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Atividade do curso: História oral e seus usos.

Aluno: Guilherme Oliveira Claudino


Data: 18/07/2022 Prof.: Prof. Rodrigo Flores Resenha Crítica: Narradores de Javé

Uma produção cinematográfica como o filme Narradores de javé suscita discussões que
tramitam nas diversas áreas do conhecimento. Mas, se atendo ao proposto no curso
primeiramente devemos observar como a construção da história do povoado de Javé. No início
do filme a história é contada da mesma forma que a Odisseia, visto que, a chegada de Otacílio
nas terras distantes do eixo político par se ver livre das amarras de um governo que não lhe
ajudava. Sendo assim, muitos povoados brasileiros em sua história possuem artífices que
chegaram naqueles locais antes inóspitos buscando uma vida pacata longe do mundo e por sua
perseverança heroica conseguiram se estabelecer e prosperar seu povoado. E essas histórias
perpassam gerações sendo contadas e muitas das vezes alteradas pela oralidade buscando atingir
e conquistar mais moradores para aquela porção de terra. E neste caso, o propagador desta
história é o senhor Vicentino que em sua memória carregada de sentimentalismos e uma ligação
afetiva repassa para todos essa história.

Prosseguindo, temos a senhora Teodora que conta a história desse povoado por meio da
memória enraizada na ancestralidade de Maria Dina. É importante ressaltar que tanto Teodora
como Vicentino por meio da oralidade propagam o surgimento do povoado de Javé com
histórias que convergem em alguns pontos. Mas eles valorizam aqueles personagens
importantes para si. E é onde neste caso as práticas da história oral começam a existir. Sendo
que, neste caso a figura do historiador é representada por João Biá, um personagem que é
rechaçado pelo povoado em virtude de suas atitudes, mas quando o povoado sofre com o
eminente apagamento histórico é chamado para documentar a história desse povo em virtude
de sua habilidade de leitura. Sendo ele o único que sabe ler e escrever na região. E quando
indagado por aqueles agentes da oralidade a respeito de qual história seria transcrita para a
posteridade ele diz “não se pode tirar uma história sem prejudicar a outra”.

Eis aí a questão central dos trabalhos com a história oral, pois em meu entendimento o
filme coloca para aqueles que assistem primeiramente o que significa essa memória e qual é a
certa, sendo que, todas as oralidades se confluem em certos momentos e se distanciam em
outros por conta da singularidade de cada ser. Com isso, o historiador oralista trabalha com
temas sensíveis não somente para um só indivíduo, mas para um todo e sua abordagem com o
seu objeto pode significar o apagamento ou a manutenção da história de um povo. A memória
é algo volátil e passível de vários tipos no que tange a oralidade, e esta mesma ficando somente
no falar torna-se vulnerável as intempéries sociais que porventura surgem ao longo do tempo.
E por isso, a busca pelo método cientifico da escrita tornar-se vital para a perpetuação de uma
cultura. Método esse que busca ser o mais imparcial possível e o mais fidedigno ao fato que
ocorreu. Por isso Joao Bia é requisitado para salvar a cidade, uma vez que, é tido como letrado
e um sábio local, mas acaba salvando algo mais importante ainda, a memória do povo. Pois
com a junção de todas as memórias de forma sistemática e ordenada, ele salva aquele povo de
morrer com as águas e possibilita a perpetuação de uma cultura onde quer que ela esteja por
meio de seus escritos. E ao final do filme quando João Bia começa a escrever a história de Javé
é novamente confrontado por uma pluralidade de memórias, e faz o papel que o historiador
deve sempre fazer. Ser cirúrgico na escolha dos fatos para que não seja alterada a memória de
um povo.

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