Resumo do Livro “Justiça: o que é fazer a coisa certa?
Capítulo II
O autor abre o capítulo com o caso de três sobreviventes de um naufrágio que
sobreviveram dias no mar (em um bote) ao comer um outro sobrevivente adoecido. Aqui são apresentados dois conceitos morais diferentes: a) moral utilitarista, que calcula os custos e benefícios a fim de analisar as consequências; b) a concepção de moral que acredita existir uma relação mais profunda e transcendental de direitos e pessoas. Jeremy Betham foi o criador do pensamento utilitarista. De acordo com ele todos os seres humanos são regidos por prazeres e dores. Partindo dessa ideia, a moral deveria buscar a máxima felicidade dos sujeitos, induzindo, inclusive, o Estado a legislar em prol do maior prazer social. Esse maior prazer seria medido de acordo com o maior número possível depessoas que acordassem com este. Dessa premissa Sandel apresenta alguns casos incluindo nas suas perguntas, algumas objeções a essa teoria: * O utilitarismo de Betham não consegue respeitar os direitos individuais, podendo ser muito cruel com o indivíduo isolado. Ex: cristãos jogados aos leões; tortura de alguém que se acredite ser terrorista; cidade da felicidade, em que todos os moradores são felizes às custas de uma criança que fica presa ao subsolo. * Os prazeres são qualificados em uma única moeda, ou seja, não existe moral maior ou menor que outros. Fora que não é feito julgamento acerca das preferências morais. Ex: quanto vale a vida humana? a) empresa de tabagismo faz pesquisa dizendo que o Estado lucra mais com mortes do que com investimento em saúde pública; b) pagar indenização por carro explodindo custa menos à Forde do que substituir o tanque; c) vida do idoso tem menos valor que a vida de um jovem. Jonh Stuart Mill tenta salvar o utilitarismo desenvolvendo uma teoria mais humana e menos calculista. De acordo com esse autor, as pessoas devem ser livres para fazerem o que quiserem desde que não prejudiquem as outras. O Estado não pode se intrometer na liberdade de um sujeito. O indivíduo só responde publicamente se seus atos prejudiquem aos outros. Sandel alega que apesar de Mill se declarar utilitarista e defender esse título, sua filosofia necessita de uma base moral mais concreta. Ainda assim, Mill defende seuponto de vista da seguinte forma: * A máxima felicidade deve ser almejada em longo prazo e não em curto prazo. Nesse sentido, a satisfação de prazeres imediatos de uma maioria não consistiria na melhor resposta para a sociedade; no caso de interferência da liberdade de uma minoria, pelo prazer da maioria, não consistiria na melhor resposta para a sociedade; no caso de interferência da liberdade de uma minoria, pelo prazer da maioria, não seria justo. O autor alega que somente com o tempo, permitindo a liberdade de construção de ideias, a sociedade conseguiria atingir a máxima felicidade; outrossim, o autor considera a sociedade que força seus membros a abraçar costumes e crenças está sujeita a cair em conformismo, privando seus membros de atingir avanço social. A finalidade máxima da vida humana é desenvolver livremente as suas capacidades. Aqui é possível vislumbrar que o autor apela para valores morais além dos utilitários (ideais de caráter e desenvolvimento humano). * Para Mill existem prazeres superiores e inferiores, sendo que aqueles são medidos de acordo com a sua capacidade de nos desenvolver como humanos (Simpson X Hamlet).
Capítulo V
O quinto capítulo é dedicado à análise da teoria kantiana da moral, desenvolvendo,
simultaneamente, uma crítica à filosofia libertária e ao utilitarismo. De acordo com Kant, o que distingue um ser humano de um objeto ou um animal é a sua capacidade de raciocinar e de ser livre. Essa capacidade dá ao homem um significado em si mesmo e sua consequente dignidade que não pode ser desconsiderada sob pena de nos tornar objeto. A liberdade não é algo que se obtenha pelo simples fato de agir como bem se entende. Na verdade, a liberdade é conquistada através da superação das ações heterônimas por meio da razão para que se possa atingir autonomia, e, portanto, liberdade. Para que se entenda melhor, é importante saber que Kant considera que todas as ações – tanto dos homens, quanto dos objetos – são guiados por leis, sejam elas naturais, sociais ou autônomas. Sentidos, desejos, necessidades e paixões (expressões empíricas) se regem através das leis naturais ou sociais. O objetivo do homem como ser em si mesmo é superar essas leis externas (heterônomas), e usar a razão para agir conforme a sua própria lei. Essa é a verdadeira liberdade conseguida através da autonomia. A moral kantiana está diretamente ligada a essa ideia. Agir moralmente correto é agir através do exercício da razão, portanto, das próprias leis criadas pela autonomia (liberdade). Entram aqui dois novos conceitos: imperativo hipotético e imperativo categórico. Ter as ações motivadas pelo imperativo hipotético é classifica-las no plano da heteronomia; vontades, desejos, sentidos e necessidades não entram no conceito kantiano de moral. Já agir autonomamente pelo uso da razão é ter a açãomotivada pelo imperativo categórico. A ação moralmente correta deve ser avaliada de duas formas: 1) a criação de um princípio universal através do questionamento da máxima; 2) a consideração do ser humano em si mesmo. Importante destacar que as ações, moralmente corretas devem obedecer às razões (porque é certo), ao invés da consequência. Um exemplo claro pode ser observado quando uma pessoa ajuda a outra. Se a ajuda se caracterizar pela ação de agir corretamente, partindo da máxima de que ajudar aos outros é universalmente aceitável, então é uma ação moral. Entretanto, se o indivíduo ajuda ao próximo esperando algum retorno, ou porque se sente bem, então não age de maneira moral, mas conforme a satisfação de seus desejos (heteronomia). Essa filosofia contrasta com as duas anteriormente estudadas, porque abomina o uso do ser humano como mero instrumento de felicidade (heteronomia) da maioria, além de acreditar que ter liberdade não é ser livre para fazer o que quiser, mas sim, agir de maneira moralmente correta. O uso irrestrito do corpo é rigidamente criticado por Kant, uma vez que o indivíduo deve sempre visar manter o status de dignidade humana, nunca podendo se usar como instrumento para se chegar a determinado fim.
Capítulo VIII
Esse capítulo se dedica a demonstrar a teoria da justiça de Aristóteles. Para este, a
justiça se desdobra em dois conceitos: a) justiça teleológica, em que é preciso conhecer o télos (objetivo) da prática jurídica; b) justiça honorífica, em que é necessário descobrir que virtudes devem-se honrar e recompensar. Para que seja mais bem entendido, desenvolve-se o exemplo da flauta perfeita. A quem ela deve ser dada? Para Aristóteles a cada um é dado o que se merece, para pessoas iguais, dão-se coisas iguais. Mas como saber que a coisa certa está sendo dada para a pessoa certa? Perguntando-se acerca do télos do objeto e que virtudes devem ser honradas. No caso da flauta, pode-se saberque o objetivo dela é ser mais bem tocada (télos) e aquele que deve recebe-la deve ser o melhor músico. Nesse sentido, entende-se que as coisas são feitas para melhor serem usadas. Levando essa discussão para o plano das instituições sociais, questiona-se qual seria o seu télos. Para Aristóteles, a pergunta só seria bem respondida se soubéssemos qual o propósito da justiça. De acordo com o autor, o télos da política é formar e cultivar o bom caráter. A oligarquia e a democracia são rejeitadas por Aristóteles, porque ambos os modos de governo negligenciam a finalidade da instituição política, que é cultivar a virtude dos cidadãos para que todos possam viver uma vida boa. Nesse caso, quem mereceria governar seria aquele que melhor deliberasse sobre esses aspectos. Aristóteles também fala que uma boa pessoa deve participar da vida política dos cidadãos, porque é da natureza humana deliberar sobre o certo e o errado através da linguagem, é isso que diferencia o homem dos outros animais. Sozinhos não somos capazes de desenvolver a linguagem e a deliberação moral. A vida moral tem a felicidade como objetivo, entretanto, ser feliz não significa um estado de espírito como para os utilitaristas, e sim uma maneira de ser que significa usufruir de coisas nobres e sofrer com coisas reles. A virtude só é alcançada através da prática. É dever dos governantes cultivar hábitos que formem indivíduos de bom caráter através das leis.