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DIDÁCTICA DE FÍSICA I

UNIDADE 7: ACTIVIDADES DE APRENDIZAGEM NA AULA DE FÍSICA.

7. ACTIVIDADES DE APRENDIZAGEM NA
AULA DE FÍSICA
Num processo de aprendizagem o sujeito aprendiz deve ser mobilizado à acções que se
reflectem na aquisição ou apreensão dos conhecimentos. A essas acções e operações
concretas realizadas pelo aluno na sala de aulas ou sob influência da aula, para
proporcionar uma assimilação adequada e um desenvolvimento integral e satisfatório da sua
personalidade chamam-se actividades de aprendizagem.

Em Física, as actividades de aprendizagem resumem-se em:

 OPERAÇÕES MENTAIS:
Analisar, sintetizar, abstrair, ordenar, comparar, generalizar, etc.

 ACÇÕES DE CARÁCTER COMUNICATIVO:


Ler, ouvir, falar, etc.

 ACTIVIDADES CIENTÍFICAS DE CONHECIMENTO:


Observar, descrever e explicar fenómenos e processos; justificar afirmações; deduzir
e concluir afirmações e igualdades; prever fenómenos e processos; comprovar
afirmações; medir grandezas físicas; avaliar fenómenos e afirmações; interpretar
igualdades, diagramas, formulações verbais e leis; resolver tarefas e problemas;
realizar e avaliar experiências, etc.

7.1. EXEMPLOS DE ACTIVIDADES DE APRENDIZAGEM,


ESSENCIAIS PARA A AULA DE FÍSICA
7.1.1. OBSERVAR
A observação tem como objectivo compreender os objectos, processos ou estados
conscientemente escolhidos, através de uma percepção objectivamente orientada em
relação à sua existência ou às suas transformações.

Exemplo: observar a mudança da aparência de uma varra quando mergulhada na água.

PASSOS PARA OBSERVAÇÃO:

 Escolher o objecto de observação;


 Determinar o objectivo de observação;
 Determinar os meios de observação;
 Realizar a observação;
 Registar os resultados da observação.

7.1.2. DESCREVER
Como actividade de aprendizagem, a descrição tem como objectivo apresentar, numa
ordem sistemática, fenómenos e factos físicos observados, em relação às suas
características externas perceptíveis, com ajuda de meios mentais e linguísticos.

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DIDÁCTICA DE FÍSICA I
UNIDADE 7: ACTIVIDADES DE APRENDIZAGEM NA AULA DE FÍSICA.

A descrição dá-nos informações sobre a composição de um objecto ou sobre como um dado


processo decorre, mas sem nos dizer os “porquês” de decorrer duma e não doutra maneira.

PASSOS PARA DESCRIÇÃO:

 Escolher as características externas visíveis do objecto ou fenómeno;


 Definir a sequência em que decorrem fenómenos parciais;
 Formular as afirmações descritivas sobre o facto ou fenómeno, obedecendo à ordem
anterior.

Exemplo: descreva, o que se pode observar quando uma varra é parcialmente mergulhada
na água, ficando outra parte no ar!

A descrição: a varra mergulhada na água parece quebrada na superfície de separação entre o ar e a água.
Quando se retira ou se introduz mais a varra na água o ponto da varra onde esta parece quebrada, desloca-se
ao longo da varra. Fora da água a varra apresenta novamente a sua forma original.

7.1.3. EXPLICAR
A explicação tem como objectivo deduzir os resultados de uma observação a partir de leis e
suas condições de validade, de modelos ou de afirmações gerais, tendo em conta as
condições em que o fenómeno toma lugar. Ou seja, é fixado claramente o “porquê” de um
dado fenómeno ocorrer necessariamente duma e não doutra maneira.

As afirmações usadas para a explicação podem ser seguras (leis) ou mais ou menos
seguras (proposições). Quando estas não são seguras então deve-se formular uma hipótese
explicativa baseada em fundamentos científicos.

PASSOS PARA EXPLICAÇÃO:

 Formular afirmações próprias sobre o fenómeno e indicar as condições de validade;


 Procurar as leis válidas (já conhecidas) explicativas do fenómeno;
 Deduzir uma conclusão lógica e convincente baseada nas leis e suas condições de
validade.

Exemplo: explique a aparência de uma varra estar quebrada quando introduzida


parcialmente na água.

A explicação: a luz ao passar da água para o ar é refractada desviando-se da normal (lei da refracção).
Observando-se a varra obliquamente a partir do ar (condição), então a varra parece quebrada devido à acção
da lei da refracção e porque os objectos são vistos (aparentemente) na direcção em que a luz incide nos
nossos olhos. O que se vê dentro da água (na condição anterior), é uma imagem virtual da varra e não a
própria varra.

A DIFERENÇA ENTRE EXPLICAR E JUSTIFICAR

A explicação debruça-se sempre sobre factos objectivamente existentes (fenómenos,


processos, estados, etc.) enquanto a justificação refere-se sempre à afirmações. A
explicação possui sempre um carácter objectivo enquanto a justificação pode ser tanto
objectiva como subjectiva.

7.1.4. COMPROVAR
Como actividade de aprendizagem, comprovar tem como objectivo avaliar a validade de
afirmações, na qual a partir das afirmações a comprovar, são deduzidas conclusões, que
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podem ser comprovadas na prática, através da observação directa ou indirecta na Natureza,


da experiência ou da vivência do dia-a-dia e que da sua validade se pode concluir sobre a
validade das afirmações por comprovar.

Exemplo: comprove a afirmação que “o índice de refracção da luz depende da sua cor”.

A comprovação/conclusão: se a afirmação for correcta, então isso tem que ter influência na formação de
imagens nas lentes.

A avaliação experimental: numa experiência, ilumina-se um slide preto e branco inicialmente com luz azul e
depois com luz vermelha. A imagem da figura no slide é obtida numa tela. Uma imagem nítida nos dois casos
só se consegue obter em distâncias diferentes entre a tela e a lente. Isto significa que o índice de refracção
depende da cor da luz.

7.1.5. INTERPRETAR
A interpretação tem como objectivo ordenar a importância das igualdades, das
representações gráficas (ex. diagramas) ou de afirmações verbais (leis formuladas
verbalmente), em relação à Natureza.

PASSOS PARA INTERPRETAÇÃO DE DIAGRAMAS OU EQUAÇÕES:

 Determinar as grandezas físicas que estão nos eixos (caso de diagramas) ou na


equação;
 Indicar a relação que existe entre as grandezas físicas;
 Definir as condições sob quais a relação (caso de diagramas) ou a equação são
válidas;
 Identificar exemplos.

Exemplo: Interprete a igualdade W  F  d .

Interpretação: A igualdade representa a definição do trabalho mecânico. Ela é válida quando F é constante
e actua na direcção do movimento. Os símbolos W , F e d significam, respectivamente, trabalho
mecânico, força aplicada e deslocamento sofrido. O trabalho mecânico é tanto maior quanto maior for a força e
o deslocamento. A igualdade pode ser aplicada para o cálculo do trabalho de levantamento de um corpo, por
exemplo.

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UNIDADE 8: ENTIDADES E PROCESSOS ENVOLVIDOS NA APRENDIZAGEM E AS PRÉ-CONCEPÇÕES DOS ALUNOS EM FÍSICA.

8. ENTIDADES E PROCESSOS
ENVOLVIDOS NA APRENDIZAGEM E AS
PRÉ-CONCEPÇÕES DOS ALUNOS EM
FÍSICA
As pré-conepções, particularmente em Física, devem merecer especial consideração e
tratamento durante a aprendizagem dos conceitos, onde os métodos tradicionais de ensino
não se aplicam. Os alunos dificilmente percebem que as suas ideias podem ser
contraditórias, atendendo que são portadores de um conjunto de saberes resultantes do seu
próprio esforço para compreensão do mundo em seu redor.

As pré-concepções (concepções alternativas, concepções comuns, concepções erradas,


concepções prévias) são ideias ou interpretações desenvolvidas sobre o mundo
(fenómenos, processos, objectos, conceitos e leis da Natureza) ganhas antes da sua
aprendizagem na escola. Elas originam do intercâmbio que as crianças experimentam no
dia-a-dia com o mundo que lhes rodeia, através da observação directa, da comunicação
com outras pessoas, da tentativa de explicação empírica do mundo por parte dos mais
adultos por vezes não escolarizados, da leitura de literaturas populares, e não só.

Isto revela que os alunos não são “páginas vazias”, pois vão à aula com um grande
inventário de ideias e maneiras de pensar. E a prática tem mostrado que estas pré-
concepções, quando meramente ignoradas, influenciam negativamente no processo de
aprendizagem, constituindo umas das principais causas das dificuldades de aprendizagem
dos alunos.

8.1. EXEMPLOS DAS PRÉ-CONCEPÇÕES DOS ALUNOS


EM FÍSICA
É importante que os professores conheçam as concepções alternativas já identificadas pela
investigação didáctica, assim como as temáticas da Física mais abrangidas.

MECÂNICA

 Aceleração significa maior rapidez, por isso é sempre algo positivo;


 A ultrapassagem é resultado de maior aceleração;
 Um corpo projectado horizontalmente leva mais tempo a chegar ao chão que aquele
que cai livremente (verticalmente) do mesmo ponto;
 Na queda livre, o corpo mais pesado cai mais rapidamente que o menos pesado;
 Corpos em repouso não exercem forças sobre os corpos sobre eles apoiados;
 O estado de repouso de um corpo é absolutamente definido em relação à Terra;
 A gravitação é algo típico e próprio da Terra. Os corpos que sofrem influência da
gravidade da Terra não têm nenhuma influência sobre ela;
 Um corpo pesado em repouso, o qual se pretende colocar em movimento não
experimenta nenhum atrito;
 Dois corpos de igual massa, suspensos por um mesmo fio que passa por uma roldana
fixa, repousam estando um deles mais próximo da superfície da Terra: o que está mais
próximo pesa mais que outro;
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UNIDADE 8: ENTIDADES E PROCESSOS ENVOLVIDOS NA APRENDIZAGEM E AS PRÉ-CONCEPÇÕES DOS ALUNOS EM FÍSICA.

 Se o corpo não se move, não actua sobre ele nenhuma força.

ÓPTICA GEOMÉTRICA

 A luz torna os objectos claros, possibilitando assim que os possamos ver;


 O olho emite raios próprios (ou uma substância) que tacteiam as superfícies dos
corpos e recolhem informações para a identificação destes;
 De objectos normais iluminados não é emitida nenhuma luz;
 Os raios de luz sofrem desvio depois do obstáculo, penetrando na região de sombra;
 A sombra imediatamente atrás do corpo “não existe”. Apenas a sombra projectada é
reconhecida;
 Os espelhos têm a propriedade de captar as imagens dos objectos à sua frente;
 A imagem situa-se na superfície do espelho ou imediatamente atrás deste;
 Por se parecer com o objecto (posição e tamanho), a imagem no espelho plano é real.

TERMODINÂMICA

 Durante a mudança de estado a temperatura não varia;


 Calor e temperatura são a mesma coisa. O calor é uma propriedade dos corpos e não
energia interna em trânsito;
 Um indivíduo pode existir sem temperatura, a menos que esteja doente;
 O calor é uma entidade cuja função é de aquecer os objectos, e a sua ausência
implica esfriamento dos objectos.

8.2. RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA O TRATAMENTO


DAS PRÉ-CONCEPÇÕES DOS ALUNOS EM FÍSICA

1. O professor deve conhecer as pré-concepções dos seus alunos. Isto só é possível se


o professor conseguir conquistar nas suas turmas um clima em que os alunos
possam apresentar suas ideias, sem “qualquer” receio;
2. Quando for introduzir um conceito físico, devem-se juntar as diferentes pré-
concepções dos alunos, analisá-las e confrontá-las umas com as outras. Deve-se
investigar seu potencial de explicação, a sua extensão, onde residem as suas
contradições à lógica e que experiências são possíveis e adequadas para a sua
comprovação;
3. Através de experiências convincentes sobre os fenómenos físicos, mostrar a
limitação das pré-concepções dos alunos e abrir caminho para as concepções
científicas;
4. Mostrar que o novo conceito ganho, não constitui a última e eterna verdade, mas sim
que, como o andar do desenvolvimento intelectual, este poderá ser substituído por
um conceito mais abrangente ou modificado;
5. O objectivo da aula não deverá ser necessariamente eliminar as pré-concepções dos
alunos ou substituí-las radicalmente pelas concepções científicas. Será satisfatório
que pelo menos os dois tipos de concepções coexistam, e o aluno seja capaz de
chamar pela concepção adequada para cada situação em que se encontre. Muitas
pré-concepções constituem bases úteis para agir em situações da vida diária;
6. Fazer um controlo contínuo da formação de conceitos e da aprendizagem das regras
através da resolução de novos tipos de tarefas;
7. Combinar tarefas de reprodução com tarefas com maior grau de dificuldade.
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