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Legislação Comercial

Recurso Humanos e Gestão Comercial


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UFCD 0563

Formador: Leandro Afonso

Email: lea.afonso@gmail.com ID Curso: 20.0173


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Conteúdos:

1 - Noções fundamentais de Direito


• As fontes de Direito
• Características da norma jurídica
• Distinção entre direito público e direito privado

2 - A empresa e o Direito
• Tipos de empresas
• Singulares
• Empresário em nome individual
• EIRL
• Sociedade por quotas unipessoal
• Colectivas
• Sociedades comerciais
• Sociedade em nome colectivo
• Sociedade por quotas
• Sociedade em comandita
• Sociedade anónima
• Sociedade unipessoal
• Sociedades civis
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Conteúdos:

3 - Contratos comerciais mais usuais


Contrato de compra e venda
Contrato de locação
Contrato de prestação de serviços

Carga Horária: 25 Horas


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1 – Noções fundamentais de Direito


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Para além de normas sociais, morais e religiosas, a sociedade humana teve


necessidade de criar normas jurídicas. Em termos muito simples, o Direito pode
ser descrito como um conjunto de normas jurídicas.

O direito pode ser definido como um conjunto de normas com carácter obrigatório e com
proteção coativa. Normas essas emanadas, estabelecidas e garantidas pelo Estado.

Na verdade, seria impossível viver em sociedade


sem um mínimo de princípios que regulem a
acção humana, imperaria a lei do mais forte.
É, então, necessário que na vida social existam
regras que determinem a cada indivíduo as suas
formas de interacção com os outros, por meio de
atos ou omissões.
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• o Homem não vive isolado, mas em sociedade, em convivência com os outros
homens - “ubi societas, ibi ius” (onde existe uma sociedade, existe direito);
• o Homem tem um instinto para se agrupar - nas palavras de Aristóteles é um
“animal social.”

É o direito que vai “promover a solidariedade de interesses e resolver os


conflitos de interesses”, surgindo como uma ordem normativa.

Contudo, não basta que existam normas; é também necessário que se garanta a
sua eficácia, isto é, que essas normas existam e sejam respeitadas,
independentemente da vontade daquelas a quem se destinam, ou pelo menos,
quando violadas seja assegurada a reparação dessa violação.
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(Constituição da República Portuguesa)

Estado de direito é uma situação jurídica, ou um sistema institucional, no qual


cada um e todos (do simples indivíduo até o poder público) são submetidos ao
império do direito. O estado de direito é, assim, ligado ao respeito às normas e
aos direitos fundamentais.
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1.1 – Fontes de Direito:

O Direito surge na sociedade de determinados modos usualmente designados


fontes de direito:

a) A Lei (sentido amplo);


b) A Jurisprudência (o conjunto das decisões judiciais);
c) A Doutrina (os contributos dos jurisconsultos na resolução dos problemas
jurídicos);
d) Os Usos e Costumes (valem apenas se a Lei lhes conferir eficácia).
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a) A Lei

Em sentido amplo, a Lei é a manifestação do poder legislativo: “Norma escrita


proveniente dos órgãos estaduais competentes”.

A Lei (em sentido amplo) pode assumir várias formas.

Constituição
Existe uma hierarquia destas formas da Lei: Lei

Decreto-Lei

Decreto Regulamentar

Portaria

Postura
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• A Constituição:

É a lei fundamental a que todas as outras se subordinam.

Ocupa o 1º lugar na hierarquia das leis.

É uma lei independente, exercício imediato de soberania do Estado mas,


particularmente do seu poder constituinte.
Vigora nos termos que ela própria estabelece e só nesses termos pode ser
modificada.
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PREÂMBULO

A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do


povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.
Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação
revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa.
A Revolução restituiu aos Portugueses os direitos e liberdades fundamentais. No exercício
destes direitos e liberdades, os legítimos representantes do povo reúnem-se para elaborar uma
Constituição que corresponde às aspirações do país.
A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência
nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios
basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir
caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em
vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.
A Assembleia Constituinte, reunida na sessão plenária de 2 de Abril de 1976, aprova e decreta
a seguinte Constituição da República Portuguesa:

(Preambulo da Constituição Portuguesa de 1976)


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• Lei da Assembleia da República:

A Assembleia da República tem competência para fazer leis sobre todas as matérias,
salvo as reservadas pela Constituição ao Governo. (art.161ºc da Constituição).

Nuns casos essa competência é exclusiva: a competência para legislar nas


matérias enunciadas no art. 164º da Constituição, não pode ser delegada ao
governo, constituindo reserva absoluta da competência legislativa.

Noutros casos, a reserva da competência é relativa, podendo ser delegada no


Governo mediante autorização legislativa (art.165º da Constituição).
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• Decreto-Lei do Governo:

Hoje, o Governo é o órgão de soberania que mais legisla. Pode fazê-lo em todas as
matérias que não sejam objecto de reserva de competência da Assembleia da
República.

A forma de legislar do Governo é o Decreto-lei.

Nas matérias de competência relativa da Assembleia da República o Governo


ainda pode legislar se para tanto solicitar à Assembleia da República autorização
legislativa e esta lhe for concedida.
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• Regulamento / Portarias:

Os regulamentos constituem tradicionalmente uma forma utilizada para


desenvolver a lei, meio necessário para a sua aplicação aos casos concretos.

Por exemplo, uma lei que aprova o Código de Registo Comercial não determina em
que local do país funcionarão as conservatórias desses serviços, nem define os
modelos a preencher nos pedidos de registo. Esta tarefa será deixada a um
regulamento.

Regulamentos são atos normativos do Poder Executivo (Governo/Estado), dotados de


abstração, generalidade, impessoalidade, imperatividade e inovação, cuja finalidade é desdobrar
ou detalhar um ato normativo superior.
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Portarias - a portaria é um acto do poder administrativo, que a Constituição atribui


exclusivamente ao Governo, que é aprovado por um ou mais Ministros, em nome do Governo,
e que regula em pormenor um determinado assunto. A aprovação de uma portaria depende da
atribuição de poder para o efeito ao(s) ministro(s) em causa.
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• Posturas:

No sistema jurídico português, as posturas ocupam o lugar mais baixo da hierarquia


das leis e são regulamentos locais, provindos de corpos administrativos
competentes, como as câmaras municipais.
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Ainda sobre a lei, importa abordar a questão da sua publicação:

• A aplicação da Lei está dependente da sua publicação.


• Depois de aprovadas pela Assembleia da República , as leis são enviadas ao
Presidente da República para promulgação e publicação.
• O mesmo procedimento tem lugar em relação aos decretos.lei e decretos
regulamentares do Governo.

A publicação das leis ocorre no Diário da República.


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Vigência da Lei (A entrada em vigor das Leis)

As leis entram em vigor no dia fixado pelo diploma que as aprovou.

Porém se o diploma for omisso sobre a data da sua entrada em vigor, a lei
entra em vigor no quinto dia após a sua publicação. Nos Açores e na Madeira
no décimo quinto dia.

O dia de publicação do diploma não se conta.


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b) A Jurisprudência:

A Jurisprudência é o conjunto das decisões dos Tribunais.

No nosso sistema, o juiz é independente, e por isso não tem de respeitar as decisões
anteriores dos Tribunais.

Noutros países, os tribunais desempenham um importante papel na


criação do direito: as sentenças são a resolução dos conflitos sociais; se outro
litígio idêntico surgir no futuro, é razoável e justo que o tribunal o decida do mesmo
modo como decidiu o caso anterior.
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É esta a lógica do precedente dos países anglo-saxónicos; mas, esta lógica não se
aplica em Portugal.

Em Portugal, os tribunais não criam normas jurídicas, aplicam as que o poder


legislativo criou.

As decisões dos Tribunais não fazem precedente com exceção dos Acórdãos do
Tribunal Constitucional que declaram a inconstitucionalidade de uma Lei. Esses
anulam a Lei e, por isso, são obrigatórias para todos.
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d) A doutrina:

A doutrina tem fundamental importância tanto na elaboração da norma jurídica


quanto em sua interpretação e aplicação pelos tribunais.

A doutrina assume papel extremamente relevante para o direito e é essencial para


aclarar pontos, estabelecer novos parâmetros, descobrir caminhos ainda não
pesquisados, apresentar soluções justas, enfim, interpretar as normas, pesquisar os
fatos e propor alternativas, com vistas a auxiliar a construção sempre necessária e
constante do estado de direito, com o aperfeiçoamento do sistema jurídico.
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O valor da doutrina é relevante para:


1. Determina os Princípios Normativos;
2. Participa na feitura e interpretação das leis;
3. Tem um importante papel na formação dos Juristas.

A Doutrina como fonte de Direito tem vindo a perder peso e tal reflete-se na
qualidade da produção legislativa do país.
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d) Usos e Costumes:

O valor jurídico dos usos está intimamente condicionado à determinação da lei e à não
contrariedade dos princípios da boa-fé.
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O Costume tem dois elementos:


• Prática Social constante (corpus)
• Sentimento ou Convicção da sua obrigatoriedade (animus).

Sendo bastante discutível a admissão do Costume como fonte de Direito, a tendência


vai no sentido de os usos e costumes relevantes na ordem social serem acolhidos pelo
legislador sob a forma de Direito escrito, posto que a efetividade deste é tanto maior.
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Exemplos que distinguem Usos de Costumes:

Suponhamos, por exemplo, o botão da camisa: apesar de haver uma “convenção” de


que as camisas masculinas devem conter os botões de um dos lados enquanto as
camisas femininas devem estar do outro, nada impede que qualquer pessoa as use do
lado que quiser, sem que estejam, dessa forma, incumprindo norma alguma.
Não sentimos a obrigação moral de obedecê-lo e não fazê-lo não fere a nossa
consciência.

Já no costume há a ideia de obrigatoriedade, isto é, sentimo-nos moralmente


obrigados a obedecê-lo.
Se não o fizermos, podemos esperar alguma forma de sanção, mesmo que informal.
Por exemplo: se alguém visita minha casa, sinto-me compelido a cumprimentar a
pessoa. Se não o fizer, sinto não só que estarei ser ml educado, mas também que
estarei a violar um ritual tido como socialmente obrigatório.
A questão principal aqui é o animus, a vontade: se me sinto obrigado a obedecer,
então trata-se de um costume. Se não, é apenas uso.
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1.2 - Características da Norma Jurídica

A ordem jurídica expressa-se através de normas jurídicas, que são regras de


conduta social gerais, abstratas e imperativas, adotadas e impostas de forma
coercitiva pelo Estado, através de órgãos ou autoridades competentes.

A norma jurídica é o elemento básico do Direito.

Correspondem a normas de conduta social mas que exprimem a ligação da situação


da vida à necessidade de uma conduta, concluindo com uma consequência para a sua
violação.
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Os elementos da norma jurídica são três: a previsão, a estatuição e a sanção.

Previsão:

A previsão corresponde ao acontecimento ou estado de coisas que se prevê na norma.

Com efeito, toda e qualquer norma jurídica prescreve padrões de conduta adequados subsumir
às situações futuras, sendo que a previsão consubstancia uma “representação dessa situação
futura”.

Tal situação da vida, geralmente, é caracterizada de forma geral e abstracta, a subsumir a casos
concretos futuros, com vista a contemplar todas as situações futuras.
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Exemplo de previsão – Artigo 1323º, n.º 1 C.C.:

“Aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel perdida e souber a quem pertence deve
restituir o animal ou a coisa a seu dono ou avisar este do achado”

Estatuição

A estatuição corresponde às consequências jurídicas que se estatuem para o caso de a previsão


se verificar – é o efeito jurídico.

Na verdade, toda a norma faz corresponder à respectiva previsão uma estatuição, ou seja, a
necessidade de uma conduta.

Essa necessidade de conduta designa-se, em relação a cada pessoa a quem se dirige, dever ou
obrigação em sentido amplo.
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Em toda a norma jurídica a estatuição é sempre geral e abstracta, sob pena de se tratar de um
mero preceito singular e concreto.

Exemplo de estatuição – Artigo 1323º, n.º 1 C.C.:


“Aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel perdida e souber a quem pertence deve
restituir o animal ou a coisa a seu dono ou avisar este do achado”

Sanção

A sanção pode ser entendida como um elemento da norma jurídica, ou no entender do Professor
Castro Mendes, como um elemento do sistema jurídico.

As normas são jurídicas porque integram o sistema jurídico, sendo que o sistema é jurídico
porque comporta meios de coacção.
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Imperatividade:
A norma jurídica estabelece um comando, porque impõe uma certa conduta e não
se limita a dar conselhos.

Generalidade e Abstracção:
A norma jurídica refere-se a todas as pessoas e não a destinatários singularmente
determinados. A sua abstração resulta de não se direcionar para um caso concreto.

Coercibilidade:
Consiste na suscetibilidade de aplicação coativa de sanções, se a norma for violada.
O Estado pode impedir e reprimir a violação da norma.
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Violabilidade:

Dirigindo-se a norma a pessoas livres, pode a mesma ser violada pelos seus
destinatários, ou seja, padece a mesma da susceptibilidade de ser violada ou não
acatada.
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1.3 - Distinção entre Direito Público e Direito Privado

Cada norma é parte de um sistema global e o seu sentido não pode ser apreendido
isoladamente. No entanto, as necessidades práticas de aplicação do direito deram
origem a uma divisão do sistema jurídico em grandes grupos de normas, assentes em
princípios comuns, os chamados ramos de direito.

Uma distinção muito antiga é a que divide o Direito em DIREITO PRIVADO


e DIREITO PÚBLICO.
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O Direito Comercial

Noção e âmbito
Direito Comercial é ramo de direito em que tradicionalmente são abordadas e
estudadas as Sociedades Comerciais, na sua qualidade de sujeitos de Direito
Comercial.

O Direito Comercial regula a atividade dos sujeitos económicos mais relevantes


no mercado: os comerciantes, ou seja, empresários mercantis em nome individual ou
organizados em sociedades comerciais, que se caracterizam essencialmente pela
profissionalidade dos seus atos.
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O Direito Comercial visa regular ainda de certos negócios que, por serem típicos
da vida mercantil, estão sujeitos a um regime próprio, independentemente da
qualidade dos respetivos sujeitos e da intensidade (repetida ou esporádica) com
que são praticados.

De acordo com o artigo 1.º do Código Comercial:


A «lei comercial rege os atos do comércio, sejam ou não comerciantes as pessoas que
nele intervêm».

O direito comercial não é, pois, simplesmente o direito dos comerciantes, mas, sim, o
direito da matéria comercial.
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Não é, apenas, o comércio propriamente dito que é disciplinado por este direito.
Também, algumas indústrias, como a transformadora e a de transportes são reguladas
pelo direito comercial.

As razões que levaram à autonomização de um conjunto de preceitos que


regulassem a atividade comercial estão relacionadas com as características
particulares desta atividade:
• Rapidez das transações ( compromisso no qual há uma negociação).
• Necessidade de crédito

Requisitos que as normas do Direito Civil não tinham em conta.


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Características do Direito Comercial:


➢ Simplicidade
➢ Facilidade de crédito
➢ Universalidade
➢ Uniformidade

O Direito civil é, pois, subsidiário do direito comercial, ou seja, quando


determinado caso não possa ser solucionado à luz da lei comercial recorrer-se-á ao
direito civil.
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2 – A Empresa e o Direito:
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2.1 Tipos de Empresa:

A palavra «empresa» traduz um conceito atual que qualquer pessoa tende a


identificar com a ideia de negócio, estabelecimento, organização para a
exploração de uma atividade, como contraponto às antigas «oficinas», «ateliers».

Quais as razões que levam os indivíduos a procurarem organizar-se?

• Razões sociais
• Razões materiais
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Empresas – Definição e objectivos

As empresas são atualmente os agentes económicos preponderantes na formação da


riqueza de uma região ou país.
Na perspetiva da economia, empresa é uma «unidade de produção», ou «uma unidade
de exploração económica», ou «uma unidade técnica de produção», uma organização
com o objetivo de criar utilidades, sob a forma de bens ou serviços, para obter o lucro.

A empresa é a organização dos factores de produção (capital, trabalho) com o fim


de obter um lucro.
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Objectivo:

A maximização do lucro é o critério de organização e de gestão empresarial típico das


economias de mercado e também o objetivo fundamental de todas as empresas.
O lucro é a diferença entre receitas resultantes da venda de bens e o custo da
produção desses mesmos bens.
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A atividade do empresário há-de exercer-se através de uma organização que lhe sirva
de instrumento.

Resumindo, empresa é:
• Em sentido subjetivo, o comerciante;
• Em sentido objetivo, a atividade que o comerciante exerce profissionalmente,
servindo-se de uma organização que é o estabelecimento comercial.
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O Código Comercial diz quais são os atos de comércio:

Todos os que se encontrem especialmente regulados no Código Comercial, ou seja,


aqueles que são sempre comerciais, independentemente da qualidade de comerciante
de quem os pratica - são os atos de comércio objetivos.

Todos os atos praticados pelos comerciantes, exceto se a sua natureza for


exclusivamente civil (por exemplo, o casamento, adopção, testamento,…) - são os atos
de comércio subjetivos.
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Os comerciantes estão vinculados a determinadas obrigações:


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Estas obrigações a que os comerciantes estão vinculados têm por objetivo geral o
exercício do comércio de uma forma segura.

Especialmente, os objetivos destas obrigações são os seguintes:


❖ A firma tem por fim distinguir os comerciantes uns dos outros;
❖ A escrituração, o balanço e a prestação de contas têm por fim dar a conhecer a
situação económica do comerciante;
❖ O registo tem a finalidade de publicitar os atos dos comerciantes.
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2.1 Tipos de Empresas:

As empresas podem ser classificadas de acordo com vários critérios:


• Sector de actividade;
• Dimensão;
• Propriedade do seu Capital;
• Forma Jurídica;
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➢ Sector de actividade:

▪ Empresas do sector primário - conjunto de atividades económicas que


produzem matéria prima. Muitos dos produtos do sector primário são
considerados como matérias-primas levadas para outras indústrias, a fim de se
transformarem em produtos industrializados.
Exemplos: Agricultura, Pecuária, Caça, Pesca.

▪ Empresas do sector secundário: É o setor da economia que transforma produtos


naturais produzidos pelo setor primário em produtos de consumo, ou em
máquinas industriais
Exemplos: Indústria, Construção Civil.
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▪ Empresas do sector terciário: É definido pela exclusão dos dois outros sectores.
Envolve a comercialização de produtos em geral, e a oferta de serviços comerciais,
pessoais ou comunitários a terceiros.
Exemplos: Transportes, Distribuição, Prestação de serviços.

Identifica-se o desenvolvimento de um país com o peso do sector secundário e


terciário em relação ao sector primário.
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➢ Dimensão:

• Micro-empresa: até 10 trabalhadores, na média do ano civil antecedente;


• Pequena empresa: entre 11 e 50 trabalhadores; Volume de negócios anual inferior
a 7 milhões de Euros ou; Balanço anual que não exceda os 5 milhões de Euros.
• Média empresa: entre 51 e 250 trabalhadores; Volume de negócios anual que não
exceda 40 milhões de Euros ou; Balanço anual que não exceda 27 milhões de
Euros.
• Grande empresa: mais de 250 trabalhadores.
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➢ Propriedade do seu capital:

A classificação quanto à propriedade do seu capital:


A distinção mais usual é entre empresas públicas e empresas privadas:
• Empresas públicas: empresas cujo capital é detido pelo Estado ou por instituições
por ele directamente controladas;
• Empresas privadas: empresas cujo capital é detido por pessoas individuais ou por
instituições privadas;
• Empresas de capitais mistos: empresas cujo capital é detido simultaneamente
pelo Estado e por entidades privadas.
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➢ Forma Jurídica:

O proprietário de uma empresa pode ser apenas uma pessoa, caso das empresas
individuais, como podem ser mais de uma, formando sociedades.
Existem as seguintes modalidades na legislação portuguesa:
• Empresa Individual - Empresário em Nome Individual
• Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada (E.I.R.L.)
• Sociedade por Quotas
• Sociedade Unipessoal por Quotas
• Sociedade Anónima
• Sociedade em Nome Colectivo
• Sociedade em Comandita
• Empresas Públicas
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2.1.1 Empresas Singulares:


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2.1.2 Empresas Colectivas:

A sociedade comporta duas realidades diferentes que se justapõem:


• Sociedade como contrato, através do qual se prosseguem determinados
objetivos e que supõe a participação de pessoas;
• Sociedade como instituição, a sociedade que resulta do ato de constituição, que
será uma estrutura devidamente organizada.

O contrato de sociedade é definido no Código Civil:


«aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir com bens ou serviços
para o exercício em comum de certa atividade económica, que não seja a de mera
fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa atividade».
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A sociedade tem, assim, como características:

• Uma pluralidade de pessoas como seu substrato;


• A ideia de colaboração entre as pessoas numa atividade com vista a um
objetivo que é o lucro;
• Conjugação de bens, isto é, um fundo comum que constituirá o património
social;
• Uma organização que seja a base de realização dos objetivos.

De referir que os sócios das sociedades, tanto podem ser pessoas singulares, como
pessoas coletivas, como por exemplo outras sociedades.
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O contrato de sociedade para que seja válido, além dos requisitos de validade
gerais, deve conter os seguintes requisitos:
• Capacidade das partes;
• Objeto possível e legal;
• Mútuo consentimento;
• Adotar a forma escrita;

As sociedades compram, vendem, intentam ações em Tribunal.


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São, assim, duas as condições para que se possa qualificar a sociedade como
comercial:
• O fim (exercício do comércio);
• A forma (adoção de um dos tipos previstos na lei).
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Empresas Singulares:

A) Empresa individual – Empresário em Nome Individual

O Proprietário e gestor são uma e a mesma pessoa, que é pessoalmente


responsável por todas as atividades da empresa. Afeta os bens próprios à
exploração do seu negócio.

Responde ilimitadamente perante os credores pelas dívidas (incluindo dívidas


fiscais e no caso de falência) contraídas no exercício da sua atividade.
Nem sempre estas empresas individuais assumem uma forma jurídica regular e raras
as vezes têm contabilidade organizada.
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Apesar da sua muita pequena dimensão e aparente fragilidade, as empresas em


nome individual são muito numerosas, mesmo nas economias mais
desenvolvidas.

A firma deverá ser constituída pelo nome civil completo ou abreviado do


proprietário, seguido ou não da atividade a que se dedica.

Exemplos: Maria José Abreu, M. J. Abreu, Maria José Abreu – Artesanato


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Vantagens:
Ser proprietário único é poder manter um controlo pronto, direto e completo
sobre a empresa e as suas atividades.

Desvantagens:
A dimensão da empresa fica sempre limitada ao volume de recursos que o único
proprietário pode dispor;
O único proprietário é responsável, perante a lei, por todas as dívidas da empresa,
podendo ser citado judicialmente.
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B) Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada (EIRL)

Esta figura foi criada em Portugal em 1986 (Regime Jurídico - DL n.º 248/86, de 25
de Agosto).

Com a criação das sociedades unipessoais, os Estabelecimentos Individuais de


Responsabilidade Limitada (EIRL) passaram a ser quase inexistentes.

Esta forma de constituição de empresa permite ao empresário individual afetar


apenas uma parte do seu património a eventuais dívidas da empresa.
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Legislação Comercial

Capital: capital mínimo de 5.000€, dos quais um terço é obrigatório encontrar-se


em forma monetária (3333.33€), podendo coisas ou direitos susceptíveis de penhora
perfazer o resto do capital mínimo mencionado (nº 1 e nº 3 do art. 3º do D.L. nº
248/86).

Existe uma separação entre o património pessoal do empreendedor e o


património afeto à empresa, pelo que os bens próprios do empreendedor não se
encontram afetos à exploração da atividade económica.
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Pelas dívidas resultantes da EIRL respondem apenas os bens afectos à


empresa, com uma excepção – em caso de falência do titular com uma causa
relacionada com a actividade da empresa, o empresário responde com todo o
seu património pessoal e da empresa pelas dívidas contraídas (contanto que
se prove que não decorria uma separação total dos bens).

Criação da Empresa: apenas possível no método tradicional.


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Legislação Comercial

A firma deve ser composta pelo nome civil, por extenso ou abreviado, do
empreendedor. Este nome pode ser acrescido, ou não, da referência ao ramo de
atividade, mais o aditamento obrigatório Estabelecimento Individual de
Responsabilidade Limitada ou E.I.R.L.

Exemplos de Firma: R. F. Andrade, E.I.R.L.; R. F. Andrade, comércio de


equipamentos, E.I.R.L.
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Legislação Comercial
C) Sociedade Unipessoal por Quotas:

Sociedade constituída por um único sócio (pessoa singular ou pessoa colectiva).

Firma: contém a palavra “Unipessoal” ou a expressão “Sociedade Unipessoal”,


seguida de “Limitada” ou a correspondente abreviatura “Lda”.

Capital: valor mínimo de 1€, detido por pessoa singular ou colectiva, em


dinheiro ou em bens avaliáveis em dinheiro.
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Legislação Comercial

Responsabilidade limitada ao montante do capital social.


Podem ser criadas Empresas na “empresa online” e nos balcões “empresa na hora”.
Pode ser transformada em sociedade por quotas plural.

Vantagens:
• Total controlo do proprietário sobre o negócio;
• Património pessoal do proprietário não responde pelas dívidas contraídas pela
empresa, visto que se encontra separado do património da mesma.

Desvantagens
• Maior complexidade na constituição da empresa;
• Sem vantagens fiscais;
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Empresas Colectivas / Sociedades Comerciais

A) Sociedade em Nome Colectivo:

Este tipo de sociedade não exige um montante mínimo obrigatório para o capital
social.

É uma sociedade de responsabilidade ilimitada em que os sócios respondem


ilimitada e subsidiariamente em relação à sociedade e solidariamente entre si
perante os credores sociais.
O sócio para além de responder individualmente pela sua entrada, responde pelas
obrigações sociais, subsidiariamente em relação à sociedade e solidariamente com os
outros sócios, ou seja, o seu património pessoal pode ser afetado.
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Legislação Comercial

A firma pode ser composta pelo nome, completo ou abreviado, o apelido ou a


firma de todos, alguns ou, pelo menos, de um dos sócios, seguido do aditamento
obrigatório por extenso "e Companhia", abreviado e "Cia" ou qualquer outro
que indicie a existência de mais sócios, nomeadamente "e Irmãos";
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B) Sociedade por Quotas:

É uma sociedade de responsabilidade limitada, ou seja, apenas o património da


sociedade responde perante os credores pelas dívidas da sociedade.

Este tipo de sociedade é composta por dois ou mais sócios, não sendo admitidas
contribuições de indústria (ou seja, o trabalho dos sócios, a sua habilidade e os seus
conhecimentos técnicos ou profissionais não são considerados para o capital social da
empresa.)
Na Sociedade por Quotas o capital social está dividido em quotas e a cada sócio
fica a pertencer uma quota correspondente à sua entrada. Os sócios são
solidariamente responsáveis por todas as entradas convencionadas no contrato
social.
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Legislação Comercial

As sociedades por quotas até 2011 eram obrigadas a apresentar um capital social
superior a 5.000€.

Desde 2011, deixou de haver um limite mínimo para o capital social, podendo os
sócios fixar livremente o valor do capital.

O capital social é representado por quotas, que poderão ter ou não um valor idêntico
(mas nunca inferior a 1 € cada), ou seja, na pratica o capital social mínimo nunca
será inferior a 2 €.

No caso de a realização do capital social ser superior ao mínimo legal, não tem de ser
integralmente realizado no momento da constituição
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Legislação Comercial

Contudo, o capital realizado em dinheiro à data da constituição deve perfazer o


capital mínimo fixado na lei e deve ser depositado em instituição de crédito.

Apenas o património social responde para com os credores pelas dívidas da


sociedade, salvo acordo em contrário, sendo que nesse caso se pode estipular que um
ou mais sócios, além de reponderem pela sociedade respondem também perante os
credores sociais até determinado montante.

A firma deve ser formada:


• Pelo nome ou firma de todos ou alguns dos sócios, por denominação social ou por
ambos, acrescido de “Lda”.
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Legislação Comercial
C) Sociedade em Comandita:

Trata-se de uma sociedade mista, pois existem dois tipos de sócios:


Comanditados – contribuem com bens ou serviços
Comanditários – contribuem com capital, assumem a gestão e a direcção efectiva da sociedade.

Duas espécies de sócios, com regimes de responsabilidade diferentes:

• Os sócios comanditados assumem responsabilidade pelas dívidas da sociedade,


nos mesmos termos dos sócios das sociedades em nome colectivo.
• Os sócios comanditários não respondem por quaisquer dívidas da sociedade, à
semelhança do que acontece com os sócios das sociedades anónimas. Respondem,
apenas, pelas suas entradas.
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Legislação Comercial
Mas dentro deste tipo de sociedades, e pelo que toca às participações sociais,
surgem-nos dois sub-tipos:
➢ Sociedades em Comandita Simples
➢ Soceidades em Comandita por Acções

Nas sociedades em comandita simples: as participações de ambas as espécies de


sócios, comanditados e comanditários, denominam-se partes sociais; e, tal como as
participações homólogas das sociedades em nome coletivo, não são representadas
por quaisquer títulos;
✓ Não há representação do capital por acções.
✓ Subsidiariamente, aplica-se o regime das sociedades em nome colectivo.
✓ N.º mínimo de sócios: 2
Legislação Comercial 79

Nas sociedades em comandita por ações: as participações dos sócios comanditados


são igualmente partes sociais; mas as participações dos sócios comanditários são ações
tituladas e regidas pelos preceitos próprios do regime das sociedades anónimas, tal
como é decalcada no das Sociedades Anónimas o seu regime organizacional.

Contrato de sociedade deve indicar os sócios comanditados e os comanditários bem


como a indicação de que se trata de uma sociedade em comandita por acções ou
comandita simples.

✓ Só as participações dos sócios comanditários são representadas por acções.


✓ N.º mínimo de sócios comanditários: 5
✓ Subsidiariamente aplica-se o regime das sociedades anónimas.
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Legislação Comercial
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Legislação Comercial
D) Sociedade anónima:

É uma sociedade de responsabilidade limitada em que os sócios limitam a sua


responsabilidade ao valor das ações por si subscritas, pelo que os credores da
sociedade só se podem fazer pagar pelo património da sociedade.

O elemento fundamental deste tipo de sociedades é o capital, que é o titulado por


um grande número de pequenos acionistas ou por um pequeno número de grandes
acionistas com poder financeiro. Assim, é o tipo de sociedade adequado à realização
de grandes investimentos.

O capital social está dividido em ações que se caracterizam pela facilidade de


transmissão.
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Legislação Comercial

O número mínimo de sócios, normalmente chamados acionistas, é cinco, não


sendo admitidos sócios de indústria.

É possível constituir uma sociedade anónima com um só sócio, desde que este
seja uma sociedade (os sócios das sociedades podem ser pessoas singulares ou
pessoas coletivas, nomeadamente sociedades).

O capital social não pode ser inferior a €. 50 000 e encontra-se dividido em


ações, cujo valor nominal não pode ser inferior a um cêntimo.

As ações têm todas o mesmo valor nominal e são representadas por títulos.
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Legislação Comercial

A subscrição das ações pode ser pública ou particular.


Pública quando qualquer pessoa tem a faculdade de subscrever uma ou mais ações
para o capital social e particular quando o capital social for subscrito apenas pelos
sócios fundadores.

As ações podem ser:


•Nominativas: transmitem-se pela declaração do seu titular escrito no título.
•Ao portador: a transmissão opera-se por mera transferência do título para outrem.

Cada acção detida dá direito a um voto na Assembleia Geral (constituída por


todos os accionistas e que reúne pelo menos, uma vez por ano) e também à
recepção de um dividendo (parcela dos lucros apurados no ano anterior).
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Legislação Comercial
A sociedade chama-se anónima porque estas acções (sendo títulos representativos
de participação no capital da empresa) podem mudar frequentemente de mãos e, a
cada momento, nem sempre se sabe muito bem quem é que as possui.

A esmagadora maioria das empresas de grande dimensão assume esta forma jurídica.

A regulamentação da sociedade anónima está estipulada nos artigos 271.º a 464.º do


Código das Sociedades Comerciais (CSC), (Decreto Lei nº 343/98, de 6 de Novembro)
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Legislação Comercial
Os órgãos da sociedade anónima são:
• Assembleia geral - órgão deliberativo.
• Conselho de Administração – órgão executivo.
• Conselho Fiscal – órgão fiscalizador.

A assembleia geral é convocada pelo presidente da mesa através de publicação


com antecedência de um mês.
As deliberações da assembleia geral são tomadas por maioria de votos,
salvo se o contrato ou a lei exigir maior número de votos.
Em regra, a cada ação corresponde um voto, mas o contrato pode estabelecer
de modo diferente. As deliberações da assembleia geral são reduzidas a escrito, em
atas.
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Legislação Comercial

A administração é normalmente eleita pela assembleia geral e cabe-lhe gerir as


atividades da sociedade.

Cada ação detida dá direito a um voto na Assembleia Geral (constituída por todos
os acionistas e que reúne, pelo menos, uma vez por ano) e também à receção de um
dividendo (parcela dos lucros apurados no ano anterior).

Vantagens:
• É encarada pela lei como uma entidade totalmente distinta dos indivíduos a
quem pertence.
• Este processo de financiamento da sociedade anónima implica normalmente que
nem os possuidores da empresa possam ser os gestores, permitindo uma certa
divisão das funções de decisão, oferta de capital e de aceitação de risco.
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Legislação Comercial

• Para os accionistas, o aspecto mais importante de uma sociedade por acções, é


a responsabilidade limitada que esta forma jurídica lhes assegura.
• A grande vantagem da sociedade anónima é a de poder atrair o financiamento
de um número alargado de pessoas.
• Poder reunir e realizar uma grande quantidade de capital, permitindo financiar a
constituição de unidades de grande dimensão e a posterior expansão das suas
actividades.
• Como as acções são fáceis e directamente transferíveis , a sociedade por acções
pode ter uma vida praticamente independente das mudanças frequentes dos
seus proprietários accionistas.
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Legislação Comercial

Desvantagens:
• A influência do accionista individual sobre a gestão da empresa ser
normalmente pequena.
• Tributação dos rendimentos da actividade empresarial. A empresa paga
impostos sobre os lucros que obtém (IRC), tal como os accionistas pagam imposto
sobre os dividendos que recebem (IRS).
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Legislação Comercial

E) Sociedades Civis:

Além de sociedades comerciais, existem as Sociedades civis.

As Sociedades Civis são aquelas que não têm por fim a prática de atos do comércio,
nem adotaram um dos tipos previstos na lei comercial.

Exemplos: Associações, Órgãos de defesa do consumidor, grupos ambientalistas.

Distingue-se entre sociedades civis sob a forma comercial e sociedades civis


simples.
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Legislação Comercial

Sociedades civis sob forma comercial

Caracterizam-se pela circunstância de não terem por objeto a prática de atos de


comércio nem o exercício de quaisquer atividades previstas no Código Comercial. No
entanto, a lei comercial portuguesa admite a possibilidade dessas sociedades
civis adotarem as formas comerciais para efeito de estruturação das quatro formas
que pode revestir a sociedade comercial.

Neste caso, passam a chamar-se sociedades civis sob forma comercial e ficam,
sujeitas às disposições do Código das Sociedades Comerciais. No entanto, não
ficam sujeitas a um conjunto de obrigações específicas das sociedades
comerciais. São pessoas coletivas com personalidade jurídica.
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Legislação Comercial

Sociedades civis simples

São aquelas que não têm por objeto a prática de atos comerciais e estão sujeitas
ao regime do Código Civil. Estas sociedades civis simples, distinguem-se das
sociedades civis sob forma comercial, dada a forma que revestem, que está
relacionada com a sua organização formal.
Encontram-se subordinadas ao regime da lei civil (Código Civil).

No que toca à responsabilidade dos sócios, segue-se o modelo de


responsabilidade dos sócios das sociedades em nome coletivo. Para além da
responsabilidade dos bens de entrada, existe responsabilidade pessoal e solidaria
pelas dívidas sociais.
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Legislação Comercial
F) Outros Casos:

A Sociedade Cooperativa é uma pessoa jurídica formada a partir da vontade de um


grupo, delimitado por uma dificuldade econômica, que constitui a sociedade
unicamente para prestar-lhe serviços diretos, obrigando-se, os membros do grupo, a
contribuírem com bens e serviços para exercício de uma atividade de proveito comum.

Estas empresas são possuídas pelo colectivo de todos quantos nela trabalham
(cooperativas de produção) ou pelo colectivo dos seus utentes (cooperativas de
consumo e de habitação, por exemplo).
Regra geral, são pequenas ou médias empresas
O caso mais frequente é o de algumas actividades ligadas à agricultura, como
sejam os lacticínios, o vinho e o azeite.
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Legislação Comercial

As Empresas Públicas são possuídas pelo Estado (Administração Central, Regional ou


Local), podendo ser o resultado de nacionalizações.

São geridas por um conselho de administração, com maior ou menor autonomia,


nomeado pelo Governo.
Podem prosseguir ou não fins lucrativos, mas num sistema de economia de mercado
devem actuar em concorrência, mesmo quando uma parte das suas receitas provém
de subsídios do Estado (ou indemnizações compensatórias pela prestação de um
serviço de utilidade pública).

Regra geral são empresas de grande dimensão, em sectores de actividade de


grande peso no conjunto da economia da região ou país.
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Legislação Comercial

Processo de criação de uma Empresa:

Ainda que seja complexo, o processo de criação de uma empresa tem vindo a evoluir
gradualmente no sentido de melhor poder satisfazer todos os cidadãos e empresários.

Formalidades para criação da empresa:


Com o desenvolvimento das novas tecnologias e a emergência do governo
Electrónico, o método tradicional de criação de uma empresa tem vindo a sofrer
algumas alterações.
Existem actualmente três formas distintas para a criação de uma empresa:
• Criação da empresa “Método Tradicional”
• Criação da empresa online
• Criação da empresa na hora
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Legislação Comercial

Método Tradicional:

1) Certificado de Admissibilidade
O pedido de Certificado de Admissibilidade é o primeiro procedimento a efectuar,
seja qual for o estatuto jurídico escolhido para a empresa.

A entidade responsável: Registo Nacional de Pessoas Colectivas (RNPC)

O constituinte ou um dos sócios da empresa deve solicitar:


•Certificado de Admissibilidade
•Respectivo Cartão da Empresa e o Cartão de Pessoa Coletiva
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Legislação Comercial

2) Cartão de Empesa e o Cartão de Pessoa Colectiva


É sempre disponibilizado em suporte electrónico e também pode ser disponibilizado
em suporte físico, a pedido dos interessados.

É um documento de identificação múltipla de pessoas colectivas e entidades


equiparadas que contém o Número Identificação de Pessoa Colectiva (NIPC) que,
à excepção dos comerciantes/ empresários individuais e estabelecimentos individuais
de responsabilidade limitada, corresponde ao Número de Identificação Fiscal (NIF) e
ao Número de Inscrição na Segurança social (NISS).
Contém ainda, o CAE principal e até 3 CAE’s secundários, a natureza jurídica da
entidade e data da sua constituição.
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Legislação Comercial
3) Depósito do Capital Social da Empresa:
O capital da sociedade deve ser depositado em instituições de crédito numa conta
aberta em nome da futura sociedade.

4) Pacto ou acto constitutivo da Sociedade:


Tendo cumprido todos os passos anteriores já é possível efectuar o pacto ou acto
constitutivo de sociedade.
A documentação a apresentar perante a entidade tituladora é a seguinte:
• Certificado de Admissibilidade;
• Documento comprovativo de que o depósito do capital social foi efectuado ou
declaração dos sócios de que procederam ao depósito;
• Documento de identificação de todos os sócios;
• Outros documentos que se revelem necessários.
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Legislação Comercial

5) Declaração do início de actividade:


No prazo de 15 dias após a apresentação do registo deve ser apresentada a
declaração de início de actividade num Serviço de Finanças.

6) Registo Comercial:
Para efectuar o registo da empresa é necessário promover o registo junto de uma
Conservatória de Registo Comercial e levar:
• Fotocópia autenticada da escritura;
• Certificado de Admissibilidade;
• Autorizações administrativas exigíveis para a constituição;
• Relatório de ROC, relativo à avaliação das entradas em espécie, se as houver.
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Legislação Comercial

A conservatória promove oficiosamente a publicação do registo na Internet e


comunica o acto ao RNPC para efeitos de inscrição no Ficheiro Central de Pessoas
Colectivas.

7) Inscrição na Segurança Social:


A inscrição das entidades empregadoras na Segurança Social é um acto
administrativo, mediante o qual se efectiva a vinculação ao Sistema de Solidariedade
e Segurança Social, atribuindo-lhes a qualidade de contribuintes.
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Legislação Comercial

Empresa na Hora:

Através deste processo passa a ser possível a constituição de sociedades num


único balcão e de forma imediata.
✓ Não é necessário obter o certificado de admissibilidade da firma, junto do RNPC;
✓ Deixa de ser necessária a celebração de escritura pública;

No momento da constituição é comunicado o código de acesso ao cartão electrónico


da empresa, o NISS (nº. de identificação da seg. social)e ficam, desde logo, na posse
da empresa o pacto social e o Código de Acesso à Certidão Permanente do registo
comercial pelo prazo de um ano ou, em alternativa pelo prazo de três meses
acompanhada de certidão em papel.
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Legislação Comercial

✓ O registo do contrato da sociedade é publicado de imediato no sítio


http://www.mj.gov.pt/publicacoes.

É atribuído registo de domínio na Internet.pt a partir da firma da empresa. Esta


funcionalidade é assegurada pela Fundação para a Computação Cientifica Nacional
(FCCN) e é gratuita durante o primeiro ano de vida da empresa.

Em pouco menos de uma hora é possível constituir uma sociedade unipessoal


por quotas, uma sociedade por quotas ou uma sociedade anónima.
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Legislação Comercial
Empresa Online:

O regime jurídico da Empresa Online permite a constituição por via electrónica,


das seguintes sociedades comerciais:
• Por quotas
• Unipessoais por quotas
• Anónimas

Excepção:
• As sociedades cujo capital seja realizado com recurso a entradas em espécie em
que, para a transmissão dos bens com que os sócios entram para a sociedade, seja
exigida forma mais solene do que a forma escrita.
• Sociedade anónimas europeias.
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Legislação Comercial

O acesso ao serviço da criação da Empresa Online faz-se através do Portal da


Empresa.

O cartão de cidadão permite o acesso a este serviço através dos certificados


digitais.
O apresentante que inicia o processo de criação terá de proceder à sua autenticação
no Portal da Empresa, recorrendo ao seu Certificado Digital.
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Legislação Comercial

3 - Contratos Comerciais mais usuais:


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Legislação Comercial
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Legislação Comercial
Requisitos de validade:

Capacidade Jurídica: Envolve a capacidade de gozo (ser sujeito de direitos) e a


capacidade de exercício (capacidade de exercer os direitos).

Mútuo Consenso: Concordância das duas partes (proposta e aceitação).

Objecto Possível: Finalidade de um determinado contrato, ou seja, a coisa que o


determina (física e legalmente possível, conforme a ordem pública e os bom
costumes).

Forma externa: Documento onde se encontram escritas todas as clausulas, de acordo


com a documentação legal (contrato formal) ou não (contrato consensual).
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Legislação Comercial

O contrato é uma das fontes as obrigações.

Alguns dos princípios de direito associados aos contratos são o Princípio da


liberdade contratual, o Princípio da autonomia privada e o princípio do Pacta
sunt servanda (do Latim "Acordos devem ser mantidos“).

Os contratos estão regulados no Código Civil e alguns deles são tipificados.

Muitos destes contratos civis são considerados também comerciais, verificadas certas
circunstâncias.
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Legislação Comercial

3.1 - Contrato de Compra e Venda:

Quanto a natureza dos contratos compra e venda, os contratos podem ser de:
• Natureza Comercial
• Natureza Civil
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Legislação Comercial

A compra e venda tem natureza comercial quando uma das partes – vendedor –
transfere para outra – comprador – mediante preço convencionado, a propriedade de
qualquer coisa que o comprador destine a revenda ou aluguer, ou que o vendedor
tenha adquirido com o fim de revender.

São considerados de natureza comercial:


a) As compras de coisas móveis para revender, em bruto ou trabalhadas, ou
simplesmente para alugar;
b) As compras, para revenda, de fundos públicos ou de quaisquer títulos de crédito
negociáveis;
c) A venda de coisas móveis, em bruto ou trabalhadas, e as de fundos públicos e de
quaisquer títulos de crédito negociáveis, quando a aquisição houvesse sido feita no
intuito de as revender;
d) As compras e revendas de bens imóveis ou de direitos a eles inerentes, quando
aquelas, para estas, houverem sido feitas;
e) As compras e vendas de partes ou de ações de sociedades comerciais.
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Legislação Comercial

São considerados de natureza civil (não comercial):


a) As compras de quaisquer coisas móveis destinadas ao uso ou consumo do
comprador ou da sua família e as revendas que porventura desses objetos se venham
a fazer;
b) As vendas que o proprietário ou explorador rural faça dos produtos de propriedade
sua ou por ele explorada e dos géneros em que lhe houverem sido pagas quaisquer
rendas;
c) As compras que os artistas, industriais, mestres e ofícios mecânicos que exercerem
diretamente a sua arte, indústria ou oficio fizerem de objetos para transformarem ou
aperfeiçoarem nos seus estabelecimentos e as vendas de tais objetos que fizerem
depois de assim transformados ou aperfeiçoados;
d) As compras e vendas de animais feitas pelos criadores.
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Legislação Comercial

O contrato referido percorre habitualmente quatro etapas essenciais, cada uma


com características próprias:

1. Encomenda -Fase em que se expressa a intenção de compra por parte do


comprador.
2. Entrega - Fase em que se processa o envio das mercadorias pelo vendedor.
3. Liquidação - Fase do apuramento e fixação dos preços a pagar pelo comprador.
4. Pagamento - Fase referente ao cumprimento da obrigação por parte do
comprador, mediante a entrega total ou parcial da importância atribuída à sua
compra.
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Legislação Comercial

É usual os contratos mencionarem os seguintes elementos, úteis para o


processamento do controlo administrativo:

1. Os elementos de identificação do fornecedor/cliente;


2. O objeto do contrato, suficientemente especificado;
3. O prazo durante o qual se realizará o fornecimento dos bens ou as prestações
de serviços, com indicação das respetivas datas de início e termo;
4. As garantias financeiras oferecidas à execução do contrato;
5. A forma, os prazos e demais aspetos respeitantes ao regime de pagamentos.
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Legislação Comercial
3.2 - Contrato de Locação

O objecto da locação são coisas corpóreas, móveis ou imóveis.


• Aluguer: Quando incide sobre coisas móveis;
• Arrendamento: Quando incide sobre coisas imóveis.

É um contrato oneroso, aparecendo a renda como contrapartida da cedência.


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Legislação Comercial

Os efeitos essenciais da locação são:

• Para o locador por um lado, a obrigação de entregar a coisa locada e assegurar


o gozo desta para fins a que se destina e, por outro lado, o direito a receber a
renda;
• Para o locatário por um lado, fica com a obrigação de pagar a renda e por outro
lado, adquire o direito ao gozo da coisa por tempo determinado.
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Legislação Comercial

O arrendamento para comércio, indústria ou profissão liberal tem regras


diferentes das do arrendamento para habitação:

❑ O arrendatário pode transmitir a sua posição no arrendamento, sem que o


senhorio tenha de dar autorização, no caso de trespasse de estabelecimento
comercial. O senhorio tem, no entanto, direito de preferência, no trespasse.
❑ O trespasse de estabelecimento comercial consiste na transferência de um
estabelecimento comercial ou industrial e abrange, normalmente, todos os
elementos que o compõem.
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Legislação Comercial

Contrato de locação financeira (leasing)

A empresa X quer comprar três automóveis. Não podendo dispor, desde logo, do
valor necessário, celebra um contrato de leasing, isto é, adquire o uso dos
automóveis, mediante o pagamento de uma prestação mensal, podendo, no
final do período, adquirir a propriedade dos automóveis.
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Legislação Comercial

3.3 - Contrato de Prestação de Serviços:

O trabalhador não se coloca, por força do contrato que celebra com a outra parte,
numa situação de dependência ou subordinação como acontece no regime do
contrato de trabalho.

Aqui o trabalhador só se obriga a proporcionar a outrem o resultado do seu


trabalho, a ele pertencendo a liberdade de organizar e adoptar a estratégias que
entender necessárias para a prossecução do mesmo.
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Legislação Comercial

Modalidades do Contrato de Prestação de Serviços:

➢ Mandato:

É o contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar um ou mais actos jurídicos
por conta de outra.

Nesta modalidade a empresa, mandante, incumbe outrem, mandatário, de praticar um


ou mais actos jurídicos por conta daquela, ou seja no seu interesse, retribuindo este de
acordo com o combinado entre ambos, quando o mandatário não o faça
gratuitamente.
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Legislação Comercial

Para tanto a empresa poderá conferir ao mandatário poderes de representação


(mandato com representação) através de procuração (acto pelo qual alguém atribui a
outrem, voluntariamente, poderes representativos).
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Legislação Comercial

➢ Contrato de Empreitada:

É o contrato pelo qual uma das partes se obriga em relação à outra a realizar certa
obra, mediante um preço.

Trata-se de um contrato cujo objecto consiste num produto ou resultado e não


uma actividade ou disponibilidade da força de trabalho.
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Legislação Comercial

➢ Contrato de Utilização de Trabalho Temporário:

É o contrato pelo qual uma das partes se obriga a ceder à outra parte um conjunto de
trabalhadores, organizados por categorias profissionais, ou não, durante um
determinado período de tempo e contra uma retribuição.

É o tipo de contrato de que muitas empresas lançam mão, como forma de fazer
face às necessidades pontuais e temporárias de mão-de-obra, sem terem de
recrutar trabalhadores para os seus quadros.
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Legislação Comercial

Fim

Boa sorte!!!

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