para o qual o homem foi
criado a despeito de toda a perturbação produzida pelo pecado.
 Jesus Cristo: A principal fonte de revelação (Jo 1.14, 14.9,17.
6-8; Hb 1.1,2).
“Mas as revelações mais ricas, e mais espirituais, e mais efetivas, e
mais verdadeiras, são as que se realizaram em Cristo Jesus, no
que ele era, no que disse e no que fez” (Langston).
Jesus Cristo é a revelação de Deus, e somente aquele que conhece
a Jesus Cristo conhece alguma coisa da revelação. A revelação é
um ato de graça, pelo qual o homem se torna consciente da sua
condição pecaminosa, mas também livre, imerecida e perdoadora
complacência de Deus em Jesus Cristo.
 As Escrituras Sagradas: Revelação escrita da sua Pessoa,
caráter, propósitos e ações (Jo 5.39).
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 O Espírito Santo: Este comunica aos homens a sabedoria de
Deus e seus desígnios (Jo 16.13,14; 1 Co 2.6-10; Ap 2.11 e
22.17).
 O homem: Por sua natureza moral, sua semelhança com o
Criador e por ser essencialmente religioso é fonte da teologia.
Este encontra sua expressão maior no contexto da Igreja (Ef
3.8-12).
 A natureza: O salmista e rei Davi viu na natureza uma
revelação de Deus (SI 19.1).
 História: A marcha dos eventos da história universal fornece
evidências de um poder e de uma providência dominantes.
"Os princípios do divino governo moral encontram-se na
história das nações tanto quanto na experiência dos homens”
(D. S. Clark). A história bíblica foi escrita para revelar Deus na
história, isto é, para ilustrar a obra de Deus nos negócios
humanos (SI 75.7: Dn 2.21 e 5.21).

II. O CONHECIMENTO DE DEUS

A teologia, como conhecimento de Deus, difere num importante


ponto de todos os demais tipos de conhecimento. No estudo de
todas as outras ciências, o homem se coloca acima do objeto de
sua investigação e ativamente extrai dele o seu conhecimento pelo
método que lhe pareça mais apropriado, mas, na teologia, ele não
pode colocar-se acima, e, sim, sob o objeto do seu conhecimento.
Noutras palavras, o homem só pode conhecer a Deus na medida
em que Este ativamente se faz conhecido.

Deus é, antes de tudo, o sujeito que transmite conhecimento ao


homem, e só pode tornar-se objeto de estudo do homem na medida
em que este assimila e reflete o conhecimento a ele transmitido
pela revelação. Sem a revelação, o homem nunca seria capaz de
adquirir qualquer conhecimento de Deus. E, mesmo depois de Deus
ter-se revelado objetivamente, não é a razão humana que descobre
Deus, mas é Deus que se descerra aos olhos da fé.

É nosso dever procurar conhecer a Deus, sendo isso algo


necessário para a sustentação de nossa própria vida. Pelo menos
espiritualmente falando, isso não é algo que possamos dispensar,
se assim quisermos fazer.
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Há trechos bíblicos que abordam a natureza incompreensível de
Deus, como Jó 11.7; 21.14; 37.26; Sl 77:19; Rm 11.33.
Portanto, qualquer conhecimento de Deus, que venhamos a obter, é
extrema mente limitado, mas, esse conhecimento limitado reveste-
se de imensa importância.

1. Maneiras de conhecer a Deus

Não podemos compreender Deus, não podemos ter um absoluto e


exaustivo conhecimento dele, mas, sem dúvida, podemos ter um
conhecimento relativo ou parcial do Ser Divino. É perfeitamente
certo que este conhecimento de Deus só é possível porque Ele se
colocou em certas relações com as Suas criaturas morais e se
revelou a estas, e que mesmo este conhecimento é humanamente
condicionado; mas, não obstante, é um conhecimento real e
verdadeiro, e, no mínimo, é um conhecimento parcial da natureza
absoluta de Deus.

a) A principal dessas maneiras é a auto revelação de Deus.

A própria existência da Bíblia serve de prova do fato de que Deus


se revela a nós, embora essa revelação seja necessariamente
parcial.
Ver Mt 11.27; João 17.3; Rm 1.19,20; Ef 1.17; Cl 1.10 e 1 João
5.20.

b) A Revelação do Filho. O Logos, o princípio do Filho da deidade,


manifesta-se em Jesus Cristo, mediante a sua encarnação. Essa é
a suprema revelação de Deus entre os homens (João 1.14,18).

c) Abordagem Racional. O primeiro capítulo de Romanos


reconhece que a razão humana pode chegar a obter certo
conhecimento de Deus (vs. 19,20).

d) A Abordagem Intuitiva. O homem tem acesso a um


conhecimento que ultrapassa à percepção dos sentidos e da razão.
Ele é capaz de conhecimento imediato (intuição), sem fontes
conhecidas. Parte disso deve-se, sem dúvida, à sua afinidade com
a natureza divina, pois o homem foi criado à imagem de Deus.
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Sua faculdade intuitiva revela-lhe certas coisas sobre a natureza de
Deus. Ele possui ideias inatas entre as quais se destaca a Ideia
Divina. A crença na existência de Deus, bem como algum
conhecimento sobre Deus, não depende da revelação, além de
transcender à razão. Esse conhecimento tem base firme na própria
natureza humana, criada com a capacidade inata de reconhecer a
Deus.

e) As Escrituras. O Deus da teologia bíblica é, portanto,


decisivamente conhecido a partir das informações das Escrituras,
isto é, da revelação profética- apostólica, centrada em Jesus Cristo
como a revelação encarnada da divindade.

Lutero distingue o Deus absconditus (Deus oculto) e o Deus


revelatus (Deus revelado); mas, por outro lado, ele também afirma
que, conhecendo o Deus revelatus, somente O conhecemos em
Seu ocultamento. Com isto ele quer dizer que, mesmo em Sua
revelação, Deus não se manifestou inteiramente como Ele é
essencialmente, mas, quanto à Sua essência continua encoberto
por impenetrável escuridão. Só conhecemos a Deus na medida em
que Ele entra em relação conosco.

Deus, nas profundezas do Seu Ser, está fora de alcance. Não


podemos conhecer a Deus nas profundezas do Seu Ser absoluto.
Mas podemos, ao menos, conhecê-lo até onde Ele se revela em
Sua relação conosco.
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Capítulo 9 - Os atributos de Deus

I. DEFININDO O TERMO ATRIBUTO

O termo ‘atributo’, em sua aplicação às pessoas e às coisas,


significa algo pertencente às pessoas ou coisas.

Pode ser definido como qualidade ou característica essencial,


permanente, distintiva e que pode ser afirmada, como por exemplo,
a cor ou o perfume de uma rosa.

Os atributos de uma coisa lhe são tão essenciais que, sem eles, ela
não poderia ser o que é; e isso é igualmente verdade dos atributos
de uma pessoa.

Se um homem se visse privado dos atributos que lhe pertencem,


deixaria de ser homem, pois tais atributes lhe são inerentes, na sua
qualidade de ser humano. Se transferirmos essas ideias a Deus,
descobriremos que Seus atributos Lhe pertencem inalienavelmente,
e, portanto, o que Ele é agora, há de ser sempre.

Os atributos de Deus, portanto, são aquelas características


essenciais, permanentes e distintivas que podem ser afirmados a
respeito de Seu Ser. Seus atributos são Suas perfeições,
inseparáveis de Sua natureza e que condicionam Seu caráter.

RESUMO: Os atributos de Deus São aquelas qualidades e


características da natureza divina que são essenciais a Deus como
Ser Supremo. Seus atributos são Suas perfeições pessoais sem as
quais Ele não seria o Deus vivo e verdadeiro - O Deus da Bíblia. Os
atributos divinos explicam o que Deus é e o que Ele faz.

Diversos métodos diferentes de classificar os atributos de Deus têm


sido usados. Neste capítulo adotaremos provavelmente a
classificação mais comum: os atributos incomunicáveis de Deus
(isto é, os atributos que Deus não compartilha ou "comunica" a
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outros) e os atributos comunicáveis de Deus (os que Deus
compartilha ou "comunica" a nós).

Exemplos dos atributos incomunicáveis de Deus são eternidade


(Deus existe desde toda eternidade, mas nós não), imutabilidade
(Deus não muda, mas nós mudamos) ou onipresença (Deus está
presente em toda parte, mas nós estamos presentes em somente
um lugar.).

Exemplos dos atributos comunicáveis são amor (Deus é amor e


nós somos capazes de amar também), conhecimento (Deus tem
conhecimento e nós somos capazes de ter conhecimento também),
misericórdia (Deus é misericordioso é nós somos capazes de ser
misericordiosos também) e justiça (Deus é justo e nós também
somos capazes de ser justos).

Essa classificação dos atributos de Deus em duas categorias


principais é útil, e a maioria das pessoas tem um senso inicial de
quais atributos devem ser chamados incomunicáveis e quais devem
ser chamados comunicáveis. Assim, faz sentido dizer que o amor
de Deus é comunicável, mas sua onipresença não é.

Contudo, com essa reflexão percebemos que essa distinção,


embora útil, não é perfeita, pois não há nenhum atributo de Deus
que seja completamente comunicável, e não há nenhum atributo de
Deus que seja completamente incomunicável!

Por exemplo, a sabedoria de Deus usualmente seria chamada


atributo comunicável, porque nós também podemos ser sábios. Mas
nunca seremos infinitamente sábios como ele é sábio.

Sua sabedoria é em algum grau compartilhada por nós, mas ela


nunca é plenamente compartilhada por nós. Assim acontece com
todos os outros atributos chamados normalmente "atributos
comunicáveis": Deus de fato os compartilha conosco em alguma
medida, mas deve ser dito que nenhum desses atributos é
completamente comunicável. É melhor dizer que esses atributos
que chamamos "comunicáveis" são os mais compartilhados
conosco.
ECB 50

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Já os atributos que chamamos "incomunicáveis" são mais bem
definidos ao dizermos que são atributos de Deus menos
compartilhados por nós.

Nenhum desses atributos de Deus é completamente desprovido de


pelo menos alguma semelhança com o caráter dos seres humanos.
Por exemplo, Deus é imutável e nós mudamos. Mas não mudamos
completamente, pois há alguns aspectos de nosso caráter que
permanecem em grande parte imutável: nossa identidade pessoal,
muitas de nossas características individuais e alguns de nossos
propósitos de longa duração permanecem substancialmente sem
mudança por muitos anos (e permanecerão em grande parte
imutável uma vez que fomos livres do pecado e começamos a viver
na presença de Deus para sempre).

II. OS ATRIBUTOS INCOMUNICÁVEIS DE DEUS

1. Independência.

A independência de Deus é definida do seguinte modo: Deus não


precisa de nós ou ao restante da criação pura nada, todavia nós e o
restante da criação o glorificamos e lhe trazemos alegria. Esse
atributo de Deus é algumas vezes chamado auto existência ou
asseidade (das palavras latinas a se, que significam "por si
mesmo").

Em diversos lugares a Escritura ensina que Deus não necessita de


parte alguma da criação a fim de existir ou para outra razão
qualquer.

Deus é absolutamente independente e autossuficiente. Paulo


proclamou aos homens de Atenas; "O Deus que fez o mundo e tudo
o que nele há é o Senhor dos céus e da terra, e não habita em
santuários feitos por mãos humanas. Ele não é servido por mãos de
homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a
todos a vida, o fôlego e as demais coisas" (At 17.24,25).

A implicação é que Deus não precisa de nada da raça humana (Jó


41.11; SI 50.10-12).
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As pessoas pensam às vezes que Deus criou os seres humanos
porque estava solitário e carente da companhia de outras pessoas.
Se isso fosse verdade, certamente significaria que Deus não é
completamente independente de sua criação. Significaria que Deus
precisou criar pessoas a fim de ser completamente feliz e realizado
em sua existência pessoal.

Todavia, há algumas indicações específicas nas palavras de Jesus


que mostram que essa ideia é inexata. Em João 17.5, Jesus ora: "E
agora, Pai, glorifica-me junto a ti, com a glória que eu tinha contigo
antes que o mundo existisse". Aqui está a indicação de que houve o
compartilhamento de glória entre o Pai e o Filho antes da criação.

A seguir, em João 17.24, Jesus fala ao Pai da "minha glória, a glória


que me deste porque me amaste antes da criação do mundo".
Houve amor e comunicação entre o Pai e o Filho antes da fundação
do mundo, e nessa comunhão não houve carência ou falta que
tornasse a criação da raça humana uma necessidade.

Com respeito à existência de Deus, essa doutrina também nos


recorda que somente Deus existe em virtude da própria natureza e
que ele nunca foi criado e nunca veio à existência. Ele sempre
existiu. Isso é visto no fato de que todas as coisas que existem
foram feitas por ele (“... porque criaste iodas as coisas, e por tua
vontade elas existem e foram criadas" (Ap 4.11); isso é também
afirmado em Jo 1.3; Rm 11.35,36; 1 Co 8.6.

Moisés nos diz que Deus existia antes que houvesse criação:
"Antes de nascerem os montes e de criares a terra e o mundo, de
eternidade a eternidade tu és Deus" (Sl 90.2). O ser de Deus tem
sempre sido e sempre será exatamente o que ele é. Deus não é
dependente de qualquer parte da criação para sua existência ou
para sua natureza.

O ser de Deus é também algo totalmente singular. Não se trata


apenas de que Deus não precise da criação para nada, mas
também de que Deus não pode necessitar da criação para nada. A
diferença entre a criatura e o Criador é imensa, pois Deus existe em
uma ordem fundamentalmente diferente de existência.
ECB 52

Escola de Capacitação Bíblica


Não significa apenas que nós existimos e que Deus sempre existiu,
mas também que Deus existe necessariamente de modo
infinitamente melhor, mais forte e mais excelente. Essa diferença
entre o ser de Deus e o nosso é mais que a diferença entre o sol e
uma vela, mais que a diferença entre o oceano e uma gota d'água,
mais que a diferença entre o gelo do Ártico e um floco de neve,
mais que a diferença entre o universo e a sala onde estamos
sentados: o ser de Deus é qualitativamente diferente. Nenhuma
limitação ou imperfeição na criação deveria ser projetada em nossa
concepção de Deus. Ele é o Criador; tudo o mais é criatura. Tudo
pode desaparecer em um instante; ele existe necessariamente para
sempre.

Uma consideração equilibrada com respeito a essa doutrina é o fato


de que nós e o restante da criação de fato glorificamos a Deus e lhe
trazemos alegria. Isso deve ser afirmado a fim de nos guardarmos
de qualquer ideia de que a independência de Deus nos torna sem
significado.

Alguém poderia imaginar que, se Deus não precisa de nós para


nada, então não somos importantes de forma alguma. Haveria,
portanto, qualquer significado em nossa existência e na existência
do restante da criação? Em resposta deve ser dito que de fato nós
temos muita importância, porque Deus nos criou e determinou que
teríamos muito significado para ele. Essa é s definição final da
importância genuína.

Deus fala de seus filhos e filhas dos fins da terra como "todo o que
e chamado pelo meu nome, a quem criei para a minha glória, a
quem formei e fiz" (Is 43.7).

Embora Deus não precisasse nos criar, ele escolheu criar-nos na


total expressão de sua livre escolha. Ele decidiu que nos criaria
para que o glorificássemos (Ef 1.11,12; Ap 4.11).

É também verdade que somos capazes de trazer verdadeira alegria


e prazer a Deus. Um dos fatos mais impressionantes da Escritura é
que Deus realmente tem prazer em seu povo e se regozija nele.
ECB 53

Escola de Capacitação Bíblica


Sofonias profetiza que o Senhor "se regozijará em você; com o seu
amor a renovará, ele se regozijará em você com brados de alegria"
(Sf 3.17; cf. Is 62.3-5). Deus não precisa de nós para nada, todavia
é um fato impressionante de nossa existência que Ele escolhe ter
prazer em nós e permite-nos trazer alegria ao seu coração. Essa é
a base para a importância pessoal na vida de todas as pessoas em
relação a Deus: ser importante para Deus é ser importante no
sentido máximo. Nenhuma importância maior pode ser imaginada.

Jerônimo disse: Deus é a origem de Si mesmo e a causa de Sua


própria substância. Jerônimo estava errado, pois Deus não tem
causa de existência, pois não criou a Si mesmo e não foi causado
por outra coisa ou por Si mesmo; Ele nunca teve início. Ele é o
Eterno EU SOU (Êx 3.14), portanto Deus é absolutamente
independente de tudo fora de Si mesmo para a continuidade e
perpetuidade de Seu Ser. Deus é a razão de sua própria existência
(Jo 5.26; At 17.24-28; 1 Tm 6.15,16).

2. Imutabilidade.

Podemos definir a imutabilidade de Deus da seguinte forma: Deus é


imutável em seu ser, perfeições, propósitos e promessas, todavia
Deus age e sente emoções, e ele age e sente emoções de modo
diferente em respostas às diferentes situações.

Evidência na Escritura.

Nos salmos 102 encontramos um contraste entre as coisas que


podemos pensar que são permanentes, como a terra e os céus, de
um lado, e Deus, do outro. O salmista diz:

“Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das tuas


mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles se
envelhecerão como um vestido; como roupa os mudarás, e ficarão
mudados. Porém tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim”
(Sl 102. 25 – 27).

DEUS existia antes de os céus e a terra terem sido feitos, e ele


existirá muito depois que eles forem destruídos. Deus causa
ECB 54

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mudança ao universo, mas, em contraste com essa mudança, ele é
o mesmo.

a) A "base" para a imutabilidade de Deus: É Sua simplicidade,


eternidade, auto existência e perfeição. Simplicidade porque sendo
Deus uma substância simples, indivisível, sem mistura, não está
sujeito à variação (Tg 1.17). Eternidade porque Deus não está
sujeito às variações e circunstâncias do tempo, por isso Ele não
muda (Sl 102.26,27; Hb 1.12 e 13.8). Auto existência porque uma
vez que Deus não é causado, mas existe em Si mesmo, então Ele
tem que existir da forma como existe, portanto sempre o mesmo (Êx
3.14).

E perfeição porque toda mudança tem que ser para melhor ou pior
e sendo Deus absolutamente perfeito jamais poderá ser mais sábio,
mais santo, mais justo, mais misericordioso, e nem menos. Por isso
Deus é imutável como a rocha (Dt. 32.4).

b) Imutabilidade não significa imobilidade: Nosso Deus é um


Deus de ação (Is 43.13).

c) Imutabilidade implica em não arrependimento: Alguns


versículos falam de Deus como se Ele se arrependesse (Êx 32.14,
Jr 18.8; Jl 2.13). Trata-se de antropomorfismo (Nm 23.19; Rm
11.29; 1 Sm. 15.29; Sl. 110.4).

d) Imutabilidade de Deus em Sua natureza: Deus é perfeito em


sua natureza por isso não muda nem para melhor nem para pior
(Ml. 3.6).

e) Imutabilidade de Deus em Seus atributos: Deus é imutável em


suas promessas (1 Rs 8.56; 2 Co 1.20); em sua misericórdia (Sl
103.17; Is 54.10); em sua justiça (Ez 8.18); em seu amor (Gn
18.25,26).

f) Imutabilidade de Deus em Seu conselho: Deus planejou os


fatos conforme a sua vontade e decretou que este plano seja
concretizado. Nada poderá se opor à sua vontade. O próprio Deus
jamais mudará de opinião, mas fará conforme seu plano
predeterminado (Is 46.9,10; Sl. 33.11; Hb 6.17).
ECB 55

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3. Eternidade.

A infinidade de Deus em relação ao tempo é denominada


eternidade. Deus é Eterno (Sl 90.2; 102.12,24-27; Sl 93.2; Ap 1.8;
Dt 33.27; Hb 1.12).

A eternidade de Deus pode ser definida da seguinte maneira: Deus


não tem começo, fim ou sucessão de momentos em seu próprio
ser, e Ele vê todo o tempo de modo vividamente igual, todavia Deus
vê os eventos no tempo e os atos no tempo.

A eternidade de Deus não significa apenas duração prolongada,


para frente e para traz, mas sim que Deus transcende a todas as
limitações temporais (2 Pe 3.8) existentes em sucessões de tempo.
Deus preenche o tempo. Nossa vida se divide em passado,
presente e futuro. Mas não há essa divisão na vida de Deus. Ele é o
Eterno EU SOU. Deus é elevado acima de todos os limites
temporais e de toda a sucessão de momentos, e tem a totalidade
de sua existência num único presente indivisível (Is 57.15).

Eternidade é o infinito quanto ao tempo. Deus não tem início. De


eternidade a eternidade tu és Deus (SI 90.2; 1 Cr 29.10; Hc 1.12).
Ele tem auto existência, um atributo eterno de Deus. Ele não deve a
sua existência a ninguém, porque Ele é o princípio e o fim, o Alfa e
o Ômega (Ap 1.8). Ele é Jeová (nome usado 6.437 vezes) — a
eterna auto existência do único Deus.

Deus não está sujeito ao tempo

Para Ele, o passado, o presente e o futuro são um eterno presente.


O domínio e o poder pertencem ao único Deus, antes dos séculos,
agora, e para todo o sempre (Jd v 25). Por isto é que '‘... um dia
para o Senhor é como mil anos e mil anos como um dia'' (2 Pe
3.8b). Os anos de Deus nunca terão fim (SI 102.27): Ele é o Rei dos
séculos (1 Tm 1.17).

Deus habita na eternidade (Is 57.15) e o seu trono é desde a


eternidade (SI 93.2). O eterno Deus não se cansa (Is 40.28). Este
eterno Deus é o nosso Deus!
ECB 56

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Pode-se inferir que Deus nunca começou a existir. Deus criou todas
as coisas e que ele próprio é um espírito imaterial. Antes de Deus
ter feito o universo, não havia matéria alguma, então ele criou todas
as coisas (Gn 1.1; Jo 1.3; 1 Co 8.6; Cl 1.16; Hb 1.2).

O estudo da física nos diz que a matéria, o tempo e o espaço


devem todos ocorrer juntos: se não há matéria, não houve nenhum
"tempo", ao menos não no sentido da sucessão de momentos.
Portanto, quando Deus criou o universo, ele também criou o tempo.
Porém, antes de ter havido o universo e antes de ter havido o
tempo, Deus sempre existiu, sem começo e sem ser influenciado
pelo tempo.

Em alguns lugares a Bíblia faia de Deus existindo ou agindo "antes"


de haver criação, ou antes, de haver tempo.

“Salmos 90.2, fala de Deus existindo antes de nascerem os montes”


ou [antes] de criares a terra e o mundo.

Efésios 1.4 diz que Deus nos escolheu em Cristo "antes da criação
do mundo". De modo ainda mais notável, Judas 25 diz que "... ao
único Deus, nosso Salvador, sejam glória, majestade, poder e
autoridade, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor, antes de todos os
tempos, agora e para todo o sempre! Amém. Aqui Judas atribui
glória, majestade, poder e autoridade a Deus "antes de todos os
tempos (esta é uma boa tradução da frase grega pró pantos tou
aiõnos), agora e para todo o sempre". É significativo que esta
tríplice descrição de Judas indique uma sequência de passado—
presente - futuro ("antes de todos os tempos—agora—para todo o
sempre"), demonstrando assim que a frase é corretamente
traduzida por "antes de todos os tempos".

Ás passagens da Escritura citadas anteriormente e o fato de que


Deus sempre existiu, mesmo antes de haver tempo, combinam-se
para nos indicar que o próprio ser de Deus não possui uma
sucessão de momentos ou qualquer progresso de um estado de
existência para outro. Para o próprio Deus, tudo de sua existência
está sempre no "presente", embora sem dúvida seja extremamente
ECB 57

Escola de Capacitação Bíblica


difícil para nós entender tal ideia, já que ela se refere a uma espécie
de existência diferente da que experimentamos.

4. Onipresença

Exatamente como Deus é ilimitado ou infinito com relação ao


tempo, ele também é ilimitado com relação ao espaço. Essa
característica da natureza de Deus é chamada onipresença de
Deus (o prefixo latino “omni” significa "todo").

A onipresença de Deus pode ser definida da seguinte maneira:


Deus não tem tamanho ou dimensão espacial, e está presente em
cada ponto do espaço com a plenitude do seu ser, todavia Deus
age diferentemente em lugares diferentes.

Deus ocupa o espaço variavelmente porque Ele não habita na terra


do mesmo modo que habita no céu, nem nos animais como habita
nos homens, nem nos ímpios como habita nos piedosos, nem na
igreja como habita em Cristo (Is 66.1; At 17.27,28; Compare Ef 1.23
com Cl 2.9).

Deus pode estar presente para punir, suster ou abençoar. A ideia


da onipresença de Deus tem algumas vezes complicado as
pessoas que imaginam como Deus pode estar presente, por
exemplo, no inferno. De fato, não é o inferno o oposto à presença
de Deus ou a ausência de Deus? Essa dificuldade pode ser
resolvida quando se percebe que Deus está presente de modos
diferentes em diferentes lugares.

Outro modo de entender isso é dizer que Deus age diferentemente


em diferentes lugares em sua criação. Algumas vezes Deus está
presente para punir, e parece que é desse modo que Ele está
presente no inferno. Uma passagem aterrorizadora em Amos
mostra de modo vívido essa presença de Deus em juízo (Am 9.1-4).

Outras vezes Deus está presente não para punir nem para
abençoar, mas meramente presente para suster, ou para manter o
universo existindo e funcionando do modo que ele pretendeu que
funcionasse. Nesse sentido, a natureza divina de Cristo está em
toda parte; "Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste" (Cl
ECB 58

Escola de Capacitação Bíblica


1.17). O autor de Hebreus diz de Deus Filho que ele sustenta "todas
as coisas por sua palavra poderosa" (Hb 1.3).

Todavia, em outras ocasiões ou em outros lugares, Deus está


presente para abençoar. Davi diz: "Tu me farás conhecer a vereda
da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita"
(Sl 16.11), Aqui Davi está falando não da presença de punição ou
meramente da presença de manutenção, mas da presença de Deus
para abençoar.

Em uma espécie de expressão paralela, quando a Bíblia fala a


respeito de Deus estar "longe", ela normalmente quer dizer que ele
"não está presente para abençoar".

Por exemplo, Isaías 59.2 diz; "Mas as suas maldades separaram


vocês do seu Deus; os seus pecados esconderam de vocês o rosto
dele, e por isso ele não os ouvirá".

Provérbios 15.29 declaram; "O SENHOR está longe dos ímpios,


mas ouve a oração dos justos".

Esses versículos não querem dizer que o ser de DEUS não esteja
presente ali, mas que ele não está lá para abençoar as pessoas e
dar evidência de sua presença.

Em resumo, Deus está presente EM toda parte do espaço com a


totalidade do seu ser, mas age diferentemente em lugares
diferentes. Além disso, quando a Bíblia fala da presença de Deus,
ela usualmente não está falando da onipresença em cada ponto, ou
de sua presença para punir ou suster. Em vez disso, ela em geral
se refere à sua presença para abençoar, e é normal que nossa
própria linguagem se adapte a esse uso bíblico.

Qual é a aplicação prática da onipresença de Deus?

a) Deus “está em todo o lugar: ‘Os olhos do Senhor estão em


todo o lugar...” (Pv 15.3a), “... e está vendo todos os filhos dos
homens” (SI 33.13). Por isto não é possível alguém se esconder de
Deus. ' 'Esconder-se-á alguém em esconderijos de modo que eu
não o veja?..." (Jr 23.24a; 16.17; Am 9.2,3; SI 139.7-10). Deus vê e
ECB 59

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está presente, ainda que alguém diga: “O Senhor não nos vê” (Ez
9.9; Hb 4.13).

b) Deus está presente em todo o lugar, e por isso podemos


chamá-lo para ser a nossa testemunha (Rm 1.9). A Bíblia diz: “...
A testemunha no céu é fiel” (SI 89.37b). No caminho do Senhor, a
sua presença irá conosco (Êx 33.14,15), e na sua presença há
abundância de alegria (SI 16.11).

c) Deus está presente na hora da angústia (SI 46.1; 86.15). Por


isso a angústia do seu povo é também a angústia dele (Is 63.9). A
ajuda de Deus está perto (SI 121.1-5).

d) A onipresença de Deus explica que Ele se manifesta quando


os crentes se reúnem. “... Ele é a plenitude daquele que enche
tudo em todos" (Ef 1.23 trad. rev.) Ele habita na sua igreja (1 Co
3.16; 2 Co 6.16). “... Os retos habitarão na sua presença (SI
140.13b). “... Eis que estou convosco..." (Mt 28.20).

e) A manifestação de Deus na vida de oração é explicada,


também, quando nos lembramos da sua onipresença. Ele está
perto dos que o invocam (SI 145.18; Is 57.15). Ele sabe o que
precisamos antes de pedirmos (Is 65.24). Que gente há tão grande,
que tenha deuses tão chegados como o Senhor nosso Deus, todas
as vezes que o chamamos?(Dt 4.7).

5. Unidade.

A unidade de Deus é definida da seguinte maneira: Deus não é


dividido em partes, todavia vemos diferentes atributos de Deus
enfatizados em tempos diferentes.

Quando a Escritura fala a respeito dos atributos de Deus, ela nunca


considera um atributo de Deus mais importante que os restantes.

Há uma suposição de que cada atributo é completamente


verdadeiro em relação à de Deus e que é verdadeiro a respeito do
caráter total de Deus. Por exemplo, João pode dizer que "Deus é
luz" (1 Jo 1.5) e, então, um pouco mais tarde dizer também que
"Deus é amor" (1 Jo 4.8). Não há indicação alguma de que parte de
ECB 60

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Deus seja luz e parte de Deus seja amor, ou que Deus seja
parcialmente luz e parcialmente amor. Nem devemos pensar que
Deus ë mais luz que amor. Ao contrário, é o próprio Deus que é luz,
e é apropria Deus que é amor, O ser total de Deus inclui tudo de
seus atributos: ele é totalmente amor, totalmente misericordioso,
totalmente justo, e assim por diante. Cada atributo de Deus que
encontramos na Escritura é verdadeiro em relação a todo ser de
Deus, e, portanto, podemos dizer que cada atributo de Deus
também qualifica os outros atributos.

Por que, então, a Escritura fala desses diferentes atributos de


Deus?

É provavelmente porque somos incapazes de captar todo o caráter


de Deus de uma só vez e precisamos aprender dele de diferentes
perspectivas durante um período de tempo - Todavia, essas
perspectivas nunca devem ser colocadas em oposição uma à outra,
porque elas são exatamente modos diferentes de olhar para a
totalidade do caráter de Deus.

Em termos de aplicação prática, isso significa que nunca devemos


pensar, por exemplo, que Deus é o Deus de amor em determinado
ponto da história e o Deus justo ou irado em outro ponto
determinado da história. Ele é o mesmo Deus sempre, e cada coisa
que ele diz ou faz é plenamente coerente com todos os seus
atributos.

Não é exato dizer, como alguns têm dito, que Deus é o Deus de
justiça no Antigo Testamento e que ele é o Deus de amor no Novo
Testamento. Deus é e sempre tem sido infinitamente justo e
infinitamente amoroso, e tudo o que ele faz tanto no AT como no
Novo Testamento está em completa harmonia com esses dois
atributos.

Contudo, é verdade que certas ações de Deus mostram alguns de


seus atributos mais proeminentemente. Á criação demonstra seu
poder e sabedoria, o juízo de Sodoma e Gomorra demonstra sua
santidade e justiça em ira, à expiação demonstra seu amor e
justiça, e o esplendor do céu demonstra sua glória e beleza.
ECB 61

Escola de Capacitação Bíblica


Mas todos esses eventos de um modo ou outro também
demonstram seu conhecimento, santidade, misericórdia, verdade,
paciência e soberania. Seria difícil encontrar algum atributo de Deus
que não se reflita, ao menos em certa medida, em qualquer de seus
atos de redenção. Isso se deve ao fato mencionado acima: Deus é
uma unidade e cada coisa que ele faz é um ato da totalidade da
pessoa de Deus.

A questão da Tri-Unidade.

a) Unidade de Ser: Há no Ser divino apenas uma essência


indivisível. Deus é um em sua natureza constitucional. A palavra
hebraica que significa um no sentido absoluto é yacheed (Gn. 22.2),
isto é, uma unidade numérica simples.

Essa palavra não é empregada para expressar a unidade da


divindade. A unidade da divindade é ensinada nas palavras de
Jesus: Eu e o Pai somos um (Jo 10.30). Jesus está falando da
unidade da essência e não de unidade de propósito (Jo 17.11,21-
23, 1 Jo. 5.7).

b) Trindade de Personalidade: Há três Pessoas no Ser divino: o


Pai, o Filho e o Espírito Santo. A palavra hebraica que significa um
no sentido de único é echad que se refere a uma unidade
composta. Esta palavra é empregada para expressar a unidade da
divindade. Esta palavra é usada em Dt. 6.4; Gn. 2.24 e Zc.14.9
(Veja também Dt 4.35;32.39; 1 Cr 29.1; Is 43.10;44.6;45.5; 1 Rs
8.60; Mc 10.9;12.29; 1 Co.8.5,6; 1 Tm 2.5; Tg 2.19; Jo.17.3; Gl 3.20;
Ef 4.6).

c) Elohim: Este nome está no plural e não concorda com o verbo


no singular quando designativo de Deus (Gn 1.26; 3.22; 11.6,7;
20.13; 48.15; Is 6.8).

d) Há distinção de Pessoas na Divindade: Algumas passagens


mostram uma das Pessoas divinas se referindo à outra (Gn. 19.24;
Os. 1.7; Zc 3.1,2; 2 Tm 1.18; Sl 110.1; Hb 1.9).
ECB 62

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III. OS ATRIBUTOS COMUNICÁVEIS DE DEUS

Neste tópico consideraremos os atributos de Deus que são


"comunicáveis", ou mais partilhados conosco que os mencionados
no capítulo anterior.

Este capítulo divide os atributos "comunicáveis" de Deus em cinco


categorias principais, com os atributos individuais listados sob cada
categoria, a saber:

A. Atributos que descrevem o ser de Deus.

I. Espiritualidade
2. Invisíbilidade

B. Atributos mentais.
3. Conhecimento (ou onisciência)
4. Sabedoria
5. Veracidade (incluindo fidelidade)

C. Atributos morais.
6. Bondade (incluindo misericórdia e graça).
7. Amor
8. Santidade
9. Retidão (ou justiça)
10. Zelo
11. Ira

D. Atributos de propósito.

12. Vontade (incluindo liberdade)


13. Onipotência (ou poder, incluindo soberania)

E. Atributos simples.

14. Perfeição
15. Bem-aventurança
16. Beleza
ECB 63

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Como os atributos comunicáveis de Deus devem ser imitados em
nossa vida (Ef 5.1 nos diz para que sejamos "imitadores de Deus,
como filhos amados"), algumas destas seções incluirão uma breve
explicação do modo pelo qual determinado atributo deve ser imitado
por nós.

 Atributos que descrevem o ser de Deus.

1. Espiritualidade.

Muitas vezes as pessoas perguntam: "De que Deus é feito? Será


que ele é feito de carne e sangue como nós?". Certamente que não.

 Qual é, então, o material que forma o seu Ser?


 Por acaso Deus é feito de matéria?
 Ou ele é em algum sentido puro pensamento?

Á resposta da Escritura é que Deus não tem nada que ver com
essas coisas. Ao contrário, lemos que "Deus é Espírito" (Jo 4.24).

Essa afirmação é feita por Jesus no contexto do diálogo com uma


mulher junto ao poço, em Samaria. A discussão é a respeito do
lugar onde as pessoas devem adorar a Deus, e Jesus diz a ela que
a verdadeira adoração a Deus não exige que se esteja presente em
Jerusalém ou em Samaria (Jo 4.21), pois a verdadeira adoração diz
respeito não ao lugar físico, mas à condição espiritual interior do
adorador. Isto porque "Deus é espírito", o que certamente significa
que Deus não está limitado a um local relacionado ao espaço.

Também podemos verificar que Deus proíbe seu povo de pensar


em seu ser como semelhante a qualquer outra coisa na criação
física.

O segundo mandamento (Êx 20.4) proíbe-nos de adorar ou cultuar


qualquer ídolo, qualquer "imagem de qualquer coisa" no céu ou na
terra. Esse é um lembrete de que o ser de Deus é diferente de
qualquer outra coisa que ele criou.

Pensar em seu ser em termos de qualquer outra coisa no universo


criado é falsificá-lo, limitá-lo, é pensar nele como algo menos do
que ele realmente é. De feto, embora devamos dizer que Deus fez
ECB 64

Escola de Capacitação Bíblica


toda a criação de forma que cada parte dela reflete alguma coisa do
seu caráter, também devemos afirmar que descrever Deus existindo
de uma forma ou modo de ser que seja semelhante a qualquer
coisa na criação é pensar em Deus de modo horrivelmente ilusório
e cheio de desonra.

Assim, Deus não possui corpo físico, nem ele é feito de qualquer
espécie de matéria que tenha semelhança com o restante da
criação. Além do mais, Deus não é meramente energia ou
pensamento ou algum outro elemento da criação.

Em vez de todas essas ideias sobre Deus, devemos dizer que Deus
é espírito. Seja o que for que isso possa significar, é uma espécie
de existência que é diferente de qualquer coisa na criação. É uma
espécie de existência muito superior a tudo o que está relacionado
à existência material.

Neste momento podemos a definir espiritualidade de Deus da


seguinte maneira: A espiritualidade de Deus significa que Deus
existe como um ser que não é feito de matéria alguma, que não
possui partes ou dimensões, que é incapaz de ser percebido Pelos
nossos sentidos físicos, e, é mais excelente que qualquer outra
espécie de existência.

Poderia parecer que a espiritualidade de Deus seria mais bem


classificada como atributo "incomunicável", visto que o ser divino é
tão diferente de nós. Não obstante, permanece o fato de que Deus
nos deu um espírito por intermédio do qual o adoramos (Jo 4.24; 1
Co 14.14; Fp 3.3), pelo qual estamos unidos ao espírito do Senhor
(1 Co 6.17), com o qual o Espírito se comunica conosco para
testificar de nossa adução na família de Deus (Rm 8.16) e no qual
passamos para a presença do Senhor quando morremos (Ec 12.7;
Lc 23.46; Hb 12.23; Fp 1.23,24). Portanto, há claramente alguma
comunicação de Deus para nós de natureza espiritual que é algo
que pertence à nossa natureza, embora certamente não em todos
os aspectos. Por essa razão parece também apropriado pensar na
espiritualidade de Deus como atributo comunicável.
ECB 65

Escola de Capacitação Bíblica


Sendo Deus Espírito Ele não tem corpo de substância material, um
corpo com sangue, carne, Ele tem um corpo espiritual (1 Co 15.44).
Embora o corpo espiritual tenha forma, porque Jesus veio em forma
de Deus (Fp 2.6), e foi à expressa imagem da sua pessoa (2 Co
4.4; Cl 1.15 e Hb 1.15), não podemos imaginar qual seja esta forma!
Embora a Bíblia fale do rosto de Deus (Êx 33.20) e de sua boca
(Nm 12.8) e de seus lábios (Is 30.27b) olhos (SI 11.4b; 18.24b),
ouvidos (Is 59.1), mãos e dedos (SI 8.3-6), pés (Ez 1.7), não
devemos por isto procurar materializar a Deus e na nossa mente
criar para nós uma imagem de Deus correspondente com estas
expressões, comparando-as com um corpo humano!

A Bíblia diz que nós não havemos de cuidar que a divindade seja
semelhante à forma que lhe é dada pela imaginação dos homens
(At 17.29). É por isto que Deus adverte: Guardai-vos... para que não
vos corrompais e vos façais alguma escultura, semelhante de
imagem figura de macho ou de fêmea (Dt 4.15,16). Esta tentação
provém do desejo de procurar materializar a Deus.

Deus é Espírito e a sua natureza é essencialmente espiritual. Ele


jamais está sujeito à matéria. Nós também não devemos procurar
chegar a alguma imagem ou visão física de Deus, mas esperar
aquele grande dia quando nós o veremos como Ele é (1 Jo 3.2; 1
Co 13.12).

2. Invisibilidade.

Relacionado à espiritualidade de Deus está o falo de que Deus é


invisível. Todavia, devemos também falar dos modos visíveis por
meio dos quais Deus se manifesta.

A invisibilidade de Deus pode ser definida da seguinte maneira: A


invisibilidade de Deus significa que a essência total de Deus, tudo
de seu ser espiritual, nunca será visível para nós, todavia Deus
ainda se mostra a nós por meio das coisas visíveis criadas.

Muitas passagens falam do fato de que Deus não pode ser visto.
"Ninguém jamais viu a Deus" (Jo 1.18). Jesus diz: "Ninguém viu o
Pai, a não ser aquele que vem de Deus; somente ele viu o Pai" (Jo
6.46). Paulo fala de Deus como o "único que é imortal e habita em
luz inacessível, a quem ninguém viu nem pude ver" (1 Tm 6.16).
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Devemos nos lembrar de que essas passagens foram todas
escritas após muitos eventos na Escritura nos quais as pessoas
viram algum tipo de manifestação externa de Deus.

Por exemplo, bem no começo da Escritura lemos: "O Senhor falava


com Moisés face a face..." (Êx 33.11). Todavia, Deus disse a
Moisés: "... 'Você não poderá ver a minha face, porque ninguém
poderá ver-me e continuar vivo". (Êx 33.20).

O Antigo Testamento também registra algumas teofanias.


TEOFANIA é "uma aparição de Deus". Nessas teofanias Deus
assumiu várias formas visíveis para mostrar-se ao povo.

Deus apareceu a Abraão (Gn 18.1-33), a Jacó (Gn 32.28-30), ao


povo de Israel (como uma coluna de nuvem durante o dia e uma
coluna de fogo durante a noite — Êx 13.21,22), às setenta
autoridades de Israel (Êx 24.9-11), a Manoá e sua esposa (Jz
13.21,22), a lsaías (Is 6.1), e a outros.

A manifestação visível muito maior de Deus que essas teofanias do


Antigo Testamento foi encontrada na pessoa do próprio Jesus
Cristo. Ele pôde dizer: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14.9).

João contrasta o fato de que ninguém jamais viu a Deus com o fato
de que somente o Filho o tornou conhecido a nós: "Ninguém jamais
viu a Deus, mas o Deus Unigénito, que está junto do Pai, o tornou
conhecido" (Jo 1.18). Assim, na pessoa de Jesus temos a
manifestação singular de Deus no Novo Testamento que não
estava disponível aos crentes que viram teofanias no Antigo
Testamento.

Portanto, é correte dizer que, embora a essência total de Deus


nunca possa ser vista por nós, no entanto Deus ainda nos mostra
alguma coisa de si mesmo por meio de coisas criadas, visíveis, e
especialmente na pessoa de Cristo.

Mas como veremos a Deus no céu?

Nunca seremos capazes de ver ou dê conhecer tudo de Deus, pois


“... Deus é grande! Ultrapassa o nosso entendimento" (Jó 36.26; Jo
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6.46; 1 Tm 1.17; 6.16; 1 Jo 4.12). Nunca seremos capazes de ver
— ao menos com os nossos olhos físicos — a totalidade do ser
espiritual de Deus.

Contudo, a Escritura diz que nós veremos a Deus. Jesus afirma:


"Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus" (Mt
5.8). Talvez não conheçamos a natureza dessa "visão" até que
alcancemos o céu.

Embora essa experiência não seja a visão exaustiva de Deus, será


uma visão real de Deus, completamente verdadeira. Haveremos de
vê-lo "face a face" (1 Co 13.12) e "o veremos como ele é" (1 Jo 3.2),
Na cidade celestial "seus servos o servirão. Eles verão a sua face"
(Ap 22.3,4),

Quando percebemos que Deus é a perfeição de tudo o que


anelamos e desejamos, que ele é a soma de tudo o que é belo e
desejável, então percebemos que a maior alegria da vida por vir
será que nós "veremos sua face'. Ver Deus causará em nós
mudança e nos fará parecidos com ele: "Seremos semelhantes a
ele, pois o veremos como ele é (1 Jo 3.2; 2 Co 3.18). Essa visão de
Deus nos dará pleno deleite e alegria por toda a eternidade.

 Atributos mentais

1. Onisciência: Atributo pelo qual Deus, de maneira inteiramente


única, conhece-se a Si próprio e a todas as coisas possíveis e reais
num só ato eterno e simples.

O conhecimento de Deus tem suas características:

a) É arquétipo: Deus conhece o universo como ele existe em Sua


própria ideia anterior à sua existência como realidade finita no
tempo e no espaço; e este conhecimento não é obtido de fora,
como o nosso (Rm 11.33,34).

b) É inato e imediato: Não resulta de observação ou de processo


de raciocínio (Jó 37.16).
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c) É simultâneo: Não é sucessivo, pois Deus conhece as coisas de
uma vez em sua totalidade, e não de forma fragmentada uma após
outra (Is 40.28).

d) É completo: Deus não conhece apenas parcialmente, mas


plenamente consciente (Sl 147.5).

e) Conhecimento necessário: Conhecimento que Deus tem de Si


mesmo e de todas as coisas possíveis, um conhecimento que
repousa na consciência de sua onipotência. É chamado necessário
porque não é determinado por uma ação da vontade divina.

Por exemplo: O conhecimento do mal é um conhecimento


necessário porque não é da vontade de Deus que o mal lhe seja
conhecido (Hc. 1.13) Deus não pode nem quer ver o mal, mas o
conhece, não por experiência, que envolve uma ação de Sua
vontade, mas sim por simples inteligência, por ser ato do intelecto
divino (veja 2 Co 5.21 onde o termo grego ginosko é usado).

f) Conhecimento livre: É aquele que Deus tem de todas as coisas


reais, isto é, das coisas que existiram no passado, que existem no
presente e existirão no futuro. É também chamado visionis, isto é,
conhecimento de vista.

g) Presciência: Significa conhecimento prévio; conhecimento de


antemão. Como Deus pode conhecer previamente as ações livres
dos homens? Deus decretou todas as coisas, e as decretou com
suas causas e condições na exata ordem em que ocorrem, portanto
sua presciência de coisas contingentes (1 Sm 23.12; 2 Rs 13.19; Jr
38.17-20; Ez 3.6 e Mt 11.21) apoia-se em seu decreto. Deus não
originou o mal, mas o conheceu nas ações livres do homem
(conhecimento necessário), o decretou e preconheceu os homens.
Portanto a ordem é: conhecimento necessário, decreto, presciência.

Como se processou o conhecimento necessário de Deus nas livres


ações dos homens antes mesmo que Ele as decretasse? A
liberdade humana não é uma coisa inteiramente indeterminada,
solta no ar, que pende numa ou noutra direção, mas é determinada
por nossas próprias considerações intelectuais e caráter (lubentia
rationalis = autodeterminação racional).

Liberdade não é arbitrariedade e em toda ação racional há um


porquê, uma razão que decide a ação. Portanto o homem
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verdadeiramente livre não é o homem incerto e imprevisível, mas o
homem seguro. A liberdade tem suas leis - leis espirituais - e a
Mente Onisciente sabe quais são (Jo 2.24,25). Em resumo, a
presciência é um conhecimento livre (scientia libera) e, logicamente
procede do decreto, “... segundo o decreto sua vontade” (Ef 1.11).
A onisciência de Deus abrange todo o passado

Não existe mistério nenhum no passado que para Deus já não
esteja revelado" (Mt 10.26; 1 Co 4.5; Lc 8.17). Até todos os pecados
ocultos "manifestam-se depois" (1 Tm 5.24). A única maneira de
evitar esta “manifestação’’ é em tempo pedir reconciliação a Deus
através do sangue de Jesus (1 Jo 1.7,9)”.

A onisciência de Deus abrange tudo no presente

a) Deus conhece tudo a respeito de todo homem.


Davi disse: "...Tu conheces bem o teu servo, ó Senhor Jeová" (2
Sm 7.20b). Deus sabe o nosso nome e a nossa morada (Ap 2.13).
Ele conhece anossa estrutura (SI 103.14) e os nossos corações (At
15.18; Lc 16.15), pois ele os esquadrinha (1 Cr 28.9), e conhece
todos os segredos (SI 44.21). Ele conhece os nossos pensamentos
(SI 139.1- 4), e as nossas palavras (SI 139.4) e os nossos caminhos
estão perante os olhos do Senhor (Pv 5.21; Jó 34.21). Ele até
conhece o número dos nossos cabelos (Mt 10.30).

Assim Ele conhece as nossas necessidades (Mt 6.32; Lc 12.30), e


tem a solução para todos os nossos problemas.

b) Deus também conhece tudo sobre a natureza.


Sabe os nomes de todas as estrelas, coisa que astrônomo nenhum
jamais pôde conhecer (Is 40.26; SI 147.4).
Até os passarinhos são conhecidos, e "nenhum deles está
esquecido diante de Deus" (Lc 12.6; Mt 10.29).

A onisciência de Deus abrange também o futuro

Esta parte da sua onisciência é também chamada "presciência" (At


2.23).
 Deus previu desde a eternidade a queda do
homem, e providenciou no seu amor a solução
para salvá-lo. Por isso está escrito: “... O
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Cordeiro que foi morto desde a fundação do
mundo'' (Ap 13.8b). Na sua presciência, Deus já
viu na eternidade o seu Filho entregue para ser
crucificado (At 2.23; 1 Pe 1.18-20). Ele também
viu a Igreja se levantar, como um fruto da morte
de Jesus no Gólgota (Ef 3.1-10).
Nesta previsão, Deus que também conheceu os homens, e os
predestinou para serem salvos por Jesus (Rm 8.29; Ef 1.4,5), isto é,
por nenhum outro meio, mas só por Jesus (At 4.12), Ele chamou a
todos para salvação. Assim somos eleitos segundo a presciência de
Deus para obediência e aspersão do sangue de Jesus (1 Pe 1.2).
Os que não aceitarem este único meio de salvação estão, por
causa da sua rejeição a Cristo, predestinados ao julgamento e
castigo. “... Mas quem não crer será condenado" (Mc 16.16b).
Porém, ainda que Deus na sua presciência possa conhecer o futuro
dos que rejeitarem o seu amor, isto não interfere no livre arbítrio do
homem. Em tudo que depender de Deus, Ele está sempre a favor
de todos os homens.
 Deus também, na sua onisciência prevê os
acontecimentos do futuro. Profecia é uma
revelação do que Deus na sua previsão já sabia
(Is 48.5).
Temos no passado muitos exemplos em que Deus previu e revelou
o que haveria de acontecer. Conforme 1 Reis 13.2, um jovem
profeta profetizou no ano 975 a.C. , e aquilo se cumpriu no ano 641
(1 Rs 22.15). (Isto é, 334 anos depois.) Também em (Is 46.2-8),
Isaías profetizou 712 a.C., o que se cumpriu no ano 536 a.C. (Ed
1.1.2 - Isto é, 176 anos depois).
Vivemos na véspera de grandes acontecimentos. Todos eles Deus
tem estabelecido pelo seu próprio poder (At 1.7) e são conhecidos
desde a eternidade (At 15.18). Nada acontece por acaso, mas
porque Deus assim determinou.
2. Sabedoria: A sabedoria de Deus é a Sua inteligência como
manifestada na adaptação de meios e fins.
Deus sempre busca os melhores fins e os melhores meios
possíveis para a consecução dos seus propósitos. H.B. Smith
define a sabedoria de Deus como o Seu atributo através do qual Ele
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produz os melhores resultados possíveis com os melhores meios
possíveis.
Uma definição ainda melhor há de incluir a glorificação de Deus:
Sabedoria é a perfeição de Deus pela qual Ele aplica o seu
conhecimento à consecução dos seus fins de um modo que o
glorifica o máximo (Rm 11.33-36; Ef 1.11,12; Cl 1.16). Encontramos
a sabedoria de Deus na criação (Sl 19.1-7; Sl 104), na redenção (1
Co. 2.7; Ef 3.10). A sabedoria é personificada na Pessoa do Senhor
Jesus (Pv 8 e 1 Co 1.30; Jó 9.4; veja também Jó 12.13,16).
A Escritura afirma a sabedoria de Deus em geral em diversos
lugares. Ele e' chamado o "único Deus sábio" (Rm 16.27). Jó diz
que a sabedoria de Deus "é profunda" (Jó 9.4), e que "Deus é que
tem sabedoria e poder" (Jó 12.13). A sabedoria de Deus é vista
especificamente na criação.
O salmista exclama: "Quantas são as tuas obras, SENHOR! Fizeste
todas elas com sabedoria! A terra está cheia de seres que criaste”
(Sl 104.24). Como Deus criou o universo foi perfeitamente
conveniente que isso lhe trouxesse glória, tanto no dia-a-dia como
nos alvos para os quais ele o criou. Mesmo agora, enquanto ainda
vemos os efeitos do pecado e da maldição sobre o mundo natural,
devemos nos maravilhar no fato da criação efetuada por Deus ser
tão harmoniosa e complexa.
A sabedoria de Deus, é claro, é parcialmente comunicável a nós.
Podemos confiantemente pedir sabedoria a Deus quando
necessitamos dela, porque ele promete em sua Palavra: "Se algum
de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá
livremente, de boa vontade; e lhe será concedida" (Tg 1.5). Essa
sabedoria, ou habilidade para viver de modo agradável a Deus, vem
primariamente pela leitura e obediência à sua Palavra: “A lei do
SEMHOR é perfeita, e revigora a alma”.
“Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança e tornam
sábios os inexperientes” (SI 19.7; Dt 4.6-8). No que diz respeito à
motivação por ganhar a verdadeira sabedoria," o temor do
SENHOR é o princípio da sabedoria" (SI 111.10; Pv 9.10; Pv 1 .7),
pois, se tememos desonrar a Deus ou desagradá-lo, e se tememos
sua disciplina paternal, então haveremos de ter a motivação que
nos faz querer seguir seus caminhos e viver de acordo com seus
sábios mandamentos.
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3. Veracidade: Veracidade (incluindo fidelidade). A veracidade de
Deus significa que ele é o Deus verdadeiro e que todo o seu
conhecimento e palavras são verdadeiros e também o padrão final
de verdade.
A primeira parte desta definição indica que o Deus revelado na
Escritura é o Deus verdadeiro c real e que todos os outros
chamados deuses são ídolos. "Mas o SENHOR é o Deus
verdadeiro; ele é o Deus vivo, o rei eterno. [...] Estes deuses, que
não fizeram nem os céus nem a terra, desaparecerão da terra e de
debaixo dos céus" (Jr 10.10,11). Jesus diz a seu Pai: "Esta é a vida
eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3; 1Jo 5.20).
Dt. 32.4 - “Deus é fidelidade e nele não há injustiça; é justo e reto”;
Jo. 17.3 - “conheçam a ti só por único Deus verdadeiro” (1 Jo. 5.20)
“conhecermos o que é verdadeiro”. Nestas duas passagens
descreve Deus como o genuíno, o real, (compare Jo. 6.32 - “o
verdadeiro pão”; Hb 8.2 - “o verdadeiro tabernáculo”).
Jo 14.6 - “Eu sou... a verdade”. Como “Eu sou... a vida” não
significa “eu sou um ser vivente”, mas “eu sou aquele que é a vida e
a fonte da vida", do mesmo modo “eu sou... a verdade” não significa
“eu sou o verdadeiro”, mas “eu sou aquele que é a verdade e a
fonte da verdade”; a saber, a verdade do ser, não simplesmente a
verdade da expressão.
As palavras de Deus são tanto verdadeiras coma padrão final de
verdade. Isso significa que Deus é confiável e fiel em suas palavras.
Com respeito às suas promessas, Deus sempre faz o que promete
fazer, e podemos depender dele, sabendo que ele nunca será infiel
em suas promessas. Assim, Deus é "fiel" (Dt 32.4).
De fato, esse aspecto específico da veracidade de Deus é algo
reconhecido como atributo: À fidelidade de Deus significa que Deus
sempre fará o que disse e cumprirá o que prometeu (Nm 23.19; 2
Sm 7.28; Sl 141.6).
Ele é confiável. E nunca provará ser infiel aos que confiam no que
ele diz. De fato, a essência da verdadeira fé é crer no que Deus diz
e confiar que ele fará tudo o que prometeu.
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A Escritura utiliza várias palavras para expressar a veracidade de
Deus: no Velho testamento emeth, amunah, e amen’, e no Novo
Testamento alethes (aletheia), alethinos, e pistis.
Isto já indica o fato de que ela inclui diversas ideias, como verdade,
fidedignidade, e fidelidade. Quando se diz que Deus é a verdade,
esta deve ser entendida em seu sentido mais abrangente.
Primeiramente, Ele é a verdade num sentido metafísico, isto é, nele
a ideia da Divindade se concretiza perfeitamente; Ele é tudo que
como Deus deveria ser e, como tal, distingue-se de todos os
deuses, assim chamados, os quais são chamados ídolos, nulidades
e mentiras, Sl 96.5; 97.7; 115.4-8; Is 44.9, 10. Ele é também a
verdade num sentido ético e, como tal, revela-se como realmente é,
de modo que a Sua revelação é absolutamente confiável, Nm
23.19; Rm 3.4; Hb 6.18. Finalmente, Ele é também a verdade num
sentido lógico e, em virtude disto, conhece as coisas como
realmente são, e constitui de tal modo à mente do homem que este
pode conhecer não apenas a aparência, mas também a realidade
das coisas.
Assim, a verdade de Deus é o alicerce de todo conhecimento.
Deve-se ter em mente, ademais, que esses três sentidos são
apenas diferentes aspectos da verdade, que é única em Deus. Em
vista do precedente, podemos definir a veracidade ou verdade de
Deus como a perfeição de Deus em virtude da qual Ele responde
plenamente à ideia da Divindade, é perfeitamente confiável em sua
revelação, e vê as coisas como realmente são. É devido a esta
perfeição que Ele é a fonte de toda verdade, não somente na esfera
moral e da religião, mas também em todos os campos da atividade
científica.
A Escritura é muito enfática em suas referências a Deus como
verdade (Êx 34.6; Nm 23.19; Dt 32.4; Sl 25.10; 31.6; Is 65.16; Jr
10.8, 10, 11; Jo 14.6; 17.3; Tt 1.2; Hb 6.18; 1 Jo 5.20,21). Há ainda
outro aspecto desta perfeição divina, e um aspecto sempre
considerado da maior importância.
Geralmente se lhe chama fidelidade, em virtude da qual Ele está
sempre atento à Sua aliança e cumpre todas as promessas que fez
ao Seu povo. Esta fidelidade de Deus é de máxima significação
prática para o povo de Deus. É à base da sua confiança, o
fundamento da sua esperança, e a causa do seu regozijo. Ela os
salva do desespero ao qual a sua própria infidelidade facilmente os
poderia levar, dá-lhes coragem para prosseguirem, a despeito de
ECB 74

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todos os seus fracassos, e enche os seus corações de jubilosas
antecipações, mesmo quando estão profundamente cônscios do
fato de que perderam o direito a todas as bênçãos de Deus. Nm
23.19; Dt 7.9; Sl 89.33; Is 49.7; 1 Co 1.9; 2 Tm 2.13; Hb 6.17, 18;
10.23.
 Atributos morais
1. Bondade
A bondade de Deus significa que Deus é o padrão final do bem, e
que tudo o que Deus é e faz é digno de aprovação, Nessa
definição, a palavra "bem" pode ser entendida como "digna de
aprovação", mas esse sentido Levanta a seguinte questão:
aprovação de quem?
Porque somos meras criaturas, não somos livres para decidir por
nós mesmos o que é digno de aprovação ou não.
De modo supremo, portanto, o ser e as ações de Deus são
perfeitamente dignos da própria aprovação. Ele é, portanto, o
padrão final do bem.
Jesus sugere isso quando diz que "não há ninguém que seja bom, a
não ser somente Deus" (Lc 18.19). Os salmos muitas vezes
afirmam que o SENHOR é bom (SI 100.5) ou exclamam; "Deem
graças ao SENHOR porque ele é bom" (SI 106.1; 107.1).
Podemos, portanto, entender o significado de "bem" como o que
Deus aprova, porque não há padrão mais alto de bondade do que o
próprio caráter de Deus, e sua aprovação de qualquer coisa está
em harmonia com o seu caráter.
2. Amor.
O amor é aquele atributo de Deus pelo qual Ele se inclina a buscar
os melhores interesses de Suas criaturas e a comunicar-se a elas, a
despeito do sacrifício que nisso está envolvido; ou, como definição
alternativa, o amor de Deus é Seu desejo pelo bem estar desses
seres amados e o deleite que tem nisso.
1 Jo 3.16,17 — Nisto conhecemos o amor, em que Cristo deu a sua
vida por nós; e devemos dai nossa vida pelos irmãos. Ora, aquele
que possuir recursos deste mundo e vir a seu irmão padecer
necessidade e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer
nele o amor de Deus?
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Veja: 1 Jo 4.8,16; Mt 5.44,45; 1 Jo 4.7; Jo 3.16.
O amor é o desejo que Deus tem de dar de si, e deste modo dar
todo o bem, às outras pessoas e adquiri-las para a sua própria
comunhão espiritual.
Deus ama, não por causa do que ele possa obter, mas por aquilo
que ele pode dar.
1 Jo. 4.8 - “Deus é amor”; 3.16 - “nisto conhecemos o amor que
Cristo deu a sua vida por nós”; Jo. 17.24 - “tu me hás amado antes
da criação do mundo”; Rm. 15.30 - “pelo amor do Espírito”.
O amor de Deus leva em conta os mais elevados interesses e faz
um sacrifício infinito para garanti-los. A fim de salvar o mundo de
pecadores, Deus “não poupou o seu próprio Filho, antes o entregou
por todos nós” (Rm. 8.32) e “o Senhor fez cair sobre ele à
iniquidade de todos nós” (Is. 53.6).
O amor exige uma regra ou padrão de regulamentação. Esta regra
ou este padrão é a santidade de Deus. Mais uma vez vemos que o
amor não pode incluir a santidade, porque está sujeito à lei desta. O
amor só deseja o melhor para o objeto amado e o melhor é Deus. A
regra áurea não nos determina dar o que os outros desejam, mas o
que eles precisam: Rm. 1 5.2 - “cada um de nós agrade ao seu
próximo no que é bom para a edificação”.
Quando a bondade de Deus é exercida para com as Suas criaturas
racionais, assume o caráter mais elevado de amor, e ainda se pode
distinguir este amor de acordo com os objetos aos quais se limita.
Em distinção da bondade de Deus em geral, o Seu amor pode ser
definido como a perfeição de Deus pela qual Ele é movido
eternamente à Sua própria comunicação.
Desde que Deus é absolutamente bom em Si mesmo, Seu amor
não pode achar completa satisfação em nenhum objeto falto de
perfeição absoluta. Ele ama as Suas criaturas racionais por amor a
Si mesmo, ou, para expressá-lo doutra forma, neles Ele se ama a Si
mesmo, Suas virtudes, Sua obra e Seus dons. Ele nem mesmo
retira completamente o Seu amor do pecador em seu estado
pecaminoso atual, apesar de que o pecado deste é uma
abominação para Ele, visto que, mesmo no pecador, Ele reconhece
um portador da Sua imagem (Jo 3.16; Mt 5.44, 45). Ao mesmo
tempo, Ele ama os crentes com amor especial, dado que os vê
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como Seus filhos espirituais em Cristo. É a estes que Ele se
comunica no sentido mais rico e mais completo, com toda a
plenitude da Sua graça e misericórdia (Jo 16.27; Rm 5.8; 1 Jo 3.1).
Deus não é simplesmente Aquele que ama; Ele é igualmente o
Amor que é amado. Há uma infinita vida de sensibilidade e afeição
em Deus. Deus tem sensibilidade, e isso em grau infinito. O
sentimento por si só, porém, ainda não é amor. O amor implica não
apenas em receber, mas em dar, não meramente cm emoção, mas
em concessão. Assim é que o amor de Deus se manifesta em Sua
atividade eterna de dar (Tg 1.15): “Deus que dá”.
A Bíblia não somente diz que Deus ama os homens (Ef 2.4; 2 Ts
2.16; 2 Co 9.7), mas que Ele é amor (1 Jo 4.8,16), isto é, que o
amor é a própria substância do eterno Deus. O seu amor é como
um rio que mana dele mesmo, que é a fonte do amor. Assim a
Bíblia fala do' 'Deus de amor'' (2 Co 13.11) e também do "amor de
Deus" (2 Co 13.13).
Não somente Deus é amor. Toda Trindade é uma expressão do
amor divino. A Bíblia fala de Jesus, o Filho de Deus, "do seu amor
que excede todo o entendimento..." (Ef 3.19). Fala também do amor
do Espírito Santo (Rm 15.30).
Quando Jesus quis mostrar a profundidade do amor de Deus para
com os seus discípulos Ele disse: “... Tu os tens amado a eles como
me tens amado a mim" (Jo 17.23b). Deus é amor! Só existe uma
qualidade deste amor. Com o mesmo amor com que Deus ama seu
Filho, a quem Ele mesmo chamou "meu Filho amado" (Mt 3.17), Ele
também ama os que creem nele. O amor de Deus não se pode
medir. (Jó 5.9; 9.10; SI 139.17,18). É maior do que o amor materno
(Is 49.15).
3. Santidade
A Santidade de Deus é Seu atributo mais exaltado e destacado,
pois expressa a majestade de Sua natureza e caráter morais. É a
perfeição de Deus, em virtude da qual Ele eternamente quer manter
e mantém a Sua excelência moral, aborrece o pecado, e exige
pureza moral em suas criaturas.
Ser Santo vem do hebraico qadash que significa cortar ou separar.
Neste sentido também o Novo testamento utiliza as palavras gregas
hagiazo e hagios.
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A santidade de Deus possui dois diferentes aspectos, podendo ser
positiva ou negativa (Hb 1.9; Am 5.15; Rm 12.9).

2) Santidade Positiva: Expressa excelência moral de Deus na qual


Ele é absolutamente perfeito, puro e íntegro em Sua natureza e Seu
caráter (1 Jo 1.5; Is 57.15; 1 Pe 1.15,16; Hc 1.13). A santidade
positiva é amor ao bem.

3) Santidade Negativa: Significa que Deus é inteiramente


separado de tudo quanto é mal e de tudo quanto o aborrece (Lv
11.43-45; Dt 23.14; Jó 34.10; Pv 15.9,26; Is 59.1,2; Lc 20.26; Hc.
1.13; Pv 6.16-19; Dt 25.16; Sl 5.4-6). A santidade negativa é ódio ao
mal.

Além de possuir dois aspectos a santidade de Deus possui também


duas maneiras diferentes de manifestar-se:

4) Retidão: Também chamada justiça absoluta, é a retidão da


natureza divina, em virtude da qual Ele é infinitamente Reto em Si
mesmo (santidade legislativa). Sl 145.17; Jr 12.1; Jo 17.25; Sl
116.5; Ed 9.15.

(5) Justiça: Também chamada justiça relativa, é a execução da


retidão ou a expressão da justiça absoluta (santidade judicial).
Strong a chama de santidade transitiva. A retidão é a fonte da
Santidade de Deus, a justiça é a demonstração de Sua santidade.

A justiça de Deus pode ser retributiva e remunerativa.

 A justiça retributiva se divide em punitiva e corretiva. A


justiça punitiva é aquela pela qual Deus pune os pecadores
pela transgressão de Suas leis. Esta justiça de Deus exige a
execução das penalidades impostas por Suas leis (Sl 3.5;
11:4-7 Dt 32.4; Dn. 9.12,14; Ex 9.23-27; 34.7).

A justiça corretiva é aquela pela qual Deus "pune" Seus filhos


para corrigi-los (Hb 12.6,7). Aqueles que não são Seus filhos, Deus
pune como um Juiz Severo (Rm 11.22; Hb 10.31), mas aos Seus
filhos, Deus "pune" (corrige) como um Pai Amoroso (Jr 10.24;
30.11; 46.28; Sl 89.30-33; 1 Cr 21.13).
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 A justiça remunerativa é aquela pela qual Deus
recompensa, com Suas bênçãos, aos homens pela
obediência de Suas leis (Hb 6.10; 2 Tm 4.8; 1 Co 4.5; 3.11-15;
Rm 2.6-10; 2 Jo 8).

Êx 15.11 - “glorificado em santidade”; 19.10-16 - o povo de Israel


deve purificar-se antes de vir à presença de Deus; Is. 6.3 - “Santo,
santo, santo é o Senhor dos Exércitos” - note o contraste com os
lábios impuros, que devem ser purificados com uma brasa tirada do
altar (v. 5-7); 2 Co. 7.1 - “purifiquemo-nos de toda a imundícia da
carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de
Deus”; 1 Ts. 3.13 - “irrepreensíveis em santidade”; 4.7 - “Deus não
nos chamou para a imundícia, mas para a santificação”; Hb. 12.29 -
“o nosso Deus é um fogo consumidor” - de toda a iniquidade. Estas
passagens mostram que a santidade se opõe à impureza e que
santidade é pureza.
4. Justiça
Retidão (ou justiça) em português esses dois ternos possuem
significados diferentes, mas tanto no hebraico do AT como no grego
do NT há somente uma palavra por trás deles. Portanto, essas duas
palavras serão consideradas juntas, como se estivessem
designando um único atributo de Deus. A retidão divina significa
que Deus sempre age de acordo com o que é certo e ele próprio é o
padrão final do que é certo.
a) A ideia fundamental de justiça.
A ideia fundamental de justiça é a de estrito apego à lei. Entre os
homens ela pressupõe que há uma lei à qual eles devem ajustar-se.
Às vezes se diz que não podemos falar de justiça em Deus, porque
não há lei à qual Ele esteja sujeito. Mas, embora não haja lei acima
de Deus, certamente há uma lei na própria natureza de Deus, e
esta constitui o mais elevado padrão possível, pelo qual todas as
outras leis são julgadas.
Geralmente se faz distinção entre a justiça absoluta de Deus e a
relativa. Aquela é a retidão da natureza divina, em virtude da qual
Deus é infinitamente reto em Si mesmo, enquanto que esta é a
perfeição de Deus pela qual Ele se mantém contra toda violação da
Sua santidade e mostra, em tudo e por tudo, que Ele é Santo. É a
esta retidão que o termo “justiça” se aplica mais particularmente.
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A justiça se manifesta especialmente em dar a cada homem o que
lhe é devido, em trata-lo de acordo com os seus merecimentos. A
inerente retidão de Deus é naturalmente básica para a retidão que
Ele revela no trato de Suas criaturas, mas é especialmente esta
última, também denominada justiça de Deus, que requer especial
consideração aqui.
Os termos hebraicos para “justo” e “justiça” são tsaddik, tsedhek e
tsedhakah, e os termos gregos correspondentes são dikaios e
dikaiosyne, todos os quais contêm a ideia de conformidade a um
padrão. Esta perfeição é repetidamente atribuída a Deus na
Escritura (Ed 9.15; Ne 9.8; Sl 119.137; 145.17; Jr 12.1; Lm 1.18, Dn
9.14; Jo 17.25; 2 Tm 4.8; 1 Jo 2.29; 3.7; Ap 16.5).
b) Distinções aplicadas à justiça de Deus.
Há em primeiro lugar uma justiça rectoral de Deus. Esta justiça,
como está implícito no nome, é a retidão que Deus manifesta como
o Governador que exerce domínio tanto sobre o bem como sobre o
mal. Em virtude de Sua justiça rectoral, Deus instituiu um governo
moral no mundo, e impôs ao homem uma lei justa, com promessas
de recompensa ao obediente e ameaças de punição ao
transgressor.

No Velho Testamento Deus sobressai proeminentemente como o


Legislador de Israel, Is 33.11, e do povo em geral, Tg 4.12, e Suas
leis são justas, Dt 4.8. A Bíblia refere-se a esta obra rectoral de
Deus também em Sl 99.4 e Rm 1.32.
Estreitamente relacionada com a justiça rectoral de Deus está a
Sua justiça distributiva. Este termo habitualmente serve para
designar a retidão de Deus na execução da lei, e se relaciona com
a distribuição de recompensas e punições, Is 3.10, 11; Rm 2.6; 1 Pe
1.17.
É de duas classes:
(1) Justiça remunerativa, que se manifesta na distribuição de
recompensas a homens e anjos (Dt 7.9, 12, 13; 2 Cr 6.16; Sl 58.11;
Mq 7.20; Mt 25.21, 34; Rm 2.7; Hb 11.26). É realmente uma
expressão do amor divino distribuindo a Sua generosidade, não
com base em méritos propriamente ditos, pois a criatura não pode
dar prova de nenhum mérito absoluto diante do Criador, mas
segundo promessa e acordo (Lc 17.10; 1 Co 4.7). As recompensas
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de Deus são fruto da sua graça e decorrem de uma relação pactual
estabelecida por ele.
(2) Justiça retributiva, que se relaciona com a imposição de
castigos. É uma expressão da ira divina. Enquanto que num mundo
isento de pecado não haveria lugar para a sua aplicação,
necessariamente tem proeminente lugar num mundo cheio de
pecado.
A Bíblia em geral dá mais ênfase à recompensa dos justos que à
punição dos ímpios; mas mesmo esta é bastante proeminente (Rm
1.32; 12.19; 2 Ts 1.8), e muitas outras passagens. Deve-se notar
que, ao passo que o homem não merece a recompensa que
recebe, merece a punição que lhe é dada. A justiça divina está
originária e necessariamente obrigada a punir o mal, não, porém a
recompensar o bem (Lc 17.10; 1 Co 4.7; Jo 41.11). Muitos negam a
estrita justiça punitiva de Deus e alegam que Deus pune o pecador
para reforma-lo, ou para dissuadir outros de pecar; mas estas
posições não são sustentáveis.
O propósito primordial da punição do pecado é a manutenção do
direito e da justiça. É certo que ela pode, incidentalmente, servir
para reformar o pecador e impedir que outros pequem, e,
secundariamente, isso pode estar incluído em seus propósitos.

5. Zelo de Deus.
Essa palavra tem o significado de estar profundamente
comprometido em buscar a honra ou o bem-estar de alguém, de si
próprio ou de outra pessoa. Por exemplo, Paulo diz aos coríntios:
"O zelo que tenho por vocês é um zelo que vem de Deus" (2 Co
11,2). Aqui o sentido é "preocupação séria que indica proteção".
A Escritura apresenta Deus como zeloso nesse sentido. De forma
contínua e sincera ele procura proteger a sua honra. Ele dá ordem a
seu povo para não dobrar os joelhos diante de ídolos ou adorá-los,
dizendo: "... porque eu, o SÈNHOM, o teu Deus, sou Deus zeloso..."
(Êx 20.5).
Assim, pode-se chegar à seguinte definição: O zelo divino
significa que Deus continuamente procura proteger a própria honra.
As pessoas algumas vezes têm problemas em admitir que o ciúme
é um atributo desejável em Deus. Isso porque o ciúme pela nossa
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própria honra como seres humanos é quase sempre errado. Não
devemos ser orgulhosos, mas humildes. Entretanto, devemos
perceber que a razão de o orgulho ser errado é teológica: é que não
merecemos a honra que pertence a Deus somente (1 Co 4.7; Ap
4.11).
Não é errado Deus procurar a própria honra, contudo, porque ele a
merece plenamente. Deus muitas vezes admite que suas ações na
criação e na redenção são feitas para a sua honra.
Falando da decisão de suspender o julgamento sobre o seu povo,
Deus diz: "Por amor de mim mesmo, por amor de mim mesmo, eu
faço isso. Como posso permitir que eu mesmo seja difamado? Não
darei minha glória a nenhum outro" (Is 48.11), É espiritualmente
sadio para nós quando assentamos em nosso coração o fato de
que Deus merece toda honra e glória de sua criação, e que é justo
ele procurar a própria honra. Apenas ele é infinitamente digno de
ser louvado. Perceber esse fato e ter prazer nEle é encontrar o
segredo da verdadeira adoração.

6. Ira
Pode causar surpresa em nós perceber com quanta frequência a
Bíblia fala a respeito da ira de Deus. No entanto, se Deus ama tudo
o que é justo e bom e tudo o que se conforma ao seu caráter moral,
não deveria ser surpresa que ele tenha ódio por tudo o que se opõe
ao seu caráter moral. A ira de Deus manifestada contra o pecado
está, portanto, intimamente ligada à santidade e justiça divinas.
A ira de Deus significa que ele odeia intensamente todo o pecado.
Descrições da ira de Deus são encontradas muitas vezes quando o
povo de Deus peca gravemente contra ele. Deus vê a idolatria do
povo de Israel e diz a Moisés: "lenho visto que este povo é um povo
obstinado. Deixe-me agora, para que a minha ira se acenda contra
eles, e eu os destrua. Depois farei de você uma grande nação" (Êx
32.9,10).
Posteriormente Moisés diz ao povo: "Lembrem-se disto e jamais
esqueçam como vocês provocaram a ira do SENHOR, o seu Deus,
no deserto. [...] Até mesmo em Horebe vocês provocaram a ira do
Senhor, e ele ficou furioso, ao ponto de querer exterminá-los" (Dt
9.7,8; 29.23; 2 Rs 22.13).
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A doutrina da ira de Deus na Escritura não está limitada ao Antigo
Testamento, como alguns têm julgado erroneamente. Lemos em
João 3.36 que "quem crê no Filho tem a vida eterna; já quem rejeita
o Filho não verá a vida, mas a Ira de Deus permanece sobre ele".
Paulo diz: “Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra toda
impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela
injustiça" (Rm 1.18; 2.5,8; 5.9; 9.22; Cl 3.6; 1 Ts 1.10; 2.16; 5.9; Hb
3.11; Ap 6.16,17; 19.15).
Não devemos sentir nenhum temor da ira de Deus como cristãos,
porque se, no passado, "como os outros, éramos por natureza
merecedores da ira" (Ef 2.3), agora confiamos em Jesus, "que nos
livra da ira que há devir” (Ts 1.10; Rm 5.10).
Quando meditamos sobre a ira de Deus, ficamos espantados em
pensar que nosso Senhor Jesus Cristo suportou a ira de Deus
devido ao nosso pecado, a fim de que pudéssemos ser salvos da
ira (Rm 3.25,26).
Além disso, pensando a respeito da ira de Deus, devemos também
ter em mente sua paciência. Paciência e ira são mencionadas
juntas nos salmos 103: "O SENHOS é [...] mui paciente e cheio de
amor. Não acusa sem cessar nem fica ressentido para sempre [nem
conserva para sempre a sua ira, RA]" (Sl 103.8,9). De fato, a
demora da execução da ira de Deus sobre o mal é com o propósito
de conduzir as pessoas ao arrependimento (Rm 2.4).
Assim, quando pensamos na ira de Deus que está por vir, devemos
simultaneamente ser agradecidos por sua paciência em demorar-se
na execução dessa ira a fim de que ainda mais pessoas sejam
salvas: "O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como
julgam alguns. Ao contrário, ele é paciente com vocês, não
querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao
arrependimento. O dia do Senhor, porém, virá como ladrão. Os
céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão
desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será
desnudada" (2 Pe 3.9,10).
A ira de Deus deveria nos motivar para a evangelização e tornar-
nos agradecidos pelo fato de que Deus finalmente vai punir todos
os pecados e reinar sobre os novos céus e a nova terra nos quais
habita a justiça.
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 Etimologia de Ira
No Hebraico é hemãh: “ira, ardor, furor, raiva”. Este substantivo
aparece nos idiomas semíticos com os significados de “ardor, calor,
ira. veneno, peçonha".
O substantivo, como também o verbo yãham, denota um estado
emocional forte. O substantivo é usado 120 vezes,
predominantemente na literatura poética e profética, sobretudo em
Ezequiel.
O primeiro uso de hemãh se dá na história de Esaú e Jacó. Jacó foi
aconselhado a ir para Harã com a esperança de que a “ira’’ de Esaú
passasse: “E mora com ele alguns dias, até que passe o furor de
teu irmão” (Gn 27.44)”. A palavra indica um estado de raiva.
A maioria dos usos envolve a “ira” de Deus. A Sua “ira” é expressa
contra o pecado de Israel no deserto: “Porque temi por causa da ira
e do furor com que o SENHOR tanto estava irado contra vós, para
vos destruir” (Dt 9.19).
O salmista suplica pela misericórdia de Deus na hora da “ira” de
Deus: “SENHOR, não me repreendas na tua ira, nem me castigues
no teu furor” (SI 6.1). No fim, a “ira” de Deus foi expressa contra
Israel no Exílio dos judeus na Babilônia:
"Deu o SENHOR cumprimento ao seu furor; derramou o ardor da
sua ira e acendeu fogo em Sião, que consumiu os seus
fundamentos” (Lm 4.11).
A metáfora cálice denota o julgamento de Deus sobre o Seu povo.
Sua “ira” é derramada: “Pelo que derramou sobre eles a indignação
da sua ira e a força da guerra e lhes pôs labaredas em redor, mas
nisso não atentaram; e os queimou, mas não puseram nisso o
coração” (Is 42.25); e o “cálice da ira” é bebido: ‘Desperta, desperta,
levanta-te, ó Jerusalém, que bebeste da mão do SENHOR o cálice
do seu furor, bebeste e sorveste as fezes do cálice da vacilação” (Is
51.17).
Deus, na qualidade de Todo-Poderoso, fica irado pelos pecados e
orgulho do Seu povo, visto que é um insulto a Sua santidade. Em
certo sentido derivado, os soberanos da terra também ficam irados,
mas a sua ira é despertada por circunstâncias nas quais eles não
têm controle.
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Naamã ficou irado com o conselho de Eliseu (2 Rs 5.11.12);
Assuero ficou enfurecido com a recusa de Vasti exibir sua beleza
diante dos homens (Et 1.12).
O termo hemãh também denota a reação do homem diante das
circunstâncias cotidianas. A “ira” do homem é uma expressão
perigosa do seu estado emocional, visto que inflama todos os que
estão perto da pessoa irada.
A “ira” surge por muitas razões.
Provérbios falam com veemência contra a hemãh, como o ciúme
(Pv 6.34); confronte: “Cruel é o furor e a impetuosa ira, mas quem
parará perante a inveja?” (Pv 27.4; Ez 16.38).
O homem irado pode ser culpável de crime e ser condenado:
“Temei vós mesmos a espada; porque o furor traz os castigos da
espada, para saberdes que há um juízo” (Jó 19.29). A resposta
sábia à “ira” é uma resposta suave: “A resposta branda desvia o
furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Pv 15.1).
 Atributos de propósito
1. Vontade

A vontade de Deus é o atributo pelo qual ele aprova e determina dar


origem a cada ação necessária para a existência e atividade de si
próprio e de toda a criação.

Essa definição indica que a vontade de Deus tem que ver com a
decisão e a aprovação de coisas que Deus é e faz. Ela diz respeito
às escolhas de Deus do que fazer e do que não fazer.

Vontade Preceptiva: Na qual Deus estabeleceu preceitos


morais para reger a vida de Suas criaturas racionais. Esta
vontade pode ser desobedecida com frequência (At 13.22; 1
Jo. 2.17; Dt 8.20).
Vontade Decretória: Pela qual Deus projeta ou decreta tudo
o que virá a acontecer, quer pretenda realizá-lo
acusativamente, quer permita que venha a ocorrer por meio
da livre ação de suas criaturas (At 2.23; Is 46.9-11). À vontade
decretória é sempre obedecida.
Vontade de Eudokia: Na qual Deus deleita-se com prazer em
realizar um fato e com desejo de ver alguma coisa feita. Esta
vontade, embora não se relacione com o propósito de fazer
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algo, mas sim com o prazer de fazer algo, contudo
corresponde àquilo que será realizado com certeza, tal como
acontece com a vontade decretória (Sl 115.3; Is 44.28; Is
55.11).
Vontade de Eurestia: Na qual Deus deleita-se com prazer ao
vê-la cumprida por Suas criaturas. Esta vontade abrange
aquilo que a Deus apraz que Suas criaturas façam, mas que
pode ser desobedecido, tal como acontece com a vontade
preceptiva (Is 65.12).

A vontade de eudokia não se refere somente ao bem, e nela não


está sempre presente o elemento de deleite (Mt 11.26). A vontade
de eudokia e a vontade de eurestia relacionam-se ao prazer em
realizar algo.

Vontade de Beneplacitum: Também chamada Vontade


Secreta. Abrange todo o conselho secreto e oculto de Deus.
Quando esta vontade nos é revelada, ela torna-se Vontade do
Signum ou Vontade Revelada.

A distinção entre a vontade de beneplacitum e a vontade de


signum encontra-se em Deuteronômio 29.29.

A vontade secreta é mencionada em Sl 115.3; Dn 4.17,25, 32,35;


Rm 9.18,19; Rm 11.33,34; Ef 1.5,9, 11, enquanto que a vontade
revelada é mencionada em Mt 7.21; Mt 12.50; Jo 4.34; Jo 7.17; Rm
12.2).

Esta vontade está mui perto de nós (Dt 30.14; Rm 10.8). A vontade
secreta de Deus pertence a todas as coisas que Ele quer efetuar ou
permitir, tal como acontece na vontade decretória, sendo, portanto,
absolutamente fixa e irrevogável.

a) A vontade de Deus em geral.


A Escritura muitas vezes indica a vontade de Deus como a razão
última e final de tudo o que acontece. Paulo refere-se a Deus como
aquele que "faz todas as coisas segundo o propósito da sua
vontade" (Ef 1.11).
A expressão "todas as coisas" (ta panta) é usada muitas vezes por
Paulo para se referir a tudo o que existe ou a todas as coisas
criadas (Ef 1.10,23:3.9; 4.10; Cl 1.16,17 [duas vezes]; Rm 11.36;
1Co 8.6 [duas vezes]; 15.27,28 [duas vezes]). A palavra traduzida
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por "faz" (energeõ,"opera, realiza, efetua, produz") está no particípio
presente e sugere uma atividade contínua. A frase poderia ser mais
explicitamente traduzida por "quem continuamente efetua tudo no
universo de acordo com o conselho da sua vontade".
Mais especificamente falando, todas as coisas foram criadas pela
vontade de Deus: “... criaste todas as coisas, e por tua vontade elas
existem e foram criadas (Ap 4.11)”. Tanto o Antigo Testamento
como o Novo falam do governo humano acontecendo conforme a
vontade de Deus (Dn 4.32; Rm 13.1).
Mesmo os eventos conectados com a morte de Cristo foram de
acordo com a vontade de Deus. A igreja em Jerusalém cria nisso,
pois na oração eles disseram: "De fato, Herodes e Pôncio Pilatos
reuniram-se com os gentios e com o povo de Israel nessa cidade,
para conspirar contra o teu santo servo Jesus, a quem ungiste.
Fizeram o que o teu poder e a tua vontade haviam decidido de
antemão que acontecesse" (At 4.27,28). Isso sugere que não
simplesmente o fato da morte de Jesus, mas todos os eventos
detalhados conectados com ela foram predestinados a ocorrer pela
vontade de Deus.
Tiago nos encoraja a ver todos os eventos de nossa vida como
sujeitos à vontade de Deus. Para os que dizem: "Hoje ou amanhã
iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali,
faremos negócios e ganharemos dinheiro", Tiago diz: “Vocês nem
sabem o que lhes acontecerá amanhã”! Que é a sua vida? Vocês
são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois
se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer: 'Se a Senhor quiser,
viveremos e faremos isto ou aquilo (Tg 4.3-15). ÀS vezes é da
vontade de Deus que os cristãos sofram, como por exemplo, é visto
em 1 Pedro 3.17 — "É melhor sofrer por fazer o bem, se for da
vontade de Deus, do que por fazer o mal".
Atribuir muitos eventos, mesmo os eventos maus, à vontade de
Deus, contudo, muitas vezes causam mal-entendidos e dificuldades
para os cristãos.
b) Distinções nos aspectos da vontade de Deus.
Vontade secreta e vontade revelada: Algumas distinções podem
ser feitas entre os aspectos da vontade de Deus. Exatamente como
podemos querer ou escolher alguma coisa ávida ou relutantemente,
com alegria ou com arrependimento, secreta ou publicamente,
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assim também Deus, na grandeza infinita de sua personalidade, é
capaz de querer coisas diferentes de diferentes maneiras.
Uma distinção valiosa aplicada a diferentes aspectos da vontade de
Deus é a distinção entre sua vontade secreta e sua vontade
revelada. Sabemos, por nossa experiência, que podemos desejar
alguma coisa secretamente e somente mais tarde fazer com que
essa vontade seja conhecida por outras pessoas. Há ocasiões em
que dizemos aos outros o que queremos antes que isso aconteça, e
outras em que não revelamos nossos segredos até que os eventos
desejados tenham acontecido.
Com toda a certeza, a distinção entre os aspectos da vontade de
Deus fica evidente em muitas passagens da Escritura. Segundo
Moisés: "As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, o nosso
Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para
sempre, para que sigamos todas as palavras desta lei" (Dt 29.29).
As coisas que Deus nos revelou nos são dadas para que
obedeçamos à vontade de Deus, para que sigamos todas as
palavras desta lei. Houve muitos aspectos do seu plano, contudo,
que ele não lhes havia revelado: muitos detalhes a respeito de
eventos futuros, detalhes específicos de fadiga ou de bênçãos nas
vidas deles, e assim por diante. Com respeito a esses assuntos,
eles simplesmente deviam confiar em Deus.
Porque a vontade revelada de Deus normalmente contém seus
mandamentos ou "preceitos" para a nossa conduta moral, ela às
vezes é chamada de vontade preceptiva ou vontade mandamental.
Essa vontade revelada de Deus é a vontade declarada de Deus a
respeito do que devemos fazer ou a respeito do que Deus ordena
que façamos.
A vontade secreta de Deus, por outro lado, normalmente haverá de
incluir os seus decretos ocultos, pelos quais ele governa o universo
e determina tudo o que vai acontecer.
Em geral ele não nos revela esses decretos (exceto nas profecias
de eventos futuros), de modo que seus propósitos ou planos
realmente são à vontade "secreta" de Deus. Não descobrimos o
que Deus decretou secretamente até que realmente os eventos
aconteçam. Porque a vontade secreta de Deus tem que ver com os
eventos decretados para o mundo, esse aspecto da vontade de
Deus é algumas vezes também chamado vontade decretatória.
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Há diversos exemplos onde a Escritura menciona a vontade
revelada de Deus. Na oração do Senhor, a petição "seja feita a tua
vontade, assim na terra como no céu" (Mt 6.10), é uma oração para
que as pessoas obedecessem à vontade revelada de Deus, seus
mandamentos, sobre a terra como eles são obedecidos no céu (isto
é, plena e completamente).
Essa não poderia ser uma oração para que a vontade secreta de
Deus (isto é, seus decretos sobre os eventos que ele planejou) se
cumprisse de fato, porque o que Deus decretou em sua vontade
secreta certamente haverá de acontecer.
Pedir que Deus produza o que ele já decretou que acontecesse
seria simplesmente como se orássemos: "Que aconteça o que tem
de acontecer". Essa seria, de fato, uma oração fútil, porque ela não
estaria pedindo nada. Além disso, já que não conhecemos a
vontade secreta de Deus com respeito ao futuro, se uma pessoa
fizesse uma oração para que a vontade secreta de Deus se
realizasse, ela nunca saberia a respeito de que estaria pedindo!
Seria uma oração sem conteúdo inteligível e sem efeito. Pelo
contrário, a petição "seja feita a tua vontade" deve ser entendida
como o apelo para que a vontade revelada de Deus seja feita na
terra.
Muitas passagens, porém, falam da vontade secreta de Deus.
Quando Tiago nos diz: "Se o Senhor quiser, viveremos e faremos
isto ou aquilo" (Tg 4.15), ele não pode estar falando a respeito da
vontade revelada de Deus ou da sua vontade de preceito, porque,
com respeito a muitas de nossas ações, nós sabemos que estão de
acordo com a ordem de Deus, por isso fazemos uma coisa ou outra
que planejamos. Ao contrário, confiar na vontade secreta de Deus
subjuga o orgulho e expressa nossa dependência humilde do
controle soberano de Deus sobre os eventos de nossa vida.
Outro exemplo é encontrado em Gênesis 50.20. José diz a seus
irmãos: "Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou
em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos". Aqui a
vontade revelada de Deus aos irmãos de José era que eles o
amassem e não o vendessem para ser escravo, não que fizessem
planos para matá-lo. Mas a vontade secreta de Deus era que, na
desobediência dos irmãos de José, o bem maior pudesse ser feito
quando José, tendo sido vendido como escravo ao Egito ganhasse
autoridade sobre a terra e fosse capaz de salvar sua família.
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Tanto a revelação das boas-novas do evangelho a alguns como a
não revelação a outros parece estar de acordo com a vontade de
Deus. Jesus disse: "Eu te louvo, Pai, Senhor dos céus e da terra,
porque escondeste estas coisas dos sábios e cultos, e as revelaste
aos pequeninos. Sim, Pai, pois assim foi do teu agrado" (Mt
11.25,26). Isso novamente se refere à vontade secreta de Deus,
pois a sua vontade revelada é de que todos venham à salvação. De
fato, somente dois versículos mais tarde, Jesus ordena a todos:
"Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados,
e eu lhes darei descanso" (Mt 11.28).
Tanto Paulo como Pedro afirmam que Deus deseja que todos os
homens sejam salvos (1 Tm 2.4 e 2 Pe 3.9). Assim, o fato de que
alguns não são salvos e de que para alguns o evangelho está
encoberto deve ser entendido como estando de acordo com a
vontade secreta de Deus, a qual nos é desconhecida, não nos
sendo apropriado perscrutá-la. Há perigo em falar a respeito dos
eventos maus como acontecendo de acordo com a vontade de
Deus, ainda que às vezes vejamos a Escritura falando deles desse
modo.
Um perigo é que podemos começar a pensar que Deus tem prazer
mal, que ele não comete (Ez 33.11 — "... não tenho prazer na morte
dos ímpios, antes tenho prazer em que eles se desviem dos seus
caminhos e vivam"), embora possa usar o mal para bons propósitos
(como fez na vida de José ou na morte de Cristo). Outro perigo é
que podemos começar a culpar Deus pelo pecado, antes que a nós
mesmos, ou a pensar que não somos responsáveis pelas nossas
ações más.
A Escritura, contudo, não hesita em conciliar as afirmações da
vontade soberana de Deus com as afirmações da responsabilidade
do homem pelo mal. Pedro foi capaz de dizer na mesma frase que
Jesus foi entregue por propósito determinado e pré-conhecimento
de Deus; e vocês, com a ajuda de homens perversos, o mataram,
pregando-o na cruz (At 2.23).
Tanto a vontade de decreto que está escondida em Deus como a
atitude de impiedade culpável dos perversos são afirmadas na
mesma frase. Contudo, mesmo que possamos entender as
operações secretas da vontade escondida de Deus, nunca
devemos entendê-las como sugerindo que somos livres da
responsabilidade pelo mal ou que Deus deva alguma vez ser
culpado pelo pecado.
ECB 90

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A Escritura nunca fala desse modo, e também não podemos fazê-
lo, embora isso permaneça um mistério para nós nesta presente
existência.
Também consideraremos a liberdade de Deus como parte da
vontade de Deus, mas ela passa a ser considerada como atributo
separado.
A liberdade de Deus é o atributo pelo qual Deus faz qualquer
coisa que lhe agrade. Essa definição sugere que nada em toda a
criação pode impedir Deus de fazer a sua vontade. Deus não é
forçado por nada externo a si próprio, e ele é livre para fazer
qualquer coisa que deseje fazer. Nenhuma pessoa ou força pode
jamais ditar a Deus o que ele deve fazer. Ele não está debaixo de
autoridade alguma nem sob compulsão externa.
A liberdade de Deus é mencionada nos salmos 115, onde seu
grande poder é contrastado com a fraqueza dos ídolos: "O nosso
Deus está nos céus, e pode fazer tudo o que lhe agrada" (SI 115.3).
Os governantes humanos não são capazes de permanecer diante
de Deus e efetivamente opor-se à sua vontade, porque "o coração
do rei é como um rio controlado pelo SENHOR; Ele o dirige para
onde quer (Pv 21.1). De modo semelhante, Nabucodonosor
aprendeu em seu arrependimento que é verdadeiro dizer de Deus:
"Ele age como lhe agrada com os exércitos dos céus e com os
habitantes da terra. Ninguém é capaz de resistir à sua mão ou
dizer-lhe: O que fizeste? (Dn 4.35).
Imitamos a liberdade de Deus quando exercitamos a nossa vontade
e fazemos escolhas, uma capacidade essencial à natureza humana,
mas muitas vezes a usamos de modo erróneo por causa do
pecado.
Desde que Deus é livre, não devemos tentar procurar qualquer
resposta mais definitiva para as ações de Deus na criação do que o
fato de que ele desejou fazer algo e de que sua vontade possui
verdadeira liberdade (na medida em que as ações dele se
harmonizam com o seu próprio caráter moral).
Às vezes as pessoas tentam descobrir a razão por que Deus tinha
de fazer uma ação ou outra (como criar o mundo ou salvar-nos). É
melhor simplesmente dizer que a vontade de Deus totalmente livre
(operando de modo coerente com o seu caráter) foi à razão final
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pela qual ele escolheu criar o mundo e salvar pecadores e, dessa
forma, trazer glória a si próprio.
2. Onipotência
A onipotência de Deus significa que Deus é capaz de fazer toda a
sua santa vontade. O termo onipotência é derivado de dois
vocábulos latinos, omni, "tudo", e potens, "poderoso", e significa
"todo-poderoso". Não há quaisquer limites quanto ao poder de Deus
em fazer o que ele decide fazer.
Esse poder muitas vezes mencionado na Escritura. A pergunta
retórica "Existe alguma coisa impossível para o SENHOR?" (Gn
18.14; Jr 32.27) certamente sugere (nos contextos em que ela
ocorre) que nada é demasiadamente difícil para o Senhor. De fato,
Jeremias diz a Deus: "Nada é difícil demais para ti" (Jr 32.17). No
Novo Testamento, Jesus diz: "para Deus todas as coisas são
possíveis" (Mt 19.26); Paulo diz que Deus "é capaz de fazer
infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de
acordo com o seu poder que atua em nós" (Ef 3.20; Lc 1.37; 2 Co
6.18; Ap 1.8). De fato, o testemunho sólido da Escritura é de que o
poder de Deus é infinito.
A onipotência de Deus não significa o exercício para fazer aquilo
que é incoerente com a natureza das coisas, como, por exemplo,
fazer que um fato do passado não tenha acontecido, ou traçar entre
dois pontos uma linha mais curta do que uma reta. Deus possui
todo o poder que é coerente com Sua perfeição infinita, todo o
poder para fazer tudo àquilo que é digno dEle.
O poder de Deus é distinguido de duas maneiras: Potentia Dei
absoluta = absoluto poder de Deus e potentia Dei ordinata = poder
ordenado de Deus.
O poder absoluto e o poder ordenado de Deus
O poder absoluto de Deus e a eficiência divina, exercida sem a
intervenção de causas secundárias, e o poder ordenado é a
eficiência de Deus, exercida pela ordenada operação de causas
secundárias.
O seu poder ordenado é parte do seu poder absoluto, pois se Ele
não tivesse poder para fazer tudo que pudesse desejar, não teria
poder para fazer tudo o que Ele deseja.
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Podemos, portanto, definir o poder ordenado de Deus como a
perfeição pela qual Ele, mediante o simples exercício de Sua
vontade, pode realizar tudo quanto está presente em Sua vontade
ou conselho.
É' óbvio, porém, que Deus pode realizar coisas que a Sua vontade
não desejou realizar (Gn 18.14; Jr 32.27; Zc 8.6; Mt 3.9; Mt 26.53).
Entretanto há muitas coisas que Deus não pode realizar. Ele não
pode mentir, pecar, mudar ou negar-se a Si mesmo (Nm 23.19; 1
Sm 15.29; 2 Tm 2.13; Hb 6.18; Tg 1.13,17; Hb 1.13; Tt 1.3), isto
porque não há poder absoluto em Deus, divorciado de Suas
perfeições, e em virtude do qual Ele pudesse fazer todo tipo de
coisas contraditórias entre Si (Jó 11.7). Deus faz somente aquilo
que quer fazer (Sl 115.3; Sl 135.6).
Como se manifesta a onipotência de Deus?
 Deus não pode ser impedido por quem quer que seja! (Is
14.27; 43.13; Jó 11.10; Pv 21.30; Rm 9.18).
 As leis da natureza não podem limitar a onipotência de
Deus. Ele é soberano e "faz o que Ele quer". (SI 115.3;
135.6). Ele está acima de todas estas leis (Na 1.3-6). Vejamos
alguns exemplos em que os milagres de Deus foram
contrários às leis da natureza: Deus fez as águas do mar
ficarem como um muro (Êx 14.22), e as águas do rio Jordão
como um montão (Js 3.13). Ele fez com que o ferro do
machado flutuasse (2 Rs 6.1-6), e que o sol se detivesse no
meio do céu (Js 10.13). Ele livrou Daniel do poder dos leões
(Dn 6.22,23). Mandou a tempestade (Jn 1.4) e a fez cessar
(Jn 1.15; SI 107.29).
 Deus é poderoso para cumprir as suas promessas (Rm
4.21), e até “... chama as coisas que não são, como se já
fossem" (Rm 4.17b). Deus, que é o Criador, tem ainda o seu
poder criador em pleno vigor. Por isto não existem limites no
seu poder de operar maravilhas, de cura, mesmo em casos
sem nenhuma esperança humana.
 El-Shaddai: A onipotência de Deus se expressa no nome
hebraico El-Shaddai traduzido por Todo-Poderoso (Gn. 17.1;
Êx 6.3; Jó. 37.23).
 Em todas as coisas: A onipotência de Deus abrange todas
as coisas (1 Cr 29.12), o domínio sobre a natureza (Sl 107.25-
29; Na 1.5,6; Sl. 33.6-9; Is 40.26; Mt 8.27; Jr 32.17; Rm 1.20),
o domínio sobre a experiência humana (Sl 91.1; Dn 4.19-37;
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Êx 7.1-5; Tg 4.12-15; Pv 21.1; Jó 9.12; Mt 19.26; Lc 1.37), o
domínio sobre as regiões celestiais (Dn 4.35; Hb 1.13,14; Jó
1.12; Jó 2.6).
 Na criação, na providência e na redenção: Deus manifestou
o seu poder na criação (Rm 4.17; Is 44.24), nas obras da
providência (1 Cr 29.11,12) e na redenção (Rm 1.16; 1 Co
1.24).
Há, contudo, algumas coisas que Deus não pode fazer. Deus não
pode querer ou fazer nada que venha a negar o seu caráter.
Essa é a razão por que a definição de onipotência é afirmada em
termos da capacidade de Deus de fazer "toda a sua santa vontade".
Não há absolutamente nada que Deus não seja capaz de fazer,
mas tudo o que ele faz é coerente com o seu caráter. Por exemplo,
Deus não pode mentir (Tt 1.2), não pode ser tentado pelo mal (Tg
1.13) e não pode negar-se a si mesmo (2 Tm 2.13).
Embora o poder de Deus seja infinito, o uso que ele faz desse
poder é qualificado por seus outros atributos (exatamente como
todos os atributos qualificam as suas ações). Entretanto, esse é
outro exemplo de entendimento erróneo que pode surgir quando um
atributo é isolado do restante dos atributos que revelam o caráter de
Deus ou quando uni atributo é enfatizado de modo desproporcional.
Veja textos que demonstra o Poder de Deus:
Tg 4.7; Ap 20.2; Jó 2.6; Lc 22.31,32; Jo 17.2; SI 76.10; At 17.28; Lc
12.13-21; Tg 4.12-15; Dn 4.19-37; SI 107.25-29; Na 1.3-6; SI 33.6-
9; Mt 19.26; Jó 42.2; Gn 18.14; SI 93.3-4; Jr 32.17; SI 115.3.

3. Soberania ou Supremacia.
Atributo pelo qual Deus possui completa autoridade sobre todas as
coisas criadas, determinando-lhe o fim que desejar (Gn 14.19; Ne
9.6; Êx 18.11; Dt 10.14,17; 1 Cr 29.11; 2 Cr 20.6; Jr 27.5; At 17.24-
26; Jd 4; Sl 22.28; 47.2,3, 8; 50.10-12; 95.3-5; 135.5; 145.11-13;
Ap.19.6).
a) Vontade ou Autodeterminação: A perfeição de Deus pela qual
Ele, num ato sumamente simples, dirige-se a Si mesmo como o
Sumo Bem (deleita-se em Si mesmo como tal) e às Suas criaturas
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por amor do Seu nome (Is 48.9,11, 14; Ez 20.9,14, 22,44; Ez 36.21-
23).
 Atributos sumários
1. Perfeição
A perfeição divina significa que Deus possui todas as qualidades de
modo excelente e completo e não tem nenhuma falta das
qualidades que seriam desejáveis para ele.
É possível incluir esse atributo na descrição de outros atributos.
“Contudo, há passagens que nos dizem que Deus é” perfeito "e"
completo".
Por exemplo, Jesus nos diz: "Sejam perfeitos como perfeito é o Pai
celestial de vocês (Mt 5.48; Dt 32.4; SI 18.30). Assim, parece
adequado afirmar explicitamente que Deus possui de forma plena
todos os atributos excelentes e não carece de excelência alguma.
2. Bem-aventurança.
Ser "bem-aventurado" é ser feliz no sentido mais rico e pleno, A
Escritura muitas vezes fala sobre a bem-aventurança das pessoas
que andam nos caminhos de Deus. Todavia, em 1 Timóteo, Paulo
chama Deus de "bendito e único Soberano" (1 Tm 6.15) e fala do
"glorioso evangelho [...] do Deus bendito” (1 Tm 1.11). Em ambos
os casos a palavra grega não é eulogetos (muitas vezes traduzida
por "bendito"), mas makarios ("bem-aventurado", "feliz").
Dessa forma, a bem-aventurança de Deus pode ser definida da
seguinte maneira: A bem-aventurança de Deus significa que
Deus tem prazer plenamente em si próprio e no que reflete o
seu caráter.
Nessa definição a ideia da felicidade ou da bem-aventurança de
Deus está conectada diretamente com a sua pessoa como o foco
de tudo que é digno de alegria e prazer. Essa definição indica que
Deus é perfeitamente feliz, que ele tem plenitude de alegria em si
próprio.
Essa definição também reflete o fato que Deus tem prazer em cada
coisa de sua criação que espelha sua excelência. Quando terminou
a obra da criação, ele observou tudo que havia feito e viu que era
"muito bom" (Gn 1.31). Isso indica o prazer e a aprovação de Deus
em sua criação. Então, em Isaías lemos uma promessa da futura
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alegria de Deus em relação a seu povo: "... assim como o noivo se
regozija por sua noiva, assim o seu Deus se regozija por você" (Is
62.5; Pv 8.30,31; Sf 3.17).
Imitamos a bem-aventurança de Deus quando encontramos prazer
e alegria em tudo o que é agradável a Deus, tanto nos aspectos de
nossa vida que são agradáveis a Deus como nos atos de outras
pessoas. De fato, quando somos agradecidos pelo modo específico
como Deus nos criou como indivíduos e temos prazer nisso,
também imitamos seu atributo de bem-aventurança.
Além do mais, imitamos a bem-aventurança de Deus quando nos
regozijamos na criação que reflete os vários aspectos do seu
excelente caráter. E encontramos nossa maior bem-aventurança,
nossa maior alegria, quando nos deliciamos na fonte de todas as
boas qualidades, o próprio Deus.
3. Beleza.
A beleza de Deus é o atributo divino pelo qual ele é a soma de
todas as qualidades desejáveis. Esse atributo é especificamente
relacionado à perfeição de Deus: que Deus não tem falta de nada
que seja desejável; "beleza" significa que Deus tem tudo o que é
desejável. Eles são dois modos diferentes de dizer a mesma
verdade.
Entretanto, há valor em afirmar essa posse positiva que Deus tem
de tudo o que é desejável.
Isso nos fez lembrar que todos os nossos desejos bons e justos,
todos os nossos desejos que realmente devem estar em nós ou em
qualquer outra criatura, encontram seu cumprimento em Deus e em
ninguém mais.
Davi fala da beleza do Senhor em Salmos 27.4 (RA).
Ideia similar é expressa em outros salmos: "A quem tenho nos céus
senão a ti? E na terra, nada mais desejo além de estar junto a ti" (SI
73.25).
Em ambos os casos, o salmista reconhece que seu desejo de Deus,
que é a soma de tudo o que é desejável, ultrapassa em muito todos
os outros desejos.
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Capítulo 10 - As obras de Deus

1. NA CRIAÇÃO.

 Em Deus foram criadas todas as coisas, visíveis e invisíveis


(Cl 1.16).
 Deus criou os céus e a terra (Gn 1.1);
 De modo todo especial, Deus criou o homem, Adão, do pó da
terra (Gn 2.7).

Prova Bíblica da Doutrina da Criação.

Não se acha a prova bíblica da doutrina da criação numa única e


restrita porção da Bíblia, mas em todas as partes da palavra de
Deus. Não consiste de umas poucas e esparsas passagens de
duvidosa interpretação, mas sim, de um grande número de claras e
inequívocas afirmações que falam da criação do mundo como um
fato histórico.

Temos primeiramente a extensa narrativa da criação nos dois


primeiros capítulos de Gênesis, que será discutida mais
pormenorizadamente quando for considerada a criação do universo
material. Estes capítulos certamente parecem ao leitor desatento
uma narrativa histórica e o registro de um fato histórico. E as muitas
referências espalhadas pela Bíblia toda não a consideram
diferentemente.
Todas elas se referem à criação como um fato da história.

As diversas passagens em que se acham essas referências


podem ser classificadas como segue:
(1) Passagens que salientam a onipotência de Deus na obra da
criação (Is 40.26, 28; Am 4.13).

(2) Passagens que indicam Sua exaltação acima da natureza como


Deus grandioso e infinito (Sl 90.2; 102.26, 27; At 17.24).

(3) Passagens que se referem à sabedoria de Deus na obra da


criação (Is 40.12-14; Jr 10.12-16; Jo 1.3).
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(4) passagens que veem a criação do ponto de vista da soberania e
do propósito de Deus na criação (Is 43.7; Rm 1.25).

(5) passagens que falam da criação como a obra fundamental de


Deus. Ne 9.6: “Só tu és o Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus,
e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e
tudo quanto há neles; e tu os preservas a todos com vida, e o
exército dos céus te adora”. Esta passagem é típica de várias
outras passagens menos extensas que se acham na Bíblia e que
dão ênfase ao fato de que Jeová é o criador do universo (Is 42.5;
45.18; Cl 1.16; Ap 4.11; 10.6).

A Ideia da Criação

A crença da igreja na criação do mundo vem expressa já no


primeiro artigo da Confissão de Fé Apostólica (Credo Apostólico):
“Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador dos céus e da terra”.
Esta é uma expressão de fé mantida pela Igreja Primitiva de que
Deus, por Seu poder absoluto, produziu do nada o universo.

As palavras “Criador dos céus e da terra” não constavam de forma


originária do Credo, mas representam um acréscimo posterior. Eles
atribuem ao pai, isto é, a primeira pessoa da Trindade, a originação
de todas as coisas. Isso está em harmonia com a descrição do
Novo Testamento de que todas as coisas são do pai, mediante o
Filho, e no Espírito Santo. A palavra “Criador” traduz o termo grego
poieten, que se acha na forma grega da Confissão Apostólica,
através do vocábulo creatorem, presente na forma latina.

A criação, no sentido estrito da palavra, pode ser definida como o


livre ato de Deus pelo qual Ele, segundo a Sua vontade soberana e
para a Sua própria glória, produziu no princípio todo o universo,
visível e invisível, sem uso de material preexistente, e assim lhe deu
uma existência distinta da Sua própria e, ainda assim, dele
dependente. Tendo em vista os dados escriturísticos indicados
acima, é evidente, porém, que essa definição se aplica àquilo que é
geralmente conhecido como criação primária ou imediata, isto é, a
criação descrita em Gn 1.1. Mas a Bíblia evidentemente usa a
palavra “criar” também em casos em que Deus fez uso de materiais
preexistentes, como na criação do sol, da lua, das estrelas, dos
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animais e do homem. Daí muitos teólogos acrescentam um
elemento à definição da criação.

Assim, Wollebius define: “A criação é o ato pelo qual Deus produz o


mundo e tudo que nele há, em parte do nada e em parte de material
que por sua própria natureza é inepto, para a manifestação da
glória do Seu poder, sabedoria e bondade”. Entretanto, mesmo
assim, a definição não cobre aqueles casos, também designados na
Escritura como obra criadora, em que Deus trabalha mediante
causas secundárias (Sl 104.30; Is 45.7, 8; Jr 31.22; Am 4.13) e
produz resultados que só Ele pode produzir. A definição dada inclui
vários elementos que pedem mais ampla consideração.

Termos bíblicos para “criar”.

Na narrativa da criação, como já foi indicado, são empregados três


verbos, a saber, bara’, ‘asah e yatsar, e são utilizados
alternadamente na Escritura (Gn 1.26, 27; 2.7).

A primeira palavra é a mais importante. Seu sentido originário é


partir, cortar, dividir; mas, em acréscimo, significa também formar,
criar e, num sentido de derivação mais distante, produzir, gerar e
regenerar.

A palavra mesma não transmite a ideia de produzir do nada alguma


coisa, pois é usada até com referência a obras da providência, Is
45.7; Jr 31.22; Am 4.13. Contudo, tem caráter distintivo: é sempre
empregada com relação a alguma produção divina, nunca a
qualquer produção humana; e nunca tem acusativo de material,
pelo que serve para expressar a grandiosidade da obra de Deus.

A palavra ‘asah é mais geral, significando fazer ou formar, e,


portanto, é empregada no sentido geral de fazer, formar, fabricar,
modelar. A palavra yastar tem, mais distintamente, o sentido de
modelar com materiais preexistentes e, portanto, é empregada para
descrever o trabalho do oleiro na modelagem de vasos de barro. As
palavras do Novo Testamento são ktizein, Mc 13.19, poiein, Mt
19.4: themelioum, Hb 1.10, katartizein, Rm 9.22, kataskeuazein, Hb
3.4, e plassein, Rm 9.20. Nenhuma dessas palavras expressa
diretamente à ideia de criação do nada.

Sentido da expressão “criação do nada”.


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A frase “criar ou produzir do nada” não se acha na Escritura. É
oriunda de um dos apócrifos, a saber, 2 Macabeus 7.28. A
expressão ex nihilo tem sido mal interpretada e criticada. Alguns até
consideram a palavra nihilum (nada) como um designativo de certa
matéria com a qual o mundo foi criado, matéria sem qualidades e
sem forma. Mas isso é pueril demais para merecer séria
consideração.

Outros entendem que a expressão “criar do nada” significa que o


mundo veio a existir sem nada ou ninguém que atuasse como sua
causa, e passaram a criticá-la como conflitante com o que
geralmente se considera verdade axiomática - ex nihilo nihil fit (do
nada, nada se fez). Mas esta crítica é inteiramente destituída de
base. Dizer que Deus criou do nada o mundo não equivale a dizer
que o mundo veio a existir sem causa. Deus mesmo, ou, mais
especificamente, a vontade de Deus é a força causante do mundo.

Martensen expressa-se come estas palavras: “O nada do qual Deus


cria o mundo são as eternas possibilidades da Sua vontade, que
são as fontes de todas as realidades do mundo”. Se a frase latina,
“ex nihilo nihil fit” for tomada no sentido de que não pode haver
nenhum efeito sem causa, sua veracidade pode ser admitida, mas
isso não pode ser considerado como uma objeção válida à doutrina
da criação do nada. Mas se for entendida como expressando a ideia
de que nada pode originar-se, a não ser de material previamente
existente, certamente não poderá ser tida como uma verdade clara
e inconteste.

Neste caso, é na verdade uma suposição arbitrária que, como o


assinala Shedd, não faz justiça sequer aos pensamentos e volições
do homem, que são ex nihilo. Mas, mesmo que essa frase
expressasse de fato uma verdade pertencente à experiência
comum, no que se refere às obras humanas, isto ainda não provaria
que ela é verdadeira com respeito à obra do absoluto poder de
Deus. Contudo, em vista do fato de que a expressão, “criação do
nada”, está sujeita a ser mal compreendida, e foi mal compreendida
muitas vezes, é preferível falar em criação sem uso de material
preexistente.

 Base Bíblica da doutrina da criação do nada


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Gn 1.1 registra o início da obra da criação, e certamente não
apresenta Deus produzindo o mundo com material preexistente. Foi
criação do nada, criação no sentido estrito da palavra e, daí, a única
parte da obra registrada em Gn 1, a que Calvino aplica o termo.
Mesmo na parte restante do capítulo, porém, Deus é descrito
produzindo todas as coisas pela palavra do Seu poder. A mesma
verdade é ensinada em passagens como Sl 33.6, 9 e 148.5.

A passagem mais forte é Hb 11.3: “Pela fé entendemos que foi o


universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível
veio a existir das coisas que não aparecem”, ou, na versão utilizada
pelo autor, “... de maneira que, o que se vê não foi feito das cousas
que aparecem”. A criação é descrita aqui como um fato que
apreendemos somente pela fé.

Pela fé entendemos (percebemos, não compreendemos) que o


mundo foi estruturado ou formado pela palavra de Deus, a palavra
de poder de Deus, de modo que as coisas que se veem, as coisas
visíveis deste mundo, não foram feitas das coisas que aparecem,
que são visíveis, ou que, pelo menos, são vistas ocasionalmente.
De acordo com essa passagem que pode ser citada nesta conexão
é Rm 4.17, que fala de Deus, “que vivifica os mortos e chama à
existência as coisas que não existem como se existissem” (Moffatt
“que faz viver aos mortos e chama à existência o que não existe”).
É verdade que, nesse contexto, Paulo não fala da criação do
mundo, mas da esperança de Abraão, de que teria um filho.
Contudo, a descrição de Deus aqui dada é geral e, portanto,
também é de aplicação geral. Pertence à própria natureza de Deus
ser Ele capaz de chamar à existência o que não existe, e Ele o faz.

2. NA PRESERVAÇÃO (Deus preserva, mantém e sustém tudo que


trouxe à existência).
 Nele tudo subsiste: Cl 1.17.
 Ele preserva todas as coisas: os homens e animais (Sl
36.6). O caminho dos seus santos (Pv 2.8). O céu e seus
exércitos, a terra, mares, e tudo que neles há (Ne 9.6).

A prova da doutrina da preservação é direta e por dedução.

 Prova direta.
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A divina preservação de todas as coisas é clara e explicitamente
ensinada em diversas passagens da Escritura.

As seguintes passagens são apenas algumas das muitas que


poderiam ser mencionadas (Dt 33.12, 25-28; 1 Sm 2.9; Ne 9.6; Sl
107.9; 127.1; 145.14, 15; Mt 10.29; At 7.28; Cl 1.17; Hb 1.3).

Muito numerosas são as passagens que falam do Senhor


preservando o Seu povo.

Exemplos: Gn 28.15; 49.24; Êx 14.29, 30; Dt 1.30, 31; 2 Cr 20.15,


17; Jó 1,10; 36.7; Sl 31.20; 32.6; 34.15, 17; 37.15, 17, 19, 20; 91.1,
3, 4, 7, 9, 10, 14; 121.3, 4, 7, 8; 125.1, 2; Is 40.11; 43.2; 63.9; Jr
30.7, 8, 11; Ez 34.11, 12, 15, 16; Dn 12.1; Zc 2.5: Lc 21.18; 1 Co
10.13; 1 Pe 3.12; Ap 3.10.

 Prova por dedução.

A ideia da preservação divina interfere-se da doutrina da soberania


de Deus. Esta só se pode conceber como absoluta; não seria
absoluta, porém, se existisse ou acontecesse alguma coisa
independentemente da Sua vontade.

Só pode ser sustentada com a condição de que todo o universo e


tudo que nele há é em seu ser e em sua ação absolutamente
dependente de Deus. Infere-se também do caráter dependente da
criatura. Uma característica de tudo quanto é criatura é que não
pode permanecer existindo em virtude do seu poder inerente.

O fundamento do seu ser e da continuidade da sua existência é a


vontade do seu Criador. Somente Aquele que criou o mundo pela
palavra do Seu poder, pode sustentá-lo por Sua onipotência.

O correto conceito da preservação divina.

A doutrina da preservação parte do pressuposto de que todas as


substâncias criadas, quer espirituais quer materiais, têm existência
real e permanente, distinta da existência de Deus, e só possuem
propriedades ativas e passivas derivadas de Deus; e de que os
seus ativos têm eficiência real, e não meramente aparente, como
causas secundárias, de modo que podem produzir os efeitos que
lhe são próprios. Assim, a doutrina protege-se do panteísmo, com a
sua ideia de uma criação contínua, que virtualmente, se nem
ECB 102

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sempre expressamente, nega a existência distinta do mundo e faz
de Deus o único agente do universo. Mas não considera essas
substâncias criadas como auto existentes, desde que a auto
existência é propriedade exclusiva de Deus, e todas as criaturas
têm o fundamento da sua existência continuada nele, e não em si
mesmas. Daí segue-se que continuam a existir, e não em virtude de
um ato meramente negativo de Deus, mas em virtude do exercício
positivo e contínuo do poder divino.

O poder de Deus acionado para a sustentação de todas as coisas é


tão positivo como o poder exercido na criação.

A precisa natureza da Sua obra na sustentação de todas as coisas,


tanto no ser como no agir é um mistério, embora se possa dizer
que, em Suas operações providenciais, Ele se acomoda à natureza
das Suas criaturas. Dizemos com Shedd: “No mundo material, Deus
age imediatamente nas propriedades e leis materiais e por meio
delas”.

A preservação jamais contra a criação. “Deus não viola na


providência o que estabeleceu na criação”. A preservação pode ser
definida como a obra contínua de Deus pela qual Ele mantém as
coisas que criou, juntamente com as propriedades e poderes de
que as dotou.

3. NA SUA PROVIDÊNCIA (Deus antevê, guia, dirige e governa


todos os eventos para os seus santos propósitos):

Tudo Sl 103.19. O universo Js 10.12-14 (parou o sol); Sl 147.16-18.


Os animais e plantas Jn 1.17 (a baleia); Mt 6.30,33 (os lírios do
campo). As nações Sl 66; Dn 2.21. O homem Ex 10.27 (faraó); Sl
75.7. O crente Sl 4.8; 1Co 10.13 (o escape das provações).

3.1 A Bíblia ensina claramente o governo providencial de Deus

 Sobre o universo em geral, Sl 103.19; Dn 5.35; Ef 1.11;


 Sobre o mundo físico, Jó 37.5; Sl 104.14; 135.6; Mt 5.45;
 Sobre a criação inferior, Sl 104.21, 28; Mt 6.26; 10.29;
 Sobre os negócios das nações, Jó 12.23; Sl 22.28; 66.7; At
17.26;
 Sobre o nascimento do homem e sua sorte na vida, 1 Sm
16.1; Sl 139. 16; Is 45.5; Gl 1.15, 16;
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 Sobre as vitórias e fracassos que sobrevêm às vidas dos
homens, Sl 75.6, 7; Lc 1.52;
 Sobre coisas aparentemente acidentais ou insignificantes, Pv
16.33; Mt 10.30;
 Na proteção dos justos, Sl 4.8; 5.12; 63.8; 121.3; Rm 8.23;
 No suprimento das necessidades do povo de Deus, Gn 22.8,
14; Dt 8.3; Fp 4.19;
 Nas respostas à oração, 1 Sm 1.19; Is 20.5, 6; 2 Cr 33.13; Sl
65.2; Mt 7.7; Lc 18.7, 8; e
 No desmascaramento e castigo dos ímpios, Sl 7.12, 13; 11.6.

3. 2 Providências geral e especial.

Geralmente os teólogos distinguem entre providência geral e


especial, a primeira indicando o governo de Deus sobre o universo
todo, e a última, Seu cuidado de cada parte dele em relação ao
todo. Não são duas espécies de providência, mas a mesma
providência exercida em duas diferentes relações. Contudo, a
expressão “providência especial” pode ter uma conotação mais
específica, e nalguns casos se refere ao cuidado especial de Deus
por Suas criaturas racionais.

Alguns falam até mesmo de uma providência muito especial


(providentia especialissima), com referência aos que estão na
relação especial de filiação a Deus. Providências especiais são
combinações especiais feitas na ordem dos eventos, como na
resposta à oração, na libertação de dificuldades, e em todos os
casos em que a graça e o socorro vêm, em circunstâncias críticas.

3.3 Negação da providência especial.

Há os que estão dispostos a admitir uma providência geral, uma


administração do mundo sob um sistema fixo de leis gerais, mas
negam que haja também uma providência especial segundo a qual
Deus se interessa pelos pormenores da história, pelos assuntos da
vida humana e particularmente pelas experiências dos justos.

Alguns afirmam que Deus é grande demais para interessar-se pelas


coisas menores da vida, enquanto outros sustentam que Ele
simplesmente não pode fazê-lo, desde que as leis da natureza Lhe
amarram as mãos e, daí sorriem significativamente quando ouvem
dizer que Deus responde as orações.
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Agora, não há necessidade de negar a ralação da providência
especial com as leis uniformes da natureza constitui um problema.

Ao mesmo tempo, é preciso dizer que envolve um conceito muito


pobre, superficial e antibíblico de Deus afirmar que Ele se interessa
nem pode interessar-se pelos pormenores da vida, não pode
responder as orações, nem prestar ajuda em emergências, nem
interferir miraculosamente em favor do homem.

Um governante que apenas baixasse certos princípios gerais e não


desse atenção a particularidades, ou um homem de negócio que
não examinasse os pormenores do seu negócio, logo estaria
arruinado.

A Bíblia ensina que mesmo as menores minúcias da vida


pertencem à ordenação de Deus. Em conexão com a questão, se
podemos harmonizar a operação das leis gerais da natureza com a
providência geral, só podemos indicar o seguinte:

 As leis da natureza não devem ser descritas como poderes da


natureza a governarem absolutamente todos os fenômenos e
operações. Elas na verdade não são mais que a descrição
humana, por vezes deficiente, da uniformidade na variedade
descoberta no modo pelo qual operam as forças da natureza.

 A concepção materialista das leis da natureza como um


sistema entrelaçado e fechado, agindo independentemente de
Deus e realmente O impossibilitando de intervir no curso do
mundo, é absolutamente errônea. O universo tem uma base
pessoal. E a uniformidade da natureza é simplesmente o
método ordenado por um ser pessoal em ação.

 As leis da natureza, assim chamadas, só produzem os


mesmos efeitos se todas as condições são as mesmas.
Geralmente os efeitos não são resultados de uma força única,
mas de uma combinação de forças naturais.

Até um homem pode variar os efeitos combinando uma força da


natureza com outra ou outras forças, e, entretanto cada uma destas
forças opera em estrita harmonia com suas leis. E se isto é possível
para o homem, é infinitamente mais possível para Deus. Com todos
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os tipos de combinação, Ele pode levar a efeito os mais variados
resultados.

4. Governo.

Pode-se definir o governo divino como a continua atividade de Deus


pela qual Ele rege todas as coisas teologicamente a fim de garantir
a realização do propósito divino. Este governo não é uma simples
parte da providencia divina, mas, como no caso da preservação e
da concorrência, é toda ela, mas agora considera sob o ponto de
vista do fim para o qual Deus guia todas as coisas da criação, a
saber, a gloria do Seu nome.

a) É o governo de Deus como o Rei do universo.

Nos dias presentes muitos consideram a ideia de Deus como Rei


uma noção antiquada do Velho Testamento, e a querem substituir
pela ideia neotestamentária de Deus como Pai.

A ideia da soberania divina deve dar lugar à do amor divino. Julgar-


se que esta se harmoniza com a ideia progressiva de Deus na
Escritura. Mas é um erro pensar que a revelação divina, conforme
se eleva a níveis mais altos, tenciona fazer com que nos
desapeguemos aos poucos da ideia de Deus como de Deus como
Rei e a substituamos pela ideia de Deus como Pai.

Já vai contra isso a proeminência da ideia do reino de Deus nos


ensinos de Jesus. E se se disser que isto envolve apenas a ideia de
uma especial e limitada realeza de Deus, pode-se replicar que a
ideia da paternidade de Deus nos evangelhos está sujeita às
mesmas restrições e limitações. Jesus não ensina uma paternidade
universal de Deus. Além disso, o Novo Testamento também ensina
a realeza universal de Deus em passagens como Mt 11.25; At
17.24; 1 Tm 1.17; 6.15; Ap 1.6; 19.6. Ele é igualmente Rei e Pai, e é
a fonte de toda autoridade no céu e na terra, o Rei dos reis e
Senhor dos senhores.

b) É um governo adaptado à natureza das criaturas que Ele


governa.

No mundo físico Ele estabeleceu as leis da natureza, e é por meio


dessas leis que Ele exerce o governo do universo físico. No mundo
mental Ele exerce o Seu governo mediatamente, por meio das
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propriedades e leis da mente, e imediatamente, pela direta
operação do Espírito Santo. No governo e domínio dos agentes
morais Ele faz uso de toda classe de influência moral, como as
circunstâncias, os motivos, a instrução, a persuasão e o exemplo,
mas também age diretamente, pela operação pessoal do Espírito
Santo no intelecto, na vontade e no coração.

c) A extensão deste governo.

A Escritura declara explicitamente que este governo divino é


universal (Sl 22.28, 29; 103.17-19; Dn 4.34, 35; 1 Tm 6.15). É
realmente a execução do Seu propósito eterno, abrangendo todas
as Suas obras, desde o princípio, tudo que foi, é e será para
sempre. Mas, embora geral, desce também a particularidades. As
coisas de maior significação, Mt 10.29-31, aquilo que é
aparentemente acidental, Pv 16.33, as boas ações dos homens, Fp
2.13, como também as suas más ações, At 14.16 – tudo está sob o
governo e direção de Deus. Deus é o Rei de Israel, Is 33.22, mas
Ele também domina entre as nações, Sl 47.9. nada pode escapar
ao Seu governo.
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Capítulo 11 - A Soberania de Deus

I. QUE É A SOBERANIA DE DEUS

Soberania, aplicada a Deus, é um termo (Do lat. super), que


significa:

Autoridade inquestionável que Deus exerce sobre todas as coisas


criadas, quer na terra, quer nos céus. A soberania divina está
baseada em sua onipotência, onipresença e onisciência. Isto
significa que todos precisamos de Deus para existir; sem Ele, não
há vida nem movimento.

[...] indica o total domínio do Senhor sobre toda a sua vasta criação.
Como soberano que é, Deus exerce de modo absoluto a sua
vontade, sem ter de prestar contas a qualquer vontade finita.

1. Deus é o Soberano Preservador.

Ele preserva todas as coisas, através de suas leis biológicas, físicas


e químicas, constatadas pela verdadeira ciência (At 17.25). Os
homens, em sua ignorância e soberba, atribuem a continuidade dos
seres vivos e das coisas, a um processo evolutivo, movido pelo
acaso. Nada mais absurdo e ilógico, ante a grandeza, a ordem e a
complexidade do universo, da vida e de seus elementos.

Diz a Bíblia, falando acerca de Jesus: “A quem constituiu herdeiro


de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o
resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e
sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo
feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à
destra da Majestade, nas alturas” (Hb 1.2,3).

3. Deus é o Soberano Senhor e dono de todas as Coisas.

Como Criador e Preservador, Deus é Senhor de todas as coisas,


independente da crença ou não crença dos homens materialistas;
queiram ou não queiram os insensatos ateístas. Diz a Bíblia: “Do
Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele
habitam. Porque ele a fundou sobre os mares e a firmou sobre os
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rios” (SI 24.1,2). Deus é Senhor (Gn 2.4). É dominador (2 Cr 20.6;
Ap 6.10).

Deus é o Governante Supremo do universo. Não há outro. Ele faz


tudo o que lhe apraz, em conformidade com o seu caráter. E não
tem o dever de dar satisfação a quem quer que seja.
Nabucodonosor, Rei da Babilônia, após a terrível experiência de
julgar-se grande, e ter sido abatido por Deus, exclamou: “Mas, ao
fim daqueles dias, eu, Nabucodonosor, levantei os meus olhos ao
céu, e tomou-me a vir o meu entendimento, e eu bendisse o
Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo
domínio é um domínio sempiterno, e cujo reino é de geração em
geração. E todos os moradores da terra são reputados em nada; e,
segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os
moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão e lhe
diga: Que fazes?” (Dn 4.34,35). Questionar Deus é atitude própria
da insensatez dos incrédulos, materialistas ou ímpios.

II. A SOBERANIA DE DEUS E O LIVRE-ARBÍTRIO

Por que Deus não impede que o homem faça o mal? Por que Deus
permite tanta violência? Quando alguém faz o bem, mesmo sem
crer em Deus, esta sendo teleguiado por Ele?

Seriam os homens “fantoches de Deus”, como diz certo escritor?

Está em foco o Iivre-arbítrio concedido por Deus ao homem, para


que este faça o que desejar e puder fazê-lo até mesmo o mal. Deus
pode impedir o mal. Porém, pela sua vontade permissiva, faculta ao
homem escolher entre o bem e o mal. Se não houvesse permissão
para o mal, não haveria também liberdade concedida. Seria uma
contradição.

Esse tópico trata do relacionamento de Deus com o homem, feito a


sua imagem, conforme a sua semelhança. Nesta condição é
indispensável e forçoso que o homem tenha liberdade para agir ou
deixar de agir; fazer ou deixar de fazer; pensar ou deixar de pensar;
ser ou não ser; ter ou não ler, dentro de suas limitações espirituais,
emocionais ou físicas.

1. A vontade Soberana de Deus.


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A vontade de Deus é soberana. No entanto, Ele não é arbitrário. Em
seu relacionamento com o homem, apresenta duas formas de
expressar sua vontade. Uma de modo absoluto, diretivo, inexorável,
como expressão de sua onipotência; outra, de modo permissivo,
abrindo espaço para o homem agir, segundo a liberdade que lhe é
concedida desde a criação, para que o mesmo seja, ao mesmo
tempo, livre, responsável e responsabilizado por suas ações.

Diz Paulo: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo
o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia
na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no
Espírito do Espírito ceifará a vida eterna. E não nos cansemos de
fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos
desfalecido” (Gl 6.7-9). Parece-nos bem claro que o homem tem
liberdade para “semear”, ou seja, agir, fazer ou praticar algo, seja
certo, ou errado. Assim, pode ser santo ou ímpio. O apóstolo deixa
bem patente que o que semear “na carne”, ou seja, de acordo com
a natureza carnal, herdada do pecado original, “ceifará corrupção”,
isto é, a condenação. Não será salvo. Não porque Deus o
predestinou, de modo arbitrário. Mas porque ele semeou.

Por outro lado, se o homem semear “no Espírito”, ou seja, der valor
ao relacionamento espiritual com Deus, “ceifará a vida eterna”. Será
salvo (Jo 3-16; 5.24). No Apocalipse, lemos: “Eis que estou à porta
e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua
casa e com ele cearei, e ele, comigo” (Ap 3.20). Deus sempre
permite um “se”, no seu relacionamento com o homem. Se ele quer
viver com Deus, na dimensão terrena, viverá com Deus, na
eternidade. Do contrário, se não quer saber de Deus, viverá
eternamente longe de sua presença. É uma escolha pessoal. Um
direito. E uma grande responsabilidade, com repercussões para
toda a eternidade.

2. A Vontade Diretiva de Deus.

Quando algo é visto por Deus como uma coisa que deve ser
impedida e o deseja impedir, Ele usa sua vontade diretiva - “Ainda
antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer
escapar das minhas mãos; operando eu, quem impedirá?” (Is
43.13).
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“E ao anjo da igreja que está em Filadélfia escreve: Isto diz o que é
santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi, o que abre, e
ninguém fecha, e fecha, e ninguém abre” (Ap 3.7).

Há quem se inquiete, e indague: Por que Deus não evita o mal se


Ele tem todo o poder?

Diante desse dilema, entre a permissão de Deus para a existência


do mal, e seu poder para evitá-lo, deve-se considerar que a
longanimidade de Deus é a paciência para com os pecadores,
dando-lhes oportunidade para o arrependimento. Isso faz parte de
sua relação com suas criaturas. Em sua soberania, Ele pode alargar
o tempo para que a humanidade tome conhecimento do seu amor,
e não só de sua justiça. Não obstante a sua soberania, Ele não age
de modo arbitrário sobre os homens, criados à sua imagem,
conforme a sua semelhança, para serem dominadores (Gn 1.26).

III. A SOBERANIA E OS DECRETOS DE DEUS

São também chamados de “O Conselho de Deus”, ou “o Plano de


Deus”; ou ainda, “As Obras de Deus”. Refere-se aos propósitos de
Deus em relação aos homens, ao universo, e a todas as coisas, e
de modo especial, à salvação da humanidade.

1. Em relação ao universo.

Segundo Brancroft:

Esse plano compreende todas as coisas que já foram ou serão;


suas causas, condições, sucessões e relações, e determina sua
realização certa.

O Plano de Deus inclui tanto o aspecto eficaz como o aspecto


permissivo da vontade de Deus. Todas as coisas estão incluídas no
plano de Deus, porém algumas Ele as origina e outras Ele as
permite. No aspecto eficaz do plano de Deus incluímos aqueles
acontecimentos que Ele resolveu efetuar por meio de causas
secundárias ou pela sua própria agência imediata. No aspecto
permissivo de Deus, incluímos aqueles acontecimentos que Ele
resolveu permitir que fossem efetuados por livres agentes?

Nessa conceituação, vemos a vontade diretiva (ou decretatória), e a


vontade permissiva de Deus.
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Concordamos perfeitamente quanto ao decreto divino, em seus


aspectos amplo e geral, em relação ao universo e às coisas criadas,
bem como aos acontecimentos que ocorrem, seja por vontade
diretiva, seja por vontade permissiva de Deus.

A Bíblia tem numerosas referências que corroboram esse


entendimento: “Este é o conselho que foi determinado sobre toda
esta terra; e esta é a mão que está estendida sobre todas as
nações. Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem, pois o
invalidará? E a sua mão estendida está; quem, pois, a fará voltar
atrás?” (Is 14.26,27) “Para sempre, ó Senhor, a tua palavra
permanece no céu. A tua fidelidade estende-se de geração a
geração; tu firmaste a terra, e firme permanece. Conforme o que
ordenaste, tudo se mantém até hoje; porque todas as coisas te
obedecem” (SI 119.89-91).

2. Em relação ás pessoas, como agentes-livres.

Neste aspecto, desde muitos séculos, há grandes discussões


teológicas sobre a intervenção de Deus na vontade do homem,
segundo seu decreto, sobretudo no que tange à salvação. De um
lado, há os que creem firmemente que Deus, em sua soberania,
elegeu e predestinou algumas pessoas para serem salvas, e outras,
para serem condenadas. Dentre os ensinos teológicos sobre os
decretos de Deus em relação aos homens, destacamos os
seguintes:

Calvinismo - Predestinação Absoluta

É a doutrina formulada por João Calvino (1509-1564). Teólogo


protestante francês formou-se em filosofia na Universidade de
Paris. Estudou direito, mas não se dedicou à vida jurídica. Mudou-
se para a Suíça, onde escreveu sua grande obra, Institutas. Sua
doutrina defende a ideia da predestinação absoluta, fundamentada
na soberania de Deus. O homem nada pode fazer para ser salvo;
nem mesmo ter fé, pois nessa interpretação, a fé, à vontade, a
decisão, e tudo o que diz respeito à salvação, depende de Deus.

Pode ser resumida em cinco pontos:


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(1) Total depravação. “O homem natural não tem condição de
entender as coisas de Deus; Jamais poderá salvar-se, a menos que
Deus lhe infunda a fé. Sua depravação faz parte de sua natureza (Jr
13.23; Rm 3.10-12; 1 Co 2.14; Ef 1.3).”

Segundo essa doutrina, nem a fé para a salvação pode o homem


ter; é necessário que Deus lhe conceda.

(2) Eleição incondicional. Ensina que “Deus elegeu somente


alguns para serem salvos; Cristo morreu apenas pelos eleitos” (Jo
6.65; At 13-48; Rm 8.29; Ef 1.4,5; 1 Pe 2.8,9).

Esse é um ponto fundamental da doutrina esposada por Calvino.


Aceitá-la é concordar que Deus faz discriminação, ou acepção de
pessoas; mais crucial ainda é aceitar que Deus elege pessoas para
serem salvas, desde o ventre; enquanto predestina a maior parte,
irremediavelmente, para a condenação eterna; tais assertivas, não
obstante arrimarem-se em referências bíblicas, contrariam o sentido
geral da Palavra de Deus, bem como contradizem de forma
contundente o caráter de Deus revelado nas Escrituras.

(3) Expiação limitada (ou particular). “A salvação, ainda que para


todos só é alcançada pelos eleitos” (Jo 17.6,9, 10; At 20.28; Ef 5.25;
Tt 3-5).

Se a eleição condicional colide com a ideia de um Deus justo, que


não faz acepção de pessoas, a ideia da expiação limitada faz do
sacrifício de Cristo uma encenação terrível. Se alguns já nascem,
de antemão eleitos, certamente, a Bíblia deveria afirmar que Jesus
viera ao mundo para salvar apenas os eleitos.

(4) Graça irresistível. “Para os eleitos, a graça é irresistível.


Mesmo que pequem, serão salvos; para os não eleitos, a graça não
lhes alcança; mas agem livremente”.

Um pouco de leitura da Bíblia, confrontando passagens de seu


conteúdo nos mostram que a graça de Deus se manifestou a todos
os homens e não apenas a um seleto grupo de eleitos, ou
predestinados.

(5) Perseverança dos salvos. Segundo Calvino, “o Espírito Santo


faz com que os eleitos perseverem. Não são eles que têm a decisão
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de perseverar. Eles não podem perder a salvação. É impossível um
eleito se perder”.

Essas são as alegações usadas pelos calvinistas para fundamentar


a doutrina da predestinação absoluta.

Strong afirma que os decretos de Deus podem ser divididos em:


relativos à natureza, e aos seres morais. A estes chamamos
preordenação, ou predestinação; e destes decretos sobre os seres
morais há dois tipos: o decreto da eleição e o da reprovação

A visão de Strong é calvinista. Admite que Deus predestina uns


para serem salvos, queiram ou não; e outros, para a perdição
eterna, queiram ou não. Parece-nos que essa doutrina contraria
diversos atributos naturais de Deus, tais como o da justiça, do amor,
e da bondade divinos. A Bíblia diz: “Pois o Senhor, vosso Deus, é o
Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande,
poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita
recompensas” (Dt 10.17). “E, abrindo Pedro a boca, disse:
Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas”
(At 10.34). “Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas”
(Rm 2.11).

O Deus que não faz acepção de pessoas também reprova quem o


faz: “Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo,
Senhor da glória, em acepção de pessoas” (Tg 2.1). “Mas, se fazeis
acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redarguidos pela lei
como transgressores” (Tg 2.9). “E vós, senhores, fazei o mesmo
para com eles, deixando as ameaças, sabendo também que o
Senhor deles e vosso está no céu e que para com ele não há
acepção de pessoas” (Ef 6.9). Assim, se Deus não faz acepção de
pessoas, não podemos aceitar que alguns já nasçam predestinados
para a salvação, e outros, eleitos, já nasçam predestinados para a
perdição.

Strong, mesmo defendendo a predestinação, diz que Nenhum


decreto de Deus reza: “Pecarás”.

Porque:
1) Nenhum decreto é dirigido a você;
2) Nenhum decreto sobre você diz: “você fará
3) Deus não pode fazer pecar, ou decretar fazê-lo. Ele somente
decreta criar, e Ele mesmo age, de tal modo que você queira, de
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Escola de Capacitação Bíblica


sua livre escolha, cometer pecado. “Deus determina sobre os seus
atos prever qual será o resultado dos atos livres das suas criaturas
e, deste modo, determina os resultados”.

Ora, se Deus “não pode fazer pecar”, mas condena pessoas desde
o ventre à condenação, elas terão que pecar, para que se cumpra o
decreto condenatório. Do contrário, se não pecarem, como serão
condenadas?

Por outro lado, se as pessoas “de sua livre escolha”, podem


cometer ou não, o pecado, não vemos como harmonizar o livre-
arbítrio com a doutrina da predestinação. De fato, os que defendem
a predestinação absoluta negam que Deus tenha dado livre-arbítrio
ao homem. Simplesmente, os homens se comportariam como se
fossem marionetes do destino traçado por Deus.

Arminianismo - Predestinação Relativa


Doutrina pregada por Jacobus Arminius (1560-1609). Foi sucessor
de Calvino, e concluiu que o teólogo francês se equivocara. Sua
doutrina também pode ser resumida em cinco pontos:

(1) A predestinação de Deus é condicional (e não absoluta).


“Deus escolheu baseado em sua presciência. Qualquer pessoa que
crê pode ser salva” (Dt 30.19; Jo 5.40; Tg 1.14; 1 Pe 1.2; Ap 3.20).

Em todos os livros da Bíblia, percebe-se que o relacionamento de


Deus com o homem exige condições; se o homem as cumpre, é
abençoado; se não as cumpre, é penalizado. Se uns nascessem
predestinados para a vida eterna, não adiantaria pregar o
evangelho, conforme a Grande Comissão (Mc 16.15,16);

(2) A expiação é universal. “O sacrifício de Jesus foi a benefício


de todos os pecadores. Mas só os que creem nEle serão salvos”
(Jo 3-16; 12.32; 17.21; 1 Tm 2.3,4; 1 Jo 2.2);

Os textos bíblicos referenciados são de uma clareza cristalina,


quando se referem à expiação; esta é tão profunda que tem efeito
presente e até retroativo (Hb 9.15).

Diz Paulo sobre Jesus: “Ao qual Deus propôs para propiciação
pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão
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dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus” (Rm 3-
25).

(3) Livre-arbítrio. “O pecado passou a todos os homens, mas as


pessoas podem crer, arrepender-se e a aceitar a Cristo como
Salvador” (Is 55.7; Mt 25.41,46; Mc 9.47,48; Rm 14.10,12; 2 Co
5.10).

EM SUMA. O livre-arbítrio é condição indispensável para que seja


real o fato de o homem ter sido criado conforme a imagem e a
semelhança de Deus, pois um ser teleguiado, manipulado por
cordões espirituais, não passaria de uma marionete do Criador.

(4) O pecador pode eficazmente rejeitar a graça de Deus. “Deus


deseja salvar o pecador, e tudo provê para que ele alcance a
salvação. Mas, sendo ele livre, pode rejeitar os apelos da graça” (Lc
18.23; 19.41,42; Ef 4.30; 1 Ts 5.19).

Se não houver essa condição, não existe Livre-arbítrio,


característica fundamental do ser criado por Deus, conforme
comentário no item (3).

(5) Os crentes em Jesus podem cair da graça. Se o crente, uma


vez salvo, não vigiar e orar (Ml 26.41), e não buscar a santificação
(Hb 12.14; 1 Pe 1.15), poderá cair da graça e perder-se
eternamente, se não tiver oportunidade de reconciliar-se com Deus.
Por isso, Jesus disse que quem “perseverar até ao fim será salvo”
(Mt 10.22; ver também Lc 21.36; Gl 5.4; Hb 6.6; 10.26,27; 2 Pe
2.20-22).

A doutrina arminiana nos parece coerente com o plano de Deus


para os homens, como seres livres. Podem aceitar, ou podem
rejeitar a graça de Deus. Só sendo livres, é que se justifica a
semelhança moral do homem com seu Criador. É também, a única
interpretação que se coaduna com o Ser de Deus, e seu caráter,
revelado na Bíblia Sagrada. Deus dá liberdade ao homem, dentro
dos limites estabelecidos em seu plano divino para toda a
humanidade. A soberania de Deus impõe os limites.

O Livre-arbítrio concedido por Deus implica em responsabilidade do


homem perante o Criador. Do contrário, Deus seria um tirano. E o
homem seria seu títere.
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Escola de Capacitação Bíblica

Capítulo 12 - A ira de Deus

A palavra ira significa "um intenso sentimento de ódio ou rancor".


Ódio é definido como "aversão intensa"; rancor é "mágoa guardada
por uma ofensa ou um mal recebido". Assim é a ira. E a Bíblia nos
diz que a ira é um dos atributos divinos.

O hábito moderno na maioria das igrejas é falar pouco sobre esse


assunto. Quem ainda crê na ira de Deus (nem todos o fazem) fala
pouco sobre ela, e talvez pense pouco também sobre isso.

Em uma época que se tem vendido vergonhosamente aos deuses


da ganância, orgulho, sexo e egoísmo, a Igreja apenas emite
murmúrios sobre a bondade de Deus, e quase nada enuncia sobre
seu julgamento.

Quantas vezes você ouviu falar a respeito disso no último ano. Ou,
se você é ministro, pregou algum sermão sobre a ira de Deus?
Quanto tempo faz que um cristão mencionou diretamente esse
assunto no rádio ou na televisão, ou em pequenos sermões de meia
coluna que aparecem em alguns jornais e revistas? (E se alguém o
fizesse, quanto tempo passaria até que alguém lhe pedisse que
escrevesse novamente sobre o assunto?).

O fato é que o assunto da ira divina tornou-se praticamente um tabu


na sociedade moderna, e os cristãos em geral aceitaram essa
definição e se condicionaram a nunca levantar o assunto.

Poderíamos perfeitamente perguntar se essa atitude está correta, já


que a Bíblia se comporta de modo bem diferente. Não é possível
imaginar que o julgamento divino fosse um assunto muito popular;
entretanto, os escritores bíblicos se referem a ele constantemente.
Uma das coisas mais impressionantes sobre a Bíblia é o vigor com
que os dois Testamentos destacam a realidade e o terror da ira de
Deus: "Um estudo da concordância mostrará que nas Escrituras há
mais referências à cólera, fúria e ira de Deus do que ao seu amor e
bondade".
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A Bíblia afirma que Deus é tão bom para aqueles que confiam nele,
como é terrível para os que não confiam: O SENHOR é Deus
zeloso e vingador! O SENHOR é vingador! Seu furor é terrível! O
SENHOR executa vingança contra os seus adversários, e manifesta
indignação contra os seus inimigos. O SENHOR é muito paciente,
mas o seu poder é imenso, o SENHOR não deixará impune o
culpado. [...] Quem pode resistir à sua indignação? Quem pode
suportar o despertar de sua ira? O seu furor se derrama como fogo,
e as rochas se despedaçam diante dele. O SENHOR é bom, um
refúgio em tempos de angústia. Ele protege os que nele confiam [...]
expulsará os seus inimigos para a escuridão (Naum 1.2-8).

A expectativa de Paulo era de que o Senhor Jesus um dia


aparecerá "em meio a chamas flamejantes. Ele punirá os que não
conhecem a Deus e os que não obedecem ao evangelho de nosso
Senhor Jesus. Eles sofrerão a pena de destruição eterna, a
separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder.
Isso acontecerá no dia em que ele vier para ser glorificado em seus
santos" (2 Ts 1.7-10). Essa passagem é suficiente para lembrar que
a ênfase de Naum não é peculiar ao Antigo Testamento.

Na realidade, ao longo de todo o Novo Testamento "a ira de Deus",


"a ira", ou simplesmente "ira" são termos quase técnicos para a
ação divina retributiva, qualquer que seja o meio empregado, contra
quem o desafiou (Rm 1.18; 2.5; 5.9; 12.19; 13.4,5; 1 Ts 1.10; 2.16;
5.9; Ap 6.16,17; 16.19; Lc 21.22-24).

A Bíblia poderia ser chamada "o livro da ira de Deus", pois está
repleta de narrativas da retribuição divina, desde a maldição e
expulsão de Adão e Eva em Gênesis 3 até a derrota da Babilônia e
o grande tribunal de Apocalipse 17,18 e 20.

1. Com o que se parece à ira de Deus?

A raiz de nossa infelicidade parece ser a inquietante suspeita de


que ideias sobre a ira sejam de alguma forma indignas de Deus.

Para alguns, por exemplo, "ira" sugere perda do autocontrole, o ato


de "ver tudo vermelho", o que, em parte, se não no todo, é
puramente irracional. Para outros, sugere o furor da impotência
consciente, o orgulho ferido, ou simplesmente mau gênio.
Certamente, dizem, seria errado atribuir a Deus atitudes como
essas.
ECB 118

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A resposta é: de fato seria, mas a Bíblia não nos pede que façamos
isso. Parece haver aqui um mal-entendido quanto à linguagem
antropomórfica das Escrituras, isto é, a descrição das atitudes e
emoções de Deus em termos comumente usados para se referir
aos seres humanos.

A base dessa prática é o fato de que Deus fez o ser humano a sua
imagem, assim nossa personalidade e nosso caráter são mais
semelhantes à natureza de Deus que qualquer outra coisa
conhecida. Entretanto, quando as Escrituras falam de Deus
antropomorficamente, não implica que as limitações e imperfeições
características das pessoas, criaturas pecadoras, pertençam
também às qualidades correspondentes de nosso santo Criador; ao
contrário, tem-se por certo que isso não acontece.

Assim, o amor divino, como a Bíblia o vê, nunca leva Deus a agir
insensata, impulsiva e imoralmente, como seu correlato humano
muito frequentemente nos leva.

Do mesmo modo, a ira de Deus na Bíblia jamais é caprichosa,


autoindulgente, irritável e moralmente ignóbil, como em geral é a ira
humana. Ao contrário, a ira de Deus é a reação justa e necessária à
perversidade moral.

Mesmo entre os seres humanos, há o que chamamos indignação


justa, embora talvez seja raramente encontrada. Entretanto toda
indignação de Deus é justa. Um Deus que tivesse tanto prazer no
mal quanto no bem seria um Deus bom? Um Deus que não
reagisse contra o mal em seu mundo seria moralmente perfeito? É
claro que não. Pois é exatamente esta reação contra o mal, parte
necessária da perfeição moral, que a Bíblia tem em vista quando
fala da ira de Deus.

Em primeiro lugar, a ira de Deus na Bíblia é sempre judicial,


isto é, a ira do juiz aplicando a justiça.

O "dia da ira", diz Paulo, é também o dia quando se revelará o seu


justo julgamento. Deus 'retribuirá a cada um conforme o seu
procedimento (Rm 2.5, 6). O próprio Jesus, que na realidade tinha
mais para dizer sobre este assunto do que qualquer outra figura do
Novo Testamento salientou que a recompensa seria proporcional ao
merecimento individual.
ECB 119

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Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara
o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas
aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo
receberá poucos açoites. A quem muito foi dado, muito será
exigido; e a quem muito foi confiado muito mais será pedido. Lucas
12.47,48

Em segundo lugar, a ira de Deus na Bíblia é algo que as


pessoas escolhem por si mesmas.

Antes de o inferno ser uma experiência imposta por Deus, é a


condição pelo qual a pessoa optou, afastando-se da luz que Deus
faz brilhar em seu coração para dirigi-lo por si.

João escreveu: "quem não crê [em Jesus] já está condenado, por
não crer no nome do Filho Unigênito de Deus". E continuou
explicando: "Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os
homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram
más" (Jo 3.18,19).

É exatamente isso o que João quer dizer: o ato decisivo da


condenação sobre os perdidos reside no juízo auto imposto pela
rejeição da luz que os alcança em Jesus Cristo e por meio dele.

Em última análise, tudo o que Deus faz subsequentemente,


aplicando a ação judicial ao descrente, é com a finalidade de
mostrar-lhe a consequência total da escolha que fez e levá-lo a
senti-la.

A escolha básica sempre foi e continua sendo simples: responder à


intimação "Venham a mim [...] Tomem sobre vocês o meu jugo e
aprendam de mim" (Mt 4.11.28,29), ou não atendê-la; "salvar" sua
vida evitando a censura de Jesus e resistindo a sua ordem para
assumir o controle da mesma ou "perdê-la" negando a si mesmo,
carregando sua cruz, tornando-se discípulo, deixando que Jesus
atue em sua vida como lhe aprouver. No primeiro caso, Jesus nos
diz, podemos ganhar o mundo, mas não tiraremos nenhum proveito
disso, pois perderemos a alma, enquanto, no segundo caso,
perdendo a vida por amor a ele, a encontraremos (Mt 16.24-26).

O que significa, então, perder a alma? Para responder a essa


pergunta Jesus usa suas figuras solenes: Geena ("inferno", em Mc
9.47 e em outros dez textos do Evangelho), o vale fora de
ECB 120

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Jerusalém onde o lixo era queimado; o verme que não morre,
imagem, ao que nos parece, da dissolução contínua da
personalidade mediante a consciência acusadora; fogo, pela
agonizante consciência do desprazer de Deus; trevas exteriores,
pelo conhecimento da perda, não apenas de Deus, mas de tudo o
que é bom e tudo o que torna a vida digna de ser vivida; ranger de
dentes pela autocondenação e repulsa íntima.

Estas coisas são, sem dúvida, terrivelmente sombrias, embora os


que estão convencidos do pecado conheçam um pouco de sua
natureza. Tais punições, contudo, não são arbitrárias, ao contrário,
representam o desenvolvimento consciente rumo à situação que a
pessoa escolheu para si.

O descrente preferiu ser independente, sem Deus, desafiando-o,


tendo-o contra si, e terá, então, o que prefere.

Ninguém permanecerá sob a ira de Deus a menos que o queira. A


essência da ação divina na ira é dar às pessoas o que escolheram,
com todas suas implicações; nada mais e nada menos. A presteza
de Deus em respeitar a escolha humana em toda a extensão pode
parecer desconcertante e mesmo aterradora, mas é claro que sua
atitude aqui é essencialmente justa, e muito diferente do sofrimento
infligido arbitrária e irresponsavelmente — o que consideramos
crueldade.

Precisamos, portanto, lembrar que a chave da interpretação para


muitas passagens bíblicas, no geral majoritariamente figuradas, que
mostram o Rei e Juiz divino agindo contra o ser humano com ira e
vingança, está em compreender que o que Deus faz nada mais é
que confirmar o veredicto já proclamado sobre si mesmo por
aqueles aos quais "visitou", tendo em vista o caminho que
resolveram seguir. Isto aparece na narrativa do primeiro ato da ira
de Deus para com ser humano, em Gênesis 3, onde vemos que
Adão resolveu por si mesmo se esconder de Deus e sair de sua
presença antes mesmo que Deus o expulsasse do jardim; e esse
mesmo princípio é usado em toda a Bíblia.

2. A ira em Romanos

O tratamento clássico dado no Novo Testamento à ira divina é


encontrado na carta aos romanos, que Lutero e Calvino
consideravam a porta de entrada da Bíblia e que na verdade
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contém referências mais explícitas sobre a ira de Deus que as
encontradas nas demais cartas de Paulo.

a) O significado da ira de Deus.

Em Romanos a ira de Deus denota sua ação resoluta na punição do


pecado. É tanto a expressão de uma atitude pessoal e emocional
do Jeová triúno quanto é de seu amor pelos pecadores: é a
manifestação ativa de seu ódio à descrença e à perversidade moral.

A expressão ira pode referir-se especificamente à futura


manifestação do auge desta aversão no "dia da ira" (Rm 2.5; 5.9),
mas pode também se referir aos acontecimentos e processos atuais
da providência nos quais se pode discernir a retribuição ao pecado.
Assim, a autoridade que condena os criminosos é "serva de Deus,
agente da justiça para punir quem pratica o mal" (13.4).

A ira de Deus é sua reação ao nosso pecado e "a Lei produz a ira"
(Rm 4.15) porque ela incita o pecado latente em nós e multiplica a
transgressão, comportamento que evoca a ira (Rm 5.2; 7.7-13).
Como reação ao pecado, a ira de Deus é expressão de sua justiça.
Paulo rejeita, indignado, a sugestão de que "Deus é injusto por
aplicar a sua ira" (Rm 3.5). O apóstolo descreve as pessoas
"preparadas para a perdição" como "vasos da ira", isto é, objetos da
ira, no mesmo sentido que ele em outra parte as chama de servos
do mundo, da carne e do demônio, "merecedores da ira" (Ef 2.3).

b) A revelação da ira de Deus.

"Porquanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra toda


impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela
injustiça" (Rm 1.18). O tempo do verbo no presente — "é revelada"
— implica manifestação constante, agindo durante todo o tempo;
"dos céus", que atua como contraste ao "Evangelho" nos versículos
anteriores, implica a manifestação universal atingindo quem não foi
ainda alcançado pelo Evangelho.

Como se processa a revelação? Ela é impressa diretamente na


consciência de cada pessoa: os que Deus "entregou a uma
disposição mental reprovável" (Rm 1.28) para se entregar ao mal,
entretanto conhecem "o justo decreto, de que as pessoas que
praticam tais coisas merecem a morte" (Rm 1.32).
ECB 122

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Nenhuma pessoa é inteiramente ignorante sobre o julgamento
futuro. Essa revelação imediata é confirmada pela palavra revelada
no Evangelho, que nos prepara para as boas novas falando-nos a
respeito das más notícias do "dia da ira de Deus, quando se
revelará o seu justo julgamento" (Rm 2.5).

Paulo descreve o processo, como ele conhecia a partir da Bíblia e


do mundo de seus dias, em Romanos 1.19-31. As frases principais
são: "Deus os entregou à impureza sexual, segundo os desejos
pecaminosos do seu coração", "Deus os entregou a paixões
vergonhosas", "ele os entregou a uma disposição mental
reprovável" (Rm 1.24,26, 28).

3. O livramento da ira de Deus.

Nos três primeiros capítulos de Romanos, Paulo está preocupado


em lançar-nos a pergunta: se "a ira de Deus é revelada dos céus
contra toda impiedade e injustiça dos homens", e "o dia da ira virá",
quando Deus "recompensará cada um conforme as suas obras",
como podemos escapar de tal desastre? A questão nos oprime
porque estamos todos "debaixo do pecado"; "Não há nenhum justo,
nem um sequer"; "Todo o mundo" está "sob o juízo de Deus" (Rm
3.9,10, 19).

Haverá então algum livramento da ira futura? Existe, e Paulo sabe


disso.

"Como agora fomos justificados por seu sangue", Paulo proclama,


"muito mais ainda, por meio dele, seremos salvos da ira de Deus!"
(5.9). Sangue de quem? O sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus
encarnado. E o que quer dizer "justificado"? Significa ser perdoado
e aceito como justo.

 Como somos justificados?

Pela fé, isto é, pela confiança total na pessoa e obra de Jesus. E


como o sangue de Jesus, sua morte sacrificial, constitui a base da
justificação? Paulo explica isso em Romanos 3.24,25, onde ele fala
da "redenção que há em Cristo Jesus. Deus o ofereceu como
sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue". Que é
propiciação? É o sacrifício que afasta a ira pela expiação do pecado
e pelo cancelamento da culpa.
ECB 123

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Entre nós, os pecadores, e as nuvens carregadas da ira divina,
levanta-se a cruz do Senhor Jesus. Se somos de Cristo, pela fé,
então estamos justificados pela sua cruz, e a ira não nos atingirá
quer aqui quer no futuro. Jesus “nos livra da ira vindoura (1 Ts
1.10)”.

 A realidade solene!

A verdade, sem dúvida alguma, é que o assunto da ira divina no


passado foi usada especulativa, irreverente e mesmo
maldosamente.

Não há dúvida de que houve quem pregasse sobre a ira e a


maldição com os olhos secos e sem nenhum sentimento no
coração. O fato de pequenas seitas enviarem com alegria o mundo
todo para o inferno, com exceção de si mesmas, com razão
desagradou a muitos. Entretanto, se queremos conhecer a Deus, é
vital que enfrentemos a verdade a respeito de sua ira, não importa
quão fora de moda possa estar ou quão forte tenha sido nosso
preconceito contra ela. De outro modo, não entenderemos o
Evangelho que salva da ira, nem a realização propiciatória da cruz,
nem a maravilha do amor redentor de Deus. Nem ainda
entenderemos a mão divina na história e sua ação entre nosso
povo. Não saberemos o que pensar sobre o Apocalipse, nem nosso
evangelismo terá a urgência imposta por Judas: "a outros, salvem,
arrebatando-os do fogo" (v. 23). Nem ainda nosso conhecimento de
Deus ou o culto a ele estará de acordo com sua Palavra.

Escreveu Arthur W. Pink: A ira de Deus é a perfeição do caráter


divino sobre o qual precisamos meditar frequentemente.

Primeiro, para que nosso coração possa ficar devidamente


impressionado com o ódio divino contra o pecado. Temos a
tendência de dar pouca atenção ao pecado, encobrir sua
hediondez, desculpá-lo; mas, quanto mais estudamos e pensamos
no horror que Deus tem pelo pecado e em sua terrível vingança
contra ele, estaremos mais aptos a compreender sua infâmia.

Segundo, criar o verdadeiro temor a Deus. Em nossa alma para


que “sejamos agradecidos e, assim, adoremos a Deus de modo
aceitável, com reverência e temor, pois o nosso ‘Deus é fogo
consumidor (Hb 12.28,29)”. Não podemos servi-lo "aceitavelmente"
a menos que haja "reverência" por sua impressionante majestade e
ECB 124

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"temor" por sua justa ira, e tudo fica mais fácil quando nos
lembramos de frequentemente de que "nosso 'Deus é fogo
consumidor'".

Terceiro, levar nossa alma ao fervoroso louvor (a Jesus Cristo) por


ter nos livrado da "ira vindoura" (1 Ts 1.10). Nossa presteza ou
relutância em meditar sobre a ira de Deus torna-se um teste seguro
para saber se nosso coração está realmente dedicado a ele.

Pink está certo. Se quisermos conhecer verdadeiramente a Deus e


ser conhecidos por ele devemos pedir-lhe que nos ensine a
considerar a solene realidade de sua ira.
ECB 125

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Capítulo 13 – A Dignidade de
Deus

Deus é digno de que os seres humanos se submetam integralmente


a Ele prestando-lhe adoração; confiando nele e obedecendo-lhe.
Deus não precisa do preenchimento de nenhum desses itens para
auto afirmar-se como Deus, porque Ele já é Deus; mas, ao homem,
faltar com esses itens perante o Criador seria uma inominável
insolência, e é assim, lamentavelmente, como se comporta perante
Ele grande parte da humanidade.

Não é preciso que o homem passe pela revelação especial de


Deus, que se dá pelas Escrituras. Basta o conhecimento natural
para que o ser humano o reconheça e o reverencie, e esse
conhecimento natural é de todos. Partindo desse pressuposto, o
apóstolo Paulo conclui: “Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o
glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes em seus
discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se
obscureceu. Pelo que também Deus os entregou às
concupiscências do seu coração, à imundícia para desonrarem o
seu corpo entre si” (Rm 1.21,24).

1. Deus é digno de adoração.

Deus é adorado nos céus pelos 24 anciãos, pelos anjos e pelos


seres viventes (Ap 5.9-14). Na terra, a adoração a Deus foi
requerida do Seu povo: “O Senhor, teu Deus, temerás, e a ele
servirás (...)” (Dt 6.13). Jesus evocou esse texto no embate que
teve contra o diabo na tentação (Mt 4.10). Davi conclama o povo a
adorar a Deus: “Dai ao Senhor a glória de seu nome: trazei
presentes e vinde perante ele; adorai ao Senhor na beleza da sua
santidade” (1 Cr 16.29). O livro dos Salmos faz constantes apelos
para a adoração e o louvor: “Exaltai ao Senhor, nosso Deus, e
prostrai-vos diante do escabelo de seus pés, porque ele é santo” (SI
99.5); “Bendizei ao Senhor, todos os seus exércitos, vós, ministros
seus, que executais o seu beneplácito” (SI 103.21).
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Adoração vem do hebraico “segad”, “prostrar-se”; do grego
latreuein, “serviço”, “culto”; proskrineo, “reverência”. A ideia
prevalecente é de “serviço”. Mas que tipo de serviço as criaturas
podem prestar ao Criador? Não há nada que o menor possa fazer
pelo maior. Deus não precisa de nada, porém, Ele se apraz na
adoração. O serviço, nesse sentido, traduz-se como culto, que é um
ato de respeito e honra usado para expressar, de forma exterior, os
sentimentos do interior do ser. Por meio da adoração, o ser humano
expressa reconhecimento a Deus por quem Ele é, enquanto, pelo
louvor, ele expressa a Deus o reconhecimento pelo que Ele faz. A
adoração que faz o clima do céu deve fazer o clima na terra.

2. Deus é digno de confiança.

A confiança é a expressão prática da fé. “Sem fé é impossível


agradar-lhe (...)” (Hb 11.6). Um Deus criador e sustentador de todas
as coisas é merecedor de que os homens tenham absoluta
confiança nele. Não basta a Deus ser reconhecido pelos homens
como um ser Todo-poderoso, que vive nas alturas, se os homens
não são capazes de incluí-lo em sua vida. Ele está apto para
contribuir com eles, guiando-os e suprindo-lhes as necessidades.
Se tomarmos por verdadeiro tudo quanto temos aprendido sobre
Deus, temos de tomar também por verdadeiro que Ele é capaz de
todas as coisas, desse modo, devemos também levar em conta o
fato de que estamos inclusos em tudo sobre o que Ele exerce
controle. Assim se expressa Hodge sobre a confiança: “Considerar
algo verdadeiro é considerá-lo digno de confiança, como o que se
propõe. Portanto, fé, no sentido amplo e legítimo do termo, é
confiança”55.

Somos forçados a crer que Deus deseja relacionar-se com as Suas


criaturas e espera ter com elas um relacionamento íntimo e
peculiar; para tanto, Ele cria condições pela intermediação de Seu
Filho como Salvador. Uma vez salvo, o homem deve cultivar vida
plena com Deus, depositando nele toda a sua confiança para viver
uma vida nos termos de Deus. Jesus passou muitas lições de fé
para os Seus discípulos e também se queixou quando não foram
capazes de demonstrá-la por meio de atos de confiança. E Jesus,
percebendo isso, disse: “Por que arrazoais entre vós, homens de
pequena fé, sobre o não vos terdes fornecido de pão”? (Mt 16.8);
“Pois se assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é
lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de
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pequena fé?” (Mt 6.30); “E ele disse-lhes: Por que temeis, homens
de pequena fé? Então, levantando-se, repreendeu os ventos e o
mar, e seguiu-se uma grande bonança” (Mt 8.26).

3. Deus é digno de obediência.

Obediência é sujeição. Quem obedece acata. Quem obedece age


segundo a vontade daquele que lhe dá as ordens. Essa é a relação
usualmente esperada na relação entre pais e filhos. A obediência
atende a uma cadeia hierárquica, levando inevitavelmente em conta
o princípio da autoridade.

A Bíblia ensina-nos a obedecer aos pais (Cl 3.20); aos pastores (Hb
13.17); aos patrões (Ef 6.5); às autoridades (Rm 13.1,5). Na antiga
aliança, o povo de Deus vivia sob a Lei mosaica. A Lei precisava
ser obedecida integralmente. Quem tropeçasse em apenas um
mandamento tornava-se culpado de todos (Tg 2.10). A obediência à
Lei era a forma de o homem obedecer a Deus.

Deus estava mais interessado em que os homens lhe obedecessem


do que em que lhe prestassem culto: “Porém Samuel disse: Tem,
porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios
como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer
é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura
de carneiros” (1 Sm 15.22).

A desobediência do primeiro homem condenou toda a raça humana


à condição de pecadora: “Porque, como, pela desobediência de um
só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência
de um, muitos serão feitos justos” (Rm 5.19). Para retribuir a
obediência, Deus estabeleceu duas categorias de leis: as leis de
bênçãos para os obedientes e as leis de maldições para os
desobedientes. Para tornar didáticas as duas categorias, Deus
escolheu dois montes onde elas deveriam ser lidas: no monte Ebal,
as maldições, e, ao seu lado, no monte Gerizim, as bênçãos (Dt 27
e 28). Nos dias de Josué, assim que entraram na terra, ambas as
leituras foram feitas (Js 8.33).

No Novo Testamento, permanece o mesmo princípio de obediência


estabelecido para o povo de Deus. A obediência a Deus era
orientada pela Lei mosaica; hoje, pela doutrina dos apóstolos. Os
apóstolos instruíram a Igreja quanto à importância e a necessidade
de obedecer a Deus, sob o risco de arcar com graves
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consequências pelo não acatamento desse princípio: “Mas, se
alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e
não vos mistureis com ele, para que se envergonhe” (2 Ts 3.14).

O apóstolo Paulo se queixa dos crentes da Galácia por causa dos


seus atos de desobediência: “Corríeis bem; quem vos impediu, para
que não obedeçais à verdade?” (Gl 5.7). Os próprios apóstolos
estavam tão conscientes da necessidade de obedecer a Deus que,
mesmo estando sob ameaça de morte, não abriam mão desse
compromisso: “Porém, respondendo Pedro e os apóstolos,
disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (At
5.29).
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Capítulo 14 - A Graça de Deus

I. COMPRENDENDOA GRAÇA DE DEUS

1. Definições de graça.

A palavra grega "charis" aparece na Bíblia (Novo Testamento) mais


de cento e cinquenta vezes e é geralmente traduzida como "graça"
em nossa Bíblia.

Não é fácil pegar uma palavra que aparece tantas vezes e com
tanta diversidade de aplicações e desenvolver uma doutrina
uniforme e constante. Além disso, toda a verdade sobre o assunto
nunca poderá ser condensada em uma só frase. Graça é um dos
atributos divinos ou perfeições de Deus em Sua natureza, que é
exercida na salvação de pecadores.

Grandes e bons homens já batalharam com a verdade da "graça",


tentando defini-la e descrevê-la. Que possamos agora meditar no
que alguns disseram:

Dr. Dal: "Graça é amor que ultrapassa todos os limites de amor".


Graça não é algo que se deve ao pecador, mas é algo que ele
recebe; não é algo que ele pode reivindicar.

Alexandre Whyte: “Graça e amor são essencialmente o mesmo,


sendo que graça é o amor se manifestando e operando em certas
condições, e adaptando-se a certas circunstâncias”. O amor não
tem limite nem lei como tem a graça.

O amor pode existir entre iguais, ou pode ir até aos que estão acima
de nós, ou descer aos que estão abaixo de nós. Mas a graça, por
sua natureza, só conhece uma direção. Ela desce aos que estão
abaixo; é amor de verdade, mas amor às criaturas, portanto
humilhando-se. O amor de um rei por seus iguais ou pelos outros
do palácio real é amor. Mas seu amor aos súditos é graça. “É por
este motivo que o amor de Deus é chamado de graça”. Esta citação
merece ser relida várias vezes.

2. Como melhor compreender a graça.


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Talvez o melhor sistema de compreensão do que é graça, é ver
como ela se contrasta com outras coisas na Bíblia:

3. Ela se diferencia da lei em sua origem e natureza.

"Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por
Jesus Cristo". João 1.17. Moisés era a voz da lei; Cristo era o porta-
voz da graça. É a natureza da lei fazer demandas; é a natureza da
graça outorgar bênçãos. A lei é um ministério de condenação; a
graça é um ministério de perdão. A lei coloca o homem a uma
distância de culpa do Senhor; a graça traz o homem para perto de
Deus. A lei condena o melhor dos homens; a graça salva o pior dos
homens. A lei diz: "Faça e viverás"; a graça diz: "Crê e viverás". A
lei exige perfeição; a graça providencia a perfeição. A lei condena; a
graça liberta da condenação. Enquanto o homem estiver debaixo da
lei, ele está perdido. O único modo para o homem escapar do jugo
da lei é pela fé em Jesus Cristo, "Porque o fim da lei é Cristo para
justiça de todo aquele que nele crê". Romanos 10.4. "Porque o
pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei,
mas debaixo da graça". Romanos 6.14.

4. A graça se contrasta com o pecado em seu domínio.

O pecado reina para a morte; mas a graça para a vida eterna


(Romanos 5.21). O pecado recebe seu poder de condenação
através da lei 1 Coríntios 15.36; mas a graça rouba do pecado este
seu poder ao entregar Cristo para a satisfação da lei (1 Coríntios
15.57). A única e verdadeira fonte de perigo é a lei violada; o único
meio de verdadeiro escape é a lei satisfeita. Cristo satisfez a lei por
Seu povo, para que a lei pudesse ser satisfeita com eles.

5. A graça se contrasta com as obras na salvação dos


pecadores.

"Pois pela graça sois salvos por meio da fé; e isto não vem de vós,
é dom de Deus. Não vem das obras para que ninguém se glorie"
(Efésios 2.8-9). A salvação é pela graça do Criador em lugar das
obras da criatura. A salvação pela graça exclui a possibilidade de
obras, sejam elas grandes ou pequenas, morais ou cerimoniais. A
salvação pela graça não dá ocasião para o homem se gloriar. Toda
gloria é dada a Deus.
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"A graça planejou salvar o ser humano. A graça efetuou cada passo
do plano".

6. A graça se contrasta com dívida quanto à causa da salvação.

"Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão
segundo a graça, mas segundo a dívida. Mas, àquele que não
pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é
imputada como justiça" (Romanos 4.4-5). O pensamento aqui é que
o homem que recebe o salário pelas suas obras, não recebe da
dádiva da graça, mas recebe do que lhe é devido. Não existe graça
onde o homem recebe por causa do que merece ou ganha. Graça
exclui a noção de débito ou obrigação.

A salvação pela graça implica que Deus não é obrigado a salvar. Se


existe uma obrigação da parte de Deus para com o homem, não
seria a graça a causa da salvação. Foi pela graça de Deus não por
obrigação alguma que Ele salvou o pecador.

Toplady disse bem: "O caminho ao céu não é uma estrada de


pedágio, mas uma estrada livre, pela graça imerecida de Deus em
Cristo Jesus. A graça nos encontra como pobres mendigos e nos
deixa como devedores".

"A graça planejou salvar o ser humano. A graça efetuou cada passo
do plano".

"Como as montanhas elevam-se sobre os vales, assim a graça


excede aos nossos mais altos pensamentos".

II. O REINO DA GRAÇA

"Para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça


reinasse pela justiça para a vida eterna, por Cristo Jesus nosso
Senhor" (Romanos 5.21). Paulo personifica Pecado e Graça, e fala
deles como duas figuras reais... dois reis sobre seus tronos. Depois
mostra o que cada Palavra dá aos seus súditos. O pecado tem a
morte em sua mão manchada, ao passo que a graça tem a vida nas
mãos.

1. A graça é mais poderosa que o pecado.


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Aqui jaz a única consolação do pecador, ainda que ele não
reconheça tal fato, até ser despertado pelo Espírito. Não há quem
se livre da tirania do pecado. O pecado é demais para as forças
humanas. Os homens são levados cativos por Satanás (2 Timóteo
2.26). Os homens podem se reformar, mas não se regenerem a si
mesmos. Eles podem deixar seus crimes e vícios, mas nunca seu
pecado. "Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo
as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo
ensinados a fazer o mal" (Jeremias 13.23).

2. A graça reina em retidão. Seu reino é de perfeição.

A graça não é contra a lei. A graça não procura destruir a justiça;


isto seria dividir Deus contra Si mesmo. A graça respeita a lei
quando dá Cristo nosso Senhor que satisfaz a lei tornando-Se
nosso penhor, tomando sobre Si a culpa de nossos pecados e
levando-as ao madeiro. Deus tratou com Seu Filho em justiça, para
que pudesse tratar com o pecador em misericórdia e graça.

3. A graça reina por Jesus Cristo, nosso Senhor.

Cristo não é a fonte, mas o meio da graça. A graça tem sua fonte no
coração de Deus, e opera de acordo com a soberana vontade de
Deus. A palavra reinar sugere a ideia de um rei ou de uma rainha
sobre um trono. E um trono fala de poder e recursos. O poder da
graça é o poder de Deus. Assim é próprio falarmos da graça
irresistível. E certamente podemos falar de um Deus irresistível. Os
recursos da graça são encontrados em Deus. O sangue de Cristo é
o fundamento da graça. Quando Seu sangue perder o valor, a graça
vai à falência e o crente estará perdido. Mas isto jamais acontecerá!

"Há poder, sim, força sem igual, Só no sangue de Jesus!"

4. A graça reina em cada fase e a cada passo da salvação.

A graça de Deus salva e protege até o final. A salvação é um termo


compreensível que abrange todos os aspectos e períodos da
libertação do homem de seus pecados. Cada aspecto e cada
instante da salvação é pela graça, e isto exclui os méritos humanos
em cada aspecto e passo. A salvação é do início ao fim, uma obra
da graça.

a) A graça reina na presciência.


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A primeira obra de Deus para com Seu povo foi a de conhecê-los
de antemão. Em Sua presciência Ele colocou sobre eles o seu
amor. Ele os conheceu de antemão com o intento de abençoá-los.
Ele os amou com amor eterno, e este amor foi um amor gracioso e,
de maneira alguma merecido.

b) A graça reina na eleição.

A eleição é pela graça (Romanos 11.5). A eleição não foi feita tendo
como base o mérito previsto em nós pecadores, pelo contrário, ela
é baseada no amor gracioso de Deus!

Em 2 Tessalonicenses 2.13, Paulo fala sobre os que perecem por


não haverem recebido o amor da verdade, para que fossem salvos;
e em seguida fala sobre os santos: "Mas devemos sempre dar
graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus
elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do
Espírito, e fé da verdade". Neste texto encontramos duas coisas:
primeiro, por que os homens são salvos; segundo, como os homens
são salvos.

A Bíblia diz que são salvos, porque Deus os escolheu para a


salvação. E são salvos pela santificação do Espírito Santo e por
crerem na verdade, a verdade do Evangelho. É isto que os
diferencia dos que perecem: "pois não receberam o amor da
verdade". Se não fosse a escolha de Deus e a santificação do
Espírito, os tessalonicenses, teriam também rejeitado a verdade.
Portanto, devemos dar graças pela Sua salvação.

Agora, por que Deus os escolheu? Será que a base de Deus para
esta escolha foi à fé prevista destes, ou algum bem neles? Ou será
que foi graça da Sua parte? Romanos 11.5-6 nos dá a resposta:
"Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente,
segundo a eleição da graça. Mas se é por graça, já não é pelas
obras".

c) A graça reina na predestinação.

Predestinar é determinar o destino de antemão. Nunca se fala sobre


predestinação á condenação, mas sempre se refere à salvação.
Deus não é a causa de ser algum sofrer a condenação; o pecado é
que condena o homem. Mas Deus é a causa de Salvação.
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A Bíblia diz que aos que antes conheceu, Deus os predestinou para
serem conforme a imagem de Filho de Deus. Romanos 8.29. Qual
seria a causa da predestinação a tal glória? Seria ela a fé ou
bondade prevista nos homens? Em Efésios 1.5-6, temos a resposta:
"E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si
mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade. Para louvor e glória
da sua graça, pelo qual nos fez agradáveis no amado".

d) A graça reina em nosso chamado.

"E aos que predestinou a estes também chamou". Romanos 8.30. A


palavra "chamado" no Novo Testamento nunca se aplica aos
recipientes dum simples convite externo ao Evangelho. Ela sempre
indica um chamado interno e eficaz... um chamado que nos leva a
Cristo e a salvação. E este chamado é pela graça de acordo com 2
Timóteo 1.9: "Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação,
não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio
propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos
tempos dos séculos". E em Gálatas 1.15, Paulo diz que Deus o
chamou pela Sua graça.

e) A graça reina na justificação.

Pode-se definir justificação como o ato judicial de Deus no qual Ele


declara o crente a não estar mais debaixo da condenação, mas
como reto diante dEle. A justificação e condenação são anônimas.
O justo é liberto da culpa do pecado. Esta bênção é fruto de mérito
ou de graça? Romanos 3.24, diz: "Sendo justificados gratuitamente
(sem méritos próprios, C. D. Cole) pela sua graça, pela redenção
que há em Cristo Jesus".

f) A graça reina na conversão.

Na conversão, efetua-se uma transformação no pecador. Há uma


mudança de trevas para luz, de morte para vida e do poder satânico
para poder divino. Há uma mudança de opinião e ele crê no que
antes rejeitava; mudança nas afeições, e agora ama ao que antes
odiava. Qual é a explicação para tal fato? Pode o pecador
transforma-se a si mesmo? Podem as trevas gerar luz? Ou a morte
criar vida? Pode o sujo transformar-se em pureza? Então, e só
então, poderá o pecador converter-se a si mesmo. Se Deus é quem
converte o pecador, será isto por obrigação ou pela graça? Paulo
dá o crédito de sua salvação à graça. Depois de mencionar como
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era perseguidor da igreja, ele diz: "Pela graça de Deus, eu sou o
que sou".

g) A graça reina na glorificação.

"e aos que justificou a estes também glorificou". A glorificação é o


livramento completo de todo aspecto do pecado e de qualquer
vestígio dele. É a obra coroadora da redenção pela qual somos
pessoalmente glorificados e postos num ambiente de glória. Ela
inclui tanto a alma quanto o corpo.

Nossa salvação não é completa enquanto estes corpos estiverem


na sepultura, ou se vivos, continuarem mortais. Ainda que o tempo
enrugue e as tristezas envelheçam as faces com lágrimas, e
doenças e dores mutilem o corpo; e ainda que morte transforme em
pó; a graça ganhará para nós um novo corpo o qual será modelado
à semelhança da perfeição de Deus.

"Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede


sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na
revelação de Jesus Cristo". 1 Pedro 1.13. "Amados, agora somos
filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser.
Mas sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos
semelhantes a Ele; porque assim como é o veremos". 1 João 3.2.

III. COMO A GRAÇA SALVA?

Vamos fazê-lo de modo negativo.

1. A graça não salva ao capacitar o pecador para cumprir


perfeitamente a lei de Deus.

É nosso julgamento que muitos veem a graça de tal maneira. Eles


dizem que o homem por si mesmo não é capaz de cumprir a lei,
mas que a graça o capacita a cumpri-la, desta maneira salvando o
homem. Para serem lógicos e coerentes, e darem lugar à graça,
esta deve ser a posição de todos os que pregam a salvação ao
cumprir a lei. Admitimos que se Deus apagasse todo vestígio de
nossa natureza pecaminosa, e se Ele nos fizesse capazes de
cumprirmos a lei, isto seria graça sem dúvida... seria um favor de
Deus, não merecido. Seria graça, pois estaria fazendo por nós o
que não merecemos. Mas este não é o modo como a graça opera,
e, portanto expressamos as nossas objeções:
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a) Isto não satisfaria a justiça pelos pecados já antes
cometidos. Deus é justo, além de gracioso e a graça nunca vai
contra a justiça. Mesmo se o pecador deixasse completamente de
pecar, a justiça o condenaria pelos pecados já antes cometidos.

b) Isto roubaria de Cristo qualquer parte na salvação. Se a


graça nos salvasse ao fazer de nós seres perfeitos, isto seria só
pela graça, mas à parte de Jesus Cristo, pois "... se a justiça
provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde" (Gálatas 2.21).

c) Se a graça nos salva ao nos capacitar para cumprir a lei,


então o Espírito Santo seria o Salvador e não Cristo. O Espírito
Santo é o administrador da graça interior; é pelo Seu poder que
louvamos e servimos a Deus. O Espírito Santo pela Palavra nos
mostra o Salvador, e torna-o precioso a nós, mas a Espírito Santo
não é o Salvador. Ao anunciar o nascimento do Salvador, o anjo
disse: "Chamarás o seu nome JESUS, porque ele salvará o seu
povo dos seus pecados". Mateus 1.21.

d) No novo nascimento a natureza pecaminosa não é


aniquilada, mas uma natureza sem pecado é implantada.

No homem salvo, há um conflito entre as duas naturezas: "Porque a


carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes
opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis". Gálatas
5.17. E Paulo disse: "Acho então esta lei em mim; que, quando
quero fazer o bem, o mal está comigo". Romanos 7.21. E este é o
testemunho de todo filho verdadeiramente nascido de Deus, pois
"Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós
mesmo, e a verdade não está em nós” (1 João 1.8).

2. A graça não salva ao fechar os olhos ao pecado.

Se Deus não levasse em conta nossos pecados, isto certamente


seria graça, mas ao fazer isso, Ele estaria abdicando Seu trono em
favor de Seus inimigos. Nosso pecado merece punição, mas se
Deus virasse as costas e não olhasse para nosso pecado, isto
seria, em efeito, graça... um favor de Deus jamais merecido. Mas a
graça não salva deste modo por várias razões:

a) Porque ela o faria às custas da justiça. Não pode haver


sacrifício da justiça no ato da salvação. O pecado tem que ser, e
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será punido. Se Deus virasse as costas ao pecado isto seria graça,
mas ao mesmo tempo seria injustiça.

b) Não haveria necessidade para a vinda de Cristo, nem de Sua


morte no Calvário. Há perdão com Deus, mas está baseado na
justiça satisfeita. A graça salva ao satisfazer a justiça. "Em quem
temos a redenção pelo seu sangue, à remissão de ofensas,
segundo as riquezas da sua graça" (Efésios 1.7).

c) Isto faria o homem amar um atributo de Deus e desprezar o


outro.

Se a graça salva à parte de sua satisfação da justiça divina, o


pecador naturalmente admiraria a graça de Deus, e ao mesmo
tempo desprezaria Sua justiça. Ao lidar com os pecadores desta
maneira, Deus estaria premiando o pecado. Nós pouco
honraríamos um juiz humano que virasse as costas aos crimes de
um homem e o deixasse escapar. Tal juiz seria desprezado e
despedido. Procedimentos assim seriam um convite aberto para
todos cometerem todos os crimes que desejassem, pois não seriam
vistos pela lei, e mal algum aconteceria ao criminoso. Gostaria,
prezado leitor, de viver em tal país?

3. A graça não salva ao dar ordenanças que devemos


obedecer.

As ordenanças e cerimônias de Cristo são para os que já são


salvos. Elas são declarativas e simbólicas; não salvadoras nem
sacramentais. Elas são para os santos e não para o mundo. As
mais terríveis heresias apareceram de ideias errôneas a respeito
das ordenanças. Milhares de vidas se perderam no decorrer da
história por não haverem se submetido a tais conceitos falsos. Cito
dum artigo sobre "Os sacramentos" do Livro de Missas da Igreja
Católica Romana, publicado pela editora "Paulinas", de Nova York:

"Os sacramentos são meios comuns pelos quais a graça de Deus é


trazida à alma duma pessoa. Dependemos da graça de Deus não
só para alcançarmos o céu após a morte, mas para viver uma vida
agradável a Deus na terra. O que os ventos fazem para o barco, é o
que a graça faz para a alma".

“Os sacramentos são sete maneiras diferentes pelas quais diversas


graças especiais são aplicadas a nossa alma”. Todas foram
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instituídas por Cristo. Pela Sua morte no Calvário, nosso Senhor
criou um grande reservatório de graça. Deste reservatório existem
sete canais, cada um transportando uma qualidade especial, e
quando necessitamos de certo tipo de ajuda divina, vamos ao
sacramento que o oferece. O batismo regenera a alma e nos faz
filhos de Deus. Ele tem o efeito de lavar o pecado com que
nascemos, como também outro pecado qualquer que cometemos.

A confirmação fortalece a alma, a fim de capacitá-la a lutar


valorosamente. A Santa Eucaristia, sendo o próprio Cristo, o pão
vivo, é o alimento e a nutrição da alma. A penitência nos traz o
perdão de Deus. A Extrema Unção dá-nos a graça para morrermos
bem. O Santo Clero eleva os homens à dignidade do serviço de
Deus e lhes dá a força para perseverarem. O Matrimônio dá graça
aos cônjuges para se amarem e para criarem filhos na graça e no
conhecimento de Deus. “Através de toda a nossa vida, os
sacramentos oferecem nutrição espiritual, sem a qual é impossível
merecermos a alegria e a glória que Deus preparou para nós no
céu”.

Que estranha mistura de verdade e erro! Que frustração da


verdadeira graça de Deus! Que caricatura da verdade! O artigo fala
da graça que nos capacita a merecer a alegria e glória do céu.
Merecer algo é ter mérito ou ganhar algo através de dádivas, e o
que ganhamos por débitos não pode ser recebido pela graça.
Romanos 4:4. A Bíblia nos diz que a salvação é pela fé, para que
ela seja pela "graça". Romanos 4.16. A Bíblia diz: "pela graça sois
salvos por meio da fé". Efésios 2.8. Mas este artigo nem sequer
mencionou a palavra fé.

Agora tentaremos dar uma resposta positiva à nossa pergunta:


"Como a graça salva?" Qual o modo de operar da graça? O que faz
a graça na obra de salvação?

 A graça salva da culpa e da pena do pecado ao colocá-


las sobre Cristo.

A graça salva ao punir a Cristo no lugar do pecador. Ele nos limpou


da nossa culpa ao Se sacrificar. Hebreus 9.26. Ele levou nossos
pecados sobre Seu próprio corpo no madeiro (1 Pedro 2.24). Ele
morreu como o Justo pelo injusto para que nos levasse a Deus, isto
é, ao Seu favor (1 Pedro 3.18).
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A justiça diz que meus pecados devem ser punidos, e eles foram
punidos em meu Penhor, o Senhor Jesus Cristo, o Penhor do novo
concerto (Hebreus 9.22). Foi por graça incomparável que o Senhor
Jesus liquidou nosso débito do pecado, e é Ele que terá todo o
louvor.

"Graça" clamou Spurgeon, "é tudo por nada; Cristo de graça,


perdão de graça, céu de graça".

 A graça nos salva do amor ao pecado e dum


entendimento obscurecido.

Isto pode ser chamado de salvação interior e é obra do Espírito


Santo em nós. Nesta obra o Espírito Santo abre os olhos cegos
para que vejam a verdade do Evangelho. Paulo disse que seu
Evangelho estava escondido dos olhos do pecador, pois suas
mentes estavam obscurecidas.

A morte de Cristo não beneficia o homem que vive e morre sem fé


nela. E todos nós estaríamos em tal condição, se não fosse à obra
da regeneração e da iluminação do Espírito Santo. As verdades
espirituais são loucura para o homem natural, mesmo que ele seja
um professor universitário, e ninguém pode fazer do homem natural
um homem espiritual a não ser o Espírito Santo.

A conversão é obra do Espírito Santo e Sua obra em nós é tanto


pela graça quanto foi à obra redentora de Cristo na cruz. Cristo
liquidou nossa dívida do pecado com Sua morte; o Espírito Santo
nos trouxe a convicção do pecado e fé no sangue de Cristo como o
único remédio para o pecado.

“A graça nos coloca no caminho, ajuda no caminho, e nos leva até o


fim do caminho”.
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Capítulo 15 - A Providência Divina

Definição.

Pode-se definir a providência como o governo de Deus sobre Sua


criação. O governo de Deus nos negócios do mundo é assunto de
grande importância para o crente, pois com uma visão apropriada
da Providência, o crente aprenderá a procurar e ver o coração e as
mãos de Deus em todas as experiências. Ele não falará como os
filisteus incircuncisos quando disseram: "Isto nos sucedeu por
acaso" (1 Samuel 6.9). Mas como Jó, ele dirá: "O Senhor o deu, e o
Senhor o tomou" (Jó 1.21).

Deus não Se encontra desocupado. O Salvador disse: "Meu Pai


trabalha até agora, e eu trabalho também" (João 5.17). Deus está
sempre a postos. Ele não é como o jogador de futebol que precisa
descansar e planejar as táticas para o segundo tempo. Ele não é
como o fazendeiro que necessita de descanso e alimento para
poder trabalhar no dia seguinte. Ele nunca Se encontra exausto de
ideias; Ele é o único Ser qualificado para governar Sua criação.

Existem muitos que talvez pensem que Deus poderia melhorar Seu
modo de governar o mundo. Os homens talvez propusessem
mudanças. Muitos talvez pensem que é tempo de renovar. Alguns,
talvez, aconselhassem a morte de Satanás, e que homens como
Hitler fossem postos de lado e substituídos pelos que amam a paz.
Deus é o Todo-Poderoso e está no controle, Se quisesse, Ele
poderia fazer tudo isto e muito mais, mas ninguém vai Lhe dizer o
que fazer. Ele faz tudo segundo o conselho de Sua própria vontade
(Efésios 1.11).

Se Deus não está governando o mundo, quem está? Pelo que é


aparente, talvez disséssemos que fosse o diabo. Ou talvez
disséssemos que o mundo é controlado pelos políticos, ou mesmo
pelos grandes empresários. Não há dúvida de que a intenção de
Hitler era a de governar o mundo, para que todos contribuíssem
para sua própria glória e a de sua raça superior. É óbvio que há
muita competição pelas posições de autoridade. O desejo de poder
é evidente por toda parte. Admite-se que o Diabo e os homens têm
seus lugares e fazem suas obras, mas acima de tudo, Deus está no
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Seu trono fazendo com que mesmo a ira dos homens O louve
(Salmos 76.10). Os homens decretam, mas Deus anula.

Se o Criador não governasse o mundo, qual seria o motivo? Seria


por um destes dois motivos: porque Ele não quer, ou porque é
incapaz. O homem que pensa terá que admitir que Deus está
governando o mundo, pois se não está, Ele estaria desinteressado
ou teria perdido Seu controle sobre a criação. Os homens perdem o
domínio sobre as obras de suas próprias mãos. Um homem pode
ser morto pelo avião que ele mesmo constrói. Ele se envenena com
os medicamentos que produz.

Uma mãe pode ser envergonhada por um filho ou filha, nascido


dela. Mas Deus não corre nenhum perigo por causa de Sua criação.
Jamais será envergonhado por qualquer de Suas criaturas, pois
todos quantos se Lhe opõem serão envergonhados e arruinados
eternamente.

I. O TIPO DE MUNDO QUE DEUS ESTÁ DIRIGINDO

Entenderemos e apreciaremos melhor a Providência divina se


olharmos ao mundo que Deus controla. Há neste mundo um Diabo,
e o Diabo tem mais popularidade entre os cidadãos de que mesmo
Deus, o Criador do mundo. Satanás é chamado "o deus deste
século" e o "príncipe deste mundo". No alvorecer da história
humana, nossos primeiros pais por vontade própria, se rebelaram
contra Deus e se tornaram aliados de Satanás. Transferiram sua
lealdade do Deus da verdade ao pai da mentira. Jesus Cristo disse
aos hipócritas de Sua época que eles tinham por pai ao diabo, e
que faziam sua vontade. E Paulo nos diz que os perdidos deste
mundo têm suas mentes vedadas pelo deus deste mundo (2
Coríntios 4.4).

Porém, é preciso lembrar que Satanás opera pela tolerância de


Deus. Ele é tolerado, mas não apoiado por Deus. Suas atividades
são limitadas e ordenadas para fins divinos. Ele teve que obter
permissão de Deus antes que afligisse Jó ou cirandasse a Pedro.

O mundo que Deus dirige está cheio de homens e mulheres


depravados. Todo homem, à parte da graça de Deus, é inimigo de
Deus. Paulo diz que a mente carnal despreza a Deus. Romanos
8.7. Ninguém, senão os renascidos, ama ao verdadeiro Deus (1
João 4.7). Ouça o que veio dos lábios do Deus em forma humana:
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"Porque do coração procedem aos maus pensamentos, mortes,
adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.
São estas as coisas que contaminam o homem". Mateus 15.19-20.

O mundo que Deus controla está cheio de anjos caídos e de


espíritos demoníacos. Paulo diz que os sacrifícios dos ímpios são
feitos aos demônios e não a Deus (1 Coríntios 10.20). E em Efésios
6.11, Paulo nos exorta a vestirmos a armadura completa de Deus:
"Porque não temos de lutar contra a carne e o sangue, mas, sim
contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das
trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos
lugares celestiais" (Efésios 6.12).

Agora já devemos ser capazes de ver que Deus não está dirigindo
este mundo da mesma maneira que o dirigiria se não houvesse
outros nele, a não ser as pessoas boas, pessoas que O amassem,
e se deleitassem na Sua vontade. Nossas prisões não são dirigidas
do mesmo modo que nossos orfanatos. A terra não está sendo
dirigida como se fosse o céu, embora seja Deus quem dirija a
ambos.

II. A NATUREZA DA PROVIDÊNCIA

1. Ela é misteriosa.

Tudo parece estar em desordem e confusão. O mundo parece ser


um grande campo de batalha de vontades opostas, sem ordem nem
plano, tudo é só conflito. Aparentemente, não há ordem no
movimento das abelhas de cá para lá, mas se examinarmos o mel
veremos um plano, um arranjo e ordem. Do mesmo modo que as
abelhas guardam o mel para tempos de necessidade, mas são
colonizadas pelo homem para o seu proveito próprio, assim também
os homens planejam e trabalham, mas ao mesmo tempo estão sob
o domínio da infinita sabedoria de Deus para Sua própria honra e
glória.

Deus nos diz que não podemos entender o Seu tratar conosco. O
salmista diz que os julgamentos de Deus são profundezas grandes.
Paulo declara que Seus julgamentos são insondáveis e Seus meios
além da nossa compreensão. A providência é misteriosa e causa
perplexo, pois o Deus da Providência é além da compreensão das
nossas mentes finitas.
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Portanto Seus meios são profundos demais para o nosso
entendimento. Temos que acreditar no que Ele diz e crermos que
Ele é sábio demais para errar, e bondoso demais para afligir aos
Seus filhos sem motivo. Estamos num tempo de perplexidade e
muitos corações clamam: "Por que Deus não faz alguma coisa"?
Bem, querido coração, Deus está fazendo algo, mas nós não
entendemos os Seus meios. Temos que andar pela fé que Ele não
falha em Suas obras. Lembre-se, estimado leitor, que Deus tem a
chave de todos os problemas da vida.

2. A providência é minuciosa e exata.

Ela abrange todas as coisas, tanto as pequenas quanto as


grandes. Já se explicou a Providência como a atenção de Deus
concentrada em toda parte. O homem é finito e tem limites tais que
sua atenção só pode ser concentrada em uma coisa, em um lugar,
de cada vez. Deus é infinito em espaço, poder e saber e, pode
assim Se concentrar em tudo, em todo lugar. Sua providência é
microscópica como também telescópica.

Deus se interessa pelos cabelos da nossa cabeça e pela queda do


passarinho. Um pregador, certa vez, chamou a atenção de sua
congregação, que a Bíblia diz que os seus cabelos são numerados,
mas parecia que muitos nem pensavam que suas cabeças eram
numeradas.

a) Deus está no controle da matéria inanimada.

As Escrituras abundam em ilustrações a este respeito. Deus disse:


"Haja luz, e houve luz". E outra vez: "Ajuntem-se as águas debaixo
dos céus num lugar; e apareça a porção seca. E assim foi". Pela
Palavra de Deus as águas do Mar Vermelho se separaram e se
levantaram como muralhas, voltando ao estado natural ao serem
ordenadas. Pela Palavra de Deus a terra abriu sua boca e engoliu
Coré e seus companheiros de rebelião. Pela Sua Palavra as
chamas da fornalha babilônica não tocaram Seus servos fiéis. Os
elementos da terra estão sob Seu controle. Ele faz chover. Ele traz
a fome. Ele dá a ceifa ou a nega.

b) Deus tem poder sobre as criaturas irracionais.

Ele criou as feras e as trouxe para serem nomeadas por Adão. Ele
fez entrar na arca de Noé dois de cada espécie imunda para a
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conservação das espécies, e sete pares de cada animal limpo para
prover os sacrifícios que Noé faria. Seu controle sobre a vida
irracional foi demonstrado nas pragas que caíram sobre o Egito. Ao
Seu mandado as nuvens de moscas invadiram os lares egípcios, ao
passo que os lares hebraicos não conheceram tal praga. Por Sua
vontade o Egito encheu-se de rãs e de gafanhotos.

Daniel foi lançado na cova dos leões, mas a boca deles foi fechada
e não tocaram em Daniel. Deus abriu a boca da jumenta para
repreender a Balaão.

Jonas não queria ser missionário ao estrangeiro, embarcando,


portanto, num navio para Társis. Deus levantou os ventos e quando
os marinheiros lançaram Jonas às águas, Deus já tinha preparado
um grande peixe para transportá-lo à Nínive. E fez com que o peixe
o vomitasse na praia.

Foi pela vontade de Deus que o galo cantou três vezes no momento
exato que Deus avisara a Pedro do que haveria de acontecer. "O
Senhor tem estabelecido o seu trono nos céus, e o seu trono
domina sobre tudo" (Salmos 103.19).

c) O controle de Deus estende-se aos homens... a todos os


homens, ao bom e ao mau. Não é difícil ver que Deus controla o
bem; difícil é ver Seu controle sobre tudo e todos, sobre o mal tanto
quanto sobre o bem.

Deus permite o pecado porque Ele pode subjugá-lo para Sua honra
e glória. Deus não é o autor do pecado, mas é Ele que o controla e
governa para cumprir a Sua vontade. Agostinho tem uma ótima
palavra concernente a isto: "O pecado dos homens procede deles
mesmos; que ao pecar eles cometem esta ou aquela ação, mas é
Deus que controla as trevas de acordo com seu prazer".

Deus não é a força causadora, mas diretora nos pecados dos


homens. Os homens são rebeldes, mas não estão fora do Seu
controle. Os decretos divinos não são a causa da necessidade do
pecado dos homens, mas são os limites e a direção predeterminada
e prescrita das ações pecaminosas dos homens.

Um irmão inglês, P. W. Heward, diz o seguinte sobre este assunto:


"Os desejos para pecar são dos homens; o homem é culpado. Mas
o Deus onisciente impede estes desejos de produzirem ações
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indiscriminadamente. Deus faz com que estes desejos tomem
certos caminhos dirigidos por Ele. As inundações de perversidade
vêm dos corações dos homens, mas não têm permissão de cobrir a
terra; são controladas nos canais das determinações divinas, e os
homens sem saberem, são assim limitados de maneira que nenhum
til do propósito divino falhe. Ele traz os dilúvios dos perversos para
dentro de Seus canais a fim de virarem o moinho de Sua vontade".

É uma alegria saber que Deus, nosso Pai celestial, está governando
este mundo. A verdade que encontramos em Romanos 8.28 não
seria possível, se Ele não estivesse no controle. Ele pode e
assegura que tudo opera para o bem de Seus filhos.

Qual a pressa, se Deus é o guia? Por que preocupar-se se Deus


auxilia?

Deus, nosso Pai, é quem governa. Nossos tempos e nossa vida


estão em Suas mãos.

As Escrituras declaram que o alvo divino ao dirigir este mundo é a


glória de Deus. Apocalipse 4.11 diz que todas as coisas existem
para o prazer de Deus. Romanos 11.36 nos dá esta verdade em
palavras maravilhosas: "Porque dele e por ele, e para ele, são todas
as coisas: glória, pois a ele eternamente. Amém".

Weymouth traduz assim: "Tudo procede dele, existe por Ele, e para
Ele. A Ele seja a glória eternamente! Amém". Dr. Robertson, em
"Palavras Pitorescas," diz: "Com estas três preposições Paulo
atribui o universo com todos dos fenômenos que concernem à
criação, redenção, e providência a Deus, como fonte, o agente, e o
alvo". Ele diz também que Alford apresenta esta doxologia dos
versículos 33 a 36 como o "apóstrofe mais sublime que existe
mesmo dentro das páginas desta inspiração".

Deus é a única Pessoa em todo o universo que tem a direito de agir


para Sua própria glória. Sua glória é a regra de todas Suas ações, e
Sua glória é a regra da conduta humana. Sim, o dever principal do
homem é glorificar a Deus e ter comunhão com Ele eternamente.

Salvação não é principalmente para o nosso bem, mas para sua


glória. Em Efésios 1.5 lemos: "E nos predestinou para filhos de
adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de
sua vontade, para louvor e glória de sua graça". E em Efésios 1.11:
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"Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido
predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as
coisas, segundo o conselho da sua vontade, com o fim de sermos
para louvor de sua glória". Deus está salvando pecadores para que
Ele possa mostrar taças de Sua graça a um universo espectador
nos tempos vindouros. Efésios 2.7.
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Capítulo 16 - Ideias sobre Deus

As principais ideias sobre a pessoa e a natureza de Deus podem


ser classificadas sob os seguintes títulos:

1. Politeísmo.

Trata-se de uma espécie de teísmo, embora afirme que existem


muitos deuses que mantêm interesse pelas vidas humanas,
mantendo com os homens alguma espécie de contato. O
politeísmo, em sua fase original, consistia na personificação de
importantes elementos da natureza, como o sol, a lua, a fertilidade,
o amor, o poder, a violência ou a misericórdia.

a) No Egito, encontramos os deuses Atne Re-Khepri, o Sol; Amon-


Re, o rei dos deuses; Ptah, Sekhmet e Nefer Tem, que formavam
uma espécie de trindade e que seriam pai, mãe e filho, — que
compunham uma família divina. Havia também muitas outras
personificações divinas menores, como Ápis ou Serápis, o boi
divinizado. Foi a essa divindade que o povo de Israel chegou a
sacrificar seus filhinhos, em um momento de apostasia bárbara.
Muitas outras nações compartilhavam desses deuses pagãos.

b) Na Grécia temos o deus Cronos (tempo, eternidade), o qual, em


tempos primitivos, foi o principal dos deuses, segundo diz a própria
mitologia grega. Finalmente, porém, seu filho, de nome Zeus,
obteve a supremacia. Havia muitos outros deuses do Olimpo.

c) Em Roma a situação se torna um tanto caótica. Houve uma


mescla de suas divindades com outras de outros povos, e muitos
desses deuses estrangeiros passaram a ser conhecidos por outros
nomes ali. Assim é que os romanos identificavam o Zeus dos
gregos com o seu próprio Júpiter. Hera, a esposa de Zeus, segundo
os gregos, passou a ser chamada Juno, pelos romanos. Júpiter era
reputado pai dos deuses e dos homens. Juno era a rainha dos
céus, e também era a deusa do matrimônio. Hermes passou a ser
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chamado Mercúrio pelos romanos, e era o deus da fertilidade, do
gado e da música, da qual era o patrono. Segundo a mitologia
romana, Mercúrio era o mensageiro dos deuses, bem como o
advogado dos demais deuses. Atena, que os romanos chamavam
de Minerva, era a virgem deusa do conselho, da guerra e das belas-
artes femininas. Apoio era o deus da poesia, da música e da
profecia.

Conforme dizia a mitologia romana, Apoio era a luz dos céus.


Afrodite, que os romanos chamavam de Vénus, era a deusa do
amor, da beleza feminina e da fertilidade, tanto da terra como dos
homens. Esculápio, que em Roma se chamava Asclépio, era o deus
da medicina, da cura. Esse deus era adorado sob o símbolo de uma
serpente.

Segundo se pode observar claramente por essas brevíssimas


descrições, os homens criaram deuses de acordo com as suas
próprias noções. A única diferença é que as experiências e os
conceitos imaginários desses deuses seriam mais absolutos,
porquanto lhes eram atribuídos tanto seres como qualidades mais
exaltadas que entre os homens.

Quase todos os pagãos e politeístas atribuíam, aos seus deuses as


suas próprias fraquezas e pecados; mas, ao fazê-lo, tornavam
esses deuses mestres do mal, extremamente poderosos para a
maldade. Disso é que se derivou o conceito errôneo de que poder é
razão, e que a moralidade equivale a alguém poder fazer algo sem
que ninguém tenha poder suficiente de tolher tal ação. Por esse
mesmo motivo é que Zeus supostamente governava aos deuses,
mas não por sua bondade, e nem por amor à bondade, e, sim, por
causa dos raios que ele despedia ao redor e que podiam fazer parar
a qualquer deus ou homem que porventura quisesse pôr algum
obstáculo aos seus desejos.

2. Enoteísmo.

Essa palavra se deriva de uma palavra grega, hen, que é um


adjetivo numeral, “um”. Trata-se da crença em um deus que age em
nosso favor, mas que não nega que talvez existam outros deuses,
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cuja ação e autoridade são exercidas em outras esferas. Assim
sendo, haveria um deus que exerce controle sobre os homens,
interessando-se por alguma pessoa, alguma cultura ou alguma
nação. Por essa razão alguns intérpretes acreditam que esse
conceito de divindade, na cultura dos hebreus, precedeu ao puro
monoteísmo. Em outras palavras, supõem que os israelitas
originalmente criam que Yahweh era deus deles, — e não o Deus
criador de todos.

3. Monoteísmo.

O judaísmo, o islamismo e o cristianismo são os três grandes


expoentes dessa ideia da divindade. Segundo essa posição, existe
apenas um único Deus, em sentido absoluto, não querendo isso
dizer que ele é o nosso deus e que existem outros deuses de outros
povos. Antes, somente um ser é o possuidor da divindade autêntica.
É interessante observarmos que esse ensino foi antecipado ou
mesmo parcialmente duplicado dentro da filosofia platônica, em seu
conceito de bondade universal, como também no conceito do
intelecto puro, de Aristóteles. Essa doutrina é ensinada francamente
na ideia de “Yahweh”, segundo o judaísmo posterior, segundo a
qual Deus é o Deus de todos, e não meramente da nação israelita.
Na realidade, ele é o Deus de todos os universos, de tudo quanto
existe, sem importar se pertence à categoria terrena ou celestial,
humana ou angelical, material ou espiritual.

4. O teísmo.

O teísmo reivindica possuir conhecimento; em outras palavras,


declara que há evidências conclusivas em favor da existência de
Deus, suficientemente positivas para permitir-nos uma declaração
em prol de sua existência. Essas evidências nos chegam através da
observação meramente empírica da grandiosidade e do desígnio
aparentes neste mundo, através da intuição, através da razão e,
sobretudo, através das experiências místicas.

O trecho de Atos 17.24-31 apresenta elevadas expressões teístas.


Deus, pois, é a fonte originária de toda a vida física e espiritual, e é
o poder sustentador de ambos esses tipos de vida. Deus é a fonte
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de toda a forma de consciência. Ele é a origem de todas as ideias
morais, como também de todos os valores humanos. Deus é
imanente em sua natureza, e não absolutamente transcendental.
Ele é quem preserva todo o valor e a dignidade humanos.

Finalmente, Deus é o Salvador e o Redentor do homem, aquele que


se oferece para elevar o homem à vida divina, por intermédio de
Cristo. Além disso, Deus é o Juiz de todas as suas criaturas
inteligentes, morais, que as recompensa ou pune, de conformidade
com a retidão ou a maldade de suas ações. Deus é o alvo de toda a
existência. É a própria razão para continuarmos vivendo.

5. O deísmo.

Esse ponto de vista faz contraste direto com a posição anterior, a


do teísmo.

O deísmo consiste na noção de que Deus é totalmente


transcendental, porquanto, apesar de ser o criador e a fonte da
vida, divorciou-se de seu universo, abandonando-o completamente
e não mais exercendo interesse por ele.

Deus teria criado, segundo essa posição filosófica, os mundos,


como se fossem máquinas dotadas de movimento perpétuo, as
quais após o impulso inicial da criação, não mais necessitariam da
orientação e da energia da mente divina. Deus seria a primeira
causa de todas as coisas, mas não seria objeto apropriado de
nossa adoração, porquanto nem mesmo daria atenção a seus
adoradores.

Na realidade, o deísmo equivale ao ateísmo prático, porquanto


Deus nada significaria para o homem. Segundo esse sistema, a
moralidade fica inteiramente ao encargo do homem. Ele é que tem
de descobrir quais leis concordam com aquilo que Deus determinou
no princípio; e então, se conseguirem acertar, tudo irá bem com os
seres humanos. Mas isso não porque Deus recompensará ou
punirá aos homens, e, sim, porque praticar o bem é melhor do que
praticar o mal e, em certo sentido, praticar o bem é sua própria
recompensa.
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6. O panteísmo.

De conformidade com esse sistema, a natureza inteira é reputada


como parte integrante de Deus. Em outras palavras, todas as coisas
têm a mesma essência de Deus, não havendo qualquer distinção,
entre Deus e a criação, no que diz respeito à essência ou
substância. O mundo seria o corpo de Deus, e Deus seria a alma do
mundo. Tudo quanto existe é Deus, e Deus é tudo quanto existe.
Dentre as escolas filosóficas, podemos dizer que o estoicismo, o
neoplatonismo, o um de Parmênides e diversas formas do idealismo
germânico representam variações do panteísmo. Segundo o
panteísmo, não existe qualquer Deus pessoal, não existe qualquer
inteligência superior, distinta da criação, em qualquer sentido
absoluto, como se Deus fosse possuidor de uma natureza diferente
do resto. Tudo que existe pode ser comparado ao sol. O sol envia
os seus raios, a sua energia. A sua energia faz parte do próprio sol.
Assim também Deus é visto como o grande Sol que emana a si
mesmo. Assim, tudo que existe é produto de sua emanação,
participando de sua natureza, ainda que sob formas modificadas, tal
como os raios do sol fazem realmente parte desse astro luminoso.

7. O realismo agnóstico. Essa filosofia assevera que a verdadeira


natureza de qualquer Deus ou deuses, mente divina, realidade
última, ou qualquer outro termo que queiramos usar, é
desconhecida e impossível de ser conhecida. Poderíamos dizer
alguma coisa acerca dessa suposta realidade última; porém, o mais
que podemos fazer, nesse caso, é usar uma linguagem simbólica.

Igualmente, seria um erro supormos que aquilo que dizemos


representa fielmente o que na realidade representa esse suposto
Deus. Poderíamos fazer alusão a uma primeira causa ou à fonte da
existência; mas tudo isso não passa de meras tentativas de
formularmos ideias sobre uma divindade acerca da qual nada
realmente sabemos com certeza. Herbert Spencer foi um grande
advogado dessa ideia, no que diz respeito a Deus. Esse ponto de
vista não nega a existência de Deus; mas tão-somente deixa na
dúvida a questão inteira.

8. O humanismo.
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É aquela posição filosófica que pensa que Deus não é alguma força
cósmica e final, algum poder supremo, alguma existência absoluta,
algum ser supremo e transcendental, pessoal ou impessoal, teísta
ou deísta, que seria um só ou diversos, e nem teria forças como
uma energia, a gravidade. Pelo contrário, Deus seria “le grande
être”, ou “agrande ser”. Esse grande ser seria a própria
humanidade, o que há de melhor no homem, as suas esperanças e
realizações mais excelentes, os seus valores mais altos, a sua
suprema bondade. Essa ideia é criação de Comte (1759-1857, o
genitor do positivismo lógico) e também foi esposada por John
Dewey, um dos principais representantes do pragmatismo, por Max
Otto, Roy Wood Sellars, Corliss Lamont e outros filósofos
pragmáticos e humanistas.

9. O Idealismo impessoal.

Deus seria o valor ideal. Trata-se de um conceito similar ao da


posição filosófica precedente, podendo ser classificado como uma
subcategoria do humanismo. Todavia, neste caso, a ênfase recai
sobre os valores. Os valores possuiriam uma existência objetiva, sui
generis. Os valores, ou princípios ideais, que seriam válidos e
universais, é que seriam Deus, de acordo com esse ponto de vista.

10. A sobrenaturalidade deísta.

Deus seria o revelador sobrenatural dos valores. Deus aparece


usualmente como transcendental (o que mostra as tendências para
o deísta dessa posição filosófica). Contudo, algumas vezes ele
penetraria no universal a fim de alterar o rumo das coisas,
efetuando um milagre, revelando algo importante, mantendo algum
contacto com o homem. (E isso mostra que essa posição também
combina com o teísmo). Ao mesmo tempo, entretanto, Deus é
totalmente distinto do universal; é transcendental. Isso significa que
às vezes Deus é teísta, e às vezes é deísta. As raízes dessa ideia
podem ser encontradas em várias declarações de Lutero, de
Calvino e de outros teólogos cristãos. Mais recentemente, tal ideia
foi expressa no existencialismo de Soren Kierkegaard, como
também em determinadas seções das obras de Karl Barth (em sua
neo-ortodoxia). É interessante que algumas declarações das
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Escrituras parecem ter certo colorido que as assemelham às
afirmações da sobrenaturalidade deísta.

11. O naturalismo religioso.

De acordo com essa ideia, a tendência observável nos homens e no


mundo, que busca alcançar a perfeição e que produz valores, é que
é Deus (tal como na oitava e na nona posições mais acima). Mas
com isso estaria combinada à teoria da evolução. O alvo da
evolução seria a perfeição. Esse alvo é Deus. No dizer de Nelson
Wieman: “Deus é o desenvolvimento da significação e do valor no
mundo”. Deus seria o valor teleológico.

12. O panenteísmo.

Essa posição filosófica deriva sua designação de vocábulos gregos


que significam, mais ou menos, “Deus conforme aparece em tudo”.
Conforme dizem os seguidores dessa ideia, Deus penetra e enche
todas as coisas, porquanto se mantém imanente em tudo; porém,
ao mesmo tempo, não deve ser identificado com esses objetos,
conforme diz o panteísmo. Deus estaria em tudo, mas não é tudo.
Possui a sua própria natureza ou essência distinta. Assim
ensinavam Alfred North Whitehead e Alberto Schweitzer.

13. O ateísmo

O ateísmo também afirma possuir certo conhecimento, acreditando


contar com evidências suficientes, de natureza negativa, que
afirmam que não há Deus. Nem Deus e nem deuses existem.
Conforme dizem os seus seguidores, no nosso mundo existem
provas, que podemos observar na maldade existente no universo,
que negam a existência de um bondoso Deus, juntamente com a
confusão e o sofrimento que imperam por toda a parte. E posto que
o mal e o sofrimento obviamente existem, os ateus acreditam que
isso significa que Deus não existe. De conformidade com o conceito
cristão, as ideias aqui enumeradas como sexta, oitava, nona e
décima primeira, são todas formas de ateísmo, as quais, embora
retenham a palavra Deus, em seu vocabulário, na realidade não
querem dizer coisa alguma com isso, a não ser dar uma satisfação
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às Escrituras Sagradas ou à teologia cristã, no que esse termo
realmente significa.

O ateísmo está vinculado às seguintes declarações básicas,


que o definem:

 Não existe qualquer Deus, segundo qualquer definição.


 Não existe Deus, segundo os termos de qualquer filosofia ou
religião, sem importar a forma tomada pelas declarações que
fazem as filosofias ou religiões.
 Não existe Deus, sobretudo conforme a proclamação do
judaísmo e do cristianismo.

Usualmente o ateísmo aceita como pontos de vista válidos somente


aquelas coisas sujeitas à percepção dos sentidos, ficando assim
negados o misticismo, a intuição e a razão pura como meios de que
dispõem os homens para saberem das coisas. Ora, não haveria
percepção de Deus através dos sentidos, mas bem pelo contrário.

Igualmente, a percepção dos nossos sentidos pode conferir- nos


uma razoável descrição da maldade e da corrupção que imperam
no mundo; e, por isso mesmo, essas coisas negam a existência de
um Deus bom e inteligente. No entanto, alguns ateus têm caído no
absurdo de declararem: “Se eu fosse Deus, teria criado um universo
melhor”. Não obstante, isso nos permite entrever que os ateus
acreditam ordinariamente que este universo imperfeito,
especialmente do ponto de vista moral, serve de prova que, no
universo, agem forças cósmicas e impessoais, em vez de um Deus
pessoal e moral. Todavia, não dignificam os ateus a essas forças
naturais e impessoais, chamando-as de “Deus”.

14. O agnosticismo.

Essa é a posição filosófica teológica que afirma: Talvez Deus exista;


talvez não exista. É a posição de quem não afirma ser possível ter
tal conhecimento com certeza. Existiriam provas tanto positivas
como negativas da existência de Deus, mas nenhuma delas seria
suficientemente conclusiva para capacitar os homens a tomarem
uma decisão firme sobre a questão.
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O agnosticismo admite a possibilidade da existência de certo
conhecimento sobre a questão, mas que esse conhecimento está
sujeito a modificações, com a passagem do tempo, de acordo com
elementos positivos ou negativos que forem surgindo.

Alguns agnósticos se inclinam para o teísmo, e outros para o


deísmo. Em outras palavras, alguns deles pensam que as
evidências em favor da existência de Deus, apesar de não serem
conclusivas, são sugestivas dessa existência. Mas outros
agnósticos, a despeito de admitirem que não sabemos se Deus
realmente existe ou não, afirmam que a existência disponível é
principalmente negativa, o que os leva a suspeitarem que Deus
realmente não existe. Por conseguinte, essa segunda forma de
agnosticismo tende para o ateísmo.

O agnosticismo, estranhamente, também afirma possuir certo


conhecimento, porquanto aceita a ideia de que talvez existam
evidências inconclusivas a respeito do caso. No entanto, mantém a
posição que diz: “Não sabemos”. Assim sendo, o nome agnóstico
se deriva dos termos gregos “a gnosis”, palavras que significam
“não conhecimento”.

Alguns agnósticos têm a fé que é impossível, tanto agora como


talvez para sempre, sabermos se realmente Deus existe, crendo
que essas questões, e outras similares, não são possíveis de serem
respondidas pela mente humana. Ainda outros desses agnósticos
acreditam que a evidência de que dispomos não está
necessariamente estagnada, e que futuras modificações poderão
propiciar base para a crença favorável ou contrária à ideia da
existência de Deus.

15. O ceticismo.

O ceticismo é uma espécie de agnosticismo radical. Àquilo a que


chamamos de conhecimento, segundo esse ponto de vista, não é
realmente tal, mas, quando muito, apenas indicações parciais do
que a natureza de qualquer coisa poderia ser.
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Os céticos radicais pensam que tanto agora como para sempre será
impossível obter qualquer conhecimento real acerca da natureza
verdadeira do que quer que seja. Ora, isso se aplica não somente a
Deus, mas a todas as coisas também, incluindo a natureza da
matéria. Assim sendo, os homens podem falar sobre os átomos,
sobre as partículas dos átomos, como os eléctrons, os nêutrons e
os três elementos do eléctron, chamados quarks; porém, tudo
quanto os homens dizem, quando muito, não passaria de uma
descrição parcial do que é a matéria, porquanto não sabemos no
que consiste a matéria, embora possamos fazer descrições
tentativas a respeito.

16. O positivismo lógico.

Trata-se de uma forma de ceticismo que domina a ciência moderna.


Tal como o ceticismo comum, limita tudo quanto se pode conhecer
à mera percepção dos sentidos, assim rejeitando quaisquer
reivindicações de conhecimento que nos chegam através de outros
meios, como a razão pura, isto é, aquela que prescinde de
experiências, a intuição ou o misticismo, que também inclui a
revelação divina. Todas as proposições de conhecimento que não
têm base na experiência são sem sentido; ou em outras palavras,
não haveria qualquer meio de julgar o seu verdadeiro valor.

Assim sendo, o ateísmo e o teísmo são igualmente errados porque


dizem que existem evidências: indicações negativas (não há Deus -
ateísmo); indicações positivas (há Deus - teísmo). As duas
declarações são incorretas, no dizer dos positivistas lógicos,
porquanto ambos fazem declarações que são sem sentido, porque
é impossível demonstrar a existência de Deus através da
experiência baseada na percepção dos sentidos.

17. O existencialismo.

De acordo com essa posição filosófica, Deus seria transcendental, o


ser sem limites. Assim sendo, não poderíamos dizer que Deus
existe ou não existe, porque essas palavras não têm significado
quando são aplicadas a Deus. Elas subentendem um ser entre
outros seres. E dizer alguém que Deus existe, é, na realidade,
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expressar uma forma de ateísmo, porquanto reduz o Grande Deus
Transcendental à categoria daquelas coisas que podemos conhecer
e expressar com a nossa mentalidade tão limitada. A própria
palavra Deus não se refere a uma realidade, e nem mesmo a mais
alta realidade, mas é antes uma alusão à fonte e ao alicerce de toda
a vida e existência.
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Conclusão
 O Deus da Bíblia é teísta, e não deísta. Isso significa que
Deus não apenas transcende à sua criação, mas também que
ele é imanente na mesma. Deus intervém em sua criação,
alterando o curso da história e de vidas individuais,
recompensando ou punindo. Portanto, Deus é quem impõe a
responsabilidade moral, e não o homem, pois ele é quem
estabelece as regras e determina penas para os
desobedientes. As experiências místicas dependem do
conceito teísta de Deus. Há uma Presença que pode ser
buscada, sentida e conhecida.

 O Deus da Bíblia é um só, embora se manifeste como uma


Trindade. Isso se refere não somente à natureza de Deus,
mas também ao seu impulso de comunicar-se, porquanto é no
Filho, através do Espírito Santo, que Deus se comunica com o
homem.

 O Deus da Bíblia faz-se conhecer pela revelação. Judeus e


cristãos creem que Deus quis revelar-se, tendo-o feito por
meio de profetas e homens santos. Essas revelações têm-se
concretizado nos livros sagrados do Antigo e do Novo
Testamento.

Esse é um dos aspectos do teísmo. O desvendamento sobrenatural


de Deus e as suas exigências são universais em caráter, tendo-se
tornado parte da história da humanidade. A encarnação do Logos,
em Jesus de Nazaré, é a suprema revelação de Deus, e o Novo
Testamento é uma prolongada declaração das implicações dessa
revelação. O Pai faz-se conhecido no Filho (João 14.7, e cap. 17). A
revelação de Deus, no Filho, tem natureza redentora e
restauradora, por serem esses os propósitos principais por detrás
dos atos reveladores.
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 O Deus da Bíblia é o Espírito Eterno, o Criador e
Preservador Infinito, bem como o Juiz de toda a criação. Ele é
também o Redentor, pois aquelas outras qualidades teriam
pouca significação para os homens. Deus é um Espírito,
infinito, eterno e imutável em seu ser, sabedoria, poder,
santidade justiça, bondade e veracidade.
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Bibliografia
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Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1993.
 Dicionário Vine, CPAD
 STRONG, Augustus Hopkins. Teologia sistemática. Ano 2003,
Editora Hagnos
 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática, Fundamentos da Teologia
Reformada. Editora Mundo Cristão
 GRUDEM, Wayne. Manual de Teologia Sistemática. Ed. Vida
 A doutrina de Deus - C. D. Cole, Revisão 2004: David A Zuhars Jr.
 BERGSTÉN, Eurico - A Santa Trindade: O Pai, o Filho e o Espírito
Santo. CPAD, 1989
 Dicionário Wycliffe – CPAD
 CHAMPLIN, Russell Norman Ph. D. O Antigo Testamento
Interpretado versículo por versículo - Editora Hagnos
 Coletânia da teologia de João Wesley - Compilação de Robert W.
Burtner
 HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática – CPAD
 solascriptura-tt.org
 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia - ED. Vida
 Jornal Mensageiro da Paz, dezembro de 2014
 BRUNELLI, Walter.Teologia para Pentecostais: Uma Teologia
Sistemática Expandida - Volume 1 Rio de Janeiro: 2016 – Central
Gospel
 RENOVATO, Elinaldo. Deus e a Bíblia. 1ª edição de 2008 – CPAD
 SOARES, Esequias. A razão de nossa fé: assim cremos, assim
vivemos / Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
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