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Eco, Humberto - Quase a Mesma


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FICHAMENTO

Realizado em: 26/05/2013

ECO, H. Quase a Mesma Coisa. Tradução de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Editora Record, 20

INTRODUÇÃO

(p. 9) O que quer dizer traduzir? A primeira e consoladora resposta gostaria de ser: dizer a mesm
outra língua. Só que, em primeiro lugar temos muitos problemas para estabelecer o que signif
mesma coisa” e não sabemos bem o que isso signific a por causa daquelas operações que ch
 paráfrase,
 paráfrase, definição, explicação, reformulação
reformulação para não falar das supostas substituições sinon
segundo lugar, porque, diante de um texto a ser traduzido, não sabemos também o que é a cois
em certos casos é duvidoso até mesmo o que quer dizer  dizer.

(p. 10) Eis o sentido dos capítulos que se seguem: tentar compreender como, mesmo sabendo qu
diz a mesma coisa, se pode dizer  quase a mesma coisa. A essa altura, o problema já não é tant
mesma coisa, nem a da própria coisa, mas a idéia desse quase. Quanto deve ser elástico
Depende do ponto de vista ...

(p. 10-11) Estabelecer a flexibilidade, a extensão do quase depende de alguns critérios que são
 preliminarmente.
 preliminarmente. Dizer quase a mesma coisa é um procedimento que se coloca, como veremos,
da negociação.

(p. 12) uma noção de tradução como negociação.

(p. 13) Pergunto-me se, para elaborar uma teoria da tradução, não seria igualmente necessário n
examinar muitos exemplos de tradução, mas ter vivido pelo menos uma dessas três exper
controlado traduções de outrem, ter traduzido e ter sido traduzido  –  ou, melhor ainda, ter sid
colaborando com o próprio tradutor.

(p. 13-14) Poder-se-ia observar que não é necessário ser poeta para elaborar uma boa teoria da po
se pode apreciar um texto escrito em uma língua estrangeira mesmo possuindo apenas uma c
eminentemente passiva dessa língua. Mas a objeção só se sustenta até certo ponto. De fato, m
nunca escreveu um poema tem uma experiência da própria língua e no curso da própria vida pode
(ou sempre poderia tentar) escrever um hendecassílabo,
hendecassílabo, inventar uma rima, representar metaforic
objeto ou um acontecimento. Mesmo quem tem competência passiva de uma língua estrangeira
sentiu como é difícil extrair dela frases bem formadas.

Considero portanto que, para fazer observações teóricas sobre o ato de traduzir, não é inútil t
experiência ativa ou passiva da tradução. Por outro lado, quando ainda não existia teoria da tradu
Jerônimo ao nosso século, as únicas observações interessantes sobre o tema foram feitas exat
quem traduzia, e são conhecidos os embaraços hermenêuticos de santo Agostinho, que preten
traduções corretas, mas tendo limitadíssimos conhecimentos de línguas estrangeiras (não
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língua. E se às vezes percebia impossibilidades  –  que de algum modo eram resolvidas -,
freqüência percebia possibilidades: ou seja, percebia como, no contato com a outra língua, o
 potencialidades interpretativas que passaram despercebidas por mim mesmo, e como, ás vezes
 podia melhorá-lo (digo “melhor” precisamente em relação à intenção que o próprio texto m
improviso, independente da minha intenção originária de autor empírico).

(p. 17) ... o conceito de fidelidade tem a ver com a persuasão de que a tradução é uma das
interpretação e que deve sempre visar, embora partindo da sensibilidade e da cultura do leitor,
não digo a intenção do autor, mas a intenção do texto, aquilo que o texto diz ou sugere em rela
em que é expresso e ao contexto cultural em que nasceu.

(p. 17) Suponhamos que, num texto americano, um personagem diga a um outro  you’re just pu
... Traduzida literalmente, uma expressão tão insólita... deixaria supor que o personagem (e o
estivesse inventando uma ousada figura de retórica  – o que não acontece, visto que o personagem
que em sua língua é uma frase feita. ... Eis como uma aparente infidelidade (não traduzir ao
revela-se por fim um ato de fidelidade. O que é um pouco repetir com são Jerônimo, patrono dos
que ao traduzir não se deve verbum e verbo sed sensum exprimere de sensu (todavia veremos
essa afirmação pode gerar muitas ambigüidades).

(p. 17-18) Donde, traduzir quer dizer entender o sistema interno de uma língua, a estrut
texto dado nessa língua e construir um duplo do sistema textual que, submetido a uma cert
possa produzir efeitos análogos no leitor, tanto no plano semântico e sintático, quant
estilístico, fono-simbólico, e quanto aos efeitos passionais para os quais tendia o t
“Submetido a uma certa discrição” significa que toda tradução apresenta marg ens de infid
relação a um núcleo de suposta fidelidade, mas que a decisão acerca da posição do
amplitude das margens depende dos objetivos que o tradutor se coloca.

(p. 18) As razões para o crescimento dos interesses tradutológicos são muitas e co
 primeiramente, os fenômenos de globalização que cada vez mais põem em contato grupos e
línguas diversas; em seguida, o desenvolvimento dos interesses semióticos, para os quais o
tradução é central mesmo quando não explicitado (basta pensar nas discussões sobre a d
significado de um enunciado como aquilo que, teoricamente, deveria sobreviver na passagem de
 para outra), e, enfim, a expansão da informática, que leva muita gente a tentar e a apurar
modelos de tradução automática (onde o problema tradutológico torna-se crucial não tanto quan
funciona, mas justamente quando demonstra que não funciona em regime pleno).

(p. 19) Ademais, desde a primeira metade do século passado foram elaboradas teorias da es
línguas ou da dinâmica das linguagens que destacavam o fenômeno da radical impossibilidade d
desafio de monta para os próprios teóricos que, ao mesmo tempo que elaboravam tais teorias
conta de que, de fato e há milênios, as pessoas traduzem.

(p. 19) Portanto, mesmo quando se defende a impossibilidade  –  de direito  –  da tradução, na prá
nos vemos diante de Aquiles e da tartaruga: na teoria de Aquiles nunca alcançaria a tartaruga, m
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(p. 19-20) Poderiam perguntar quais são as partes em jogo no processo de negociação. São muit
às vezes, desprovidas de iniciativa: de um lado, o texto fonte, com seus direitos autônomos, algu
figura do autor empírico  – ainda vivo – com suas eventuais pretensões de controle, e toda a cultu
texto foi gerado; do outro, o texto de chegada e a cultura em que se insere, com o sistema de exp
seus prováveis leitores e por vezes até da indústria editorial, que prevê critérios diversos d
conforme o destino do texto de chegada...

(p. 20) O tradutor coloca-se como negociador entre todas estas partes reais ou virtua
negociações nem sempre é previsto o assentimento explícito das partes. Mas uma negociaç
.
existe até para os pactos de veridicidade 

Ora, por mais que um teórico possa atestar que não existem regras para estabelecer que uma
melhor que a outra, a prática editorial nos ensina que, pelo menos os casos de erros evidentes e in
é bastante fácil estabelecer se uma tradução está errada e deve ser corrigida. Será apenas uma
senso comum, mas o senso comum de um redator editorial normal lhe permite convocar o tradu
na mão, indicar os casos em que seu trabalho é inaceitável.

(p. 21-22) Na tradução propriamente dita, vige o tácito princípio segundo o qual se é obrigado
 jurídico dos ditos de outrem, embora seja um interessante problema de jurisprudência estabelec
entende por respeito dos ditos de outrem no momento em que se passa de uma língua para outra.

(p. 22) Quando compro ou procuro em uma biblioteca a tradução que um grande poeta fez de o
 poeta, não espero encontrar algo de profundamente semelhante ao original; pelo contrário, em
tradução porque já conheço o original e quero ver como o artista tradutor confrontou-se (seja em
desafio, seja em termos de homenagem) com o artista traduzido. Quando vou a uma sala de
 Aquele caso maldito de Pietro Germi, mesmo sabendo que foi extraído de Quer pasticciaccio b
 Merulana [Aquela tremenda confusão na rua Merulana] de Gadda (embora o diretor advirta nos c
o filme é livremente inspirado no romance), não acho que posso, tendo visto o filme, eximir-
livro (a menos que seja um espectador subdesenvolvido). Sei desde o início que posso encontr
alguns elementos da trama, traços psicológicos dos personagens, algumas atmosferas rom
certamente não um equivalente da linguagem gaddiana.

(p. 23) Se, no entanto, compro a tradução italiana de uma obra estrangeira, seja um tratado de so
um romance (e certamente sabendo que no segundo caso corro mais riscos que no primeiro), e
tradução possa me dizer da melhor forma possível o que estava escrito no original. Vou considera
corte de trechos ou de capítulos inteiros, ficarei certamente irritado com erros evidentes de traduç
maior razão, ficarei escandalizado se descobrir que o tradutor fez um personagem dizer ou
imperícia ou por deliberada censura) o contrário do que dizia ou fazia.

(p. 23) Pode-se objetar que estas são, justamente, convenções editoriais, exigências comerciai
critérios nada têm a ver com uma filosofia ou uma semiótica dos vários tipos de tradução.
 pergunto se tais critérios jurídico-comerciais são realmente estranhos a um juízo estético ou semi

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