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Texto de apoio
Revisão da disciplina
Neste texto, sem ter a pretensão de retomar todos os tópicos, destacarei assuntos
sobre os quais, ao longo do curso, os estudantes e as estudantes fizeram chegar
dúvidas, solicitações de esclarecimento e/ou complementação. Dos itens que
formularam, fiz um exercício de compressão em temas, a fim de compor um texto
orgânico e articulado. Assim, os tópicos abordados são: 1) a instrução no Império; 2) o
período entre as primeiras reformas republicanas, o Manifesto de 1932 e os embates
em torno da Constituinte de 1934; 3) as linhas gerais e os embates educacionais mais
marcantes nas constituições e leis de diretrizes e bases; 4) a configuração da LDBEN
9.394/96 e seus desdobramentos. Em razão do caráter retrospectivo, adequado à
finalidade fundamental dessa escrita, de retomar assuntos já tratados para permitir uma
boa revisão, não inclui informações ou análises que não tenham sido contempladas em
todas as nossas semanas de estudo.
1) A instrução no Império
O Brasil se tornou país independente em 1822, tendo-se separado politicamente do
Estado português, do qual era colônia. Desde 1808, entretanto, com a transferência da
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As famílias mais bem aquinhoadas, cujos chefes possuíam fazendas, eram comerciantes
ou altos funcionários de Estado, preferiam imitar os modelos da preceptoria e da
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A Lei de 1827, primeira lei de instrução pública no Brasil, ordenou que em todas as
cidades, vilas e lugares mais populosos do território fossem criadas escolas de primeiras
letras; instituiu o cargo de mestre (professor) público e definiu o ensino mútuo como
método oficial. Este consistia na distribuição, pelo mestre, de tarefas entre alunos mais
adiantados, para que desempenhassem a monitoria para os demais. Isso permitia que
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mais crianças pudessem ser ensinadas ao mesmo tempo, pelo menor número de
professores e, por extensão, com menor dispêndio de recursos. A invenção e difusão
desse método, que se orientava pela busca de uma relação mais favorável entre eficácia
e economia de recursos e esforços, é atribuída ao inglês Joseph Lancaster, razão pela
qual também é conhecido como “método lancasteriano”. Por várias razões, entretanto,
a escola pública do Império redundou em fracasso: havia poucos recursos, portanto,
poucas escolas; nem sempre as vagas para mestres e mestras eram preenchidas; os
mestres e mestras não tinham formação suficiente; a população a ser atendida era
muito pobre e não tinha condições de permanência nas escolas.
A reforma do ensino público de São Paulo foi iniciada pela Escola Normal. Por meio dela,
a formação de professores conheceu a ampliação de seu currículo e foram criadas as
escolas-modelo para a prática de ensino. Em 1894, foi inaugurado o edifício da Praça da
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A mais notável criação da reforma foram os grupos escolares, ou seja, escolas primárias
formadas pela reunião, em um mesmo edifício, de quatro a dez escolas isoladas. Os
grupos escolares foram instalados em ricos edifícios, conformes às prescrições
pedagógicas, e dispunham de várias salas de aula. O ensino neles ministrado deveria ser
simultâneo (ou seja, um professor para vários alunos), seriado e graduado, respeitando-
se a idade e o grau de instrução dos alunos. Os grupos seguiam os mesmos programas e
prescrições, relativos a material, disciplina, calendário, exames, matrículas, frequência e
higiene, adotavam o método intuitivo e o modelo de organização das escolas-modelo. A
escola paulista avançava no processo de “escolarização”, adquirindo as características
que consagraram o modelo graduado, disseminado no mundo ocidental ao passo da
urbanização, da industrialização e do avanço dos Estados Nacionais.
Porém, fora do “paraíso” dos grupos escolares, tanto no interior do Estado como além
do triângulo central paulistano subsistiam as “escolas isoladas”, a marcar a indesejada
continuidade da sombria escola imperial nos tempos luminosos da República. À medida
que chegavam aos bairros operários, instalados sem os mesmos recursos e critérios
observados para a implantação na área central, os grupos escolares adquiriam o aspecto
empobrecido dos bairros periféricos. As precárias condições de estrutura física dos
edifícios adaptados, a falta de mobiliário e materiais didáticos adequados e a ausência
de professores qualificados comprometiam as pretensões de eficácia e de uniformidade
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Ao longo dos anos 1920, a tônica das reformas da instrução pública era a difusão da
escola, a valorização da ciência e a racionalização dos métodos. Abraçando a ideia de
que a reforma da educação era um desafio apresentado por uma “sociedade em
mudança”, os educadores procuraram reformular o projeto antes calcado na
alfabetização. Atribuíram à escola reformar os costumes, civilizar o homem, modernizar
a sociedade, transformar os habitantes em povo e o país em nação. A regeneração
deveria vir da incorporação de hábitos salutares, conectados a uma “organização do
trabalho” apoiada pela escola. Um novo sistema de ensino deveria garantir a extensão
das oportunidades educacionais, promovendo a mobilidade social pelo mérito escolar.
Destacam-se na escola nova a supremacia dos métodos ativos, a centralidade da criança
e sua interação com a sociedade, a ênfase no aprender fazendo, o apelo ao trabalho
individual baseado no interesse, e a iniciação da criança no mundo do trabalho. Em
1932, surge o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, tendo como pauta para a
renovação educacional a escola única, laica, gratuita, obrigatória e mista.
VEIGA, Cynthia Greive. Escola pública para os negros e os pobres no Brasil: uma
invenção imperial. Revista Brasileira de Educação, v. 13, n. 39, p.502-516, set./dez.
2008.