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BENEDITO RENAN PEREIRA DA SILVA

DAYANE CRISTINA SILVA PIRES LIMA


MARIANE CARVALHO DIAS
MONIZE DE SOUSA E SOUSA
RAFAELE DA COSTA SILVA DE OLIVEIRA

O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL CONTRA A


VIOLENCIA SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................11

1. CAPÍTULO – VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR CONTRA CRIANÇAS E


ADOLESCENTES.......................................................................................................13

1.1 Conceituação de violência e suas consequências.........................................13

1.2 Violência Intrafamiliar........................................................................................15

1.3 O Trabalho Infantil: a mais perversa violência contra criança e


adolescente........................................................................................................17

1.4 As Tipologias da Violência contra Criança e Adolescentes..............20

1.4.1 Violência física.....................................................................................20

1.4.2 Violência sexual...................................................................................21

1.4.3 Abuso sexual.......................................................................................25

1.4.4 Exploração sexual...............................................................................28

2 CAPÍTULO- POLITICAS PUBLICAS E O ENFRENTAMENTO A VIOLENCIA


SEXUAL INFANTOJUVENIL.....................................................................................32

2.1 Leis que Antecederam ao Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA:


contextualizando o código do menor.....................................................................32

2.2 O Estatuto da Criança e Adolescente - ECA: sua História de Proteção.......34

2.2.1 Leis de proteção da criança e do adolescente.............................................37

2.3 Sistema de garantia de direitos de crianças e adolescentes (SGD)..........39

3 CAPÍTULO – SERVIÇO SOCIAL E VIOLENCIA SEXUAL DE CRIANÇAS E


ADOLECENTES.........................................................................................................43

3.1. Breve Contextualização Histórica do Serviço social no Brasil.....................43

3.2 O Movimento de Reconceituação do Serviço Social: sua época e avanços48


3.3 O compromisso do Serviço Social com a Classe Trabalhadora e Pobre. 52

3.4 Violência Sexual e o cotidiano profissional.................................................55

3.5 O Enfrentamento dos desafios do Assistente Social ao Abuso sexual contra


crianças e adolescentes no CREAS........................................................................56

CONSDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................61
INTRODUÇÃO
1. CAPÍTULO – VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR CONTRA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES.
1.1 Conceituação de violência e suas consequências

A violência é algo que existe a séculos, e é um tema que é bastante discutido


na sociedade, pois além de ser algo difícil de controlar, possui diversas
características multifacetadas estando inserido em todas as partes, pois em todo o
mundo o ser humano é vulnerável a violência.

Quando se fala em violência não podemos reduzi-la apenas a criminalidade,


pobreza, desigualdade social entre outras, a violência vai além de todas as mazelas
existentes no mundo. Segundo Stela Valéria (2008) a violência:
É um ato de brutalidade, abuso, constrangimento, desrespeito,
discriminação, impedimento, imposição, invasão, ofensa, proibição,
sevícia, agressão física, psíquica, moral ou patrimonial contra alguém e
caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela ofensa e
intimidação pelo medo e terror. Segundo o dicionário Aurélio violência
seria ato violento, qualidade de violento ou até mesmo ato de violentar.
Do ponto de vista pragmático pode-se afirmar que a violência consiste
em ações de indivíduos, grupos, classes, nações que ocasionam a morte
de outros seres humanos ou que afetam sua integridade moral, física,
mental ou espiritual. Em assim sendo, é mais interessante falar de
violências, pois se trata de uma realidade plural, diferenciada, cujas
especificidades necessitam ser conhecidas.

Independente de características específicas, a violência pode surgir em


qualquer lugar, (BARUDY, 2000 apud ESBER, 2009) defende que a violência possui
como dimensões constituintes essenciais, o sofrimento profundo principalmente nas
vítimas e o poder que o agressor exerce sobre a vítima.

Sendo assim a violência não é algo natural, e sim algo construído nas
diversas facetas da sociedade, de acordo com Santos (2006) é necessário discutir a
violência por meio de uma lógica essencialmente humana, constituída cultural,
social, econômica e politicamente.

Dentre os tipos de violência existentes, existe a violência sexual contra


crianças e adolescentes, que pela lógica os mesmos deveriam ser os mais cuidados
e protegidos pela sociedade no geral, porém os mesmos ainda são alvos de
violações cotidianamente.

Na maioria das vezes sem ajuda, sem defesa, sem voz e sem acesso pleno
de seus direitos os mesmos estão vulneráveis a violências diversas como
espancamentos, torturas, negligência, abandono, humilhações e abusos sexuais.
Violência essa cometida por quem deveria proteger e garantir o acesso aos direitos
das crianças e adolescentes como a família e o Estado.

O abuso sexual é definido pelo uso da sexualidade da criança ou do


adolescente, sendo uma das formas mais cruéis e perversas de violência, o que
acaba violando seus direitos sexuais e sua intimidade. A violência sexual é dividida
em abuso sexual intrafamiliar e extrafamiliar e exploração sexual de crianças e
adolescentes.

Crianças e adolescentes até os seus 18 anos, são considerados cidadãos que


devem gozar de seus plenos direitos de acordo com a constituição Federal no caput
do artigo 227:

Art.227: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança


e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à cultura, à profissionalização, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.

Assim fica cada vez mais evidente a necessidade de inclusão de crianças e


adolescentes como seres humanos plenos de direitos, e a uma vida segura e
saudável. Onde os mesmos possam crescer e se tornarem adultos com caráter e
responsáveis pelos seus atos, e o que pode contribuir diretamente nessa condição é
o acesso a alimentação, saúde, educação, habitação, lazer, liberdade, transporte,
emprego entre outros benefícios.

Mostrando que qualidade de vida implica diretamente no futuro de uma


criança, entendendo a necessidade de respeitar esse ser de forma integral e a
garantia do acesso aos direitos fundamentais desde o nascimento até o final da vida.

Diversas meninas e meninas no decorrer de sua infância acabam sendo


violados de alguma forma, por diversas vezes sem muita demonstração de
preocupação por parte da sociedade. Faltando uma mobilização em massa em
busca de proteção e acesso aos direitos dos mesmos.

1.2 Violência Intrafamiliar

A violência intrafamiliar é um fenômeno ainda muito presente em diversas


famílias brasileiras, e segundo a OMS (2002), a violência é dividida “em três grandes
categorias, conforme as características de quem cometem o ato de violência:
violência auto infligida, violência interpessoal e violência coletiva”. De acordo com
MINAYO, (2006, p. 81)
A violência auto-infligida é aquela em que a agressão é dirigida a si mesmo.
Enquanto a violência interpessoal abrange a violência intrafamiliar (que
ocorre em grande parte entre os membros da família, sobretudo no
domicílio, mas não exclusivamente) e comunitária (engendra-se no
ambiente social em geral, acontece entre pessoas próximas ou
desconhecidas). Por fim, a violência coletiva compreende os atos violentos
que acontecem nos âmbitos macrossociais, políticos e econômicos e
caracterizam a dominação de grupos e do Estado (MINAYO, 2006, p. 81).

Sendo assim a violência intrafamiliar está inserida na violência interpessoal, e


é algo que atinge crianças e adolescentes, sendo praticado pelos pais ou
responsáveis, revelando assim uma mal conduta dos adultos, já que os mesmos
deveriam proteger e garantir os direitos de suas crianças e adolescentes, porém
infelizmente algumas vezes se tornam os principais agentes da violência.

AZEVEDO e GUERRA, (1995, p. 36) consideram que


Todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra
crianças ou adolescentes que – sendo capaz de causar dano físico, sexual
e/ou psicológico à vítima, implica de um lado, numa transgressão do
poder/dever de proteção do adulto e, de outro, numa coisificação da
infância, isto é, uma negação do direito que crianças e adolescente tem de
ser tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de
desenvolvimento (AZEVEDO e GUERRA, 1995, p. 36).

PIRES, 1998 apud SCHREIBER, 2001 destacam que:


Sendo assim, a questão da violência intrafamiliar praticada contra crianças e
adolescentes é uma prática histórica na sociedade mundial, presente em
todos os segmentos sociais. Quando causados por familiares ou
responsáveis implica numa transgressão do poder/dever de proteção do
adulto e numa coisificação da infância (PIRES, 1998 apud SCHREIBER,
2001).
Existe uma realidade na vida de crianças e adolescentes que é algo histórico
e cultural, que é voltado para a obediência e subordinação ao adulto, algo que por
diversas vezes é confundido, e passa do ato de educar para a violência como
tentativa de educação. Sendo necessário muito cuidado com a tentativa de educar,
usando violência.
De acordo com (GABEL, 1997 apud FALEIROS, 2000, p. 14) esse tipo de
“violência abrange tudo o que uma pessoa faz e concorre para o sofrimento e a
alienação de outra”, o que conota sua relação com a violência em suas mais
variadas formas.

Por esse motivo é necessário enfatizar a violência intrafamiliar, pois por


diversas vezes os adultos exageram no uso do poder que possuem por ser pais ou
responsáveis, coisificando crianças e adolescentes, e assim desrespeitando seus
direitos básicos.

O Ministério Público do Estado do Ceará publicou uma Cartilha que trata sobre a
violência sexual contra crianças e adolescentes e nela publicaram que:

Estudos apontam que de 80% a 88% dos casos de violência sexual são
praticados por familiares ou por pessoas muito próximas das crianças e
adolescentes, e por quem eles nutrem certa confiança. Assim,
lamentavelmente, é comum que o abusador seja pai/mãe,
padrasto/madrasta, avós, tio (a), primo (a), padrinho/ madrinha do infante.
Em média, 04 (quatro) de cada 10 (dez) crianças vítimas de violência sexual
foram abusadas pelo próprio pai.

Ainda nessa mesma cartilha há diversos relatos de crianças e adolescentes


que forma sofreram algum tipo de violência sexual. Cartilha- violência sexual contra
crianças e adolescentes descreve dois relatos diferentes de vítimas de violência
sexual:
“Fui violentada na infância por quem mais deveria me proteger, meu pai.
Sinto um misto de nojo e vergonha até hoje ao lembrar. Assim que minha
mãe saia para trabalhar, ele me chamava para a cama dele, onde me
alisava e me obrigava a acariciá-lo. ” (Relato de uma vítima de abuso
infantil)
“Aos 5 anos, me tornei vítima do meu avô materno. Os abusos aconteciam
dentro de casa, enquanto minha avó estava envolvida com os afazeres
domésticos. Ele me acariciava e me fazia tocar suas partes íntimas. Com
medo de ser descoberta e culpada por aquilo, atendia aos seus pedidos. Ele
nem se envergonhava. Como defesa, me fazia acreditar que aquilo era um
carinho normal. Foram quatro anos de abusos, que me transformaram em
uma adolescente promíscua. Entrei em depressão, tentei me matar diversas
vezes. ” (Relato de uma vítima de abuso infantil)
“Num dia de verão quando eu tinha sete anos, eu estava trabalhando na
cozinha com mamãe. A minha maneira tentei dizer à mamãe que papai
estava me ferindo. Mas mamãe não se preocupou comigo. Ela gritou
comigo por até pensar qualquer coisa má sobre papai e disse que jamais
queria ouvir outra palavra de mim sobre esse assunto. ” (Relato de uma
vítima de abuso infantil)

A violência cometida pela própria familiar contra crianças e adolescentes,


ocorre algumas vezes pelos adultos entenderem que essas crianças ou
adolescentes são suas propriedades e que os mesmos devem obedecer e ser
submissos a eles, e isso vai contra os direitos fundamentais de toda criança e
adolescente.

1.3 O Trabalho Infantil: a mais perversa violência contra criança e


adolescente

A palavra trabalho é uma palavra com diversos significados, porém é


conceituada de acordo com o dicionário Aurélio como:

Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar LIM determinado


fin?' o trabalho permite ao homem certo domínio sobre a natureza: 2.
Atividade coordenada de caráter físico e/ou intelectual, necessária a
realização de qualquer tarefa. serviço ou empreendimento.

Trabalho pode ser visto dentro de diversos aspectos, como nas áreas
jurídicas, econômicas, filosóficas e social. Porém o mesmo é sempre visto como
algo para chegar a determinado fim, e normalmente abrange o campo econômico. E
também a área da produção, pois é na produção que se cria as modalidades de
trabalhos.

SANTOS, (p.4, 2000) enfatiza que

A escravidão, por exemplo, foi abolida no final do século passado através da


lei Áurea. Mesmo depois de tanto tempo desde a extinção desta modalidade
de relação de trabalho, pelo menos no que diz respeito legislação constata-
se através das evidências que ainda hoje existem relações de trabalho
deste tipo. Elas assolam a nossa sociedade, tratando muitos indivíduos
cidadãos de direitos como escravos e serviçais dentre estes. Uma grande
parcela são crianças e adolescentes.

O trabalho é considerado ainda como um direito aos cidadãos de direitos, pois


todos têm o direito de trabalhar de forma justa e democrática e de acordo com a
Constituição de 1988, a legislação passou a considerar o trabalho como um direito
social e todos os cidadãos.

A Constituição de 1988 em seu artigo 6º afirma: “são direitos sociais a

educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção

à maternidade e infância, a assistência aos desamparados na forma desta


constituição. ”

O direito ao trabalho é voltado para as pessoas que já estão aptas a exerce-


lo, sendo a idade mínima a idade de 14 anos. Sendo assim nenhuma criança ou
adolescente com menos de 14 anos pode trabalhar.

SANTOS (p.5, 2000) destaca que até o ano de 1988, existiam três limites de
idade mínima para trabalhar, que ficavam distribuídos assim:
• 12 anos era o limite inferior, ou seja, nenhuma criança poderia trabalhar
com idade inferior a esta (Seminário Estadual sobre o trabalho Infanto-
juvenil, n. 5, 2000, Florianópolis);
• Aos 14 anos ultrapassa-se o limite básico, permitindo qualquer tipo de
trabalho que fosse exercido em duas situações: na escola, através de
estágios; e em empresas, através de contratos tridimensionais, com a
concessão do adolescente, da escola e da empresa. Constatamos esta
transição através do Estatuto da Criança e do Adolescente — ECA. Até o
ano de 1998, determinava-se que a idade mínima para trabalhar era de 14
anos de idade e 12 anos de idade na condição de aprendiz.

A Constituição de 1988 em seu artigo 60 afirma que é proibido qualquer


trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. E
ainda
estipulava-se o limite superior para a idade mínima, estabelecido em 18 anos de
idade.

SANTOS (p.5, 2000) destaca ainda que


As normas internacionais da Organização Internacional do Trabalho - OIT,
recomendam que a idade mínima de ingresso no mercado de trabalho
coincida com a idade em que cessa a obrigatoriedade escolar. No Brasil,
essa obrigatoriedade cessa aos quinze anos de idade, não coincidindo,
desta forma, com a idade recomendada. Com a Emenda constitucional n.20,
de 20 de dezembro de 1998, o Brasil, após muitas discussões, elevou a
idade mínima para trabalhar para 16 anos de idade e na condição de
aprendiz para 14 anos de idade. Esta decisão foi tomada porque a maioria
dos países membros da OIT já haviam aceitado este aumento, já que a
idade escolar de conclusão do ensino fundamental varia entre 15 e 16 anos
de idade. Resolveu-se dar prioridade a estas crianças e adolescentes
trabalhadores, para que pudessem concluir os seus estudos.
Desde antigamente o trabalho teve diversas vertentes, desde o trabalho justo
ao trabalho escravo, e nesse meio foi incluído desde os homens, como mulheres e
crianças. Segundo Oliveira (1994), “a partir da revolução industrial, a mão-de-obra
infantil tornou-se significativa por ser objeto de exploração. ” Isso somente foi
possível, porque a mão de obra infantil e feminina era mais barata que a dos
homens, consequentemente a remuneração dos mesmos era inferior que a dos
homens, sendo a remuneração das crianças ainda menor que a das mulheres.

SANTOS (p.6, 2000) relata que


Quando percebeu-se que a mão-de-obra feminina e infanto-juvenil estava
sendo explorada de forma abusiva, devido às más condições de trabalho e
ao baixo salário que lhes era oferecido, muitas pessoas se revoltaram e
começaram a lutar por esta nova classe. Desde então, muitos movimentos
sociais surgiram em prol da defesa dos direitos humanos, causando muita
preocupação nos governantes desta época. Grandes estudiosos
começaram a se preocupar com os movimentos sociais, desenvolvendo
muitas pesquisas sobre a realidade vigente. Posteriormente, algumas leis
de proteção começaram a ser escritas, para que os movimentos fossem
apaziguados.

Mesmo com o surgimento de diversas leis que lutavam para assegurar os


direitos de crianças, adolescentes e mulheres, percebe-se que a sua maioria não foi
respeitada ou colocada em prática, não sendo culpa somente do Estado por não
realizar seu trabalho de forma correta, mais também da sociedade que colaborou
para que a efetivação e eficácia das leis não ocorressem.

A realidade atual existente em praticamente todos os lugares do mundo,


mostra o quanto a falta da efetivação dessas leis afetou a vida de milhares de
crianças e adolescentes, pois ainda é muito rotineiro se encontrar crianças e
adolescentes em situação de rua ou trabalho precoce. O que não aconteceria se
desde quando foi criada a primeira lei para garantia de direitos fosse efetivada
adequadamente.

De acordo com Santos (p.7, 2000):


O trabalho de crianças e adolescentes menores de 16 anos de idade é um
fenômeno social existente em todas as partes do mundo, variando em
intensidade e gravidade dependendo do local em que se manifesta. Sabe-se
que é um fenômeno existente também em países ricos, desenvolvidos, mas
é nos países mais pobres, de terceiro mundo ou em desenvolvimento, que
os números são mais expressivos.
Santos (p.7, 2000) destaca ainda que

Dados da OIT, revelam que 95 % do contingente de crianças e


adolescentes trabalhadores encontram-se nestes países. (Fundação Djalma
Guimarães, relatório 3, cap.5). Os processos de globalização da economia,
o desemprego em massa, o desamparo às famílias e muitos outros fatores
introduzem um cenário de bastante precariedade para estes países de
terceiro mundo, que não conseguem acompanhar o ritmo dos países mais
avançados. No Brasil, mais da metade da população, não possui uma renda
mensal fixa; portanto, tem seu sustento advindo da outra metade da
população. Isso revela a família como uma instituição muito importante no
processo de distribuição dos recursos da sociedade.

A vulnerabilidade e a desigualdade social obrigam diversas famílias a


considerarem seus filhos como fonte de renda, já que não possuem condições de
garantirem o sustento da família de forma digna e justa. Sendo assim, o trabalho
infantil se atualiza cotidianamente juntamente com a desigualdade social. “É assim
que o trabalho precoce se mantém persistente e compulsório para dar conta da
sobrevivência do grupo familiar, ou para atender ao anseios de consumo do
adolescente numa sociedade que instiga a consumir para sentir-se jovem”
(CARVALHO.1997,p. 109).

O trabalho precoce e a falta de acesso aos direitos básicos causam


consequências muitas vezes irreversíveis a essas crianças e adolescentes pois
afetam não só o psicológico e o emocional como também a capacidade de obterem
motricidade fina, o que facilita a escrita, entre outras diversas habilidades,
atrapalhando severamente o desenvolvimento dos mesmos.

1.4 As Tipologias da Violência contra Criança e Adolescentes


1.4.1 Violência física

A maioria dos casos de violência iniciam por violência física, e de acordo com
a Lei 13.431/17, a violência física, “pode ser entendida como a ação infligida à
criança ou ao adolescente que ofenda sua integridade ou saúde corporal ou que lhe
cause sofrimento físico. ”

De acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos


(2020):

A Lei 13.010/2014, mais conhecida pelo nome “Lei Menino


Bernardo”, estabeleceu o direito da criança e do adolescente de
serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de
tratamento cruel ou degradante. Para a legislação brasileira, o castigo físico
é uma ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força
física sobre a criança ou o adolescente que resulte em SOFRIMENTO
FÍSICO ou LESÃO.

Sendo assim qualquer ato de violência que cause sofrimento físico ou danos
a integridade da criança e do adolescente cometida por pais, responsáveis, ou
parentes é considerado violência doméstica, e se houver ação ou omissão dos
mesmos é considerado violência da mesma forma.
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (2020) destacam
ainda como Marco Legal da violência física:
• Maus-tratos: Artigo 136 do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de dezembro de 1940

Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia,
quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer
sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios
de correção ou disciplina. Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou
multa.

• Tortura: Lei nº 9.455/97

Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de


violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a)
com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de
terceira pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; II - submeter alguém, sob
sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave
ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar
castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena - reclusão, de dois a
oito anos.

• Lei Menino Bernardo: Lei 13.010/2014

Art. 1º A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do


Adolescente), passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 18-A, 18-B e
70-A: “Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e
cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante,
como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto,
pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos
agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer
pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: I - castigo físico: ação
de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre
a criança ou o adolescente que resulte em: a) sofrimento físico; ou b) lesão;
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento
em relação à criança ou ao adolescente que: a) humilhe; ou b) ameace
gravemente; ou c) ridicularize. ”
Foram considerados também marcos legais da violência física: ECA: Art. 18-
A, parágrafo único, inciso I da Lei nº 8.069/90 e o Sistema de garantia de direitos da
criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência: Lei 13.431/17.

1.4.2 Violência sexual

A violência sexual apesar de ser uma das piores violações aos direitos das
crianças e adolescentes, estar ainda presente na vida de algumas famílias, o que só
prejudica e desrespeita essas crianças e adolescentes. Essas violações estão
enraizadas historicamente, socialmente e culturalmente, se baseando sempre em
relação de poder e desigualdade e quem mais sofre são os pequenos que são
indefesos e acabam adquirindo marcas e prejuízos que afetarão suas vidas para
sempre.

A violência sexual de crianças e adolescentes provoca sérios danos físicos,


emocionais e sociais, e seu entendimento vem sendo construído ao longo dos anos
com diversos atores da comunidade nacional e internacional de proteção, promoção
e defesa de direitos das crianças e dos adolescentes (MORESCHI, 2018, p. 40).

Ao analisarmos a violência sexual é necessário compreender que esta


violência é um fenômeno histórico, social e cultural. Sendo assim, para trabalhar na
proteção de crianças e adolescentes o profissional deve conhecer as diversas
facetas dessa violação, como suas características e consequências.

KRUG et al., 2002, p. 5 ressalta que:


De acordo com os dados do Relatório Mundial sobre Violência e Saúde,
define a violência como o uso intencional da força física ou do poder, real ou
em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou
uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em
lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação
(KRUG et al., 2002, p. 5).

A violência sexual é mais grave das violências cometidas contra crianças e


adolescentes, e por lei a mesma não deveria existir na sociedade.

De acordo com Habigzang e Koller (2011):


A infância e a adolescência são períodos fundamentais para o crescimento,
desenvolvimento e formação de repertórios básicos para o relacionamento
interpessoal. Como lembram as autoras, nesta fase, as pessoas passam
não apenas pelo crescimento físico, mas pela formação da personalidade,
pelo desenvolvimento cognitivo, emocional e comportamental.
Desta forma, essa fase tão necessária na vida de todos os seres humanos
que é a infância e adolescência deveria ser garantida plenamente pelos pais e
responsáveis, dando aos mesmos respeito e garantia de acesso a todos os direitos
básicos como: educação, lazer, saúde, habitação e principalmente respeito, amor e
proteção.

Porém na sociedade em que vivemos existem casos absurdos de violências,


Craveiro (2016) aponta que crianças e adolescentes são as maiores vítimas de
violência devido à sua condição de vulnerabilidade em função do contexto especial
de desenvolvimento.

CRAVEIRO, p. 28, 2016 afirma que:


Nesta linha, a autora discute que, na maioria dos casos, os agressores são
membros da família ou pessoas que se encontram em um papel de
proteção. Sendo assim, “o vínculo emocional presente será fragilizado ou
até mesmo rompido, portanto a condição de vulnerabilidade é ainda maior,
acarretando em inúmeros prejuízos para o seu estado psicológico”
(CRAVEIRO, p. 28, 2016).

A violência sexual não é algo que existe apenas em alguns lugares, mais sim
em todo o mundo. Para Azevedo (1993, apud RODRIGUES, 2017, p. 68), este
fenômeno reflete: […] de um lado, as concepções que a sociedade construiu acerca
da sexualidade humana, de outro, a posição da criança e do adolescente nessas
mesmas sociedades e, finalmente, o papel da família na estrutura da sociedade ao
longo do tempo e do espaço.

Mesmo com tantos casos de violência muitos meninos e meninas passam


despercebidos por grande parte da sociedade, não havendo uma mobilização
maciça para a proteção e garantia dos direitos deles. A execução de políticas
públicas ainda é falha na prevenção ás violações que tantas crianças e adolescentes
sofrem. Mesmo a Constituição determinando prioridade aos direitos das crianças e
adolescentes, ainda ocorre muita negligencia e descaso em relação a esse
fenômeno.

BUCHART, et al., 2006 destaca que:


A definição mais difundida mundialmente é a da World Health Organization
e Internacional Society for Prevention Of Child Abuse and Neglect, que
caracteriza a violência sexual contra crianças e adolescentes como o
envolvimento sexual em uma atividade na qual o sujeito não compreende
totalmente e não apresenta condições de consentir ou para qual não esteja
preparado devido ao seu estágio de desenvolvimento, podendo ser
praticada por adultos, ou até mesmo por outras crianças que, em função de
sua idade, ou estágio de desenvolvimento, encontram-se em um lugar de
responsabilidade, confiança ou poder em relação à vítima (BUCHART, et
al., 2006)

O Ministério da Saúde do Brasil apresentou a definição de violência sexual,


descrevendo e detalhando as práticas de violência sexual, e ressaltando para as
crianças e adolescentes.

Rezende (2011, p. 5) destacou que:

[…] todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual cujo


agressor está em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado
que a criança ou o adolescente. Tem por intenção estimulá-la sexualmente
ou utilizá-la para obter satisfação sexual. Apresenta-se sobre a forma de
práticas eróticas e sexuais impostas à criança ou ao adolescente pela
violência física, ameaças ou indução de sua vontade.

BRASIL, 2002a, p. 13, grifo do autor:

Esse fenômeno violento pode variar desde atos em que não se produz o
contato sexual (voyerismo, exibicionismo, produção de fotos), até diferentes
tipos de ações que incluem contato sexual sem ou com penetração.
Engloba ainda a situação de exploração sexual visando lucros como é o
caso da prostituição e da pornografia (BRASIL, 2002a, p. 13, grifo do autor)

Mostrando a necessidade de destacar que a violência sexual vai além do


estupro com penetração, pois abrange diferentes formas de envolvimento sexual.
Oliveira (2017) explica que a violência sexual consiste no contexto de risco e de
violações que afetam o desenvolvimento sexual de crianças e adolescentes. Tais
violações se dão em decorrência da busca em saciar desejos sexuais, próprios ou
de outras pessoas, por meio do abuso e da exploração sexual.

OLIVEIRA, (2017, p. 3) afirma que:

Nunca é demais reafirmar que abuso e exploração sexual são modalidades


distintas de violência sexual, com formas autônomas de manifestação e
estratégias diferentes de enfrentamento, ainda que possam estar
entrelaçadas na realidade social dos casos atendidos (OLIVEIRA, 2017, p.
3).

A violência sexual atinge diretamente o desenvolvimento de quem sofre


abuso sexual, fazendo com que a vítima tenha uma visão diferente do mundo,
algumas vezes tornando-se adultos com problemas de relacionamento e
psicológicos, sem dúvidas é um trauma que acompanha o ser humano pelo resto da
vida. Zanella e Lara (2016, p. 80) alegam que “toda exploração sexual de crianças e
adolescentes constitui um abuso, mas nem todo abuso significa que existiu uma
exploração sexual”.

Sendo assim Rodrigues (2017) complementa que:

Para compreender o fenômeno da violência sexual, se faz necessária a


exploração do contexto socioeconômico, político e cultural no qual as
crianças, adolescentes e suas famílias estão inseridos. Esta investigação é
de extrema importância, pois, apesar de a violência sexual apresentar
contextos comuns em diferentes situações, cada caso é um caso e exige
um olhar particularizado.

Fazendo-se necessário especificar o que é o abuso sexual e a exploração


sexual, pois esses fenômenos possuem complexidade diferentes.

1.4.3 Abuso sexual

O abuso sexual é um grave fenômeno que afeta crianças e adolescentes em


todo o mundo. Trata-se de uma forma de violência universal que atinge todas as
faixas etárias, diferentes contextos sociais e econômicos, bem como diferentes
etnias, culturas e religiões (PFEIFFER; SALVAGNI, 2005, p. 198).

O abuso sexual intrafamiliar é definido pelo uso da sexualidade da criança e


adolescente, por pessoas da família da vítima. SOUZA, 2017 destaca que nesta
forma de violência, a criança ou o adolescente é utilizado para satisfazer os desejos
sexuais do agressor, que se vale do emprego da violência e das relações de poder e
de confiança para a prática de qualquer ato de natureza sexual. Cabe ressaltar que,
diferentemente da exploração sexual, o abuso sexual não traz qualquer intuito de
lucro ou relação de compra ou troca.

Quando o abuso sexual é cometido por algum familiar da criança ou


adolescente, é porque os mesmos possuem uma relação de confiança com a vítima,
o que facilita a aproximação e por fim o abuso. Lembrando que esses abusos não
ocorrem somente no ambiente familiar, pois há casos que essa violência é cometida
externamente, e são denominadas de violência extrafamiliar.

Souza (2017, p. 89) descreve o abuso sexual intrafamiliar e extrafamiliar:

a. O abuso sexual intrafamiliar é assim considerado quando a agressão


ocorre dentro da família, ou seja, a vítima e o agressor possuem uma
relação de parentesco. Aqui é importante considerar o contexto familiar
ampliado, já que a diferença estabelecida sob o aspecto conceitual objetivou
apenas diferenciar as estratégias e metodologias de prevenção, proteção e
responsabilização. Assim, quando o agressor compõe a chamada família
ampliada ou possui vínculos afetivo-familiares, o abuso deve ser
caracterizado como intrafamiliar.

b. O abuso sexual extrafamiliar se dá quando não há vínculo de parentesco


entre o agressor e a criança ou adolescente. Nesse caso, não significa dizer
que não exista uma relação anterior, ao contrário, é possível a existência de
algum conhecimento ou até vínculo de confiança. Exemplo: vizinhos ou
amigos, educadores, responsáveis por atividades de lazer, profissionais de
atendimento (saúde, assistência, educação), religiosos. O autor da violência
também pode ser uma pessoa desconhecida, como ocorre nos casos de
estupro em locais públicos.

Destacando que a violência sexual intrafamiliar é cometida por alguém da


família, e a extrafamiliar é cometida por pessoas que não são da família, porém são
próximas as crianças ou adolescentes como educadores, amigos da família,
médicos, padres, pastores entre outros.

Segundo Silva (2002 apud Oliosi; Mendonça; Boldrine, 2010, p. 30):

(...) a criança e o adolescente violentados sexualmente poderão sofrer


consequências físicas: lesões físicas gerais, lesões genitais, gravidez
geralmente problemática, DST/AIDS, disfunções sexuais e psicológicas tais
como, sentimento de culpa, autodesvalorização, depressão, medo da
intimidade quando adultos, tendência a prostituição e ao homossexualismo,
negação de relacionamentos afetivos, distúrbios sexuais, suicídio, e
problemas de personalidade e identidade.

Diante do que foi exposto acima, em relação as formas de abuso sexual, é


importante destacar que independente de que forma ou por quem o abuso foi
cometido, o mesmo trará consequências permanentes a vida social das crianças e
adolescentes foram vítimas de tal violência. O ser humano que é vítima de violência
sexual ainda na infância, normalmente apresenta sintomas no decorrer de sua vida,
que apontam a violação de direitos que o mesmo sofreu, pois, a violência afeta
diretamente o comportamento, cognitivo e o emocional desse indivíduo.

WANDERLEY, MARTINELLI, DA PAZ, 2020 descrevem que


Nesse contexto, surgem alguns pontos de reflexão. A articulação dos
serviços surge como uma promessa de otimização no uso dos recursos e no
alcance dos resultados e, logo, na própria melhora das condições de vida da
população atendida. Porém a intersetorialidade desafia as políticas públicas
no campo do compartilhamento de recursos, responsabilidade e atribuições.
Para superá-los é preciso ter em clareza de que são necessárias decisões
institucionais e políticas que transcendem a capacidade de decisão do
serviço de atendimento e se localizam nos níveis de planejamento das
ações. É esse o espaço em que a cultura de setorização pode ser rompida e
substituída por ações integradas (WANDERLEY, MARTINELLI, DA PAZ,
2020).

Um importante instrumento que pode ser utilizado no combate a violência


sexual de crianças e adolescentes é a escola, pois a escola é uma das instituições
compõem a chamada rede de proteção à infância e adolescência. É também papel
da escola zelar pelos direitos da população dessa faixa etária, previstos no Estatuto
da Criança e Adolescente (ECA).

O Ministério da Saúde registrou no Brasil mais ou menos 32 mil casos de


abuso sexual contra crianças e adolescentes em 2018. Sendo esse dado o maior já
registrado. Observando os dados abaixo, nota-se que os números de casos
aumentam a cada ano. Mostrando que o agressor pode ser familiar, amigos,
cuidadores entre outros.
Fonte: Ministério da Saúde

Os dados mostram que as meninas são o principal alvo, porém os meninos


não ficam fora dessa crueldade. Meninos e meninas são vítimas de violência sexual
diariamente.

HABIGZANG; KOLLER, (2011, p. 18) relatam que:

A experiência de abuso sexual na infância e na adolescência pode


desencadear efeitos negativos para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e
social das vítimas. Não há um quadro psicopatológico único causado pelo
abuso sexual, mas uma variabilidade de sintomas e alterações cognitivas,
emocionais e comportamentais, e a intensidade desses sintomas e
alterações também pode apresentar-se com diferenças significativas
(HABIGZANG; KOLLER, 2011, p. 18)
Vicinguera aborda ainda que os principais sintomas cognitivos são: percepção
de falta de valor, diferença com relação aos pares, dificuldade de concentração e de
atenção, baixo rendimento escolar, transtornos de memória, sentimentos de
desconfiança e dissociação, além de distorções cognitivas. (Vicinguera, 2019,
pág.23).

HABIGZANG; KOLLER, 2011 destacam que no que se refere às alterações


emocionais:

É possível mencionar os sentimentos de vergonha, medo, ansiedade,


irritabilidade, raiva, tristeza e culpa. Já no âmbito comportamental, é
importante ressaltar o isolamento social; agressividade física e verbal; furtos
e fugas do lar; condutas hipersexualizadas; abandono de atividades e
hábitos lúdicos, bem como mudanças no padrão de sono e de alimentação.
Pode haver ainda comportamentos e sintomas regressivos, como enurese e
chupar o dedo, além de condutas autodestrutivas, caracterizadas pela
automutilação e tentativas de ferir a si mesmo, e até tentativas de suicídio
(HABIGZANG; KOLLER, 2011).

Sendo assim o comportamento de uma vítima de violência sexual pode ser de


diversas formas, podendo afetar até na mudança de conduta da vítima. É um trauma
que o indivíduo leva para o resto da vida.

1.4.4 Exploração sexual

A exploração sexual de crianças e adolescentes (ESCA) é uma forma de


violência caracterizada pela utilização sexual desses sujeitos numa relação de lucro,
seja financeiro ou de qualquer outra espécie (SOUZA, 2017, p 90).

Envolvendo assim diversos fatores e características específicas da


exploração sexual de crianças e adolescentes que é um fenômeno complexo, pois
sua principal característica é volta para alguma forma de lucro. Todas as vezes que
for estabelecida uma relação onde envolve crianças e adolescentes para fins
sexuais e lucro, pode-se dizer que foi feito um contexto de exploração sexual
comercial.

A exploração sexual assim como o abuso sexual é um fenômeno que


pode ocorrer em todos os grupos da sociedade e nas diferentes classes sócias, e é
considerada uma forma de coerção e violência, violando os direitos fundamentais e
básicos de crianças e adolescentes. Conforme explicam Vega e Paludo (2015, p.
49), “a ESCA deve ser visualizada em sua dinamicidade, atravessada por diferentes
fatores (econômicos, políticos, culturais e sociais) e por diferentes atores envolvidos
(vítimas, aliciadores, usuários, agentes de proteção) ”.

FALEIROS, (1998, p. 4) enfatiza que:

A rede autoritária de exploração sexual de crianças e adolescentes está


centrada no lucro comercial que se possa obter com o trabalho do corpo da
criança ou adolescente na sua transformação e submissão em mercadoria
humana para benefício sexual do cliente e benefício comercial dos
proprietários do comércio e aliciadores.

Sendo umas das mais cruéis e perversas violações dos direitos humanos
de crianças e adolescentes, a exploração sexual colocas os mesmos em situação de
mercadoria, fazendo assim de seus corpos como objeto. Onde as vítimas têm seus
corpos e sexualidade explorada simplesmente com o objetivo de produzir lucros
para os aliciadores, e assim satisfazendo os desejos sexuais de quem paga para
isso. Situações como as acima descritas, colocam tanto usuário quanto aliciadores
como agressores sexuais.

Lima (2018, p. 310) explica que a exploração sexual comercial não se


restringe a uma relação sexual a que a criança ou adolescente está exposta, mas
geralmente a muitas e visa lucro para outras pessoas. É um comércio de práticas
sexuais que expõe e oferece crianças e adolescentes.

No contexto de exploração sexual comercial de crianças e de adolescentes,


os mesmos não sofrem apenas um tipo de violência, é necessário ressaltar que as
vítimas são alvo de diversas violações que abrangem os direitos humanos, onde são
inseridos em ciclo onde são feitos de vítimas por diversas vezes, tendo seus corpos
feitos de objeto.

Uma das características para o início da exploração sexual é vulnerabilidade


social e desigualdade que uma boa parte da população enfrenta, sendo assim a
família algumas vezes são os responsáveis pelo aliciamento sexual, ou a própria
realidade da vítima a leva a se colocar nessa situação de violência e risco, violando
assim os direitos fundamentais de todo ser humano.
FALEIROS 2004 apud VEGA; PALUDO 2015 ressalta que:

No entanto, apesar do evidente contexto de vulnerabilidade e desamparo


social, a sociedade ainda apresenta algumas visões equivocadas com
relação à exploração sexual comercial de crianças e adolescentes,
responsabilizando as vítimas pelo processo de exploração, como se estas
apresentassem uma postura ativa, atendendo a uma demanda de mercado.
Tal concepção, além de equivocada, representa também um olhar
carregado de estigmas, preconceitos e machismo (Faleiros 2004 apud
Vega; Paludo 2015).

O autor Souza, (2017, p. 90) destaca que:


A exploração sexual no contexto de prostituição é a que está diretamente
relacionada ao contexto comercial. Neste tipo de violência, é comum o
envolvimento de adultos como intermediadores. Normalmente, há uma rede
de aliciadores, agenciadores e facilitadores que são favorecidos
financeiramente. Apesar de a forma mais comum envolver a participação de
um agente entre a criança ou adolescente e o cliente, essa violação também
pode ocorrer sem intermediários (SOUZA, 2017, p. 90)

E essa violação acontece mais vezes do que se é imaginado, pois a pobreza


e a desigualdade social ainda são muito presentes na vida de milhares de pessoas.
Segundo Souza (2017), nunca se deve dizer que a criança ou adolescente foi
prostituída, mas, sim, que foi explorada, haja vista que é vítima direta de um sistema
de exploração de sua sexualidade.

Outra manifestação é o tráfico para fins de exploração sexual. Esta é uma


violência que compreende “a promoção ou facilitação da entrada, saída ou
deslocamento no território nacional, ou para outro país, de crianças e
adolescentes com o objetivo de exercerem a prostituição ou outra forma de
exploração sexual” (SOUZA, 2017, p. 92).

Sendo assim a política nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas


(decreto nº 5.948/2006) adota a expressão “tráfico de pessoas” conforme o protocolo
adicional à convenção das nações unidas contra o crime organizado transnacional
relativo à prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas, em especial
mulheres e crianças, conhecido como “Protocolo de Palermo” define o tráfico de
pessoas como:

[…] o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o


acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso de força ou a outras
formas de coerção, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade
ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou a aceitação de
pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que
tem autoridade sobre outra, para fins de exploração (BRASIL, 2004, p. 1)
Atualmente ainda existem muitos casos de tráfico de pessoas, sendo esses
de crianças, adolescentes e adultos em sua maioria de mulheres. E ainda na
exploração sexual é necessário abordar ainda a pornografia infantil que pode ser
entendida como […] produção, reprodução, venda, exposição, distribuição,
comercialização, aquisição, posse, publicação ou divulgação de materiais
pornográficos (fotografia, vídeo, desenho, filme, etc.) envolvendo crianças e
adolescentes (MORESCHI, 2018, p. 41).

Sendo assim a prostituição e ou a pornografia são consideradas exploração


sexual e ao ser analisada a exploração sexual está por trás de relações de poder e
desigualdade, onde crianças e adolescentes são tratados como objetos e não tem
acesso aos seus direitos garantidos por lei.

Silva e Hage (2017) destacam que

A complexidade da violência sexual e aponta que a natureza contextual,


relacional e multidimensional dessa forma de violação implica o
envolvimento de todos os atores para o atendimento a essas situações. Os
autores acrescentam a necessidade de se apropriar das particularidades de
cada dinâmica na construção de estratégias e ações pertinentes para cada
uma dessas realidades.

Mesmo existindo políticas e normativas especificamente para as denúncias,


prevenção e atendimento de crianças e adolescentes violadas, precisa-se melhorar
muito ainda e efetividade e execução das políticas voltadas para a proteção de
crianças e adolescentes.

Nesta linha, Craveiro (2016, p. 42) acrescenta que

Para o combate à violência, é necessário a mudança de paradigmas sociais,


econômicos e culturais. Ele ressalta ainda a importância de pensar o
contexto no qual estão inseridos essas crianças e adolescentes como
elemento primordial na construção de políticas públicas para o
enfrentamento às violações de direitos.

Há diversas famílias inseridas em casos de violações, e para o bem-estar


dessas famílias é necessário um olhar mais especifico as políticas e normativas
voltadas para o atendimento dessas vítimas, visando sempre a prevenção de casos
de violência sexual.

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